LIÇÃO Nº 8 – A MORDOMIA DO TEMPO
Nos dias maus que vivemos, a administração do tempo é um dos grandes desafios do servo de Deus.
INTRODUÇÃO
– O homem, como temos visto neste trimestre, é um mordomo e, como tal, deve cumprir as tarefas que lhe foram confiadas pelo Senhor.
Como criaturas, somos submetidas ao tempo, mormente depois que entrou o pecado na humanidade, de modo que a administração do tempo é um dos importantes desafios que o homem tem para poder servir fielmente ao seu Senhor.
– O tempo que vivemos é um tempo de multiplicação da iniquidade e de esfriamento do amor (Mt.24:12).
Uma das grandes armas de nosso adversário está, precisamente, na tarefa de roubar o nosso tempo. O tempo é precioso e devemos remi-lo, como nos recomendam as Escrituras (Ef.5:16; Cl.4:5).
I – DEUS, O SENHOR DO TEMPO
– Quando Deus criou todas as coisas, fê-lo sobre a perspectiva do tempo. Com efeito, as Escrituras indicam, logo no seu início, que “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn.1:1), revelando, portanto, que o tempo é algo próprio e adequado para as criaturas. Somente Deus é eterno, porque é o único que não tem começo, nem fim.
Até mesmo os anjos, embora vivam eternamente, tiveram um princípio de existência, o que os vincula ao tempo.
– Na Terra, entretanto, esta limitação temporal é ainda mais intensa. Enquanto os seres celestiais têm um princípio de existência, na terra, tudo tem princípio e fim de existência.
O homem não era para ter fim de existência, na sua qualidade de mordomo, mas, diante do pecado, o próprio Deus determinou a morte física (Gn.3:19), submetendo a parte material do homem à mesma limitação temporal das demais criaturas terrenas.
Assim, ao menos no que se refere ao corpo, o homem também está completamente limitado pelo tempo, tendo começo e fim de existência física sobre a terra.
Daí porque Salomão ter, com a sabedoria que Deus lhe deu, chegado à conclusão de que ” tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Ec.3:1).
– Como podemos observar, portanto, o tempo foi uma limitação criada por Deus às Suas criaturas.
Deus, portanto, não está vinculado ao tempo e é, por isso, que podemos afirmar que Deus é um ser “atemporal”, ou seja, o tempo simplesmente não existe para Deus, que está acima do tempo.
Tal situação é de difícil entendimento para nós, seres humanos, pois nosso pensamento funciona em termos de espaço e de tempo, como têm constatado médicos, psicólogos e filósofos, mas devemos, pela fé, crer nisto, ainda que não possamos compreendê-lo muito bem. Para Deus há um eterno presente.
Para Ele, algo que ocorreu há milhares de anos, o que está acontecendo neste exato momento e o que acontecerá daqui a mil anos são a mesma coisa e estão acontecendo simultaneamente, ao mesmo tempo.
Não é por outra razão que o salmista afirmou que o nome de Deus é Já (Sl.68:4), texto, aliás, que tem sido muito mal interpretado.
– Tendo sido o criador do tempo (Gn.1:14), Deus é o seu Senhor, pois dele também é o tempo (Sl.24:1).
A Bíblia, explicitamente, assim afirma, como se pode ver em textos como Sl.31:15, onde o salmista afirma que os seus tempos estão nas mãos do Senhor, ou no Sl.104:27, onde se afirma que toda a criação aguarda o sustento divino no tempo oportuno, ou ainda, em At.17:26,
que diz que é o Senhor que determina os tempos, que já foram anteriormente ordenados, como, aliás, lembra Daniel ao interpretar o sonho do rei Nabucodonosor, quando afirmou que Deus, que tem todo o controle do tempo, poderia saciar a curiosidade do monarca babilônio com respeito ao futuro (Dn.2:28).
Mas há, também, o tempo oportuno para a ajuda do Senhor, como nos mostra o escritor aos Hebreus, em Hb.4:16.
– Sendo algo que é controlado por Deus, o homem não foi feito para ser escravizado pelo tempo, mas, bem ao contrário, para ser controlado por ele.
No plano original de Deus ao homem, o tempo não teria qualquer papel de limitação à atuação humana no domínio sobre as coisas criadas sobre a Terra.
O homem não foi feito para ser limitado temporalmente, nem mesmo em relação ao seu corpo, tanto que, quando dizemos que Adão viveu 930 anos (Gn.5:5), devemos atentar que este tempo é o tempo de morte de Adão, ou seja, o tempo decorrido desde a expulsão do Éden, pois não se sabe quanto tempo viveu Adão antes da queda.
E por que não se sabe tal tempo? Simplesmente, porque o homem não foi feito para ser submetido ao tempo.
O homem, antes da queda, vivia no estado que os teólogos e filósofos medievais denominaram de “aevum”, ou seja, um tempo em que há princípio de existência, mas não final, que é o estado vivido atualmente pelos anjos.
– Após o pecado, entretanto, o homem passou a ter limitação temporal, pelo menos no que se refere à sua existência física, tendo, então, de aprender a bem administrá-lo, pois, com esta nova realidade, o homem passou a ter de enfrentar o tempo, impedindo que ele se tornasse um impedimento, um obstáculo ao cumprimento das tarefas que lhe foram confiadas por Deus.
– Para sermos bons administradores do tempo, devemos observar o que Deus nos ensina a respeito do assunto, pois, além de ser o criador do tempo, pelo Seu infinito amor para com o homem, sabendo que deveria ele se submeter a esta dimensão, após o pecado, não o deixou sem instrução sobre isso.
– A primeira lição que temos de Deus a respeito do tempo é a de que tudo tem o seu tempo determinado.
No relato da criação, é dito que Deus fez cada coisa no seu tempo certo, que são os “dias” da criação.
