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Apêndice 1 – Os deveres dos Servos, A boa Milícia da Fé e a Relação entre Fé e Ciência

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O servo de Jesus Cristo deve reconhecer a hierarquia social, ser um militante da fé e ter convicção de que fé e ciência se completam.

Texto áureo

“Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas.” (I Tm.6:12)

INTRODUÇÃO

-Em complemento ao trimestre, analisaremos partes do capítulo seis da Primeira Epístola de Paulo a Timóteo que não foram objeto de uma lição específica.

– O servo de Jesus Cristo deve reconhecer a hierarquia social, ser um militante da fé e ter convicção de que fé e ciência se completam.

I – OS DEVERES DOS SERVOS

– Estamos a estudar, neste trimestre, as cartas pastorais (I Timóteo, II Timóteo e Tito). Algumas partes do capítulo 6 de I Timóteo não foram objeto de lição específica, os trechos de I Tm.6:1,2; 6:12-16 e 6:20,21, motivo pelo qual, como costumamos fazer, estaremos a analisá-lo em apêndice ao trimestre.

– Após ter falado a Timóteo a respeito do cuidado que deveria ter com sua saúde física, bem como a realidade de que os pecados na igreja local nem sempre são manifestados de imediato, o apóstolo traz orientações a seu filho na fé como deveria ele se relacionar e que orientações deveria dar aos servos.

– Mais uma vez, vemos como a sã doutrina, como a doutrina trazida por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é diferente de tudo quanto foi criado pelo homem imerso no pecado.

Paulo e Timóteo viviam em uma sociedade marcada pela escravidão. Em todo o Império Romano, como, aliás, na Antiguidade, a sociedade era marcada pelo chamado “modo de produção escravista”, ou seja, toda a sociedade estava estruturada economicamente na escravidão.

Eram os escravos aqueles que propiciavam a formação de valor em toda a sociedade.
– Timóteo estava em Éfeso, uma típica cidade grega, onde a escravidão era a base de toda a vida social.

Entretanto, apesar de os escravos não serem reconhecidos como pessoas perante o direito, eles também eram alcançados pelo Evangelho de Jesus Cristo. Jesus tinha vindo salvar todos os homens, pois todos eram pecadores (I Tm.1:15) e, portanto, os escravos, que eram a maioria da população, também receberam a salvação.

– Mostra-se, uma vez mais, que, ao contrário do que se anda dizendo por aí, a Bíblia Sagrada nos mostra que o Cristianismo trata a todos os homens igualmente, sem qualquer distinção, tanto que aos escravos também era pregado o Evangelho e muitos se convertiam ao Senhor.

– Outra coisa interessante é que, uma vez salvos, os servos eram tratados igualmente na igreja local.

Embora na vida social permanecessem sendo escravos, o fato é que os servos eram tratados como irmãos em Cristo Jesus pelos seus senhores, como fica claro em Fm.16, quando o apóstolo Paulo lembra a Filemom que Onésimo, escravo foragido e que havia se convertido, deveria ser recebido pelo seu senhor como irmão amado.

Em Ef.6:9, o apóstolo já havia dito aos crentes de Éfeso que os senhores deveriam tratar seus escravos lembrando que todos são servos de Deus e que o Senhor não faz acepção de pessoas.

– Os servos, portanto, tinham a mesma condição que seus senhores na igreja local, mas isto não significava, em absoluto, que esta relação social estava abolida. Embora todos fossem iguais diante de Deus, o fato é que a sã doutrina não vinha modificar as estruturas sociais à força.

Muito pelo contrário, em momento algum, no texto sagrado, vemos qualquer defesa de uma rebeldia ou de obrigatória libertação dos escravos que se convertessem ou que os senhores cristãos obrigatoriamente libertasse seus escravos quando se tornassem cristãos.

E por que isto ocorre? Por um motivo simples: a ação da graça de Cristo Jesus não se dá pela violência ou por uma reforma social ou política, mas, sim, pela purificação das consciências e a assunção dos valores do reino de Deus e, após uma transformação no coração, ter-se-á, com a santificação da sociedade, o seu amoldar aos valores divinos, à vontade de Deus.

