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LIÇÃO Nº 13 – O LEGADO DE MOISÉS

 lição 13 O legado de Moisés

Moisés foi um servo de Deus fiel em toda a sua casa.

INTRODUÇÃO – No encerramento deste trimestre, temos uma lição a respeito da pessoa de Moisés, que transcende ao livro de Êxodo.

– Moisés foi um servo de Deus fiel em toda a sua casa.

I – O TÉRMINO DO LIVRO DE ÊXODO

– Neste trimestre letivo, estudamos o livro de Êxodo e vimos como, neste livro, o Senhor dá continuidade ao Seu plano de formar, do meio das nações, um povo que fosse Sua propriedade peculiar dentre os povos.

– O livro de Êxodo termina com a inauguração do tabernáculo, que se deu, por ordem de Deus, no primeiro dia do mês, no início do segundo ano desde a libertação do Egito (Ex.40:1).

– Após o povo ter atendido voluntariamente à convocação de Moisés para que trouxesse todos os materiais necessários à construção do tabernáculo, o Senhor deu sabedoria a muitos israelitas para que pudessem confeccionar as peças e vestimentas que Moisés havia visto no monte e a obra se concluiu.

– O Senhor, então, deu instruções a Moisés para que ele montasse o tabernáculo e, inclusive, ungisse Arão e seus filhos para o sacerdócio, instruções que nos mostram como Moisés havia sido constituído como medianeiro entre Deus e o povo de Israel (Gl.3:19).

– Moisés assumiu uma posição singular no meio do povo de Israel, visto que era o canal de comunicação entre Deus e o Seu povo. Esta posição foi única na dispensação da lei, porquanto tal papel jamais voltou a ser exercido por qualquer outra pessoa na história de Israel. Moisés foi o legislador, ou seja, aquele que trouxe a lei de Deus e a transmitiu ao povo.

– Por isso mesmo, foi Moisés quem efetuou o levantamento do tabernáculo e fez a própria consagração dos sacerdotes, a revelar que sua posição era superior à dos próprios sacerdotes. Afinal de contas, quando o Senhor escolheu Arão para o sacerdócio, sacramentou esta posição superior de Moisés, pois Arão fora feito para ser porta-voz de Moisés (Ex.4:16). – Esta posição relevante de Moisés é bem mostrada pelo escritor aos hebreus que considerou Moisés como sendo “o servo fiel em toda a sua casa” (Hb.3:2,3), por ter cumprido todas as determinações divinas para a edificação do tabernáculo (Ex.39:43; 40:16), bem como na transmissão da lei aos filhos de Israel (Ex.24:3).

– De pronto, podemos ver que uma das principais qualidades de Moisés é esta fidelidade de Moisés ao Senhor, que o fez ser reconhecido pelo Senhor como “Seu servo” (Ex.14:31; Nm.11:11; 12:7,8; Dt.3:24; 34:5: Js.1:1,2,13; 9:24; 11:12,15; 12:6; 13:8; 14:7; 18:7; 22:2,4,5). Somente pode ser servo do Senhor aquele que for fiel a Deus, que sempre cumprir as Suas determinações, que se submeter à Sua vontade.

– Moisés não só era servo de Deus, como era um servo conhecido por Deus pelo nome, que achava graça aos olhos do Senhor (Ex.33:17), pois, como dizia Agostinho, era agradável a Deus e isto porque sempre demonstrava ter fé, desde quando recusou ser chamado filho da filha de Faraó e preferiu ser maltratado com o povo de Deus (Hb.11:24,25).

– Devemos, a exemplo de Moisés, ser também servos que Lhe sejam agradáveis, e isto alcançaremos se confiarmos em Deus, se não nos deixarmos iludir pelas coisas desta vida e também tomarmos por riquezas o vitupério de Cristo, sofrendo toda a afronta, suportando a cruz até o fim, quando, então, seremos devidamente recompensados pelo Senhor.

– Esta posição de Moisés fez com que ele pudesse falar cara a cara com Deus (Ex.33:11), ou seja, criou-se uma intimidade entre Deus e Moisés a tal ponto que Deus não Se revelava a Moisés em sonhos ou visões, como faria com os demais profetas, mas diretamente falava com o Seu servo na tenda que o próprio Moisés tinha armado para buscar a presença do Senhor (Ex.33:7). Moisés havia tomado uma decisão de servir ao Senhor e de não se embaraçar com as coisas desta vida e, por isso, alcançara esta posição singular entre os filhos de Israel.

– Não é difícil entender, portanto, porque, quando Moisés acabou a obra da edificação do tabernáculo (Ex.40:33), a nuvem tenha coberto a tenda da congregação e a glória do Senhor tenha enchido o tabernáculo (Ex.40:34).

– A fidelidade de Moisés e a sua intimidade com Deus foram recompensadas com a manifestação da glória do Senhor que, aprovando toda a obra feita pelo Seu servo, encheu com Sua glória o tabernáculo, de tal modo que ninguém podia entrar no tabernáculo.

– Ao mesmo tempo, Deus mandou fogo do céu que consumiu os holocaustos que haviam sido preparados e acendeu o próprio altar de sacrifícios (Lv.9:23,24), fogo este vindo diretamente do céu e que deveria alimentar, dali para frente, o altar em todos os sacrifícios que fossem efetuados.