Embora saibamos que os “dias” da criação não sejam dias de 24 horas (até porque, o sol e a lua foram criados no quarto dia…), o fato de a narrativa bíblica indicar que a criação foi feita em seis períodos de tempo permite-nos vislumbrar que Deus nos ensina que tudo deve ser feito no seu devido tempo.
– Nosso Deus é um Deus de ordem e, como tal, nada faz senão no seu tempo devido. Por isso, Paulo pôde dizer que Jesus veio no tempo certo, como vemos em Gl.4:4, quando se diz que “vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”.
O texto mostra-nos, claramente, que Deus, que não está submetido ao tempo, sabendo de nossa condição e de nossa dimensão, faz todas as coisas levando em conta o tempo que nos envolve.
Não é verdadeiro o provérbio popular segundo o qual ” Deus tarda, mas não falha”. Deus jamais tarda,faz tudo no seu devido tempo.
– A segunda lição que temos de Deus a respeito do tempo é a de que é Ele quem determina o tempo em que as coisas devem ocorrer.
Também no relato da criação, observamos que Deus determinava o que deveria ser criado e, terminado o período segundo a Sua vontade, era ele encerrado, o que é expresso pela expressão ” e foi a tarde e a manhã, o dia tal”.
Ou seja, o início e o término do “dia” da criação estão no absoluto controle do Senhor. Ele é o dono do tempo e o tempo está sob o Seu controle.
Saber isto é importantíssimo para o homem, que, muitas vezes, mormente nos nossos dias de tamanha agitação e movimentação, em que se fala no “tempo real”, é levado a crer que pode dominar o tempo ou controlá-lo.
A história da humanidade é a principal testemunha de que o homem não tem domínio algum sobre o tempo e que tudo está sob o domínio exclusivo do Senhor.
– A Bíblia mostra-nos muitos exemplos dando conta de que este controle do Senhor é indelegável e deve ser admitido pelo homem.
Quando foi falar sobre o cumprimento da Sua promessa a Seu amigo Abraão, Deus foi enfático e sem meias palavras: “Haveria coisa alguma difícil ao SENHOR? Ao tempo determinado, tornarei a ti por este tempo da vida, e Sara terá um filho.” (Gn.18:14).
E, um ano depois, tudo se cumpriu como havia sido dito: “E concebeu Sara e deu a Abraão um filho na sua velhice, ao tempo determinado, que Deus lhe tinha dito.” (Gn.21:2).
Com relação ao processo de libertação de Israel no Egito, Deus, também, demonstrou todo o Seu domínio sobre o tempo, como se verifica do texto de Ex.9:5: “E o SENHOR assinalou certo tempo, dizendo: Amanhã fará o SENHOR esta coisa na terra.
“Deus é o Deus que assinala e determina o tempo em que as coisas devem acontecer e, uma vez feita esta determinação e assinalamento, nada poderá impedir que isto ocorra. Por isso, pôde o apóstolo Pedro dizer que devemos lançar sobre Ele a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de nós (I Pe.5:7).
– A terceira lição que aprendemos de Deus, no que concerne ao tempo, é a de que o tempo foi criado para que pudéssemos estabelecer uma ordem nas tarefas que nos foram determinadas para fazer. Deus é um Deus de ordem e quer que o homem, como Sua imagem e semelhança, seja, também, ordenado como Ele.
Para tanto, criou o tempo. A palavra “tempo” vem do latim “tempus”, que, por sua vez, vem do grego “temno”, que significa “cortar”, “decepar”. Daí porque Russell Norman Champlin define o tempo como “aquilo que divide o dia em frações” (Tempo e espaço, filosofia do. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.6, p.347).
Sendo o tempo uma divisão, vemos, portanto, que o tempo é uma oportunidade para que possamos organizar as tarefas que nos foram confiadas por Deus. Dividindo o dia em frações, podemos melhor nos organizar, para que façamos tudo o que Deus nos requer.
O tempo é o meio pelo qual podemos nos organizar e, assim, podermos cumprir o que nos foi determinado e prestar contas adequadamente.
Este é um dos principais sentidos pelos quais Deus comparecia para um maravilhoso diálogo com o homem “na viração do dia”, ou seja, ao término do dia, ao final do período suficiente em que se tinha feito a divisão para o devido desempenho das tarefas confiadas ao homem (Gn.3:8).
– A quarta lição que aprendemos com Deus a respeito do tempo é a de que o tempo é uma realidade para as criaturas, não para o Criador, mas que o homem, como mordomo do Senhor, tem uma dimensão temporal, intensificada além do projeto original por causa do pecado, mas, também, tem uma dimensão que está fora do tempo, no “aevum” dos filósofos e teólogos medievais.
Por causa do pecado, como vimos, o homem passou a ter uma limitação temporal no que se refere a seu corpo, que passou a sofrer o influxo do tempo e a se corromper (I Sm.4:15; Jo.21:18; II Co.4:16).
Entretanto, isto não retira o fato de o homem ter sido feito à imagem e semelhança de Deus e que, portanto, tem uma eternidade à sua espera, entendida aqui a eternidade como a dimensão fora desta limitação temporal que hoje vigora.
A realidade de uma eternidade e da necessidade precípua de tratarmos deste assunto é o próprio cerne do evangelho e a razão de ser da obra redentora de Jesus (Jo.3:16; 17:1-3).
– A quinta lição que aprendemos com Deus a respeito do tempo é de que o tempo é uma realidade imposta à criação e que não há como dele escapar ou voltar atrás. O tempo passa (At.14:16).
Um provérbio chinês muito conhecido diz que quatro coisas não voltam atrás e uma delas é o tempo perdido.
Pois bem, quando vemos a narrativa da criação, verificamos que, quando um dia terminava, ele não poderia voltar mais.
Ao dia primeiro, seguiu-se o segundo, ao segundo, o terceiro e assim por diante, precisamente porque o tempo é irreversível.
