LIÇÃO Nº 1 – QUANDO A FAMÍLIA AGE POR CONTA PRÓPRIA
ESBOÇO Nº 1
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Depois de termos refletido sobre a necessidade de um avivamento espiritual no primeiro trimestre deste ano letivo, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus, mantendo esta tônica de preparar-nos para estes tempos finais da dispensação da graça, escolheu como tema deste novo trimestre “Relacionamentos em família: superando desafios e problemas com exemplos da Palavra de Deus”.
Após ter-nos brindado com um estudo sobre a doutrina no primeiro ano do novo currículo e nos mostrar, no trimestre passado, a absoluta necessidade de buscarmos o poder de Deus, temos agora uma reflexão extremamente importante, relacionada com a nossa conduta em família.
O salvo na pessoa de Jesus Cristo não vive errando porque conhece as Escrituras e o poder de Deus (Mt.22:29) e esta vida que não tem o erro como elemento frequente, mas como acidente, faz com que ele se torne “luz do mundo” (Mt.5:14) e “sal da terra” (Mt.5:13), produzindo frutos de justiça (Fp.1:11), realizando boas obras, até porque fomos feitos para andar nelas (Ef.2:10).
Ocorre que o homem não vive solitariamente, foi feito para viver em comunhão com outros seres humanos e com Deus (Gn.2:18; Ap.21:3) e esta convivência com o próximo se inicia pela família, uma instituição criada por Deus para que nela o homem cumpra o propósito divino a ele estabelecido (Gn.1:27,28; 2:24).
Tem-se, portanto, que o primeiro ambiente onde devemos agir como filhos de Deus, como salvos na pessoa de Jesus, é, precisamente, a família, este grupo criado pelo próprio Deus para ali se fazer presente com a sua criatura que pôs como superior na Terra e que tanto ama e quer bem.
Pois é precisamente como deve ser este relacionamento em família que haveremos de estudar neste trimestre, um trimestre temático mas que adota um aspecto “casuístico”, ou seja, a partir de passagens bíblicas pinçadas pelo Setor de Educação Cristã da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), devidamente analisadas pelo comentarista, veremos quais as diretrizes e princípios estatuídos pela Palavra de Deus para cada aspecto da vida familiar.
Sendo a base da vida em sociedade e uma instituição criada por Deus, naturalmente que a família é um dos principais alvos do inimigo de nossas almas, que tem diuturnamente lutado contra esta instituição, pois, ao atacar a família, como costumamos dizer, o diabo “não mata dois coelhos com uma cajadada só”, mas, sim,
“mata todos os coelhos”, pois a destruição da família representa a destruição do indivíduo, que não consegue viver solitariamente e perde o rumo da vida com o fim de seu lar; a destruição da sociedade, porque a sociedade é formada de famílias e se desfaz com a ruína dos lares e a destruição da igreja que também é formada de famílias e que, sem elas, também fracassa.
O tempo em que vivemos, o “princípio das dores”, o tempo imediatamente anterior ao arrebatamento da Igreja, foi equiparado, pelo Senhor Jesus, aos “dias de Noé” (Mt.24:37), ou seja, os dias imediatamente anteriores ao dilúvio.
Uma das características daqueles dias foi, precisamente, a ruína da família, pois a geração antediluviana “casava e dava-se em casamento” 9Gn.6:2; Mt.24:38), ou seja, não tinha o menor respeito pelo matrimônio, que foi a base instituída por Deus para a constituição das famílias, e, a partir desta circunstância, comprometeu-se toda a vida na Terra, que se encheu de violência e corrupção (Gn.6:11).
Hoje não é diferente, como já predissera Nosso Senhor. Abandonou-se o padrão bíblico de vida familiar e temos, na atualidade, uma total desordem na sociedade quanto a este aspecto, com a proliferação de divórcios, de uniões descomprometidas e pecaminosas, gerando uma sociedade que já não prima pelos valores básicos que a mantenham sólida e firme, ocasionando um sem-número de problemas, entre os quais, a crescente violência e corrupção generalizada.
Este estado de coisas já tem comprometido as igrejas locais, trazendo imenso prejuízo espiritual, gerando, então, desafios e problemas que precisam e devem ser superados por aqueles que querem se encontrar com o Senhor nos ares no dia do arrebatamento, que está tão próximo.
Daí a oportunidade feliz de analisarmos os relacionamentos em família, à luz de exemplos bíblicos, a fim de que reavaliemos nosso comportamento familiar, lembrando que somente Noé e sua família escaparam do juízo do dilúvio, não por acaso os únicos que se mantiveram fiéis ao padrão divino de vida familiar.
Diante da natureza “casuística” do trimestre, não temos propriamente blocos neste estudo, sucedendo-se os desafios e problemas ao longo da sequência de lições.
A capa da revista mostra-nos uma família com três gerações à mesa, na hora da refeição, orando certamente para que o Senhor não só abençoe o alimento, mas também em gratidão por ele.
Esta imagem evoca-nos o Salmo 128, conhecido como “o salmo da família” em que o salmista diz que é bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos Seus caminhos, pois comerá do trabalho das suas mãos, feliz será e irá bem, tendo a sua mulher como videira frutífera ao lado da sua casa e os seus filhos, como plantas de oliveira, à roda da sua mesa e que assim será abençoado o homem que teme ao Senhor, abençoado desde Sião, vendo os bens de Jerusalém em todos os dias da sua vida e vendo os filhos dos seus filhos e a paz sobre Israel.
Este salmo, bem retratado na capa da revista, mostra a realidade de que não há vida feliz sobre a face da Terra sem uma vida familiar feliz e que a felicidade da vida familiar depende primordialmente do temor ao Senhor.
Quando tememos a Deus, somos-Lhe obedientes, servimos a Ele com sinceridade, levamos nossa família a fazer o mesmo e, assim, a comunhão surgida no ambiente familiar se dará debaixo da bênção divina.
Um dos grandes problemas que hoje encontramos foi o descarte de Deus da vida familiar. Os lares já não estão mais sob a direção e a orientação divina, não se reconhece a Deus como o Senhor da casa e, então, em vez da bem-aventurança prevista pelo salmista, temos o fracasso e a derrocada, que compromete a cada membro da família e à sociedade como um todo.
O comentarista do trimestre é o pastor Elienai Cabral, que há anos comenta as Lições Bíblicas e que é o atual consultor teológico da Casa Publicadora das Assembleias de Deus.
Que, ao término do trimestre, à luz das Escrituras, melhoremos nossos relacionamentos familiares e estejamos, assim, como Noé, prontos para escapar do juízo divino que se aproxima.
B) LIÇÃO Nº 1 – QUANDO A FAMÍLIA AGE POR CONTA PRÓPRIA A família é o primeiro local de adoração ao Senhor.
INTRODUÇÃO
– A família é uma instituição criada por Deus.
– A família é o primeiro local de adoração ao Senhor.
