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LIÇÃO Nº 9 – A MORDOMIA DO TRABALHO    

O trabalho é indispensável para que tenhamos recursos necessários à nossa sobrevivência sobre a face da Terra. 

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo sobre a doutrina da mordomia cristã, analisaremos a mordomia do trabalho. 

– O trabalho é indispensável para que tenhamos recursos necessários à nossa sobrevivência sobre a face da Terra. 

I – O PRINCÍPIO DO TRABALHO NA ÉTICA BÍBLICA 

– Na sequência do estudo sobre a doutrina da mordomia cristã, analisaremos hoje o que as Escrituras falam a respeito do trabalho e da sua necessidade sobre a face da Terra para que nós aqui sobrevivamos. 

– Para tanto, é importante verificarmos o que as Escrituras Sagradas falam a respeito deste assunto. 

– A Bíblia já tem seu início com o Senhor trabalhando, como se verifica de Gn.1:1, quando vemos o Senhor criando os céus e a terra.

Assim, não é surpresa que, ao formar um jardim para o homem no Éden, homem que foi criado à Sua imagem e semelhança, tenha, também, determinado que ele trabalhasse naquele local (Gn.2:15). 

– O homem, ao ser criado, foi feito para o trabalho, pois tinha de ser, em tudo, semelhante ao seu Criador, que é um ser trabalhador.

Não foi por outro motivo que Aquele que é a expressa imagem de Deus (Hb.1:3), ou seja, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, apresentou-Se como um trabalhador, precisamente porque o Pai também é trabalhador (Jo.5:17). 

– O trabalho, portanto, é uma atividade que faz com que o homem se torne semelhante a Deus, e é por isso que se costuma dizer que “o trabalho dignifica o homem”, precisamente porque é através do trabalho que o homem demonstra um dos aspectos de Sua semelhança com Deus.

Por isso mesmo, quando atingirmos a glorificação e estivermos para sempre com o Senhor, seremos como os anjos (Mt.22:30), anjos que não cessam de servir ao Senhor, de trabalhar (Sl.103:20,21). 

– Mesmo antes do pecado, pois, o homem já era chamado a trabalhar, devendo lavrar e guardar o jardim do Éden.

Temos aqui, aliás, as duas espécies de trabalho:

o trabalho manual (lavrar) e o trabalho intelectual (guardar), a demonstrar que todo o ser do homem (espírito, alma e corpo) está envolvido nesta suprema tarefa que Deus deu, com exclusividade, ao ser humano.

OBS: Por sua biblicidade, reproduzimos aqui um trecho da encíclica “Laborem exercens” do Papa João Paulo II (1978-2005):

“…Feito à imagem e semelhança do mesmo Deus no universo visível e nele estabelecido para que dominasse a terra, o homem, por isso mesmo, desde o princípio é chamado ao trabalho.

O trabalho é uma das características que distinguem o homem do resto das criaturas, cuja actividade, relacionada com a manutenção da própria vida, não se pode chamar trabalho;

somente o homem tem capacidade para o trabalho e somente o homem o realiza preenchendo ao mesmo tempo com ele a sua existência sobre a terra.

Assim, o trabalho comporta em si uma marca particular do homem e da humanidade, a marca de uma pessoa que opera numa comunidade de pessoas;

e uma tal marca determina a qualificação interior do mesmo trabalho e, em certo sentido, constitui a sua própria natureza…” (Carta encíclica Laborem exercens. Preâmbulo. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_14091981_laborem-exercens_po.html Acesso em 03 set. 2013).

– O trabalho, portanto, nada mais representa uma atividade que faz com que o homem se aproxime de Deus, demonstre sua semelhança com Ele e, deste modo, possa, por intermédio dele, glorificar ao Senhor, pois são as obras realizadas pelo homem que produzem a glorificação a Deus (Mt.5:16).

OBS: No tratado “Pirke Avot” (a”Ética dos Pais”), considerado o “livro de Provérbios” do Talmude, o segundo livro sagrado do judaísmo, assim está escrito:

“…Ama o trabalho, não queiras postos de mando e não te faças íntimo dos governantes” (1:10) 

– Vemos, portanto, que o trabalho é um dos princípios estabelecidos por Deus para a ordenação ética da humanidade, uma das bases para a construção da conduta que todo ser humano deve ter sobre a face da Terra. 

– Com a entrada do pecado no mundo, o trabalho, como tudo o que compõe a ordem estabelecida por Deus ao homem, sofreu uma alteração.

Por causa do pecado, o trabalho mudou a sua característica e, em virtude da transgressão, passou a ser penoso e necessário para a própria sobrevivência da humanidade. 

– Quando pronunciou os Seus juízos sobre o primeiro casal, em virtude de sua transgressão, Deus afirmou que, doravante, o trabalho, que era tão somente prazeroso e motivo de dignificação do homem e glorificação a Deus, passaria a ser penoso:

“com dor comerás dela [terra] todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirás e comerás a erva do campo. No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra” (Gn.3:17b-19a). 

– O trabalho, com o pecado, passou a ser penoso, uma atividade que teria obstáculos a partir da própria natureza, que seria feito com sofreguidão.

Assim, o pecado não trouxe o trabalho como penalidade, como alguns desavisados (ou preguiçosos…) pensam e até ensinam, mas, tão somente, a penosidade do trabalho, prova de que, na eternidade, continuaremos a trabalhar, mas apenas como prazer, não como algo difícil e sofrível. 