– Com este gesto divino, todos ficaram cientes que deveriam ter a mesma dedicação, a mesma fidelidade e a mesma intimidade que Moisés tinha com Deus e Moisés se apresentava aqui como verdadeiro tipo de Jesus Cristo, como o exemplo a ser seguido, a ser imitado. Moisés tipificava aquele servo perfeito que viria e cumpriria toda a vontade do Pai (Jo.17:4). – O livro de Êxodo encerra-se com esta manifestação da glória de Deus, com a aprovação de todo o trabalho que o povo, sob orientação de Moisés, tinha executado para atender às ordens divinas e o Senhor, atendendo à intercessão de Moisés (Ex.33:12-17), fazia-Se presente no meio do povo, manifestava a Sua glória, ia habitar no tabernáculo, a fim de levá-los até a terra de Canaã, direção esta que se faria mediante a nuvem que, à noite, se tornava em coluna de fogo.

– A Igreja, no entanto, tem uma posição ainda melhor que a de Moisés. O escritor aos hebreus mostra que Cristo é superior a Moisés, pois “…é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou. Porque toda a casa é edificada por alguém, mas o que edificou todas as coisas é Deus. E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar, mas Cristo, como Filho sobre a Sua própria casa, a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até o fim” (Hb.3:3-6).

– Nós somos a própria casa de Deus, se nos mantivermos fiéis e, por isso mesmo, podemos alcançar melhor posição que Moisés, uma vez que Moisés não podia entrar na tenda da congregação por causa da glória de Deus que a encheu, mas nós mesmos somos cheios da glória de Deus, se formos fiéis ao Senhor.

– Por isso o Senhor Jesus, em Suas últimas instruções, ao Se dirigir aos Seus discípulos, disse que não os chamaria mais servos, mas os chamaria de amigos, pois tudo quanto havia ouvido de Seu Pai havia feito conhecer a eles (Jo.15:15). Podemos ter maior intimidade que teve Moisés, pois nós mesmos nos tornamos a casa de Deus, onde a glória do Senhor se manifesta e faz com que as pessoas, ao verem as nossas boas obras, glorifiquem ao nosso Pai que está nos céus (Mt.5:16).

II – OS OFÍCIOS EXERCIDOS POR MOISÉS

– Visto como termina o livro de Êxodo, deter-nos-emos na análise do legado de Moisés, que é o objeto desta lição, que foge do estudo do livro de Êxodo propriamente dito. Legado é aquilo que se deixa para as gerações seguintes, o benefício que se deixa para quem vem depois de nós na existência sobre a face da Terra.

– Moisés tinha de conduzir o povo de Israel até a Terra Prometida (Ex.32:34) e, para tanto, foi, dentre os filhos de Israel, aquele que mais ofícios exerceu em seu ministério, quase chegando até a posição de Jesus Cristo. Como sabemos, o Senhor Jesus foi o único a exercer os três ofícios estabelecidos por Deus para o Seu povo, quais sejam, o de rei, profeta e sacerdote. Moisés exerceu dois deles, o de profeta e de sacerdote, tendo sido uma espécie de “vice-rei” em Israel.

– O primeiro papel exercido por Moisés foi o de profeta. Ao receber o chamado para libertar o povo de Israel no monte Sinai, Moisés foi constituído por Deus como profeta, como o Seu mensageiro, que deveria levar ao povo de Israel a boa nova da libertação (Ex.3:10,14).

– O próprio texto sagrado informa-nos que Moisés eram um profeta diferenciado dos demais que se levantaram em Israel, pois, se Deus falou com os demais profetas por sonhos ou visões, com Moisés falava diretamente, “boca a boca”, tamanha a intimidade que tinha com o Senhor (Nm.12:6-8).

– Moisés prefigurava, assim, o relacionamento que haveria entre o Senhor Jesus e a Sua Igreja e, mesmo, o relacionamento que haverá entre Deus e Israel quando Israel finalmente se tornar o reino sacerdotal e o povo santo pretendidos por Deus no monte Sinai (Ex.19:5,6), o que apenas se realizará no Milênio.

– Moisés foi o único a subir ao cume do monte Sinai quando do estabelecimento do pacto entre Deus e Israel e isto lhe deu esta condição especial de poder se dirigir diretamente ao Senhor, de falar-Lhe “cara a cara”, “boca a boca”. No seu ministério profético, Moisés foi usado como nenhum outro, a ponto de Deus lhe ter revelado não só o futuro, mais precisamente, a vinda do Messias, como também o próprio início de todas as coisas, a criação do mundo.

– Como diz o filósofo e comentarista judeu Fílon de Alexandria (10 a.C.-50 d.C.), um profeta deve revelar, inspirado por Deus, tudo quanto não alcança ou apreenda a razão humana. Para Fílon, Moisés foi um “profeta notabilíssimo”, pois “…todas as coisas que se acham escritas nos livros sagrados são oráculos revelados através dele…”(A vida de Moisés-II, XXXV. In: TRIVIÑO, José Maria (trad.). Obras completas de Filón de Alejandria, p.841. Disponível em: http://historiantigua.cl/wp-content/uploads/2011/08/Filon-de-Alejandria- Obras-Completas.pdf Acesso em 04 fev. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Tal circunstância, porém, não fez de Moisés o maior dos profetas da antiga aliança. Jesus disse que João Batista lhe foi superior (Lc.7:28), porque pôde apresentar o próprio Messias ao povo (Jo.1:29), como também todo e qualquer integrante da Igreja é superior tanto a Moisés quanto a João Batista, pois não só vê a Cristo, como não mais vive, mas é Cristo que vive nele. Que privilégio temos nós, amados irmãos!

