Sem categoria

LIÇÃO Nº 3 – O CRESCIMENTO DO REINO DE DEUS

(AS PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO – Mt. 13:31-33; Mc.4:30-34; Lc.13:18-21)     

Nas parábolas do grão de mostarda e do fermento, Jesus nos mostra que o verdadeiro crescimento do reino de Deus é espiritual, não aparente.

 INTRODUÇÃO

 – Na continuidade do estudo das parábolas, estudaremos a terceira e quarta parábolas narradas em Mateus 13, igualmente mencionada em Marcos 4, a saber, as parábolas do grão de mostarda e do fermento, onde Jesus, ainda tratando do reino de Deus, fala, agora, acerca de seu crescimento.

 – O crescimento do reino de Deus é uma realidade, mas que tem de ser analisada sob o aspecto espiritual, pois o reino de Deus não é deste mundo (cfr. Jo.18:36a). O servo do Senhor não pode ser levado pela aparência enganosa.

 I – AS CIRCUNSTÂNCIAS DAS PARÁBOLAS E AS PARÁBOLAS PROPRIAMENTE DITAS (PARÁBOLAS DO GRÃO DE MOSTARDA E DO FERMENTO)

 – Continuamos no capítulo 13 do evangelho segundo escreveu Mateus, onde Jesus continua a falar a respeito do reino de Deus, num instante em que começa a sofrer oposição dos judeus, a começar por Sua família.

Ainda que não seja necessário vincular cronologicamente estes fatos com o momento do ensino da parábola, o evangelista, inspirado pelo Espírito Santo, quer nos fazer observar que a noção do reino de Deus é absolutamente necessária para o crente, que tem de ter consciência de que está no mundo, mas que não é do mundo (Jo.17:16).

 – A terceira parábola registrada neste capítulo é a parábola do grão de mostarda, que também é reproduzida pelos dois outros evangelistas sinóticos (Mc.4:30-34 e Lc.13:18-21).

Esta parábola está intimamente relacionada com a parábola do fermento (Mt.13:33; Lc.13:20,21), razão pela qual também a estudaremos nesta oportunidade, até porque não há lição especificamente sobre ela neste trimestre.

 – A parábola do grão de mostarda começa com uma pergunta de Jesus, que é registrada por Marcos e por Lucas: a que assemelharemos o reino de Deus ou com que o compararemos?

Vemos, pois, que a parábola tem em mira dar uma ideia do que é o reino de Deus.

Jesus, então, diz que o reino de Deus é como um grão de mostarda que, sendo a menor das sementes entre as hortaliças, torna-se a maior de todas elas, fazendo-se árvore e na qual vão se aninhar as aves dos céus debaixo da sua sombra. 

 – Com relação à parábola do fermento, temos, novamente, a mesma indagação de Jesus feita na parábola do grão de mostarda: a que compararei o reino de Deus (Lc.13:20)? Para responder a esta questão, Jesus diz que o reino de Deus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e esconde em três medidas de farinha, até que tudo seja fermentado.

II – A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA

(I): O GRÃO DE MOSTARDA

 – A parábola do grão de mostarda não tem sua explicação registrada nas Escrituras, ao contrário das duas parábolas já estudadas (a do semeador e a do joio e trigo), não se tendo, portanto, a tranquilidade dos casos anteriores, onde não cabe discussão, já que a interpretação se encontra registrada na própria Bíblia Sagrada.

Não é, portanto, surpresa que encontremos ideias tão díspares entre os ensinadores dos textos sagrados.

Devemos, entretanto, ser cautelosos na interpretação, lembrando, sempre, que uma parábola não pode dar origem a qualquer doutrina, pois é uma explicação,

uma ilustração de uma doutrina, bem como, também, procurar encontrar respaldo dos pensamentos e das interpretações em outras passagens bíblicas, pois, como diz a própria Bíblia,

 “…nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação, porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe.1:20b,21).

 – O objetivo de Jesus, nesta parábola, é fazer uma ilustração do que seja o reino de Deus. Em a narrativa de Mateus, Jesus já havia falado a respeito da boa terra, que era o que foi semeado pela Palavra de Deus, ouviu e compreendeu a Palavra, deu fruto e produziu (Mt.13:23), como também da boa semente, que eram “os filhos do reino” (Mt.13:38), que, como trigo, seriam ajuntados no celeiro.

Agora, vai dar uma ideia do que é o reino dos céus ou reino de Deus. Para tanto, usa da figura do grão de mostarda.

– Não resta dúvida de que a ilustração feita por Jesus pegou a todos de surpresa. Ao falar no reino dos céus (ou reino de Deus, nos evangelhos segundo escreveram Marcos e Lucas), seria natural que os ouvintes do Mestre se voltassem aos tempos gloriosos do reinado de Salomão, ou, quem sabe, ao período de grandes vitórias militares de Davi.

Israel, em seus tempos áureos, pareceria ser a melhor imagem do reino de Deus, que, para os discípulos, não poderia ser, mesmo, dissociado das promessas messiânicas dos profetas (cfr. At.1:6).

Até mesmo, alguém poderia esperar que Jesus fosse comparar o reino de Deus à glória de Roma, então a senhora do mundo, ou aos esplendores passados dos impérios babilônio, persa ou grego, mas, ao trazer a figura do reino de Deus, Jesus não usa de coisa alguma que fosse humana.

 – Talvez, ainda, algum ouvinte pudesse pensar que a melhor imagem do reino de Deus fosse o leão, este majestoso animal que, até hoje, é denominado de “o rei dos animais”.

Aliás, não era o leão o símbolo da tribo de Judá, a tribo real, a descendência de Davi, de onde proviria o Messias (Gn.49:9)?

Mas, se fosse escolhida uma imagem no reino vegetal, não seria o reino de Deus apropriadamente representado pela oliveira, ou, então, pela figueira ou a videira, árvores excelentes, que tanto bem traziam ao ser humano e cujos frutos eram assaz benéficos e desejáveis e que, inclusive, já tinham tido suas virtudes mencionadas em conhecida parábola das Escrituras hebraicas (Jz.9:8-13)?

 – No entanto, Jesus assim não procedeu e apresentou como figura do reino de Deus o grão de mostarda. Mas o que é a mostarda?

“…Popularmente conhecida como tempero inseparável de hot-dogs, a mostarda, é, no entanto, muito mais antiga do que a pièce de resistance da culinária norte-americana.

Sua história pode ser traçada até 3 mil anos atrás, quando era amplamente utilizada por egípcios, gregos, romanos e povos asiáticos.    

Famosa como condimento ou por suas propriedades medicinais, a mostarda era tida pelos antigos helenos como um presente do deus da cura, Asclépio (ou Esculápio), e era usada como alívio para dores musculares.

Os romanos preferiam-na como ingrediente para a preparação de picles e os chineses a incluíam em seu cardápio.…” (SAMPAIO, Gabriela. Mostarda. http://www.google.com/search?q=cache:nO91Qqc72rkJ:aol.taste.com.br/news/templates/noticia.asp%3FidN oticia%3D4679+mostarda&hl=pt-BR  Acesso em 16 fev.2005).

 – A mostarda é um nome pelo qual são conhecidas quatro espécies botânicas, a saber,  Sinapis alba, Brassica juncea, Brassica nigra e Brassica carinata. É uma das mais antigas hortaliças conhecidas, tendo sido utilizada, desde as mais remotas eras, para a produção de condimentos. 

OBS: “…A mostarda negra (brassica nigra, Koch ou sinapsis nigra, L.) é uma herbácea anual da Europa e da Ásia, de haste ramosa, por vezes da altura de 1 metro, pubescente [caules com pelos finos, observação nossa] e áspera ao tato, de folhas alternas[i.e., folhas dispostas dos dois lados da haste, mas não uma em face da outra, observação nossa],

as superiores sésseis[i.e., folhas diretamente ligadas à haste sem pedúnculo, ou seja, “cabinho’, observação nossa] com cachos de flores amarelas, e cujo fruto é uma síliqua[cápsula que contém as sementes, observação nossa] pequena que contém sementes negras.

Cultiva-se para a preparação do condimento que se obtém macerando as sementes trituradas em sal, vinagre e diversas plantas aromáticas.