– Tanto assim é que é a voz insuspeita de Karl Marx, o filósofo que criou a doutrina comunista e materialista dialética, que vem a constatação que foi o Cristianismo quem destruiu o modo de produção escravista da Antiguidade, ou seja, a partir do momento que o mundo romano se cristianizou, a partir do momento em que começou a haver conversões, sem imposições, sem violência, o Senhor foi transformando os corações e, em alguns séculos, a escravidão foi banida do Império Romano.

– E é este precisamente o ensino que Paulo dá a Timóteo para que ele ensinasse os servos, ou seja, que eles estimassem a seus senhores, reconhecendo que estavam sob o seu jugo, a fim de que o nome de Deus e a doutrina não fossem blasfemados (I Tm.6:1).

– Os servos não deveriam se revoltar contra os seus senhores ou exigir que fossem libertos, ainda que os seus senhores fossem também cristãos. Deveriam entender que haviam sido chamados à salvação naquela condição e que deveriam suportá-la, sabendo que se isto fosse para ser alterado, isto se daria pela vontade de Deus e não pela sua atuação humana.

Lembremos, ainda, de Onésimo que, convertido, foi mandado pelo apóstolo Paulo de volta a Filemom, que era o seu senhor, para que Filemom, se quisesse, o libertasse (Fm.1-15).

– A observância dos preceitos sociais e civis é uma obrigatoriedade para todo servo de Deus.

A ordem social, ainda que maculada pelo pecado e, por isso mesmo, injusta, não pode ser contrariada pelos servos do Senhor, que devem evangelizar para amoldar a vida social à vontade de Deus, sabendo que não é por força nem violência que isto se alcançará, mas, sim, pelo Espírito Santo (Zc.4:6), que é quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8).

– Como afirma William Hendriksen: “…Seu caminho para uma solução é digno de elogio em razão de sua evidente sabedoria. Evita os extremos que poderiam causar dano ao escravo e ao senhor e desonrar a causa da religião cristã.

Ele não defendeu a rebelião franca por parte dos escravos nem a continuação do status quo. Em vez de favorecer algum desses extremos, propôs a destruir a própria essência da escravatura com todos os seus males colaterais por via indireta.

Esse método, ainda que mantivesse a escravatura em sua forma externa, era, não obstante, a forma mais segura e digna de encômio de trabalhar em prol da meta final da completa abolição dessa terrível instituição desumana. Tinha o propósito de destruir a escravatura sem declarar guerra para consegui-lo…” (Comentários I Timóteo, II Timóteo e Tito. Trad. de Válter Graciano Martins, pp.240-1).

– Paulo lembra que os servos estão debaixo de jugo (I Tm.6:1). Como salienta Matthew Henry: “…Lemos que os servos estão debaixo do jugo, o que denota sujeição e trabalho.

Eles são subjugados para trabalhar, não para andar ociosos. Se os servos estão debaixo de jugo, o cristianismo não deve mudar isso; porque o evangelho não cancela as obrigações da lei da natureza ou do consentimento mútuo.…” (Comentário Novo Testamento Atos a Apocalipse obra completa. Trad. de Degmar Ribas Júnior, p.700).

– Destarte, se estavam debaixo de jugo, deveriam reconhecer esta condição e vivê-la de forma a glorificar o nome do Senhor, cumprindo as suas obrigações, bem como estimando os seus senhores. Deveriam, assim, não só fazer o que lhes era mandado, fazendo-o de coração, não como aos homens, mas como ao próprio Deus (Cf. Ef.6:7), como também estimar, querer bem aos seus senhores.

– Apesar da situação difícil em que se encontravam os escravos, estes não deveriam dar ocasião a que o nome do Senhor fosse blasfemado com um comportamento de rebeldia ou de negligência no cumprimento de seus deveres.

Vemos aqui, com absoluta clareza, que o servo de Cristo Jesus deve, em primeiro lugar, preocupar-se em glorificar a Deus, em não ser motivo para que o nome do Senhor seja blasfemado.