– Moisés tinha de transmitir a mensagem de libertação para o povo, para o Egito e para Faraó. Depois, Moisés teve de transmitir a lei para o povo de Israel, revelando, assim, a vontade do Senhor para eles. Moisés tinha de buscar a presença de Deus para resolver os negócios graves que surgiam no meio do povo, a fim de que a vontade de Deus sempre fosse feita.

– Nós, também, dentro do ministério profético que recebemos por sermos parte integrante do corpo de Cristo, que é a Sua Igreja, precisamos, também, transmitir ao mundo a mensagem do Evangelho, que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16).

– Como profetas, também, temos de transmitir a Palavra de Deus para os servos de Cristo Jesus, contribuindo para a sua edificação em amor (Ef.4:12-16), colaborando para a sua santificação na verdade (Jo.17:17).

– Como profetas, também, temos de buscar a presença de Deus para que Ele nos dirija em todos os negócios graves, a fim de que jamais deixemos de fazer a Sua vontade. Necessitamos da orientação divina a fim de que possamos nos edificar e nos consolar uns aos outros.

– No seu ministério profético, Moisés sempre foi fiel a Deus. Jamais transmitiu qualquer mensagem ou palavra que não estivesse de acordo com a ordem do Senhor. O povo teve acesso à lei por intermédio dele e ele jamais modificou tudo quanto recebeu do Senhor. Na construção do tabernáculo, como já vimos supra, seguiu à risca o modelo que recebera no monte e, por isso, a glória de Deus se manifestou e o Senhor pôde habitar no meio do povo.

– Precisamos ter a mesma fidelidade que teve Moisés no exercício do ministério profético da Igreja. Temos de pregar o Evangelho aos incrédulos e ensinar a Palavra aos crentes como ela é, não indo além do que está escrito (I Co.4:6), algo que, lamentavelmente, muitos falsos profetas têm feito em nossos dias.

– Mas, além de profeta, Moisés também foi sacerdote. Ele foi o “medianeiro” entre Deus e os filhos de Israel. Ele não apenas transmitiu a vontade de Deus para o povo, como também fez a mediação entre Deus e o povo no que concerne ao próprio relacionamento de Deus com Israel.

– Como diz Fílon, Moisés, como sacerdote, “…ocupou-se não só das coisas humanas como também das divinas…” (ibid.). Logo na saída do Egito, quando o povo se viu angustiado por causa da aproximação do exército de Faraó, foi Moisés quem intercedeu pelo povo, visto que o clamor do povo a Deus foi sem qualquer efeito, já que desprovido de fé. Foi ao clamor de Moisés que o Senhor respondeu, mandando que o povo marchasse, o que foi fundamental para a consolidação da libertação dos filhos de Israel (Ex.14:10-15).

– O sacerdote é aquele que faz com que as coisas comuns se tornem sagradas, é o encarregado de tornar sagrado aquilo que é profano. Moisés exerceu tal ministério, na medida em que se pôs como mediador entre Deus e Israel, fazendo com que Israel se tornasse o reino sacerdotal e a nação santa queridos pelo Senhor, tanto que subiu e desceu o monte Sinai trazendo a proposta de Deus ao povo e levando a resposta positiva do povo ao Senhor (Ex.19:3-9).

– Foi Moisés quem, em seguida a esta intercessão, seguindo as orientações do Senhor, fez com que o povo se santificasse e se preparasse para o encontro com Deus no Sinai (Ex.19:10-15).

– O povo, entretanto, não quis se aproximar de Deus e pediu que Moisés fizesse tal mediação (Ex.20:19-21) e Moisés, prontamente, assumiu este encargo, a ponto de ter dirigido os holocaustos que foram apresentados quando da promulgação da lei (Ex.24:5,6). Ao aspergir o sangue sobre o povo, Moisés como que santificava o povo para o Senhor (Ex.24:8).

– Moisés, assim, assumia a condição de sacerdote, que era comum a todo o povo de Israel e ele, por ser o líder daquele povo, tomava a dianteira de tal ministério. No entanto, o povo perdeu esta condição sacerdotal quando do episódio do bezerro de ouro e, Moisés, que não havia praticado tal pecado, acabou por ter de chamar quem estava do lado do Senhor e, mediante sua chamada, a tribo de Levi acabou sendo constituída como a tribo sacerdotal (Ex.32:26-29).

– É por isso que o Senhor manda que Moisés constitua a Arão e seus filhos para o sacerdócio, de sorte que, ao consagrar os primeiros sacerdotes, Moisés revela ter um sacerdócio superior aos dos próprios sacerdotes constituídos.

– No próprio episódio do bezerro de ouro, vemos como Moisés exercer seu ministério sacerdotal intercedendo pelo povo e impedindo a destruição de Israel (Ex.32:9-14), como também a perda da presença de Deus (Ex.33:12-17). O resultado desta intercessão foi que o Senhor perdoou o povo, permitiu a elaboração de segundas tábuas da lei e prometeu ser misericordioso com aquele povo, o que representou uma sobrevida a Israel até a chegada do Messias (Ex.34:1-9).

