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LIÇÃO Nº 13 – O SACERDÓCIO CELESTIAL 

   

O sacerdócio de Jesus é superior, porque é celestial.  

INTRODUÇÃO

– Terminando o estudo sobre o tabernáculo, analisaremos o sacerdócio celestial de Cristo e, por consequência, de Seu corpo, a Igreja.  

– O sacerdócio de Jesus é superior.  

I – A FIGURA TÍPICA DO SACERDÓCIO DE MELQUISEDEQUE  

– Terminando o estudo sobre o tabernáculo, analisaremos o sacerdócio celestial de Cristo e, por consequência, de Seu corpo, a Igreja.  

– Este estudo tem de ter por parâmetro o capítulo 7 da epístola aos hebreus, onde o autor faz a comparação entre os sacerdócios de Cristo e dos descendentes de Arão.  

– Depois de o autor da carta aos hebreus ter advertido os crentes judeus do perigo que representa a apostasia da fé, pois este era o tema da carta, já que aqueles crentes estavam querendo retornar ao judaísmo em meio à crise política que atingia a Judeia naquele tempo,

prestes que estava a explodir a guerra entre judeus e romanos, guerra que levaria à destruição do templo e de Jerusalém, uma vez que os cristãos estavam sendo perseguidos tanto pelos judeus (At.8:1; I Ts.2:14) como agora, também, pelos romanos, já que estavam a sofrer a primeira grande perseguição romana contra a Igreja, ocorrida nos dias de Nero, 

o escritor retoma o argumento a respeito da superioridade do sacerdócio de Cristo em relação ao sacerdócio levítico, a fim de explicar porque Jesus é chamado de “sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque”, como se encontra no Sl.110:4.

OBS: “…No capítulo 5, o apóstolo provou que Cristo era sacerdote; No capítulo 6, passou por outros tópicos para preparar os espíritos dos ouvintes;

aqui ele volta a tomar o fio do que ele estava dizendo; pois ele tenta provar que o sacerdócio de Cristo, em comparação com o levítico, é muito superior; da seguinte forma:

primeiro, a excelência desse sacerdócio, comparando-o com o do Antigo Testamento; segundo, que os fiéis devem se submeter com toda a reverência ao sacerdote Cristo.

Quanto ao primeiro, demonstra a prerrogativa do sacerdócio de Cristo sobre o levítico em nome da pessoa do mesmo sacerdote; em segundo lugar, da parte do ministério.

Subdivide o primeiro ponto demonstrando a existência do sacerdócio de Cristo pela promessa divina e a necessidade desse sacerdócio.

A promessa está contida no Salmo 110: “O Senhor irá e não se arrependerá: você é sacerdote para sempre”; a partir do qual ele argumenta três coisas para provar sua intenção:

1) a frase “de acordo com a ordem de Melquisedeque”;

2) o que diz “juro”;

3) “Você é um sacerdote”.

Quanto a isso, mostra a semelhança de Cristo com Melquisedeque, e dessa semelhança conclui que o sacerdócio de Cristo é superior ao de Levi; descreve as condições de Melquisedeque e mostra que elas tipificam Cristo.

Descreve-o também pelo nome, chamando-o de Melquisedeque, que é o que como a Escritura o chama (Gn.14), de onde vem a história que o apóstolo supõe aqui.…” (AQUINO, Tomás de. Comentário da Epístola aos Hebreus. Trad. J.L.M. n. 24. Cit. Hb.7:128. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 27 nov. 2017) (tradução Google adaptada por nós de texto em espanhol).   

– Cumpre observar, de pronto, que o autor aos hebreus se utiliza de uma expressão do Antigo Testamento, das chamadas Escrituras hebraicas, precisamente para mostrar que não estava a “inovar”, mas, sim, a fazer uma interpretação de um texto, a fim de demonstrar com clareza àqueles crentes hebreus a superioridade do sacerdócio de Cristo em relação ao sacerdócio levítico e a insensatez que seria retornar às práticas do judaísmo.  

– Para explicar a respeito da superioridade de Cristo, o autor, então, vai rememorar a história de Melquisedeque, o rei de Salém que sai ao encontro de Abrão, depois que este vence os exércitos dos reis que haviam atacado as cidades da planície, resgatando, assim, o seu sobrinho Ló, episódio narrado no capítulo 14 do livro de Gênesis.  

– Melquisedeque é apresentado, em primeiro lugar, como rei. Este fator já é um elemento diferencial dele em relação aos sacerdotes levíticos, pois eles não tinham direito algum à coroa real.

A realeza de Melquisedeque já é um fator que o torna superior aos sacerdotes levíticos, visto que ele era rei e sacerdote, o que nunca ocorreu com relação aos da linhagem de Arão.  

– Verdade é que, no curto período dos macabeus, Alexandre Janeu (103-76 a.C.) tomou tanto o título de rei como de sumo sacerdote, no que foi seguido por seus filhos Aristóbulo II (66-63 a.C.) e João Hircano II ( 67 a.C.).

No entanto, a partir da derrota de Aristóbulo, vencido que foi pelos romanos sob o comando de Pompeu, não mais se permitiu ao sumo sacerdote judeu utilizar-se da coroa, tendo, logo em seguida, Herodes, o Grande, que era um edomita (idumeu), sido feito pelos romanos rei da Judeia.  