I – A FAMÍLIA FOI INSTITUÍDA POR DEUS
– Estamos dando início a mais um trimestre letivo da EBD onde analisaremos os “relacionamentos em família”, uma reflexão como devem ser os nossos relacionamentos familiares à luz da Palavra de Deus, de uma forma “casuística”, ou seja, a partir de alguns episódios narrados nas Escrituras, de onde extrairemos as diretrizes e princípios divinos para cada aspecto da vida familiar.
– Antes, porém, de verificarmos o aspecto que será objeto de estudo nesta lição, ou seja, a necessidade de estar a família a serviço de Deus, de termos uma vida familiar dirigida pelo Senhor, que deve ser o soberano de nossa família, é de bom alvitre, em linhas gerais, ver o que é a família e como Deus a instituiu.
– O primeiro grupo social a que uma pessoa pertence é a família, grupo criado pelo próprio Deus (Gn.2:23,24) e que procura suprir as necessidades sentimentais, afetivas e emocionais básicas do ser humano. A função da família é, precisamente, impedir que haja o sentimento de solidão, que caracterizava Adão antes da formação da mulher (Gn.2:20).
– Os homens, mesmo, sem conhecer a Palavra de Deus, reconhecem o papel fundamental que a família exerce na vida de um homem.
A Declaração Universal dos Direitos do Homem afirma que “…a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.” (artigo XVI, nº 3), preceito que é repetido pela Constituição brasileira, que afirma que “…a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado…” (art.226).
– Entretanto, apesar dos preceitos normativos solenes, o adversário tem realizado um trabalho terrível de destruição contra a família, até porque seu trabalho é o de matar, roubar e destruir (Jo.10:10), já que é homicida desde o princípio (Jo.8:44)
– Deus não só criou a família como estabeleceu quais as regras e as condutas que devem ser observadas pelos membros da família. As Escrituras trazem quais os parâmetros do relacionamento entre cônjuges, entre pais e filhos e entre irmãos. O segredo da felicidade no relacionamento familiar está em ter uma conduta conforme a Bíblia Sagrada.
– Como afirma nossa Declaração de Fé: “…CREMOS, professamos e ensinamos que a família é uma instituição criada por Deus, imprescindível à existência, formação e realização integral do ser humano, sendo composta de pai, mãe e filho (s) — quando houver — pois o Criador, ao formar o homem e a mulher, declarou solenemente: ‘Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne’ (Gn.2:24). …” (cap XXIV, p.203).
– Verificamos, portanto, que a família é um dos aspectos da mordomia cristã. Como a família foi criada por Deus, é Ele quem deve estabelecer as regras, as normas ao homem, a quem cabe, simplesmente, obedecer.
A família não é nossa criação, nem pode ser estruturada segundo os nossos conceitos ou a nossa vontade. Existem princípios que devem ser seguidos e, por isso, como diz o título de nossa lição, a família não pode agir por conta própria, muito menos se formar conforme a vontade de seus integrantes.
– Muito se fala, hoje, a respeito da diversidade de culturas, dos diferentes modos de vida das várias raças, tribos e nações em volta do mundo, mas isto não é suficiente para que consideremos que os princípios estabelecidos por Deus não devam ser observados por todos os homens.
Os homens, envolvidos em seus delitos e pecados, acabam distorcendo os princípios estabelecidos por Deus e cabe à igreja, como defensora destes princípios, imergir nas culturas dos povos de modo a que tais culturas sejam transformadas e voltem aos princípios estatuídos pelo Senhor.
– Observemos que, entre os próprios judeus, a dureza de coração foi responsável pela existência de normas jurídicas sobre a família que estavam em desacordo com os princípios estabelecidos por Deus, como denunciou o próprio Senhor Jesus ao ser indagado sobre a norma do repúdio que vigorava, na época, em Israel (Mt.19:3-8).
– A primeira regra prevista para um relacionamento familiar sadio é o que mesmo seja construído sob o amor e a divina orientação do Senhor.
Uma família não pode ter outro alicerce senão o amor, não um amor carnal, um mero instinto sexual, mas um amor verdadeiro, vindo dos céus, um amor que signifique disposição a, desinteressadamente, buscar o bem e o êxito do outro, um amor altruísta, portanto. É neste sentido que devemos entender os deveres impostos a maridos e mulheres na Bíblia Sagrada (Ef.5:22-29).
– O amor conjugal tem como finalidade a construção de um projeto de vida comum entre o marido e a mulher. Quando Adão viu Eva, afirmou que ela era “osso dos seus ossos”, “carne da minha carne” (Gn.2:23), ou seja, havia uma unidade de propósitos, de fins, de objetivos, passavam, como diz o texto sagrado, a ser “uma só carne” (Gn.2:24).
Ser uma só carne não é apenas ter relações sexuais, mas é muito mais do que isto, é estabelecer um só projeto de vida. Uma família precisa ter um só plano de vida, um propósito de vida em comum, para o bem de todos em amor.
– Para que uma família seja bem construída, entretanto, faz-se preciso que ela seja nasça segundo a orientação divina, de acordo com a vontade de Deus. O primeiro casal foi criado por um ato divino (Gn.2:22) e assim deve ser a criação de toda e qualquer família. Devemos buscar intensamente a Deus para que construamos nossa família de acordo com a sua vontade.
– Neste ponto, aliás, realça aqui uma questão importante, que tem ganhado relevância, notadamente em nosso país, diante do reconhecimento como entidade familiar pela nossa lei da chamada “união estável entre homem e mulher”, o que é popularmente conhecido como “amasiamento”, “concubinato”, “amancebamento”, entre outras denominações.
– Embora a nossa Constituição tenha, para efeito de proteção do Estado, reconhecido este tipo de união como formadora de família (art.226, § 3º), o fato é que as pessoas que procuram este tipo de união, ao invés do casamento, cujas regras e deveres são sérios, solenes e explicitamente estabelecidos em lei, demonstram não querer assumir responsabilidades, não ter sinceridade e desejo de, realmente, formar “uma só carne” com o companheiro, comportamento que revela, desta forma, uma incompatibilidade com um caráter genuinamente cristão, onde deve imperar a santidade (I Pe.1:15), a verdade (Jo.17:17) e a transparência (Fp.4:5).
Além do mais, diz a Bíblia, que, entre os cristãos verdadeiros, o casamento deve ser venerado, ou seja, respeitado e levado com a devida seriedade (Hb.13:4).
OBS: Recentemente, por ocasião da 44ª Assembleia Geral Ordinária da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), graças
a Deus, foi rechaçada uma tentativa espúria de aceitação da “união estável” como relacionamento permitido na membresia das Assembleias de Deus, para vermos a intensidade em que o mundanismo já se encontra nas instituições religiosas.
– O amor conjugal é uma comunhão de vida, é o desejo de construir com o outro uma nova vida, uma vida distinta da vivida até então, onde se levará em conta o outro e não a si mesmo (I Co.7:4). O jurista romano
Modestino, do século III, já dizia que “o casamento é a comunhão de vida humana e divina entre um homem e uma mulher”, ou seja, até mesmo entre os pagãos havia o reconhecimento de que o casamento impõe uma unidade de vida material e espiritual, de modo a permitir a construção de uma nova vida.