– Como afirma Fílon, “…a qualidade mais alta e essencial que deve dar-se em um sumo sacerdote é a piedade, e Moisés a cultivou como ninguém mais, ao mesmo tempo que fazia uso de seus grandes dotes naturais, dotes estes que a filosofia tomou a seu cargo, qual se tratara de um terreno cultivável, e os melhorou com a consideração de elevadas doutrinas, sem recuar em seu empenho até que os frutos da virtude alcançassem sua perfeição nas palavras e obras.

Desse modo chegou, como outros poucos, a amar a Deus e a ser amado por Ele, e inspirado por um celestial amor, honrou de maneira especial ao Soberano do Universo e foi honrado, por sua vez, por Este. A honra adequada para o homem sábio é estar a serviço d’Aquele que realmente é e o sacerdócio tem por missão o serviço de Deus. Deste galardão, que é o bem maior que existe entre as criaturas, foi tido por digno Moisés, e os oráculos o instruíram em cada uma das coisas que tocam às cerimônias rituais e aos sagrados serviços…” (A vida de Moisés-II, XIII. In: TRIVIÑO, José Maria (trad.). Obras completas de Filón de Alejandria, p.823. end.cit.).

– Moisés foi um sacerdote tão excelente que, além de ter instituído o próprio sacerdócio levítico, sendo, por isso mesmo, superior a ele, pôde também obter o perdão do Seu povo diante do grande pecado do bezerro de ouro e, assim, manter o povo na expectativa da vinda daquele que expiasse o pecado do povo de uma vez por todas.

– Apesar da excelência de seu sacerdócio, Moisés foi inferior a Cristo Jesus, visto que era um pecador, assim como Arão, ao contrário de Cristo, que jamais pecou. A excelência de seu sacerdócio não o impediu de, por causa de seu pecado, deixar de entrar na Terra Prometida, tendo sido, inclusive, impedido de orar por isto pelo próprio Deus (Dt.3:26).

– Será somente por intermédio de Cristo que o próprio Moisés poderá entrar na Terra Prometida, o que se deu no episódio do monte da Transfiguração, quando, pelo teor da conversa que teve com o Senhor Jesus, se percebe que o sumo sacerdócio de Cristo é superior, já que é pela Sua morte que se alcançará a retirada dos pecados de todo o mundo (Lc.9:30,31).

– No seu ministério sacerdotal, Moisés apresenta-se como um grande orante, devendo ser um exemplo de oração para nós. O Catecismo da Igreja Romana afirma, com muita propriedade: “Dessa intimidade com o Deus fiel, lento para a cólera e cheio de amor[a45] , Moisés tirou a força e a tenacidade de sua intercessão. Não ora por si, mas pelo povo que Deus adquiriu. Já durante o combate com os amalecitas, ou para obter a cura de Míriam, Moisés intercede. Mas é sobretudo depois da apostasia do povo que “ele se posta na brecha”, diante de Deus (Sl 106,23), para salvar o povo. Os argumentos de sua oração (a intercessão também é um combate misterioso) inspirarão a audácia dos grandes orantes do povo judeu e da Igreja: Deus é amor, por isso é justo e fiel; não se pode contradizer, deve lembrar-se de suas ações maravilhosas, sua Glória está em jogo, não pode abandonar o povo que traz seu nome.” (§ 2577 CIC)

OBS: Como afirmou o ex-chefe da Igreja Romana, Bento XVI: “…Lendo o Antigo Testamento, uma figura ressalta-se entre as outras: aquela de Moisés, exatamente como homem de oração. Moisés, o grande profeta e condutor no período do êxodo, desempenhou a sua função de mediador entre Deus e Israel fazendo-se portador, junto ao povo, das palavras e ordens divinas, conduzindo-o à liberdade da Terra Prometida, ensinando aos Israelitas a viver na obediência e na confiança a Deus durante uma longa permanência no deserto, mas também, e diria sobretudo, rezando.…” (BENTO XVI. A oração: Moisés foi mediador por excelência. Catequese de 01 jun. 2011. Disponível em: http://www.derradeirasgracas.com/3.%20Papa%20Bento%20XVI/A%20Ora%C3%A7%C3%A3o%20- %20Mois%C3%A9s%20foi%20mediador%20por%20excel%C3%AAncia%20Catequese%20de%20Bento%20XVI..htm Acesso em 04 fev. 2014).

– Moisés, portanto, apresenta-se como um exemplo de orante a ser seguido, pois, como sacerdotes de Cristo Jesus (I Pe.2:9; Ap.1:6), também devemos interceder por todos os homens, pois isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador (I Tm.2:1-3).

– Mas, para sermos fiéis sacerdotes, precisamos amar a Deus profundamente, como Moisés amou, bem como também amar o próximo, como Moisés também amou. A propósito, é este o mandamento que nos deixou o nosso sumo sacerdote: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo.15:12). Temos de superar o próprio amor de Moisés, já que nosso modelo é o amor de Cristo.

– Moisés somente não exerceu o ofício de rei. Verdade é que, ao lermos Dt.33:5, ali é dito “E foi rei em Jesurum”. Entretanto, quando bem observamos o texto, esta expressão não se refere a Moisés e, sim, a Deus, pois é de Deus que Moisés começa a falar em Dt.33:2. Tanto assim é que a Bíblia Hebraica assim traduz o texto: “E o Eterno foi rei em Jesurum (Israel)”.