– Esta reunião do sacerdócio com o reino foi desdobramento da decisão tomada por uma assembleia como se descreve em I Macabeus 14:25-49, assembleia que, à evidência, não poderia traspassar os parâmetros estabelecidos por Deus, que sempre separaram o reino do sacerdócio, de forma que não tinha, portanto, qualquer legitimidade tal deliberação, até porque, na própria deliberação, conforme se vê em I Macabeus 14:41:

“…Os sacerdotes e os judeus resolveram, portanto, considerar Simão como governante e como sumo sacerdote para sempre, até que surgisse um profeta legítimo” (Edição Pastoral), ou seja, a própria deliberação aguardava um “profeta legítimo”, ou seja, um descendente de Davi que pudesse reinar segundo a vontade de Deus externada em II Sm.7:16; I Rs.8:25; II Cr.6:16 e Jr.33:17.  

– Melquisedeque é apresentado como “rei de justiça” (Hb.7:2), pois este, aliás, é o significado do seu nome, de sorte que, aqui também, já se vê um diferencial entre este sacerdócio e o sacerdócio levítico,

uma vez que a justiça está relacionada com o sacerdócio real de Melquisedeque, enquanto que o sacerdócio levítico, como pudemos observar já, teve como origem o triste e trágico episódio do bezerro de ouro, quando houve a quebra dos dois primeiros mandamentos da lei, ou seja, uma grande injustiça praticada pelo povo de Israel.  

– “…Olhemos agora para as diferentes formas nas quais o apóstolo delineia uma comparação entre Cristo e o próprio Melquisedeque.

A primeira similaridade está no título. Não há ausência de mistério em ser ele chamado rei de justiça, porque, ainda que se atribua tal honra aos reis que governam com moderação e equidade, todavia esse título pertence, propriamente, exclusivamente a Cristo, visto que ele não só exerce um governo justo como os demais, mas, em acréscimo a isso, ele nos comunica a justiça de Deus.

Isso ele faz, em parte ao tornar possível que fôssemos considerados justos por meio de um gracioso ato de reconciliação; e, em parte, ao renovar-nos por meio de seu Espírito, de modo a vivermos vidas santas e piedosas.

Dele, pois, declara-se ser rei de justiça, em razão do que ele faz: comunicando justiça a todo seu povo.

2 Daqui se conclui que fora de seu reino nada existe senão pecado reinando entre os homens.

Assim, quando Zacarias o compele a tomar posse de seu reino, como por um solene decreto divino, ele assim o louva:

“Alegra-te muito, ó filha de Sião; eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador” [Zc. 9:9]. O que ele pretende nos dizer é que essa justiça, que de outra forma nos faltaria, nos foi outorgada com o advento de Cristo.…” (CALVINO, Joao. op.cit., pp.168-9) (destaques originais).  

– O sacerdócio de Melquisedeque apresenta-se, portanto, como o sacerdócio lastreado na justiça, na observância da vontade de Deus, na retidão, o que o tornava, indubitavelmente, como superior ao sacerdócio arônico.  

– Melquisedeque é apresentado, também, como “rei de paz” (Hb.7:2), pois este ó significado da palavra “Salém”, que era a cidade governada por Melquisedeque que, não sem razão, era a própria cidade de Jerusalém, a sede da realeza, a capital de Israel.

Paz, como se sabe, para os hebreus, significa completude, integridade, comunhão e o que o sacerdócio levítico não representava era a comunhão entre Deus e os homens, já que o sacerdócio levítico ficava separado da presença de Deus pelo véu que separava o lugar santo, ao qual tinham acesso os sacerdotes da linhagem de Arão, e o lugar santíssimo, onde ficava a arca, símbolo da presença de Deus, onde entrava o sumo sacerdote uma vez ao ano apenas.  

– “…A segunda similaridade que o apóstolo faz notar consiste no reinado da paz. E essa paz é o fruto da justiça sobre o qual esteve falando.

Daqui se infere que, aonde quer que o reino de Cristo se estenda, ali deve haver paz, tal como vemos em Isaías capítulos 2 e 9, bem como em outros lugares.

Visto, porém, que para os hebreus paz é sinônimo de uma condição de prosperidade e felicidade, esta passagem pode ser assim considerada. Prefiro, entretanto, entendê-la como a paz interior que nos proporciona uma consciência tranquila e feliz aos olhos de Deus.

Não se pode apreciar com propriedade o real valor de tal bênção, a menos que se descubra, por outro lado, quão terrível é ser torturado por uma contínua inquietude, sorte que a todos nós se faz inevitável, até que nossas consciências sejam apaziguadas pela reconciliação com Deus através de Cristo.…” (CALVINO, João. op.cit., p.169) (destaques originais).  

– O sacerdócio de Melquisedeque apresenta-se, portanto, como o sacerdócio que traz a comunhão perdida entre Deus e os homens, que supera a divisão efetuada pelo pecado em tal relacionamento (Is.59:2).  

– Melquisedeque é apresentado, ainda, como “sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida” (Hb.7:3).

Isto não quer dizer, como entendem alguns equivocadamente, que Melquisedeque não seja um ser humano, mas, sim, que, no relato bíblico, seu sacerdócio, ao contrário do de Arão, não é vinculado à sua linhagem.  

– Melquisedeque exsurge no texto bíblico repentinamente, quando Abrão retorna da guerra, não tendo sequer Melquisedeque participado do conflito.

É dito apenas que ele era “sacerdote do Deus Altíssimo” e que foi ao encontro de Abrão com o intuito de abençoá-lo e desfrutar de um momento de comunhão, simbolizado pela refeição que tiveram ambos, com pão e vinho.  

– Não se procura explicar como, em plena terra de Canaã, tomada pela idolatria e por práticas perversas que levaram o Senhor, inclusive, a determinar a destruição deles por parte de Israel, em virtude da sua “medida de injustiça” (Gn.15:16; Dt.7:1-5), descendência que fora amaldiçoada (Gn.9:25), havia um “sacerdote do Deus Altíssimo”, que abençoou o próprio Abrão, amigo de Deus.