Se temos a Deus como prioridade, abrimos mão até de nossa liberdade para que não haja oportunidade para blasfêmia, para a desonra do nome de Deus. Como ensina Everett F. Harrison: “…O caráter de Deus e os ensinamentos do Evangelho serão prejudicados pela conduta errada.…” (I Timóteo Comentário Moody, p.30).

– Não podemos dar oportunidade para que o nome de Deus seja blasfemado, ou seja, para que insultem a Deus em virtude de nosso comportamento. Nós somos templo do Espírito Santo, carregamos em nós o nome do Senhor e, por isso, devemos praticar boas obras para que os homens glorifiquem a Deus e não O blasfemem (Mt.5:16).

Assim como os filhos carregam os nomes de seus pais, também carregamos o nome de nosso Pai como filhos de Deus que somos e devemos, em nossas atitudes durante esta peregrinação terrena, honrá-lo.

– Como se isso fosse pouco, quando nos comportamos indevidamente, a própria doutrina é blasfemada, pois nossas atitudes ou dão uma versão equivocada dos ensinos do Evangelho ou servirão para que os críticos da mensagem cristã digam que ela é uma farsa, procurando usar como demonstração e prova de suas afirmações a nossa má conduta.

Os escravos jamais poderiam deixar de ser diligentes e de assumir sua condição, sob pena de dar ocasião para que os senhores tivessem argumentos e motivos para atacar a sã doutrina, criando empecilhos para a própria evangelização.

– Outra importante orientação trazida pelo apóstolo Paulo a Timóteo é que os servos que tivessem senhores crentes não os deviam desprezar, por serem irmãos (I Tm.6:2).

A igualdade diante de Deus não significava a eliminação da hierarquia social. Se é verdade que, em Cristo, todos somos iguais, somos irmãos, tanto que, na igreja local, não havia distinção entre senhores e servos, o fato é que, na vida social, devemos ser observadores da ordem, lembrando que as autoridades foram constituídas por Deus e resistir a elas é resistir ao próprio Deus, trazendo sobre si mesmos a condenação (Rm.13:1,2).

– Não foi, aliás, por outro motivo que, apesar de milhares de escravos terem se convertido, jamais rebeliões de escravos foram lideradas ou tiveram a participação de cristãos durante o Império Romano.

– Hoje não temos mais escravidão em nossa sociedade, mas as observações dadas pelo apóstolo Timóteo continuam sendo atuais, na medida em que nos ensinam a sermos obedientes e a estimar aqueles que estão acima de nós na hierarquia social.

Assim, não podemos desprezar as autoridades, ainda que sejam elas cristãs, como também devemos estimar a todos que nos são superiores, para que o nome do Senhor e a doutrina não sejam blasfemados.

II – A BOA MILÍCIA DA FÉ

– Outra parte do capítulo 6 da Primeira Epístola de Paulo a Timóteo que não foi tratada especificamente em uma lição é a orientação que o apóstolo dá a a seu filho na fé a respeito da ”milícia da fé”, passagem que se encontra em I Tm.6:12-16.

– O apóstolo Paulo, logo no limiar de sua primeira carta a Timóteo, já havia dito a seu filho na fé da necessidade de militar a boa milícia pelas profecias que havia recebido a respeito de sua chamada ministerial (I Tm.1:18).

– A palavra “milícia” aqui empregada pelo apóstolo é o grego “stratía” (στρατία), cujo significado é de “exército, hoste, milícia”. Como explica Hans Bürki: “…Paulo transferiu à vida de fé a linguagem metafórica do mundo castrense, amplamente difundida na literatura profana e religiosa.

Contudo não se deve ignorar que também o AT usa essa linguagem figurada: ‘Não é árduo o serviço militar do ser humano na terra?’

Nos três primeiros séculos, quando a vida cristã muitas vezes ainda se encontrava literalmente sob risco de vida e diante da realidade da morte, e as testemunhas de Jesus frequentemente davam seu testemunho de sangue como mártires, a designação ‘soldado de Jesus Cristo’ era tão amplamente difundida que era usada no mesmo sentido de ‘cristão’.

A expressão ‘bom combate’ permite inferir um uso que já era corrente. A vida cristã é uma luta que precisa ser lutada até o fim. O indivíduo conduz a luta interiormente, no próprio peito, e exteriormente, em prol do evangelho e da justiça, no âmbito da igreja e perante o mundo. …” (I Timóteo Comentário Esperança. Trad. de Werner Fuchs, p.30).