Várias passagens das Escrituras mostram-nos esta realidade. Se há um tempo determinado para cada coisa, este tempo, também, é único. Não se pode perder a oportunidade.
Salomão deixou bem claro que há um tempo para cada ação e que, passado este tempo, é ele irreversível.
O salmista afirma que fazia a sua oração num tempo aceitável (Sl.69:13; Is.61:2), o profeta diz que Deus ouviu o Seu servo no tempo favorável (Is.49:8) e que devemos buscar ao Senhor enquanto se pode achá-l’O (Is.55:6); o poeta, por sua vez, afirma que o inverno passou, assim como a chuva cessou e que o tempo de cantar chegou (Ct.2:11,12).
O próprio Deus, ao informar a Noé o Seu compromisso com o homem em não mais mandar um dilúvio sobre a terra, fez questão de lembrar o patriarca a respeito da sucessão irreversível do tempo(Gn.8:22).
As Escrituras ensinam, assim, que nem todo tempo é igual e que, passado este tempo, não haverá mais o que se fazer (Dn.5:26; Mt.25:10-13).
– Esta realidade do tempo deve ser observada, porque há muito que muitos filósofos e estudiosos têm defendido a tese de que o tempo é uma ilusão, gente como o panteísta Baruch Spinoza ou o pragmático William James.
Esta ideia, aliás, com o advento da teoria da relatividade no século XX, de Albert Einstein (embora o próprio Einstein nunca tenha negado a realidade do tempo), passou a empolgar muitos cientistas e filósofos.
O tempo, entretanto, para as criaturas terrenas, é uma inexorável realidade e não temos como dela fugir.
– A sexta lição que aprendemos com Deus é a de que o tempo pode ser administrado pelo homem, embora não esteja sob o seu controle.
Como vimos, o fato de Deus vir toda viração do dia ao encontro do homem é a prova evidente de que, organizando-se de acordo com o tempo, o homem poderia, sempre, dominar sobre o tempo, ainda que em caráter limitado, fazendo o que apraz ao Senhor no período determinado.
Jesus bem demonstrou isto, ao vir ao mundo na plenitude dos tempos (Gl.4:2), ao nos ensinar que devemos pensar no dia-a-dia, cumprir, no tempo certo, o propósito divino, não tendo buscando o pão de cada dia (Mt.6:11) e vivendo dia a dia, sem ansiedade ou indagação sobre o futuro (Mt.6:34).
– A sétima lição que aprendemos com Deus é a de que o tempo não pode ser um fator que mude a nossa confiança n’Ele.
Deus diz, solenemente, que vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12) e que as Suas palavras independem do tempo, pois elas não passam (Mt.24:35).
Embora nós saibamos que há dias bons e dias maus (Ec.12:1; I Pe.3:10), temos a convicção de que o Senhor estará conosco em todos eles (Mt.28:20), pois estamos destinados a viver para sempre com o Senhor (I Ts.4:17).
II – CONCEITOS ACERCA DO TEMPO
– Vistas as lições que Deus nos ensina a respeito do tempo na Sua Palavra, devemos enfrentar, agora, alguns conceitos que existem a respeito do tempo, algumas ideias que existem a respeito do tempo e que são seguidas, vez por outra, no nosso dia-a-dia, a fim de que possamos observar se elas têm, ou não, respaldo bíblico e, portanto, se estão dentro daquilo que é exigido de cada homem como mordomo do Senhor.
– A primeira ideia que surge a respeito do tempo é a que ensina que “o futuro a Deus pertence”. Este mote popular guia muitas pessoas na sua administração do tempo.
Quando dizemos que “o futuro a Deus pertence”, estamos, num primeiro momento, dizendo algo que se apresenta como absolutamente correto, pois, como salientamos há pouco, o tempo está sob o indelegável controle de Deus.
Assim, dizer que “o futuro a Deus pertence” é dizer que o futuro está sob o controle de Deus, o que, convenhamos, é algo correto à luz da Palavra de Deus. Podemos, mesmo, dizer que várias referências bíblicas confirmam este pensamento, tendo em vista o conceito da eternidade de Deus.
– Entretanto, quando analisamos mais profundamente este pensamento, verificamos que o mesmo encerra um pensamento que não pode ser admitido nem tolerado pelo verdadeiro e sincero servo de Deus.
Quando dizemos que “o futuro a Deus pertence”, estamos, de um lado, dizendo que o controle do futuro está nas mãos de Deus, o que é absolutamente correto, mas, também, vez por outra, tal frase é dita para que o indivíduo se isente de responsabilidades com relação à eternidade.
Quando se diz que “o futuro a Deus pertence” está-se dizendo que não devemos nos preocupar com o futuro, que o homem deve gozar a vida agora, que “o importante é o aqui e o agora”, um pensamento bem adequado para a nossa atual geração, que eleva o prazer e o imediato como razão de ser da própria existência.
Entretanto, este raciocínio contraria tudo o que ensina a Bíblia Sagrada. Embora Deus esteja no controle do tempo, embora não tenhamos de nos afligir pelo dia de amanhã, é imperioso que pensemos na eternidade, que tenhamos consciência de que a nossa existência física nada é comparado com a nossa dimensão sobrenatural, que teremos de definir, nós mesmos e não Deus, qual será o nosso destino: uma eternidade com ou sem Deus.
Por detrás do mote “o futuro a Deus pertence” está uma ideia de total irresponsabilidade quanto ao nosso destino eterno, o que é totalmente contrário ao que ensinam as Escrituras, que nos mandam jamais nos esquecer da realidade da eternidade e da necessidade de definirmos imediatamente qual será o nosso destino eterno (Ec.12:1-7; Sl.95:7,8; Hb.4:7).
– Esta realidade do tempo deve ser observada, porque há muito que muitos filósofos e estudiosos têm defendido a tese de que o tempo é uma ilusão, gente como o panteísta Baruch Spinoza ou o pragmático William James.