As outras mostardas pertencem ao gênero sinapsis, a mostarda branca (sinapsis alba) dá sementes que produzem como as da mostarda negra um princípio acre quando são trituradas em água tépida.

Cultiva-se como forragem ou como adubo verde e, neste caso, semeia-se em alqueives(terras que se deixam descansar, observação nossa]. A farinha de mostarda emprega-se na terapêutica, em cataplasmas e pedilúvios (escalda-pés).…” (Mostarda. In: LELLO Universal, v.III, p.353).

 – Sendo uma hortaliça, ou seja, uma planta cultivada em horta e destinada ao uso culinário, a mostarda, de pronto, causou estranheza nesta sua conceituação como imagem do reino de Deus, pois a consideração de árvores como reinos era comum na literatura judaica (Sl.80:8-10; Ez.31:3-9; Dn.4:10-12),

mas uma hortaliça que, por definição, tem rápido crescimento mas deve ser colhida logo em seguida, sem permanência, pareceu incompreensível para a mente humana, tão incompreensível que, como afirma Russell Norman Champlin (1933-2018),

há estudiosos que insistem que a ‘mostarda’ mencionada por Jesus não pode ser a planta assim conhecida, mas se referiria a uma outra espécie, a “salvadora persica”, esta, sim, uma árvore que teria o mesmo sabor picante da mostarda.

Não há, porém, porque duvidar que se trataria, mesmo, da mostarda que até hoje conhecemos e que era tão comum nos tempos de Jesus.

OBS: Tivemos acesso a um antigo conto budista que menciona a mostarda, em especial, a mostarda negra, que parece ser a referida no texto bíblico, como sendo uma planta que poderia ser encontrada em toda casa naquela época na Índia.

 – Jesus não iria fazer uma menção enganosa, nem tampouco se utilizar de uma espécie que fosse de difícil compreensão por parte de Seus ouvintes.

O reino de Deus é comparado ao grão de mostarda, algo comum, algo insignificante, pois o grão de mostarda é uma das menores sementes de hortaliças, para dizer, do Seu inigualável modo de ensinar, que o reino de Deus, da mesma maneira, é, inicialmente, algo muito pequeno e insignificante, assim como o grão de mostarda.

O reino de Deus é algo totalmente sem aparência, algo insignificante aos olhos da sociedade.

 – As coisas de Deus são assim mesmo. Quem poderia ver naquele pequenino cesto lançado no rio Nilo a libertação do povo hebreu das mãos do poderoso Faraó? 

Quem poderia ver naquele jovem mancebo, esquecido até por seu pai, vindo de detrás do curral das ovelhas de Jessé, o grande rei Davi? Quem poderia contemplar naquela criança nascida no cativeiro, filho de sacerdotes de um povo sem templo e sem pátria, o grande reformador Esdras?

Quem poderia ver numa manjedoura envolto em panos o Salvador do mundo, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores? Como diz o apóstolo Paulo: “Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são” (I Co.1:28).

 – Jesus não escolheu o grão de mostarda por acaso. A mostarda seja, talvez, o mais eloquente exemplo de crescimento que existe, pois, sendo a sua semente uma das menores que existe, a mostarda é a maior das hortaliças, alcançando, no seu ano de vida, um crescimento vertiginoso, perto do tamanho de sua semente.

Muitos procuram objetar a parábola, dizendo que existem árvores maiores do que a mostarda, o que leva, inclusive, alguns estudiosos a, desesperadamente, quererem provar que, no Oriente, os pés de mostarda alcançam grandes alturas, como se isto fosse essencial para atribuir veracidade aos ensinos de Jesus.

Jesus, aqui, não está preocupado com o valor absoluto, ou seja, com o tamanho da mostarda diante de outras árvores, até porque, quando muito, a mostarda deve ser considerada como sendo um arbusto maior (como, aliás, consta em Mt. 13:32 da Versão dos Monges de Mardesous do Centro Bíblico Católico), mas, sim, com o valor relativo, isto é,

com a grande diferença entre o tamanho da semente e o crescimento alcançado pela planta e tudo isto num pequeno intervalo de tempo, já que, como dissemos, a mostarda tem uma duração de vida bem curta (no Brasil, a EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – estima em 130 dias o período de colheita depois da semeadura).

 – A comparação com o grão de mostarda tem a ver, portanto, com o crescimento do reino de Deus. O reino de Deus, embora seja insignificante em seu início, não tenha qualquer parecer ou formosura, a exemplo do Seu introdutor (Is.53:2), uma vez plantado, t

em um crescimento rápido e espantoso, crescimento este que, também, ao contrário das árvores perenes, que perduraram por anos (algumas até por séculos, como é o caso das sequoias e dos carvalhos), é uma instituição que não foi feita para durar, mas para ser, também, rapidamente colhida assim que seu fruto estiver pronto para ser consumido.

 – Desta parábola, portanto, vemos que o reino de Deus surge como alguma coisa insignificante aos olhos humanos.

A obra de Deus não vive de aparência nem deve se preocupar com ela. Os testemunhos, através dos séculos da história da igreja, sempre foram os mesmos: o trabalhar de Deus começou de modo insignificante, totalmente despercebido dos homens, mas teve sempre um crescimento vertiginoso, rápido e inimaginável.

Quem poderia achar que uma pequena reunião, como as que começaram a se realizar na famosa rua Azuza, nos Estados Unidos, iria redundar no movimento pentecostal que existe há pouco mais de cem anos e que está em todo o mundo? 

Quem poderia ver em dois estrangeiros que viam mangas em Belém do Pará, sem saber o que eram, os iniciadores de um movimento como são as Assembleias de Deus no Brasil, pouco mais de 90 anos depois?

Este é o trabalhar do reino de Deus e Jesus nos ensina que assim há de ser até o dia em que se der o final desta dispensação.

 III – A INTERPRETAÇÃO DA PÁRABOLA DO GRÃO DE MOSTARDA

(II): O HOMEM 

 – Mateus e Lucas, ao registrarem esta parábola, trazem uma personagem, além do grão de mostarda, que é o homem que pega o grão e o semeia (Mt.13:31; Lc.13:19), fato que não é mencionado por Marcos.

Este homem, pelo que vemos do registro dos dois evangelistas que o mencionam, é o dono da horta e o semeador.

Isto nos leva a entender que se trata do próprio Senhor Jesus, que, nas duas parábolas precedentes do capítulo 13 de Mateus, identificou-Se como sendo o dono do campo e o semeador.

Como nas parábolas anteriores, Jesus, Ele próprio, disse ser o semeador, o proprietário do campo, não vemos porque, aqui, nesta parábola, não seja Ele também identificado como o homem que é o dono da horta e o semeador, até porque, lembremos,

o contexto do capítulo 13 de Mateus nos dá a interpretação da parábola do joio e do trigo depois do registro das parábolas do grão de mostarda e do fermento, a mostrar, ainda mais, que estas duas parábolas devem ser entendidas no contexto apresentado pelo evangelista.

 – Como se não bastasse o contexto que apresentamos, devemos, também, verificar que, como nos mostram os evangelistas nos capítulos que abordam as parábolas, Jesus sempre explicava aos discípulos o seu significado (Mt.13:11; Mc.4:34),

sendo, pois, razoável pensar-se que, ainda que não tenha havido registro, Jesus tenha, também, interpretado a parábola do grão de mostarda e que tais ensinamentos tenham passado oralmente para a igreja e, de alguma forma, possam ser encontrados nos escritos neotestamentários.

Ora, se assim é, quando vemos que Paulo diz aos coríntios, que havia plantado, mas que o fundamento era Jesus Cristo e que não seja quem tivesse plantado, seja quem tivesse regado, nada era, senão Deus que havia dado o crescimento (I Co.3:6,7), vemos aí mais um ensino que comprova que o lançamento do reino de Deus se dá por Cristo Jesus e por ninguém mais.

 – Este homem, diz-nos o texto sagrado, lançou a pequenina semente na sua horta, ou seja, o grão de mostarda representa aquilo que foi lançado por Jesus no mundo, ou seja, o reino de Deus. Foi esta a pregação de Jesus desde o início do Seu ministério:

“O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no Evangelho” (Mc.1:15).

