LIÇÃO Nº 5 – SANTIDADE AO SENHOR
A santidade é o principal tema do livro de Levítico.
INTRODUÇÃO
– A santidade é o principal tema do livro de Levítico.
– Sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).
I – A SANTIDADE É ESSENCIAL NO CULTO LEVÍTICO
– Na continuidade do estudo do livro de Levítico, hoje abordaremos aquele que é o principal tema do livro, qual seja, a santidade. A expressão-chave de Levítico é “sede santos, porque Eu, o Senhor, sou santo” (Lv.11:44,45; 19:2; 20:7,26).
– Já quando apresentou a Sua proposta a Israel para com esta nação, que o Deus havia formado, no monte Sinai, o Senhor assinalou que Israel deveria ser um “povo santo” (Ex.19:5,6).
– “Santo” significa “separado”, “distinto”. O Senhor queria que os israelitas fossem um povo à parte dos demais, que se distinguisse das outras nações, não tendo a mesma maneira de viver que tinham elas.
– E qual era a maneira de viver que tinham as outras nações? O modo de viver de rebeldia contra o Senhor, a recusa à glorificação do nome do Senhor.
Todas as nações, com exceção de Israel, eram herdeiras diretas da comunidade única pós-diluviana, dos descendentes de Noé que, multiplicando-se após o dilúvio, acabaram por ser dispersas por intervenção divina no episódio da torre de Babel (Gn.11:1-9).
– Naquela oportunidade, todos os seres humanos, sem exceção, resolveram construir uma torre cujo cume tocasse os céus, a fim de que nunca se espalhassem sobre a face de toda a Terra.
Estavam, pois, todos decididos a não obedecer à ordem divina dada a Noé e a sua família (Gn.9:1) e ainda demonstrando incredulidade já que queriam um “escape” para uma possível retaliação divina contra esta desobediência por meio de um novo dilúvio, apesar de Deus ter solenemente dito que nunca mais haveria de promover juízo com um dilúvio universal (Gn.8:21,22).
– Diante desta rebeldia unânime, Deus teve de providenciar o surgimento de uma nova nação, onde pudesse nascer o Salvador e se concretizasse o plano divino da salvação da humanidade, e tal nação, por óbvio, não poderia se misturar com as demais nações, resultantes daquela comunidade única que fora desfeita precisamente em virtude de sua rebelião.
– Nota-se, portanto, que a santidade, a separação desta nação em relação às demais, era uma condição essencial, indispensável para que Israel fosse a “propriedade peculiar de Deus dentre os povos”.
– Deus criara Israel, e disto não há dúvida alguma, já que tanto Sara, quanto Rebeca e Raquel eram estéreis, de sorte que somente uma intervenção divina pôde dar surgimento a uma descendência como as estrelas do céu ou como a areia do mar de quem nem sequer poderia gerar.
No entanto, não bastava que Israel fosse um milagre, fazia-se mister que ele se mantivesse separado das demais nações, para que não tivesse o mesmo fim que tivera a linhagem de Sete, o primeiro povo de Deus que houve na Terra, que, lamentavelmente,
se misturou com os descendentes dos demais filhos de Adão, notadamente a linhagem avançadíssima de Caim, promovendo o triunfo da maldade sobre a face da Terra, devidamente desfeito com o dilúvio (Gn.6:1-5).
– O mesmo se dá em nossos dias. Jesus, miraculosamente, criou a Igreja como Seu povo, morrendo na cruz do Calvário por nós, após ter-Se autocriado no ventre de Maria. Por meio de Seu sacrifício, nós nascemos de novo, somos novas criaturas, libertas do pecado e prontas para servir a Deus.
No entanto, assim como se exigiu dos israelitas, temos de ser um “povo santo”, temos de nos santificar contínua e incessantemente, sem o que deixaremos de ser povo de Deus, perderemos esta identidade.
– Esta santidade já se mostrou necessária antes mesmo de se firmar o pacto. O Senhor disse que viria ao povo numa nuvem espessa e falaria ao povo no monte Sinai, mas, para tanto, o povo teria de se preparar por três dias, santificando-se (Ex.19:10-12).
– Para que houvesse o encontro de Deus com o povo, necessária era a santificação. O povo deveria se santificar e lavar as suas vestes e, ainda, não ultrapassar os limites marcados no monte, limites que somente poderiam ser transpostos após o longo sonido de buzina, para que o povo subisse ao monte.
– Temos de nos santificar quando vamos ao encontro com Deus porque Deus é santo.
