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SEBEMGE - SEMINÁRIO BATISTA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

TRABALHO DE ESCATOLOGIA

 

QUEM DETÉM O ANTICRISTO?

 

Aluno : Anísio Renato de Andrade

Professor : Pr. Marcelo Rodrigues de Oliveira

Período : Sexto - Curso : Bacharel em Teologia Ministerial

Data : 23 de setembro de 1996 - Local : Belo Horizonte - MG

 

INTRODUÇÃO

 

Um dos personagens mais citados na escatologia é o Anticristo, também chamado "O Iníquo", ou "Homem da iniquidade". São muitas as especulações em torno da identidade desse homem. Nessas discussões, um dos textos básicos é o que se encontra na primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses, no capítulo 2, versos 6 e 7. No texto, Paulo diz "vós sabeis o que o detém", ou seja, aquele que impede a manifestação do Anticristo que, por sua vez, desencadeará uma série de outros acontecimentos. Como está escrito, os tessalonicenses sabiam quem ou o quê detém o Anticristo. Será que hoje alguém sabe ou pode deduzir isso biblicamente ? Tentando responder a essa questão, nos dedicaremos a pesquisar o tema em algumas fontes bibliográficas. Lançaremos mão do que já foi estudado por teólogos diversos, afim de buscar uma resposta ou teses que ajudem a esclarecer o assunto.

 

 

VÓS SABEIS O QUE O DETÉM

 

O agente retentor é impessoal neste verso, e pessoal no verso 7; este fato é significativo. O apóstolo é intencionalmente vago quando escreve sobre o assunto, mas parece que foi mais explícito no seu ensino oral em Tessalônica. Isto apóia a interpretação de o Império Romano ser o agente retentor, desde que pode ser considerado um poder impessoal, como uma pessoa encarnada no Imperador. Após a acusação levada contra Paulo em Tessalônica (At.17:6 ...), qualquer alusão ao poder imperial tinha de ser vaga quanto possível, por perigo da carta cair em mãos impróprias. "Porque já o mistério da injustiça opera". (v.7). O princípio da rebelião contra Deus já está agindo, na oposição feita ao evangelho em Tessalônica e noutros lugares, mas não está abertamente entronizado no mundo, como será na breve duração do domínio do Anticristo, porque há um que agora o detém. Neste passo, é um agente pessoal que retém o espírito de ímpia revolta, indicando o Imperador. Outros há que consideram aquele que detém como uma figura apocalíptica, no mesmo sentido como o Anticristo, "a anjo do abismo" de Apc.9:1 e 20:1. Caso for assim, não haveria inconveniência em usar termos mais explícitos. Menos plausível ainda é a sugestão de que aquele que detém seja o Espírito Santo. Se "o que o detém" é realmente o Imperador, não precisa concluir que o Imperador Cláudio, (41-54) então reinante, seja especificamente indicado, ou que Paulo estivesse pensando em Nero, sucessor de Cláudio, cuja elevação se deteve enquanto Cláudio vivia. Nero tinha apenas doze anos em 50 d.C, e Paulo escreveu os mais notáveis elogios do poder romano após a elevação de Nero ao trono. Paulo tinha razão em mostrar-se constantemente grato pela proteção das autoridades imperiais, que reprimiam as forças mais hostis ao evangelho. Quando essa proteção fosse retirada, as forças do Anticristo poderiam exercer, livremente, a sua própria vontade.

Devem ser mencionadas outras tentativas de identificar o "poder que o detém". B. B. Warfield sugere que fosse a continuação do Estado judaico : "Logo que a apostasia judaica se completou, e Jerusalém foi entregue aos gentios... a separação do Cristianismo do Judaísmo, já iniciada, se tornou patente. Intensificou-se o conflito entre a nova fé e o paganismo, cuja expressão principal era o culto ao Imperador. Foi desencadeado o poder perseguidor do Império, inevitavelmente.

"Até que do meio seja tirado" - O sujeito desta cláusula é o retentor, mas seria considerado sedicioso falar explicitamente da remoção do Imperador. Daí a imprecisão de Paulo.