– Como bem dizem os poetas sacros Eufrosine Katsberg e Emílio Conde: “Soldados somos de Jesus e campões do bem, da luz; nos exércitos de Deus, batalhamos pelos céus, cantando, vamos combater o vil pecado e seu poder; a batalha ganha está, a vitória Deus nos dá” (primeira estrofe do hino 305 da Harpa Cristã).

A vida cristã é uma luta e Paulo queria conscientizar Timóteo desta realidade de uma vida sobre a face da Terra em que estaríamos em constante luta contra o mal.

– Timóteo deveria, por primeiro, militar a boa milícia porque já havia sido profetizado a respeito de sua chamada. Timóteo deveria crer e ter convicção de que fora chamado ao ministério e, por isso, havia garantia de que venceria todos os embates que teria de enfrentar ao longo de sua vida, principalmente o grande desafio que era o de corrigir os desvios espirituais da igreja de Éfeso.

– Mas, já se aproximando do final da epístola, Paulo volta a dizer a seu filho na fé que deveria militar a boa milícia da fé, tomar posse da vida eterna para a qual ele tinha sido chamado, tendo já feito confissão diante de muitas testemunhas (I Tm.6:12).

– Todo ministro de Jesus Cristo não só deve combater na sua vida terrena por causa da sua chamada ministerial, para bem desempenhar seu ministério, mas também porque, como todo salvo, tem um objetivo: ir para o céu.

O ministro é um crente como qualquer outro, tem uma chamada específica, é bem verdade, mas precisa lembrar que seu alvo é chegar à cidade celeste. É necessário que viva de acordo com a Palavra de Deus, que ande pelo caminho apertado, pela porta estreita que conduz à salvação (Mt.7:14).

OBS: “…Esses que irão para o céu devem militar seu caminho até lá. Deve haver um combate contra a corrupção e as tentações, e a oposição dos poderes das trevas. Observe: Essa é uma boa milícia, é uma boa causa, e ela levará a um bom termo. E um combate de fé.

Não militamos segundo a carne, porque as armas da nossa milícia não são carnais (2 Co 10.3,4)…” (HENRY, Matthew. op.cit., p.703).

– Lamentavelmente, há muitos ministros que, ao se envolverem com o ministério, esquecem-se de que também estão caminhando para o céu e descuidam da sua vida devocional, tornam-se administradores da casa de Deus, envolvem-se com os aspectos terrenos de suas funções pastorais e olvidam que precisam tomar posse da vida eterna, fazendo a vontade de Deus e tendo uma vida de contínua santificação.

Não é à toa que o Senhor nos faz ver que, no juízo final, muitos dirão que fizeram maravilhas na obra de Deus mas, por descuido, não se apartaram da iniquidade e estarão irremediavelmente perdidos (Mt.7:21-23). Que Deus nos guarde, amados irmãos!

– Militar a milícia da fé é, como diz Tomás de Aquino, “pelejar valorosamente pela fé”. Como afirma o grande teólogo da Idade Média: “…as armas espirituais são ou para fazer bem ou para suportar o mal. O primeiro é o respeito ao próximo, ao qual nos ordenamentos pela justiça, piedade ou misericórdia; porque o primeiro sem o segundo é severidade e o segundo, sem o primeiro, remissão; ou respeito a Deus, ao qual nos ordenamos pela fé, que aperfeiçoa o entendimento e pela caridade que aperfeiçoa o afeto.

Para suportar os males há duas virtudes: a paciência e a mansidão, porque do homem, quando está mal, se apoderam duas paixões desordenadas, a saber: a tristeza desordenada e a ira que brota dela. Por isso, a paciência é contra a tristeza exagerada (Lc.21) e a mansidão, contra a ira. Logo o põe na verdadeira peleja e lhe mostra como haveria de lutar.