Não há como dois andarem juntos se não estiverem de acordo (Am.3:3) e, uma das mais importantes características do Senhor é a Sua santidade, qualidade que, como nos informa o profeta Isaías, é incessantemente proclamada acima do alto e sublime trono divino pelos serafins (Is.6:2,3).
– O povo se santificou e ouviu as palavras do Senhor, mas não chegou a aguardar o longo sonido da buzina, tendo fugido da presença de Deus, o que fez com que somente Moisés subisse ao monte e recebesse os mandamentos, que foram reduzidos a escrito e devidamente promulgados ao pé do monte Sinai (Ex.24:1-8),
ocasião em que o sangue dos sacrifícios oferecidos por mancebos de todas as tribos de Israel, foi espargido sobre o povo, também em sinal de purificação, pois quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue (Hb.9:25).
– Vê-se, pois, que é a santidade um requisito indispensável para que se possa manter um pacto entre Deus e o homem, para que se tenha uma aliança entre o Senhor e os Seus servos e isto fica bem evidenciado no livro de Levítico, em que a santidade e santificação, como já dissemos, é o elemento presente em todos os rituais e cerimônias ali estabelecidos.
– O Senhor diz, em Levítico, que é santo e que, por isso, os israelitas também deveriam sê-lo.
Daí porque serem necessárias as regras para que os israelitas se apresentassem santos diante de Deus, visto que o Senhor, por já ser santo, não tinha qualquer necessidade de qualquer ato para ser santo além da Sua própria existência.
– Isto ficava bem evidenciado quando o sumo sacerdote, devidamente paramentado, participava das cerimônias religiosas.
Ele, que era o representante do povo diante de Deus, tinha de usar uma lâmina de ouro puro, que era atada com um cordão de azul na sua mitra, de modo que esta lâmina ficava na sua fronte, na sua testa.
Nesta lâmina estava gravada a seguinte expressão: “Santidade ao Senhor” (Ex.28:36,38).
– O sumo sacerdote tinha de comparecer diante de Deus com esta lâmina, que atestava que ele somente tinha condições de estar diante do Senhor porque se encontrava em santidade, uma santidade que é devida ao Senhor, que deve ser mostrada a Deus.
– A testa de alguém é a parte da pessoa que é mais vista por todos. É uma parte do corpo que fica aparente a todos os demais.
Era precisamente nesta parte, sobre toda a indumentária do sumo sacerdote, que estava a expressão “Santidade ao Senhor”, a nos ensinar que é a nossa santidade deve ser percebida, observada e vista por todos que nos cercam.
A única expressão escrita em toda a vestimenta do sumo sacerdote era esta expressão.
Ao se ver o sumo sacerdote, todos deveriam ter a convicção, a ideia, a noção de que ele se apresentava diante do Senhor com a sua santidade, que ele somente poderia comparecer em nome do povo perante Deus porque ostentava uma santidade.
– A lâmina onde estava a expressão “Santidade ao Senhor” era de ouro puro e sabemos que o ouro aponta para a divindade.
Quando nos separamos do pecado, quando buscamos nos aproximar de Deus, estamos estabelecendo com Ele uma comunhão, tornamo-nos participantes da natureza divina (II Pe.1:4).
– O rei Uzias, na sua soberba, quis se apresentar diante de Deus para oferecer incenso no altar de ouro, no lugar santo, algo que somente os sacerdotes podiam fazer.
Não tinha ele as credenciais para realizar tal ato, não tinha a santidade para tanto, pois seu coração estava corrompido e estava em transgressão contra o Senhor,
e o resultado disto foi que, na sua testa, apareceu lepra e, imediatamente, foi ele declarado pelo sumo sacerdote Azarias, que se lhe opunha naquele instante, imundo e foi levado para viver em separado dos demais israelitas, perdendo, num só instante, o governo de Judá e o convívio com os seus súditos até o dia da sua morte (II Cr.36:16-21).
– Querer apresentar-se diante de Deus sem a santidade, que é a qualificação exigida para tanto, irá tão somente nos fazer, a exemplo de Uzias, ser desmascarados em nossa pecaminosidade,
em nosso estado de transgressão contra o Senhor, fazendo com que sejamos extirpados da comunhão dos santos, quiçá, como o rei, para todo sempre. Que Deus nos guarde!
II – A SANTIDADE DAS OFERTAS
– Este aspecto da santidade é elemento presente em todos os rituais e cerimônias constantes do livro de Levítico.