– É por isso que a Bíblia, ao apresentar a formação da família, diz que o casal deve deixar pai e mãe e se apegar a seu cônjuge, formando um novo grupo social, uma nova família, com objetivos, fins e “modus vivendi” próprio.
É por este motivo que não pode o casal querer continuar na dependência de seus pais, fonte de um sem-número de problemas que, não raras vezes, acabam gerando a própria destruição do casamento.
A Palavra de Deus manda que o casal deixe seus pais, que estes não venham a participar da constituição da nova família, pois sua interferência não está no propósito divino para a construção de lares sólidos e que sejam verdadeiros altares para a adoração do Senhor
– Esta unidade de propósitos (Ez.37:19, parte final), também, revela que a família deve ter uma mesma direção espiritual, pois se trata de uma comunhão que se estabelece entre homem e mulher e esta comunhão deve ser, sobretudo, espiritual.
É por este motivo que não pode o servo de Deus unir-se a um ímpio em casamento, pois se terá um jugo desigual, que gerará um conflito interno insuperável e que não poderá resultar senão em grandes problemas e tribulações, já que não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14; Jo.3:19-21).
– Um servo de Deus que, deliberadamente, desobedece às Escrituras e se une a uma pessoa ímpia, terá uma vida familiar extremamente difícil, porquanto as Escrituras consignam que a felicidade na vida conjugal depende da união e da existência do “cordão de três dobras”, ou seja, de uma perfeita comunhão entre Deus, o marido e a mulher (Ec.4:12). Como poderão andar dois juntos, se não estiverem de acordo? (Am.3:3).
– Desnecessário seria dizer, a esta altura do estudo, que o amor conjugal não se limita apenas a aspectos físicos. Um dos grandes enganos que o adversário tem propugnado, nos últimos tempos, é a ideia de que a vida a dois se resume a aspectos sexuais.
O sexo faz parte do amor conjugal, mas, além de a sexualidade não se circunscrever à genitalidade, como tem sido propagandeado nestes dias maus que vivemos, também não é o único aspecto do amor entre marido e mulher.
Entretanto, como Jesus já havia profetizado, este desprezo ao casamento e à própria família é uma das características marcantes do período imediatamente anterior à volta de Jesus (Mt.24:37-39).
OBS: Cresce a popularidade das condutas que buscam tão somente prazer sexual, menosprezando o casamento.
Prova disso, por exemplo, é o conceito a respeito revelado, em entrevista, pelo “mestre De Rose”, um dos maiores e mais respeitados mestres de ioga no Brasil, criador da ” Uni-Yôga”, a “universidade de yôga”, como se vê nesta entrevista, cujo trecho se transcreve:
“…Muito práticos, por outro lado, são os conselhos que o mestre dá no livro ainda inédito Alternativas de Relacionamento Afetivo.
Nele, tal como um dinossauro remanescente da década de 70, prega o casamento aberto, que define como ‘ vertente do casamento monogâmico, só que com atenuantes’.
A justificativa para decidir abordar o tema do relacionamento em livro também é prática. ‘ Nos últimos quarenta anos, fui casado mais de dez vezes.
Estou mais qualificado para dissertar sobre o tema que os teóricos da matéria”, diz De Rose, pai de três filhos. As mães são todas instrutoras de suas academias de ioga, reputadas pela beleza.” (Veja, ano 36, nº 46, 19.11.2003, p.87).
– A segunda regra diz respeito à heterossexualidade da família. Uma família somente pode ser construída, segundo os parâmetros divinos, mediante uma união entre um homem e uma mulher com compromisso de constituir uma vida em comum.
Desta forma, jamais estará obedecendo aos princípios divinos quem defender ou constituir uma união homossexual, algo que, lamentavelmente, vem se alastrando nos países de todo o mundo.
– A união de pessoas do mesmo sexo é a própria negação do conceito bíblico de família, que é, como se vê claramente em Gn.2:24, que diz que uma família se constitui quando um varão deixa seu pai e sua mãe e se apega à sua mulher e se constituem em uma só carne.
Não é possível que uma união de pessoas do mesmo sexo possa constituir uma família, pois Deus criou a família com propósitos que exigem a heterossexualidade,
entre as quais, a procriação e a complementaridade afetiva e emocional, que só é possível diante de uma união entre pessoas de sexos diferentes.
OBS: A Igreja Romana divulgou um documento a respeito do tema, que, pela sua biblicidade, merece ser aqui reproduzido em parte:
“…O matrimônio não é uma união qualquer entre pessoas humanas.
Foi fundado pelo Criador, com uma sua natureza, propriedades essenciais e finalidades.(3). Nenhuma ideologia pode cancelar do espírito humano a certeza de que só existe matrimônio entre duas pessoas de sexo diferente, que através da recíproca doação pessoal, que lhes é própria e exclusiva, tendem à comunhão das suas pessoas.
Assim se aperfeiçoam mutuamente para colaborar com Deus na geração e educação de novas vidas.(…). São três os dados fundamentais do plano criador relativamente ao matrimônio, de que fala o livro do Gênesis. Em primeiro lugar, o homem, imagem de Deus, foi criado ‘ homem e mulher’ (Gn. 1,27)(…). Depois, o matrimônio
é instituído pelo Criador como forma de vida em que se realiza aquela comunhão de pessoas que requer o exercício da faculdade sexual.(…).
Por fim, Deus quis dar à união do homem e da mulher uma participação especial na sua obra criadora.(…). No plano do Criador, a complementaridade dos sexos e a fecundidade pertencem, portanto, à própria natureza da instituição do matrimônio.(…).
Não existe nenhum fundamento para equiparar ou estabelecer analogias, mesmo remotas, entre as uniões homossexuais e o plano de Deus sobre o matrimônio e a família.
O matrimônio é santo, ao passo que as relações homossexuais estão em contraste com a lei moral natural. Os atos homossexuais, de fato, ‘ fecham o a to sexual ao dom da vida.
Não são fruto de uma verdadeira complementaridade afetiva e sexual. Não se podem, de maneira nenhuma, aprovar’ (Cf. Catecismo da Igreja Católica, nº 2357) (CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_com_cfaith_doc_20030731_homos.. Acesso em 01/08/2003). Mas até a Igreja Romana anda fraquejando em manter este entendimento, notadamente no pontificado do Papa Francisco, que tem se caracterizado pela dubiedade nesta matéria.
– A terceira regra é a que estabelece que a família é a base de toda a sociedade. A vida social da humanidade foi construída por Deus a partir da família.
O homem nasce dentro de uma família e é neste ambiente que será socializado, ou seja, que aprenderá a viver em sociedade. Não é por outro motivo que o inimigo de nossas almas busca atacar a família, pois, a partir do ataque à família, estará destruindo, a um só tempo, os membros da família e a o restante da sociedade.