– Mas, além de o trabalho ter se tornado penoso com a entrada do pecado no mundo, também passou a ser uma condição necessária para a sobrevivência do homem.

Até o pecado, o homem não dependia do trabalho para sobreviver. Deus havia criado no jardim do Éden todas as condições para que o homem se alimentasse e sobrevivesse sem que o trabalho fosse um fator para tal sobrevida. 

– No entanto, a partir da prática do pecado, o Senhor disse que a sobrevivência do homem dependeria “do suor do seu rosto”, ou seja, do trabalho, sem o qual não se teria como viver sobre a face da Terra.

O trabalho se constituiu, assim, na base de toda a ordem econômica, na única forma lícita de apropriação dos recursos existentes no mundo criado por Deus para que se possa amealhar patrimônio e bens a fim de se poder sobreviver enquanto peregrinamos por aqui. 

– Muito antes dos economistas como Adam Smith, David Ricardo e Karl Marx, Salomão já nos mostrava que o trabalho é o fator que injeta recursos na economia, que gera valores para a sociedade e, inclusive, que sustenta a própria estrutura patrimonial de alguém.

Basta lermos, por exemplo, Pv.13:11, onde se diz que “a fazenda que procede da vaidade diminuirá, mas quem a ajunta pelo trabalho terá aumento”.

O trabalho é necessário não só para a aquisição de recursos, mas também para mantê-la.

Esta verdade bíblica vemos reproduzida em tantos casos em que pessoas que herdam fortunas sem ter tido qualquer esforço para adquirilas, ao deixarem o trabalho de lado, acabam por perdê-las totalmente. 

– Este mesmo pensamento, Salomão nos deixa em Pv.14:4, quando afirma que “não havendo bois, o celeiro fica limpo, mas, pela força do boi, há abundância de colheitas”, a nos mostrar que, somente pelo trabalho, se adquirem valores para a sociedade.

OBS: No “Pirke Avot”, a importância do trabalho é tanta que deveria ser executado inclusive para os que se dedicavam ao estudo da lei de Moisés, como se vê no seguinte trecho:

“…É bom estudar a Tora e ter simultaneamente um trabalho, pois ocupar-se com ambos faz esquecer o pecado e todo estudo da Tora que não for acompanhado de um ofício é vão e conduz ao pecado” (2:2).

– O trabalho, portanto, que é elemento que dignifica o homem, que o torna semelhante a Deus, passou a ser, também, o meio pelo qual o homem conseguiria obter recursos da natureza para poder sobreviver neste mundo, a base de toda a ordem econômica, que se constitui em um dos pilares da própria vida em sociedade.

OBS: “…É MEDIANTE O TRABALHO que o homem deve procurar-se o pão quotidiano e contribuir para o progresso contínuo das ciências e da técnica, e sobretudo para a incessante elevação cultural e moral da sociedade, na qual vive em comunidade com os próprios irmãos.

E com a palavra trabalho é indicada toda a actividade realizada pelo mesmo homem, tanto manual como intelectual, independentemente das suas características e das circunstâncias,

quer dizer toda a actividade humana que se pode e deve reconhecer como trabalho, no meio de toda aquela riqueza de actividades para as quais o homem tem capacidade e está predisposto pela própria natureza, em virtude da sua humanidade…” (JOÃO PAULO II, end.cit.). 

– O ócio é uma atitude de quem não serve a Deus. Por isso, o proverbista afirma que “o que lavra a sua terra se fartará de pão, mas o que segue a ociosos está falto de juízo” (Pv.12:11).

Ora, o “falto de juízo” é aquele que não tem a sabedoria divina, que não serve ao Senhor, que recusa d’Ele aprender. OBS: No “Pirke Avot”, este pensamento é repetido:

“…Aquele que não dorme de noite ou que anda sozinho pelo caminho e dedica seu coração à futilidade compromete a sua alma (3:5).”

“…O sono (até tarde) da manhã, o vinho do meio dia, as conversas infantis e a convivência com os ignorantes arrebatam o homem do mundo (3:14)”. 

II – O DEVER DE TRABALHAR E O PECADO DA PREGUIÇA 

– Pelo que já pudemos depreender, o trabalho foi uma ordem dada por Deus ao homem quando o pôs no jardim que havia formado no Éden para que o lavrasse e o guardasse.

Desta forma, o trabalho se insere evidentemente no âmbito da mordomia, pois era algo que o homem deveria fazer, na sua qualidade de administrador maior da criação terrena. 

– É certo que o trabalho, antes do pecado, era algo exclusivamente prazeroso para o homem.

Ao trabalhar no jardim do Éden, o homem, além de se assemelhar ao seu Criador (e tudo quando fazemos que nos torna semelhantes ao Criador é bom e tem como consequência o prazer e a alegria),

confirmava o seu domínio sobre o restante das criaturas terrenas, de modo que o fazia agradável a Deus, porquanto tal domínio se inseria dentro do propósito divino estabelecido para o homem (Gn.1:26), algo que trazia ao homem bênçãos (Gn.1:28).