Lançar o grão de mostarda na horta, portanto, é pregar o Evangelho e, por isso, Jesus, pouco antes de subir aos céus, determinou aos discípulos que pregassem o Evangelho a toda criatura por todo o mundo (Mc.16:15).

A nós, corpo de Cristo, como disse o apóstolo Paulo na passagem há pouco mencionada, incumbe plantar e regar o grão de mostarda, sabendo que o crescimento será vertiginoso porque é Deus quem dá o crescimento, assim como é Deus quem transforma um pequenino grão na maior de todas as hortaliças.

 – O grão de mostarda, em outra ocasião, foi usado por Jesus para outra comparação, desta feita, com a fé.

Em Mt.17:20, Jesus recomenda os discípulos a terem uma fé como um grão de mostarda, passagem que, aliás, é mal interpretada, pois se costuma dizer que se a fé tiver o tamanho de um grão de mostarda,

teremos o suficiente para transpor os montes, quando, na verdade, Jesus, aqui, uma vez mais, retoma a ilustração do grão de mostarda para nos ensinar que a fé é algo que tem condições de crescer vertiginosamente, assim como o pequenino grão dá origem à maior das hortaliças. 

 – Esta comparação de Jesus com o grão de mostarda para nos indicar a fé, serve-nos, também, para entender que é Jesus quem lança no mundo a fé. Por isso, certa feita, o Senhor indagou aos Seus discípulos se, porventura, o Filho do homem acharia fé na terra (Lc.18:8b).

A fé não pode ser produzida pelo homem, tem de ser lançada pelo semeador, pelo homem da parábola do grão de mostarda, que a lançou na horta (Lc.13:19).

A fé salvadora é um dom de Deus (Ef.2:8), vem pelo ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17). Portanto, para que se tenha o início do crescimento do reino de Deus, faz-se necessário, em primeiro lugar, que o grão de mostarda seja plantado, e esta plantação somente se dará mediante a pregação da Palavra de Deus.

 – Por isso, vemos com muita preocupação o desenvolvimento de inúmeros métodos, estratégias e projetos de evangelização que se apresentam nos nossos dias, em que há uma detalhada preocupação do uso de técnicas das mais avançadas, como o uso adequado dos meios de comunicação mais modernos,

a elaboração de programas de marketing e de mecanismos de persuasão, que chegam, inclusive, ao requinte da neurolinguística e outros instrumentos retirados da tecnologia e da ciência, mas que, infelizmente, deixam de lado o essencial, que é o lançamento do grão de mostarda, ou seja, a pregação do Evangelho, a divulgação da Palavra de Deus.

Sem dúvida, esta pregação, esta divulgação não tem aparência, não tem o requinte tecnológico, não tem a erudição e o conhecimento acumulado em tantas pesquisas e experimentos.

É o insignificante e pequenino grão de mostarda, mas é só ele quem irá se transformar na maior das hortaliças.

O reino de Deus, disse Jesus, é como o grão de mostarda e o homem só semeia este grão, o resto, para usar uma expressão bem popular, é o resto, não foi objeto de qualquer preocupação por parte do semeador, que tão somente vela para que a Sua Palavra se cumpra (Jr.1:12).

 – Estamos dispostos a lançar o grão de mostarda na horta? A Bíblia diz que temos de ser imitadores de Cristo (I Co.11:1). Paulo, nesta passagem, diz que imitou Jesus e, com efeito, quando lemos I Co.3:6, vemos que, efetivamente, o apóstolo plantou o grão de mostarda.

O grão de mostarda, como vimos supra, é, na espécie mais conhecida, de cor negra, sem qualquer beleza exterior e que tem um gosto azedo, picante, que só se tornará a conhecida “mostarda” dos nossos hot-dogs depois de devidamente misturada com sal, vinagre e outras plantas aromáticas.

Assim é o Evangelho que temos de pregar: simples, insignificante, que é azedo, ou seja, incomoda e nos obriga a mudar de vida, mas que nos permitirá ter um crescimento espiritual inigualável e nos levará para as mansões celestiais,

não só a nós mas a tantos quantos se arrependerem de seus pecados (aliás, por ser acre é que o evangelho leva o homem ao arrependimento e confissão de seus pecados, o primeiro passo para a salvação).

 IV – A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA  DO GRÃO DE MOSTARDA

(III): A ÁRVORE

 – Diz Jesus, na sequência da parábola que, uma vez semeado o grão de mostarda, ele cresce e se torna a maior das hortaliças. Já vimos que esta consideração deve ser entendida em termos relativos, já que a mostarda não é, mesmo, “a maior das plantas” (Mt.13:32).

O entendimento das expressões, que foram dadas em meio a uma parábola e que devem, portanto, ser consideradas figuradamente, parece ser mesmo

“…o desenvolvimento do reino (ou a influência ou propagação da igreja), que teve começo insignificante, segundo os padrões do mundo, sem contar com qualquer autoridade religiosa ou política e com poucos discípulos verdadeiros, mas que, afinal, conseguiu alcançar notável posição no mundo, e exercer grande poder.

O grão de mostarda ilustra o desenvolvimento que ultrapassa as expectativas…” (CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v.1, com. Mt.13:32, p.407).

OBS: “A mostardeira é uma hortaliça que pode atingir certo tamanho. Há exagero em dizer que sua semente é a menor de todas as sementes, embora a expressão pequeno como um grão de mostarda tenha virado provérbio:

 hiperbólica [hipérbole é uma figura de linguagem que se caracteriza pelo uso do exagero para se enfatizar uma idéia, observação nossa] é também a menção da árvore, onde os pássaros vem fazer ninhos.” (BÍBLIA – TRADUÇÃO ECUMÊNICA, nota q, p.1884).

– A “árvore”, portanto, não é senão a mostarda em sua idade adulta, próxima à colheita que, no Oriente, era anual, assim como ocorria com o trigo e o joio, da parábola precedente, se nos basearmos no capítulo 13 de Mateus.

Jesus quer enfatizar que, apesar de ter tido um início insignificante, a mostarda cresceria a ponto de causar admiração a todos os homens.

O crescimento do reino de Deus, embora seja algo de natureza espiritual, algo que não é feito por mãos de homens, pois é Deus quem dá o crescimento, como explica o apóstolo Paulo, é um crescimento que é notado pelos homens.

 OBS: “…Na Galilea, a mostarda era plantada nos campos. Crescia até a altura de 3m ou 3,5m…” (CHAMPLIN, R.N. op.cit., v.2, com. a Lc.13:19, p.139).

 – O fato de se apresentar a mostarda como “árvore” é, sem dúvida, a demonstração de que o reino de Deus cresce a ponto de ser notado pelos homens.

O reino de Deus não é deste mundo, mas se faz sentir neste mundo. Por isso, Jesus disse que Seus discípulos seriam sal da terra e luz do mundo.

O sal, normalmente invisível e imperceptível aos olhos, é sentido quando os alimentos são mantidos conservados ou quando são ingeridos. A luz, de igual modo, não pode ser escondida, mas acaba iluminando o ambiente que está à sua volta.

OBS: “A parábola da semente de mostarda ensina a grandiosidade destinada ao Reino. O Reino realizado por Jesus agora parece insignificante, mas sua grandiosidade será aparente em sua consumação no final dos tempos.” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, com. Mt.13:31-32, p.967).

 – Os filhos do reino são como luz e como sal e, por isso, o reino de Deus é como a mostarda, que, apesar de nem sequer ter sido notada quando foi plantada, em virtude do grande desenvolvimento que teve, passa a ser sentida e observada por todos que estão ao seu redor.

Esta é uma realidade que até mesmo os maiores adversários da doutrina cristã tiveram de reconhecer ao longo da história. Karl Marx, o principal teórico do marxismo-leninismo, popularmente conhecido como “comunismo”,

que chegou a dominar boa parte do mundo no século XX, em seus escritos, dizia que a doutrina cristã tinha sido a responsável pelo desmoronamento de todo o sistema social da Antiguidade, pois, ao defender que todos os homens eram irmãos, teria fulminado a instituição da escravatura, conseguindo destruir um “modus vivendi” que já durava milênios na história da humanidade.

 – É inegável a influência que a doutrina cristã, que a Palavra de Deus, que o grão de mostarda realizou, não só no Ocidente, que é dito cristão, como no mundo todo.