– Quando o Senhor propôs que Israel fosse um reino sacerdotal (Ex.19:5,6), embutida nesta proposta estava a aceitação do Senhor como rei. Desde o momento da aceitação da proposta até os dias de Samuel, o Senhor, efetivamente, reinou sobre Israel, estabelecendo uma teocracia, ou seja, o governo de Deus. Quando o povo pediu um rei a Samuel, o próprio Deus disse que Ele é que tinha sido rejeitado para que não mais reinasse sobre a Terra (I Sm.8:7).
– Assim, não é correto afirmar-se que Moisés tenha sido rei, como disse o próprio Fílon de Alexandria, que temos mencionado neste estudo. Aliás, Fílon disse que Moisés teria sido rei porque a ele compete ordenar o que se deve fazer e proibir o que não se deve fazer, mas é precisamente neste ponto que se engana o filósofo judeu, pois Moisés tão somente transmitiu o que Deus mandou que se fizesse e o que não se fizesse.

– Moisés era tão somente um “vice-rei”, ou seja, alguém que, em lugar do rei, transmitia as suas ordens, estabelecia as normas que deveriam reger a convivência entre os israelitas. Ele era tão somente um porta- voz do Senhor, nada inventando, nada criando, mas apenas transmitindo aquilo que o Senhor estabelecia, tanto que, em seus julgamentos, dos negócios mais graves, nada fazia sem antes consultar o Senhor.

A própria lei que deu ao povo, conquanto seja chamada de “lei de Moisés”, na verdade era a lei de Deus, que o próprio Senhor ditou para o Seu servo no monte Sinai, sendo que, nas primeiras tábuas, foi o próprio Deus quem escreveu, algo que foi feito por Moisés nas segundas tábuas, mas por expressa determinação divina. – Moisés não exerceu o ofício de rei, tendo sido apenas o Servo de Deus, aquele que cumpriu fielmente tudo quando foi ordenado e mandado pelo Senhor. Já em Mara, é dito expressamente que foi o Senhor quem deu ao povo estatutos e uma ordenação (Ex.15:25).

– Jesus, porém, exerceu este ofício. No próprio sermão do monte, demonstrou que era rei, ao afirmar, em diversas oportunidades, “eu, porém, vos digo” (Mt.5:20,22,28,32,34,39,44), aprofundando a própria lei mosaica. Como reconhece o rabino judeu americano Jacob Neusner (1932- ), citado pelo ex-chefe da Igreja Romana, Bento XVI, “in verbis”: “…Nenhuma admiração, portanto, que o Filho do homem seja senhor do sábado! Não o é porque explica de um modo liberal as limitações do sábado…Jesus não era nenhum reformador rabínico, que pretendesse tornar a vida do homem ‘mais fácil’…Não, não se trata aqui de aliviar um peso…É a autoridade de Jesus que está em jogo…’ (p.89). ‘Agora Jesus está sobre a montanha e toma o lugar da Torá’(p.91).…” E, assim, conclui o Papa Emérito: “… Assim o núcleo autêntico do debate torna-se manifesto. Jesus compreende-Se a Si mesmo como a Torá — como a Palavra de Deus em pessoa.…” (BENTO XVI. Jesus de Nazaré – primeira parte: do batismo no Jordão até a Transfiguração, p.107).

– Jesus é rei, tem a autoridade para aprofundar o sentido da lei, para dar-lhe a correta interpretação, dizendo o que se deve e o que não se deve fazer. Como Ele próprio diz a Pilatos: “…Tu dizes que Eu sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a Minha voz” (Jo.18:37).

– Nós temos uma posição superior a de Moisés, pois o Senhor nos fez reis e sacerdotes (Ap.1:6). Verdade é que, como reis, haveremos de reinar com o Senhor durante o Milênio (Ap.20:4), já que, a esta época, a Igreja já terá contraído matrimônio com o Senhor Jesus, tornando-se a Esposa do Cordeiro (Ap.19:7). À evidência que jamais poderemos tomar a posição única do Senhor, que é Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap.17:14; 19:16), mas, pela Sua infinita graça e misericórdia, participaremos de Sua soberania, em virtude de pertencermos ao Seu corpo.

III – O QUE APRENDEMOS A FAZER COM MOISÉS

– Diante da perspectiva escolhida nesta lição, que procura demonstrar o legado que deixou este grande servo de Deus não só para Israel mas, também, para a Igreja faremos apenas um resumo das suas qualidades, a título de síntese do que devemos aprender na vida deste grande homem de Deus.

– Em suma, pois, são estas as principais lições que Moisés nos dá ao longo de sua vida:

a) conversão – torna-se necessário nos virarmos para Deus para podermos ser Seus servos. Moisés passou a fazer a vontade de Deus a partir do instante em que não quis mais os tesouros do Egito e quis assumir o vitupério do povo de Deus. Por causa disso, iniciou, ainda que sem entendimento, a busca da libertação do seu povo. Quarenta anos depois, no monte Horebe, reafirmou esta mudança de vida quando se virou para ver o que era a “grande visão” da sarça que ardia mas não se consumia.

b) santificação – torna-se necessário que nos separemos do pecado, que aceitemos o senhorio de Cristo em nossas vidas para que venhamos a ser instrumentos genuínos e autênticos na Sua mão. Moisés, ao tirar os sapatos como Deus lhe mandara, porque estava em lugar santo, deu um passo decisivo para poder servir a Deus e Lhe ser útil para o propósito de libertação do povo.