Certamente, tal sacerdócio relação alguma havia com aquela descendência, com a origem biológica, sendo totalmente desvinculada destas características.

OBS: “…Não era ocorrência comum que em um país dominado por tanta superstição pagã fosse encontrado um homem que mantivesse, em sua pureza, o culto estabelecido por Deus. Pois de um lado ele tinha por vizinhos Sodoma e Gomorra; e, de outro, os cananeus, e assim de todos os lados ele se via rodeado por pessoas ímpias.…” (CALVINO, João. Comentário de Hebreus. Trad. de Válter Graciano Martins, p.167).  

– A ausência de genealogia é, então, vinculada pelo autor aos hebreus à eternidade, para mostrar que o sacerdócio de Melquisedeque é eterno, como, aliás, já o dissera o salmista no trecho invocado pelo escritor para fazer a comparação entre os dois sacerdócios.

Não se está, em absoluto, dizendo que Melquisedeque era eterno, que seria ele Jesus ou um anjo, como alguns chegaram a cogitar, mas a mostrar que a ausência de genealogia no relato bíblico é uma figura da eternidade do sacerdócio de Cristo, pois, como já dito pelo escritor aos hebreus, Jesus é o Filho, que criou todas as coisas e as sustenta pela palavra do Seu poder (Hb.1:2,3), sendo, pois, eterno.

OBS: “…A intenção do apóstolo era expressar algo mais enfático do que o mero fato de a família de Melquisedeque ser obscura ou desconhecida.

Tampouco me deixo impressionar pela objeção de que a realidade não corresponde à figura ou tipo de Cristo, já que ele tem um Pai e uma mãe na terra.

O apóstolo prontamente revela seu significado, ao adicionar a frase singular: “sem descendência”, ou parentesco.

Ao expressar-se assim, o autor exime Melquisedeque do que é comum a todos, a saber: da lei geral de descendência por meio do nascimento, indicando com isso que ele era eterno, e que não se deve buscar entre os homens seu recente nascimento.

Por certo que ele nasceu de pais [terrenos]; o apóstolo, porém, não está discutindo, aqui, sobre ele na qualidade de um ser humano, mas, ao contrário, o estabelece como tipo de Cristo.

Portanto, o autor não permite que se veja nele algo mais além do que a Escritura ensina. Ao tratarmos de tudo o que tem a ver com Cristo, é preciso observar escrupulosamente que não temos de aceitar nada que não esteja revelado na Palavra de Deus.

Ora, visto que o Espírito Santo, ao introduzir esse rei como o mais eminente de seu tempo, não menciona sua origem, nem posteriormente faz qualquer menção de sua morte, por acaso ele não faz isso com o propósito de atribuir-lhe eternidade?

O que foi prefigurado em Melquisedeque, foi na realidade revelado em Cristo. Convém-nos, pois, estar satisfeitos com esta perspectiva moderada, pois ao mostrar-nos Melquisedeque como alguém que nunca nasceu e que nunca mor- reu, a Escritura está retratando a verdade de que, para Cristo, não existe nem começo nem fim…” (CALVINO, João. op.cit., pp.169-70).

– Tanto assim é que o escritor faz questão de apontar uma “semelhança” entre Melquisedeque e Jesus, a mostrar, portanto, que não há como se confundir Melquisedeque com Cristo ou com um ser angelical, pois o autor faz o mesmo que já havia feito na comparação entre Cristo e os homens, quando apontou, também, a semelhança que havia entre o Senhor e os seres humanos (Hb.2:17), já que, ao contrário dos homens, o Senhor nunca pecou.

 

– Também é dito que, da mesma forma repentina como Melquisedeque surge no texto sagrado, ele também desaparece, mas o faz em pleno exercício sacerdotal.

Melquisedeque participa de uma refeição sagrada com Abraão, abençoa-o e, posteriormente, desaparece do texto, somente vindo a ser novamente mencionado no Sl.110:4, e como sendo o nome de uma ordem sacerdotal, ou seja, mantém a sua condição de sacerdote, o que serve de indicador da permanência de sua condição de sacerdote.  

– Com o sacerdócio arônico, entretanto, não é isto que ocorre. Arão, o primeiro sumo sacerdote, é apresentado no texto no término de sua função, tanto que, antes de morrer, despe-se das vestes sacerdotais, a indicar o caráter temporário e passageiro de seu ministério (Nm.20:23-28).

O texto sagrado também narra a morte de Eleazar, o segundo sumo sacerdote (Js.24:33), a reforçar esta ideia.  

– Como se isto fosse pouco, não podemos nos esquecer das genealogias de sumo sacerdotes constantes das Escrituras Sagradas (I Cr.6:4-15; Ed.7:1-5), que, de duas maneiras, indicam esta inferioridade do sacerdócio levítico em relação ao sacerdócio da ordem de Melquisedeque no que respeita à sua temporariedade, pois, a um só tempo, revelam a dependência da linhagem que tinha este sacerdócio como a sucessão de vários sumos sacerdotes, que não podiam superar o limite da morte.  

– Além de ter qualidade real e de não ter seu sacerdócio vinculado à linhagem ou ao tempo, Melquisedeque é apresentado como “grande sacerdote”, porque o patriarca Abrão lhe deu o dízimo de tudo (Hb.7:4).  

– O texto de Gn.14 afirma que Abrão deu o dízimo de tudo para Melquisedeque. Ora, Abrão era o “patriarca”, ou seja, o pai da nação de Israel, o “primeiro judeu”. Ao dar o dízimo a Melquisedeque, reconhece o sacerdócio daquele homem e a ele se submete.   