Se formos verificar os principais postulados e princípios observados pelo mundo como valores morais, espirituais, sociais, políticos e econômicos que são considerados como os que devem ser perseguidos mundo afora, perceberemos, sem muita dificuldade, a nítida influência do cristianismo.

OBS: “…Rodney Stark afirma ainda que o cristianismo modulou as diferenças de classe e de sexo que eram tão gritantes na Antigüidade.

O uso do ‘irmãos em Cristo’, proferido mutuamente por nobres e escravos, homens e mulheres, não era mera retórica.

Desses costumes nasceram a solidariedade e a noção de assistência social (além de um embrião de democracia popular), que hoje é tão cara ao mundo civilizado. Foram os cristãos – ainda na condição de proscritos – os fundadores dos primeiros hospitais e asilos.

Quando o cristianismo já era a religião oficial do Império (…) fez do assistencialismo uma prioridade, empregando as doações dos poderosos para criar um ambiente de estabilidade social que os próprios governantes não eram capazes de proporcionar Acima de tudo, porém, o cristianismo trouxe uma nova moral a um mundo saturado de crueldade casual e de paixão pela morte alheia, nas palavras de Stark.

Uma moral que conferiu aos homens sua humanidade e na qual a virtude é a sua própria recompensa – sob cuja égide ainda vivemos, independentemente de crença, e que ainda estamos muito longe de alcançar plenamente. Esta aí uma prova cabal de modernidade.” (BOSCOV, Isabela. As faces de Jesus. Veja, ano 35, n.51, edição 1783, 25 dez. 2002, p.95).

 – A mostarda crescida, portanto, é a aparência do reino de Deus diante dos outros, diante do mundo, entendido o mundo aqui como sendo aqueles que não pertencem ao reino de Deus, aqueles que ainda não entraram no reino de Deus, que não nasceram da água e do Espírito (cfr. Jo.3:5). As pessoas que estão “do lado de fora” apenas percebem a grandeza da mostarda, verificam a grandeza de seus ramos e a sua qualidade de trazer sombra (Mc.4:32).

 – Os ramos da mostarda remete-nos a outra ilustração de Cristo, desta feita, em João 15, em que Jesus Se compara com a videira verdadeira e os Seus discípulos, aos seus ramos (Jo.15:5).

Os ramos, então, representam os discípulos de Jesus, os “filhos do reino”, a “boa semente”, o que foi semeado em boa terra, ou seja, aqueles que estão produzindo o fruto do Espírito (Jo.15:2). Este fruto do Espírito tem imensas repercussões na vida no mundo,

porque são ações que se constituem em boas obras, que redundam na glorificação do nome do Senhor, reconhecido, então, como o Pai, como o responsável por este reino (Mt.5:16).

 – Os servos do Senhor são os grandes ramos da mostarda, ramos que são vistos e percebidos como pessoas que estão em um abrigo, que estão debaixo da sombra do Onipotente e desfrutam do Seu descanso (cfr. Sl.91:1) para os que estão desalojados, sem rumo nem direção, que são verdadeiras ovelhas desgarradas sem pastor, que andam de um lado para outro(cfr. Mt.9:36). 

 – Jesus nos ensina aqui que o reino de Deus acaba se fazendo perceptível aos homens, ainda que eles não ingressem nele por meio do novo nascimento. Este crescimento aparente traz problemas, como veremos a seguir, mas existe e é resultado da ação divina, que é o responsável pelo crescimento.

 – Há uma linha de interpretação da parábola que vê na expressão de Jesus de que a mostarda se fez árvore (Mt.13:32; Lc.13:19) uma  alusão ao desvio espiritual experimentado por parte da cristandade a partir do terceiro século da era cristã, que originou o chamado “cristianismo apóstata”, que tem na Igreja Romana a sua maior expressão.

Esta linha interpretativa não é nova, mas encontrou um grande defensor, ultimamente, em Watchman Nee, o ideólogo da chamada “igreja local”. Nee, em suas notas da sua Versão Restauração da Bíblia Sagrada, vê nas sete parábolas do capítulo 13 de Mateus uma estrutura similar às sete cartas de Jesus às igrejas da Ásia, nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse, cartas estas que interpreta historicamente, como sendo períodos da história da Igreja.

A parábola do grão de mostarda corresponderia, assim, à igreja de Pérgamo, que seria a igreja a partir do final das perseguições romanas, no reinado de Constantino.

 – Os defensores desta corrente de pensamento insistem que a mostarda é uma hortaliça, é um arbusto e que, portanto, jamais poderia se tornar uma árvore.

Se Jesus disse que ela se fez árvore, é porque ela teria violado o princípio da frutificação, degenerando, deixando de ser a mostarda, para se tornar um outro ser, deixando de ser o reino de Deus para se tornar uma instituição humana desviada.

Não vemos, porém, que a parábola nos permita tal entendimento. Em primeiro lugar, uma distinção entre hortaliça e árvore só se daria no texto de Mateus, não sendo reproduzido este pensamento nos dois outros evangelhos sinóticos, o que torna o trecho isolado, para que se chegue a esta conclusão.

Em segundo lugar, há uma evidente confusão, neste pensamento, entre o reino de Deus e as instituições humanas que assumiram para si a exclusividade da representação do corpo de Cristo, o que, entretanto, não tem qualquer confirmação bíblica e que os próprios católicos romanos, desde o Concílio Vaticano II, ainda que timidamente, não parecem mais aceitar.

Em terceiro e último lugar, porque esta associação entre desvio espiritual e institucionalismo está no cerne das doutrinas apresentadas por Watchman Nee com a sua “igreja local”, o que põe sob suspeita este viés interpretativo, pelo menos em relação a ele.

OBS: A própria Igreja Romana, apesar de um certo recuo através do documento Dominus Jesus, datado de 2000, reconheceu a possibilidade de o povo de Deus não se circunscrever à instituição eclesiástica com sede em Roma, como se verifica deste trecho do decreto Unitatis Redintegratio, o principal documento sobre o ecumenismo do Concílio Vaticano II, que é de 1964:

“Portanto, mesmo as Igrejas e Comunidades separadas, embora creiamos que tenham deficiências, de forma alguma estão destituídas de significação e importância no mistério da salvação.

O Espírito Santo não recusa empregá-las como meios de salvação, embora a virtude desses derive da própria plenitude de graça e verdade confiada à Igreja católica…” (Unitatis Redintegratio, nº 3).

Se a própria Igreja Romana, que inventou esta assimilação entre reino de Deus e instituições humanas, não mais acredita nisto, por que nós haveríamos de acreditar?

 V – A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA

(IV): AS AVES DO CÉU

 – Na continuidade da parábola, Jesus informa que, por causa da aparência do reino de Deus, que é a mostarda adulta, o arbusto maior, a maior das hortaliças, aquela que teve o maior crescimento relativo, a ela vêm as aves dos céus, buscando ali abrigar-se ou aninhar-se (Mt.13:32; Mc.4:32; Lc.13:19).

 – Grande discussão tem surgido com relação à identificação destas aves do céu. Entendem alguns que estas aves dos céus representam as pessoas que, pelo exemplo dos salvos, pelo testemunho dos filhos do reino, se agregarão ao reino de Deus,

visto que perceberão a grandeza dos ramos e a sombra do Onipotente. Chegarão, portanto, como aqueles convidados por Jesus, a fim de encontrar descanso e alívio para as suas almas, já que cansados e sobrecarregados pelo fardo do pecado.

 – Os que assim pensam, entendem que, nas outras passagens bíblicas em que árvores foram consideradas como reinos, as aves sempre foram identificadas com os povos da Terra.

No sonho de Nabucodonosor, o rei foi comparado a uma árvore e as aves dos céus e os animais do campo que estavam sob esta árvore foram interpretados por Daniel como sendo os povos que estavam sob o domínio babilônico (Dn.4:22). Em Ez.31, a Assíria é comparada a um cedro e as aves do campo que se aninhavam nele aos povos que estavam sob seu domínio (Ez.31:6,12).

Por isso, entendem estes que, com relação às aves dos céus, “…mui provavelmente, isso significa, do ponto de vista simbólico, que os ‘gentios’ serão recolhidos dentro do reino…” (CHAMPLIN, Russell Norman. op.cit., com. Lc.13:19, v.2, p.139).