OBS: Por sua biblicidade, de se reproduzir o que diz a respeito o Catecismo da Igreja Católica:

“O sinal da familiaridade com Deus é o fato de Deus o colocar no jardim. Lá vive “para cultivá-lo e guardá-lo” (Gn 2,15): o trabalho não é uma penalidade, mas sim a colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível.” (§ 378). 

– Neste trabalho, o homem não só desfrutava da harmonia da natureza, que era como que sua parceira nestas atividades que o faziam agradável a Deus, como também desenvolvia as suas habilidades, a sua criatividade, pois a “lavoura” nada mais era que uma licença para que o homem efetuasse a sua criatividade, a fim de que a natureza pudesse servir para a sua máxima satisfação e deleite. 

– Entretanto, com a entrada do pecado no mundo, o trabalho mudou de papel para o homem.

Não seria mais exclusivamente prazeroso, mas, sim, penoso, pois a harmonia que havia com a natureza foi rompida, ante a maldição da terra, tanto que passaram a existir espinhos e cardos, que era obstáculos da própria natureza para a atuação do homem, que demandaria esforço para poder satisfazer as suas necessidades.  

– Como disse o Senhor, o homem teria de comer da terra com dor todos os dias de sua vida (Gn.3:17,18).

A palavra hebraica aqui é “’issabhon’ (ִעׇצבון), cujo significado é “…inquietude, i.e., trabalho ou dor:— dor, sofrimento, trabalho, fadiga. Substantivo masculino que significa dor, trabalho.

Este substantivo é derivado do verbo ‘asabh e ocorre três vezes em Gênesis, relacionado à maldição que Deus impôs sobre a humanidade caída.…” (Dicionário do Antigo Testamento. Bíblia de Estudo Palavras-Chave, verbete 6093, p.1849). 

– Notamos, portanto, que a “dor” mencionada é o esforço que o homem teria de dispender para poder obter da natureza o necessário para a sua sobrevivência, tanto que é denominado de “trabalho” na física à medida da energia transferida pela aplicação de uma força ao longo de um deslocamento, ou seja, trata-se de um “gasto de energia”, de uma energia transferida no desempenho de uma determinada atividade. 

– Além de exigir do homem um desgaste, o trabalho, após o pecado, passou a ser necessário para a sobrevivência do homem.

Foi determinação divina que o homem deveria comer o seu pão no suor do seu rosto e isto até que ocorresse a sua morte física (Gn.3:19).

O trabalho, portanto, passou a ser o meio de sobrevivência do homem enquanto estivesse aqui durante a sua peregrinação terrena.

 

– Entende-se, assim, porque o apóstolo Paulo, ao encontrar algumas pessoas que, sob a desculpa de que a vinda de Jesus era iminente, não queriam mais trabalhar, vivendo às custas dos irmãos, ter dito claramente que quem não quisesse trabalhar, que não comesse também (II Ts.3:10). 

– Notamos, portanto, que o trabalho é um dever para todo ser humano, isto desde antes da entrada do pecado no mundo, mas que, com o pecado, tornou-se um dever necessário para a própria sobrevivência. 

– Isto mostra, claramente, que não querer trabalhar é uma atitude de rebeldia contra o Senhor e explica porque a preguiça se torna um pecado, já que a preguiça é conceituada como sendo “a aversão ao trabalho, o ócio, a vadiagem”. 

– Não é à toa que a preguiça, inclusive, foi considerada como sendo um dos “pecados capitais”, ou seja, os pecados mais graves, por darem ensejo a outros pecados.  Trata-se de uma atitude que contraria uma expressa ordem divina.

OBS: É o que se vê no Catecismo da Igreja Católica, que se reproduz, já que explica a tradição criada em torno deste tema:

“Os vícios podem ser classificados segundo as virtudes que contrariam, ou ainda ligados aos pecados capitais que a experiência cristã distinguiu seguindo S. João Cassiano e S.Gregório Magno.

São chamados capitais porque geram outros pecados, outros vícios. São o orgulho, a avareza, inveja, a ira, a impureza, a gula, a preguiça ou acídia” (§ 1866). 

– A reprovação da preguiça encontra-se explicitada em algumas passagens do livro de Provérbios.

Salomão dela, por primeiro, na chamada “metáfora da formiga”, ainda na primeira parte do livro de Provérbios, os chamados “conselhos paternais”, que vão do capítulo 1 ao capítulo 9. 

– Em Pv.6:6-11, Salomão faz uma comparação implícita (daí termos uma “metáfora”, que é uma figura de linguagem em que se faz uma comparação a partir de ideias, comparação esta que não está explícita no texto) entre a formiga e o homem trabalhador, recriminando, assim, o preguiçoso. 

– Salomão manda que o preguiçoso fosse ter com a formiga, ou seja, que examinasse e prestasse atenção à formiga e aprendesse com ela a importância do trabalho.

É interessante, de pronto, observarmos que a natureza, criação de Deus, pode, sim, trazer-nos importantes ensinos para a nossa vida espiritual. 

– A natureza é criação de Deus e a criação, além de revelar a glória e majestade do Criador (Sl.19:1-3; Rm.1:18-20), também nos traz importantes ensinos, pois Deus, ao criar todas as coisas,

também deixou nelas a Sua marca e Deus sempre está a ensinar aqueles que podem d’Ele aprender, ou seja, os seres racionais, os seres humanos. Por isso, aliás, como demonstração da sua sabedoria, Salomão investigou a natureza e dela apreendeu grandes lições (I Rs.4:33). 