c) renúncia de si mesmo – Moisés, ante os obstáculos apresentados diante de Deus quando de sua chamada, revelou que havia se esvaziado de si mesmo, que não se considerava mais suficiente para a libertação de Israel no Egito. É um passo indispensável para servirmos a Cristo também negarmos a nós mesmos (Mc.8:34; Lc.9:23).

d) busca de conhecimento de Deus – Moisés, ao ser chamado por Deus, quis saber qual era o Seu nome, quis saber quem era Deus e, durante todo o seu ministério, vemos um esforço ininterrupto de Moisés para ter intimidade com o Senhor (e conhecimento, para o hebreu, significa intimidade). O apóstolo Pedro nos ensina que devemos crescer na graça e no conhecimento de Jesus Cristo (I Pe.3:18). Como é importante que, assim como Moisés, sempre busquemos conhecer a Deus mais e mais. Foi esta característica que parece ter mais agradado a Deus, tanto que foi esta a qualidade exaltada pelo Senhor quando de Sua reação à sedição de Miriã e Arão.

e) prioridade à Palavra de Deus – Moisés, em todo o seu ministério, quis que o povo obedecesse à Palavra de Deus e fez questão de anunciar e ensinar a Palavra ao povo. Desde o primeiro instante, quando se apresentou a Israel após o episódio da sarça, até antes de subir o monte Nebo para morrer, Moisés teve a preocupação de “gotejar a doutrina” ao povo de Deus. Do mesmo modo procederam os apóstolos e nós devemos seguir-lhes o exemplo. A falta de conhecimento do Senhor leva o povo à destruição (Os.4:6).

f) a necessidade de sinais e maravilhas para confirmação da Palavra – Embora fosse extremamente cioso com o anúncio e o conhecimento da Palavra, Moisés sempre buscou que o Senhor confirmasse a Sua Palavra com sinais e maravilhas. A vida ministerial de Moisés é uma vida repleta de sinais e maravilhas da parte de Deus, muitos deles com o objetivo de confirmar e legitimar os ensinos e decisões de Moisés. Nesta nossa atual dispensação não é diferente: os sinais devem seguir os que crêem (Mc.16:17).

g) agir sempre segundo a direção de Deus – Moisés é um exemplo no tocante à fonte de nossas decisões. Moisés sempre clamava a Deus e somente fazia aquilo que o Senhor ordenava. Sua submissão à direção divina é uma das suas mais fortes características. Embora tivesse ficado famoso e tivesse sua liderança bem fortalecida, Moisés não ousava decidir, buscava sempre a orientação do Senhor.

h) humildade de espírito – Moisés era humilde, jamais quis tomar o lugar de Deus, tendo sido o principal responsável para que, no povo de Israel, se criasse um sentimento monoteísta tão forte e que perdura até os dias de hoje. Deus teve o primeiro lugar na vida de Moisés e, quanto mais Moisés se aproximou de Deus, mais Deus Se fez aparecer através de Moisés. Em seus cânticos, Moisés dá-nos o exemplo de única e exclusivamente adorarmos ao Senhor, não permitindo que a vaidade e a autoconfiança nos dominem. Além disto, sua humildade lhe permitiu receber e aceitar sábios conselhos da parte de Jetro e de ter sempre auxiliares dispostos a ajudá-lo na sua tão árdua missão.

i) gratidão – Moisés foi grato a seu sogro Jetro, recebendo-o com honras quando já havia libertado o povo de Israel no Egito. Também percebemos que a posição privilegiada que Miriã tinha no meio do povo era resultado da gratidão que Moisés lhe tinha desde a tenra infância. Moisés tinha um coração agradecido, prova de que o Espírito de Deus nele habitava. Devemos ser igualmente agradecidos, como nos recomenda o apóstolo Paulo (Cl.3:15).

j) descentralização – Moisés, embora tivesse sido chamado por Deus para liderar o povo, tinha consciência de que não deveria fazê-lo sozinho. Moisés é um exemplo a ser seguido no tocante à descentralização. Antes mesmo de receber e aplicar o conselho de Jetro, Moisés já determinara a Josué que comandasse o exército na guerra contra Amaleque. Depois da visita do sogro, criou os maiorais de dez, cinquenta, cem e mil, para ajudá- lo nos julgamentos dos litígios no meio do povo e, por fim, pediu a Deus auxiliares na própria tarefa de direção do povo, quando lhe foram dados setenta anciãos. Moisés mostra-nos que o líder não deve o faz-tudo, mas deve ter juntamente com ele pessoas capazes, tementes a Deus e que aborreçam a avareza para ajudá-lo no ensino e na jornada do povo rumo a Canaã.

k) intercessão – Moisés sempre intercedeu pelo povo de Israel. Mesmo nos momentos mais difíceis, em que era pressionado pelo povo, Moisés nunca deixou de pedir em favor de Israel a Deus. Moisés é, assim, um exemplo de intercessor que devemos seguir, pois é nosso dever, como servos do Senhor, interceder uns pelos outros e por todos os homens (I Tm.2:1).

l) mansidão – A Bíblia nos revela que Moisés se tornou o homem mais manso que havia sobre a Terra (Nm.12:3). Com efeito, ao longo de seu ministério, percebemos que Moisés não se portava com arrogância nem com dureza, mas era manso, buscando a conciliação do povo com Deus e que as decisões drásticas fossem tomadas só em último caso.

m) direção de Deus – Moisés sempre clamava ao Senhor e d’Ele procurava ter a devida orientação para a tomada de decisões, inclusive no que se refere à sua sucessão. Mostra-nos, portanto, que não pode haver líder eficaz que não siga a direção do Senhor.