– Ao descrever o ritual do oferecimento do holocausto de gado, ou seja, da oferta totalmente queimada de animais, diz que a vítima do sacrifício teria de ser “macho sem mancha” (Lv.1:3,10) e só assim a oferta seria de “cheiro suave ao Senhor” (Lv.1:9,13,17).
À evidência, esta vítima tipifica o Senhor Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29), o Santo de Deus (Lc.1:35).
– Quando se tratava de oferta de manjares, a flor de farinha deveria ser sem fermento (Lv.2:5), precisamente porque o fermento é um elemento que simboliza a impureza, a corrupção, a degeneração, já que é o resultado de uma deterioração.
OBS: “…Tecnicamente, a fermentação é assim: o ar contém uma quantidade enorme de microrganismos, nomeadamente esporos de fungos de levedura (Saccharomyces cerevisiae), que encontram nas massas de pão as condições adequadas para se alimentar do amido da farinha.
Em consequência da ação desses microrganismos, o amido divide-se em anidrido carbônico (CO2) e álcool.
As bolhas do gás carbônico não conseguem escapar através da superfície e fazem inchar (crescer) a massa, tornando-a fofa.
Durante a cozedura, ácido carbônico e álcool saem da massa, mas a porosidade, sabor e aroma se mantêm.…” (Entenda as diferenças entre fermento químico e biológico. Disponível em: https://revistasaboresdosul.com.br/entenda-as-diferencas-entre-fermento-quimico-e-biologico/ Acesso em 08 maio 2018).
– O fato de a oferta de manjares não ter fermento é mais uma exigência que fala da necessidade da santidade da oferta, visto que deveria ela ser apresentada ao Senhor.
O texto bíblico é taxativo:
“Nenhuma oferta de manjares, que oferecerdes ao Senhor, se fará com fermento; porque de nenhum fermento, nem de mel algum oferecereis oferta queimada ao Senhor” (Lv.2:11).
A ausência de fermento permitia que tal oferta chegasse como cheiro suave ao Senhor (Lv.2:9,12).
– A ausência de fermento, aliás, era exigida em todo e qualquer pão desde a Páscoa e até sete dias depois, na chamada “festa dos pães asmos” (Lv.23:6), asmos que falam da sinceridade e da verdade diante de Deus, da perfeita comunhão entre Deus e os Seus servos, da pureza e santidade (I Co.5:8).
– O fermento simboliza a malícia e a maldade, o homem degenerado e corrompido pelo pecado, a imagem distorcida de Deus, o homem que, por causa do pecado do primeiro casal, perdeu a glória de Deus e agora estaria condenado à perdição eterna se o Senhor não resolvesse dar-lhe a oportunidade de salvação na pessoa de Cristo, a nossa páscoa (I Co.5:7).
– Nos sacrifícios de paz, também os animais a ser oferecidos tinham de ser animais sem mancha (Lv.3:1,6), o que também fazia com que subisse como cheiro suave ao Senhor (Lv.3:16).
– Nos sacrifícios pelo pecado, também se deveriam oferecer animais sem mancha (Lv.4:3,23,28;5:15,18;6:6;9:2,3).
Embora se tratasse de ofertas pela culpa decorrente da prática do pecado, os animais deveriam ser sem macha, porquanto estavam a tipificar o Senhor Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.,1:29), Aquele que levou sobre Si os nossos pecados (Is.53:5).
– De igual modo, quando um leproso ficava sarado, tinha de oferecer um sacrifício com animal sem mancha (Lv.14:10), sem o que não poderia reinserir-se na sociedade israelita da qual fora alijado durante o período da enfermidade.
– Era esta a regra estrita mandada por Deus, explicitamente determinada pelo Senhor, “in verbis”:
“ Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: Fala a Arão, e a seus filhos, e a todos os filhos de Israel e dize-lhes:
Qualquer que, da casa de Israel ou dos estrangeiros em Israel, oferecer a sua oferta, quer dos seus votos, quer das suas ofertas voluntárias, que oferecerem ao Senhor em holocausto, segundo a sua vontade, oferecerá macho sem mancha, das vacas, dos cordeiros ou das cabras.
Nenhuma coisa em que haja defeito oferecereis, porque não seria aceita a vosso favor.
E, quando alguém oferecer sacrifício pacífico ao Senhor, separando das vacas ou das ovelhas um voto ou oferta voluntária, sem mancha será, para que seja aceito; nenhum defeito haverá nele.