– Basta verificar que, após o início de processos acentuados de desintegração familiar, na história da humanidade, civilizações inteiras sucumbiram, como nos mostram os casos das cidades gregas e de Roma. A preservação da família, portanto, é fundamental, pois, deste modo, preservaremos a própria sociedade humana.
É na família, onde se deve iniciar a educação, a instrução e a formação dos seres humanos. Daí porque Moisés ter alertado o povo de Israel a que, na família, iniciasse a instrução da lei do Senhor (Dt.6:6-9).
OBS: Cumpre aqui registrar algumas palavras do Papa João Paulo II, que foi, nos últimos tempos, a principal autoridade a defender a família: “…Como em Nazaré, assim também em cada família, Deus se torna presente e se insere na história humana.
A família, de fato, por ser a união do homem e da mulher, está voltada por sua natureza à procriação de novos seres humanos, os quais necessitam ser acompanhados na existência através de uma cuidadosa obra educativa para o seu crescimento físico, mas, principalmente, espiritual e moral.
Por isso a família é o lugar privilegiado e o santuário onde se desenvolve toda a grande e íntima história de cada pessoa humana irrepetível.
Por conseguinte, incumbem à família deveres fundamentais, cujo exercício generoso não deixa de enriquecer amplamente os principais responsáveis da própria família, fazendo deles os cooperadores de Deus na formação de novos seres humanos.
Eis porque a família é insubstituível e, como tal, precisa ser defendida com todo vigor. É necessário fazer todo esforço para que a família não seja substituída.…” (JOÃO PAULO II. Meditações e orações, p.302).
II – A FAMÍLIA DE ABRAÃO COMO EXEMPLO DO PAPEL DA FAMÍLIA COMO AMBIENTE DE SERVIÇO E OBEDIÊNCIA A DEUS
– Já vimos que a família foi instituída por Deus e, portanto, é ele quem deve dar as regras para o seu correto funcionamento, cabendo ao homem tão somente obedecer ao que foi determinado, pois Deus é o Senhor e nós somos Seus servos, os “mordomos” da criação terrena, ou seja, aqueles postos sobre a face da Terra para administrar este planeta.
– Mas é relevante observarmos que estamos a falar de “família”, palavra que significa “grupo de servos”, “conjunto de fâmulos” e “fâmulo” nada mais é que “servo”, “escravo”. Etimologicamente, família é “o conjunto dos escravos dependentes e pertencentes a um chefe ou senhor”.
– Já na etimologia da palavra, portanto, vemos que há uma ideia de “serviço”, de “dependência” a um senhor e, deste modo, logo se verifica que ao se falar em “família”, está-se a falar de uma dependência em relação a um senhor.
– Poderá algum objetar, afirmando que esta expressão é latina e que, na Bíblia Sagrada, a palavra família é “bete”, ou seja, “casa”.
Entretanto, devemos observar que “casa” tem a mesma conotação de família, pois a “casa”, na cultura antiga, nada mais era que o conjunto dos descendentes e dos criados, tanto que, quando o Senhor mandou que Abraão circuncidasse os homens da sua “casa”, não só foi circuncidado Ismael, como também todos os seus criados (Cf. Gn.17:23).
– A ideia de “família”, portanto, está vinculada à ideia de conjunto de pessoas que estão a serviço e na dependência de um chefe, de um senhor. Ora, a família foi criada por Deus, foi Ele quem a instituiu, é, como se costuma dizer, a “obra-prima da criação”, porquanto foi a última coisa criada por Deus consoante a narrativa da criação, que se encontra nos capítulos 1 e 2 do livro do Gênesis.
– Assim, como do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e os que nele habitam (Sl.24:1), tem-se que Deus é o Senhor da família, de toda família, pois foi Ele quem a criou e o criador é o legítimo proprietário de sua criação.
– Quando um homem e uma mulher se unem pelo casamento, surge uma família. Pois bem, nesta família quem é o soberano, quem é o dono?
É o marido, que por ser homem, teria domínio sobre a mulher, já que foi criado primeiro (Cf. I Tm.2:13)? É a mulher, que, embora tenha sido criada posteriormente, não teve apontado defeito algum, ao contrário do que ocorrera com o homem, que foi tido por solitário (Cf. Gn.2:18) e foi o instrumento pelo qual veio ao mundo o Salvador (Cf. Gn.3:15; Gl.4:4)?
– A resposta nos é dada pelas próprias Escrituras que diz que, embora o varão seja a cabeça da mulher, Cristo é a cabeça do varão e Deus, a cabeça de Cristo (I Co.11:3), de modo que a família está, portanto, sob o senhorio divino.
– Eis o motivo pelo qual se pode falar, válida e legitimamente, em “mordomia da família”, ou seja, a família
é algo que temos de administrar, não inventar, algo que deve ser vivido consoante os mandamentos e prescrições divinos, o verdadeiro Senhor da família, de toda família.
– A falta de compreensão desta realidade é que tem levado muitos a fracassar na vida familiar e, por consequência, na vida espiritual, pois se não se tem noção de que somos mordomos e devemos obedecer aos ditames divinos, a desobediência passa a imperar e nos atinge em nossa comunhão com Deus.
– Esta necessidade de seguirmos rigidamente o padrão divino para a família nos é apresentada no caso bíblico escolhido para esta lição, que é a família de Abraão, o pai da fé, o exemplo de confiança e obediência a Deus.
– Abrão foi chamado pelo Senhor para ser importantíssimo instrumento no plano da salvação da humanidade. Depois da rebeldia de toda a raça humana no episódio da torre de Babel, necessário era criar-se uma nação na qual poderia nascer o Salvador, como havia sido prometido no dia mesmo da queda do homem, no Éden (Gn.3:15).
– Como aquela comunidade única pós-diluviana se rebelara contra Deus, sendo espalhada pela face da Terra por conta da confusão das línguas, dando origem às mais diversas nações, era necessário que se criasse um novo povo, que servisse a Deus e nele, então, nascesse o Salvador.
– O Senhor, então, escolhe Abraão. O texto bíblico não nos diz porque é ele o escolhido, sendo que a tradição judaica afirma que teria Abraão (então chamado Abrão) teria rejeitado a idolatria existente em Ur dos caldeus, concluindo que só poderia haver um único Deus, que não poderia ser representado por imagens ou algo material.
– O que se extrai do texto bíblico é que Abrão havia se casado com sua meia-irmã Sarai, que era estéril (Gn.11:29,30) e o fato de se manter casado tão somente com Sarai, apesar de ser ela estéril nos indica que Abrão era uma pessoa temente a Deus, que, a exemplo do que ocorrera com Noé, mantinha o mandamento divino da monogamia e da perpetuidade do casamento.
– O Código de Hamurábi, o mais antigo código de leis conhecido, que era, exatamente, a lei que vigorava em
Ur dos caldeus, previa a possibilidade do divórcio nestes casos. Veja o que dizia referida norma: “138º – Se alguém repudia a mulher que não lhe deu filhos, deverá dar-lhe a importância do presente nupcial e restituir-lhe o donativo que ela trouxe consigo da casa de seu pai e assim mandá-la embora. 139º – Se não houve presente nupcial, ele deverá dar-lhe uma mina, como donativo de repúdio. 140º – Se ele é um liberto, deverá dar-lhe um terço de mina” (mina era o valor de 100 dias de trabalho).
– Nota-se, pois, que uma das características de Abraão era a de que mantinha um relacionamento familiar conforme a vontade divina, não conforme a cultura de seu povo ou as leis de seu país, algo que devemos aprender com o “pai da fé” e que explica o porquê da sua escolha para ser o pai da nação que seria o povo de Deus.
– Deus promete a Abrão que faria dele uma grande nação e que, para tanto, deveria ele sair da sua terra, da sua parentela e da casa de seu pai (Gn.12:1). Sem ter um único filho, sendo sua mulher estéril, Abrão creu e atendeu ao chamado divino.
– Notemos que a promessa divina era diretamente vinculada à vida familiar de Abrão. Para fazer dele uma grande nação, ele teria de ter, pelo menos, um filho, o que era humanamente impossível. Não há como se ter o cumprimento da promessa da salvação da humanidade sem se passar pela família, sem se construir, através da família, um povo que pudesse ser chamado de “povo de Deus” e onde nascesse o Salvador.
– De igual modo, amados irmãos, não podemos imaginar que seremos instrumentos para a salvação das pessoas sem que tenhamos uma conduta exemplar e conforme a vontade divina em nossas famílias, pois é a partir da família que iremos ser vistos perante a sociedade.
– Jesus era conhecido em Nazaré pela Sua família e esta mesma família continuou a ser referência de Jesus para os judeus, como podemos ver em passagens como Mt.13:55; Mc.6:3; Lc.4:22; Jo.1:45 e 6:42. Se Jesus, Verbo feito carne e sem pecado, era referenciado pela família, como podemos imaginar que conosco será diferente? Pensemos nisto!
– Abrão atendeu ao chamado divino mas não integralmente, pois levou com ele seu sobrinho Ló (Gn.12:4), o que lhe traria grandes problemas, tanto que dele teve de se apartar posteriormente (Gn.13:7-9) e, mesmo assim, isto trouxe, ainda, dissabores ao patriarca, que teve de entrar numa guerra por causa de seu sobrinho (Gn.14:12-16) e de interceder pela própria vida dele quando do juízo sobre Sodoma e Gomorra (Gn.19:29).
– Na primeira vacilação que teve em sua fé, Abrão saiu de Canaã, sem autorização divina, indo para o Egito e pôs em risco exatamente o seu casamento, quando mentiu e mandou que Sarai mentisse a respeito do casamento de ambos (Gn.12:11-20), o que lhe custou a expulsão do Egito.
– Vemos aqui que, quando atendemos ao chamado divino, não podemos querer separar a nossa vida familiar desta vocação celestial. Não é possível que separemos a vida familiar da vida espiritual, nossa convivência no lar com a nossa cooperação na obra de Deus.
– Tanto é assim que o apóstolo Paulo nos ensina que é requisito para cooperar na obra do Senhor uma vida familiar exemplar (I Tm.3:2-5,12), algo que, lamentavelmente, tem sido negligenciado em nossos dias.
– Observemos que o Senhor chegou até a mandar grandes pragas para preservar a santidade e o casamento de Abrão e Sarai, para vermos como é extremamente necessário que ponhamos nossa vida familiar em consonância com a vontade de Deus e que um deslize neste aspecto de nossa vida pode pôr tudo a perder quanto ao nosso destino eterno, quanto ao propósito do Senhor para as nossas vidas.
– Esta ida ao Egito, aliás, iria trazer uma sequela que acabaria por contribuir para nova vacilação, que foi a aquisição e trazida para o lar do patriarca da escrava egípcia Agar.
– Superada esta vacilação, veio outra que também comprometeu o propósito divino para a vida de Abraão e que tem consequências trágicas até o dia de hoje.
– A primeira demonstração que a Palavra de Deus nos dá para mais um fracasso de Abrão na vida espiritual é a circunstância de que Sarai não gerava filhos a Abrão. Diz o texto de Gn.16:1: “Ora, Sarai, mulher de Abrão, não lhe gerava filhos”.
– A obtenção pelo casal desta situação foi a porta de entrada para o fracasso espiritual. Com efeito, esta conclusão estava baseada numa perspectiva de total incredulidade e de desesperança em Deus. Chegava-se à conclusão de que jamais Abrão poderia ter filhos, como Deus prometera, por intermédio de sua mulher, pois ela era estéril e não lhe poderia gerar filhos e dez anos já haviam passado desde que se iniciaria a peregrinação em Canaã (Gn.16:3).
– Este é um grande perigo, o perigo de descrermos da Palavra do Senhor. Jamais um homem será vencido pelas tentações se confiar na Palavra de Deus.
A partir do momento que deixamos de dar crédito ao que Deus disse, começam a surgir, entre nós, as dúvidas, as descrenças, as desesperanças, a noção de demora no cumprimento das promessas de Deus. Como disse o compositor Alceu Pires: “A demora vem quando o “eu” encontra no coração lugar”.
Atrás de uma expressão como esta está uma sensação de autossuficiência, de independência de Deus, que é, como já dissemos, a porta de entrada para o fracasso espiritual do homem.
– Uma das grandes dificuldades para que o ser humano possa entender o agir de Deus encontra-se, precisamente, no aspecto tempo. Com efeito, o tempo é uma dimensão que somente existe para nós, homens, pois fomos submetidos a ele após o pecado de nossos pais.
– Com efeito, como consequência do pecado, o homem foi levado à temporalidade de seu corpo (Gn.3:19) e, portanto, agimos e pensamos levando em conta o tempo. Entretanto, Deus é um “eterno presente”, como costumava ensinar o pastor Severino Pedro da Silva e, assim, não podemos submeter as ações de Deus ao fator tempo.
– O sábio Salomão já ensinou, dizendo que “tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Ec.3:1). Jamais devemos nos esquecer que o tempo não existe para Deus e que tudo faz no tempo certo.
– A própria demonstração máxima do amor de Deus, que foi a vinda de Seu Filho, deu-se no tempo certo, nem antes, nem depois (Gl.4:4). Daí porque devemos repudiar o dito popular “Deus tarda, mas não falha”. Como diz outro verso do compositor Alceu Pires: ” Deus não tarda e te responderá”.
OBS: “…A propósito, não poderá haver dois Universos? Este, relativo aos Mega Bang, Hiper Bang e Big Bang, que ainda não existia, e o outro totalmente absoluto, onde está o Trono de Deus?
Um dos cientistas deste grupo que citamos fez menção a este Universo, o qual não deve ter tido nem princípio, nem deverá ter fim. Nós nos referimos à sua origem absolutamente eterna, onde sua fronteira interna é igual à nossa fronteira externa…”(CARVALHO Ailton Muniz de. Deus e a história bíblica dos seis períodos da criação. 4. ed., p.66).
– A confiança em Deus exige estrita obediência à Palavra do Senhor. Com efeito, ao verificarmos a solução tomada por Abrão e Sarai, há inobservância da Palavra do Senhor. Com efeito, Deus havia prometido fazer de Abrão uma grande nação (Gn.12:2), nação que surgiria de alguém que saísse das entranhas do patriarca (Gn.15:4), definindo, portanto, que não seria por meio de servos que a promessa de Deus se cumpriria, como pensara o patriarca.
– A solução de Sarai, portanto, contrariava, frontalmente, as promessas de Deus. O servo do Senhor não pode se deixar levar pelas circunstâncias desta vida, ainda que, aparentemente, mais sensatas e seguras que as prometidas pelo Senhor. Jamais devemos nos guiar pela aparência (Mc.12:14: Jo.7:24).
OBS: ” …O deslize de Abrão danificou a sua perfeição espiritual? Sim! Todo gesto fora da vontade de Deus gera atitude de imperfeição.
Entretanto, tais falhas podem não chegar a afetar o plano de Deus na vida do homem. Perfeito é algo sem defeito, omissão e completo; tão bom que é impossível melhorar; sem qualquer tipo de mácula, desagrado ou falha, autêntico, impecável, exato.
O homem, enquanto estiver neste corpo físico, estará sujeito a falhas e imperfeições. Queria o Senhor que Abrão refletisse sua atitude em ter tomado uma serva para si e dela gerar um filho, e que isso não era o perfeito plano de Deus, pois ele foi escolhido para fazer parte da linhagem do Messias e não deveria ser com sangue de estrangeiro.
Era preciso continuar esperando mesmo quando não havia mais esperança diante das impossibilidades físicas. Precisou aprender que quando as coisas são impossíveis aos homens, não as são para Deus.
A busca de um servo para ser herdeiro e depois o herdeiro com uma estrangeira estava fora do plano de Deus para sua vida.
O Senhor queria o melhor para Abrão e quer o melhor para todos os homens. Esperar até que a bênção chegue é demonstração de confiança em Deus…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.3, p.60-1).
– Notemos, ainda, que a solução dada por Sarai estava perfeitamente de acordo com a moral e com o direito vigentes naquele tempo.
Assim, sendo Agar uma escrava de Abraão, o filho que ela tivesse de Abraão seria considerado filho de Sarai, já que ela própria dera a serva, que estava a seus serviços, ao marido. Tinha-se, pois, “legalmente”, o cumprimento da promessa de Deus, mas não era isto que o Senhor tinha dito.
– Em nossos dias, não são poucos os que procuram se basear nas leis humanas para justificar condutas que são proibidas ou estão em desacordo com a Palavra de Deus, principalmente num tempo em que o direito, como tudo na sociedade, está abandonando os valores e princípios bíblicos. Deus não muda e, assim como não aprovou a manobra jurídico-legal de Sarai, também não aprova o que se tem feito hoje em dia por muitos.
– A solução tomada por Abrão e Sarai pareceu ser excelente e ter dado resultado, pois Agar engravidou e deu à luz um filho para Abrão, mas as consequências desta solução se fizeram sentir antes mesmo do nascimento de Ismael.
– Logo surgiu a disputa entre Sarai e Agar, que levaram à expulsão de Agar ainda grávida da casa do patriarca, ainda que tivesse sido, posteriormente, acolhida de volta. Depois, houve o desentendimento entre Ismael e Isaque, com a expulsão definitiva de Agar e de Ismael da casa de Abrão e o início de uma luta fratricida entre seus descendentes que perdura até hoje nos conflitos entre judeus e árabes na terra de Canaã. A suposta solução perfeita e exitosa redundou num motivo de mortes diárias ao longo de mais de quatro milênios.
– O segredo para a vitória está em cumprir rigorosamente a Palavra do Senhor. Jesus, mesmo, afirmou que somente há dois caminhos: um estreito, ou seja, um que não comporta flexibilidade, que não comporta alargamento de interpretação, que não admite relativismo, que é o caminho da Palavra de Deus.
– Ao vermos o ministério de Jesus Cristo, verificamos que tudo foi cumprido rigorosamente pelo Senhor (Jo.17:4), tanto que, mesmo na cruz, para que houvesse cumprimento cabal, o Senhor chegou a externar a Sua sede (Jo.19:28). É este mesmo rigor que se espera dos servos do Senhor, principalmente na vida familiar que, como vimos, é a base de nossa referência na sociedade e o primeiro local onde Deus quer Se manifestar e manter comunhão conosco.
– Um dos sinais dos últimos dias é, precisamente, a inobservância da Palavra de Deus. Têm surgido muitos falsos mestres que não têm demonstrado qualquer compromisso com a sã doutrina, construindo teorias, sistemas, catecismos, doutrinas e pensamentos que satisfaçam suas concupiscências (I Tm.4:1,2; II Pe.2:1-3,18-22; Jd.4). Devemos ser humildes para aprender de Jesus e olharmos o Seu exemplo, bem como seguir o conselho do profeta: “este é o caminho, andai nele.” (Is.30:21).
– A partir do momento que se descarta a intervenção divina, que se deixa de crer na possibilidade de Deus cumprir as Suas promessas, surge o intelecto humano, a lógica humana. Por isso, ao lado da esterilidade de Sarai, do que já se considerou ser uma demora no cumprimento da promessa divina, exsurge a “solução humana”: ” ele tinha uma serva egípcia, cujo nome era Agar”.
– Nunca busquemos fazer prevalecer nossa experiência, nosso pensamento, nossa lógica ao invés da Palavra do Senhor. Isaías diz-nos com total razão que os nossos pensamentos e os nossos caminhos são muitíssimo inferiores aos caminhos e pensamentos de Deus (Is.55:9).
– A “solução Agar” tinha vários inconvenientes. Por primeiro, Agar não era nascida na casa de Abrão. Quando fora lutar para libertar Ló, Abrão somente empregara os servos que eram nascidos na sua casa, ou seja, para que houvesse sucesso, Abrão somente poderia contar com quem tivesse as mesmas crenças, os mesmos valores, a mesma formação, o mesmo Deus.
– Agar não era nascida em sua casa e, portanto, jamais poderia ser o instrumento para a obtenção do herdeiro prometido por Deus. De igual forma, muitos hoje buscam obter a promessa de Deus através de elementos estranhos à casa de Deus, de pessoas não comprometidas com a Palavra do Senhor.
– Como termos sucesso espiritual tendo uma família que seja formada por pessoas não comprometidas com o Senhor? Como casarmos com pessoa sem fé em Deus e acharmos que isso não terá consequências na nossa espiritualidade?
Como negligenciarmos a educação doutrinária de nossos filhos e acharmos que isto não trará problemas para a nossa própria comunhão com o Senhor?
– Por segundo, Agar era vestígio de um período de desvio espiritual. Tudo indica que Agar fora incorporada à casa de Abrão durante o tempo em que este peregrinara no Egito, que foi, como já vimos, um período de desvio espiritual, de fracasso na vida de Abrão.
– Jamais alguém que se acrescera à casa de Deus num período em que não havia direção de Deus poderia se transformar num instrumento de bênção espiritual. Agar simboliza as consequências dos nossos fracassos, consequências que perduram em nossas vidas e que devemos neutralizar e não exaltar.
– Assim como o homem velho, que a Bíblia denomina de “carne”, que ainda existe em nós, que não fomos, ainda, libertos do corpo do pecado (o que ocorrerá apenas com a glorificação, último estágio da salvação), deve ser mantido crucificado em nossas vidas, Abrão não poderia exaltar Agar como fez sem que disso adviesse prejuízo espiritual (Gl.2:20; 6:14).
– Como podemos querer ter sucesso se mantivermos, em nossa vida familiar, modos de viver, tradições que contrariam a nossa nova vida em Cristo? Como querer manter, em nossos lares, costumes e práticas que não são condizentes com a nossa vida de santidade e comunhão com Deus?
– Por terceiro, Agar subverteria a ordem natural das coisas. Agar era uma serva, enquanto que Sarai era a senhora da casa. A solução Agar trazia uma subversão na ordem, pois a serva seria exaltada, passando a ocupar uma posição de disputa e de enfrentamento com a dona da casa, o que geraria contenda e dissabores, como acabou acontecendo.
– As soluções humanas são, em si, subversivas, pois representam uma rebeldia de homem contra Deus, pois nada mais são que demonstrações de uma independência, de uma autossuficiência humana, uma atitude da criatura contra a soberania do seu Criador.
– Como, então, podemos querer incorporar em nosso cotidiano familiar valores e princípios que contrariam a Palavra de Deus, amoldando nossas casas ao que é ditado pela sociedade, pela mídia e pelo mundo? Como deixar de observar os ditames bíblicos em nome de uma “modernidade”?
– Por quarto, Agar era consequência da incredulidade e da desesperança em Deus. Sarai foi peremptória: ” eis que o Senhor me tem impedido de gerar”. Nesta sentença, revela-se o total descarte de qualquer intervenção divina na questão. Sarai decreta e sentencia que Deus não lhe dará filhos, apesar de todas as promessas feitas a Abrão.
– Graças a esta sentença indevida e totalmente equivocada é que foi possível criar-se a solução Agar. Quando verificarmos decisões e atitudes que nos são sugeridas, devemos observar se, por detrás delas, não está uma demonstração de incredulidade e de desesperança em Deus.
– Como, então, submeter nossa vida familiar a um secularismo, onde apenas levamos em conta os fatores humanos, como o lado econômico-financeiro, os ditames da sociedade, não levando em conta as promessas divinas relacionadas aos Seus servos?
Como resultado disso, condutas como a postergação ou descarte de descendência, a inserção de ambos os cônjuges no mercado de trabalho, a terceirização da educação dos filhos e tantos outros comportamentos, que contrariam abertamente as diretrizes bíblicas, acabam por gerar situações que comprometem sensivelmente a vida familiar e a própria vida espiritual dos integrantes da família.
– Por quinto, Agar era uma solução feita com base na lógica humana e não na direção do Espírito. Como mostra o apóstolo Paulo (Gl.4:21-31), Agar simboliza o concerto feito com base nas ações humanas, o concerto que seria firmado, posteriormente, no monte Sinai, segundo o qual o esforço humano seria primordial para estabelecimento da comunhão com Deus e que, por causa disso, até, redundaria em fracasso, pois não há sequer um homem justo na face da Terra.
– Não podemos confiar em nossos esforços, que são totalmente incapazes de nos trazer a redenção (Rm.3:10; Sl.14:1-3; Sl.49:8). O crente não anda segundo a carne, mas segundo o Espírito (Rm.8:1-17).
OBS: ” …O NT fala do filho de Agar como sendo o produto do esforço humano – ‘segundo a carne’ e não ‘segundo o Espírito’ (Gl.4.29).
Segundo a carne equivale ao planejamento puramente carnal, humano, natural. Noutras palavras, nunca se deve tentar cumprir o propósito de Deus usando métodos que não são segundo o Espírito, mas esperando com paciência no Senhor e orando com fervor…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, nota a Gn.16.2, p.55).
“…Evite tentar cumprir as promessas de Deus pelas suas forças. Tal atitude sempre tem conseqüências e produz resultados indesejáveis…” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE. Verdade em ação no livro de Gênesis, item 4, p.63).
– Como, então, podemos querer ter sucesso em nossas vidas familiares se não há qualquer dimensão espiritual em nossos lares, se nem sequer há culto doméstico, momentos de oração e de busca da direção de Deus por parte dos integrantes da família, que, aliás, nem sequer se comunicam com frequência? Como entender que somente o “suor do rosto” ou o cumprimento das tarefas pode ser suficiente para que manter uma família diante de Deus?
– Por sexto, a solução Agar fez com que caísse mais um período de silêncio divino na casa de Abrão, pois somente encontraremos Deus falando com Abrão, novamente, quando este estiver com noventa e nove anos de idade (Gn.17:1). A desobediência traz, inevitavelmente, o afastamento entre Deus e o homem.
OBS: “…Quando nasceu o menino de Agar, Abrão tinha 86 anos e Sarai, sua verdadeira mulher, 77. Por causa da trapalhada do casal, Deus interrompeu sua comunicação com a Terra, e obviamente com Abrão, durante treze anos… ” (Ailton M. de CARVALHO. A genealogia dos alienígenas, p.55).
– Como querer ser abençoado por Deus, estar com sua vida familiar protegida e fortalecida pelo Senhor, quando todos vivem pecando dentro do lar, quando o lar, em vez de ser um “altar a Deus” (é este o significado da palavra “lar”, palavra latina que designava o local das casas dos romanos onde se adoravam os “deuses lares”, ou seja, os “antepassados”), é um antro de atos desagradável a Deus?
– Além do aspecto de formação do próprio povo de Deus, vemos, neste episódio, que o povo deveria iniciar-se com uma família, ou seja, a família, uma vez mais, é mostrada na Bíblia Sagrada como a base do povo que Deus quer constituir para louvá-l’O e adorá-l’O.
– A formação da família exige, em primeiro lugar, a direção e orientação de Deus. Os planos de Abrão e Sarai estavam fora da direção e orientação do Senhor e, embora tivesse havido consenso entre eles, o resultado foi a contenda, a disputa e a intolerância na convivência do lar.
– Não basta, portanto, que haja acordo entre marido e mulher, mas é fundamental que haja submissão de ambos à vontade divina. É por isso que é dito que a união numa família salva é um “cordão de três dobras” (Ec.4:12), ou seja, não basta haver marido e mulher, mas o Senhor deve reinar sobre a união conjugal.
– Muito se discute quem deve ser o chefe do casal. O direito de família estabeleceu, até 1988, que a chefia do lar competia ao marido, baseando-se estas normas em dispositivos bíblicos que haviam sido assimilados pela Igreja Romana na legislação canônica.
Hoje, inclusive no Código Civil, aboliu-se a figura do chefe de família, diante da igualdade entre homens e mulheres. Entretanto, para os crentes, não há dúvida alguma: o chefe da família só pode ser Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que é a cabeça do varão (I Co.11:3).
– Ainda dentro deste aspecto familiar, o episódio que ora estamos estudando bem demonstra que uma família não pode subsistir se não houver unidade de fé, ou seja, se não houver compartilhamento das mesmas crenças, das mesmas esperanças, dos mesmos propósitos, dos mesmos valores.
– Ao ser inserida num ambiente de intimidade do lar, Agar, que não fora nascida na casa de Abrão, efetivamente não demonstrou ter o mesmo fim e a mesma fé do patriarca, tanto assim que acabou sendo expulsa da casa de Abrão e, no momento de desespero, Deus nem sequer ouviu o seu clamor, mas, sim, o do menino Ismael, este, sim, que havia nascido na casa de Abrão e tivera uma formação diferente da de sua mãe (Gn.21:14-21).
– Não se pode formar um lar verdadeiramente cristão se tivermos a inserção de pessoas descompromissadas com a Palavra de Deus, com a fé em Jesus, o chamado “jugo desigual”.
– Por isso, devemos aqueles que querem ter uma vida espiritual equilibrada e frutífera, pedir a orientação do Senhor no momento de constituírem seus lares, jamais permitindo que haja “jugo desigual”, que não se confunde com nome de igreja, com nome de ministério ou algo similar, mas com o verdadeiro e sincero compromisso do pretendente a cônjuge com a Palavra de Deus.
– Agar vivia dentro da casa de Abrão, desfrutava da confiança de Sarai, era íntima do casal, mas não se tratava de alguém que fosse compromissada com o Senhor de Abrão. Quando o(a) querido(a) irmã(o) estiver escolhendo um cônjuge, não se esqueça deste exemplo que a Palavra de Deus nos traz.
– Surgida a contenda, logo a beleza aparente do plano engendrado por Abrão e Sarai desmoronou. Agar ensoberbeceu-se por estar grávida e passou a assumir uma posição que não era a sua. Sarai, por sua vez, sentiu-se ameaçada, insegura, porque havia colocado em xeque a sua própria autoridade no lar.
– O exercício da autoridade é algo que deve ser feito com muito cuidado. Com efeito, diz-nos a Bíblia que a autoridade sempre é constituída por Deus (Rm.13:1), máxime quando decorre da vontade operativa de Deus, como ocorria no caso de Sarai e de Abrão.
– Ora, se assim é, quando a autoridade é exercida fora da direção e orientação de Deus, as consequências são funestas para a autoridade, pois Deus não Se deixa escarnecer (Gl.6:7).
Exaltando indevidamente Agar, Sarai viu-se ameaçada em sua própria autoridade, porque a autoridade havia sido mal exercida.
Abrão, que havia aquiescido com sua mulher, também ficou sem qualquer autoridade, delegando a Sarai uma decisão que deveria ter sido sua e, como consequência, Sarai tomou uma deliberação totalmente irracional, má e desumana, expulsando uma mulher grávida de filho de seu marido, deixando-a à própria sorte.
Da exaltação indevida à crueldade na perseguição e expulsão: este é, normalmente, o procedimento daqueles que detêm autoridade mas a exercem fora da direção de Deus (mormente entre os escolhidos…)
– Entretanto, como dissemos, Deus não Se deixa escarnecer. Ante uma situação tão iníqua e contrária à Sua vontade, o Senhor intervém e faz com que Agar retorne para a casa de Abrão. Esta intervenção divina revela, sobretudo, que o único compromisso que Deus tem é com a Sua Palavra, pois Ele vela sobre ela para a cumprir (Jr.1:12).
– Agar estava grávida e seu filho era descendência de Abrão e, portanto, Deus tinha o compromisso de zelar para que este filho nascesse e sobrevivesse, bem como que fosse educado na doutrina de Seu amigo.
Por isso, Deus revogou a determinação de Sarai, como também removeu a soberba de Agar. Determinou à serva que se humilhasse perante a sua senhora e tornou sem efeito a ordem de Sarai de expulsão do lar.
Vemos aqui a soberania de Deus e a impossibilidade de se impedir a operação divina (Is.43:13). Esta é uma garantia que o crente tem e que deve estar sempre em nossa mente.
– A humilhação de Agar revela-nos, ademais, que, sem humildade, jamais teremos permanência na casa do Senhor. Para permanecermos em comunhão com o Senhor, necessário se faz que aprendamos de Jesus, que é humilde e manso de coração (Mt.11:29).
A soberba foi o pecado primeiro do universo, praticado pelo nosso adversário (Ez.28:17; Is.14:12-14) e um dos elementos de que se compõe o mundo que jaz no maligno (I Jo.2:16). Que Deus nos guarde, pois, da soberba e que possamos, aprendendo de Jesus e de sua humildade, perseverar na casa do Pai até aquele grande dia.
– Lição importante foi dada pelo Senhor ao determinar o nome da criança. Deus disse a Agar que a criança deveria se chamar “Ismael”, que quer dizer “Deus está ouvindo”(Gn.16:11). Com este nome, Deus demonstra que estava observando, durante todo o tempo, o estratagema engendrado por Abrão e por Sarai.
– O nosso Deus não é um Deus que seja surdo ou seja mudo, embora, às vezes, pareça que Ele não nos ouve ou que não fale, diante do silêncio que O caracteriza em certos momentos de nossa vida.
Enquanto Agar denomina o Senhor de “Deus da vista”, numa clara confissão de que Deus a tudo estava vendo (Gn.16:13), o próprio Senhor determina que a criança seja chamada Ismael, para comprovação de que Deus tudo está ouvindo.
– Quando temos a certeza de que Deus está vendo e ouvindo todas as coisas, de forma convicta e sincera, nossas ações não se moldam segundo a carne, segundo a lógica, segundo os costumes ou as convenções humanas, mas se desenvolve por fé.
OBS: “…Ela (Agar, observação nossa) obedeceu, pediu perdão à sua senhora, e o obteve, e pouco tempo depois teve um filho que foi chamado Ismael, isto é, atendido, para mostrar que Deus tinha atendido às orações de sua mãe….” (JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. Trad. de Vicente
Pedroso, v.1, p.33).
” O nome ‘Ismael’ significa ‘Deus ouve’ e significa que Deus viu o modo injusto de Abrão e Sarai tratarem Agar, e que também agiu a respeito disso. Aquele nome dado antecipadamente foi um julgamento sobre Abrão, e revela que Deus abomina toda e qualquer injustiça entre os seus. Que Deus castigará quem cometer injustiça contra os fiéis da igreja, não deixa dúvida o NT…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, nota a Gn. 16.11, p. 56).
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/8975-licao-1-quando-a-familia-age-por-conta-propria-i