– O autor aos hebreus entende que o dízimo dado foi o dízimo dos despojos, ou seja, daquilo que Abrão teria amealhado na batalha contra aqueles reis que haviam vencido as cidades da planície, muito provavelmente o que pertencia àqueles reis, pois Abrão não quis ficar com coisa alguma que pertencia aos próprios sodomitas e, por conseguinte, aos habitantes de Canaã (Gn.14:20).   

– Ao mencionar este fato, o escritor logo lembra aos crentes judeus que o sacerdócio levítico é sustentado pelos dízimos dos israelitas (Nm.18:21,24; Hb.7:5), enquanto que o sumo sacerdote era sustentado pelos dízimos dos dízimos dos sacerdotes (Nm.18:26-28), como compensação de não terem eles qualquer herança no território de Israel, pois deveriam se dedicar plenamente ao serviço do Senhor.  

– Ora, tanto Melquisedeque quanto os sacerdotes da linhagem de Arão recebiam dízimos, mas havia um fato que os diferenciava.

É que quem deu dízimo a Melquisedeque foi o próprio Abraão, que é o patriarca de todos os judeus, de forma que, nesta condição, os sacerdotes levíticos também deram dízimos a Melquisedeque, já que seu ancestral o fez.

OBS: “…Portanto, sendo Abraão um proeminente servo de Deus e um profeta, ao oferecer dízimos a Melquisedeque, na função de sacerdote, com isso reconhecia que Melquisedeque o excedia em honra.

Se Abraão, o patriarca, o considerava como a pos- suir precedência sobre ele, sua estirpe devia ser de uma singularidade tal que o excedia muitíssimo em dignidade.…” (CALVINO, João. op.cit., p.172) (destaques originais).   

– Assim, o sacerdócio de Melquisedeque é superior ao sacerdócio levítico, pois o sacerdócio levítico, através de Abraão, deu dízimos a Melquisedeque, de sorte que, para os sacerdotes levíticos, Melquisedeque tem de ser considerado como sacerdote superior, até porque, na própria lei, os sacerdotes dizimavam para Arão, que era o sumo sacerdote, ou seja, um sacerdote superior a eles.

No entanto, Arão, que também estava nos lombos de Abraão, deu dízimos a Melquisedeque, sendo este, pois, superior.  

– Mas há um outro fator que mostra a superioridade do sacerdócio de Melquisedeque, qual seja, a de que Melquisedeque abençoou a Abrão, que era o portador das promessas divinas (Hb.7:6).  

– A lei foi dada a Israel precisamente porque, por causa da sua incredulidade, os israelitas não puderam estabelecer uma comunhão com o Senhor como era desejado por Deus, não puderam tomar para si, de forma direta e imediata, as promessas que haviam sido dadas a Abraão. Assim sendo, as promessas eram superiores à própria ordem estabelecida pela lei.  

– Fosse isto pouco, vê-se que o próprio portador das promessas foi abençoado por Melquisedeque, o que faz com que este sacerdócio se torne realmente “grande”, já que o próprio portador das promessas é objeto da bênção de Melquisedeque e, como disse o escritor aos hebreus, “sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior” (Hb.7:7).  

– Em sendo assim, Melquisedeque encontra-se acima de Abraão e, por consequência, acima de Levi, de Arão e de todos os sacerdotes e sumo sacerdotes constituídos pela lei mosaica.  

– Retoma, então, o tratadista a questão da eternidade do sacerdócio, mencionada pelo salmista, para lembrar que os sacerdotes da ordem levítica morriam, mas que Melquisedeque é mostrado nas Escrituras como um sacerdote que estabelece uma ordem eterna (Hb.7:8),

o que, uma vez mais se diga, não significa que Melquisedeque era eterno, mas, sim, que é mostrado sem genealogia no texto sagrado e mantido na função sacerdotal, para indicar que a ordem sacerdotal superior permanece para sempre.  

– “…Em relação a Arão como figura de Cristo, alguns pontos prestam-se a aplicações espirituais e outros não. O sumo sacerdote deveria ser diretamente da linhagem de Arão, o primeiro sumo sacerdote levítico. Mediante tal conceito, tinha então direito por sucessão ao sacerdócio. Em outras palavras, não era tão necessária uma nomeação; e sim, a sucessão mediante a morte do antecessor.

Entretanto, o mesmo não se aplica a Cristo. Ele foi nomeado, chamado diretamente por Deus de “Sumo Sacerdote”, segundo a ordem de Melquisedeque. No grego, isso significa “chamar”, “nomear”, “designar para o ofício”.

Por esta razão o sacerdócio de Cristo transcende ao sacerdócio de qualquer outro personagem: humano ou mesmo celestial. Em Cristo tanto as necessidades que existiam no sacerdócio como a vontade de Deus quanto à perfeição foram satisfeitas — isso tanto no sentido de sucessão como no sentido de perfeição (vv. 26,28).…” (SILVA, Severino Pedro da. Hebreus: as coisas grandes e novas que Deus preparou para você, pp.125-6).  

II – O SACERDÓCIO DE CRISTO SEGUNDO A ORDEM DE MELQUISEDEQUE  

– Depois de ter mostrado a superioridade de Melquisedeque em relação a Arão, o autor passa a demonstrar que o sacerdócio de Cristo é da ordem de Melquisedeque, ou seja, tem as mesmas características daquele “sacerdote do Deus Altíssimo”, que, portanto, é uma figura, uma ilustração, um tipo do sacerdócio de Cristo.  