Disse pois: ‘peleja valorosa’ a exemplo dos soldados, que pelejam para defender o que têm ou para conseguir o que não têm; este perigo correm os santos: que hão de pelejar para guardar sua fazenda: a fé e as virtudes…” (Comentário à Primeira Epístola de Paulo a Timóteo. Trad. castelhana da Editorial Tradição. Cit. I Tm.6:12, n.19. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 298 maio 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Tomar posse da vida eterna não apresenta apenas o aspecto quantitativo, ou seja, uma vida sem fim, mas também um aspecto qualitativo. Como ensina William Hendriksen: “…a ênfase é posta no qualitativo; esta é a vida que se manifesta na comunhão com Deus, na participação de sua santidade, amor, paz e alegria…” (op.cit., p.255) (destaque original).

– Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores britânicos, ao tratar desta passagem, diz que “…é evidente que se ele toma posse da vida eterna, terá de lutar por ela e se ele tem de lutar, ele só pode fazê-lo com uma ferramenta tenaz.

Todo cristão é um soldado e homem algum empreenderá uma boa luta a menos que tome posse da vida eterna com todo o seu coração e alma.…” (Tome posse da vida eterna. Sermão pregado no Tabernáculo Metropolitano em Newington na noite de 19 de março de 1891. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols37-39/chs2226.pdf Acesso em 28 maio 2015) (tradução nossa de texto em inglês).

– Timóteo deveria lembrar-se da sua confissão de fé que fizera perante muitas testemunhas, do compromisso assumido diante de Deus de servi-l’O até a morte, que havia formulado em seu batismo nas águas e, diante da própria chamada ministerial recebida e confirmada por profecias, prosseguir até o fim, pois só aquele que persevera até o fim será salvo (Mt.24:13).

A vida eterna já é uma realidade na vida do cristão desde o instante em que recebe a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador, mas também será uma recompensa a todos quantos chegarem à glorificação, último estágio do processo da salvação.

– Por isso, o apóstolo Paulo diz que Timóteo deveria prosseguir em santidade e fiel ao Senhor até este último estágio, que será alcançado quando da aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo (I Tm.6:14). É este o alvo que devemos perseguir como cristãos, vivendo sem mácula e repreensão até o dia em que o Senhor Jesus vier arrebatar a Sua Igreja.

– Será neste dia glorioso que veremos o Senhor como Ele é (I Jo.3:2), como o bem-aventurado e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores (I Tm.6:5), quando, glorificados, poderemos ver o que nenhum homem havia visto até então  (I Tm.6:16) e que, numa verdadeira antecipação, para aumentar a esperança do Seu povo, foi visto pelo apóstolo João na ilha de Patmos.

– A boa milícia da fé somente pode ser eficaz e eficientemente cumprida por aqueles que, fiéis ao compromisso assumido com Cristo no início da jornada, mantiver viva a esperança da volta de Cristo, pois somente assim viverá em santidade, enfrentando e vencendo as tribulações e tentações desta vida terrena. Paulo aqui ensina a Timóteo o mesmo que João falaria em sua primeira epístola:

sem a esperança da volta de Cristo não teremos forças para prosseguir vivermos neste mundo separados do pecado (I Jo.3:3). Vigiemos, pois, amados irmãos, jamais nos esquecendo que Jesus breve virá e, por isso, precisamos ser-Lhe fiéis e, mais do que isto, devemos nos manter sem mácula nem repreensão para que não sejamos surpreendidos naquele dia.

III – GUARDAR O DEPÓSITO DA FÉ E NÃO SE DEIXAR ILUDIR PELA FALSA CIÊNCIA

– A terceira passagem não tratada especificamente em uma lição desta primeira carta de Paulo a Timóteo são os dois últimos versículos da epístola, ou seja I Tm.6:20,21, onde o apóstolo, terminando suas orientações, fala a seu filho na fé que guardasse o depósito que lhe fora confiado.

– Timóteo, como ministro de Jesus Cristo, tornara-se o depositário, ou seja, o guardião da fé, da sã doutrina. Ele recebera, desde a meninice, a instrução a respeito das sagradas letras (II Tm.3:15) e, como ministro, deve zelar para que a igreja local recebesse a sã doutrina, fosse instruída na Bíblia Sagrada.

