3º Trim 2012 – Lição 3 – A morte para o verdadeiro cristão
12 de julho de 2012
A morte física, para o verdadeiro cristão, é tão somente a passagem para a eternidade com Deus.
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INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo das aflições da vida que denominamos de “dramas biológicos”, abordaremos, nesta lição, a questão da morte para o verdadeiro cristão.
– O cristão é alguém que vê a morte física sob um aspecto totalmente distinto daquele que não crê em Jesus Cristo e, por isso, o crente não somente vê a morte sob um prisma totalmente diverso, como encara a própria vida terrena de modo totalmente diferente.
I – OS SIGNIFICADOS DISTINTOS DE MORTE NA BÍBLIA SAGRADA
– A questão da morte é, sem dúvida, uma das maiores questões que todo ser humano enfrente em sua peregrinação terrena, a ponto de vários filósofos, ditos “existencialistas”, ter resumido toda a trajetória do ser humano sobre a face da Terra sob o signo da chamada “angústia da morte”, visto que o grande paradoxo do homem é, precisamente, o de ter consciência de que irá morrer. É este o maior “drama biológico” vivido pelo homem na Terra.
– Esta realidade atinge até mesmo os que cristãos se dizem ser. Com efeito, o apóstolo Paulo, certamente na narrativa que lhe fez Timóteo, que havia estado em Tessalônica a seu pedido (I Ts.3:2), notou que os crentes daquela cidade, apesar de terem um testemunho exemplar e de demonstrarem suportar bem a perseguição, tinham uma conduta frente à morte física de seus irmãos que não correspondia ao comportamento que se podia esperar de um cristão, a provar, pois, que se trata de um drama que também atinge os salvos em Cristo Jesus.
– Pelo que se pode inferir do ensino de Paulo, os crentes de Tessalônica não sabiam lidar com a questão da morte física de seus irmãos, achando que aqueles que haviam morrido perderiam a oportunidade de ser arrebatados pelo Senhor Jesus quando este voltasse. Paulo havia-os ensinado que Jesus brevemente voltaria e, por isso, todos aguardavam ansiosamente o dia do retorno do Senhor, ainda para aqueles dias, mas o fato é que Jesus não tinha ainda vindo e alguns dos crentes faleceram. Com seu falecimento, entendiam os tessalonicenses, tinham perdido a oportunidade de ser arrebatados e sobre aquela comunidade sobreveio o medo da morte e um sentimento de desespero.
– A morte é, sem dúvida, um dos fatos que mais intrigam o ser humano. Registros de todas as comunidades humanas, em todas as épocas e em todos os estágios civilizatórios, mostram que o tema da morte é uma questão com a qual o homem sempre se depara, sem saber como dela cuidar. Esta perplexidade do homem diante deste tema é, aliás, mais uma demonstração de que a morte surge como um elemento intruso, inadequado e indevido na existência humana.
– A Bíblia mostra claramente que o homem não foi feito para morrer. O homem foi criado para ser imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26,27), um verdadeiro reflexo da divindade na criação e, por isso, a eternidade, que é um dos atributos divinos mais proeminentes (Gn.21:33; Dt.33:27), tinha de ser vista no ser humano, ainda que como uma eviternidade, ou seja, uma existência que tivesse princípio mas não tivesse fim.
– No entanto, a morte era uma possibilidade para o homem, pois o próprio Deus assim o quis, dizendo ao homem que a morte seria consequência da sua desobediência (Gn.2:17). O primeiro casal pecou e, como consequência do pecado, tivemos a inserção da morte na existência humana. Por isso, é dito que o salário do pecado é a morte (Rm.6:23).
– Morte significa separação e, a partir do pecado, houve, de imediato, uma separação entre Deus e o homem. Esta separação deu-se logo naquele dia, quando o Senhor Se apresentou no jardim. A Bíblia diz-nos que o primeiro casal procurou fugir da presença de Deus (Gn.3:8), a demonstrar, pois, que não havia mais a comunhão entre Deus e o homem, que o pecado havia produzido a separação entre o Criador e a sua mais sublime criatura sobre a face da Terra (Is.59:2).
– Vemos, nesta atitude do homem, a morte espiritual, que é o primeiro significado da morte para o ser humano. A morte espiritual é a separação entre Deus e o homem, é a ausência de comunhão entre Deus e o homem. É chamada de “morte espiritual” porque é o espírito humano que promove este elo de ligação entre Deus e o homem, daí porque se dizer que, quando o homem aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador, há a vivificação do espírito (I Co.15:22), bem como que o homem, antes da salvação, está morto em seus delitos e pecados (Ef.2:1).
– Como consequência da morte espiritual, vemos que houve, também, uma morte moral do ser humano. Tendo sido descoberto por Deus na sua inútil tentativa de d’Ele se esconder, o homem é posto diante da presença do Senhor e vemos, então, não mais o ser que era a imagem e semelhança de Deus, cônscio de seus deveres e responsabilidades, cientes de seus direitos, mas alguém que não assume qualquer responsabilidade, que procura culpar o próximo, mesmo sendo a pessoa que tanto amava. Adão, diante do seu erro, tenta culpar sua mulher e esta, por sua vez, acusa a serpente.
– O homem, espiritualmente morto, também se encontrava moralmente morto. A morte moral é decorrência direta da morte espiritual. A morte espiritual separou o homem de Deus, enquanto que a morte moral separou o homem do seu próximo. O ser humano não mais passou a amar o semelhante, a amar o próximo, mas a ser egoísta, querendo apenas o interesse próprio, enxergando somente a si mesmo.
Adão quis se safar de qualquer punição, imputando a Eva toda a responsabilidade e Eva, por sua vez, fez o mesmo, imputando tudo à serpente (Gn.3:12,13). O homem se encontrava separado do próximo, encontrava-se separado da virtude, do que é certo. Era a morte moral deste ser que havia sido feito com capacidade de discernimento. Estavam separados da liberdade e seu desejo, agora, estava escravizado pelo pecado (Gn.4:7).
– Mas não é apenas a morte espiritual ou a morte moral que advêm por causa do pecado. Ainda naquele fatídico dia da queda do primeiro casal, Deus impôs uma outra consequência do pecado, a saber: a morte física. “No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra, porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn.3:19).
Deus determinou que, por causa do pecado, passasse o ser humano a ter uma degeneração de seu corpo físico, até que ele se separasse do homem interior (alma e espírito), que é a morte física. O corpo, feito do pó da terra, teria de voltar a esta terra, voltar a ser pó, o que ocorreria no momento determinado por Deus, quando, então, ocorreria a separação entre o homem exterior e o homem interior.