Esta ideia, aliás, com o advento da teoria da relatividade no século XX, de Albert Einstein (embora o próprio Einstein nunca tenha negado a realidade do tempo), passou a empolgar muitos cientistas e filósofos. O tempo, entretanto, para as criaturas terrenas, é uma inexorável realidade e não temos como dela fugir.
– A sexta lição que aprendemos com Deus é a de que o tempo pode ser administrado pelo homem, embora não esteja sob o seu controle.
Como vimos, o fato de Deus vir toda viração do dia ao encontro do homem é a prova evidente de que, organizando-se de acordo com o tempo, o homem poderia, sempre, dominar sobre o tempo, ainda que em caráter limitado, fazendo o que apraz ao Senhor no período determinado.
Jesus bem demonstrou isto, ao vir ao mundo na plenitude dos tempos (Gl.4:2), ao nos ensinar que devemos pensar no dia-a-dia, cumprir, no tempo certo, o propósito divino, não tendo buscando o pão de cada dia (Mt.6:11) e vivendo dia a dia, sem ansiedade ou indagação sobre o futuro (Mt.6:34).
– A sétima lição que aprendemos com Deus é a de que o tempo não pode ser um fator que mude a nossa confiança n’Ele. Deus diz, solenemente, que vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12) e que as Suas palavras in
dependem do tempo, pois elas não passam (Mt.24:35).
Embora nós saibamos que há dias bons e dias maus (Ec.12:1; I Pe.3:10), temos a convicção de que o Senhor estará conosco em todos eles (Mt.28:20), pois estamos destinados a viver para sempre com o Senhor (I Ts.4:17).
II – CONCEITOS ACERCA DO TEMPO
– Vistas as lições que Deus nos ensina a respeito do tempo na Sua Palavra, devemos enfrentar, agora, alguns conceitos que existem a respeito do tempo, algumas ideias que existem a respeito do tempo e que são seguidas, vez por outra, no nosso dia-a-dia, a fim de que possamos observar se elas têm, ou não, respaldo bíblico e, portanto, se estão dentro daquilo que é exigido de cada homem como mordomo do Senhor.
– A primeira ideia que surge a respeito do tempo é a que ensina que “o futuro a Deus pertence”.
Este mote popular guia muitas pessoas na sua administração do tempo. Quando dizemos que “o futuro a Deus pertence”, estamos, num primeiro momento, dizendo algo que se apresenta como absolutamente correto, pois, como salientamos há pouco, o tempo está sob o indelegável controle de Deus.
Assim, dizer que “o futuro a Deus pertence” é dizer que o futuro está sob o controle de Deus, o que, convenhamos, é algo correto à luz da Palavra de Deus. Podemos, mesmo, dizer que várias referências bíblicas confirmam este pensamento, tendo em vista o conceito da eternidade de Deus.
– Entretanto, quando analisamos mais profundamente este pensamento, verificamos que o mesmo encerra um pensamento que não pode ser admitido nem tolerado pelo verdadeiro e sincero servo de Deus.
Quando dizemos que “o futuro a Deus pertence”, estamos, de um lado, dizendo que o controle do futuro está nas mãos de Deus, o que é absolutamente correto, mas, também, vez por outra, tal frase é dita para que o indivíduo se isente de responsabilidades com relação à eternidade.
Quando se diz que “o futuro a Deus pertence” está-se dizendo que não devemos nos preocupar com o futuro, que o homem deve gozar a vida agora, que “o importante é o aqui e o agora“, um pensamento bem adequado para a nossa atual geração, que eleva o prazer e o imediato como razão de ser da própria existência. Entretanto, este raciocínio contraria tudo o que ensina a Bíblia Sagrada.
Embora Deus esteja no controle do tempo, embora não tenhamos de nos afligir pelo dia de amanhã, é imperioso que pensemos na eternidade, que tenhamos consciência de que a nossa existência física nada é comparado com a nossa dimensão sobrenatural, que teremos de definir, nós mesmos e não Deus, qual será o nosso destino: uma eternidade com ou sem Deus.
Por detrás do mote “o futuro a Deus pertence” está uma ideia de total irresponsabilidade quanto ao nosso destino eterno, o que é totalmente contrário ao que ensinam as Escrituras, que nos mandam jamais nos esquecer da realidade da eternidade e da necessidade de definirmos imediatamente qual será o nosso destino eterno (Ec.12:1-7; Sl.95:7,8; Hb.4:7).
ser acolhido pelos servos de Deus, pois, quando dizemos que faremos algo quando tivermos tempo, estamos nos arrogando uma posição que não é a nossa, qual seja, estamos dizendo que somos donos do nosso tempo, o que, efetivamente não corresponde à realidade.
O tempo do homem é o hoje (Hb.3:13), pois o amanhã não está à nossa disposição. Disto nos fala, com muita propriedade, Tiago, como se vê em Tg.4:13,14.
Quanta impropriedade há no costumeiro ” até amanhã” que proferimos todos os dias ao nos despedirmos de alguém. Quem garante que amanhã estaremos vivos?
– Não queremos dizer, com isto, que o homem não deva fazer um planejamento para o futuro.
A Bíblia ensina-nos que o homem deve ser prudente (Jó 22:2; Pv.13:16) e a prudência envolve, entre outras coisas, o planejamento para o futuro, inclusive para os dias adversos que, certamente, virão na vida de cada um (Mt.24:45; Lc.12:42).
O que as Escrituras estão nos ensinando é que o homem não pode achar que o tempo é definido por ele e não pelo Senhor, devendo, portanto, tudo submeter à vontade de Deus e viver o presente, levando em conta o futuro, mas não estando preso a ele.
– Outro pensamento que é recorrente quando falamos em tempo é o famoso provérbio “tempo é dinheiro”.
Com efeito, em cima deste modo de pensar, muita coisa tem sido feito no mundo nos nossos dias.
As pessoas têm procurado aproveitar ao máximo o tempo e, tal qual os corredores de automóveis ou atletas profissionais, colocado tudo a perder para terem vantagens de segundos ou de minutos, pensando, assim, obter benefícios de ordem econômico-financeira.
Como nos ensinam as Escrituras, ” o amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (I Tm.6:10).
Esta tem sido a triste realidade de milhares de pessoas que, na sua corrida insaciável pelas riquezas, tem perdido a família, o casamento e, o que é mais grave, a própria comunhão com Deus, sempre atrás do vil metal.
Este pensamento reflete que as pessoas têm colocado as riquezas como seu verdadeiro deus, conforme veremos nas próximas duas lições futura, quando analisarmos a mordomia cristã das finanças e a mordomia do dízimo.
Ocupando o tempo com as coisas que perecem, perdem a oportunidade de ocupar com as coisas invisíveis, mas que permanecem para sempre(II Co.4:18).
– Outra frase que costumamos ouvir é “o tempo é o nosso melhor amigo”, “o tempo é o melhor remédio”, “o tempo é a solução dos casos sem solução”.
Este dito popular encerra o conceito de que o tempo, por si só, é capaz de resolver todo e qualquer problema, que o passar do tempo ameniza as angústias, as crises e que tudo se acomoda com o desenrolar dos dias, meses e anos.
Não podemos negar que o passar do tempo faz com que as dores, angústias e dificuldades acabem se amenizando e perdendo a força, porquanto, com o tempo, como nos ensinam as próprias Escrituras, tem um poderoso efeito sobre os sentimentos humanos (Pv.13:12).
Entretanto, este tipo de pensamento esconde uma postura de acomodação do homem, como se ele não tivesse qualquer responsabilidade pela organização do seu tempo. O tempo não resolve os problemas, que devem ser enfrentados pelo próprio homem, que deve ter a direção de Deus nesta sua resolução.
É preciso discernir o tempo que vivemos e saber agir, neste tempo, de forma agradável ao Senhor.
Jesus dá-nos o exemplo sobre esta necessidade de sabermos em que tempo estamos vivendo, pois tinha sempre esta noção (Jo.2:4; 4:23; 5:25,28; 7:6,8; 12:23,27; 13:1; 16:32; 17:1) e recomenda que Seus discípulos estejam sempre atentos ao momento em que estiverem vivendo (Lc.12:56; Mt.16:3).
A Bíblia, ademais, sempre exorta os servos de Deus a fazerem o que tiverem de fazer no tempo que se chama Hoje (Hb.3:13; Gl.6:10).
– Outra frase que é comumente ouvida a respeito do tempo é a que diz “Antes tarde do que nunca”.
Tem-se, aqui, um pensamento que não pode ser tolerado segundo os parâmetros estabelecidos pela Palavra de Deus.
Com efeito, o tempo não está à nossa disposição. Verdade é que temos de administrá-lo, mas devemos saber que o tempo é irreversível e que tudo tem o seu tempo.
Assim, não há que se falar que as coisas podem ser feitas fora de seu tempo e que as coisas feitas fora do seu tempo sejam melhores do que as coisas que não foram feitas, como pensa este dito popular.
Coisas feitas fora do seu tempo não têm qualquer valor, como as coisas que não forem feitas. Recentemente, numa pregação radiofônica, o pregador foi muito feliz ao mostrar que um dos pontos importantes da real demonstração do amor a Deus é fazermos o que nos é exigido pelo Senhor a seu tempo, assim como Maria procedeu ao ungir Jesus com um perfume caríssimo (Jo.12:1-8).
Quando Maria tomou esta decisão, foi censurada, inclusive pelos discípulos do Mestre, mas Jesus louvou sua iniciativa, entre outras coisas, pela sua oportunidade. Com efeito, os fatos deram-se há apenas seis dias antes da Páscoa, ou seja, seis dias antes da morte do Senhor.
Se Maria tivesse deixado de ungir Jesus naquele dia, que era o último dia em que Jesus estava indo à sua casa, nunca mais o teria feito. De que adiantaria Maria querer agradar Jesus depois de Sua morte, como fazem muitas pessoas com seus entes queridos, durante os velórios ou, posteriormente, através de ritos e cerimônias em prol das almas dos falecidos?
Temos de fazer as coisas a seu tempo, pois, depois, elas não terão valor algum e serão apenas mais uma atitude de hipocrisia.
– O mordomo do tempo deve ser pontual, ou seja, deve fazer as coisas no seu devido tempo. Não podemos tolerar que servos do Senhor sejam relapsos com seus compromissos com relação ao horário.
A pontualidade é demonstração de uma boa administração do tempo e jamais devemos abrir mão desta qualidade. Devemos ser extremamente cuidadosos, como nos ensina a Bíblia Sagrada em Rm.12:11 e isto inclui a pontualidade.
Deus tudo faz no seu devido tempo e os Seus filhos devem ter o mesmo caráter, o mesmo comportamento.
É lamentável vermos que, em muitas igrejas locais, não há respeito com o horário, seja para o início, seja para o término das atividades. Sejamos pontuais, pois o proceder do crente deve ser sim, sim, não, não, pois o mais é de procedência maligna (Mt.5:37).
Devemos ser cumpridores dos nossos deveres e o tempo é um dos fatores avaliados na verificação do cumprimento de uma obrigação.
Na legislação, por exemplo, uma das formas de descumprimento de obrigações que acarretam sanções é a “mora”, que nada mais é do que a demora, o atraso no cumprimento de uma obrigação. Se assim é na lei dos homens, como podemos querer que seja diferente no nosso relacionamento com Deus?
III – COMO USAR O TEMPO SABIAMENTE
– Vistas as lições que Deus nos dá a respeito do tempo e observando os conceitos humanos a respeito do tempo, resta-nos, tão somente, verificar como podemos administrar o tempo corretamente, ou seja, como cumprir a mordomia do tempo.
– A administração do tempo encontra seu texto-chave no único salmo do livro dos Salmos cuja autoria é atribuída a Moisés, o salmo 90. Neste salmo, o grande líder do povo de Israel assim se expressa:
“Ensinanos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios” (Sl.90:12).
Moisés faz esta súplica ao Senhor, depois de refletir sobre a duração da vida humana sobre a terra, depois de verificar que a vida física do homem é um conto ligeiro, é algo passageiro e que está muito aquém da própria realidade da existência humana.
Ao chegar à percepção de que o tempo é algo que deve ser bem administrado levando em consideração a própria realidade da eternidade que espera o ser humano, não restou ao grande profeta hebreu senão formular este pedido ao Senhor, pedido que deve ser repetido incessantemente por quem quiser ser um fiel mordomo do tempo que Deus nos confiou.
– A primeira parte do pedido de Moisés é fundamental para um bom mordomo do tempo. Moisés reconhece que quem deve dirigir a nossa administração do tempo é o próprio Deus.
Somente Deus pode nos ensinar como devemos organizar o nosso tempo, somente Deus é o mestre que devemos ouvir quando o assunto é dominarmos o tempo a fim de que possamos cumprir as tarefas que a nós foram confiadas pelo Senhor.
‘Ensina-nos’, diz o salmista. É preciso que recorramos ao ensino do Senhor para que tenhamos êxito na administração do nosso tempo. Somente quando recorremos à Bíblia Sagrada é que poderemos ter uma sábia direção na administração do tempo.
– Por isso, o salmista afirma que é bem-aventurado o varão que medita na lei do Senhor de dia e de noite (Sl.1:2).
A vida espiritual do cristão é dependente de uma vida devocional diária, que inclui a oração e a meditação na Palavra do Senhor.
Uma boa administração do tempo exige de cada um dos servos do Senhor um tempo para buscar a Deus em oração e de meditação na Palavra de Deus.
Preocupamo-nos muito com a falta de tempo que os crentes têm tido para orar e para ler a Bíblia Sagrada.
Quanto menos tempo devotarem à oração e à leitura da Palavra de Deus, estes crentes terão menos tempo ainda para todas as suas demais atividades, pois é através da leitura da Palavra e da oração que nós aprenderemos como administrar o nosso tempo.
Moisés é claro ao dizer que a mordomia do tempo exige que nós aprendamos de Deus e só poderemos fazê-l’O se com Ele nos comunicarmos, se com Ele dialogarmos, o que somente será possível através da oração e da leitura da Bíblia Sagrada.
Reservemos, portanto, um tempo para a oração e para a leitura da Palavra de Deus e, com certeza, este tempo reservado dar-nos-á condições para que saibamos bem dividir o tempo restante de nossas vidas.
– Mas, o salmista prossegue na sua súplica, pedindo que o ensino do Senhor seja para que possamos “contar os nossos dias”, ou seja, o tempo, conforme já vimos, envolve a divisão do dia em frações, a capacidade de organização, de divisão, de definição de atividades. É preciso que saibamos definir prioridades na nossa vida.
É impossível que façamos tudo ao mesmo tempo, que assumamos mais tarefas e atividades do que as que nós podemos cumprir.
O dia tem 24 horas e, destas 24 horas, devemos ter um espaço reservado para o nosso repouso, indispensável para que tenhamos saúde e possamos ser ativos e produtivos no restante do dia.
Deste modo, é necessário que possamos estabelecer o que devemos fazer em primeiro lugar, em segundo lugar e assim por diante.
Os escritores e pessoas que procuram ensinar receitas de sucesso ou que procuram, em seus livros, explicar a razão de seus sucessos, são praticamente unânimes em apontar a definição de uma agenda de prioridades para as tarefas a ser desempenhadas como o primeiro passo para o progresso e o êxito na vida do homem.
– Antes de ser um conselho de autores de autoajuda ou coisa semelhante, isto já estava constando do salmo mais antigo da Bíblia.
Moisés é claro ao dizer que o homem, para bem administrar o seu tempo, tem de aprender a “contar os dias”, ou seja, a saber definir as prioridades, o que deve ser atendido, dentro do espaço de um dia, trabalhando a cada instante, andando um passo de cada vez, de forma a poder, então, aproveitar ao máximo o tempo.
Nesta lista de prioridades, impõe-se colocar, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33).
Isto faz com que muitos, nos nossos dias, já tenham de reavaliar a sua própria vida. É mister que tenhamos Deus e as coisas referentes à vida espiritual como as primeiras com as quais devamos nos preocupar.
É neste sentido prioritário que devemos entender a afirmação de Jesus de que devemos renunciar a tudo e segui-l’O (Mt.10:37-39).
– Quando falamos em dedicar o melhor do nosso tempo ao Senhor, não estamos, com isso, querendo dizer que este tempo deve ser preenchido exclusivamente com atividades na igreja local.
Embora este tipo de atividade esteja incluído neste tempo prioritário ao Senhor, pois envolve a necessária adoração coletiva de todos os reunidos pelo Senhor para fora do mundo (a “ekklesia”, ou seja, a igreja), também nele se incluem as atividades para o Senhor que são realizadas fora da igreja local, como a evangelização e a visita aos órfãos e às viúvas nas tribulações (Tg.1:27).
Devemos ter tempo para fazermos aquilo que o Senhor nos determina em Sua obra, segundo a vocação de cada um, membros que somos do corpo de Cristo e, portanto, com diferentes funções e tarefas (cfr. I Co.12:12-26).
– Por falar em atividades na igreja local, devemos ter um cuidado todo especial com relação ao tempo que utilizamos para render um culto de adoração ao Senhor.
Como tudo que fazemos, em especial o que fazemos diretamente ao Senhor, o culto de adoração ao Senhor na igreja local deve ser algo que se faça na mais absoluta ordem e decência (I Co.14:40) e isto inclui, entre outros fatores, o da correta distribuição do tempo. Um culto deve ser uma atividade que contenha, segundo as Escrituras, salmo, doutrina, revelação, língua e interpretação, tudo voltado para a edificação (I Co.14:26).
Devemos dividir o tempo do culto, de modo a que tenhamos todas estas atividades possíveis.
Lamentavelmente, cada vez mais temos notado uma má administração do tempo nas igrejas locais, com a supressão quase que completa (quando não é completa) da doutrina, ou seja, da exposição da palavra, que é o ponto alto de qualquer culto, pois devemos dar proeminência à Palavra de Deus,
pois a tarefa da igreja é pregar o evangelho e promover o aperfeiçoamento dos santos. Como se não bastasse isso, muitos são os locais onde não há qualquer ordem, seja para o início, seja para o término das reuniões.
O mais grave é que as pessoas que não têm sido boas administradoras do seu tempo e do tempo da igreja local ainda têm a ousadia de responsabilizar sua desorganização no Espírito Santo, dizendo que suas reuniões não têm hora para acabar porque “em suas igrejas, o Espírito tem liberdade”.
Nosso Deus, como vimos, é um Deus de ordem e decência. Efetivamente, não vamos tolher a liturgia de nossas reuniões a ponto de não permitir que, numa determinada ocasião, a reunião se estenda um pouco, por vontade do Senhor, mas, entre esta liberdade que tem o Espírito e a total, contínua e permanente desorganização que vemos em muitos lugares há uma grande, uma enorme distância.
– Em segundo lugar, deve o homem, após destinar o melhor do seu tempo (perceba-se, bem, que não é uma questão de quantidade, mas de qualidade) a Deus, deverá dedicar-se à sua família.
Este sentimento nós encontramos no patriarca Josué. Este homem de Deus pôde dizer ao povo que ele e a sua casa serviriam ao Senhor (Js.24:15), dando a entender que, depois do tempo destinado ao serviço do Senhor, Josué preocupava-se com a sua casa, em dela cuidar. Jesus, também, na cruz, após priorizar os assuntos do Seu Pai, tratou de providenciar, no pouco de vida que ainda tinha, uma forma de manter a Sua mãe amparada, provando que a família estava em segundo lugar na sua lista de prioridades (Jo.19:26,27).
Muitos obreiros, aliás, nos nossos dias, deveriam ver este exemplo de Jesus e cuidar para que seu tempo seja prioritariamente de Deus (perceba-se, não da obra de Deus, i.e., da igreja, mas de seu relacionamento pessoal com Deus) e,
depois, da família, para só depois tratar dos assuntos concernentes à igreja, pois, quem não conseguir governar bem a sua própria casa, não terá condição alguma de dirigir o rebanho do Senhor (I Tm.3:5).
– Em terceiro lugar, deve o fiel mordomo do tempo dedicar-se ao trabalho, ao exercício de uma atividade que seja o ganha-pão seu e de sua família, pois, desde a queda do homem, o trabalho deixou de ser um prazer para ser uma necessidade e necessidade que se desenvolve de forma dificultosa e árdua (Gn.3:19).
Nunca nos esqueçamos que o trabalho deve ser o suficiente para que haja a porção acostumada de cada dia e que devemos, sempre, observar um período razoável de trabalho, sem ganância, de forma a impedir que o trabalho, de modo de vida se torne um modo de morte.
A jornada diária de trabalho de oito horas bem como o repouso semanal remunerado, duas das maiores conquistas dos trabalhadores, é fruto de um esforço de denodados cristãos que sentiram a necessidade de o Estado disciplinar o tempo de trabalho para que não houvesse o prejuízo no cumprimento da mordomia do tempo e Deus,
honrando a fé e a luta destes homens, fez com que, contra todas as probabilidades sócio-econômico-políticas, tais direitos fossem reconhecidos aos trabalhadores em todo o mundo.
Verdade é que, nos dias difíceis que estamos vivendo, a burla a estas leis tem sido constante, mas os fiéis mordomos do Senhor devem manter-se firmes no seu propósito de agradar primeiramente a Deus e nEle confiar, não se submetendo a ameaças ou imposições de gananciosos, pois temos de obedecer primeiramente a Deus e não aos homens (At.5:29).
– Quando falamos em trabalho, incluímos, também, o estudo. É indispensável que os homens tenham um nível maior de informação nos nossos dias, sem o que não poderão estar devidamente integrados à sociedade.
A Bíblia ensina-nos que devemos crescer não só em estatura, mas também em conhecimento, tanto o conhecimento espiritual como o conhecimento material (Lc.2:52; At.4:13; Fp.3:8; II Pe.3:18).
O tempo ocupado, primeiramente, com o estudo, pouco a pouco vai sendo absorvido pelo trabalho, mas nunca deveremos deixar de trabalhar e de estudar.
– Em quarto lugar, deve o fiel mordomo do tempo ter um período para a sua conveniente alimentação.
É indispensável que nos alimentemos, pois isto é fundamental para o nosso organismo, como vimos tanto na lição que tratou da mordomia do corpo, neste trimestre, como, no trimestre anterior, da lição que tratou do cuidado do corpo e da mente. A alimentação adequada e conveniente exige um certo período de tempo.
É fundamental que reservemos um período para que tenhamos, de forma sossegada e tranquila, uma alimentação.
Os dias que vivemos têm incorporado ao nosso cotidiano o ” fast food”, i.e., a alimentação rápida, não raro concomitante ao desempenho de outras atividades. Estudos numerosos têm comprovado que esta forma de alimentação é totalmente inadequada e geradora de um sem-número de transtornos para a saúde das pessoas.
Devemos, como fiéis mordomos do tempo, impedir que este tempo nos seja roubado e que, por causa de uma má administração do tempo, venhamos a, mais tarde, ter sequelas que, muitas vezes, são irreversíveis.
– Em quinto lugar, devemos ter um tempo para repouso e para lazer. É necessário que descansemos um período razoável, a fim de que possamos recuperar as nossas forças e nos mantenhamos saudáveis.
O sono é algo que vem da parte de Deus (Sl.127:2) e algo que é próprio daqueles que seguem fielmente ao Senhor (Pv.3:24).
Não se deve, porém, dormir demais, pois o sono prolongado é uma característica do preguiçoso, algo que é reprovado pela Bíblia Sagrada e que se constitui em fonte de pobreza e de necessidade material (Pv.6:9-11).
Além do sono, devemos ter um tempo para nossa higiene mental, ou seja, para que tenhamos diversão e um pouco de lazer, algo que é indispensável e necessário para a própria saúde mental do ser humano.
Ao contrário do que muitos têm até ensinado, o servo de Deus não é uma pessoa carrancuda, que esteja de mal com a vida, mas alguém que, nos momentos apropriados, diverte-se, alegra-se e se regozija com os seus, havendo exemplos bíblicos que confirmam o que estamos a dizer (Gn.26:8; Mt.9:10; Jo.2:1).
– Mas não basta que saibamos contar os nossos dias. Moisés, na inspiração que lhe deu o Espírito Santo para escrever este salmo, mostra-nos que esta contagem dos dias tem uma finalidade, um objetivo: ” de tal maneira que alcancemos corações sábios”.
Vimos, em lições anteriores, que a palavra ” coração” refere-se ao homem interior (alma e espírito).
Somente através de uma boa administração do tempo, de um bom aprendizado junto ao nosso Mestre é que poderemos alcançar a sabedoria, a prudência, o equilíbrio, o autocontrole.
O domínio sobre o tempo é fundamental para que tenhamos condições de exercer com sabedoria a mordomia que nos é imposta.
Daí porque o inimigo de nossas almas ter lutado muito contra a nossa administração do tempo, pois sabe ele que uma má administração do tempo é meio caminho andado para que venhamos a ter um desequilíbrio em nossas vidas e, desequilibrados, sejamos uma presa fácil do processo de tentação.
Vejamos, portanto, como é importante saber administrar o nosso tempo a partir dos ensinamentos preciosos de nosso amado Senhor !
– Mas a Bíblia não se limita a nos indicar como podemos bem administrar o tempo, dando-nos, também, orientações a respeito do mau uso do tempo, o que não devemos fazer.
Vejamos, assim, algumas ações e gestos, reprovados pelas Escrituras, que se constituem em uma má administração do tempo.
– O primeiro gesto que é reprovado pela Bíblia Sagrada é o do desperdício de tempo. Com efeito, as recomendações bíblicas sempre caminham no sentido de que devemos remir o tempo, expressão que significa aproveitar ao máximo o tempo, dele se tirar o maior proveito?(Ef.5:16; Cl.4:5).
Não podemos compactuar com atitudes que, popularmente, são consideradas como de ” matar o tempo” ou ” perda de tempo”, pois o tempo é precioso e não nos pertence, mas, sim, a Deus, que nos confiou a tarefa de bem administrá-lo.
Se formos observar o nosso dia-a-dia, temos desperdiçado muito tempo e, posteriormente, reclamamos de falta de tempo, algo que, na grande maioria das vezes, é fruto de nosso desperdício de tempo.
Não nos esqueçamos de que aquilo que plantamos, também colhemos. Se formos desperdiçadores de tempo, certamente faltará tempo para cumprirmos as tarefas necessárias.
– A vida contemporânea é uma contínua agitação, mas devemos ser sábios e aproveitarmos as próprias adversidades e transformá-las em aproveitamento de tempo. Assim, há alguns anos, ouvi de um irmão uma experiência salutar .
Segundo ele, ao invés de se aborrecer no trânsito, que é, sem dúvida, mormente nas grandes cidades, um grande consumidor do tempo das pessoas, passou a aproveitar o tempo para meditar nas coisas de Deus, para louvar ao Senhor e até ouvir mensagens da Palavra de Deus.
Antes, o que era perda de tempo, passou a ser um tempo destinado à adoração e à comunhão com o Senhor.
Também folgo ao ver nos meios de transporte coletivo, servos e servas de Deus lendo a Palavra de Deus enquanto fazem suas viagens. Eis um exemplo de como podemos evitar o desperdício de tempo.
– Também perdemos o tempo quando nos entretemos em conversas prolongadas, falatórios inúteis e fúteis, onde nada se pode aproveitar. São diálogos em que a vida alheia é analisada, apreciada, onde surgem fofocas, calúnias, mentiras e, não raro, observações indecorosas e obscenas.
Muitas pessoas gostam de passar o tempo desta maneira, falando da vida alheia ou, então, recheando sua mente de imoralidades e obscenidades.
A Bíblia é claríssima ao dizer que tal comportamento não cumpre a mordomia do tempo e é extremamente danoso para a vida espiritual do ser humano. As palavras vãs, além de enganosas, trazem para o homem a ira de Deus e são próprias dos filhos da desobediência (Ef.5:6).
– Ficamos muito tristes quando observamos que grande parte dos crentes, antes do início dos cultos, na atualidade, ao invés de orarem e buscarem a presença de Deus, o que será fundamental para que o culto seja uma bênção para todos os presentes, preferem ficar conversando, perdendo um tempo precioso e que deveria ser prioritariamente ocupado com as coisas espirituais.
Sejamos bons administradores do tempo, pois este desperdício acarreta muitos prejuízos para a igreja local.
Quem não aproveita o tempo, é chamado de insensato e de alguém que não consegue entender a vontade do Senhor (Ef.5:17).
Este é um dos fatores principais para a perda de espiritualidade das reuniões dos nossos dias em nossas igrejas locais. Vamos, portanto, remir o tempo e, assim, termos mais um elemento a nosso favor na nossa incessante luta contra o mal nestes dias trabalhosos.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/4336-licao-8-a-mordomia-do-tempo-i