“…Depósito do homem é todo bem que qualquer um tem, confiado por Deus para que o conserve e o multiplique. ‘Sua graça para comigo não foi vã (…) a graça de Deus que está comigo (I Co.15:10).

Assim se diz que guarde o depósito, isto é, que se conserve e multiplique na graça de Deus, pois o que esconde o talento é castigado e, ao servo inútil, lança-se nas trevas exteriores (Mt.25). Especialmente os prelados  têm um depósito: o cuidado dos próximos e dos fiéis (Jo.21; Hb.12; II Tm.1).…” (AQUINO, Tomás de. Comentários à Primeira Epístola de Paulo a Timóteo. Cit. I Tm.6:20,21, n.21. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 28 maio 2015) (tradução nossa de texto em espanhol).

– “…É como se Deus houvesse feito um depósito no banco de Timóteo.(…) o objeto que fora entregue à sua responsabilidade, para proteção, é o evangelho (…). É a verdade redentora de Deus a ele confiada pelo Espírito Santo (…). Os ministros são ‘administradores’ de Deus (Tt.1:7). Os ‘talentos’ que empregam na realização de suas tarefas não são seus, mas propriedade de Deus (Mt.25:14-30).

Devem ser usados para o melhor proveito na promoção da Sua causa e o progresso do Seu Reino. Isso implica que Timóteo deve continuar proclamando o puro Evangelho e como uma sentinela intrépida e vigilante (…) deve lançar-se em sua defesa sempre que suas preciosas verdades são atacadas ou são mal apresentadas, como era a situação na região de Éfeso…” (HENDRIKSEN, William. op.cit., p.265).

– Guardar o depósito, portanto, é guardar o ensino bíblico, a sã doutrina, não somente para vivê-la e ensiná-la, como também para defendê-la contra os ataques dos falsos mestres.

Lamentavelmente, nos dias em que vivemos, são poucos os que estão a defender a fé cristã contra toda a mentalidade anticristã que toma conta do mundo e que, inclusive, já encontra repercussão nas igrejas locais.

– Neste cuidado pela defesa da fé, Timóteo deveria ter horror aos “”clamores vãos e profanos e às oposições da falsamente chamada ciência” (I Tm.6:20).

– O primeiro cuidado que todo ministro de Cristo deve ter, na defesa da fé, é com os “clamores vãos e profanos”. Everett F. Harrison afirma que isto se refere “…profanação blasfema de coisas santas, consistindo de palavras vazias e altissonantes e especulações usadas com o propósito da ostentação…( I Timóteo Comentário Moody, p.35).

“…Timóteo deve fugir de um erro. Não deve perder tempo com as futilidades daqueles falsos mestres que ‘não entendem as palavras que usam  nem os temas que, com tanta confiança, tratam (I Tm.1:7). Esse ‘falatório fútil’ e profano (destituído de santidade, impuro…) ele deve simplesmente descartar (I Tm.4:7). Deve fugir dele com aversão…” (HENRIKSEN, William. op.cit., p.265).

– Os falsos ensinos vêm sempre com grande ruído. São “clamores”, ou seja, gritos, que procuram impressionar pela sua eloquência, pela seu alarde, pela sua altissonância.

No entanto, o ministro de Jesus Cristo não deve se deixar intimidar por todo este espetáculo que sempre cerca a proclamação de uma inverdade, de um ensino que não está de acordo com as Escrituras Sagradas.

– Em nossos dias, temos presenciado como a mídia alardeia e procura propagar falsos ensinamentos que contrariam a sã doutrina, querendo, com todo este barulho, intimidar os defensores da fé cristã e estimular não só os incrédulos mas os próprios crentes a deixar de crer no que diz a Bíblia Sagrada, a duvidar da revelação divina ao homem.

– Com serenidade, o ministro de Cristo Jesus deve mostrar a sua convicção no Evangelho, sua certeza de salvação e a necessidade que todos têm de se arrepender dos seus pecados e crer em Jesus para ter a vida eterna, mostrando a falsidade dos ensinos que contrariam a sã doutrina.

– Se não deve se deixar intimidar pelos “clamores vãos e profanos”, o ministro de Cristo Jesus não deve se envolver em “batalhas de palavras”, não se deixando levar a contendas que não servirão senão para desmerecer a própria verdade do Evangelho.