Esta é uma interpretação particularmente cara aos segmentos que creem que o mundo todo se converterá e só então virá o fim, como é o caso dos amilenistas e dos pós-milenistas na escatologia.

OBS: Não é, pois, surpreendente a seguinte nota da Bíblia Sagrada-Edição Pastoral (versão católico-romana), que procura explicar a parábola do grão de mostarda:

 “…Diante das estruturas e ações deste mundo, a atividade de Jesus e daqueles que o seguem parece impotente, e mesmo ridícula. Mas ela crescerá, até atingir o mundo inteiro…” (com. Mc.4:30-34, p.1286) (grifo nosso).

 – Existe, porém, uma outra linha de pensamento que procura entender as aves dos céus no contexto das parábolas do reino de Deus, ou seja, dentro da narrativa do capítulo 13 de Mateus.

Segundo esta interpretação, as aves dos céus são o maligno, assim como se verifica na parábola do semeador, em que as aves que comeram a semente à beira do caminho são identificadas por Jesus como sendo o maligno (Mt.13:4,19).

As aves dos céus que se aproximam da mostarda, portanto, não são pessoas que se convertem, como a linha interpretativa anterior, mas o próprio inimigo que, aproveitando-se do crescimento do reino de Deus, dele tira proveito e, o que é mais grave, procura aninhar-se, isto é, estabelecer casas e ter espaço dentro da área que seria, primeiramente, abrangida pelo reino de Deus.

 – Quando Jesus anunciou o surgimento da Igreja, que é o povo que forma o reino de Deus aqui na terra, que é a própria agência do reino de Deus, logo após ter dito que Ele próprio a edificaria, já foi logo dizendo que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela (Mt.16:18),

como a indicar que a igreja teria sempre a incômoda companhia opositora do inimigo e de suas hostes espirituais, a ponto de Paulo dizer que nossa luta seria contra estes seres (Ef.6:12), bem como resumir toda a sua vida cristã como um bom combate (II Tm.4:7).

Isto, dentro do que já falamos a respeito dos critérios que devemos seguir na interpretação das parábolas, dá-nos condição para entender que os escritos neotestamentários se coadunam com o pensamento de que as aves dos céus signifiquem o maligno, corroborando, assim, com o contexto do capítulo 13 de Mateus.

 – As aves dos céus, como reconhece a linha de interpretação anterior, simbolizam os gentios.

Ora, sabemos que os gentios são, precisamente, as nações que, desde Babel, se rebelaram contra Deus e se puseram sob o domínio do pecado.

Os gentios são, exatamente, aqueles que não se convertem a Deus e que fazem parte deste sistema mundial que somente será destruído por ocasião da derrota do Anticristo e do Falso Profeta no Armagedom.

Deste modo, como são filhos da desobediência, verdadeiros filhos do diabo, vemos até como filigrana a discussão de alguns no sentido de identificar estas aves como pessoas sob o domínio do diabo ou com o próprio diabo e seus anjos.

Podemos dizer que as aves simbolizam tanto uns quanto outros, pois, quando as pessoas agem sob o influxo de Satanás, é como se o próprio Satanás esteja agindo, como, aliás, bem demonstrou Jesus no episódio em que Pedro foi usado pelo diabo (Mt.16:22,23), episódio, aliás, que ocorreu pouco depois de Jesus ter dito que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja.

 – Oportunista por excelência, o diabo usa do próprio crescimento do reino de Deus para tentar destruir a obra de Deus.

 Seu trabalho é matar, roubar e destruir (Jo.10:10), não medindo esforços para tentar cirandar com os servos de Deus (Lc.22:31). Ele está sempre rugindo como leão buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8).

 O diabo é nosso adversário e, por isso, é chamado de “Satanás”, que, em hebraico, significa “adversário”.

O próprio crescimento da obra de Deus é uma oportunidade que, se não vigiarmos, será criada pelo diabo para criar ninhos no meio do povo de Deus e ali estabelecer suas cidadelas, seus agentes, de modo a trazer confusão e prejuízo ao reino de Deus.

 – Na própria história da Igreja, temos visto isto acontecer. O desvio espiritual que gerou o “cristianismo apóstata” é produto direto do crescimento do reino de Deus.

O final da perseguição, o reconhecimento da liberdade de culto para os cristãos no Império Romano, que era um nítido triunfo, uma bênção para o reino de Deus, transformou-se em uma armadilha na qual, cedo caíram muitos que, embriagados pelo poder terreno,

acabaram por permitir a entrada indiscriminada no paganismo no meio do reino de Deus, a ponto até de o bispo de Roma ter se tornado o sacerdote supremo do culto babilônico!

O resultado é o que vemos hoje, um “cristianismo” que segue dogmas, festas e preceitos totalmente dissociados dos ensinos da Palavra de Deus, Palavra esta, aliás, que chegou a ser um dos “livros proibidos” nos tempos negros da Inquisição nas Idades Média e Moderna.

 – Mas não vamos aqui criticar segmentos supostamente cristãos. A grande verdade é que o crescimento do reino de Deus sempre tem gerado o surgimento de ninhos de aves dos céus no meio do povo de Deus, com grandes malefícios para a obra de Deus.

Quando olhamos o nosso país, neste início do século XXI, não podemos deixar de ver a repetição do que aconteceu nos dias de Constantino.

Hoje, o povo de Deus já não é mais tão perseguido como antigamente (ainda que a perseguição velada não tenha diminuído, mas até aumentado sob certos aspectos), mas a arma do inimigo não tem sido mais o uso de fogueiras de bíblias ou as pedras que, décadas atrás, eram atiradas nos pequenos salõezinhos ou humildes templos dos nossos irmãos.

Hoje em dia, o adversário não mais precisa fazer uso destes expedientes, porque já tem grandes ninhos na mostarda adulta, ninhos como os interesses político-partidários de alguns, o mercantilismo de outros, a vida fácil e luxuosa de aqueloutros.

Para muitos, as igrejas locais passaram a ser meio de vida, fonte de sobrevivência, causa de lucro, assim como fora predito nas Santas Escrituras (II Pe.2:1-3).

 – O resultado deste estado de coisas outro não é senão o prejuízo para a obra de Deus, o início da perda de esplendor da mostarda adulta, que, com tantas aves, já não poderá mais se mostrar claramente para aqueles que têm de iluminar e de salgar.

 – No entanto, tomemos cuidado, porque a hora da colheita está chegando e, quando chega a ceifa, as aves, certamente, ariscas como são, baterão em retirada, levando consigo todos aqueles que não tiverem dado fruto, porque se desligaram da planta e se recolheram ao conforto e mordomia dos ninhos.

Estes não serão colhidos, estes não serão alojados no celeiro, mas, juntamente com as aves, a quem está destinado o lago de fogo e enxofre (Mt.25:41), sofrerão eternamente (Mt.13:42).

OBS: “…No entanto, a manifestação atual e visível do reino crescerá até tornar-se grande, organizado e poderoso.

Ele[o reino de Deus, observação nossa] aceitará, nos seus ‘ramos’ (i.e., na sua comunhão) as aves do céu, i.e., elementos malignos que removem as sementes da verdade (ver Mt.13.4,19), onde as aves figuram os agentes do mal. Ver também Ap.18:2, onde a grande Babilônia (representando a igreja apóstata) torna-se morada de demônios e esconderijo ‘de toda ave imunda e aborrecível’…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, nota a Lc.13:19, p.1536).

 VI – A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DO FERMENTO

 (I): A MULHER

 – Como dissemos supra, conquanto a lição do ilustre comentarista do trimestre se restrinja ao estudo da parábola do grão de mostarda, entendemos que seja importante e útil também fazermos algumas considerações sobre a parábola do fermento, que é a quarta parábola do capítulo 13 de Mateus e que, colocada,

assim como a parábola do grão de mostarda, antes da explicação da parábola do joio e do trigo, mostra que se está num só contexto. Como, aliás, afirmou o saudoso Donald C. Stamps, autor das notas e dos estudos da Bíblia de Estudo Pentecostal,

“…a parábola do grão de mostarda e a do fermento, que se lhe segue, completam-se entre si. Falam do crescimento e do mal dentro do atual reino visível de Deus…” (nota a Lc.13.19, p.1536).