– A formiga é uma criatura de Deus que nos ensina muito mesmo a respeito do trabalho.

Assim como o homem, a formiga é um ser social, ou seja, não pode viver isoladamente e, para a própria sobrevivência e do grupo a que pertence, é exímia no trabalho, ou seja,

está sempre levando alimentos para a sua colônia, incansavelmente, e da união dos esforços de todos os integrantes desta “sociedade”, advém a própria sobrevivência e a preservação da espécie.

– Quem olha para os caminhos da formiga, adquire sabedoria (Pv.6:6). A formiga trabalha sem que, para tanto, tenha superior, oficial ou dominador.

É um ser que “cumpre o seu dever” pela sua própria natureza, sem precisar ser fiscalizado, “cobrado” ou ameaçado para fazê-lo. ´

OBS: No “Pirke Avot”, vemos esta consciência de que devemos trabalhar por ser um princípio divino, trabalhar para Deus:

“…Sê diligente no estudo da Tora; sabe o que deves responder ao epicurista; considera perante quem te esforças e quem é o senhor que irá retribuir o pagamento por teu trabalho.(…).

O dia é curto, o trabalho imenso, os operários indolentes, o salário considerável e o patrão, insistente (…)

Não te cabe terminar a obra, mas não és livre para abandoná-la; se tiveres estudado muito a Tora, o teu prêmio será grande e fiel é o senhor para quem trabalhas, pagando-te a recompensa do teu esforço, lembra-te de que a recompensa dos justos está no mundo vindouro” (2:19-21). 

– Isto nos faz lembrar o que o apóstolo Paulo ensina a respeito dos servos em Ef.6:5-8, onde afirma que, apesar de os homens terem senhores, oficiais, superiores e dominadores, não devemos servi-los, mas, sim, ao Senhor, ou seja,

assim como a formiga executa o seu trabalho independentemente da existência de um superior, nós devemos também trabalhar independentemente da existência de um superior, “não servindo à vista”, mas servindo a Deus, sabendo que quem instituiu o trabalho e exige de nós a diligência é o Criador de todas as coisas, a quem deveremos prestar contas. 

– A formiga aproveita as oportunidades que o próprio Deus lhe dá, trabalhando no verão para que possa subsistir no inverno.

Lembremos que, em Israel, o inverno, como em toda região temperada, é rigoroso e a vegetação praticamente desaparece. Se a formiga não ajuntar no verão, não terá alimento no inverno. 

– Devemos trabalhar quando se nos dá a oportunidade de fazê-lo, inclusive para que tenhamos reservas nos instantes em que não houver trabalho.

O consumismo desenfreado de nossos dias tem feito com que muitos sofram terrivelmente quando falta o emprego, quando falta o trabalho, precisamente porque não olharam para a formiga, não tendo o cuidado de guardar parte do ganho lícito através do trabalho para o “inverno”, para o dia em que não haverá oportunidade de obtenção de recursos para a sobrevivência. 

– O preguiçoso, ou seja, aquele que não gosta de trabalhar encontra-se, desta maneira, em situação inferior ao de um inseto, como é a formiga.

Veja, amados irmãos, a que nível se rebaixa o ser humano quando desobedece à Palavra de Deus, quando se deixa levar pelo pecado, quando se põe em caminho diametralmente oposto ao estatuído pelo Senhor! 

– Quando Salomão afirma que o preguiçoso precisa atentar para a formiga a fim de ser sábio, isto nos mostra, claramente, que o preguiçoso é um néscio, trata-se de alguém que é chamado pelo proverbista de “simples”, “louco” ou “tolo”.

O preguiçoso é alguém que recusa servir a Deus, que não quer seguir os Seus mandamentos. 

– Por isso mesmo, a preguiça é um pecado, visto que se trata de um comportamento que viola uma ordem divina, que é a de que o homem deve trabalhar para seu sustento.

Mas o que é preguiça? É a aversão ao trabalho, é a procura de uma vida sem esforço físico ou mental, de tal maneira que o preguiçoso sempre buscará sobreviver mediante mecanismos que não o levem a ter qualquer esforço. 

– Por isso, Salomão apresenta um preguiçoso como uma pessoa que vive deitada, ou seja, não quer fazer qualquer esforço, tendo “um pouco de sono, um pouco de tosquenejar, um pouco de encruzar de mãos” (Pv.6:9,10). 

– O resultado da preguiça é a pobreza e a necessidade. Somente através do trabalho poderemos legitimamente amealhar os recursos para a nossa sobrevivência e, mesmo, para a melhora de nossas condições econômico-financeiras, materiais.

O preguiçoso, entretanto, porque não trabalha, está fadado à pobreza, ao passar necessidades materiais (Pv.6:11). 

– Este mesmo pensamento Salomão trará em Pv.20:4, onde diz que “o preguiçoso não lavrará por causa do inverno, pelo que mendigará na sega e nada receberá”, que, na Bíblia de Jerusalém, encontra-se assim traduzido:

“No outono, o preguiçoso não trabalha, na colheita procura e nada encontra”.