Por isso, a Tito, Paulo diz que “ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o’ (Tt.3:10). Depois de feita a defesa da fé, com serenidade, contra os falsos ensinos, se houver resistência, não se deve fazer parte do espetáculo que se quererá fazer em torno das discussões.

– Lamentavelmente, muitos, em nossos dias, até defendem a fé mas se deixam levar pelos “clamores vãos e profanos”, deixando-se envolver pela mídia e pelo espetáculo, o que, certamente, representa enfraquecimento da própria verdade do Evangelho. Evitemos, pois, tal armadilha do inimigo, da qual Paulo já advertia Timóteo.

– Mas, além dos “clamores vãos e profanos”, deve-se tomar cuidado com as “oposições da falsamente chamada ciência, a qual, professando-a alguns, se desviaram da fé” (I Tm.6:20,21).

– A “falsa ciência” é todo conhecimento que procura contrariar as Escrituras Sagradas, a sã doutrina, é todo conhecimento que decorre da soberba humana que acha que pode ser igual a Deus, que não quer reconhecer a revelação divina dada ao homem e que está na Bíblia Sagrada.

– Esta “falsa ciência”, inclusive, procura mostrar que o uso da razão e do intelecto faz com que abandonemos o que é revelado na Bíblia Sagrada.

É a ciência que procura fazer crer que há uma oposição entre a fé cristã e o conhecimento, entre a erudição e a fé em Cristo Jesus, algo que tem prevalecido no Ocidente notadamente a partir do século XV e que somente se intensificou a partir de então.

– Não são poucos os que cristãos se dizem ser que acreditam ma mentira de que fé e razão, fé e ciência são opostos. Não há mentira satânica que mais tem alcançado guarida em muitos corações.

O apóstolo é claro ao dizer que a “falsa ciência” é a que se opõe à Palavra de Deus, pois esta é a verdade (Jo.17:17). Ora, como a ciência busca compreender a verdade das coisas, tem-se que fé, ou seja, a crença na verdade revelada por Deus e a ciência autêntica jamais podem ser opostas, já que ambas buscam a verdade, verdade que só pode ser única, pois senão não seria verdade.

– Por isso mesmo, sempre que algum conhecimento estiver voltado para contrariar a Palavra de Deus, ela deve ser vista, pelos servos de Cristo, como uma “falsa ciência”, pois nenhuma ciência, cujo objetivo é buscar a verdade, pode ter como objetivo opor-se ao que diz a Bíblia Sagrada, que é a própria verdade.

Como ensina João Crisóstomo: “…onde a fé não está, a ciência também não está; aquilo que nasce de raciocínios totalmente humanos não é ciência…” (Homilia XVIII. Cit I Tm.6:20,21. n.1800. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 28 maio 2015) (tradução nossa de texto em francês).

– A “falsa ciência” não busca a verdade, mas, tão somente, busca convencer as pessoas a não crer na Palavra de Deus, tem como objetivo contrariar a revelação divina, ou seja, desviar as pessoas da fé. Por isso, não se pode acolher esta “falsa ciência”, que deve ser combatida e desmascarada.

– Não se defende aqui um anti-intelectualismo, uma ojeriza ao conhecimento secular, uma aversão à erudição, algo que o apóstolo Paulo jamais poderia defender, já que ele próprio era um erudito.

O que se está a dizer é que toda e qualquer ciência que pretenda descrer nas Escrituras, contrariá-las é uma “falsa ciência” que deve ser combatida, até porque seu objetivo final é desviar da fé.

“…Essa ciência que se opõe à verdade do evangelho é falsamente chamada assim; ela não é uma ciência verdadeira, porque se fosse, aprovaria o evangelho. (…) Esses que são tão aficionados por essa ciência estão correndo grande risco de enganar-se em relação à fé.

Esses que são a favor de colocar a razão acima da fé estão em perigo de desviar-se da fé.…” (HENRY, Matthew. op.cit, p.704).

– Terminam aqui as orientações de Paulo a Timóteo, a quem dirigiria, já no final de sua vida, uma outra carta, quando estava novamente preso em Roma.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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