Assim, para que não tenhamos um estudo incompleto da parábola do grão de mostarda, faz-se mister estudar, também, a parábola do fermento.

– A parábola do fermento também não teve a sua interpretação registrada no texto sagrado, de modo que teremos de proceder assim como fizemos em relação à parábola do grão de mostarda, ou seja, buscando o contexto em relação às demais parábolas do reino de Deus, bem como os escritos neotestamentários que possam corroborar este entendimento.

 – Aqui, como na parábola do grão de mostarda, Jesus busca uma ilustração para nos fazer entender o que é o reino de Deus.

Diante deste objetivo, vemos, claramente, que a parábola do grão de mostarda e a parábola do fermento têm de ter o mesmo tratamento, têm de ter as mesmas conclusões, pois se trata de um outro modo de Jesus de nos explicar o mesmo fenômeno, a mesma coisa, ou seja, o Reino de Deus.

 – A parábola começa com uma nova personagem, que, até então, não havia aparecido no conjunto da parábola do reino.

Trata-se de uma mulher que, aqui, substitui a figura do homem, do agricultor, que havia se apresentado nas três parábolas precedentes. Watchman Nee vê, nesta mulher, a figura da igreja apóstata, procurando firmar seu entendimento nas passagens bíblicas que identificam o povo de Deus como cônjuge do Senhor, analogia que está presente na Bíblia desde o Antigo Testamento, quando Israel, notadamente no livro do profeta Oséias, é apresentado como a amada adúltera de Jeová, posição que teria sido ocupada pela Igreja apóstata, identificada como a “grande prostituta”, a Babilônia religiosa retratada no livro do Apocalipse (Ap.17).

 

– Esta interpretação não é só de Nee. O teólogo John Nelson Darby, um dos introdutores do pensamento dispensacionalista, assim também entende. Para ele, o crescimento do reino “…não só seria uma grande árvore na Terra, mas (…)um sistema de doutrina que se propagaria por si próprio – uma profissão que abarcaria tudo aquilo que a sua esfera de influência atingisse…” (DARBY, John Nelson.

Estudos sobre a Palavra de Deus: Mateus-Marcos. Trad. de Martins do Vale, p.94). Esta mulher representaria, pois, a “Cristandade”, a igreja apóstata, transformada em uma grande fonte de poder, que contaminaria todo o mundo com a sua doutrina, aqui representada pelo fermento.

 – Há quem entenda, entretanto, que a mulher simboliza tão somente a igreja, ou seja, não é a igreja apóstata, a igreja desviada, mas o verdadeiro povo de Deus, o povo santo.

Para estes, a mulher não apresenta qualquer característica que se lhe permitiria comparar à “grande prostituta” de Ap.17, cuja descrição, aliás, não deixa qualquer dúvida com relação à sua infidelidade, o que não aconteceria aqui, quando é feita a ilustração de uma mulher trabalhadora, que estaria fazendo o pão em sua casa, uma circunstância que é apontada como característica da mulher virtuosa (Pv.31:15).

Veremos, entretanto, que esta corrente de pensamento não pode ser acolhida, ao analisarmos o outro elemento da parábola.

 VII – A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DO FERMENTO

(II): O FERMENTO

 – O segundo elemento da parábola, que é o elemento principal, é o fermento e é aqui que está o principal pomo da discórdia entre as correntes de pensamento a respeito da parábola. O fermento, assim como a mulher, não havia, até então, aparecido no contexto das parábolas do reino e é por causa disto que temos interpretações tão díspares.

 – Para a primeira corrente de pensamento, como afirma Darby, “ …não é necessário acentuar o fato de que a palavra fermento é sempre empregada nas Escrituras num mau sentido…” (op.cit., p.94). Com efeito, quando verificamos o que representa o fermento na Bíblia Sagrada, veremos que ele é sempre símbolo do que não agrada a Deus. Senão vejamos.

 – Na festividade da Páscoa, os judeus tinham de retirar todo o fermento de suas casas, durante todo o período da festa dos pães asmos (i.e., sem fermento) (Ex.12:15,19; 13:7; Dt.16:4).

Explicam os rabinos judeus que a proibição do uso do fermento tem duplo significado: representa uma lembrança de que os israelitas saíram tão apressadamente do Egito que não houve tempo para prepararem pães com fermento para levarem pelo caminho(Ex.12:34,39), como também é símbolo de santidade, pois o fermento é uma substância que corrompe, isto é, muda a natureza do alimento.

– Nas ofertas que deveriam ser apresentadas ao Senhor, era proibido oferecer fermento (Lv.2:5,11).

Esta proibição era explicada pelos rabinos como mais uma demonstração de que o fermento era corruptor, símbolo da corrupção e que, portanto, não poderia ser uma substância que simbolizasse a santidade, a separação do pecado.

“…Segundo a Cabala, a doutrina mística judaica, o fermento representa as imperfeições morais e as tendências negativas do ser humano. Assim como a massa se enche de ar e cresce, assim também o homem se enche de vaidade vazia.

O verdadeiro sentido da eliminação de produtos fermentados nas vésperas de Pessach é uma purificação espiritual do coração e da alma.…”(INTERRELIGO. A Páscoa Judaica. http://www.google.com/search?q=cache:7Npve6qBI4J:www.interreligo.com/public_html/dicionario/P/pascoa_judaica.htm+fermento,+pessach&hl=pt-BR Acesso em 16 fev.2005).

 OBS: A associação do fermento ao pecado, que é o desvio, está, também na consideração de alguns rabinos, que vêem o fermento como a saída do “caminho do meio”:

“…Do ponto de vista alegórico, fermento e mel são dois elementos extremos, e as suas qualidades e sabores são radicalmente opostos um ao outro; isso sugere que extremismos e radicalismos são prejudiciais, e que devemos nos afastar de ambos.

O judeu consciente deve escolher o Derech Hamemutsá, o caminho do meio…” (DIESENDRUCK, Menahem Mendel  . Torá: a Lei de Moisés, nota a Lv.2.11, p.291).

 – É forçoso reconhecer, porém, que, na lei, era permitida a oferta de pães levedados, ou seja, com fermento, nas ofertas de ações de graças (Lv.7:11-13), como também nas ofertas movidas na festa de Pentecostes (Lv.22:17).

A permissão da oferta do fermento nestas duas ocasões é explicada pelo fato de se tratarem de ofertas de agradecimento a Deus, em que todos os elementos existentes na casa do israelita deveriam ser trazidos à presença do Senhor em gratidão.

A oferta de Pentecostes era a oferta das primícias, ou seja, o que primeiro havia sido obtido pelo trabalho do israelita era levado à presença de Deus, como reconhecimento de Sua soberania, e isto, naturalmente, incluía o fermento, que era um componente dos estoques alimentícios do indivíduo.

 – O próprio Jesus identificou o fermento como algo ruim, ao compará-lo à doutrina dos fariseus e saduceus (Mt.16:6; Mc.8:15), doutrina esta que foi criticada pelo Senhor porque era incapaz de discernir os sinais dos tempos (Mt.16:3), que queria ver para crer (Mt.16:1) e,

portanto, era totalmente desacompanhada de fé (fé que foi simbolizada pelo grão de mostarda), compondo-se apenas de legalismo e hipocrisia (Mt.23:2-4; Lc.12:1) ), sem se falar na astúcia política dos herodianos (Mt.22:16-21, Mc.3:6).

 – O apóstolo Paulo também se referiu ao fermento, comparando-o, também, a algo ruim, ao orgulho apresentado pelos coríntios (I Co.5:6), a práticas anteriores à conversão (I Co.5:7), à maldade, à malícia  e à falta de sinceridade e de verdade (I Co.5:8), o que é também repetido com relação aos gálatas (Gl.5:9).

 – Por que, então, somente na parábola do fermento, o fermento teria uma boa conotação?

Não seria isto dar à Escritura uma particular interpretação, contrariando o ensino bíblico a respeito do assunto constante de II Pe.1:20? Parece-nos não ser razoável querer dar a este trecho um entendimento totalmente diverso do papel do fermento no restante das Escrituras.