IV – O QUE APRENDEMOS A NÃO FAZER COM MOISÉS

– Moisés, porém, era um ser humano e, portanto, cometeu erros que devem ser evitados por quem quer servir a Deus, tanto antes quanto depois de sua chamada no monte Horebe.

– O primeiro contraexemplo de Moisés se tem quando de sua iniciativa para libertar o povo com base em suas próprias habilidades. Embora fosse louvável deixar os tesouros do Egito e assumir o vitupério do povo de Israel, Moisés quis realizar esta tarefa, para a qual fora conscientizado pela sua própria mãe desde a primeira infância, com base na força, na violência, nas habilidades humanas. O resultado foi catastrófico, pois nem Moisés conseguiu livrar o povo, nem o povo se entusiasmou a ter Moisés como líder e, como se isto fosse pouco, este gesto fez com que Moisés perdesse tudo o que havia adquirido no Egito.

– Não podemos querer fazer a obra de Deus ao nosso modo, usando de nossas forças e habilidades, mesmo que tenhamos convicção de que fomos chamados pelo Senhor. Não é por força, nem por violência, mas pelo Espírito de Deus (Zc.4:6). Quantos não têm tido retumbantes fracassos por repetirem este erro de Moisés. Todas as habilidades e posições que venhamos a obter ao longo de nossa vida, certamente, são de grande valor
para aquele trabalho que Deus nos chamou, mas não podemos querer levar a efeito este trabalho apenas com estas ferramentas, que são tão somente “esterco”. Precisamos agir pelo Espírito Santo, segundo a Sua direção, pois sem o Senhor, nada poderemos fazer.

– O segundo contraexemplo que nos deixa Moisés é o da impaciência, da precipitação. Embora tenha se tornado o homem mais manso sobre a Terra, Moisés, quando sob muita pressão, por duas vezes fraquejou, o que significou a perda do direito de entrar na Terra Prometida. Pela primeira vez, ao ver o povo entregue à idolatria no episódio do bezerro de ouro, impacientou-se e quebrou as tábuas da lei (Ex.32:19).

– Moisés não pôde conter a sua fúria e, num gesto nítido de precipitação, arremessou as tábuas da lei e as quebrou ao pé do monte (Ex.32:19), atitude totalmente desnecessária e que não trouxe proveito algum, pois o juízo de Deus ao povo se deu da mesma forma, sem que a quebra das tábuas da lei tenha produzido qualquer benefício para o povo. Muito pelo contrário, por causa disto, Moisés teve de subir de novo ao monte e ali ficar mais quarenta dias e noites (Ex.34:2).

– Esta precipitação e impaciência tornariam a ocorrer no episódio da falta de água em Cades (Nm.20:1-13). Pela segunda vez, faltava água e o povo começou a murmurar. Moisés, como sempre, clamou ao Senhor e Deus, então, mandou-lhe que ele ajuntasse a congregação e que Arão falasse à rocha, rocha que verteria água para todo o povo. Moisés e Arão, porém, após ter ajuntado todo o povo, chamaram-nos de rebeldes, indagaram-lhes se porventura tirariam água daquela rocha e, em seguida, Moisés feriu a rocha duas vezes, tendo, então, saído água para o povo. Entretanto, Deus lançou em rosto a incredulidade de Moisés e de Arão, dizendo que, por causa disto, não entrariam eles na Terra Prometida. O episódio ficou conhecido como as águas de Meribá (em hebraico “Merivá”), que significa “disputa”.

– Assim, uma impaciência que não havia resultado em qualquer punição a Moisés, agora foi decisiva para que Moisés não entrasse na Terra Prometida. Mas não seria uma falta tão pequena para causar uma conseqüência tão grave a um homem de Deus tão exemplar como era Moisés?

– O Senhor disse a Moisés e Arão que eles não entrariam na Terra Prometida porque haviam sido incrédulos (Nm.20:12). Deus mostra, neste Seu gesto, que é um Deus justo e imparcial. Assim como os israelitas de mais de vinte anos não entraram em Canaã por causa da incredulidade, os líderes também não entrariam ali pelo mesmo motivo. A penalidade não foi excessivamente rigorosa, mas a mesma que foi aplicada para toda aquela geração. Deus não tem acepção de pessoas (Dt.10:17). Este é um importante alerta para certos “líderes” que se acham em uma posição distinta da de seus liderados diante de Deus. Todo o povo de Deus é formado de sacerdotes, todos são ungidos de Deus, não há outro mediador entre Deus e os homens senão Jesus Cristo homem (I Tm.2:5).

– A incredulidade de Moisés e Arão foi extremamente grave, pois foi demonstrada diante de todo o povo. Moisés e Arão não creram na palavra de Deus e, mais do que isto, se consideraram como os autores do prodígio que iria se realizar. Observemos o texto sagrado e verifiquemos que ambos desafiam o povo, entram em “disputa”, em “contenda” com o povo, o que estava totalmente contra os propósitos de Deus.
– Em todos os outros episódios, vemos que era o povo quem contendia com Moisés. Aqui é Moisés que começa a disputar com o povo, quem o desafia. Isto foi prejudicial para Moisés, pois o povo, pela misericórdia de Deus, saciou a sua sede, enquanto que Moisés e Arão perderam o direito de entrar na Terra Prometida. Moisés deixou-se levar, durante um instante, pela vaidade, pelo orgulho, achou-se capaz de tirar água da rocha, quando, em verdade, quem o faria seria o Senhor.