– Se o sacerdócio de Melquisedeque é superior ao sacerdócio levítico, tem-se, por óbvio, que a perfeição não pertence ao sacerdócio levítico, pois nada que é perfeito pode ter algo que lhe seja superior.

Ora, se o sacerdócio levítico não é perfeito, tendo sido o sacerdócio instituído pela lei, tem-se que é mister outro sacerdócio, que tenha esta característica da perfeição, sendo, pois, completa insensatez quererse voltar à lei, como pretendiam os crentes judeus, se o sacerdócio estabelecido pela lei é imperfeito.  

– Esta imperfeição, lembre-se, decorre do próprio texto da lei, vez que o escritor aos hebreus nada mais fez que interpretar o capítulo 14 de Gênesis, que faz parte da “Torá”, ou seja, da lei, para indicar a superioridade de Melquisedeque em relação a Arão e, por via de consequência, do sacerdócio de Melquisedeque sobre o sacerdócio arônico.

– Mas, além de o texto da Torá indicar a superioridade do sacerdócio de Melquisedeque, temos que o salmo diz que foi constituído um outro sumo sacerdote, um sumo sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque, ou seja, esta superioridade prossegue, pois o próprio Deus constituiu um novo sumo sacerdote.  

– Segundo Edward Reese e Frank Klassen, o Salmo 110 foi elaborado por Davi logo após a revelação da promessa messiânica ao rei, por intermédio do profeta Natã, o que reforça a ideia de um sacerdócio real e, também, de eternidade, já que, na profecia dada a Davi, foi dito que a sua casa reinaria para sempre sobre Israel (II Sm.7:13; I Cr.17:12).  

– Ao indicar que viria um outro sumo sacerdote, eterno e segundo a ordem de Melquisedeque, Davi está a anunciar que o sacerdócio levítico não era perfeito e que seria substituído por outro, que lhe era superior, seja porque ao se dizer “da ordem de Melquisedeque”, estava-se confirmando tal superioridade, por tudo quanto já havia sido dito a respeito do sacerdócio de Melquisedeque em relação ao sacerdócio de Arão, seja porque se estava diante de um “sacerdócio eterno” e não de um sacerdócio temporário e passageiro, que não conseguia superar o limite da morte.  

– O autor, então, fala da “ordem de Arão”, que nada mais era que o sacerdócio levítico, a demonstrar, portanto, que os sacerdotes constituídos segundo a lei eram inferiores ao sacerdócio da ordem de Melquisedeque, que é a ordem sacerdotal de Jesus Cristo. Como, então, podiam os crentes judeus querer voltar a se submeter ao sacerdócio levítico, retornando às práticas judaicas?  

– O autor diz que, quando se muda o sacerdócio, necessariamente se tem mudança de lei e, portanto, não podia o sacerdócio da ordem de Melquisedeque se guiar pela lei de Moisés e, tanto isto era verdade, que Jesus Cristo não era da linhagem de Arão, mas, sim, da tribo de Judá, a tribo de Davi, sobre a qual não se falou jamais a respeito de sacerdócio.

OBS: “…Não existe mudança onde há perfeição. Segue-se, pois, que o ministério da lei não era perfeito, visto que uma nova ordem tinha de ser estabelecida, da qual fala Davi…”  (CALVINO, João. op.cit., p.179).  

– “…Devemos observar aqui que não se fala de mudança de sacerdote, para que haja mudança na Lei. O termo “mudança”, aqui, fala do “sacerdócio”, isto é, do ofício, e não da pessoa. No caso de Arão e seus descendentes, falava-se da pessoa, e não do ofício.

O sacerdócio aarônico, embora tenha sido também chamado de ‘perpétuo’ (Ex 40.15), teve seu termo com a morte de Jesus Cristo. Doravante é instituído um novo sacerdócio, que perdurará eternamente.

Seu sumo sacerdote também não terá sucessor — porque Ele vive eternamente. Ele não pertence à tribo de Levi e por extensão à família de Arão; sua genealogia é encontrada na tribo de Judá, cuja posse e realeza foram exercidas na cidade de Jerusalém (antiga Salém), onde Melquisedeque fora rei e sacerdote (Gn 14.18; Hb 7.1,2).

Sua genealogia não foi encontrada, como também não podemos encontrar a genealogia de Cristo, quando buscada do ponto de vista sacerdotal e em seu aspecto divino. Semelhantemente, ambos não tiveram antecessores e também não terão sucessores (sacerdotais), porque no sacerdócio de ambos não haverá nenhuma mudança.…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., pp.126-7).  

– Este sacerdote, anunciado logo após a promessa messiânica dada a Davi, é um sacerdócio vinculado à realeza, assim como era Melquisedeque, e não devia sua constituição pela linhagem, pela “lei do mandamento carnal”, já que a linhagem está vinculada à descendência biológica, mas, sim, pela “virtude da vida incorruptível” (Hb.7:16).  

– Assim como Melquisedeque era um “sacerdote do Deus Altíssimo” em meio a uma descendência perversa e pecadora, destacando-se por sua conduta, pois, em meio a um povo idólatra e altamente pecador, era “sacerdote do Deus Altíssimo” e abençoador, apesar de toda aquela linhagem ter sido amaldiçoada, Jesus tomou a descendência de Abraão, a forma umana, mas não tinha pecado, podendo, deste modo, abençoar a todos os pecadores, concedendo-lhes a salvação.

– Melquisedeque não se corrompeu como os demais moradores de Canaã. Daí a superioridade de seu sacerdócio, uma “virtude de vida incorruptível”.

De igual modo, e com muito maior razão, Jesus também não pecou, o “último Adão” não se deixou vencer pelo diabo, mas, antes, venceu-o, tirando-lhe o “império da morte” (Hb.2:14) e, por isso, pode, efetivamente, salvar os que a Ele se chegam, tendo agora todo o poder, diante da incorruptibilidade da vida que teve na face da Terra (Mt.28:18).  

– Jesus notabiliza-Se, assim, por Sua justiça, por Sua vida de retidão, por ter cumprido a lei e realizado a obra que lhe foi cometida pelo Pai.

O sacerdócio levítico, ao revés, foi criado por causa de um ato de injustiça, que foi o episódio do bezerro de ouro, que teve uma participação, ainda que sob coação, do primeiro sumo sacerdote, que, afinal de contas, foi quem fabricou o ídolo, como também aquele que, por ter tentado a Deus, não pôde entrar na Terra Prometida. O sacerdote levítico não tinha a “virtude da vida incorruptível”, pois.  

– O sacerdócio levítico, não tendo a “virtude da vida incorruptível”, encontra-se, diz o autor aos hebreus, contaminado pela fragilidade e pela inutilidade, daí a necessidade de ser abrogado, ou seja, substituído por um outro que lhe seja superior.  

– O sacerdócio levítico é fraco porque não pôde vencer o pecado, deixou-se contaminar pelo pecado. Arão não conseguiu enfrentar o povo, fabricou o ídolo e convocou a “festa ao Senhor” (Ex.32:1-5),

ainda que o tenha feito, segundo a tradição judaica, sob coação, após o assassinato de Hur, e não tenha tido participação ativa em todas as celebrações, e, assim que Moisés volta, tenha levado o povo ao arrependimento (Ex.32:25), bem como inspirado os levitas a ficarem “do lado do Senhor” (Ex.32:26)  

– Arão também, juntamente com Moisés, não conseguiu resistir à pressão popular e, nas águas de Meribá e Massá, deixaram de santificar o nome do Senhor e acabaram por desobedecer-Lhe, praticando um ato de injustiça que os privou da entrada na Terra Prometida (Nm.20:7-13). Um sacerdócio que é enfermo seja pouco antes de sua constituição, como pouco antes de seu término.  

– Jesus, ao revés, foi constituído sacerdote por causa de Sua justiça, e isto é revelado no instante mesmo em que se declara a Sua realeza, pela profecia do Salmo 110, realeza que é reafirmada quando de anunciação de Seu nascimento a Maria (Lc.1:32). É, nessa ocasião, declarado como o Santo (Lc.1:35), Ninguém o pôde convencer de pecado enquanto peregrinou por esta Terra (Jo.8:46) e, por esta causa, a morte não O pôde deter, residindo aí  o poderio de Seu sacerdócio.  

– O sacerdócio levítico é inútil, porque, como ele é imperfeito, não tem condições de aperfeiçoar os homens, visto que o sacerdócio é incapaz de tornar os homens perfeitos, já que os próprios sacerdotes não o são.

A instituição do sacerdócio levítico não impediu que a geração do êxodo morresse no deserto, sem entrar na Terra Prometida, inclusive o próprio Arão. OBS: “…A escolha de Arão foi de fato uma escolha divina.

Deus escolheu Arão para ocupar o lugar de sumo sacerdote numa nova ordem criada por Ele, visto que já existia uma outra: a de Melquisedeque.

Mas com o passar dos séculos, a sucessão de sacerdotes tornou-se mais uma necessidade do que uma escolha.

Por esta razão alguns foram escolhidos até mesmo fora da vontade divina, apenas porque, diante da necessidade, ou por morte, ou por doença, velhice, renuncia ou por insubordinação daquele sacerdote que ocupava o cargo, outro era indicado para o seu lugar (cf. I Rs 2.26,27,35).

Em nenhum desses casos era necessário um juramento, mas apenas uma indicação. Já em relação a Cristo, seu ofício sacerdotal foi indicado por Deus por meio de um juramento, visto que se tratava de um sacerdote eterno, e não terreno.…( SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.132).  

– Como, então, poderiam os crentes judeus querer trocar o sacerdócio de Cristo pelo sacerdócio levítico, que era fraco e inútil?  

– Não era à toa que o próprio Moisés afirmara ao povo que surgiria um profeta como Ele, a quem os israelitas deveriam ouvir (Dt.18:15-19), deixando, assim, uma esperança para o povo, esperança que fora renovada com Davi e que dera ensejo à elaboração do Salmo 110.

– O autor aos hebreus faz questão, ainda, de mostrar que a instituição do sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque se dera através de um juramento. O salmista diz que o Senhor jurou ao instituir esta ordem sacerdotal: “Jurou o Senhor e não Se arrependerá: Tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl.110:4).  

– Quando da instituição do sacerdócio levítico, não houve qualquer juramento. Tal fato, segundo o autor aos hebreus, é mais um sinal de que o sacerdócio de Cristo é superior ao da “ordem de Arão”, pois o juramento divino é a prova de que o sacerdócio da ordem de Melquisedeque é eterno e imutável, pois, tendo Deus jurado, não pode tal sacerdócio ser modificado ou substituído, visto que Deus não muda (Ml.3:6) e é eterno.  

– O autor aos hebreus já havia falado do valor do juramento divino ao meditar a respeito do pacto que Deus firmou com Abrão logo depois que o patriarca creu e foi justificado por crer na promessa dada pelo Senhor de que teria descendência (Hb.6:13), quando lembrou que o juramento feito por Deus é um juramento sublime, pois Deus jura por Ele mesmo, que é o Ser Supremo.

– Se o sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque é firmado com juramento divino, tem-se que se trata de um sacerdócio perfeito, que jamais será modificado ou substituído, ao contrário, portanto, do sacerdócio da ordem de Arão.  

– Por ser um sacerdócio perfeito, é um sacerdócio perpétuo, ao contrário do sacerdócio segundo a ordem de Arão, que teve vários sumo sacerdotes, diante da morte física de cada um deles, que, inclusive, não só exigia novos intercessores, como, também, liberava os que haviam matado pessoas por acidente e tinham de se manter nas cidades de refúgio (Nm.35:25,28,32), mostrando que era algo tão previsível, que servia até de limite de pena a infratores da lei.  

– O sacerdócio de Cristo, entretanto, é um sacerdócio perpétuo, eterno, que não tem limite, até porque o sacerdote não mais morrerá, pois ressuscitou e vive para todo o sempre (Ap.1:18), sempre estando, pois, a interceder pelo povo (Is.53:12).  

– Cristo, ao contrário dos sacerdotes da ordem de Arão, é um sumo sacerdote santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime que os céus.

Arão e seus sucessores não ostentam estas qualidades, pois, como já dissemos, são pecadores, culpados, contaminados pelos pecado e não têm como se separar dos pecadores, visto que também o são, sendo, ademais, terrenos, ao passo que o Senhor Jesus veio do céu para exercer este sacerdócio e retornou ao céu, onde está a interceder por nós à direita do Pai.

– “…É evidente que o sumo sacerdote na antiga dispensação não oferecia sacrifício todos os dias, pois o duplo sacrifício por si mesmo e pelo povo era oferecido somente uma vez por ano no Dia da Expiação.

Mas os sacerdotes ordinários ofereciam sacrifícios contínuos por si mesmos e por aqueles que pecavam; eles ofereciam diariamente dois carneiros pelo povo. Segundo Filo, nesse caso, os cordeiros eram oferecidos pelo povo, ao passo que a oferta de farinha de trigo era em favor do próprio sacerdote oficiante (Nm 28.1-8).

Mas Cristo, nosso Sumo Sacerdote eterno, substituiu esta oferta contínua pelo seu próprio sacrifício, ‘… oferecendo-se a si mesmo’ uma única vez (Hb 9.28).

Efésios 4.10 fala do sacrifício completo de Cristo, quando o apóstolo Paulo diz: ‘… subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas’. Isto significa que sua imensidade e seu poder devem ser reconhecidos por todos tanto na esfera humana como na celestial. Esta é a confirmação das palavras de Pedro: ‘… havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências’ (I Pe 3.22).…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.137).  

– Por não ter pecado, o Senhor Jesus não precisa oferecer sacrifícios por Si mesmo, tendo Se santificado a Si mesmo para nos poder santificar (Jo.17:19; Hb.2:11), enquanto que os sacerdotes da ordem de Arão precisam, primeiro, oferecer sacrifícios por seus próprios pecados, para só, então, depois, oferecer sacrifícios pelo povo (Hb.7:27).

– Por isso mesmo, o Senhor Jesus ofereceu um único sacrifício, que é perfeito, que tirou o pecado do mundo, sacrifício este que teve como vítima o próprio Cristo, o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo.1:29). Foi um único sacrifício, que retirou a divisão que existia entre Deus e os homens, como prova o rasgo do véu do templo de alto a baixo, algo que jamais os sacrifícios vários dos sacerdotes levíticos puderam efetuar (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45).  

– O autor aos hebreus ainda faz questão de salientar que a “palavra do juramento” veio depois da lei, já que foi dada pelo salmista Davi, a mostrar, portanto, que se trata de algo que tem de substituir a lei, que tem de vir para obter o que a lei não conseguia fazer por si só.

Demonstra-se, pois, a insuficiência da lei e a necessidade de uma nova aliança que, alicerçada sobre o sacerdócio superior, pudesse efetivamente resolver a questão do pecado e do relacionamento de Deus com o homem.  

– É com esta “palavra do juramento” que o Filho é constituído como sacerdote, um sacerdote perfeito e eterno. Interessante notar, aliás, que, ainda segundo Edward Reese e Frank Klassen, a elaboração do Salmo 110 é concomitante ao Salmo 2, onde se diz que o “Filho é gerado”, ou seja,

é neste instante de revelação da promessa messiânica a Davi, da revelação de que o Cristo seria, também, Filho de Davi, que se tem a consideração deste sacerdócio da ordem de Melquisedeque.  

III – O CARÁTER CELESTIAL DO SACERDÓCIO DE CRISTO  

– Vista a superioridade do sacerdócio por ser da ordem de Melquisedeque, devemos lembrar que o autor aos hebreus diz que o Senhor Jesus está assentado à destra do trono da Majestade, ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem (Hb.8:1,2).  

– Vemos, então, que o Senhor Jesus é apresentado como sumo sacerdote celestial, o que faz com que seja, de pronto, superior, pois os céus são os que contêm o tabernáculo original, de que o tabernáculo construído pelos israelitas era apenas uma réplica, uma semelhança, apresentado como “modelo” (Ex.25:9).  

– Daí entendemos claramente o que disse Nosso Senhor e Salvador ao afirmar que “… ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do Homem, que está no céu” (Jo.3:13). O Senhor Jesus fez questão de mostrar que veio do céu e o céu nada mais é que o lugar da habitação de Deus (Dt.26:15; I Rs.8:30), ou seja, o verdadeiro tabernáculo (Hb.8:2), um maior e mais perfeito tabernáculo (Hb.9:11)   

– “…a honra de ser ministro do santuário celestial, no Reino eterno de Deus, somente foi conferida a nosso Senhor Jesus Cristo.

Moisés foi comissionado por Deus para construir o Tabernáculo no deserto, quando recebeu de Deus o modelo de cada peça e a orientação divina acerca de cada detalhe.

Deus ainda lhe advertiu dizendo: “Atenta, pois, que o faças conforme o seu modelo, que te foi mostrado no monte” (Ex.25:40). Nele, Arão e seus filhos foram ministros. Porém, este não era o verdadeiro Tabernáculo que estava nos céus, cujo arquiteto foi Deus, e não o homem. Nele, somente Jesus teve o privilégio de entrar e nele ministrar!…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.140).  

– O Senhor Jesus, após ter Se oferecido como vítima no único e perfeito sacrifício que tirou o pecado do mundo (Jo.1:29; Hb.10:12), foi até os céus, efetuando uma eterna redenção, com o Seu próprio sangue, satisfazendo a justiça divina (Hb.9:12), o que o Senhor Jesus denominou de “ir para o Pai” (Jo.14:28; 16:16,17,28).  

– No tabernáculo terrestre, aliás, esta circunstância ficou evidenciada com o rasgo do véu de alto a baixo (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45), com que se demonstrou que se abriu um novo e vivo caminho consagrado pelo Senhor, pela Sua carne (Hb.10:20).  

– A própria circunstância de o Senhor Jesus ter levado para o paraíso, o terceiro céu, todos os justos que estavam no seio de Abraão (Ef.4:8-10; II Co.12:2-4; Lc.23:43) mostra claramente que o Senhor entrou no santo dos santos celestial, pagou o preço dos pecados e pôde levar para a “antessala da glória” todos quantos haviam morrido na fé crendo n’Ele e aguardando a pátria celestial, os chamados “heróis da fé” (Hb.11:10,13-16).  

– Todos quantos creem em Jesus têm purificada, por este sangue, a sua consciência das obras mortas para servir ao Deus vivo (Hb.9:14). Os que creem em Cristo se tornam, assim, servidores de Deus, ou seja, sacerdotes e aqui vemos, claramente, a condição que tem os salvos em Cristo de “sacerdotes reais” (I Pe.2:9; Ap.1:5,6).  

– Este sacerdócio dos salvos em Cristo é, portanto, de origem celestial, dado a quem teve purificados os seus pecados (I Jo.2:1,2) e, portanto, pode estar em comunhão com o Senhor, já que liberto por Ele do pecado (Jo.8:36). Por isso, como sacerdotes, os salvos têm pleno acesso ao santuário, ao trono da graça (Hb.4:16; 10:19-23).  

– Quando observamos isto, verificamos o grande poder que tem o sacerdócio da Igreja, que pode, assim, livremente interceder por todos os homens (I Tm.2:1-4) e uma intercessão bem superior a que era feita pelos sacerdotes levíticos, pois com pleno acesso aos céus (Ap.5:8; 8:3,4).  

– Diante desta excelência da intercessão, devemos nós, os salvos em Cristo, exercer tal múnus sacerdotal, não só intercedendo pelos homens, mas, também, oferecendo sempre sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, o nosso culto racional (Rm.12:1),

como também sacrifícios espirituais agradáveis a Deus como pedras vivas do edifício de Cristo ( I Pe.2:5), tais como o louvor (Hb.13:15), a contribuição financeira à obra do Senhor (Fp.4:18), a beneficência e a comunicação (Hb.13:16).

OBS: Por sua biblicidade, apesar da inadmissível distinção entre “sacerdotes” e leigos que existe no Romanismo, vale a pena transcrever trecho a respeito do múnus sacerdotal da Constituição Lumen Gentium, o documento doutrinário básico do Concílio Vaticano II:

“O supremo e eterno sacerdote Cristo Jesus, querendo também por meio dos leigos continuar o Seu testemunho e serviço, vivifica-o pelo Seu Espírito e sem cessar os incita a toda a obra boa e perfeita. E assim, àqueles que Intimamente associou à própria vida e missão, concedeu também participação no seu múnus sacerdotal, a fim de que exerçam um culto espiritual, para glória de Deus e salvação dos homens.

Por esta razão, os leigos, enquanto consagrados a Cristo e ungidos no Espírito Santo, têm uma vocação admirável e são instruídos para que os frutos do Espírito se multipliquem neles cada vez mais abundantemente.

Pois todos os seus trabalhos, orações e empreendimentos apostólicos, a vida conjugal e familiar, o trabalho de cada dia, o descanso do espírito e do corpo, se forem feitos no Espírito, e as próprias incomodidades da vida, suportadas com paciência, se tornam em outros tantos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (cfr. 1 Ped. 2,5);

sacrifícios estes que são piedosamente oferecidos ao Pai, juntamente com a oblação do corpo do Senhor, na celebração da Eucaristia. E deste modo, os leigos, agindo em toda a parte santamente, como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo.…” (Lumen getium, n.34. Disponível em: http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html Acesso em 01 mar. 2019).  

– Temos sido bons sacerdotes?  Temos correspondido a esta excelência, já que nosso sacerdócio deriva do sacerdócio celestial de Cristo?

No tabernáculo terrestre, os maus sacerdotes morreram fulminados por oferecerem fogo estranho (Lv.10:1-3).

Que podemos esperar se nós formos achados em falta em nosso múnus sacerdotal? Que Deus nos guarde e que este estudo sobre o tabernáculo, que ora se finda, nos faça servir a Deus com a excelência exigível.  

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/4130-licao-13-o-sacerdocio-celestial-i-e-apendice-n-4-os-dois-templos-e-o-tabernaculo-diferencas-entre-si-e-suas-implicacoes-tipologicas

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