– Aqui Salomão deixa bem claro que aquele que não trabalha, não terá o que comer, mesmo diante das medidas assistencialistas existentes. Lembremos que, ao falar que o preguiçoso “na colheita procura e nada encontra”,

o rei está se referindo às regras existentes na lei de Moisés, segundo a qual os rabiscos da colheita, o que caísse no solo ou ficasse na primeira retirada dos frutos da terra, não deveria ser colhido, mas deixado para o pobre, o órfão e a viúva (Lv.19:9; 23:22; Rt.2:2).

Assim, nem mesmo aquilo que é voltado para o pobre, para o necessitado poderá ser usufruído por aquele que é preguiçoso! 

– Não há, portanto, forma mais eficaz de eliminar a pobreza do que o trabalho.

Somente através do trabalho, o homem poderá obter legitimamente não só a sua sobrevivência, mas até mesmo o seu progresso material.

Trata-se de um princípio bíblico e que reflete a própria ordem estabelecida por Deus à humanidade. 

– Lamentavelmente, não são poucos os que têm adotado doutrinas e filosofias que contrariam frontalmente o que está estabelecido na Bíblia Sagrada e querem promover o crescimento econômico-financeiro por caminhos outros que não o trabalho. 

– Vemos, inclusive em nosso país, a proliferação de políticas assistencialistas, que querem elevar o nível econômico-financeiro dos mais necessitados através do trabalho dos outros, o que se constitui numa ilusão e numa prática que não traz qualquer dignidade ao homem e, muito ao contrário do que se pensa, também não promove a melhora de suas condições materiais. 

– É evidente que se deve ter uma política de melhor distribuição de renda, pois a concentração dos recursos auferidos pelo trabalho dos homens na mão de alguns poucos se constitui em flagrante injustiça, que também não tem a aprovação do Senhor,

mas fazer com que as pessoas passem a viver única e exclusivamente do trabalho dos outros é, sem dúvida, um engano, uma ilusão, que só cria dependência para a manutenção de uma estrutura de poder, mas que está muito longe de propiciar mecanismos dignos de sobrevivência ao ser humano. 

– O mais grave é que muitos que cristãos se dizem ser têm apoiado e querido se beneficiar de tais programas assistencialistas e incentivadores da preguiça, inclusive se aliando a seus idealizadores e executores,

contribuindo decisivamente para que tais pessoas continuem a aumentar o seu poder na sociedade, o que nada mais representa senão um contínuo empobrecimento de toda a nação, inclusive daqueles que são iludidos pela falácia do enriquecimento sem trabalho. Fiquemos com a Palavra de Deus, amados irmãos! 

– Depois de ter dado a ilustração a respeito da formiga, na parte referente aos chamados “conselhos paternais”, Salomão vai tratar do preguiçoso em vários de seus provérbios, que foram compilados seja em seu tempo (a segunda parte do livro – Pv.10-24), seja nos dias do rei Ezequias (Pv.25-29).  

– Nestes provérbios, Salomão traz, de forma sintética e um tanto quanto enigmática, alguns ensinos a respeito do preguiçoso, daquele que tem aversão ao trabalho,

que nos mostram como é absolutamente necessário, para sabermos viver nesta Terra de forma agradável a Deus, cumprirmos o mandamento do trabalho, que o Papa Paulo VI (1963-1978) chamou, certa feita, numa expressão muito feliz, de “a lei severa e redentora do trabalho”.

– Em Pv.10:26, Salomão afirma o seguinte: “Como vinagre para os dentes, como fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para aqueles que o mandam” (Pv.10:26).

Temos aqui uma comparação que nos mostra quanto o trabalho é importante para os relacionamentos sociais.

– O preguiçoso, aquele que tem aversão ao trabalho, recusa-se a trabalhar, não quer fazer coisa alguma e, por isso mesmo, diante daqueles a quem deve obediência, a quem deve executar tarefas, apresenta-se como pessoa incômoda, pessoa desagradável, pessoa que só gera problemas e sofrimentos.  

– O preguiçoso é, para aquele que nele manda, para aquele que o envia a fazer, a realizar alguma tarefa, tão incômodo como o vinagre nos dentes, como a fumaça nos olhos.

Todos sabemos que a fumaça nos olhos causa incômodo, dor, lágrimas, pois a fumaça irrita as sensíveis estruturas oculares e Salomão nos mostra que o preguiçoso causa semelhante mal-estar para aqueles que com ele convivem. 

– A preguiça, portanto, além de ser um fator promotor da pobreza, também se apresenta como um elemento que provoca irritação e mal-estar em nossos relacionamentos sociais,

um isolamento que faz com que haja ainda mais sofrimento ao preguiçoso, tendo em vista que não podemos viver isoladamente, já que somos seres sociais.

Não é coincidência, portanto, que os preguiçosos acabem sendo completamente marginalizados na sociedade em que vivem. 

– Como um servo do Senhor, que tem a missão de fazer com que as pessoas se aproximem de Deus, que deve propagar a mensagem do Evangelho, pode ser um preguiçoso, alguém que gera irritação e mal-estar entre as pessoas que o cercam?

Não há, mesmo, qualquer compatibilidade entre uma condição e outra. Pensemos nisto!

– Em Pv.12:27, Salomão afirma: “O preguiçoso não assará a sua caça, mas o bem precioso do homem é ser diligente” (Pv.12:27). Temos aqui outra preciosa lição a respeito dos males da preguiça e do ócio.