O cego, ou quebrado, ou aleijado, ou verrugoso, ou sarnoso, ou cheio de impigens, este não oferecereis ao Senhor e deles não poreis oferta queimada ao Senhor sobre o altar” (Lv.22:17-22).
– Deus não muda (Ml.3:6; Tg.1:17) e, assim como não aceitou o sacrifício de Caim, porque atentou para ele e para a sua oferta (Gn.4:5), continua a rejeitar sacrifícios que não estejam de acordo com as Suas determinações, pois, em sendo Ele o Senhor é Ele quem determina como deve ser feito o culto.
– Ora, se não nos apresentarmos diante do Senhor em santidade, sem mancha, jamais poderemos agradá-l’O e, por conseguinte, nossa adoração não será aceita, nossa oferta será rejeitada.
– Na atualidade, não oferecemos animais ou vegetais em sacrifício, mas nos oferecemos a nós mesmos, os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, o nosso culto racional (Rm.12:1).
– Tendo ressuscitado com Cristo, estamos mortos para o pecado e, portanto, não pode o pecado reinar em nosso corpo mortal para lhe obedecermos em suas concupiscências, nem podemos ter nosso corpo como instrumento de iniquidade (Rm.6:11-13).
– Se é assim, bem vemos como, na atualidade, muitos estão a desagradar ao Senhor, já que não têm tido a preocupação de apresentar-se a Deus com seus corpos como instrumento de justiça e não como instrumento de iniquidade.
– Lamentavelmente, nos dias em que vivemos, não são poucos aqueles que têm feito de seus corpos instrumento de iniquidade, em especial no que tange à sensualidade, dando lugar a situações que levam a pecados contra o corpo, ou, então, às injúrias e à maledicência, deixando com que suas línguas sejam o mundo de iniquidade inflamado pelo inferno (Tg.3:6).
Como podemos nos apresentar diante de Deus neste estado? Teremos, porventura, alguma aceitação? Evidentemente que não!
– Estamos, hodiernamente, nas mesmas condições que se encontravam os judeus nos dias do profeta Malaquias.
O povo, tendo vindo do cativeiro, não mais se envolvia com a idolatria, pois haviam aprendido com o amargo remédio do exílio, os efeitos de buscarem substituir o único e verdadeiro Deus por falsas divindades.
– No entanto, estavam agora dominados por um outro problema, sério problema, que era o da indiferença, o do desleixo para com as coisas divinas.
– Assim, estavam a oferecer sobre o altar do Senhor pão imundo, profanando o sacrifício, porque entendiam ser a mesa do Senhor, desprezível (Ml.1:7).
– Quando não cuidamos para viver separados do pecado, quando nossos corpos são instrumentos de iniquidade em vez de serem instrumentos de justiça, estamos desprezando a mesa do Senhor, considerando a comunhão com Deus como algo banal, pois a expressão “mesa do Senhor” fala-nos de comunhão, pois a refeição é uma figura da comunhão, da amizade.
– Quem se apresenta diante de Deus com “pão imundo” está desprezando a “mesa do Senhor”, está considerando que o Senhor é igual a qualquer outro, não dá ao Senhor a honra e glória que só a Ele pertencem, torna comum aquilo que é especial, que é superior, que é sublime.
– Quantos não têm feito isto em nossos dias? Estão como alguns crentes de Corinto que participavam, a um só tempo, da mesa dos demônios e da mesa do Senhor (I Co.10:21).
– A indiferença era tanta que, não contentes em oferecer pão imundo, também traziam o animal cego, coxo ou enfermo e ainda faziam questão de dizer que isto não fazia mal (Ml.1:8).
Havia um profundo desprezo para com o culto a Deus e o resultado disto era a rejeição por parte do Senhor, que dizia textualmente não ter prazer neles (Ml.1:10,11).
– Observemos, ainda, que, em relação às ofertas, têm-se praticamente as mesmas exigências que com relação aos ofertantes.
Ao analisarmos as características que os animais a serem oferecidos não poderiam ter, vemos uma similitude com as próprias qualidades que deveriam ser os filhos de Arão para poderem ser sacerdotes.
Os animais não poderiam ser cegos, quebrados ou aleijados, verrugoso ou sarnentos ou cheios de impigens (Lv.22:22).
Ora, os sacerdotes, igualmente, não poderiam ter qualquer deformidade, não podiam ser cegos, coxos, ou de nariz chato, ou de membros demasiadamente compridos, ter pé quebrado ou quebrada a mão, corcovados, anões, terem belida no olho, sarna ou impigens, ou testículo quebrado (Lv.21:18-20).