 

INFORMAÇÕES ANTERIORES

 

O texto evidencia que os tessalonicenses possuíam informações sobre o tema que hoje nos são desconhecidas. Se a tarefa da exegese fosse simplesmente elucidar as novas informações fornecidas pelo texto, seria comparativamente simples. Infelizmente este texto é exemplo clássico de uma situação em que o leitor moderno não compartilha das informações anteriores possuídas pelos endereçados originais da carta. O que, exatamente, eles já sabiam ? Podia ser algo que Paulo lhes ensinara anteriormente ( quer oralmente, quer numa carta anterior) , ou algo que sabiam pela experiência pessoal. O verbo grego aqui usado tem sido considerado possuidor desta última nuança, embora o que os leitores sabiam pessoalmente possa muito bem ter sido algo que reconheciam apenas à luz do ensino anterior de Paulo.

 

DISCUSSÕES SOBRE A TERMINOLOGIA DE PAULO

 

O advérbio agora deve provavelmente ser entendido juntamente com o verbo sabeis. Lógica e temporalmente oferece um contraste com o versículo anterior: "Lembram-se daquilo que lhes contei então, e agora sabem por si mesmos".

Paulo usa uma frase com o neutro: o que detém ( to katechon, o artigo com o particípio), mas no v.7 emprega a forma masculina como alternativa. Isto sugere que está pensando nalguma entidade que pode ser considerada tanto um princípio quanto uma pessoa. O significado do verbo traduzido "reter" é disputado. Normalmente o verbo significa "segurar firme ," e pode ser usado para o constrangimento físico (Lc.8:15 Fm13) ou para guardar coisas na memória e obedecê-las ( Lc. 4:42 I.Cor.11:2 15:2 I Ts.5:21 Hb.3:6,14 10:23). Pode, também significar ocupar um lugar (Lc. 14:9) ou manter uma pessoa ou uma coisa presa (Rm.1:18 7:6). No passivo, o verbo pode ser usado para ficar "preso" por um poder sobrenatural, num estado de inspiração ou êxtase religioso.

Tentativas têm sido feitas para sugerir um pano de fundo semítico para o uso que Paulo faz da palavra grega aqui. O . Betz : "Der Katechon", pensou que era o equivalente do hebraico tamak, usado em 1Q27, e R.D. Aus, sugeriu o hebraico ãsar, usado em Is.66:9 para fechar a madre; a força da proposta depende de se a alegação de Aus de que Is.66 fornece outros elementos de pano de fundo para esta passagem for achada convincente. Três possibilidades principais de tradução têm sido propostas : 1) A maioria dos comentaristas traduz "deter, restringir," e, daí: "atrasar". 2) Frame, págs. 258, 264, e Best, pág. 299, entendem o verbo intransitivamente como: "manter domínio". 3) Giblin, págs. 167-242, o entende ativamente como "agarrar", no sentido de progressão espiritual por uma força demoníaca, pseudo-profética que estava cativando os leitores. Esta opinião foi adequadamente refutada por Best, págs.298-9, que nota que o uso ativo do verbo com este significado é incomum, e que em I Ts. 5:21 Paulo usa o verbo num bom sentido ao invés de num mal sentido (como aqui).

Talvez uma objeção mais forte ache-se nas palavras "para que ele seja revelado somente em ocasião própria". Esta frase expressa propósito, e, a despeito das objeções de Giblin, págs.204-10, parece impossível privá-la de um conteúdo proposital e ligá-la com "sabeis" de modo que a "ligação... é pouco mais do que uma expressão de conseqüência temporal entre a presente experiência de uma força análoga ao antropos res anomias e a manifestação futura desta última figura no momento determinado". Pelo contrário, o que Paulo está dizendo é que os leitores sabem o que está retendo o homem da iniqüidade a fim de que este seja revelado somente em ocasião própria e não antes disso ( a palavra somente em ARA indica esse sentido. Nossa exposição toma por certo que ele, que será revelado, é o rebelde como no v.3; as tentativas de interpretar "ele" como sendo Jesus ou o poder que retém são mal-orientadas. Em ocasião própria (ARA, seguindo a variante de UBS, lit. "seu próprio tempo") é o tempo destinado para seu aparecimento por Deus, cujo propósito está no processo do cumprimento (At.1:7). A questão daquilo que está atrasando seu aparecimento será melhor examinado depois de termos considerado o v. 7

O passo seguinte de Paulo é explicar o significado daquilo que seus leitores já sabem. A conjunção "com efeito" demonstra que está explicando como é que o rebelde não será revelado até o tempo certo: embora seja verdade que o ministério da iniqüidade já opera, está sujeito a restrição por enquanto. O efeito do contraste entre as duas partes do versículo é fazer com que a primeira cláusula tenha uma força concessiva. A primeira consideração, portanto, é que o aparecimento do homem da iniqüidade é precedido pela operação atual da iniqüidade; note como a iniqüidade tem seus aspectos pessoais e impessoais, assim como a força que retém. O mistério da iniqüidade dificilmente pode significar "o segredo acerca da iniqüidade", a despeito da analogia doutros trechos onde "mistério" refere-se a um segredo divino agora revelado ao povo de Deus acerca dalgum aspecto do seu propósito salvífico (Mc.4:11 Rm.11:25 I Cor.4:1). Deve referir-se, pelo contrário, à atividade sigilosa e oculta da iniqüidade, "não alguma coisa incompreensível, mas alguma coisa escondida". O paralelo exato desta expressão acha-se em Jos.Bel 1.470 que descreve a vida de Antípater como sendo "iniqüidade secreta" (literalmente "um mistério da iniqüidade") e não na frase "os mistérios do pecado" nos textos de Cunrã. Como no v.3, entendemos iniqüidade no sentido mais geral de rebelião contra Deus. O verbo opera é melhor entendido como uma forma grega do médio (intransitivo) e não como um passivo ( "é causado a operar, sc, por Deus").

A segunda parte do versículo diz literalmente: "somente aquele que agora detém até que ele seja afastado." Pode ser compreendida de duas maneiras principais: 1) Segundo M. Barnouin, o sujeito da cláusula subordinada é igual ao objeto do particípio: alguém detém não é removido do cenário. Esta interpretação, no entanto, deixa a sentença sem um verbo principal e dá uma tradução duvidosa da frase "que seja afastado." 2) É melhor, portanto, entender a forma da sentença à luz do estreito paralelo em Gl.2:10 , onde temos um caso semelhante de elipse da cláusula principal (a ser suprida a partir do contexto anterior) e a colocação da cláusula subordinada antes da conjunção. Assim, temos a tradução: "(está operando) somente até que seja afastado aquele que agora o detém." A força refreadora agora é pessoal (particípio masculino) e agora significa "no presente momento", com um indício, talvez, de limitação temporal (cf. I Ts. 3:6). R. D. Aus, sustenta que a expressão é um hebraísmo baseado em Dn.11:31 e 12:11 (onde sûr é usado para a remoção do holocausto contínuo) . A frase tem paralelos em I Cor.5:2 e Col.2:14, onde significa a remoção do cenário da atividade, ou o banimento. H..W.Fulford aduziu paralelos de Plutarco que demonstram que a frase pode significar "retirar do cenário". Uma vez que o poder detentor tenha sido removido, a rebelião já não ocorrerá de um modo oculto; haverá uma manifestação aberta do mal.

Devemos agora procurar determinar o que Paulo quer dizer com "o poder que detém" e o "rebelde" (lit. "o homem da iniqüidade"). É necessário distinguir entre a origem e o caráter da sua linguagem, e aquilo que porventura quis dizer com ela.

Há algum precedente na apocalíptica judaica para a idéia de refrear um poder maligno. Dois grandes monstros, Beemote e Leviatã, são conservados, até ao tempo em que o Messias começará a ser revelado, para alimentar os que sobreviverem até então. Em Apc.7:1-3 os ventos são conservados, seguros até que os servos de Deus tenham sido selados. Talvez haja sinais do mesmo tema em Jó 7:12. Temos também, o pensamento de Satanás sendo preso durante o milênio, em Apc.20:1-3, idéia esta que tem alguma história prévia em Is.24:21-22, Tob.8:3, onde lemos acerca de demônios, anjos caídos, Mastema e Satanás sendo atados e aprisionados por períodos temporários. Contra este pano de fundo Dibelius argumentou que o ensino paulino depende, em última análise, de um mito em que um ser celestial refreia as forças do mal. Best, págs.296-7, ofereceu algumas críticas desta teoria, em especial porque deixa de identificar de modo satisfatório a força redentora e a natureza da sua atividade. O impacto principal do seu argumento, no entanto, parece ser que a teoria não vai suficientemente longe. Lança luz sobre a linguagem figurada mas não explica como Paulo estava usando. Em resumo, em termos da distinção feita supra, temos aqui uma teoria da origem e do caráter da linguagem de Paulo. Ainda falta determinar como Paulo a usava, e o que queria transmitir com ela.

 

TESES DIVERSAS PARA A QUESTÃO

 

1) Uma interpretação antiga da passagem acha a força refreadora no Império Romano, personificado no próprio Imperador. Esta opinião é muito recomendável, por dar uma explicação convincente da mistura de gêneros, e por fazer uso da própria experiência de Paulo do Império como sendo uma força que contribui para a lei e a ordem. A atitude de Paulo para com Roma é geralmente favorável; a administração era basicamente justa, ainda que houvesse bastantes governadores e oficiais injustos. Não é nenhuma objeção a esta opinião dizer que Roma não desempenha este papel na apocalíptica judaica; Paulo pode muito bem ter inovado aqui. Uma dificuldade maior é se Paulo poderia ter imaginado o Imperador ( ou o Império) sendo removido para dar lugar ao rebelde. Se a passagem fosse pós-paulina, alguma consideração poderia ser dada ao mito do Nero redivivo, segundo o qual acreditava-se que Nero não morrera, mas, sim , ocultara-se no oriente entre os partas, pronto para comandá-los numa invasão contra Roma. Sinais deste mito talvez estejam presentes em Apc.13:13-14. Segundo este ponto de vista, o que detém seria o Imperador reinante, e o rebelde seria Nero na sua volta. Este mito, porém, surgiu tarde demais para ter influenciado o próprio Paulo, e até mesmo o medo dos partas não era um fator importante na década de 50 d.C. Tem sido objetado , também, que o rebelde parece ser mais um sedutor religioso do que um tirano político, mas certamente não são desconhecidos casos de tiranos políticos reivindicarem honras divinas para si mesmos.

2) Posto que o Império Romano não chegou ao fim da maneira que acaba de ser contemplado, alguns comentaristas têm procurado salvar a reputação de Paulo como Profeta fidedigno por meio de argumentar que a força que o retém não é do Império Romano propriamente dito, mas, sim, o princípio da lei e da ordem que foi tipificado por ele, e que ainda continua na forma doutros sistemas políticos. Segundo esta opinião, a força recebe uma personificação literária no verso 7.

3) B.B. Warfield identificou o estado judaico como sendo o poder que retém. Uma vez que o judaísmo tivesse efetivamente cessado de existir, e o cristianismo já não pudesse abrigar-se na proteção daquele, este último seria exposto à plena força da perseguição por Roma. Em especial, Tiago de Jerusalém era a personificação desta força retentora. Esta hipótese não parece ter conseguido seguidores.

4) Frame considera que a força que mantém domínio não é outra senão a de Satanás, cuja influência já está no mundo como "o mistério da iniqüidade". Quando chegar o tempo determinado por Deus, Satanás será afastado do caminho, de modo que o rebelde possa ocupar o palco. Frame viu uma possível alusão a este papel limitado de Satanás no logion Freer, uma variante textual de Mc.16:14 na Códice Washington ou Freer: "O termo de anos para o poder de Satanás já foi cumprido, mas outras coisas terríveis se aproximam;" sugeriu que sua remoção talvez correspondesse ao tempo em que foi atirado do céu para a terra em Apc.12. Esta opinião requer que o verbo katecho seja traduzido "manter domínio". Uma opinião requer um pouco semelhante é sustentado por Best, que pensa que o poder que mantém domínio, "o poder hostil ocupante," é um agente mau (mas não o próprio Satanás) que se colocará de lado quando o rebelde aparecer.

5) Uma opinião diametralmente oposta é que a força detentora é o próprio Deus, na pessoa do Espírito Santo; é Ele quem adia a revelação final em toda a sua plenitude. Esta opinião foi especialmente desenvolvida por Strobel. Trilling, argumenta que a força que detém é simplesmente a demora da parusia que os leitores estavam experimentando e que, em última análise era devida ao próprio Deus. Trilling argumenta que não há nenhuma diferença essencial entre as formas neutra e masculina da expressão, embora reconheça que é Deus quem fica por detrás da ação adiadora. É surpreendente que Trilling não faça tentativa alguma no sentido de responder às críticas que Best, já fizera contra esta interpretação. Best argumenta que esta é uma maneira muito estranha de referir-se à ação de Deus, que a teoria requer que "ser afastado" signifique "retirar-se" (mas veja supra para esta possibilidade), e que entender katchõ no sentido de atrasar é anormal.