– O preguiçoso não assa a sua caça, ou seja, não há como alguém que tenha aversão ao trabalho venha alcançar objetivos e propósitos que trace nesta vida debaixo do sol.

Salomão aqui mostra que quem não se esforça para caçar um animal, para capturá-lo a fim de se alimentar, jamais poderá assá-lo.

O preguiçoso não assa a sua caça, porque não a apanha, não toma os devidos cuidados para poder ter o animal em suas mãos. 

– Não são poucos os que constroem projetos, alimentam sonhos, criam planos, mas não “põem a mão na massa” para que estes projetos, sonhos e planos se concretizem.

Não trabalham, acham que tudo quanto idealizaram virá da Providência Divina ou do esforço de terceiros. 

– O bem precioso do homem, diz o proverbista, é ser diligente, ou seja, o ser cuidadoso, o se esforçar para ter os meios pelos quais se atingirá uma finalidade, um determinado objetivo.

É muito bom sonhar, projetar e planejar, mas se deve ter o cuidado de obter os meios pelos quais se poderá atingir os objetivos almejados, desejados e queridos. 

– Quando alguém é cuidadoso, quando alguém se encarrega de tomar as devidas ações e atitudes que lhe levem até o fim que pretende alcançar, e este meio, em termos materiais, é sempre o trabalho, não há como impedir que se atinja aos fins visados. 

– O preguiçoso não irá a lugar algum, pois tudo não passa de devaneio, sonho ou projeto vão.

Sem que se tenha o esforço, o trabalho, nada será alcançado. Vemos isto na própria obra de Deus, que é a mais sublime tarefa que existe sobre a face da Terra.

Para que tal obra se realize, diz o apóstolo Paulo, mister se faz que haja firmeza, constância e abundância no trabalho (I Co.15:58). 

– Assim como o Senhor Jesus, temos de trabalhar, apesar de Deus também o fazer (Jo.5:17). Deus está conosco, mas isto não dispensa o nosso trabalho.

Como dizia o saudoso pastor Severino Pedro da Silva (1946-2013): “Quando nós começamos, Deus começa também”.

É absolutamente indispensável que ponhamos a mão no arado, pois, assim, Deus também estará conosco. Agora, se nada fizermos, nada alcançaremos, nada se fará. 

– A inércia proveniente da preguiça, da aversão ao trabalho, impede que se atinjam os objetivos que podem ser alcançados. É precisamente por isso que o inimigo de nossas almas deseja-nos preguiçosos e inertes, visto que isto impedirá que atinjamos as bênçãos que já estão preparadas para nós, que tenhamos o progresso que Deus quer nos dar, não só em termos materiais, mas, sobretudo, em termos espirituais.

 

– Neste passo, a doutrina católico-romana apresenta a preguiça ou “acídia” como um dos “pecados capitais”, porque se trata de um pecado que gera outros pecados.

A inércia decorrente da preguiça causa estagnação espiritual e, em termos espirituais, nunca se está parado, ou se avança, ou se vai para trás e a preguiça, ao impedir o avanço, faz com que a pessoa decaia espiritualmente cada vez mais, daí ser um pecado gerador de outros pecados. 

– O Catecismo da Igreja Romana, a propósito, ao tratar da preguiça, sempre o faz sob o prisma espiritual. Assim, afirma que “…a acídia ou preguiça espiritual chega a recusar até a alegria que vem de Deus e a ter horror ao bem divino.…” (§ 2094). A preguiça, em termos espirituais, é a falta de vontade de busca ao Senhor, de exercício das virtudes, de culto ao Senhor, característica, aliás, que cada vez mais se apresenta entre os que cristãos se dizem ser. 

– Também é uma forma de preguiça espiritual o chamado “agnosticismo”, ou seja, a posição de que não convém perquirir se Deus existe ou não, a falta de vontade de se indagar a respeito da pessoa de Deus, deixando este assunto de lado.

Trata-se, também, de uma aversão ao trabalho de busca e de contato com o Senhor. 

OBS: “O agnosticismo pode, às vezes, conter certa busca de Deus, mas pode igualmente representar um indiferentismo, uma fuga da pergunta última sobre a existência e uma preguiça da consciência moral. Com muita frequência o agnosticismo equivale a um ateísmo prático.” (§ 2128 CIC).

 

– Por fim, o Catecismo da Igreja Romana também nos fala da preguiça espiritual como sendo uma tentação decorrente do relaxamento da vida de santificação, de uma diminuição da vigilância, de uma negligência do coração, que faz com que se esteja mais propenso a cair no pecado e a se perder a salvação.

Quanto mal produz a preguiça espiritualmente! OBS: “Outra tentação, cuja porta é aberta pela presunção, é a acídia (chamada também “preguiça”).

Os Padres espirituais entendem esta palavra como uma forma de depressão devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da vigilância, à negligência do coração.

“O espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26,). Quanto mais alto se sobe, tanto maior a queda.

O desânimo doloroso é o inverso da presunção. Quem é humilde não se surpreende com sua miséria. Passa então a ter mais confiança, a perseverar na constância.” (§ 2733 CIC).

 

– Este mesmo pensamento é registrado em Pv.13:4, onde se diz que “a alma do preguiçoso deseja e coisa nenhuma alcança, mas a alma dos diligentes engorda”.