– A morte física foi, assim, a segunda espécie de morte que surge para o homem, morte esta que não escolhe idade nem tem uma causa certa ou pré-determinada. O primeiro homem cuja morte física é narrada na Bíblia foi Abel, filho de Adão e de Eva, mais jovem do que eles, portanto, que morreu de “morte matada”, ou seja, foi vítima de crime praticado por seu irmão Caim, a chamada morte violenta (Gn.4:8).
Depois, o próprio Adão é apresentado como tendo morrido, depois de ter vivido 930 anos após a perda da imortalidade (sim, o tempo de vida de Adão nos é desconhecido, apenas sabemos que viveu 930 anos depois que foi sentenciado à morte física por Deus). É o exemplo de morte natural, morte decorrente da degeneração do organismo, diante da sentença divina dada no jardim do Éden (Gn.5:5).
– Mas também Deus mostraria que as pessoas também morrem por conta de um juízo divino, como ocorreu quando do dilúvio, quando o Senhor resolveu destruir o gênero humano da face da Terra por causa da sua impiedade (Gn.7:21). Mas ainda há o caso da morte por enfermidade, por uma doença ou por complicações orgânicas que acometem o homem e aceleram o processo de degeneração, como aconteceu com Raquel (Gn.35:18,19) ou com Jacó (Gn.48:1; 49:13).
– Ainda que seja por causas várias, o fato é que ninguém escapa da morte física, todos quantos nasceram sobre a Terra, morreram fisicamente, sejam ricos ou pobres, doutos ou indoutos, homens ou mulheres, fiéis ou infiéis. A morte física é inevitável, é o resultado de uma sentença dada por Deus a toda a humanidade, através do primeiro casal (Ec.9:5 “in initio”), algo que somente Cristo mudaria, como adiante se verá nesta lição.
– Mas, além da morte espiritual, da morte moral e da morte física, a Bíblia fala-nos da morte eterna ou “segunda morte” (Ap.20:14), que é a separação eterna de Deus, resultado da condenação no julgamento final, quando, então, aqueles que resolveram viver longe da presença de Deus, que recusaram o Seu senhorio em suas vidas, serão lançados no lago de fogo e de enxofre para todo o sempre. Esta separação é definitiva e não representa aniquilamento ou fim da existência, mas uma separação eterna e irreversível de Deus.
II – A REAÇÃO DOS TESSALONICENSES DIANTE DA MORTE FÍSICA E O CONCEITO DE MORTE ENTRE JUDEUS E GENTIOS ATÉ OS ENSINOS DE CRISTO
– A morte, em todos os seus aspectos, é consequência do pecado e, portanto, é algo que está completamente fora do plano original de Deus para o ser humano, o que explica porque o homem não aceita a ideia da morte e tem tido, ao longo da sua existência sobre a face da Terra, grande dificuldade em assimilá-la, já que, no seu âmago, esta ideia do final da existência contraria a sua mente e a sua concepção, que reflete a sua originária existência sem fim.
– Tal questão, no entanto, tem de ser enfrentada pelo homem, e à luz das Escrituras Sagradas, e, para tanto, socorrer-nos-emos dos ensinos de Paulo aos crentes em Tessalônica (I Ts.4:13-18), pois é ali que temos, da forma mais explícita possível, como esta questão deve ser encarada pelos que estão salvos na pessoa bendita de Jesus Cristo.
– Os crentes de Tessalônica eram provenientes de origem étnicas e culturais diferentes. A igreja tinha tanto judeus quanto gentios e, entre os gentios, não eram todos macedônios, de cultura grega, uma vez que Tessalônica era a capital da província romana da Macedônia e, portanto, tinha uma população com pessoas de todos os cantos do Império Romano, pois assim se formavam os quadros administrativos (principalmente os militares) pelo governo romano.
– Diante disto, a maneira pela qual os tessalonicenses encaravam a morte era diferente, dependendo da cultura de cada povo a que pertenciam os crentes daquela igreja de novos convertidos. Cada um tinha uma visão a respeito da morte, pois toda cultura tem de enfrentar este problema, que é geral e abrange todo ser humano. Para complicar ainda mais a situação, este tinha sido um dos assuntos que o apóstolo Paulo não tinha tido tempo de ensinar os irmãos, no seu trabalho de evangelização, tanto que afirma que eles eram “ignorantes” a respeito do assunto (I Ts.4:13), ou seja, não haviam sido ainda ensinados sobre o tema.
– É importante observar que o apóstolo, ao saber da crise que se criara na igreja de Tessalônica a respeito da morte dos crentes antes da volta de Jesus, reconheceu que isto se devia por ignorância, ou seja, porque aqueles crentes não haviam sido ensinados sobre o assunto e não era seu desejo que isto acontecesse.
Quão diferente era o apóstolo Paulo de muitos que, hoje em dia, estão à frente de igrejas locais. Paulo não queria, não admitia e não aceitava que os crentes fossem “ignorantes”, que não tivessem conhecimento da doutrina e da Palavra de Deus. Hoje em dia, muitos fazem questão que os crentes nada saibam, que se mantenham nos “tempos da ignorância”, para terem condições de domínio sobre o povo, admitindo, assim, que são, também eles, ignorantes (talvez um pouco menos que os crentes que governam) e temem que, com o conhecimento, os crentes descubram sua preguiça em conhecer as coisas de Deus.
– O objetivo de todo aquele que é colocado à frente do povo de Deus é de aprimorar-lhe os conhecimentos, de fazê-los crescer na graça e no conhecimento de Cristo Jesus. Lamentavelmente, muitos, com sede de poder e de domínio (o que é totalmente indevido em termos de igreja local, cfr. I Pe.5:2,3), repetem o que temos assistido ao longo da história do mundo, notadamente em países como o Brasil: o de manter o povo na ignorância a fim de terem melhores condições de dominá-lo.
Entretanto, estes que assim agem esquecem-se de que os crentes têm a mente de Cristo e que o Senhor tem o propósito de fazer os crentes crescerem, se aperfeiçoarem espiritualmente e, portanto, quer eles queiram, ou não, o Senhor proporcionará ao Seu povo o aprimoramento espiritual, levantando mestres para ensinar a Palavra de Deus.