OBS: Não é este, porém, por exemplo, o entendimento do comentarista da Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, cujo pensamento aqui transcrevemos, embora dele discordemos:

“…Em outras passagens da Bíblia, o fermento é usado como símbolo do mal, do pecado e da impureza.

 Mas aqui é um símbolo positivo do crescimento. Embora o fermento pareça ser um ingrediente sem importância, permeia todo o pão.

Embora o Reino tenha um começo muito pequeno, quase imperceptível, logo crescerá e causará um grande impacto no mundo.” (nota a Mt.13.33, p.1246).

 – Deste modo, não temos senão que concordar com o pensamento de Darby e verificar que, em todas as Escrituras, o fermento é apresentado como algo mau, como algo ruim, como uma doutrina incompatível com a santidade divina, como um sinal de corrupção e de imperfeição.

Por isso, ao vermos que a mulher da parábola punha fermento na farinha, não podemos interpretar isto como uma atitude de mulher virtuosa, mas, antes, como uma ação de quem se rebela contra os mandamentos divinos,

tomando de uma substância que era proibida e com ela “contaminando” a farinha, farinha esta, que não devemos nos esquecer, não passa de trigo moído, ou seja, é a própria “boa semente” da parábola do joio e do trigo, i.e.,

são “os filhos do reino”(Mt.13:38), assim como é o produto da semeadura do semeador, que é a primeira parábola do contexto, e que representa, como sabemos, o que foi semeado em boa terra (Mt.13:23).

Por ter fermento, a mulher não pode, mesmo, representar o povo de Deus, pois quem tivesse fermento na páscoa, deveria ser extirpado do povo (Ex.12:15) e, como Paulo nos explica, nossa páscoa hoje é Cristo(I Co.5:7) e, portanto, não podemos, no tempo chamado Hoje, como nos explica o autor aos hebreus(Hb.4:7), apresentar-nos com fermento diante de Deus.

 VIII – A INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DO FERMENTO

(III): AS TRÊS MEDIDAS DE FARINHA

 – Acabamos de identificar a farinha como sendo o produto do que foi semeado na boa terra, como o trigo que foi ajuntado no celeiro, enfim, como os filhos do reino.

A farinha, portanto, representa o povo de Deus, é ela a figura do reino de Deus, que foi resultado de uma operação divina, que foi a semeadura, mencionada na primeira parábola do capítulo 13 de Mateus, semeadura que produziu o trigo, este mencionado na segunda parábola do capítulo 13 de Mateus, que foi ajuntado no celeiro e que deu origem à farinha.

 – A parábola do fermento diz que a mulher toma o fermento e o introduz em três medidas de farinha.

A primeira observação que temos a fazer é que a mulher traz consigo o fermento, mas não a farinha.

Por isso não podemos entender que se trate de uma mulher virtuosa, pois a farinha não foi produzida por ela, como seria o caso da mulher virtuosa mencionada no livro de Provérbios, mas a sua mercadoria é o fermento.

Ora, os filhos do reino não trazem fermento perante o Senhor. Nas suas ofertas, os virtuosos apresentavam apenas pães sem fermento e sem mel, sendo que o apóstolo Paulo afirma que os genuínos servos do Senhor estão limpos do fermento, apresentando-se com os asmos da sinceridade e da verdade.

Quem conhece a verdade e é liberto por ela (Jo.8:32), quem ouve e compreende a palavra (Mt.13:23), não tem o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia (Lc.13:21).

 – O fermento não representa, como entende a segunda linha de pensamento, o crescimento sadio do reino de Deus.

Segundo os que acham  que a mulher representa a Igreja, o fermento é sinal do crescimento do reino de Deus, simbolizando, aqui, o mesmo que o grão de mostarda.

Assim não entendemos, porém. Jesus diz que a mulher toma o fermento e o introduz em três medidas de farinha.

Estas três medidas de farinha representam, no original, três satos. Ora, “… o sato era uma medida de capacidade para secos.

As estimativas variam entre 7 e 13 litros.” (Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional, nota a em Mt.13.33, p.779), havia, portanto, farinha em muita abundância, dando a idéia, portanto, de totalidade e desnecessidade de acréscimo de fermento para que houvesse crescimento quantitativo. 

 – Como se não bastasse isso, no ritual da páscoa judaica, os pães asmos são divididos em três fileiras, que representam todo o povo de Israel (um representando as tribos de Israel, outro os levitas, que não tiveram herança no meio do povo e uma terceira fileira, representando a família de Arão, ou seja, os sacerdotes).

As três medidas de farinha, portanto, representam a totalidade do povo de Deus, de modo que não haveria o que crescer.

O fermento não é colocado para promover crescimento, pois o povo já está completo, mas, em virtude deste crescimento, é introduzido algo que não pertence à mesma natureza da farinha.

Portanto, como já estava toda a farinha quando chegou a mulher, temos que também o fermento não representa qualquer crescimento qualitativo.

 – Há, ainda, quem entenda que as três medidas de farinha representem a Trindade Divina em ação no meio do povo de Deus.

 “…O Reino dos céus constitui-se, para nós, na presença da gloriosa e inexplicável Trindade de Deus, devemos guardar, em nossos corações, a porção exata de cada Pessoa da Trindade (2 Co.13:33; Ef.1:3-14)…” (Bíblia Vida Nova, com. Mt.13:33, p.21).

Se assim é, o que faltaria para ser acrescentado à farinha ? Logicamente que nada, pois “…Cristo é tudo em todos” (Cl.3:11 “in fine”).

 – Mas Jesus ainda diz que a mulher tomou o fermento e o introduziu (Mt.13:33) ou, na outra passagem, o escondeu (Lc.13:21), verbos que, apesar da diferente tradução, são a mesma palavra no grego e que significam esconder, misturar de modo a não ser notado.

 Ora, sabemos que os filhos de Deus são luz do mundo, ou seja, embora não queiram, acabam iluminando tudo o que está à sua volta.

As coisas feitas por Deus são claras, pois Deus é luz e n’Ele não há trevas nenhumas (I Jo.1:5 “in fine”).

Percebe-se, portanto, que este fermento não pode representar senão a falsa doutrina, senão uma furtiva entrada do maligno no meio do povo de Deus, representando, assim, o mesmo que as aves do céu na parábola do grão de mostarda.

 – Lembremos que o grão de mostarda, que é o que representa o potencial de crescimento no reino de Deus, na outra parábola, é, em outra passagem, comparada à fé, fé esta que é o primeiro passo para a conversão de uma vida, já que o justo viverá pela fé (Rm.1:17b).

Entretanto, em outra passagem, Jesus fala do fermento para identificar a doutrina dos fariseus e saduceus, bem no instante em que fariseus e saduceus pedem um sinal do céu para Jesus, ou seja, quando demonstram não terem fé (Mt.16:1-3).

Através destes ensinos de Cristo, portanto, não temos como considerar que o fermento tenha o mesmo simbolismo do grão de mostarda, mas, bem ao contrário, enquanto o fermento simboliza o maligno, o grão de mostarda é, nesta nova parábola, representado pela farinha, o produto do trigo, o produto do que foi semeado na boa terra. 

 – É interessante observar que na tradição oral judaica, a proibição do uso do fermento durante as festividades da Páscoa foi considerada como restrita aos israelitas.

 Os gentios que vivessem no meio do povo judeu não eram considerados obrigados a esconder ou a remover o fermento.

Entende-se, no Talmude (o segundo livro sagrado do judaísmo) que as disposições da lei de Moisés dizem respeito apenas às casas dos israelitas (Ex.12:15) e às fronteiras de Israel (Ex.13:7), bem como à congregação de Israel (Ex.12:19).

 Isto nos mostra claramente que o fermento é um símbolo de quem não pertence ao povo de Deus, embora possa conviver com ele.

OBS:  “…Os rabis ensinaram: Se um gentio vem para dentro da casa de um israelita na Páscoa com um pedaço de fermento, o israelita não é obrigado a insistir para que o gentio o remova.

Se o gentio, porém, o dera ao israelita para guarda, o fermento deve ser removido. Se um lugar especial, porém, foi providenciado para este fermento, ele não precisa ser removida, porque a passagem apenas diz que “ o fermento não deve ser encontrado em suas casas”.