Temos aqui a demonstração de que o preguiçoso tem frustrados os seus desejos e projetos, simplesmente porque não os executa, tem aversão ao trabalho, ao passo que aquele que é cuidadoso,

tanto em sua vida material, quanto em sua vida espiritual, cuidado este demonstrado pelo trabalho, pelo esforço, terá riquezas espirituais e materiais, conseguirá atingir seus objetivos e obter as bênçãos do Senhor. 

-O preguiçoso até fala, mas não age. Não basta falar, é preciso que nos dediquemos ao trabalho, como diz o proverbista em Pv.14:23: “Em todo trabalho há proveito, mas a palavra dos lábios só encaminha para a pobreza”.

O preguiçoso, por falar apenas, encaminha-se para a pobreza, pois não age, não se dedica ao trabalho. 

– Não podemos dar vazão à preguiça. Como afirma o professor católico Felipe Aquino:

“…A partir da tragédia do pecado original, o trabalho passou a ser um veículo redentor para o homem, além de ser o meio pelo qual ele é chamado a ser cooperador de Deus na obra da construção do mundo.…” (O pecado da preguiça. Disponível em: http://www.cancaonova.com/portal/canais/formacao/internas.php?e=12517 Acesso em 03 set. 2013). 

– O trabalho nos redime, no sentido de que, através do nosso esforço e do nosso trabalho, podemos concretizar, em nós, a obra redentor produzida por Cristo Jesus na cruz do Calvário,

bem como nos tornar participantes da própria obra de Deus na face da Terra, sendo Seus cooperadores (“cooperar” é “trabalhar com alguém”).

 

– Quando nos recusamos a trabalhar, a nos esforçar, jamais poderemos participar desta libertação efetuada por Cristo, nem tampouco seremos Seus cooperadores, e o resultado disto é nos tornarmos “vagabundos”, fazendo-nos semelhantes ao inimigo de nossas almas, que vive a “vagar de um lado para outro” (Jó 1:7), sem nada produzir de concreto, apenas destruindo o que existe.

– O preguiçoso é alguém que apenas vai se destruindo a si mesmo, pois, em sua situação de inércia, vai decaindo espiritualmente a cada instante, dando lugar e vazão a toda espécie de maldade e abominação.

Bem diz a sabedoria popular que “mente desocupada é oficina do diabo”.

O ócio tão somente abre e escancara portas para o vício e para a maldade.

Por isso mesmo, o filósofo chinês Confúcio dizia que “o trabalho é a sentinela da virtude”, ou seja, pelo trabalho se consegue ter o acesso à prática dos bons hábitos, à prática do bem. 

– Dentro desta condição do preguiçoso, é que podemos compreender outro provérbio, desta feita, o constante de Pv.15:19:

“O caminho do preguiçoso é como a sebe de espinhos, mas a vereda dos retos está bem igualada”, cujo significado fica mais claro se utilizarmos a versão da Bíblia de Jerusalém, a saber:

 “O caminho do preguiçoso é como cerca de espinhos, a trilha dos homens retos é grande estrada”. 

– Qual a diferença entre uma cerca de espinhos e uma grande estrada? Imensa!

A cerca de espinhos é pequena, limitada, tem em vista apenas impedir que as pessoas entrem num determinado local. O contato com ela faz com que as pessoas se machuquem, se firam. É algo que produz isolamento, distância e limitação. 

– Já a grande estrada, ao contrário, traz acesso, mobilidade, cria contatos, gera oportunidades de comunicação.

Assim é o caminho do homem justo, que aumenta os relacionamentos, que se transforma numa via de acesso ao próprio Deus. 

– A aversão ao trabalho, como já dito em outro provérbio, isola a pessoa do seu próximo, inclusive de Deus, trazendo tão somente feridas.

É precisamente assim que nos quer o inimigo de nossas almas, pois assim seremos alvos fáceis de sua tarefa destruidora e homicida. Tomemos cuidado, amados irmãos! 

– A inércia causada pela preguiça é tanta que gera até a desnutrição do preguiçoso.

É o que diz Salomão em Pv.19:24, “in verbis”: “O preguiçoso esconde a mão no seio; enfada-se de a levar à boca”.

Na Bíblia de Jerusalém, temos uma versão que melhor nos traz o sentido deste aforismo do rei de Israel: “O preguiçoso põe a mão no prato, mas não consegue levá-la à boca”. 

– O trabalho é o fator que faz com que consigamos nos alimentar e apreender os recursos necessários à nossa sobrevivência. Sem ele, nossa vida estará sempre em risco, fazendo com que até consigamos pôr a mão no prato, mas jamais conseguiremos levar a mão até a boca. 

– Através deste provérbio, Salomão mostra que, sem o trabalho, não conseguiremos cumprir os propósitos divinos estatuídos ao homem e, o que é pior, estaremos nos arriscando a perder a própria vida, a própria comunhão com Deus. 

– Quão triste é observarmos que muitos que cristãos se dizem ser encontram-se passando por sérios problemas de sobrevivência porque não querem trabalhar,

porque têm desperdiçado as oportunidades que Deus lhe dá de ganharem o pão de cada dia honestamente, porque não querem se submeter a determinadas condições do serviço que lhe propuseram, que não querem exercer tais e quais funções.

– Qualquer trabalho é digno, é o prato que Deus nos deixa à disposição, prato este em que não podemos apenas pôr a mão, mas que tem de ser, também, levado até a boca.