– Paulo tinha todo o interesse de remover a ignorância no meio do povo de Deus e, por isso, sabendo da dificuldade com que os crentes tessalonicenses enfrentavam a questão da morte dos seus irmãos em Cristo, acabou por ministrar um verdadeiro ensino doutrinário a respeito da morte física e da ressurreição, embora estivesse em plena “parte prática” da epístola, um parêntese extremamente valioso não só para a igreja de Tessalônica, mas para a igreja de todos os tempos da graça, pois, com o apóstolo, aprendemos o significado da morte para o servo de Deus e renovamos a nossa esperança na volta de Cristo.
– A ideia da imortalidade estava presente tanto na cultura grega quanto na cultura judaica. A morte é algo que vai contra o projeto original de Deus e o homem, no recôndito de seu ser, não aceita a ideia da morte, de forma que não foi difícil a ele chegar à concepção de que a morte física não poderia ser o fim de tudo. Até mesmo os materialistas, que entendem que, com a morte física, não há mais qualquer existência para o homem, reconhecem que ela, em absoluto, representa o fim do ciclo da natureza, que prossegue o seu fluxo.
– A ideia de imortalidade, entre os gregos, mais propriamente dentro da chamada cultura helenística, uma simbiose da cultura grega com as culturas orientais que foi o resultado das conquistas de Alexandre, o Grande, que praticamente absorveu a cultura romana, estava bem presente. “…Os gregos reputavam o corpo como um obstáculo para a verdadeira vida e ansiavam pelo tempo em que a alma se veria livre de suas algemas. Concebiam a vida após a morte em termos de imortalidade da alma, ainda que rejeitassem firmemente a ideia da ressurreição (cf. a zombaria contra a pregação de Paulo em Atenas, em At.17:32).…” (MORRIS, L.L.. Ressurreição. In: DOUGLAS, J.D. (org.). O Novo Dicionário da Bíblia, p.1394-5).
– Os gregos, principalmente depois de sofrerem a influência dos chamados “cultos órficos”, que, por sua vez, estavam relacionados com as crenças hinduístas, passaram a entender que o homem sobreviveria à morte física, que esta seria apenas a perda do corpo, mas que a alma permaneceria e encarnaria novamente. Tinham, portanto, a ideia da reencarnação, que vem do hinduísmo e do budismo e que acabou sendo acolhida na doutrina kardecista, mas que não tem coisa alguma a ver com a doutrina cristã da ressurreição. Os crentes de Tessalônica que eram gentios tinham esta crença e, por isso mesmo, eram “ignorantes” com relação ao assunto da morte física.
– A ideia de imortalidade também estava presente entre os judeus. As Escrituras hebraicas contêm afirmações a respeito da imortalidade, da existência após a morte física, desde o seu primeiro escrito, que muitos entendem ter sido o livro de Jó, que teria sido escrito pelo próprio patriarca ou por Moisés, quando ainda estava entre os midianitas. Em Jó 19:25-27, o patriarca exclama que sabia que seu Redentor vivia e que por fim se levantaria sobre a Terra e que, depois de consumida a sua pele, ainda em sua carne veria a Deus, vê-l’O-ia por ele mesmo e pelos seus próprios olhos, e não outros, O veriam e por isso os rins dele se consumiam diante dele.
– Por mais que se especule a respeito deste texto, por mais que se levantem questionamentos a respeito da passagem, não há como deixar de ver aqui uma noção de uma imortalidade, de uma existência depois da morte física (“depois de consumida minha pele”, diz o patriarca). Mas, ao contrário do que acontecia com os gregos, esta ideia das Escrituras hebraicas, que perpassará toda a revelação divina através do Antigo Testamento, sempre traz a ideia de uma nova existência após a morte física, mas com o mesmo corpo que foi consumido. “Ainda na minha carne, os meus próprios olhos, e não outros”, dizia o patriarca. Esta mesma crença, aliás, está presente em Marta, quando Jesus lhe indaga, em Betânia, se cria que seu irmão Lázaro haveria de ressuscitar (Jo.11:23,24).
– Na igreja de Tessalônica, havia um grupo de judeus (At.17:3,4 “in initio”), os quais, certamente, compartilhavam destas crenças judaicas a respeito da imortalidade e da ressurreição, entendida, porém, como sendo o retorno no mesmo corpo de antes, ideia esta que se fortalecera ante o relato dos milagres de ressurreição operados pelos profetas Elias e Eliseu, bem como pelo próprio Jesus. No entanto, esta ideia da ressurreição era apenas uma tênue demonstração do que estava para ser revelado pelo próprio Cristo, na Sua própria ressurreição, ressurreição esta que é a própria razão de ser da fé cristã (I Co.15:14).
OBS: “…Ela [a doutrina da ressurreição, observação nossa] expressa a certeza de que, quando chegar o Messias, os mortos se levantarão fisicamente de novo e se reanimarão com as almas individuais que haviam sido suas em vida.
A crença na Ressurreição ocupa uma posição primordial no pensamento religiosos judaico. Para os devotos, ela tem sido o elo de ligação entre o mundo da realidade e o mundo sobrenatural do Além. Maimônides [o principal filósofo judeu e um respeitado comentarista das Escrituras, observação nossa] fez dela o conteúdo dos Treze Artigos de Fé que elaborou para que servisse de princípios de orientação para a religião judaica.…” (AUSUBEL, Nathan. Ressurreição. In: A JUDAICA, v.6, p.714-5).
– Paulo, entretanto, havia ensinado que Jesus breve voltaria, que a Igreja seria arrebatada e que os crentes habitariam as moradas que o Senhor havia ido preparar (Jo.14:2,3). Deste modo, não era caso de se esperar uma outra vida, uma reencarnação, para que se tivesse direito ao gozo celeste, nem tampouco de esperar a ressurreição, pois a ressurreição ocorreria com a chegada do Messias e o Messias há havia vindo.
Assim, alegres, os crentes de Tessalônica aguardavam o retorno de Cristo, mas, eis que alguns dos irmãos da igreja morrem, antes que Jesus chegasse. Ora, se Jesus voltaria e não havia porque esperar numa existência para depois desta vida física, como, então, enfrentar a morte? Como explicar o que ocorreria com os crentes que morressem antes de Jesus voltar? Foi esta dúvida que fez com que os crentes voltassem a um estado de perplexidade diante da morte física que o apóstolo teria de dissipar.