Onde há um lugar especial providenciado, aquele lugar é considerado como pertencente ao gentio.…( RODKINSON, Michael L.. Babylonian Talmud, t.3, v.5, p.23: tratado Pessachim, cap.1) (tradução nossa de texto em inglês).

 – O fermento não produz um verdadeiro crescimento nas medidas de farinha, mas, sim, um “inchaço”, pois a fermentação nada mais é do que a efervescência gasosa causa pela reação química da ação do fermento, formando áreas ocas e vazias no meio do pão ou do que for fermentado.

Áreas vazias nos levam à vaidade, que é a qualidade de ser vazio e neste processo não há qualquer crescimento verdadeiro, mas apenas uma aparência e nada mais. Alguns têm identificado a ação do fermento como

“…a ação transformada no seio da sociedade…” (Bíblia Sagrada, Edição Pastoral, com. a Mt.13:33, p.1256), mas, na verdade, a ação do fermento é corruptora, deturpadora da natureza da farinha.

OBS: “…Os escritores rabínicos frequentemente usavam o fermento como símbolo do mal e da corrupção hereditária do homem. (Cf. também Ex.12:8,15-20).

Plutarco [filósofo e literato grego, que viveu entre 45 e 125 d.C., observação nossa] reflete este antigo ponto de vista quando descreve o fermento como ‘a própria descendência da corrupção, que corrompe a massa com a qual é misturado’.

Fermentum é palavra empregada por Pérsio [poeta satírico romano, observação nossa] (…) para indicar ‘corrupção’.…” (J.D. DOUGLAS. Fermento. In: O Novo Dicionário da Bíblia, v.1, p.613).

 – Mas, ainda, há uma razão para entendermos que a farinha não poderia ser misturada com o fermento.

A Bíblia diz que o salvo é uma nova criatura em Cristo Jesus (II Co.5:17: Gl.6:15) e que devemos sempre viver em novidade de vida (Rm.6:4).

Ora, o fermento é símbolo da vida velha (I Co.5:7), pois ele se caracteriza por ser uma substância que necessita de tempo para agir, que se desenvolve através do tempo, enfim, que, de certa maneira, está vinculada ao velho, ao que ficou para trás.

Tanto assim é que, na preparação dos pães asmos, os judeus, até hoje, são muito meticulosos, não permitindo que a preparação exceda mais de 18 minutos, a fim de que não se inicie a fermentação da massa. Como atesta, ainda, J.D. Douglas, “…no fabrico do pão, o fermento era, provavelmente, um pouco de massa, retido de um cozimento anterior, que havia fermentado e ficado ácido.…”(op.cit., p.613).

O fermento simboliza, assim, o velho homem, a natureza decaída e em decomposição, vitimada pelo pecado e, portanto, jamais a sua ação poderia ser considerada como algo salutar e apreciável no meio do povo de Deus.

O povo de Deus traz as “boas novas”, isto é, o evangelho, e sua ação não pode ser assemelhada ao fermento, cujo pseudocrescimento se dá mediante a decomposição, o decaimento.

Não nos esqueçamos que os levedos, que causam a fermentação, são espécies de cogumelos, são seres decompositores.

OBS: “…o Espírito Santo quer fazer-nos compreender que não se trata do poder regenerador da Palavra no coração de um indivíduo, trazendoo de novo a Deus, nem tampouco é simplesmente um poder que atua por força exterior, tal como Faraó, Nabucodonosor apresentados como grandes árvores da Escritura.

Mas é um sistema de doutrina que, penetrando por toda a parte, caracterizará a massa. Não é a fé propriamente dita, nem a vida, é uma religião – é a Cristandade. É a profissão de uma doutrina em corações que não suportam nem Deus, nem a verdade, e se ligam sempre ao estado de corrupção da própria doutrina.…” (DARBY, John Nelson, op.cit., p.94-5).

 – Não se pode confundir, portanto, o fermento com o grão de mostarda. Parece-nos que confundir o fermento com o grão de mostarda é quase como que confundir o grão de mostarda com o gás mostarda, que nada tem que ver com a planta mostarda, mas é um composto de enxofre, cloro, carbono, hidrogênio e oxigênio.

O fermento está muito mais para gás mostarda, que é um gás venenoso, de coloração amarelada, do que para grão de mostarda. 

OBS: “…O gás mostarda é uma substância incolor, líquida, oleosa, muito solúvel em água e muito tóxica.

Na forma impura, o gás mostarda se apresenta na coloração amarela[eis a razão pela qual foi chamada de gás mostarda, já que tem a cor semelhante ao tempero mostarda dos nossos hot-dogs, observação nossa].

Este líquido possui grande volatilidade, à temperatura ambiente (25°C), podendo ser utilizado de maneira perigosa, nesta temperatura. Ele é pouco solúvel em água e muito solúvel em gorduras e lipídios.

Este composto é um veneno mortal, que provoca graves ulcerações e irritações na pele, nos olhos e no sistema respiratório, além de lesões neurológicas e gastrointestinais e destruição de tecidos e vasos sanguíneos.

Uma pessoa contaminada com gás mostarda, pode sentir os sintomas em pouco minutos, dependendo da concentração a qual foi exposta…” (MEDEIROS, Miguel A.. Gás mostarda. http://www.google.com/search?q=cache:sVkgvxKefQJ:www.quiprocura.net/armasq/gmostarda.htm+mostarda&hl=pt-BR Acesso em 16 fev.2005). 

 – Vemos, portanto, que, nesta parábola, assim como na do grão de mostarda, Jesus nos ensina que o crescimento do reino de Deus aparecerá a todos, mas, em virtude deste mesmo crescimento, serão introduzidos falsos ensinos, falsas doutrinas no meio do povo de Deus, que gerará, no meio dele, distorção, corrupção e vaidade.

Entretanto, a ação do fermento, apesar de maligna, não gerará senão áreas vazias, das quais devemos nos afastar, a fim de permaneçamos sem mistura com o pecado, pois só os que forem asmos de sinceridade e de verdade herdarão o reino dos céus.

Entretanto, não haverá lugar no reino de Deus que não seja infestado por esta falsa doutrina.

OBS: ”…Este fermento do mal espalhar-se-á em todos os setores da obra de Deus. Ele se acha:

(a) no modernismo, no liberalismo religioso e na Teologia da Libertação, que exaltam o raciocínio humano acima da autoridade das Escrituras(cf. Mt.22.23,29)

(b) no mundanismo e práticas imorais permitidos por certas igrejas e seus líderes (cf. Ap.2,3);

(c) na busca da fama ou do poder dentro da igreja, por homens que se preocupam mais com suas próprias ambições do que com a glória de Deus (cf. Mt.23);

(d) nas falsas doutrinas (cf. Gl.1.9);

(e) nos falsos mestres (cf. Mt.24.11,24) e

 (f) nos cristãos professos, que nunca nasceram de novo (cf. Mt.23; Jd.12-19).

Perto do fim da presente era, esses males se infiltrarão na obra de Deus, através das denominações, das igrejas locais, dos institutos bíblicos, das faculdades de teologia, dos seminários e dos ministérios – todos liberais, até o ponto de o evangelho apostólico do NT e a vida santificada serem coisas raras de se ver…” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, nota a Lc.13.21, p.1537)

 – “…Todo cristão deve tomar cuidado para que o fermento do mal não afete sua vida.

O segredo da vitória contra isso consiste em sempre olhar para Jesus com fé (Hb.12.2,15; Tt.2.13),

em desprezar as coisas do mundo (I Jo. 2.15-17; Tg.1.27),

em permanecer na Palavra de Deus (Jo.15.7; Tg.1.21),

aguardar a volta de Cristo (Lc.12.35-40,

em constantemente ouvir e obedecer à voz do Espírito Santo (Rm.8.12-14; Gl.5.16-18),

em estar disposto a sofrer com Cristo (Rm.8.17) e por Cristo (Fp.1.29),

em lutar contra as formas do mal (I Co.10.6; I Ts.5.15; I Pe.3.11),

em defender o evangelho (Fp.1.17) e

em revestir-se de toda a armadura de Deus (Ef.6.11-18).…”(BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, nota a Lc.13.21, p.1537).

 Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: http://www.portalebd.org.br/classes/adultos/2947-licao-3-o-crescimento-do-reino-de-deus-i

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre Iesus Kyrios

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading