APÊNDICE Nº 2 – MOISÉS E A GLÓRIA DE DEUS
O desejo de Moisés em ver a glória de Deus deve estar presente também em cada salvo na pessoa de Cristo Jesus.
Texto áureo
“Então ele disse: Rogo-te que me mostres a Tua glória” (Ex.33:18).
INTRODUÇÃO
– Como complemento ao estudo do livro de Êxodo, estudaremos a parte final do capítulo 32 bem como os capítulos 33 e 34 daquele livro, que não foram objeto de lição específica do trimestre.
– O desejo de Moisés em ver a glória de Deus deve estar presente também em cada salvo na pessoa de Cristo Jesus.
I – A INTERCESSÃO DE MOISÉS
– Não houve lição específica neste trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical que abarcasse o término do capítulo 32 bem como os capítulos 33 e 34 do livro de Êxodo, motivo pelo qual entendemos ser salutar fazer um sucinto estudo a respeito destas passagens como apêndice ao trimestre.
– Após ter debelado a gravíssima revolta contra Deus proporcionada pelo povo de Israel no episódio do bezerro de ouro, seja destruindo o bezerro e obrigando o povo a tomar água com os resíduos daquele ídolo, para que a idolatria não perdurasse; seja convocando os israelitas fiéis para batalhar ao lado do Senhor, ocasião em que a tribo de Levi se pôs do lado de Deus e matou três mil idólatras, Moisés, entendendo a difícil situação espiritual em que se encontrava o povo, resolveu subir novamente ao monte Sinai para interceder por ele (Ex.32:30).
– Este gesto de Moisés mostra o grande amor que o líder tinha pelo seu povo. Ele havia quebrado as tábuas da lei, em momento de indignação, mas como um próprio gesto profético, que refletia o estado espiritual do povo.
OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos o que diz a respeito o Catecismo da Igreja Romana: “Nesta intimidade com o Deus fiel, lento em irar-Se e cheio de amor (Ex.34:6), Moisés hauriu a força e a tenacidade da sua intercessão. Ele não ora por si, mas pelo povo que Deus adquiriu para Si. Já durante o combate com os amalecitas (Ex.17:8-13) ou para obter a cura de Miriam (Nm.12:13,14), Moisés foi intercessor.
Mas foi sobretudo após a apostasia do povo que ele «se mantém na brecha» diante de Deus (Sl.106:23), para salvar o mesmo povo (Ex.32:1-34:9). Os argumentos da sua oração (a intercessão também é um combate misterioso) irão inspirar a audácia dos grandes orantes, tanto do povo judaico como da Igreja: Deus é amor e, portanto, é justo e fiel; Ele não pode contradizer-Se; há-de, por conseguinte, lembrar-Se das suas ações maravilhosas; está em jogo a Sua glória; Ele não pode abandonar o povo que tem o seu nome.” (§ 2577 CIC).
– Moisés, ao saber que o povo havia quebrado os dois primeiros mandamentos, ainda no monte, já havia intercedido pelo povo, visto que o Senhor queria destruí-lo e havia conseguido demover o Senhor desta atitude, mas, tendo visto com seus próprios olhos o que havia ocorrido, verificou que o caso era extremamente grave.
– Um verdadeiro líder, diante da crise, não foge do problema, mas o enfrenta tal qual ele é e, como líder do povo de Deus, sabe que tem de ir ao encontro do Senhor para buscar não só orientação, mas, também, a misericórdia divina para os que erraram. Moisés havia determinado a matança dos idólatras contumazes, dos que haviam liderado toda aquela tragédia espiritual, mas seu intento não era homicida. O Moisés homicida, que resolvia tudo com violência, não mais existia. Agora o que havia era o “varão mais manso da Terra” (Nm.12:3).
– Temos aqui, de pronto, a verificação da necessidade de um equilíbrio que deve existir nas atitudes de um líder do povo de Deus, daquele que é chamado a presidir sobre a Igreja e que, por isso mesmo, deve agir com cuidado, como recomenda o apóstolo Paulo (Rm.12:8). É preciso extirpar aqueles que fomentam e são as raízes do pecado, mas também é preciso preservar o povo. Ao mesmo tempo em que Moisés mandou matar os idólatras contumazes, não importando se se tratasse de irmão, amigo ou próximo (Ex.32:27), também subiu ao monte para “fazer propiciação pelo pecado do povo” (Ex.32:30).
– Aqui vemos algo interessantíssimo em termos tipológicos. Israel havia quebrado a lei e a própria lei fora incapaz de retirar o pecado do meio do povo. Assim, ao voltar da presença de Deus, Moisés quebrou as tábuas da lei ao pé do monte (Ex.32:19), numa clara demonstração de que a lei é incapaz de salvar o homem. Agora, Moisés sobe ao monte na esperança de propiciar os pecados do povo (Ex.32:30).
– Entretanto, o homem, ainda que seja o “varão mais manso sobre a Terra”, é incapaz de conseguir a propiciação dos pecados do homem. O próprio Moisés não está convencido disto, tanto que apresenta esta sua subida ao monte como uma possibilidade: “porventura farei propiciação por vosso pecado” (grifo nosso).
– No entanto, não era através de um homem que subisse ao monte para buscar a Deus que a humanidade conseguiria se libertar do pecado, mas, sim, por meio de Deus que descesse ao nível do homem, que Se humanizasse é que se alcançaria a propiciação dos pecados. Somente através de Cristo, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas aniquilou-Se a Si mesmo, tomando a forma de homem (Fp.2:5-8), que pudemos alcançar esta redenção e, por isso, é Cristo Jesus a propiciação não só dos nossos pecados, mas os de todo o mundo (I Jo.2:1,2).
– Moisés subiu ao monte e iniciou uma nova intercessão em favor do pecado do povo. Moisés reconheceu que o pecado cometido fora grande, mas pediu ao Senhor que o perdoasse, inclusive dizendo que, se o Senhor não o fizesse, que riscasse seu nome do livro de Deus (Ex.32:30-32).
– Moisés aqui figura o próprio Jesus. Ele, buscando fazer a propiciação dos pecados do povo, inclui-se entre os pecadores. Moisés não havia pecado. Enquanto o povo fabricava e depois adorava o bezerro de ouro, o líder estava na presença de Deus, recebendo as instruções do Senhor para a construção do tabernáculo. Ele estava completamente alheio a tudo o que se fizera, de sorte que não tinha porque se incluir entre os que deveriam ser mortos.
– No entanto, seu amor para com o povo de Israel era tamanho que ele se considerou tão culpado quanto o povo. Se o povo fosse destruído por causa do pecado cometido, Moisés também queria ser destruído juntamente com ele. A expressão de Moisés no sentido de ter seu nome riscado do livro era uma expressão própria de quem fora formado na cultura egípcia. No Egito, cria-se que, em se apagando o nome da pessoa de inscrições, a memória daquela pessoa se perderia, o que significava a própria destruição da pessoa. Por isso, era muito comum que pessoas indesejadas tivessem seus nomes apagados das inscrições, como mostram os arqueólogos e os egiptólogos.
– Moisés pôs-se no lugar do povo que havia pecado, assumindo a sua culpa, tendo compaixão, ou seja, sentindo o mesmo que o outro. Este sentimento é fundamental para quem quer ser um intercessor. É por isso que nosso intercessor diante de Deus é o Senhor Jesus, que participou da nossa humanidade, exatamente para sentir o que sentimos, para ter eficácia e eficiência em Seu ministério de intercessão (Is.53:12; Hb.2:10-18; 4:15).
– No entanto, Moisés não pôde fazer a propiciação pelos pecados do povo. O Senhor, ao ouvir a sua oração, disse-lhe que somente riscaria do Seu livro aquele que pecasse contra Ele, o que não era o caso de Moisés. Cumpria a Moisés não a propiciação dos pecados do povo, mas, sim, conduzir o povo para Canaã, sendo que o Seu anjo iria adiante dele, mas, no dia da Sua visitação, visitaria o pecado do povo (Ex.32:33,34).
– Deus feriu o povo por causa daquele pecado (Ex.32:35), ferida esta que alguns estudiosos consideram ser algo contínuo, que sempre sobrevém ao povo de Israel ao longo da história, como uma prova de que o pecado não foi extirpado do meio dos israelitas, de que a lei é incapaz de libertá-los do pecado e das penas subsequentes à sua prática.
– Somente com Jesus Cristo, o pecado do mundo é tirado (Jo.1:29). Somente com Jesus Cristo, podemos ser libertos do pecado (Jo.8:36). Somente com Jesus Cristo, podemos receber a promessa que Deus deu a Abraão, tornando-nos sua descendência e, portanto, uma bênção sobre a Terra (Gl.3:27-29). Por isso, o próprio Senhor Jesus disse que os judeus de Seu tempo não eram descendência de Abraão, mas, sim, descendência do diabo, visto que O rejeitavam (Jo.8:37-44).
– Tanto a lei quanto o ser humano, por melhor que este seja, não têm condição alguma de remover o pecado e alcançar a redenção diante de Deus. Moisés não conseguiu impedir que o pecado gerasse suas trágicas consequências no meio do povo de Israel. Não era sua a função de obter a propiciação dos pecados do povo. Isto ficaria para o outro profeta como Moisés que se levantasse entre os israelitas (Dt.18:15-18).
– Moisés revela a vinda deste novo profeta quando se encontrava despedindo do povo, nos seus últimos discursos, que compõem o livro de Deuteronômio, mas, pela sua própria expressão, nesta revelação, parece-nos que ele a obteve quando estava no monte Sinai, seja quando subiu ao monte para receber o “código da aliança” (Ex.20:21), seja quando subiu ao monte para receber as instruções sobre o tabernáculo (Ex.24:12-18), seja nesta vez, quando subiu ao monte para interceder pelo povo (Ex.32:30).
– Temos mais um exemplo bíblico cristalino que nos mostra que a lei é incapaz de obter a salvação para o homem e que, por isso mesmo, não podemos utilizá-la como critério de salvação. Moisés não foi capaz de obter a propiciação dos pecados do povo. Em que pede a sua intercessão, Deus feriu o povo.
II – MOISÉS, ISRAEL E A PRESENÇA DE DEUS
– Após o Senhor ter se negado a fazer propiciação pelos pecados do povo de Israel pela intercessão de Moisés, o Senhor manda que Moisés guiasse o povo até a terra de Canaã, a fim de que se cumprisse a promessa que Deus havia dado a Abraão, Isaque e Jacó (Ex.33:1).
– O Senhor, apesar da infidelidade do povo de Israel, não havia Se esquecido de Suas promessas. O povo, num curto espaço de noventa dias, já havia se mostrado incapaz tanto de receber a promessa de Abraão, como também de cumprir a lei, que fora dada como um remédio, um paliativo diante da incredulidade do povo. No entanto, Deus continuava comprometido com a promessa dada há quatrocentos e trinta anos para Abraão. Este é o Deus a quem servimos, um Deus que permanece fiel mesmo quando somos infiéis a Ele, pois não pode negar-Se a Si mesmo (II Tm.2:13).
– É preciso aqui sempre lembrarmos que as promessas de Deus têm natureza variada. Algumas são incondicionais, ou seja, não depende de qualquer evento para que se realizem. Era o caso da promessa que o Senhor havia dado a Abraão. O Senhor disse ao patriarca: “À tua semente darei esta terra” (Ex.12:7); “Porque toda esta terra que vês te hei de dar a ti e à tua semente, para sempre” (Ex.13:15). Notamos, pois, que a promessa feita por Deus não tinha qualquer condição e, por isso mesmo, o pecado do povo não era obstáculo ao seu cumprimento.
– Coisa diversa é a promessa condicional, que, para se realizar, depende de alguma ação humana. Nestes casos, somente há o cumprimento quando o evento se realiza, ou seja, quando ocorre aquilo que o Senhor condicionou. É o caso da permanência de Israel na terra de Canaã, que ficou condicionada à obediência ao Senhor, sob pena de serem os israelitas retirados dela (Dt.28:63-65), o que já aconteceu seja no cativeiro da Babilônia, seja na diáspora após a rejeição de Cristo, diáspora iniciada em 135 e que somente cessou a partir do início do século XX, culminando com a criação do Estado de Israel em 1948.
– O Senhor, então, fazendo Moisés retornar à sua qualidade de condutor do povo e não de propiciador de seus pecados, renova a promessa de que enviaria um anjo diante dele e que lançaria fora os habitantes primitivos de Canaã (Ex.33:2), lembrando que Canaã era uma terra que manava leite e mel (Ex.33:2,3).
– No entanto, o Senhor disse que não iria mais com o povo, mandaria apenas um anjo, visto que o povo era obstinado, a fim de que não fosse Israel consumido no meio do caminho (Ex.33:3).
– Moisés já lhes havia falado que o Senhor lhes chamara de povo obstinado (Ex.32:9) e lhes mandara, inclusive, que tirasse os seus atavios para que o Senhor soubesse o que lhes havia de fazer (Ex.33:5). A retirada dos atavios era um sinal de penitência, uma atitude de humilhação para que se pudesse conseguir a misericórdia de Deus. Os israelitas se despojaram de seus atavios no monte Horebe.
– Há uma grande simbologia na perda dos atavios, que a Bíblia de Jerusalém traduz por “enfeites”; a Bíblia Hebraica, “ornamento” e a tradução utilizada pelo Chumash Kol Menachem, “coroas”. Ao pé do monte Sinai, depois de terem quebrado a lei, os israelitas se despojaram da “realeza”, do “adorno”, do “atavio”, da sua qualidade de “noiva” do Senhor. A lei não lhes possibilitou esta condição, que somente seria readquirida com Cristo Jesus, o noivo que faz com que Sua Igreja se apresente “gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef.5:27), pronta para morar na nova Jerusalém, “adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido” (Ap.21:2).
– É sintomático verificarmos que, no mesmo instante em que Deus diz que não iria mais com o povo, mas enviaria um anjo, determina que o povo se desatavie, se despoje de suas coroas. Quem concede o adorno espiritual para o homem, quem lhe traz bênçãos espirituais é a presença de Deus, ou seja, a própria comunhão que temos em Cristo, que é quem nos abençoa com toda sorte de bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef.1:3). Quem está ligado em Cristo, frutifica e cresce espiritualmente (Jo.15:1- 5).
– O pecado produz o despojamento da condição espiritual favorável diante de Deus. A perda dos atavios ao pé do Sinai mostra-nos que a lei não podia trazer ao povo a presença de Deus, embora, como diga o comentarista bíblico Matthew Henry, seja uma medida que Deus determinou para que o povo de Israel pudesse fazer uso da misericórdia divina. Deus não queria consumir o povo, por isso quis que eles se humilhassem, como também não quis mais ir com o povo, para que não tivesse de aplicar a Sua justiça, que levaria à morte dos filhos de Israel, vez que é este o salário do pecado (Rm.6:23).
– Deus não pode Se fazer presente no meio do povo enquanto houver pecado. A lei não tinha podido tirar o pecado e o povo ainda havia descumprido os dois primeiros mandamentos. Em nosso tempo, em que o sangue de Cristo tira o pecado, não há porque permitirmos este afastamento do Senhor do meio do Seu povo. Basta que, ao pecarmos, busquemos o nosso Advogado, que é a propiciação dos pecados de todo o mundo (I Jo.2:1,2).
– Caso não confessemos e deixemos a prática pecaminosa, infelizmente, o Senhor, que não muda, também se afastará, nem mandará anjo algum para nos levar para a Canaã celestial e estaremos irremediavelmente perdidos. É o que ocorreu com a igreja de Laodiceia, que já havia posto Jesus para fora, tanto que Ele estava a bater na porta, pedindo para entrar novamente (Ap.3:20). Mesmo neste caso, porém, vemos como é grande a misericórdia divina, pois o Senhor não cessa de querer ir ao encontro do pecador para restaurá-lo.
– Muitos estão nesta situação da igreja de Laodiceia, que é aqui tipificada pelos filhos de Israel logo após o episódio do bezerro de ouro. É preciso haver humilhação para que se consiga a restauração espiritual e não se vá à perdição. Sem a presença de Deus, sem a orientação do Senhor, o povo estará desgraçado, ou seja, sem a graça do Senhor (Ap.3:17), pronta para ser vomitada por Cristo no dia do arrebatamento da Igreja. Que Deus nos livre disto, amados irmãos!
– É neste momento da narrativa bíblica que descobrimos que Moisés tinha uma tenda particular para seus encontros com Deus. Moisés tomou a tenda, tenda em que ia buscar à presença do Senhor, tenda esta que ficava fora do arraial (Ex.33:7).
– Quando Moisés ia até a tenda, o povo se levantava e ficava em pé à porta da tenda, olhando para Moisés pelas costas até ele entrar na tenda. E a coluna de nuvem punha-se à porta da tenda e o Senhor falava com Moisés (Ex.33:8).
– Vemos, portanto, como era privilegiada a posição de Moisés em relação aos demais israelitas. Ele tinha comunhão com Deus, buscava a Sua presença e Deus jamais lhe decepcionava, vindo ao encontro do Seu servo naquela tenda.
– Moisés aqui tipifica todo o servo de Cristo Jesus, que, também, deve ter a “sua tenda”, aquele lugar em que se apresenta diante do Senhor e o Senhor lhe vem ao encontro. Jesus disse que Seus discípulos deveriam ter esta “tenda”, que Ele chamou de “aposento”, onde devemos, fechando a porta, orar ao nosso Pai que está em oculto e este Pai, que vê secretamente, nos recompensará (Mt.6:6).
OBS: “…É quase que desnecessário para mim dizer que nenhum homem pode ser alguém que verdadeiramente busque a Deus se ainda tiver qualquer coisa a fazer no arraial do profano. Nós devemos tomar cuidado para que nossas vestes estejam completamente limpas daqueles desejos ardentes da carne e daquelas blasfêmias dos ímpios. Será impossível para você, que busca a Deus, ter comunhão com Deus, enquanto segue a Belial! Você não pode ir para a sinagoga de Satanás e para a sinagoga de Deus ao mesmo tempo; você será um completo tolo se tentar isso; você será um louco se perseverar em tentar isso; você será algo mais do que perdido, se desejar ser salvo enquanto continua num estado tão alienado…” (SPURGEON, Charles.O tabernáculo – fora do arraial, p.2. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols7-9/chs359.pdf Acesso em 29 jan. 2014) (tradução nossa de texto em inglês).
– O povo de Israel era obstinado, havia perdido a comunhão com Deus, mas, quando Moisés ia até a tenda da congregação, levantava-se, ficava de pé à entrada da tenda e olhava Moisés pelas costas, ou seja, era reverente, sabia se comportar quando pressentia, pela ida de Moisés à tenda, que o Senhor viria ao encontro do Seu servo.
– Que bom seria que o povo de Deus, na atualidade, tivesse a mesma reverência, quando se ajuntasse para que o Senhor lhe venha ao encontro. Sim, pois quando há dois ou três reunidos em nome de Cristo, o Senhor estará sempre no meio deles (Mt.18:20). Se um povo obstinado é reverente, como trataremos aqueles que cristãos se dizem ser mas que são irreverentes, que menosprezam ou desprezam a presença de Deus no meio de Seu povo? Pensemos nisto!
– Quando viam que a coluna de nuvem estava à porta da tenda de Moisés, o povo se levantava e se inclinava cada um à porta da tenda, em sinal de reverência e adoração ao Senhor (Ex.33:10), apesar de ser um povo obstinado e de dura cerviz.
– Que fazemos diante da presença do Senhor em nossas reuniões? Que atitude temos quando nossos irmãos estão buscando a presença de Deus em oração antes do início de nossos cultos? Conversamos, comportamo-nos como se Deus não estivesse ali, como se a glória de Deus não estivesse vindo sobre aqueles que O estão invocando? Pensemos nisto!
– Este contato direto que Moisés tinha com Deus é o que a Bíblia denomina de “fala cara a cara” entre Deus e Moisés. As Escrituras dizem que Deus falava com Moisés como qualquer fala com o seu amigo (Ex.33:11) e é por ter este contato tão íntimo com o Senhor que é dito pelo escritor aos hebreus que Moisés era fiel em toda a sua casa , como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar (Hb.3:5).
– Tal posição de Moisés foi singular entre os filhos de Israel, não somente nos seus dias, mas em toda a história do povo de Israel, pois a nenhum profeta o Senhor Se revelou, na antiga aliança, desta maneira, mas tão somente a Moisés (Nm.12:6-8; Dt.34:10-12). Israel não quis ter este contato com o Senhor, preferindo que isto se desse apenas com relação a Moisés e assim se fez (Ex.20:19).
– Moisés tinha um lugar particular, a sua tenda, para buscar a presença de Deus. Isto nos ensina que devemos sempre ter um “aposento”, um local onde, distante de tudo e de todos, tenhamos nossos momentos a sós com o Senhor. É preciso termos uma comunhão individual com o Senhor, é absolutamente necessária uma vida devocional individual. Como estamos nos relacionando com Deus?
– Moisés punha a sua tenda fora do arraial, num lugar retirado, longe da agitação do povo. Fora do arraial, também, foi que o Senhor Jesus derramou o Seu sangue por nós na cruz do Calvário e é fora do arraial que o Senhor quer que levemos o Seu vitupério (Hb.3:11-13).
– Quem quer buscar a presença de Deus precisa sair do arraial, precisa romper com os valores e princípios do mundo e ter a coragem de levar sobre si aquilo que é determinado por Deus, fazer a Sua vontade. Somente assim teremos comunhão com o Senhor e poderemos ir ao Seu encontro.
– Embora fosse reverente, o fato é que o povo de Israel se mantinha de longe, não queria se aproximar de Deus. A exceção era Josué, que a Bíblia diz que jamais se apartava do meio da tenda, ou seja, mantinha-se o mais próximo que podia. Não é por outro motivo que ele será o único que entrará com Moisés nela, quando foi escolhido para suceder o líder (Dt.31:14). Na vida de Josué, cumpriu-se o que é dito por Tiago, de que se nós nos chegarmos a Deus, Deus Se chegará a nós (Tg.4:8). É sempre bom nos aproximarmos do Senhor (Sl.73:28).
– Em nossos dias, não podemos proceder de modo diferente. Moisés estava na dispensação da lei, mas buscava a presença de Deus, sendo correspondido pelo Senhor, tanto que era tratado não como servo, mas como amigo (Ex.33:11).
– O Senhor Jesus, também, não nos trata como servos mas como amigos (Jo.15:15) e, por isso mesmo, temos toda a liberdade para buscar a Sua presença, e de modo muito mais intenso que Moisés, visto que estamos na dispensação da graça, período em que o pecado foi tirado e não há mais qualquer obstáculo para entrarmos no trono da graça e no santuário celestial (Hb.4:16; 10:19-23).
– A questão é se queremos buscar a presença do Senhor e estamos dispostos, para isso, a sair do arraial e a irmos ao encontro do Senhor, o que nos exigirá santificação. Hoje não temos pessoas, como Josué, que estão num processo de aproximação de Deus, mas, bem ao contrário, num processo de apostasia, de desvio espiritual. Tomemos cuidado, amados irmãos, e tracemos uma trajetória de aproximação contínua do Senhor. Só assim garantiremos a nossa entrada na Terra Prometida. Não é à toa, aliás, que Josué tenha sido, ao lado de Calebe, um dos únicos que entrou em Canaã.
III – DOIS PEDIDOS DE MOISÉS
– Dentro desta intimidade singular que tinha Moisés com o Senhor, o legislador pediu a Deus que não deixasse o povo desamparado, mas que, em vez de enviar um anjo, como havia dito, que fosse com o povo, que não o deixasse, até como prova de que havia intimidade entre ele e o seu servo que estava à frente de Israel (Ex.33:12,13).
– Por primeiro, este diálogo entre Deus e Moisés revela como, realmente, Deus tratava a Moisés como um amigo e com ele falava nesta qualidade. O amigo de Deus tem liberdade para questionar o Senhor, para pedir-lhe o que quer, para descobrir o seu coração diante d’Ele.
– Quando o texto sagrado diz que Moisés disse ao Senhor que o Senhor lhe dissera que o conhecia por nome e que achara graça aos Seus olhos, está a nos dizer qual é o tipo de relacionamento que deve haver entre o Senhor e Seus servos.
– Moisés, em plena dispensação da lei, mesmo que estivesse na qualidade de medianeiro, era conhecido por Deus por nome, ou seja, havia integral intimidade entre Deus e Moisés, pois conhecimento, como sabemos, na cultura hebraica, significa intimidade, envolvimento, comprometimento. Como diz Agostinho: “…Deus conhecia Moisés entre todos, porque Moisés entre todos era agradável a Deus…” (Sobre o Heptateuco, n.2152. Livro II – questões sobre o Êxodo. Citação de Ex.32:35-33:6. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 jan. 2014) (tradução nossa de texto em francês).
– Nós, como servos de Deus na pessoa de Cristo Jesus, também temos de ter um integral envolvimento com o Senhor. Para todas as igrejas da Ásia Menor, o Senhor Jesus sempre Se dirige aos pastores dizendo que sabia as suas obras (Ap.2:2,9,13,19; 3:1,8,15) e, ainda em Seus ministério terreno, fez questão de dizer que conhecia Suas ovelhas e era delas conhecido (Jo.10:14).
– Em virtude deste conhecimento, desta intimidade, deste comprometimento que há entre Deus e os Seus servos, é que podemos nos chegar a Ele com ousadia (Hb.10:19), com confiança (Hb.4:16), em pureza e inteira certeza de fé (Hb.10:22). É o estado que Jesus diz ser de Seus discípulos no diálogo com o Senhor (Jo.15:7,16).
– Para se ter este grau de comprometimento e de liberdade, porém, é absolutamente necessário que se busque a presença do Senhor, como estava a fazer Moisés; que se se mantenha fora do arraial, como estava a fazer Moisés; que se se mantenha em santidade, como estava a fazer Moisés.
– Por ter intimidade com Deus, Moisés lhe pediu que não o deixasse só. Ele não conhecia aquele que o Senhor enviaria para estar diante do povo, como conhecia ao Senhor, que havia, inclusive, feito Moisés conhecer o Seu nome, algo que jamais ocorrera antes (Ex.6:3). Moisés queria que o próprio Deus o guiasse, como também lhe fizesse saber o caminho (Ex.33:13).
– Temos, também, de ter esta mesma preocupação. Temos de conhecer a Cristo, pois Jesus é o Emanuel, ou seja, o Deus conosco (Mt.1:23; 28:20). Temos, também, de conhecer a Cristo, pois Ele mesmo é o Caminho (Jo.14:6), pelo qual nos guiará o Espírito Santo, que foi enviado para que glorifiquemos o Senhor Jesus (Jo.16:13,14).
– Quantos, na atualidade, não estão tendo uma vida espiritual displicente, irresponsável, não se questionando se Deus está, ou não, com eles, se estão, ou não, sendo guiados pelo Senhor em sua peregrinação terrena. Moisés não ousava sair da presença de Deus, não se atrevia a ir para Canaã se Deus não fosse com ele, se não fosse guiado pelo Senhor, ainda que Deus houvesse dito que mandaria um anjo para realizar tais tarefas. Moisés bem sabia, pelo seu nível de espiritualidade, que não havia como ser exitoso neste mundo sem a companhia, sem a presença de Deus, sem a orientação divina.
– Muitos que cristãos se dizem ser, em nossos dias, creem poder dar cabo de sua peregrinação terrena se forem guiados por exemplos humanos, por intercessões de pessoas que já venceram sua jornada terrena em Cristo (como se fosse possível a comunicação entre vivos e mortos) e muitos por anjos, inclusive os anjos que supostamente seriam escalados especificamente para nos guardar (os chamados “anjos da guarda”). Moisés, em plena dispensação da lei, já nos ensina que ninguém, absolutamente ninguém pode nos guiar e nos ajudar nesta caminhada senão o próprio Deus, o próprio Senhor, que sabemos que Se humanizou na pessoa do Filho, para sempre estar ao nosso lado, ser o nosso Paracleto, ou seja, o chamado a ficar ao nosso lado. Só Jesus Cristo homem pode ser nosso mediador diante de Deus (I Tm.2:4).
– Moisés, usando da intimidade que gozava diante do Senhor, estendeu este pedido ao povo de Israel. Já que estava à frente do povo, pedia que o Senhor atentasse para Israel como Sua propriedade peculiar dentre os povos e, por isso, não o deixasse, mas se fizesse presente no meio do povo, como também o guiasse até Canaã. Moisés não queria a presença de Deus apenas para si, mas também para o povo que liderava e amava. Que exemplo para os líderes de nosso tempo!
– A ousadia de Moisés foi exitosa. O Senhor atendeu ao pedido do Seu servo, dizendo que iria com Moisés e que a Sua presença faria descansar o Seu servo (Ex.33:14). No entanto, isto era pouco para o líder. Ele insistiu que o Senhor fosse também com o povo e, neste sentido, também foi atendido pelo Senhor (Ex.33:16,17). Como Moisés estava em comunhão com Deus, tudo quanto pediu, recebeu (Jo.15:7).
– O Senhor atendeu ao pedido de Moisés e continuou no meio do povo, guiando-o em direção a Canaã. Entretanto, assim como havia dito ao Seu servo, aquela geração foi consumida pelo Senhor no deserto por causa da incredulidade (Hb.3:19).
– Por isso, ao comentar esta passagem, Agostinho afirma que “…Deus, por misericórdia, se afasta de Seu povo e Lhe envia um anjo(…)Profundo mistério que encanta e assombra! Não se dirá que o anjo, tratando com clemência um povo de dura cerviz, sobrepujasse Deus em misericórdia, já que Deus não agiria com graça, se Ele estivesse no meio deles? E, no entanto, é Deus, que, ausentando-Se de qualquer modo do meio de Seu povo, embora Ele não possa em realidade estar ausente de qualquer parte, declara que Ele cumprirá, pelo ministério de Seu anjo, os juramentos que havia feito a seus pais: Ele parece mostrar por isso que se trata disso, não é que eles fossem dignos de Suas benesses, mas porque Ele havia feito promessas para os seus ancestrais, que eram santos. Que significa, então, esta palavra: que Deus não estará com eles, porque eles são de dura cerviz, senão que a humildade e a piedade têm somente direito à Sua misericórdia e bondade?
Quando Deus está com os homens de dura cerviz é para punir e para exercer Sua vingança; quando Ele não está com os maus é que se exerce a Sua misericórdia: isto é o que justifica estas palavras: ‘Esconde a Tua face dos meus pecados’ (Sl.51:9a). Com efeito, se Deus encara o pecado, derruba o culpado: ‘…como a cera se derrete diante do fogo, assim pereçam os ímpios diante de Deus’ (Sl.68:2b)…” (Sobre o Heptateuco, n.2150. Livro II – questões sobre o Êxodo. Citação de Ex.32:35- 33:6. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 jan. 2014) (tradução nossa de texto em francês).
– Por mais íntimo que fosse do Senhor, por mais fiel que fosse, Moisés, por si só, não poderia alcançar a sua salvação, muito menos a do povo. A fé é indispensável para que se agrade a Deus (Hb.11:6), mas o pecado, para ser tirado, exigia algo muito maior, a morte de um justo, de alguém que jamais houvesse pecado, para pagar o preço dos pecados da humanidade.
– Aquela geração, que, por sua incredulidade, havia perdido a oportunidade de receber a promessa de Abraão, também, por sua incredulidade, havia quebrado a lei e, diante disto, não entrou na Terra Prometida, sendo consumida pela justiça divina, com a exceção de Josué e de Calebe.
– A lei não pode salvar e, por isso mesmo, mesmo o conhecimento que Moisés tinha de Deus e a graça que havia alcançado do Senhor não foram capazes de fazê-lo entrar em Canaã, muito menos à sua geração. Somente por Cristo, isto pode ser alcançado pelo homem. Tanto assim é que o próprio Moisés, por Cristo, pôde pisar, milênios depois, seus pés em Canaã, no monte da Transfiguração (Mt.17:3; Mc.9:4; Lc.9:30).
– Mas, além de pedir que o Senhor não deixasse Israel, Moisés, ainda, dentro da sua ousadia, pediu também que o Senhor lhe mostrasse a Sua glória (Ex.33:18), o que Charles Spurgeon afirmou ser “…a maior petição que um homem já fez a Deus…” (Uma visão da glória de Deus, p.1. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols52-54/chs3120.pdf Acesso em 29 jan.2014) (tradução nossa de texto em inglês). Este pedido de Moisés já nos mostra que, embora Moisés tivesse sido chamado para entrar na nuvem da escuridade que havia no monte Sinai (Ex.20:21; 24:2,18), esta sua posição não era tal que lhe permitisse vislumbrar a glória do Senhor.
– Temos aqui mais uma evidência bíblica de que o relacionamento estabelecido entre Deus e Israel era inferior não só ao que Deus tinha com Abraão, como também ao relacionamento que agora temos com o Senhor, por intermédio de Cristo Jesus. Enquanto Moisés, com toda a intimidade que tinha, rogava a Deus para que se lhe fosse mostrada a glória de Deus, o apóstolo João pôde dizer com toda convicção de que havia visto a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade (Jo.1:14), o apóstolo Pedro pôde dizer que viu a majestade de Cristo (II Pe.1:16) e o apóstolo Paulo pôde dizer que todos os salvos não só têm acesso a esta glória mas a refletem incessantemente (II Co.3:18).
– A este pedido de Moisés, porém, o Senhor não atendeu, nem poderia fazê-lo, já que, na dispensação da lei, com o pecado apenas coberto e não tirado, não havia como se manifestar a glória de Deus ao homem. O Senhor disse que faria passar sobre Moisés a Sua bondade, mas Moisés não poderia ver a face do Senhor, visto que nenhum homem veria a face do Senhor e viveria (Ex.33:20).
– Aqui vemos bem o sentido da expressão bíblica segundo a qual o Senhor falava com Moisés cara a cara (Ex.33:11). Isto não significava que Moisés tinha acesso à face de Deus, mas, sim, que havia um nível de comprometimento e de envolvimento tão grande entre Deus e Moisés, que o Senhor falava diretamente com o legislador, não por meio de sonhos ou de visões, como haveria de ocorrer com os demais profetas.
– Isto também explica porque Jesus disse que João Batista, e não Moisés, foi o maior dos homens nascidos de mulher na antiga aliança (Lc.7:28), ou seja, de todos os homens, porque, enquanto que Moisés nunca pôde ver a face de Deus, João Batista o fez, na medida em que viu a face de Cristo (Jo.1:30-34) e quem vê Cristo Jesus, vê o Pai (Jo.14:8,9) e, por conseguinte, vê a glória do Unigênito do Pai (Jo.1:14).
– Isto também explica porque, apesar de Jesus ter dito que João Batista era o maior homem da antiga aliança, é ele inferior a qualquer que se encontra seja na nova aliança, seja nos céus, aqueles que integram o “reino de Deus”. Tanto os salvos em Cristo Jesus quanto os anjos nos céus têm livre acesso à glória de Deus, podem contemplar Cristo glorificado (Is.6:1-3; Ap.1:12-20), sendo que os remidos aguardam o instante em que, a exemplo dos anjos, estarão para sempre, ininterruptamente, na glória de Deus, sendo esta a sua esperança (Rm.5:2; Cl.1:27; I Jo.3:1-3).
– E por que não teve Moisés acesso à glória de Deus? Por que não pôde contemplar a Sua face? Por causa do pecado! O véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo era o símbolo, o sinal de que o pecado impedia que o homem pudesse ver a glória de Deus.
– A arca, que simbolizava a presença de Deus no meio do Seu povo, também era símbolo da glória de Deus, daí porque neste véu havia as imagens dos querubins, bem como havia querubins na tampa da arca, no chamado propiciatório. Era a arca invisível aos olhos dos israelitas, precisamente porque não havia possibilidade de se ter acesso à glória de Deus enquanto não houvesse a redenção pelos pecados da humanidade, o que somente se obteve quando da morte de Cristo na cruz do Calvário.
– A visão da glória de Deus sem que houvesse o novo e vivo caminho aberto por Cristo por Sua morte no Calvário somente produziria a morte para os homens. Todos quantos indevidamente viram e tocaram na arca do concerto foram devidamente castigados pelo Senhor, como se vê no caso dos filisteus (I Sm.5), dos moradores de Bete-Semes (I Sm.6:19) e de Uzá (II Sm.6:6,7).
– Moisés, embora tivesse uma posição singular diante do povo de Israel, também estava debaixo da lei, seu pecado não havia sido removido e, por isso, não podia ver a face do Senhor, não podia contemplar a Sua glória.
– Mesmo assim, o Senhor, dentro das limitações concernentes à dispensação em que Moisés vivia, atendeu ao pedido do Seu servo parcialmente, e, como assevera Charles Spurgeon, através de uma manifestação graciosa, pondo Moisés sobre a penha, num lugar junto a Ele, fazendo com que passasse a Sua glória diante do legislador, tendo Moisés sido posto numa fenda na rocha e visto o Senhor pelas costas (Ex.33:21- 24). OBS: “…Nós achamos que Moisés ‘não viu semelhança alguma’ — nenhuma forma visível passou diante dele. Ele teve uma audiência. Ele teve uma visão, mas foi uma audiência de detrás de uma cobertura e uma visão, não de uma pessoa, mas de um atributo.…” (SPURGEON, Charles. Uma visão da glória de Deus, p.2. Sermão publicado em 26 nov. 1908. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols52-54/chs3120.pdf Acesso em 29 jan. 2014) (tradução nossa de texto em inglês).
– O Senhor havia dito que faria passar a Sua bondade sobre Moisés e Moisés foi posto numa fenda na rocha e, quando a mão do Senhor foi tirada, pôde ver as costas do Senhor. Isto nos permite concluir que as costas de Deus representam a Sua bondade, o que nos remete facilmente ao que diz o profeta Isaías que afirma que o Senhor, em Sua misericórdia, esquece de nossas transgressões, lançando-as para trás de Si, para nunca mais delas Se lembrar (Is.38:17).
– Apesar da incredulidade do povo, que faria com que aquela geração não entrasse em Canaã, apesar da quebra da lei, o Senhor ainda haveria não só de fazer Israel entrar na Terra Prometida, mas de manter Seu plano de salvação dos homens por intermédio daquela nação, fazendo ela surgir o Messias, que haveria de nos permitir ter acesso à glória de Deus. O Senhor mostrava a Moisés que as Suas misericórdias vão até mil gerações para os que O amam e guardam Seus mandamentos (Dt.7:9).
– Nesta cena maravilhosa, que é o ápice do ministério de Moisés, há também uma belíssima tipologia. Moisés foi posto numa rocha, que estava junto ao Senhor, para poder vê-lo. Ora, Moisés estava no Sinai e esta pedra do Sinai tem o mesmo significado daquela de onde manou água para saciar o povo em Massá e Meribá (Ex.17:6), que o apóstolo dirá que era Cristo (I Co.10:4). Não há como contemplarmos a glória de Deus senão através de Cristo, que é o resplendor da glória divina (Hb.1:3).
– Muitos, hoje em dia, estão a querer desfrutar de um ambiente celestial, de participar das “profundezas das riquezas de Deus”, de “mistérios”, mas não se debruçam na Palavra de Deus, não põem Cristo como foco, preferindo, em vez disto, ir atrás de “revelações”, “visões”, “sonhos” e tantas outras coisas. Aprendamos com a experiência de Moisés de que somente conseguiremos ter acesso à glória de Deus se nos pusermos na rocha, em Cristo Jesus, o único acesso à glória do Senhor.
– Outro ponto interessante desta maravilhosa cena é que Moisés foi posto numa fenda na rocha, ou seja, a rocha tinha uma falha, havia sido ferida para poder através desta fenda ser o Senhor visto, ainda que pelas costas. Somente pelo sacrifício de Cristo na cruz do Calvário é que podemos ter acesso à glória de Deus. O novo e vivo caminho foi aberto pela carne de Cristo, pela entrega de Seu corpo como sacrifício pelos nossos pecados (Hb.10:20).
– Neste sentido, Agostinho vê na expressão “Eu farei passar toda a Minha bondade por diante de Ti” uma profecia. Diz o teólogo de Hipona: “…’Eu passarei diante de Ti’ é Aquele de que o Evangelho fala nestes termos: ‘…sabendo Jesus que já era chegada a Sua hora de passar deste mundo para o Pai…’ (Jo.13:1), passagem que é ainda chamada Páscoa. Aqui, por consequência, se acha uma profecia de grande importância. É Ele que passou deste mundo para o Pai diante de todos os santos, para lhes preparar no reino dos céus as moradas que lhes dará na ressurreição dos mortos; passando diante e antes de todos, ele se tornou o primogênito dentre os mortos (Cl.1:18)…” (Sobre o Heptateuco, n.2154. Livro II – questões sobre o Êxodo. Citação de Ex.32:35-33:6. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 jan. 2014) (tradução nossa de texto em francês).
OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos o que diz a respeito o Catecismo da Igreja Romana: “Depois do pecado de Israel, que se afastou de Deus para adorar o bezerro de ouro (Ex.32), Deus atende a intercessão de Moisés e aceita caminhar no meio dum povo infiel, manifestando deste modo o Seu amor (Ex.33:12-17). A Moisés, que Lhe pede a graça de ver a Sua glória. Deus responde: «Farei passar diante de ti toda a minha bondade (beleza) e proclamarei diante de ti o nome de YHWH» (Ex.33:18,19). E o Senhor passa diante de Moisés e proclama: «O Senhor, o Senhor [YHWH, YHWH] é um Deus clemente e compassivo, sem pressa para Se indignar e cheio de misericórdia e fidelidade» (Ex.34:6). Moisés confessa, então, que o Senhor é um Deus de perdão» (Ex.34:9).” (§ 210 CIC).
III – MOISÉS E AS NOVAS TÁBUAS DA LEI
– Após esta indescritível experiência, Deus mandou que Moisés lavrasse duas tábuas de pedra como as primeiras, que haviam sido quebradas, para que o Senhor escrevesse nelas a lei novamente (Ex.34:1).
– O Senhor cumpria, assim, o que prometera a Moisés. Não destruiria o povo, nem tampouco o abandonaria, mas estava a renovar com eles o pacto que havia firmado no Sinai.
– Moisés, no entanto, teve um grande e penoso encargo, qual seja, o de lavrar as tábuas de pedra da mesma forma que Deus o havia feito com relação às primeiras tábuas. Por que Moisés teve de realizar esta tarefa que, em si mesma, era impossível a qualquer homem? Porque fora imprudente e se deixara levar pela sua ira na quebra das primeiras tábuas.
– Como ensinou o missionário José Satírio dos Santos na 64ª Escola Bíblica de Obreiros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus – Ministério do Belém, em 29 de setembro de 2010, Moisés não percebeu o valor que tinha na mão (as tábuas da lei) e, por ser zeloso por Deus, num momento de ira, quebrou as tábuas e, defendendo a Deus, quebrou o que Deus entregara a ele.
– Ao lhe ser mandado lavrar novas tábuas, na perfeição que Deus havia lavrado as primeiras, Moisés teve de pedir muita graça ao Senhor, como também soube bem aquilatar que, na liderança do povo de Deus, jamais podemos permitir que nosso zelo anule o que o Senhor nos entregou.
– Mas Deus estava a mostrar a Moisés toda a Sua bondade, toda a Sua misericórdia e, por isso, Moisés conseguiu lavrar as tábuas como as primeiras haviam sido lavradas (Ex.34:4), tendo, então, nelas o Senhor escrito os dez mandamentos, como fizera com relação às primeiras tábuas.
– Antes, porém, de o Senhor escrever os mandamentos naquelas segundas tábuas, houve uma manifestação teofânica, em que o nome do Senhor foi apregoado, tendo, então, Moisés clamado a Deus e dito que Ele era o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade, que guarda a beneficência aos milhares, que perdoa a iniquidade e a transgressão e o pecado, que ao culpado não tem por inocente, que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos
até a terceira e quarta geração (Ex.34:7), tendo, então, o legislador se apressado e inclinado a cabeça à terra, encurvando-se (Ex.34:8).
– Mesmo nesta situação, Moisés clamou, uma vez mais, ao Senhor, pedindo-Lhe que não abandonasse o povo, bem como que o guiasse até Canaã. O Senhor, então, prometeu a Moisés que estaria com o povo e que faria maravilhas que nunca tinham sido feitas em toda a terra, prometendo, ainda, lançar fora os habitantes primitivos de Canaã para que Israel habitasse na terra (Ex.34:10,11).
– O Senhor não escreveu novamente os mandamentos nas tábuas, mas os repetiu a Moisés, para que ele novamente admoestasse o povo. Deus mostrava, assim, ter perdoado o povo do episódio do bezerro de ouro e ter resolvido ter deles misericórdia, ter deles compaixão, por Sua soberana vontade, como, aliás, havia dito a Moisés quando de sua intercessão (Ex.33:19).
– Vemos, pois, que a afirmação divina de que “terei misericórdia de quem Eu tiver misericórdia, e Me compadecerei de quem Me compadecer” está longe de indicar uma predestinação incondicional, como defendem os calvinistas, muito menos uma acepção de pessoas, mas é uma expressão que Deus utilizou precisamente para demonstrar que está pronto a atender a todos quantos se arrependerem, mesmo que sejam obstinados e de dura cerviz como eram os israelitas. É uma expressão da misericórdia, da bondade divina, um respeito ao livre-arbítrio de que o Senhor dotou todo ser humano desde Adão, sem qualquer exceção.
OBS: Assim afirma Agostinho a respeito desta expressão: “…Aqui Deus mostra mais expressamente o caráter de nossa vocação ao Seu reino e à Sua glória: ela não é fruto dos nossos méritos, mas de Sua misericórdia. Pois depois de ter prometido de introduzi-los nas nações, em dizendo ‘apregoarei o Meu nome diante de Ti’, atribui este favor à Sua misericórdia, segundo esta palavra do apóstolo: ‘Digo, pois, que Jesus Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para que confirmasse as promessas feitas pelos pais; e para que os gentios glorifiquem a Deus pela Sua misericórdia, como está escrito: Portanto eu te louvarei entre os gentios, e cantarei ao Teu nome’ (Rm.15:8,9).
Tal era o sentido desta predição: Eu Me compadecerei de quem Me compadecer e terei misericórdia de quem tiver misericórdia’. Daí, proibido ao homem de se pôr na glória com seus próprios méritos, é necessário que “aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor’ (II Co.10:17). Pois Ele não diz: “compadecer-Me-ei” destes e daqueles, mas “daquele que eu tiver misericórdia”, querendo fazer ver que ninguém tem o mérito da graça desta sublime vocação pelas suas boas obras precedentes. Com efeito, o Cristo foi morto pelos ímpios (Rm.5:6).…” (Sobre o Heptateuco, n.2154.3. Livro II – questões sobre o Êxodo. Citação de Ex.32:35-33:6. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 jan. 2014) (tradução nossa de texto em francês).
– Quem escreveu os mandamentos nas segundas tábuas? Deus ou Moisés? Em Ex.34:1, Deus disse que iria escrevê-las, mas, em Ex.34:28, é dito que Moisés teve de escrever os mandamentos, pois Deus assim havia mandado em Ex.34:27. Russell Shedd diz o seguinte: “O preço do pecado: as tábuas originais foram escritas diretamente por Deus (Ex.32:16), mas as cópias precisavam ser feitas por mãos humanas em quarenta dias, ainda que sob direção divina (BÍBLIA SHEDD. Com. Ex.34:28, p.126).
– Agostinho também entende que as segundas tábuas foram escritas por Moisés e vê aí uma tipologia: “…O texto diz formalmente que Moisés escreveu ele mesmo os mandamentos (…). Deus lhes deu tábuas lavradas e escritas pela mão do homem, para que elas fossem conservadas entre eles como um tipo figurativo da glória que eles procurariam, não no dedo, quer dizer, no Espírito de Deus, mas em suas obras. A primeira lei, imagem do Antigo Testamento; a segunda, imagem do Novo.
É incontestável que as segundas tábuas, dadas no Sinai, simbolizam o Novo Testamento, como as primeiras, rompidas e totalmente destruídas, simbolizam o Antigo. Isto confirma sobretudo esta maneira de ver: é que a lei foi dada pela segunda vez sem qualquer aparato terrível, sem os aparatos formidáveis das chamas, das nuvens e dos sonidos de buzinas que arrancaram aquele grito do povo consternado: ‘…Não fale Deus conosco para que não morramos’ (Ex.20:19). O medo é o traço distintivo do Antigo Testamento e o deleite, do Novo.(…) Por que as primeiras tábuas foram obra de Deus e escritas por Seu dedo? Porque as últimas foram obras do homem?
As primeiras figuraram a antiga aliança, sobretudo porque Deus nelas deu Seus mandamentos, os quais os homens não observaram. Pois a lei apareceu no Antigo Testamento para convencer os transgressores e ‘sua aparição deu lugar a que o pecado abundasse’ (Rm.5:20). Não podendo ser cumprida senão pelo amor, ela não podia ser observada pela impressão do medo.
Também ela é chamada de obra de Deus, pois Deus é seu autor, porque Ele a escreveu; ela não é, de modo algum, obra do homem, porque o homem não se submeteu a Deus e antes a lei estabeleceu sua culpa.. Quanto às segundas tábuas, o homem, sustentado pela ajuda de Deus, fê-las e nelas escreveu, pois o amor constitui-se na lei do Novo Testamento. Também o Senhor disse: ‘Não vim destruir a lei mas cumpri-la’ (Mt.5:17). ‘O amor, diz, por seu turno, o apóstolo, é o cumprimento da lei’ (Rm.13:10) e ainda ‘a fé opera por amor’ (Gl.5:6).
Aquilo que era difícil no Antigo Testamento é então tornado fácil em o Novo, ao homem dotado da fé que opera pelo amor; o dedo de Deus, quer dizer, Seu Divino Espírito, escrevendo a lei, não mais exteriormente sobre a pedra, mas interiormente, no mais íntimo do coração do homem…” (Sobre o Heptateuco, n.2166. Livro II – questões sobre o Êxodo. Citação de Ex.32:35-33:6. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 29 jan. 2014) (tradução nossa de texto em francês).
– A corroborar o pensamento de Agostinho, vemos que, em vez de relâmpagos, trovões e sonidos de buzina, a manifestação teofânica se fez mediante um “apregoar do nome do Senhor”, onde o Senhor Se apresentou com o que os judeus denominam de “Treze Atributos da Misericórdia” de Deus, que são recitados em uma oração que os judeus tradicionalmente fazem no dia da expiação (o dia do Yom Kippur), que teria sido a data em que o Senhor teria Se manifestado a Moisés, trazendo o perdão ao povo pelo episódio do bezerro de ouro. Estes atributos são extraídos de Ex.34:6,7.
– “…Seguem-se os Treze Atributos e uma breve explicação sobre cada um:
O Eterno – este Nome denota o atributo Divino da Misericórdia e os milagres feitos por Ele para anular até mesmo as leis da natureza por Ele criado. Seu Nome aparece duas vezes nos atributos. Na primeira significa que D’us tem piedade dos pecados do homem, apesar de Ele saber que a pessoa cometerá atos indignos no futuro.
O Eterno – a segunda menção de Seu Nome denota que mesmo que alguém tenha pecado, D’us misericordiosamente aceita seu arrependimento.
El (D’us) – este Nome denota o infinito poder do perdão Divino. Nele está implícito um grau de misericórdia que ultrapassa o indicado pelo Nome de Seu primeiro e segundo atributos.