III – O ENSINO DE PAULO A RESPEITO DA MORTE FÍSICA E A PROMESSA DA RESSURREIÇÃO DOS SANTOS
– O apóstolo Paulo inicia seu ensino a respeito da morte física aos crentes de Tessalônica, informando que os crentes falecidos “dormiam”, fazendo, assim, uma grande distinção entre os crentes falecidos e as demais pessoas que haviam morrido.
A expressão “dormiam” (em grego, κοιμωμένων, i.e., “koimoménon”) que surge neste que é, talvez, o primeiro escrito do Novo Testamento, será repetida por mais quatorze vezes nas Escrituras, sempre se referindo a morte de pessoas crentes (Mt.27:52- santos que ressuscitaram depois de Jesus; Jo.11:11- Lázaro; At.7:60 – Estêvão; At.13:36 – Davi; I Co.7:39 – marido crente; I Co.11:30 – crentes em Corinto; I Co.15:6,18,20,51 – crentes falecidos; I Ts.4:13,14,15 – crentes falecidos em Tessalônica; II Pe.3:4 – crentes falecidos da primeira geração da igreja). Assim, é uma expressão reservada para os crentes, para os fiéis, que não se reproduz com relação à morte física dos ímpios.
– O uso desta expressão por parte do apóstolo já demonstra haver, pois, uma diferença entre a morte física dos crentes e a morte física daqueles que não haviam aceitado a Cristo como seu Senhor e Salvador, o que já é um indicador de que não se refere a um estado do homem após a morte física, como têm entendido alguns segmentos religiosos, em especial, os adventistas.
A utilização de uma expressão diferenciada para designar a morte física dos crentes reflete uma distinção de destino entre uns e outros, o que, de pronto, já revela não ser possível considerar que, após a morte física, tanto crentes quanto ímpios participarão de um estado de inconsciência.
– A expressão “dormiam” aqui foi empregada por Paulo em significado figurado, ou seja, não deve ser considerado do ponto-de-vista literal, mas revela que havia um descanso, que havia apenas uma interrupção do convívio dos crentes falecidos com os que ainda viviam, assim como acontece quando estamos dormindo.
Quando dormimos, separamo-nos daqueles com quem convivemos. Estamos presentes em corpo, mas ausentes, separados de todos aqueles que estão à nossa volta, inconscientes em relação aos que nos cercam, mas vivos e ativos na dimensão interna do nosso inconsciente, onde, inclusive, temos sonhos, sonhos estes que, como têm os psicólogos revelado ao longo dos anos, muito nos revelam a respeito de nosso mundo interior e até fazem associações que o estado de acordado não nos permite atingir.
– Quando Paulo usa a expressão “dormiam”, em hipótese alguma estava dizendo que, quando uma pessoa morre, ela passa a ficar inconsciente, a ter um sono espiritual que somente terminará quando da volta de Cristo ou do julgamento final. Se Paulo estivesse dizendo isto, estaria contradizendo o próprio Jesus, que, ao relatar a história do rico e de Lázaro, mostra claramente que, após a morte, a pessoa mantém plenamente a sua consciência, sendo levada a um lugar onde aguardará ou a primeira ressurreição, ou a ressurreição do último dia (Ap.20:5,12 e 13).
– Se Paulo estivesse dizendo que os homens, ao morrerem, entram num estado de inconsciência, estaria contradizendo o próprio ministério de Jesus Cristo, que, ao se transfigurar, conversou e teve a companhia de Elias e de Moisés, tendo este último morrido fisicamente (Dt.34:5). Como ainda não havia ocorrido seja a primeira ressurreição, seja a ressurreição do último dia, como o libertador de Israel poderia estar consciente naquele evento? E, o que é relevante, uma testemunha desta aparição, o apóstolo Pedro, é precisamente um dos escritores que se refere à morte física do crente como sendo “dormir” (I Pe.3:4).
– Se Paulo estivesse dizendo que os homens, ao morrerem, entram num estado de inconsciência, estaria contradizendo o próprio Jesus Cristo que, quando indagado sobre a ressurreição, pelos saduceus, disse que Deus Se identificou a Moisés como o Deus de Abraão, Isaque e Jacó porque era um Deus de vivos e não de mortos (Mc.12:27), acrescentando ainda que eles, saduceus, erravam muito por entenderem que a morte física era o fim de tudo.
– Vemos, portanto, que não há como se defender que a morte física é uma circunstância de inconsciência por parte do homem, até porque, como vimos, a morte física é tão somente a separação do corpo do homem interior, pois o que Deus sentenciou foi o retorno do pó à terra e o homem interior não veio do pó da terra, mas do fôlego de vida inserido no homem pelo próprio Deus (Gn.2:7).
– Paulo utiliza-se da expressão “dormiam” precisamente para mostrar aos crentes de Tessalônica que a morte física para o crente era um estado de separação da comunidade, mas uma separação temporária, passageira, assim como é a separação daquele que dorme dos seus familiares. Quando dormimos, separamo-nos daqueles com quem convivemos por um período de tempo, sem, no entanto, deixar de viver, sem que nem sequer deixemos de ter atividades psíquicas e mentais.
Vezes há, até, em que, no sono, Deus mesmo Se revele ao homem, através de sonhos, como há diversos registros nas Escrituras, mais um fator a nos mostrar que o sono indica inatividade apenas para aqueles que cercam o que dorme e que, em momento algum, signifique suspensão de vida, como, erroneamente, defendem os adventistas, capitaneados por Ellen White.
– Paulo, ao usar esta expressão, que se consagraria nos escritos do Novo Testamento, que foi fruto da inspiração do Espírito Santo, a um só tempo, mostra que a morte física é um estado passageiro, como é o sono, como também revela que há apenas uma aparência de inatividade para os que convivem com o falecido, para a comunidade, mas que não deixa de haver vida, de haver atividade, a atividade do homem interior, a consciência no relacionamento com Deus.
– Ao dizer que os crentes falecidos “dormem”, entretanto, o apóstolo deixa também claro que não há como haver comunicação entre os crentes que estão vivos e os que “dormiram”. Mais uma vez, de forma peremptória, as Escrituras indicam-nos não ser possível a comunicação entre vivos e mortos, assim como não pode alguém que está acordado se comunicar com alguém que está dormindo.
– Muitos, aliás, se impressionam com a tese da inconsciência após a morte física exatamente para demonstrar que os mortos não se comunicam com os vivos, tese esta que é a própria essência do espiritismo. O Pequeno Dicionário Enciclopédico Koogan-Larousse define espiritismo como sendo “ a doutrina cujos partidários pretendem provocar a manifestação dos ‘espíritos’, em particular a das almas dos defuntos, e entrar em comunicação com eles, através de um mediador a que chamam médium” (p.337).
O próprio Allan Kardec, considerado o “codificador da doutrina espírita”, em seu Livrodos Espíritos, afirma que “…a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível…”(Trad. de J. Herculano Pires. São Paulo: FEESP, s.d., p.19). Assim, é espírita quem crê que os mortos podem se comunicar com os vivos.
– Entretanto, não há a necessidade de se crer na tese da inconsciência do homem após a morte física para se negar o espiritismo, como defende Ellen White. A expressão “dormiam” significa precisamente isto: não há comunicação entre mortos e vivos, assim como não há comunicação entre quem dorme e quem está acordado, mas isto, em absoluto, significa que o que dorme está inativo ou sem vida.
OBS: No capítulo 34 de sua obra A um passo do Armagedom, Ellen White, a principal doutrinadora do adventismo, faz a correlação entre a crença na comunicação entre vivos e mortos com a da consciência do homem após a morte física, o que, como se vê, não tem qualquer respaldo ou fundamentação.
Ademais, para White, a idéia da imortalidade da alma teria origem pagã, o que, como vimos, é apenas uma meia verdade. O paganismo fala da imortalidade da alma, mas é a Bíblia quem ensina que o homem foi feito para ser imortal.
– Eis porque não se pode admitir a doutrina romanista da chamada “intercessão dos santos”, segundo a qual os fiéis que dormiram no Senhor e que se encontram no Paraíso podem interceder pelos fiéis que ainda peregrinam nesta Terra.
A doutrina romanista, seguida, neste ponto, também pelos ortodoxos e pelos anglicanos, defende que, em virtude da “comunhão dos santos”, aqueles que já alcançaram a eternidade com Deus podem interceder junto a Cristo pelos que ainda estão na face da Terra. Todavia, como já dissemos, não há comunicação entre mortos e vivos e, portanto, os fiéis que se encontram aguardando o arrebatamento da Igreja não podem, em absoluto, ter conhecimento das preces que lhe são feitas daqui da Terra.
– Por causa disto, também, não podemos, de modo algum, concordar com alguns “testemunhos” que foram proferidos por simpatizantes do sr. Ouriel de Jesus, da Igreja do Reavivamento Mundial, egresso das Assembleias de Deus, de diálogos e conversas entre crentes falecidos, que estariam no “paraíso”, no “terceiro céu”, e crentes que estão conosco aqui, esperando Jesus. Tais “experiências” são sem qualquer respaldo bíblico e, se não forem farsas ou fraudes, nada mais são do que manifestações demoníacas, idênticas às manifestações mediúnicas dos kardecistas.
Os crentes que morrem fisicamente “dormem”, ou seja, não se comunicam com os que com ele pertenciam a parte do corpo de Cristo que está viva aguardando a volta do Senhor Jesus.
– Mas, poderão alguns dizer que Jesus Se comunicou com Elias e com Moisés no monte da transfiguração, o que, aliás, dissemos há pouco como prova de que não há inconsciência após a morte física. Entretanto, se bem verificarmos o episódio, que é descrito tão somente por Mateus, veremos que Jesus, antes de conversar com os dois homens de Deus, Se transfigurou (Mt.17:2,3), no único episódio em todo o Seu ministério em que Sua humanidade foi absorvida pela Sua deidade.
Com isto, temos claramente que não foi o homem Jesus, ainda vivo, que conversou com Moisés, mas, sim, o Filho de Deus, na plenitude da Sua glória.
Enquanto Deus, Jesus poderia, sim, conversar com os mortos, porque Deus não é Deus de mortos, mas Deus de vivos, para Ele não há esta barreira, que é fruto do pecado na vida humana.
Assim, ao Se transfigurar para poder dialogar com quem já passou desta dimensão física da vida, Jesus, uma vez mais, confirma que não há comunicação entre os homens vivos e os homens que já morreram fisicamente. Ademais, observemos que nenhum dos discípulos conversou com Moisés e Elias, apenas Jesus, enquanto esteve transfigurado.
– Paulo, ao usar da expressão “dormiam”, portanto, não disse que os que morrem ficam inconscientes, mas apenas afirmou que os que morrem não mais se comunicam com os vivos e desfrutam de um estado passageiro, transitório, que se encerrará com a ressurreição.
– Advém, então, a segunda parte do ensino de Paulo àqueles crentes. O apóstolo afirma aos crentes de Tessalônica que eles não deveriam se entristecer como os demais, ou seja, a morte física é motivo, sim, de tristeza e os crentes, enquanto seres humanos, sentirão, sim, a dor da separação, a angústia da interrupção de uma convivência com pessoas queridas, pessoas que compartilhavam conosco da mesma fé, da mesma esperança, pessoas que se amavam umas às outras, como ocorria na igreja de Tessalônica, como lemos em I Ts.4:9,10.
– Ninguém pense que o crente, por ser crente, não irá sentir a partida de um ente querido, de um familiar, ainda que esta pessoa não seja crente (o que, aliás, aumenta ainda mais a dor para o cristão, por saber que esta separação é definitiva, ao contrário daquele que tão somente “dorme”). Paulo apenas não podia tolerar nem admitir que os crentes tessalonicenses encarassem a morte física da mesma maneira que os demais, que não tinham esperança, que não tinham a compreensão do significado da morte física para o salvo.
– “Não quero que sejais ignorantes acerca dos que já dormem para que não vos entristeçais como os demais, que não têm esperança” (I Ts.4:13). O apóstolo sabia que a tristeza era natural aos que ficavam vivos diante de uma morte. Não havia como deixar de sentir tristeza diante da separação de um irmão em Cristo, mormente numa igreja onde havia tanto amor fraternal como Tessalônica, nem a comunhão com Cristo nos transforma em robôs, em seres insensíveis, antes, pelo contrário, aguça a nossa humanidade, pois ser humano é ser imagem e semelhança de Deus e isto, sem dúvida alguma, só o crente pode ser em toda a sua plenitude.
– Jamais se pode exigir de um crente que não sinta tristeza numa ocasião fúnebre, pois, além da tristeza própria de cada um, sentimos, em situações como esta, a tristeza de todos os que nos cercam, num ambiente que aumenta, ainda mais, a tristeza, tanto que assim que Jesus, mesmo sabendo que ressuscitaria Lázaro, chorou diante do clima fúnebre quatro dias depois do sepultamento de Lázaro. Se Jesus chorou, quem somos nós para não nos entristecermos diante disto?
– Sentimos tristeza quando alguém querido se separa fisicamente de nós porque somos humanos e isto é perfeitamente natural, não residindo aí a diferença entre o crente e o ímpio. O apóstolo enfatiza que a tristeza do crente, embora natural e perfeitamente compreensível, não pode ter o mesmo sentido da tristeza do ímpio e é este sentido, este significado que faz a diferença entre uma e outra. “Não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança” (destaque nosso). O crente fica triste quando alguém morre, mas não pode agir como os ímpios, que não têm esperança.
– A distinção entre a tristeza do crente e a tristeza do ímpio em ocasiões fúnebres está na esperança que tem o crente de que, além da morte física, existe uma eternidade de delícias com o Senhor, existe uma plenitude da vida eterna que já começamos a gozar aqui.
O crente sabe que, com a morte física, há tão somente uma passagem para uma comunhão mais perfeita com o Senhor, é uma etapa a mais na caminhada rumo à glorificação, quando, então, no dia do arrebatamento da Igreja, tanto mortos quanto vivos, que agora são filhos de Deus, terão manifestado o que haverão de ser, pois, quando Cristo Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque assim como é O veremos (I Jo.3:2).
– Quando estivermos diante de uma ocasião fúnebre de um servo do Senhor, não devemos nos desesperar, como é costumeiro ocorrer quando se trata da morte de ímpios ou da reação de ímpios diante da morte de entes queridos, como estava acontecendo em Tessalônica, mas, pelo contrário, ainda que entristecidos, porque humanos somos, temos de nos consolar e nos confortar com a esperança que temos de que Jesus virá buscar a Sua igreja e que, vivos e mortos, serão reunidos nos ares e se encontrarão com o Senhor, para vivermos uma plenitude de comunhão com o Senhor.
– Em mais um paradoxo da vida cristã, no momento da tristeza pela separação de uma pessoa querida, com quem compartilhávamos o amor divino, o amor fraternal, a alegria de servirmos e sermos abençoados pelo mesmo Deus e Pai, sentimos alento espiritual, conforto e consolo pelo fato de sabermos que há uma promessa de nos reunirmos, num corpo glorioso e transformado, com o Senhor naquele dia em que seremos glorificados.
A morte física do crente, portanto, não é apenas um motivo de tristeza, mas uma fonte de esperança e de estímulo e incentivo em seguirmos até o fim com fidelidade e santidade, assim como aquele que se separa fisicamente de nós.
– A razão da esperança que o crente tem, e o ímpio não, é a doutrina da ressurreição, que é, então, explicada pelo apóstolo Paulo. Ao contrário dos gregos, que viam a imortalidade da alma e a possibilidade de reencarnação, ou dos judeus, que enxergavam uma ressurreição vinculada ao corpo físico que temos hoje, o apóstolo ensina os crentes que há uma esperança diferente para a humanidade, em razão da ressurreição de Jesus Cristo.
– A grande diferença entre a fé cristã e as demais crenças que o homem tem é o fato de que Deus provou a verdade do evangelho e do perdão dos pecados em Cristo Jesus por intermédio da ressurreição de Jesus. Ela é a base angular de nossa fé, a ponto de o apóstolo, anos mais tarde deste escrito que ora estudamos, ter dito que a fé cristã seria vã, seria vazia, não teria qualquer sentido se Cristo não tivesse ressuscitado.
O túmulo vazio é a principal e a irrefutável prova de que Cristo é a verdade, que Seu sacrifício foi aceito por Deus e tem poder para reconciliar a humanidade com o seu Criador.
– Jesus ressuscitou, ou seja, morreu, mas reviveu e reviveu num corpo glorioso, um corpo que não estava submetido às leis da natureza, tanto que ingressou em local onde as portas e janelas estavam fechadas no cenáculo em Jerusalém, desapareceu após abençoar o alimento em Emaús ou subiu aos céus, desafiando a gravidade no monte das Oliveiras.
A ressurreição de Cristo é a comprovação de que Deus irá, também, ressuscitar os crentes que tiverem morrido até o dia do arrebatamento da Igreja, pois Jesus prometeu que todos os Seus com Ele viveriam para sempre nas moradas celestiais que Ele haveria de preparar.
– Neste passo, vemos que a ressurreição proclamada pelos crentes em Jesus é diferente de tudo quanto havia sido falado a respeito seja pelos gregos, seja pelos judeus. Jesus ensinou a respeito da ressurreição, jamais tendo falado em reencarnação, não confundindo uma coisa com outra.
Por mais de uma vez, o Senhor confirmou a crença judaica da ressurreição, que nada tem que ver com os ensinos hinduístas, budistas ou da filosofia grega a respeito da reencarnação, como tentam dizer, sem qualquer base, os adeptos do espiritismo.
– Mas, ao falar em ressurreição, Jesus também não compartilha do entendimento dos judeus, de que o corpo físico atual seria o corpo dos ressuscitados, tendo Ele próprio demonstrado isto quando de Suas aparições pelo espaço de quarenta dias antes de Sua ascensão aos céus, que é a última demonstração de que o corpo que receberemos é um novo corpo, um corpo espiritual, um corpo glorioso, como o apóstolo Paulo explicaria aos coríntios (I Co.15:42-44,50-54).
– A ressurreição de Jesus é a principal prova de que a fé cristã é a verdadeira, de que o caminho para a salvação é Jesus e, ao mesmo tempo que é o fundamento da nossa fé, é o motivo da esperança que faz com que o crente não se desespere ao ver a partida de um irmão em Cristo.
Assimcomo Jesus ressuscitou, também os crentes que morrerem antes da volta do Senhor ressuscitarão. Cristo foi feito as primícias dos que dormem, ou seja, foi o primeiro a ressuscitar, mas, depois dele, virão outros, aqueles que serão os frutos do Seu trabalho salvador. Aliás, ao ser considerado como as primícias, Jesus assume a mesma posição dos primeiros frutos que eram apresentados ao Senhor, em Israel, em gratidão pelo sustento do povo, frutos estes que eram colhidos por ocasião da festa de Pentecostes (Ex.34:22; Nm.28:26).
A gratidão do povo somente se consumava por ocasião da festa da colheita, que era a Festa dos Tabernáculos, que se realizava apenas no final do ano civil, no sétimo mês (Dt.16:13-15), quando, então, o restantes dos frutos era oferecido ao Senhor em ação de graças.
Este período do ano judaico, entre Pentecostes e Festa dos Tabernáculos, representa a dispensação da graça, o tempo da Igreja, e o mesmo destino que tinham as primícias, qual seja, o de ser levado à presença do Senhor, tinham os frutos no tempo da colheita. Por isso, o mesmo destino que teve Jesus, o de ressuscitar num corpo glorioso e ir para o céu, será o destino que terão os demais crentes, ressuscitando aqueles que já tiverem morrido e, reunidos com os vivos, todos em corpos gloriosos, também irão para o céu, para a Nova Jerusalém, onde habitarão para sempre com o Senhor (Fp.3:20,21; Ap.21:1-4).
– A mensagem da ressurreição de Jesus era central na pregação do evangelho na igreja primitiva. Encontramos no dia de Pentecostes o papel singular que representou a ressurreição de Jesus no sermão de Pedro e as palavras de Paulo neste que é talvez o primeiro registro escrito do Novo Testamento (ou seja, a Primeira Carta aos Tessalonicenses), uma vez mais notamos a ênfase que o apóstolo dá à ressurreição de Cristo, tema que já havia sido ensinado aos tessalonicenses, pelo que verificamos das palavras do apóstolo, que se refere à ressurreição de Jesus como algo que já era de pleno conhecimento dos crentes de Tessalônica.
A centralidade desta mensagem era tanta que até os inimigos do evangelho faziam questão de dizer que Paulo ensinava “…de um tal Jesus, defunto, que Paulo afirmava viver” (At.25:19 “in fine”).
– A pregação baseada na ressurreição de Cristo está, também, rareando nos púlpitos de nossas igrejas locais. Falar na ressurreição de Jesus é mostrar a fragilidade e o caráter passageiro desta nossa existência física sobre a face da Terra e isto, certamente, não interessa a pregadores de prosperidade, a enganadores que tentam obter vantagens e satisfazer outros interesses mediante a pregação da Palavra de Deus, como o enriquecimento, a ascensão social, a conquista de poder e outras coisas menos nobres.
Entretanto, sigamos o exemplo de Paulo e dos apóstolos, mostrando ao povo a esperança de uma vida verdadeira, de uma vida gloriosa, cuja prova está no fato de que Jesus ressuscitou.
– Por isso mesmo, como bem observou, recentemente, em conversa conosco o pastor Edmilson Roque (Assembleia de Deus – Ministério do Belém – sede), é preocupante a reação dos crentes, atualmente, com relação à morte física. Além do desespero, há, entre os que cristãos se dizem ser o mesmo escapismo, a mesma atitude de “bloqueio mental” a respeito da realidade da morte que se observa entre os incrédulos e que seria, segundo os filósofos existencialistas já mencionados, a forma pela qual os homens teriam de enfrentar a “angústia da morte”.
– Em nome deste escapismo, deste “bloqueio mental”, partem os homens para o “hedonismo”, ou seja, para a busca desenfreada dos prazeres oferecidos nesta vida, numa atitude que lembra aquela que foi denunciada pelo profeta Isaías em relação a Judá que se encontrava em desenfreada apostasia: “…Comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (Is.22:13 “in fine”). Esta expressão, aliás, é retomada pelo apóstolo Paulo, em seu “capítulo da ressurreição” (o capítulo 15 de I Coríntios) para sinalizar qual é a mentalidade daqueles que não creem na ressurreição.
– Ao se notar esta atual conduta de muitos que cristãos se dizem ser, vemos, com clarividência, como muitos se encontram distantes da sã doutrina, como muitos já não vivem de acordo com a Bíblia Sagrada, tendo assumido uma maneira de viver mundana, necessitando assim de uma real salvação. Como temos agido diante da morte?
IV – ATITUDES DECORRENTES DO REAL ENTENDIMENTO DO SIGNIFICADO DA MORTE
– Visto o ensino do apóstolo Paulo os crentes de Tessalônica, que como que sintetizam o ensino bíblico a respeito da morte e de seu significado para o verdadeiro crente, temos algumas atitudes que devem ser tomadas pelos genuínos e autênticos servos do Senhor diante desta realidade praticamente inevitável que é a morte para o ser humano.
– Por primeiro, a realidade da morte física como consequência do pecado, faz-nos ver este “drama biológico” como mais uma demonstração da necessidade da salvação na pessoa de Cristo Jesus. É por isso que todo culto fúnebre deve ser uma ocasião para, uma vez mais, refletirmos na necessidade de termos a Jesus como Senhor e Salvador de nossas vidas. Não é por outro motivo, aliás, que Salomão nos diz que é melhor estarmos na casa em que há luto do que na casa onde se realiza um banquete, pois é no momento de luto que temos consciência da realidade de nossa vida (Ec.7:2).
– A morte é uma experiência que mostra toda a fragilidade do ser humano e a sua necessidade de ter um relacionamento com o seu Criador. De nada adianta a “amnésia” deliberada que os incrédulos criam em torno da morte durante a sua existência, pois a morte está sempre ali a mostrar que nossa duração é efêmera e que nos espera uma eternidade. Também de nada adianta a assertiva de que “morreu, acabou”, levada pelos ateus, pois, ante a inexorável realidade da morte, há uma nítida sensação da total insuficiência e inadequação de um tal pensamento.
– Por segundo, a realidade da morte física faz-nos entender que o dono da vida é o Senhor e só Ele (I Sm.2:6). A incongruência da morte, a perplexidade que nos causa, a nos mostrar que não somos feitos para morrer, revela que tudo está sob o controle de Deus e que a morte somente aí está porque foi determinada pelo Senhor, o único dono da vida. A propósito, as várias circunstâncias em que a morte se dá revela-nos, claramente, que a morte é uma decisão unicamente determinada por Deus, de forma que não há como, diante disto, deixarmos de reconhecer a Sua soberania sobre tudo e sobre todos.
– Todos morrem, sejam jovens, sejam velhos; sejam doentes, sejam saudáveis; sejam ricos, sejam pobres. A morte mostra, com absoluta clareza, que Deus não faz acepção de pessoas e que tudo quanto é criado entre os homens não pode impedir esta sentença lavrada pelo Senhor no Éden. A morte mostra como o homem diante de Deus é menos que nada (Is.40:17; 41:24). Em vão, têm os homens, inclusive através da ciência, impedir a morte, mas não têm como fazê-lo. A morte é uma eloquente prova da soberania divina.
– A inevitabilidade da morte e a sua condição de prova da soberania divina devem representar para os crentes como uma prova de que devem ser, em tudo, obedientes ao Senhor, a fim de que não venham a experimentar a morte eterna, esta, sim, a pior de todas as mortes, mas que pode ser evitada pela salvação operada por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Diante da inevitabilidade da morte física, vem a constatação de que Jesus é a ressurreição e a vida e a certeza de que, se n’Ele crermos, ainda que morrermos fisicamente, manter-nos-emos vivos (Jo.11:25).
– Esta certeza de que Jesus é a vida, ademais, faz com que os verdadeiros cristãos sejam “paladinos da vida”, sejam pessoas, como se costuma dizer, “pró-vida”, ou seja, pessoas que, por reconhecerem que a vida é um dom de Deus e algo que somente incumbe a Deus, não compactuam com todas as atitudes do que o ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II, denominou de “cultura da morte”.
– Nos dias hodiernos, tão difíceis e envolvidos, como nunca, pelo “mistério da injustiça”, ao lado da “amnésia” a respeito da morte, que faz com que as pessoas busquem o prazer a todo custo, há, também, uma mentalidade que busca banalizar a morte. Assim é que, tragicamente, no mundo em que vivemos, tem se defendido, estimulado e incentivado a prática generalizada da morte entre os mais frágeis da sociedade, entre aqueles que, com suas existências, negam a atitude egoística e hedonista de nossa sociedade.
– Por isso, há cada vez mais estímulo e incentivo a práticas como o aborto, a destruição de células-tronco embrionárias, a eutanásia e a pena de morte, atitudes todas que visam “resolver” os problemas dos que estão a viver dentro de uma mentalidade hedonista e de “amnésia” para com a eternidade, mediante a eliminação daqueles que “atrapalham” tal comportamento como são as crianças geradas pela prática irresponsável do sexo (aborto); os embriões humanos gerados pela prática irresponsável da manipulação genética (destruição de células-tronco embrionárias); os doentes e idosos, considerados “estorvos” para aqueles que querem viver apenas para si (a eutanásia, ou seja, a aceleração da morte dos que estão enfermos) e os criminosos (pena de morte), pois é muito mais fácil eliminá-los do que recuperá-los.
– Cada vez mais países estão a adotar leis que facilitam e promovem estas práticas, a indicar como os homens têm sido envolvidos pela “cultura da morte”, patrocinada pelo inimigo de nossas almas, cuja tarefa outra não é senão “matar, roubar e destruir” (Jo.10:10).
– Por terceiro, a realidade da morte faz-nos ver que não tem qualquer sentido a veneração de pessoas mortas, a busca de contato com elas no “mundo de além”, embora as mesmas devem ser respeitadas como seres humanos que são.
– Por isso, uma vez entendido o real sentido da morte segundo as Escrituras Sagradas, não há motivo algum para partilharmos de todas as superstições e crendices que envolvem esta questão entre os incrédulos.
Assim, não podemos nos insurgir com práticas como a doação de órgãos, uma atitude meritória e que deve ser tomada por quem vive a fazer o bem neste mundo, como são os servos de Jesus Cristo, já que, sabemos, que o nosso corpo, após a morte, para nada mais servirá senão para tornar ao pó, uma vez que o corpo que receberemos quando do arrebatamento da Igreja será um corpo glorificado.
Por que, então, mesmo após a nossa morte, não fazermos o bem a quem precisa de nossos órgãos para continuar sobrevivendo?
– De igual maneira, não podemos censurar aqueles que pedirem para ser cremados, pois não há qualquer mal em se cremar o corpo em vez de sepultá-lo. O sepultamento, sabemos, é a forma prevista pelos judeus para os corpos mortos, mas isto resultava, como vimos, da crença de que era o mesmo corpo que ressuscitaria, o que foi bem esclarecido pelo Novo Testamento não ser assim.
– Certo é, porém, que muitas pessoas pedem para cremar seus corpos numa atitude de desafio à doutrina cristã da ressurreição, em desafio à Bíblia Sagrada, ou, o que é também censurável, como demonstração de crenças em doutrinas alheias às Escrituras, como certas doutrinas esotéricas ou, mesmo, o hinduísmo e outras doutrinas reencarnacionistas. Tais cremações devem ser censuradas, pois são manifestações de rebeldia à Palavra de Deus.
– Conquanto não se deva agir de forma desrespeitosa aos corpos mortos, pois, como já dissemos, são seres humanos e que merecem todo o respeito, visto que o ser humano, por ser imagem e semelhança de Deus, tem de ter dignidade, não podemos, porém, agir, ante a realidade da morte segundo a Bíblia Sagrada, em atitudes de veneração aos mortos, o que é muito forte entre nós, um país moldado e educado pela Igreja Católica Romana, como visitações e preces a túmulos, notadamente em certas datas estabelecidas como o dia de Finados.
Não há comunicação entre vivos e mortos e nós, vivos, nada podemos fazer em prol da situação espiritual dos que já morreram, de sorte que tais práticas devem ser sempre repelidas, pois decorrem de crenças sem qualquer respaldo bíblico.
– A memória e os exemplos deixados pelos que já partiram para a eternidade deve ser respeitada e seguida, louvada até, mas jamais poderemos partir para um campo de veneração e de tentativa de comunicação para com eles, sob pena de estarmos agindo em contrário ao que consta na Bíblia Sagrada.
– Por fim, cumpre-nos aqui falar a respeito da atitude que devemos ter em relação à nossa própria morte. É ela praticamente inevitável, pois somente aqueles que estiverem vivos no dia do arrebatamento da Igreja dela escaparão, a exemplo de Enoque e de Elias, de forma que não devemos ter medo de morrer, mas, sabendo que a morte é uma quase certeza, devemos viver de tal maneira que ela nos alcance no segundo seguinte de nossas vidas, a vida sóbria, justa e piedosa mencionada por Paulo a Tito (Tt.2:12).
– Sabendo disso, a perspectiva da morte deve fazer-nos a ter uma vida cada vez mais santa e próxima ao Senhor Jesus, a nos amarmos uns aos outros e a procurarmos, na medida do possível, agirmos de forma responsável nesta vida, a fim de que não venhamos deixar desamparados aqueles que dependem de nós para sobreviver sobre a face da Terra. Se agirmos deste modo, certamente não só alcançaremos uma eternidade com Deus como ainda não faremos os que dependem de nós sofrer indevidamente por nossa causa.
Ev. Caramuru Afonso Francisco