– Esta similitude, além de nos lembrar que, nos sacrifícios do culto levítico, havia a tipificação do sacrifício de Cristo no Calvário, e, como Cristo é, a um só tempo, o sacerdote (ofertante) e a vítima (a oferta), têm de ambos apresentar as mesmas características,
também nos permite constatar que a santidade é algo que tem de estar presente em todos os aspectos, em todos os prismas, em todos os elementos da adoração e do culto a Deus, a ponto de o salmista ter tido que devemos adorar a Deus na beleza da Sua santidade (I Cr.16:29; Sl.29:2; 96:9).
III – A SANTIDADE DOS OFERTANTES
– A santidade não era apenas das ofertas (animais ou vegetais), mas também tinha de estar presente nos ofertantes.
Como já se disse supra, era na testa do sumo sacerdote que estava gravada a expressão “Santidade ao Senhor”, precisamente para lembrar a todos que, a começar do sumo sacerdote, todos deveriam se apresentar diante de Deus em santidade, pois Israel era o “povo santo” do Senhor.
– Toda e qualquer pessoa que se apresentava diante de Deus, no tabernáculo ou no templo, deveria, antes de ser oferecido o sacrifício, colocar as suas mãos na cabeça do animal (Lv.1:4; 3:2,8,13; 4:15; 8:14,22; 16:21), como que transferindo a sua culpa e seu castigo sobre a vítima do sacrifício que, por ser sem defeito, tinha condições de assumir tal culpa por ser inocente.
– Esta colocação das mãos sobre a cabeça do animal, que ainda estava vivo, era como que uma identificação do ofertante com a santidade.
Nesta transferência, o seu pecado era tirado, transferido para o animal e, assim, no momento da morte do animal, do sacrifício propriamente dito, estava o que trazia o animal sem culpa, sem pecado, o que permitia que seu sacrifício fosse aceito.
– Foi precisamente isto que fez o Senhor Jesus no Calvário. Inocente, sem qualquer pecado (Hb.4:15; 7:26), tomou sobre si o nosso castigo e, por força disto, entramos em paz com Deus (Is.53:5; Rm.5:1), ou seja, entramos em comunhão com o Senhor, já que é o pecado que faz divisão entre nós e Deus (Is.59:2).
– Agora, em comunhão com o Senhor, podemos entrar no santuário celestial, pelo novo e vivo caminho que Ele nos abriu com a Sua carne, visto que estamos em santidade, fomos devidamente purificados tanto pelo sangue de Cristo, quanto pela água, que é a Palavra de Deus (Hb.10:19-22; I Jo.1:7; Jo.15:3).
– Mas, além dos israelitas em geral, que, ao chegar para sacrificar, por meio da imposição de mãos sobre o animal, santos se tornavam, também os sacerdotes, que eram os que exerciam o ofício sacerdotal, que faziam os sacrifícios, tinham de estar, igualmente, em estado de santidade.
– Além de não terem defeitos físicos para poder oficiar, com características similares aos dos próprios animais a serem sacrificados (Lv.21:17-21), os sacerdotes tinham de ser consagrados para ingressar no exercício do ofício, consagração esta já estudada em lições anteriores,
mas no qual deveriam eles se lavar com água (Lv.8:6) e, depois, vestir-se com as vestes sacerdotais, sem que sua nudez pudesse ser vista (Ex.20:26), vestes brancas, pois eram de linho fino, precisamente para serem identificados com a pureza (Lv.8:7-13).
– Nesta consagração, também, eram oferecidos sacrifícios pelos pecados dos sacerdotes, onde havia a dita imposição das mãos sobre os animais.
Depois, num segundo sacrifício, era degolado um carneiro e parte do sangue deste carneiro era posto na ponta da orelha direita, no polegar da mão direita e no polegar do pé direito de cada sacerdote (Lv.8:14-24).
– O sacerdote deveria estar todo santificado e separado para o ministério. Para tanto, não poderia ter pecado, daí porque terem sido feitos sacrifícios para expiá-lo, como também deveria ser purificado pelo sangue para poder ouvir tanto a voz de Deus quanto a voz do povo, já que era mediador entre eles;
para agir conforme a vontade do Senhor, realizando boas obras, como também andar sempre nas pisadas do Senhor, seguindo-Lhe a orientação.