– É um gravíssimo problema, que pode custar a salvação, o líder começar a contender com o povo, a desafiá- lo, a querer iniciar uma peleja com o povo de Deus. Por primeiro, deve o líder se lembrar que o povo é de Deus e que o povo de Deus é a menina dos Seus olhos (Dt.32:10; Zc.2:8). Assim, nunca é sensato disputar, provocar ou fazer sofrer o povo de Deus.

– Por segundo, quando o líder assim procede, acaba querendo prevalecer sobre todos e isto lhe obriga a tomar uma atitude de estrelismo, de proeminência, que não combina com a necessária humildade e renúncia de si mesmo que são exigíveis de todo e qualquer servo de Deus, máxime de quem está em posição de liderança. Deus desapareceu das palavras de Moisés e Arão, que passaram a dizer que eles tirariam água da rocha para o povo (Nm.20:10). Tal atitude é insana, visto que Deus humilha todo aquele que se exalta (Mt.23:12; Lc.14:11;18:14).

– Não bastasse a incredulidade e a autoexaltação, que são duramente punidas pelo Senhor, o gesto de Moisés foi uma desobediência. Moisés simplesmente não fez o que o Senhor mandou e, ao ferir a rocha, e por duas vezes, em vez de Arão falar a ela, demonstrou um individualismo que não lhe era comum (quis aparecer em detrimento de seu irmão) e usou de violência que não havia sido autorizada. Uma desobediência deliberada, diante de todo o povo, não poderia ter outra punição senão a que Deus deu: a de separação entre o destino deste povo e o destino dos líderes.

– Se Deus assim tratou com Moisés no tempo da lei, onde tudo era figura do que estava para vir, como tratará aqueles que de novo crucificarem o Filho de Deus, desobedecendo ao Senhor diante de todo o povo de Deus reunido? Muitos líderes não avaliam o risco que correm quando iniciam uma contenda com a igreja, quando deliberadamente passam a ferir a rocha e a deixar de observar os mandamentos do Senhor. Tomemos cuidado, pois, se Moisés não entrou na Terra Prometida mas passou a pertencer à glória divina (tanto que esteve com Elias no monte da Transfiguração), mesma sorte não terão aqueles que já vivem na dispensação da graça, onde Deus Se revelou completamente na pessoa de Jesus Cristo (cfr. Hb.6:4-9).

– Assim, numa oportunidade em que Deus queria Se santificar na presença do povo, ou seja, mostrar a Sua santidade a Israel, Moisés e Arão pecaram deliberadamente, o que resultou na perda de ambos ingressarem na Terra Prometida. Deus mostrou assim a Sua santidade e, uma vez mais, que é um Deus intolerante com o pecado. Por isso, amados irmãos, tomemos cuidado, pois no céu não entra pecado.

– O terceiro contraexemplo que Moisés nos apresenta é o de ter sido negligente na educação de sua própria família. Se demonstrou ter fé ao deixar os tesouros do Egito e assumir o vitupério de seu povo, também é fato que Moisés não se preocupou em formar a sua família na mesma esperança e promessa que havia aprendido de sua mãe.

Quando vai para o Egito, no meio do caminho o Senhor lhe aparece e quase o mata, levando-o ao risco de morte para que houvesse a circuncisão de Gérson. Como se não bastasse isso, vemos, depois, que a família de Moisés retornou ao convívio de Jetro e só iria se reunir a Moisés após a libertação do povo.

Por fim, problemas familiares entre a sua mulher e Miriã foram o estopim de uma das maiores sedições contra Moisés, que exigiu a intervenção direta do próprio Deus. – Moisés, embora tenha sido criado dentro dos parâmetros da Palavra do Senhor, não teve esta mesma preocupação com relação a sua família, o que lhe trouxe sempre estorvos no seu ministério. Não deve o homem chamado por Deus proceder de igual maneira. O descuido de muitos ministros e oficiais com as suas famílias tem sido um dos grandes fatores de fracassos que, não raro, comprometem a própria salvação do obreiro. A família é elemento fundamental para o alicerce do ministério. O mau governo da casa é sinal de fracasso no ministério.

– Outros, no entanto, além de não governarem bem as suas casas, permitem que suas famílias, indevidamente, influam nos seus ministérios. A família é elemento que dá base ao ministério, mas as relações familiares não podem ser um fator preponderante no exercício do ministério. Quando os problemas familiares entre Miriã e sua cunhada extrapolaram as paredes de casa e influíram no comando do povo, houve uma rebelião e um grande prejuízo para o povo de Deus (Nm.12:1). Devemos separar o que é familiar do que é ministerial, não permitindo que favoritismos decorrentes do parentesco venham a influir e contaminar o ministério de cada um.

OBS: A propósito, sem que se queira polemizar, somos do entendimento de que a mulher mencionada em Nm.12:1 é Zípora, ou seja, que Moisés teve apenas uma mulher. O relacionamento de Zípora com Miriã não fora amistoso e pode ter sido esta uma das razões pelas quais Zípora resolveu voltar ao convívio de Jetro, depois de ter partido com Moisés para o Egito.

 Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2014_L13_caramuru.pdf

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