SEBEMGE - SEMINÁRIO BATISTA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

 

TRABALHO DE TEOLOGIA BÍBLICA DO VELHO TESTAMENTO II

 

O Reino de Deus

no Velho Testamento

 

Aluno : Anísio Renato de Andrade

Professor : Pr. Israel Leocádio da Silva

Período : sexto - Curso : Bacharel em Teologia Ministerial

Data : 24 de outubro de 1996 - Local : Belo Horizonte - MG

 

  

INTRODUÇÃO

 

O mundo espiritual é um campo inatingível para o entendimento humano. Muitas realidades espirituais são de menção ilícita aos homens. Outras, creio eu, não encontram sequer palavras no vocabulário humano que possam expressá-las. Assim, a Bíblia utiliza vários termos do nosso uso comum, dando-lhes um sentido espiritual. Fatos do nosso conhecimento natural são usados para ilustrar a realidade espiritual, que, de outro modo, jamais captaríamos.

Dessa forma entendemos o uso bíblico da palavra "reino". Esse vocábulo foi usado por Deus porque os povos mais organizados do tempo antigo estavam estruturados em reinos. O sistema de governo era a monarquia. Aqueles homens sabiam muito bem o que significava um reino, um rei, um súdito, um edito real, etc. Logo, quando a Bíblia usa a palavra "reino" para se referir ao domínio divino, todas pessoas entendiam perfeitamente o que isso significaria.

De fato, a palavra "reino" era a melhor para tal finalidade. Se a Bíblia fosse escrita hoje, "república", "presidencialismo", ou "parlamentarismo", não substituiriam bem o significado do "reino". Um reino é o domínio de um soberano, um rei. Compreende um território, onde habita um povo que vive sob as diretrizes da vontade real. O "Reino de Deus" , em termos básicos, é o domínio de Deus. Sob um aspecto podemos considerar que o Reino de Deus é constituído por todos os elementos criados que se sujeitam voluntariamente à sua vontade. Fora desses limites estaria o Reino das Trevas. Numa visão mais abrangente, constatamos que nada escapa à soberania de Deus. Desse modo, até o Reino das Trevas encontra-se subjugado ao Reino de Deus. Nessa extensão dilatada de "território", o Reino de Deus encampa até aqueles que lhe são contrários. O melhor, porém, é estarmos no primeiro grupo, daqueles que fazem a vontade de Deus por opção pessoal. Desse modo, não precisaremos nos encontrar com a vontade de Deus em forma de juízo e vingança.

Dentro do vasto universo criado, Deus quis estabelecer a sede do seu governo em um povo específico : Israel. Esta nação passou então a ser a expressão terrena do Reino de Deus.

 

 

 

ANÁLISE DA TERMINOLOGIA

 

O principal vocábulo hebraico relativo a "reino" é "melek". Este substantivo designa principalmente três classes de soberanos: humanos, messiânico e divino. Mais de 90 por cento das ocorrências refere-se aos reis humanos, ou aos reis de Israel ou aos reis dos gentios. Há treze referências ao rei messiânico. Deus é chamado de Melek no Velho Testamento quarenta e uma vezes. Alguns desses textos são: Num. 23.21 Dt 33.5 I Sm 12.12 Sl 5.3 10.16 24.7-10.

 

O REINO DE DEUS SOBRE ISRAEL

O reino do Senhor sobre Israel começou com a obediência de Abrão, aceitando a ordem divina de mudar para Canaã. Nesta ocasião, o Senhor prometeu fazer de Abrão uma grande nação. Iavé seria o rei de Israel por direto de eleição e criação. O próximo passo no plano de Deus para restabelecer sua soberania sobre toda a humanidade foi a estadia da família de Jacó no Egito. Depois de quatrocentos anos, Javé apareceu a Moisés e anunciou sua determinação de libertar seu povo do jugo egípcio através dele.

Depois de operar dois grandes milagres, isto é, a morte dos primogênitos e a travessia do Mar Vermelho, Javé é reconhecido como rei de Israel por direito de redenção. É bom notar que é só em Êxodo 15.18 que Moisés emprega o verbo malak em todo o Pentateuco: "Javé reinará para todo o sempre." Somente Javé é o verdadeiro Rei de Israel. Ele começou a reinar e reinará para sempre. O conceito do reinado de Javé, assim, data do princípio da história de Israel. No Monte Sinai Deus revelou sua lei ao povo por meio de Moisés, e entrou em aliança com a nação de Israel. A fórmula do pacto, desde Mendenhall, tem sido reconhecida como muito semelhante a um tratado de suserania entre um rei supremo e seus vassalos. Nos termos deste acordo, o povo precisaria obedecer todas as palavras do Grande Rei, e eles seriam a "propriedade exclusiva" de Javé, um "reino sacerdotal" e uma "nação santa" (Êx.19.5-6). Eles teriam a vigilância permanente do Senhor, protegendo-os e sustentando-os. Eles seriam sacerdotes reais oferecendo continuamente um sacrifício de louvor ao Senhor e servindo de mediadores das bênçãos de Deus para as outras nações, "porque toda a terra é minha" , a base desta aliança era a misericórdia de Javé. Moisés, lembrando deste evento histórico no fim de sua vida, relembra Israel que Javé "era rei sobre seu povo amado" (Dt.33.5). No deserto durante 40 anos, Javé habitou no meio do seu povo, e quando o rei de Moabe ousou amaldiçoar Israel, Balaão declarou: "Javé seu Deus está consigo e o grito de um rei no seu meio" (Nm.23:21). O profeta entendeu este grito como "grito de guerra", e preveniu Balaque que Javé era um poderoso guerreiro, preparado para defender seu povo. Sob a liderança de Josué, Javé entregou os reis de Canaã nas suas mãos e capacitou-o de maneira que derrotou 31 reis cananeus (Js 12). Assim, Israel tomou posse da terra prometida a Abraão e a declaração solene de Javé tornou-se realidade : "Tu serás o meu povo, eu serei o teu Deus, e habitarei no meio de ti" .

Depois da morte de Josué, Deus levantou juízes, através dos quais ele continuou o seu reino sobre o seu povo. Na seqüência vieram os reis, que eram também representantes do reino divino.

Uma das questões mais importantes sobre o reino de Deus no Velho Testamento é em relação ás promessas messiânicas. O Messias restabeleceria o reino davídico, dando continuação, desse modo, ao reino de Deus sobre Israel. Esta esperança perpassa os livros proféticos do VT. No período interbíblico esta questão foi bastante discutida e elaborada, produzindo a mentalidade sobre o reino conforme se nota nos evangelhos: A idéia sobre o Reino de Deus na mente dos judeus passou a ficar restrita a limites políticos e nacionalistas.

 

 

BIBLIOGRAFIA

Coenen, Lothar

DICIONÁRIO DE TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

Edições Vida Nova

 

 

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