– Santidade somente se obtém, por primeiro, quando somos libertos do poder do pecado ao crermos no sacrifício vicário de Cristo.
Se o Filho nos libertar, verdadeiramente seremos livres (Jo.8:36). É a chamada santificação posicional.
– Mas, uma vez libertos do poder do pecado, temos de crucificar a velha natureza com suas paixões e concupiscências com Cristo (Rm.6:6; Gl.5:24), para que o corpo do pecado seja desfeito, e, para tanto, temos de andar segundo o espírito e não segundo a carne (Rm.8:1),
sendo purificados pelo sangue de Cristo a cada instante e, assim, dando ouvidos ao Senhor, praticando boas obras (Ef.2:10,13-16) e seguindo as pisadas do Senhor, imitando-O (I Pe.2:21; I Co.11:1). Estamos, assim, livres do corpo do pecado. É a chamada santificação progressiva.
– Por fim, quando o Senhor Jesus vier buscar a Sua Igreja, este velho homem, então, desaparecerá, morrerá finalmente, e estaremos, para sempre, livres da natureza do pecado, alcançando a glorificação. É a chamada santificação eterna.
– Este cuidado para com a santidade dos sacerdotes, porém, não se esgotava na cerimônia de sua consagração, mas era algo que, diariamente, tinha de ser observado pelos oficiantes, já que, a cada dia,
quando fossem sacrificar, deveriam eles, antes de mais nada, lavar-se com a água da pia de cobre, antes de se vestir com as vestes sacerdotais, utilizadas especialmente para o ofício sacerdotal (Ex.30:17-21).
– Também precisamos estar em contínua santificação, sempre nos santificando ainda, cada vez mais (Ap.22:11), pois, sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).
Temos de continuamente nos fazer valer dos meios de santificação postos à disposição pelo Senhor, a saber, a Palavra de Deus (Jo.17:17), a oração (I Tm.4:5), reforçada pelo jejum (Mt.9:15; Mc.2:20; Lc.5:35), o temor de Deus (II Co.7:1) e a participação digna na ceia do Senhor (I Co.11:27-32).
– É interessante notar que os sacerdotes tinham como vestes túnicas de linho fino, que, além de indicarem a pureza e santidade, pela sua brancura (e o linho fino fala da justiça dos santos – Ap.19:8),
também nos mostram que as vestimentas eram arejadas o suficiente para evitar que os sacerdotes suassem enquanto oficiassem, suor que seria uma impureza ritual.
– Tanto assim é que, ao descrever o sacerdócio do quarto templo, o templo do período milenial, o profeta Ezequiel diz que os sacerdotes não poderiam usar lã, precisamente para que não suassem (Ez.44:16-18).
– Rubén Chacón dá uma belíssima interpretação:
“…”Não se cingirão de coisa que os faça suar”. Isto quer dizer que Deus não quer suor em sua casa. O que significa o suor? O suor é produzido quando fazemos um grande esforço.
Portanto, o suor representa o esforço humano. Se Deus não quer suor em sua casa, quer dizer que Deus não quer esforço humano em sua casa. Interessante, não? Vamos ler agora em Levítico 19:19.
“Guardarás os meus estatutos; não permitirás que os teus animais se ajuntem com os de espécie diversa; no teu campo, não semearás semente de duas espécies; nem usarás roupa de dois fios misturados”.
“O seu campo não semeará com mescla de sementes”. Sublinhemos a palavra ‘mescla’. “…e não porás vestidos com mescla de fios”.
Outra vez, sublinhemos a palavra ‘mescla’. Deus não quer linho e lã misturados. Deus não quer uma mescla do divino com o humano. O esforço humano em sua casa atrapalha a obra de Deus.
Deus não quer que façamos 50 por cento e ele faça os outros 50 por cento, ou que nós façamos 10 por cento e ele faça 90 por cento.
Ele quer fazer cem por cento. Custa-nos muito entender que o crescimento no Senhor é que nós diminuamos para que o Senhor cresça.
O Senhor quer encontrar espaço em nós, para ele fazer cem por cento. Vocês têm lido a carta aos Gálatas. Os Gálatas estavam caindo neste engano.
Eles tinham sido justificados pela fé, tinham sido salvos pela fé; mas agora criam que a santificação era pelas obras. E vem Paulo para dizer-lhes: ‘Não, a santificação também é pela fé’. Tudo é pela fé, tudo é obra de Deus.
A obra de Deus é cem por cento dele. Ele não necessita da nossa ajuda, não necessita da nossa intromissão.
Necessitamos simplesmente nos dispor, nos abrir, permitir que o Senhor faça a sua obra completa. A obra de Deus é perfeita, a obra de Deus é absoluta; é uma obra terminada, é uma obra eterna. Louvado seja o Senhor!
Que o Pai possa abrir os nossos olhos para ver que contemplamos uma obra que já está acabada.…” (Servindo sem suor. Disponível em: http://www.aguasvivas.ws/revista/50/06.htm Acesso em 08 maio 2018).
– O sumo sacerdote, no dia da expiação, deveria fazer um sacrifício, primeiramente, pelo seu pecado, para só depois poder fazer o sacrifício pelo pecado do povo (Lv.16), a demonstrar, uma vez mais, que o sacerdote deveria estar em comunhão com Deus quando se apresentasse diante do Senhor, notadamente quando se adentrava ao lugar santíssimo, onde o Senhor aparecia na nuvem sobre o propiciatório (Lv.16:2).
– A santidade é, assim, em todos os rituais e cerimoniais do culto levítico, uma condição “sine qua non” para que se pudesse apresentar diante do Senhor.
No entanto, em que pese a santificação ser demonstrada por uma pureza ritual, cerimonial, não se limitava a isto.
– Quando vemos o profeta Isaías, notamos que o Senhor não exigia apenas uma pureza ritual ou cerimonial para aceitar os sacrifícios do culto levítico.
Bem ao contrário, demonstrou toda Sua contrariedade para com os judaítas porque se apresentavam diante d’Ele como uma nação pecadora, um povo carregado de iniquidade, semente de malignos, filhos corruptores (Is.1:4).
– O Senhor considerava que os sacrifícios e as festividades levadas por aquele povo, ainda que ritual e cerimonialmente corretas, eram verdadeiras abominações, porque as mãos daquela gente estavam cheias de sangue, seus atos eram maus e não cessavam de praticar a maldade (Is.1:15).
– O Senhor exigia dos judaítas que se lavassem e se purificassem, mas não no sentido ritual, mas, sim, no sentido espiritual, tirando a maldade dos seus atos de diante dos olhos do Senhor, cessando de fazer mal e aprendendo a fazer bem, praticando o que é reto, ajudando o oprimido, fazendo justiça ao órfão e tratando da causa das viúvas (Is.1:17).
– Só, então, o Senhor aceitaria que eles fossem ao Seu encontro e Lhe arguissem, pois, aí, sim, seus pecados seriam perdoados e eles teriam a “brancura espiritual”, tornando-se mais alvos do que a neve (Is.1:16,17).
– É importante pontuar que esta exigência não foi uma “inovação” trazida pelo profeta Isaías cerca de 700 anos depois da entrega da lei, pois o próprio Moisés já transmitira ao povo de Israel esta mensagem da parte do Senhor,
que exigia deles que circuncidassem seus corações e não endurecessem a sua cerviz, ou seja, que fossem obedientes e submissos ao Senhor, retirando do seu interior toda malignidade, rendendo-se à vontade do Senhor (Dt.10:16), mensagem que seria, depois, repetida por Jeremias (Jr.4:4).
– Se isto se dava na antiga aliança, que poderemos pensar da nova aliança, em que a nossa salvação se deu pelo sacrifício de Jesus Cristo na cruz do Calvário e pelo derramamento do sangue inocente do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo?
– Comparecer diante do Senhor, depois que Jesus abriu este novo e vivo caminho pela Sua carne, depois que o véu do templo se rasgou de alto a baixo, sem estar em devida santidade, é algo extremamente sério e deletério.
– O escritor aos hebreus, fazendo uma comparação entre o culto levítico e o culto de nossa dispensação, disse que há uma certa expectação horrível de juízo quando se sabe que se está diante de possibilidade de castigo de quem tem por profano o sangue do novo testamento com que foi santificado (Hb.10:29).
– O escritor aos hebreus lembra que horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo (Hb.10:31) e quando fazemos pouco caso da grande honraria que a graça e misericórdia do Senhor nos proporcionaram de poder ter acesso livre ao trono da graça (Hb.4:16) em virtude do derramamento do sangue de Cristo, que está sempre pronto a nos purificar (I Jo.1:7),
preferindo profanar este sangue, deixando de nos santificar e querermos estar de qualquer maneira diante do Senhor e menosprezar ou desprezar a comunhão que obtivemos por Cristo, realmente podemos dizer que estamos diante de uma inimaginável loucura, de uma atitude totalmente inconsequente e desarrazoada.
– A “santidade ao Senhor” era um requisito que se estabelecia a todo povo, cada um à sua maneira, já que os israelitas haviam fracassado na sua constituição como “reino sacerdotal”, mas a Igreja não tem sequer esta “maneira diferenciada” de se santificar, já que somos o “sacerdócio real”, além de ser a “geração eleita”, “a nação santa” e o “povo adquirido” (I Pe.2:9).
– É imperioso que nos apresentemos diante do Senhor em santidade, uma santidade que, a exemplo do sumo sacerdote, esteja gravada em uma lâmina de ouro puro em nossa testa, ou seja, devemos, a exemplo do profeta Eliseu, ter uma conduta que nos permita ser identificados como “santos homens de Deus” (II Rs.4:9).
– A santidade deve brotar dos nossos corações e se evidenciar por meio de nossas ações exteriores.
Não foi por outro motivo que o apóstolo Paulo disse que devemos ser santos a partir do nosso espírito, passando pela nossa alma, para só, então, chegar ao nosso corpo (I Ts.5:23).
– Os fariseus, principais inimigos de Jesus durante Seu ministério terreno, eram conhecidos por sua “santarronice”, ou seja, por uma pseudo-santidade, uma santidade apenas de aparência, ritual e hipócrita, que gerava profunda indignação em Nosso Senhor e Salvador, tanto que contra eles proferiu o Seu mais duro discurso (Mt.23).
– “Fariseu”, em aramaico, significa “separado”, ou seja, “santo”, mas os fariseus, apesar de toda a aparência de santidade e do rigoroso cumprimento dos rituais e cerimônias, negavam categoricamente sua comunhão com o Senhor.
– Por primeiro, porque “suavam”, ao contrário do propósito divino, eis que procuravam se vangloriar com as suas obras, criavam mandamentos adicionais para que ostentassem uma religiosidade, como se Deus fosse insuficiente e incompleto para determinar o que se deveria fazer para que se atingisse a santidade (Mt.23:4).
Construíam uma “cerca para a Torá”, o que é altamente repugnante para o Senhor, pois o homem se põe no lugar de Deus, querendo dizer o que deve ser feito para se separar do pecado, como se Deus não fosse santo o suficiente para determiná-lo.
– O mesmo profeta Isaías já havia censurado tal comportamento, em censura repetida pelo Senhor Jesus, dizendo que a santidade dos judaítas era “da boca para fora”, mantidos os corações longe do Senhor, o que se verificava pela presença tão somente de mandamentos humanos, pretensamente capazes de lhes dar a vida eterna, a mera religiosidade (Is.29:13; Mt.15:7-9).
– Por segundo, sua suposta santidade não resistia a um julgamento mais acurado. Era uma mera aparência, uma mentira, um disfarce. Eram verdadeiros sepulcros caiados, lindos por fora, podres por dentro (Mt.23:27).
Não haviam se libertado do pecado, eram escravos do maligno, jamais deixaram a prática do pecado. Por isso mesmo, apenas geravam “filhos do inferno duas vezes mais do que eles” (Mt.23:15).
– Entre os que cristãos se dizem ser, também há pessoas desta qualidade, que serão desmascaradas no juízo final, quando, então, serão apresentados como praticantes da iniquidade, embora, aparentemente, tivessem se apresentado a todos como servos do Senhor (Mt.7:21-23). Que Deus nos guarde!
– Por terceiro, a sua suposta santidade visava tão somente elementos materiais, rituais, cerimônias, regras, estando longe, muito longe do principal do relacionamento com Deus, que é o juízo, a misericórdia e a fé, ou seja, os elementos relacionados com o próprio caráter divino (Mt.23:23).
– A santidade tem de nos fazer parecidos com Cristo, conformes à Sua imagem (Rm.8:29). A santidade nos faz ser da família de Deus (Ef.2:19), assim como os sacerdotes eram da família de Arão (Lv.1:7,8,11;2:2:3:2; Nm.3:3).
A santidade nos faz ter comunhão com o Senhor, une-nos a ele e tais circunstâncias bem diferenciam os que são verdadeiramente santos daqueles que tão somente cumprem rituais ou cerimônias, daqueles que tão somente são religiosos.
– A santidade permite-nos apresentar diante do Senhor e não, como faziam os fariseus, diante dos homens. Temos sido realmente santos? Pensemos nisso!
Ev. Caramuru Afonso Francisco