Rachum (Compassivo) – D’us alivia o castigo dos culpados e ajuda as pessoas a evitar situações penosas.
Ve-Chanun (e Gracioso) – D’us é gracioso mesmo com os que não o merecem.
Erech Apayim (Tardio em irar-se) – D’us é paciente com os justos e com os iníquos. Ao invés de logo punir os pecadores, Ele lhes dá tempo para se recuperarem e se arrependerem.
Ve-Rav Chessed (e Magnânimo em Sua Bondade) – D’us é bondoso mesmo com os que não têm o mérito de praticar o bem. E se o comportamento de alguém se equilibra entre a virtude e o pecado, D’us inclina a balança do julgamento para o lado do bem.
Ve-Emet (e Verdadeiro) – A verdade é o próprio Selo Divino. D’us jamais volta atrás em Suas palavras de recompensar os que o merecem.
Notzer Chessed Le-alafim (Preservador da Bondade para milhares de gerações) – D’us preserva as boas ações das pessoas em benefício de seus descendentes. É por isso que constantemente invocamos os méritos dos patriarcas do povo judeu: Abrahão, Itzhak e Jacob.
Avon (Iniquidade) – Esta é uma das três categorias de pecado e se refere a um pecado intencional, perdoado por D’us se houver arrependimento sincero.
Va-Pesha (Pecado Rebelde) – Este é o tipo mais sério de pecado, cometido com a intenção de causar a Ira Divina. Mesmo uma transgressão tão séria é perdoada quando há arrependimento.
Ve-Hatê (e Erro) – Este é o pecado cometido pela apatia e pela insensibilidade, também perdoado por D’us, mediante o arrependimento.
Ve-Nakê (Aquele que purifica) – Quando alguém se arrepende, D’us purifica o seu pecado, fazendo desaparecer o efeito do mesmo.…” (Yom Kippur. Morashá, edição 38, set. 2002. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=40&p=1 Acesso em 29 jan. 2014).
– Os próprios judeus reconhecem haver um “segundo pacto” com as novas tábuas da lei, tanto que o rabino judeu Rav Menahem Libtag faz um quadro comparando ambos os pactos, confirmando, assim, a tipologia apresentada por Agostinho, a saber:
Primeiro pacto (Ex.20:2-7; 23:20,21; 32:20-24)
Segundo pacto (Ex.34:6,7)
a. D’us zeloso “ D’us misericordioso e clemente”
b. Lembra o delito dos pais sobre os filhos…aos que o odeiam “ Lembra o delito dos pais sobre os filhos..”
o Eterno não aplica punição durante quatro gerações esperando por um arrependimento, em contrapartida ao castigo imediato durante quatro gerações.
c. Faz bondade para milhares… aos que o amam “Cria bondade aos milhares..”
D’us faz bondade aos milhares, mesmo a aqueles que não o amam. Isso cria uma realidade que permite bondade a pessoas perversas (pelo menos neste mundo).
d. Não tolerará “e tolerar não tolerará” Às vezes perdoará, às vezes não ( vide Rashi que diz que Ele perdoará a quem se arrepende)
e. Não perdoará os vossos delitos “perdoa o delito e a transgressão”
f. Ira de D’us “grandioso em bondade”
(LIBTAG, Rav Menahem. Trad. livre de Daniel Segal Amoasei. Parasha Ki-Tissa. Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=3&ved=0CD
cQFjAC&url=http%3A%2F%2Fwww.tanach.org%2Fshmot%2Fkitisaprt.doc&ei=hBX pUtTrL83xkQeOnoGYDg&usg=AFQjCNHAcrjaHH_FQ3CzWA1XKa_kCeLdvA Acesso em 29 jan. 2014)
– Moisés esteve outros quarenta dias e quarenta noites no monte Sinai, não tendo nem comido nem bebido neste período (Ex.34:28). Depois de ter visto ao Senhor pelas costas, de ter recebido a presença de Deus de forma tão profunda, Moisés, ao retornar, estava com seu rosto resplandecente, embora não o soubesse (Ex.34:29,30).
– Ao contemplarem que o rosto de Moisés resplandecia, os israelitas, a começar de Arão e dos anciãos, temeram se aproximar de Moisés, não quiseram se aproximar dele. Mais uma vez, vemos que a lei não consegue aproximar o homem de Deus e que Israel não queria ter qualquer intimidade com o Senhor (Ex.34:30).
– Foi preciso que Moisés pusesse um véu no seu rosto para que os israelitas dele se aproximassem, a fim de que Moisés lhes repetisse a lei e renovasse o pacto que haviam firmado com o Senhor oitenta dias antes (Ex.34:33).
– Este véu, como bem nos explica o apóstolo Paulo, significava o “ministério da morte”, o “ministério da letra”, que, embora tivesse vindo em glória, a ponto de fazer o rosto de Moisés resplandecer, não trouxe senão condenação, pois é impossível ao homem cumprir a lei (II Co.3:7-16).
OBS: “…Por que Moisés pôs um véu em sua face? A resposta é esta — era um símbolo judicial, publicando uma sentença de Deus para o povo. O Senhor, por este sinal, estava a dizer: ‘Vocês são tão rebeldes, tão dados à idolatria, tão indispostos a ver que, de agora em diante, vocês não verão o brilho da Minha glória na dispensação da lei em que vocês vivem.
Moisés porá véu em sua face porque o véu está sobre os seus corações’(…). O véu estava literalmente na face de Moisés, mas espiritualmente em seus corações…” (SPURGEON, Charles. O brilho da face de Moisés, p.7. Sermão pregado em 18 maio 1890. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols34- 36/chs2143.pdf Acesso em 29 jan. 2014) (tradução nossa de texto em inglês) (destaque original).
– Moisés resplandecia a glória de Deus, mas teve de pôr um véu para poder falar com o povo, ainda que esta glória tenha sido transitória. Como afirmam os sábios judeus, “…Moshé [Moisés, observação nossa] não viu a ‘face’ de D’us, i.e., a revelação completa da Shechiná. O que ele viu foi só o começo da revelação de D’us antes que se curvasse…” (CHUMASH: o livro de Êxodo, p.255). Os próprios israelitas reconhecem que a revelação de Deus a Moisés era parcial, limitada e incompleta. Por que, então, alguns dos que em Cristo dizem crer estão deixando a graça para seguir a lei? Pensemos nisto!
– Este véu que separava a glória de Deus dos israelitas ainda separa tantos quantos seguem a lei como critério da salvação. O próprio Paulo diz que este véu somente será tirado dos israelitas quando eles se converterem, ou seja, quando crerem que Jesus é o Cristo, o Messias (II Co.3:15,16), o que se dará, em termos nacionais, somente na iminência da batalha do Armagedom (Zc.12:10;Ap.16:16).
– Moisés não pôde ver a face do Senhor, foi posto sobre a fenda de uma rocha para ver as costas de Deus, ou seja, a Sua bondade, bondade que fez com que a lei fosse renovada e mantida, apesar da desobediência de Israel. Mesmo assim, seu rosto resplandeceu, ainda que transitoriamente, e, mesmo assim, teve de pôr um véu para falar com o povo.
– Nós, porém, podemos, com a cara descoberta, refletir esta glória de Deus diariamente, porque não há mais véu que nos separe, pelo novo e vivo caminho que nos abriu o Senhor Jesus na cruz do Calvário. Por isso, amados irmãos, busquemos, com todo denodo e esforço, sermos fiéis, como foi Moisés, procuremos buscar a face de Deus, para que não venhamos a sofrer mais duro juízo do que aquela geração. Amém!
Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2014_AP2_caramuru.pdf