UNIDADE

por Anísio Renato de Andrade

 

A UNIDADE E SUA IMPORTÂNCIA

O ser humano, a despeito de toda a sua capacidade, possui também muitas limitações e carências. Por isso, precisa se unir a outros seres humanos para que, juntos, possam atingir objetivos que, de outra forma, talvez lhes fossem impossíveis. Por esta causa, os homens vivem em grupos. Contudo, a coesão entre seus membros pode variar, comprometendo ou viabilizando o alcance de suas metas.

 

UNIDADE X UNIÃO

O grupo precisa de união, mas isso não é tudo. O Senhor quer nos conduzir à unidade. Esses termos não são sinônimos perfeitos. Quando pensamos em união, logo imaginamos duas ou mais coisas ou pessoas que estão juntas, mas a palavra unidade se refere a um só elemento. Deus deseja que estejamos tão unidos que sejamos um só (João 17.22). Que sejamos tão unidos ao ponto de sermos inseparáveis. Tais conceitos retratam um alvo elevado.

Para ilustrar o conceito de uma simples união, pensemos em uma viagem de ônibus. Podemos dizer que existe algum tipo de união entre passageiros, motorista e cobrador. Afinal, estão juntos. Estão no mesmo veículo e têm um destino comum. Contudo, não existe unidade entre eles. Normalmente, não se conhecem, não se falam e nem se olham. Um não se importa com o outro. Às vezes, nem se cumprimentam.

Vamos imaginar que aconteça um acidente com esse ônibus. Muitos ficam feridos e presos entre as ferragens. Surge então um fato que une todas aquelas pessoas que até então nem se conheciam. Surge então um problema comum, necessidades comuns e objetivos comuns. Passa a haver então unidade quando todos aqueles indivíduos passam a cooperar para que todos se salvem e sejam postos em segurança.

Observamos que as necessidades são grandes fomentadoras da unidade. Soluções, suprimentos, conquistas e realizações tornam-se objetivos a serem atingidos pelo grupo. A unidade é um nível supremo da união, onde os recursos de cada um são compartilhados afim de que o objetivo comum seja alcançado. Em algumas sociedades pode não existir um objetivo comum, mas a cooperação se dá para que o objetivo individual de cada um dos membros seja realizado pelo esforço coletivo. Podemos considerar também que cada objetivo individual se torna, temporariamente, o objetivo comum. Essa é a idéia dos consórcios.

Em outras situações, pode haver um interesse particular oculto que leva o indivíduo a se aproveitar dos recursos do grupo em benefício próprio sem contribuir para isso. Nesse caso termos o fenômeno que a biologia denomina "parasitismo".

Na igreja e nos grupos que existem dentro dela, temos objetivos comuns, sendo que todos eles devem estar situados dentro do propósito geral de Deus, que é a salvação das almas.

Através da unidade poderemos compartilhar nossos recursos, nossos dons, nossas habilidades, afim de que o propósito de Deus seja alcançado em nossas comunidades. Por esta causa Deus deu diferentes dons para seus filhos. Nenhum de nós tem todos os dons, pois, se assim fosse, poderíamos viver isolados. Cada um tem um dom ou até mais de um. Entretanto, é na unidade que nossos dons se complementam para o crescimento de todos.

A unidade proporciona proteção para os membros do grupo. A união proporciona calor, força e resistência aos ataques externos. A unidade, ainda mais. "É melhor serem dois do que um..." (Ec.4.9-12). Melhor ainda se esses dois forem um. Então teremos unidade.

 

DEUS É O MODELO

 

O padrão primordial de unidade está no próprio Deus (I João 5.7-8). O Pai, o Filho e o Espírito Santo são um e dão o mesmo testemunho. Não existem contradições em Deus. A unidade entre eles é tão absoluta que torna-se difícil demonstrar que são três pessoas.

A trindade é o padrão para o casamento. Portanto, no mundo visível, a união entre marido e mulher torna-se o melhor exemplo de unidade: "dois numa só carne". Existe então um compartilhamento tal que tudo lhes torna comum. O resultado é a realização de muitos objetivos, sendo que o mais expressivo de todos se dá através dos filhos. As conquistas materiais poderiam ser alcançadas de outra forma, mas o filho só poderia vir através da unidade. (Afinal, Deus não nos mandou fazer clonagem).

Assim também, a unidade de qualquer grupo vai fazer com o que seus objetivos sejam atingidos. Suas realizações serão como filhos vêm à luz.

O padrão divino da unidade é para o casal, para a família, e para a igreja. Seus princípios tornam-se aplicáveis a qualquer equipe de trabalho.

Aquele que se separa (Pv.18.1) pode até conseguir muitas coisas, mas certamente não realizará nada do que conseguiria através da unidade e da comunhão.

 

 

A TORRE DE BABEL - UNIDADE PARA O MAL

 

Em Gênesis 11.1-9, lemos a respeito da tentativa de construção da Torre de Babel. Temos no texto uma série de palavras que demonstram a unidade daquele povo: uma língua, uma fala, um vale, uma cidade, uma torre, um nome. O próprio Deus disse: "Eis que o povo é UM e todos tem UMA mesma língua... e agora NÃO HAVERÁ RESTRIÇÃO PARA TUDO O QUE ELES INTENTAREM FAZER." O Senhor estava dizendo então que: a unidade é algo poderoso. Se Deus não interviesse, a torre seria construída conforme havia sido planejado.

Apesar de estarmos nos referindo a um episódio maligno, podemos extrair dali alguns princípios que são positivos, válidos e eficazes:

Aquele povo falava uma só lingua. Assim, precisamos, como igreja do Senhor, falar a mesma língua, falar a mesma coisa. O idioma dos cristãos é a Palavra de Deus.

Eles buscaram um vale. Todos foram para o mesmo campo de trabalho.

Tinham um só projeto: construir uma torre e uma cidade.

Assim também, todo grupo que compõe a igreja do Senhor, deve ter um só pensamento, a mente de Cristo (I Cor.2.16).

Precisamos ter um só sentimento: o mesmo que houve em Cristo (Fp.2.5). O mesmo amor, o mesmo ânimo (Fp.2.2). É preciso haver concordância, acordo (Am.3.3). O acordo nem sempre se alcança com facilidade, mas precisamos buscá-lo a todo custo (At.15).

O povo do vale de Sinar desejava construir e engrandecer UM nome. Nós também estamos trabalhando para engrandecer um nome: o nome de Jesus. Em volta desse nome é que nos unimos. Se cada um quiser engrandecer seu próprio nome, ou o nome de sua religião ou do seu grupo ou da sua denominação, então não existirá unidade. Precisamos estar reunidos para exaltar um só nome: Jesus.

A unidade é importante, mas não é tudo. Estamos unidos para quê? Precisamos ter propósitos bem definidos para que não percamos o rumo nem desperdicemos nossos recursos ou nosso tempo.

Aquele povo já tinha alvos traçados: vamos construir uma cidade e uma torre.

A unidade deve ser acompanhada pelo trabalho intenso. Seremos unidos apenas para passear e divertir? Aquele povo disse: "façamos tijolos e queimemo-los bem." Todo objetivo, grandioso e ambicioso, deverá ser dividido em pequenas partes para que se torne possível. Uma cidade seria construída, mas o início seria uma torre, e para que essa fosse feita, eram necessários tijolos. Precisamos conhecer bem o nosso alvo para que possamos dividi-lo em metas iniciais, intermediárias e finais. "Façamos tijolos e queimemo-los bem." Precisamos fazer algo e fazer bem feito.

Os tijolos precisam ser queimados. A obra não é fácil, pois até o fogo é instrumento de trabalho.

Notamos que aquele povo, mesmo sendo tão primitivo, tinha unidade e o conhecimento e a organização necessários à realização de seus objetivos.

Contudo, Deus desce para verificar a obra. Estava tudo muito bem estruturado, mas o propósito era ruim: "Para que não sejamos espalhados pela face de toda a terra." Eles estavam tentando fazer o contrário do que Deus ordenara: "Crescei, multiplicai-vos e enchei a terra". Deus viu que aquela obra não estava de acordo com sua vontade. Então, ao invés de abençoar aquele povo, ele os espalhou. Em lugar do nome que iriam construir ganharam outro: Babel – confusão.

 

 

UNIDADE OU DIVISÃO?

 

O contrário da unidade é a divisão. Este é um dos maiores problemas da igreja do Senhor Jesus e talvez o maior entrave à evangelização mundial. Cada igreja ou grupos de igrejas se esforçam isoladamente por um propósito que, com unidade, seria alcançado de modo muito mais rápido e eficiente.

Divisão nem sempre significa separação. Então configura-se uma situação desconfortável e prejudicial. Algumas pessoas estão divididas mas continuam juntas. Algumas pessoas estão dentro do grupo, não concordam com ele, mas impedem a unidade. Se a unidade viabiliza a realização do propósito, a divisão o impede. Um reino dividido não subsiste (Mt.12.25).

Entre as diversas causas da divisão, podemos citar:

Egoísmo – quando os interesses particulares são colocados acima do objetivo comum. Isso pode causar o abandono do grupo ou a competição dentro dele.

Orgulho - este dificulda a compreensão das razões alheias e impede o perdão das ofensas.

Diferenças - cada componente do grupo tem suas características individuais, seu temperamento, suas preferências, seus gostos, etc. Isso é natural. Não devemos desejar que todos os membros de um grupo sejam iguais.

O que nos une? O amor é a base da unidade. Através dele podemos respeitar as diferenças e perdoar as ofensas. Podemos buscar o bem do próximo e renunciar o proveito próprio quando isso for necessário. Em um grupo é necessário um "revezamento" na questão da renúncia. Se uma só pessoa é quem renuncia sempre, pode ser que isso se torne insuportável para ela.

 

EXEMPLO NA IGREJA PRIMITIVA

 

O grupo dos discípulos de Jesus pode constituir um bom exemplo neste estudo. No início, estavam juntos mas não tinham unidade. Um queria ser maior do que o outro (Mc.9.34). A unidade foi se desenvolvendo até alcançar sua plenitude no capítulo 1 de Atos dos Apóstolos (1.13-14). Agora já se podia falar de "unanimidade", que indica uma só opinião, um só parecer.

De fato, no grupo original dos 12, nunca houve unidade plena por dois motivos básicos: Judas Iscariotes estava buscando apenas o seu próprio interesse (João 12.6). Outro fator era a própria imaturidade dos outros discípulos. Eles estavam em um processo de aprendizagem. Isso acontece em qualquer tipo de relacionamento humano. Existe um tempo de conhecimento, envolvimento, entrosamento, até que se alcance a unidade. Até lá, será necessária a perseverança. Não podemos desistir diante da primeira dificuldade.

Na igreja primitiva, temos um quadro de unidade impressionante. "Era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns." (At.4.32). Os cristãos chegavam a vender suas propriedades para suprir a necessidade dos irmãos. Quando chegamos a compartilhar nossos bens materiais, isso se torna evidência de um nível de unidade muito elevado. Em Atos verificamos o trinômio: unidade, trabalho e objetivo alcançado.

Entretanto, nem tudo era harmonia na igreja de Atos. O capítulo 5 nos mostra que Ananias e Safira estabeleceram um tipo de "unidade paralela" dentro da igreja. Eles não estavam engajados no objetivo comum. Queriam apenas defender seu próprio interesse, assim como fizera Judas Iscariotes. O que aconteceu com eles? Foram mortos pelo Senhor.

 

EXORTAÇÃO À UNIDADE (EF. 4.1-16)

 

Escrevendo aos efésios, Paulo os admoestou a guardarem a unidade. Um dos problemas que assolaram a igreja primitiva foi a divisão, e até mesmo uma certa rivalidade, entre gentios e judeus convertidos.

Os efésios precisavam manter a unidade apesar das diferenças, mesmo aquelas que se manifestavam nas formas de culto.

O apóstolo foi bastante enfático ao lembrar aos Efésios sobre os elementos que unem todos os cristãos: um só corpo, um só Espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus. Por quê uma forma de culto ou a observância da lei poderia separar os irmãos? Pelo menos, não deveria.

Na seqüência, o autor fala de trabalho. Ele lista os ministérios eclesiásticos e o seu objetivo: o crescimento do corpo. Somente num ambiente de unidade é que podemos exercer em plenitude os nossos ministérios, obtendo os mais satisfatórios resultados. Uma árvore desarraigada não poderá frutificar.

 

 

UNIDADE, TRABALHO E CRESCIMENTO.

Que nossas igrejas possam encontrar o caminho da unidade através do amor. Que os grupos de louvor e outros possam encontrar sua unidade interna. Desse modo, o trabalho será produtivo e eficiente. Alcançaremos crescimento e o fruto que se manifestará para a glória do nosso Deus.

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