6) Uma opinião correlata é que o fator que detém é a proclamação do evangelho (neutro) pelos missionários cristãos e em especial pelo próprio Paulo (masculino); quando Paulo estiver "fora do caminho," então virá o Fim (O . Cullmann). A teoria sugere que Paulo cristianizou o princípio de que todo Israel deve arrepender-se antes do Fim poder vir. Best argumenta contra esta opinião de que Paulo não está especialmente consciente da sua posição apostólica como missionário aos gentios nestas Epístolas; mas esta não é uma consideração de peso tendo em vista a evidência de I Ts. 1-2 . Uma objeção muito mais forte é que Paulo, conforme I Ts.4:13-18, contava com a possibilidade da sua própria sobrevivência até à parusia (Whiteley), e esta objeção deve ser pronunciada fatal para a teoria nesta forma. É, também, muito duvidoso se Paulo, embora insista na sua posição de apóstolo aos gentios, via-se como fator essencial no plano salvífico de Deus em prol da humanidade.

7) Finalmente, conforme vimos, Giblin entende katechõ no sentido de "agarrar" e argumenta que falsos profetas estavam enganando os tessalonicenses; eram liderados por um indivíduo específico que, segundo Paulo acreditava, deveria ser expulso antes da manifestação do rebelde e a destruição deste pelo Senhor ocorrer. Esta opinião é filologicamente improvável, e deixa de explicar porque a remoção de falsos profetas numa só igreja local deveria ocupar uma posição tão crucial no desenvolvimento do plano de Deus.

Agora já examinamos as opiniões principais acerca desta passagem, e podemos dizer com segurança que nenhuma delas está livre de dificuldades. A opinião de que o poder que detém ou que ocupa é bom ao invés de mau no seu caráter parece essencial a fim de dar sentido à passagem. Uma luta entre duas forças malignas em oposição parece muito improvável, e a idéia de uma força maligna desaparecer para dar lugar a outra parece improvável também. Se for assim, podemos excluir as opiniões 4 e 7. Se Paulo considerava Roma como o poder que detém, ficamos com o problema de achar um candidato para o homem da iniqüidade. Segundo esta opinião, dificilmente poderia ter sido um Imperador Romano, embora os paralelos de Pompeu e Calígula decerto teriam apontado nitidamente naquela direção. Esta consideração contraria as opiniões 1 e 2. Somos levados de volta à opinião de que o próprio Deus está envolvido na detenção. Assim como o rebelde é uma figura apocalíptica, acerca de cuja identidade e natureza Paulo não especula, assim também a força detentora é de dimensões sobrenaturais, e deve ser considerada divina na sua origem. A opinião que vê a pregação do evangelho a todas as nações (Mc. 13:10) como sendo o fator que leva Deus a refrear o irrompimento final do mal é atraente, na condição de não ser ligada à atividade de qualquer indivíduo isolado, tal qual o próprio Paulo. É possível que Paulo tivesse em mente alguma figura angelical que estava conservando o mal sob restrição durante o período da pregação até sua manifestação final e aberta; se for assim, não é muito difícil pensar nesta figura "afastando-se" mediante a ordem de Deus , no tempo determinado.

Talvez uma hipótese coerente seria uma versão modificada da opinião 6, de acordo com a qual será Deus, em última análise, que permitirá que o rebelde seja manifestado somente quando a presente oportunidade para pregar e ouvir o evangelho for levada ao fim pelo afastamento da figura angelical que agora está no comando. Depois, o poder do mal, que tem operado secretamente no mundo, mas não menos eficazmente por causa disto, será abertamente manifesto para produzir a confrontação final.

 

As vantagens deste ponto de vista são :

    1. Reconhece a natureza essencialmente apocalíptica da linguagem de Paulo.
    2. Liga o ensino de Paulo com outros fios de apocalíptica no Novo Testamento, e em especial faz uso da única condição claramente expressa que deve ser cumprida antes do fim, a saber, a pregação do evangelho ( 2 Ped.3:9 Apc.14:6-7).
    3. Evita os problemas causados por considerarem Paulo como a personificação da força que detém, e também evita falar no próprio Deus como tendo sido "afastado."
    4. Fornece um modo de entender a passagem que se encaixará na sua origem paulina. Já que Paulo revela conhecimento do ensinamento apocalíptico sinótico, nada há aqui que é incompatível com I Tessalonicenses. Se, porém, a passagem não for de Paulo, somos confrontados pela dificuldade insuperável de que o autor se expressava de uma maneira que teria sido quase incompreensível para seus leitores, especialmente porque o v.5 não pode referir-se agora à instrução prévia dada aos leitores.
    5. Sem forçar a linguagem da passagem, descobrimos que a exegese mais provável dela dá uma interpretação que ainda pode ser válida hoje, sem dúvida depois de um período mais longo do que Paulo pode ter contemplado.

8) Uma vez que a força que detém ou que ocupa está fora do caminho, ocorre a etapa final do drama apocalíptico. Então contrasta-se com "agora" no v.7; mas a frase é comum em profecias de uma série de eventos apocalípticos (Mc.13:21,26,27). O iníquo é a frase grega normal para a pessoa descrita como "o homem da iniqüidade" de modo hebraico no verso 3. Em contraste com a operação secreta do mal no presente tempo, será revelado abertamente (cf.vv3,6 ). Paulo, portanto, chegou de volta no mesmo ponto do tempo que no verso 3, depois do parêntese nos vv. 6-7. Foi cumprida a condição para o aparecimento do Senhor Jesus. Não somos informados por quanto tempo o rebelde agirá abertamente e sem impedimento; pelo contrário, toda a atenção é concentrada na sua queda, que ocorre na ocasião da manifestação da vinda do Senhor, e como resultado dela. Esta frase está no dativo, e expressa instrumentalidade, e aqui, pela primeira vez, Paulo coloca lado a lado com a palavra parousia outro termo, epiphaneia, para descrever o aparecimento do Senhor (I Tm.6:14 II Tm.4:1 Tt.2:2:13; em II Tm.1:10 é usado para descrever a encarnação de Jesus). A palavra tem o mesmo significado básico que parousia, tanto assim que alguns comentaristas pensam que Paulo está simplesmente, amontoando palavras visando o efeito retórico. Mas a palavra era usada no Antigo Testamento uma epifania ou revelação de Deus, especialmente, mas não exclusivamente, num sentido hostil (II Sm.7:23 ); e também era usada no grego helenista para visitas por imperadores e outros dignitário. Algo destes significados bem possivelmente pode estar presente enquanto Paulo enfatiza o caráter poderoso e soberano do aparecimento do Senhor.

 

 

CONCLUSÃO

 

No Texto em análise, o apóstolo Paulo faz afirmações vagas sobre "aquele que o detém". Foram utilizados vocábulos pessoais e impessoais. Em conseqüência disso, muitas têm sido as hipóteses levantadas para explicar a frase, conforme estudamos nesse trabalho. A lacuna é tão grande, que as teorias vão de um extremo a outro. Há quem diga que quem detém o Anticristo é Satanás. Outros, em grande número, defendem que aquele que o detém é o Espírito Santo. Em posições intermediárias, alguns votam a favor do Império Romano ou do Estado Judaico, das leis romanas ou dos falsos profetas. Há quem afirme que o poder detentor é a proclamação do evangelho, o propósito divino ou mesmo um anjo de Deus. Nas raias do absurdo encontramos quem defenda que tal personagem é o profeta Elias. Há opiniões para todos os gostos.

Fazer afirmação categórica sobre a questão é algo bem temerário. Se Paulo não disse a quem se referia, é bem difícil concluirmos quem possa ser tal pessoa ou fator, principalmente por não haver outro texto bíblico que nos auxilie nesse empreendimento. A hipótese de que seja o Espírito Santo, é a mais aceita. Por certo, muitos são os pontos que dão força a essa idéia. Embora o texto não afirme isso, é bem difícil encontrarmos candidato melhor para tal função, haja vista a envergadura do desafio aí envolvido.

 

 

BIBLIOGRAFIA

Shedd, Russel P. - Edições Vida Nova

I. Howard Marshall - Editora Mundo Cristão

Champlin, Russel Norman - Editora Milenium

anisiora@mg.trt.gov.br

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