É com tristeza que percebemos que muitos crentes estão a passar imensas necessidades e reclamam até da “falta de amor” da igreja local, mas que, na verdade, são pessoas que não querem trabalhar, que não querem levar o prato até a boca.  

– Em termos espirituais, o mesmo se dá. Jesus está pronto para curar, para libertar, para batizar com o Espírito Santo, para dar crescimento espiritual, para dar os dons espirituais, mas as pessoas, embora tenham posto a mão no prato, não querem levá-lo até a boca.

Não oram, não se consagram, não se santificam e o resultado de toda esta negligência, de toda esta preguiça espiritual, outro não é senão o definhamento, a desnutrição espiritual. Levemos o prato até a boca! 

– Ainda mencionando o Catecismo da Igreja Romana, por sua biblicidade neste ponto, temos ali uma linda lição, qual seja, a de que contra a nossa preguiça espiritual, devemos apresentar o combate da oração, que se apresenta como uma arma para debelarmos a letargia espiritual.

Como diz o poeta sacro Henry Maxwell Wright (1849-1931):

“…Trabalhemos, pois, com zelo e com vigor, constrangidos pelo Seu imenso amor; trabalhemos pelo nosso Salvador:

eis que a vida vai findar! Acordai! Acordai! Despertai! Despertai!… (segunda parte da primeira estrofe e primeiro verso do refrão do hino 63 da Harpa Cristã).

OBS: “ ‘Orai sem cessar’ (1 Ts 5,17), ‘sempre e por tudo dando graças a Deus Pai, em nome de nosso Senhor, Jesus Cristo’ (Ef 5,20), ‘com orações e súplicas de toda sorte, orai em todo tempo, no Espírito e, para isso, vigiai com toda perseverança e súplica por todos os santos’ (Ef 6,18).

‘Não nos foi prescrito que trabalhemos, vigiemos e jejuemos constantemente, enquanto, para nós, é lei rezar sem cessar.’

Esse ardor incansável só pode provir do amor. Contra nossa pesada lentidão e preguiça, o combate da oração é o do amor humilde, confiante e perseverante.…(§ 2742 CIC). 

– Mas não é só a desnutrição que é resultado da preguiça. A preguiça gera a própria morte, como nos fala o proverbista em Pv.21:25:

“O desejo do preguiçoso o mata, porque as suas mãos recusam-se a trabalhar”.

A recusa ao trabalho gera a morte, pois, não tendo como se obter os recursos indispensáveis à sobrevivência, certamente o preguiçoso encontrará a morte como consequência de seus atos. 

– Esta morte não é apenas a morte física, mas, também, a morte espiritual, pois, como já falado acima, a preguiça espiritual também leva o homem a uma queda espiritual contínua, cujo fim outro não é senão a morte espiritual que, se não revertida, tornar-se-á morte eterna. Tomemos cuidado, amados irmãos! 

– Na sequência dos provérbios de Salomão a respeito do preguiçoso, temos “a metáfora do leão”, que se encontra em Pv.22:13:

“Diz o preguiçoso: Um leão está lá fora; serei morto no meio das ruas”, provérbio este que é ligeiramente repetido em Pv.26:13: “Diz o preguiçoso: Um leão está no caminho; um leão está nas ruas”.

– Como se pode observar, aqui o preguiçoso, quando chamado ao trabalho, apresenta uma desculpa, um argumento para não ir trabalhar, qual seja, a de que “um leão está lá fora” ou, então, “um leão está no caminho”. 

– Por primeiro, esta expressão de Salomão faz-nos entender que o preguiçoso é alguém que se encontra dentro de algum lugar, muito provavelmente em seu quarto, onde se mantém deitado, com as mãos cruzadas (cfr. Pv.6:9,10). 

– Trata-se de um lugar onde a visão é extremamente limitada, onde ele não pode divisar as coisas criadas por Deus e as oportunidades existentes. Lembremos que Abrão, para poder crer em Deus e ver a grandiosidade de Suas promessas, teve de sair da tenda para ir para fora, a fim de que pudesse observar as estrelas dos céus (Gn.15:5,6). 

– O preguiçoso é alguém que se autolimita, que despreza a oportunidade de ver as obras de Deus, que se demonstram a partir do instante em que pomos a mão no arado, em que começamos a trabalhar, seja no aspecto material, seja no aspecto espiritual. 

– Os sinais e maravilhas feitos pelos apóstolos somente foram possíveis depois que eles partiram por todas as partes e começaram a fazer a obra de Deus, oportunidade em que o Senhor, cooperando com eles, confirmou a palavra pregada com os sinais que se seguiram (Mc.16:20). 

– O preguiçoso, porém, não tem acesso a quaisquer destas cooperações do Senhor, porque não começa a trabalhar, recusa-se a fazê-lo e o resultado disto é que não tem acesso ao que está “lá fora” o aguardando, para ser abençoado por Deus.

– Pelo contrário, diante de sua indolência, é acometido de pensamentos vãos, de vãs imaginações, na medida em que, por não conhecer o ambiente “lá fora”, entende que lá há um “leão”, ou seja, uma fera, um animal extremamente perigoso, que está pronto a devorar-lhe, a exterminá-lo. 

– O preguiçoso, por não querer “ir lá fora”, imagina que lá está um leão e, como tal, torna-se inseguro, inquieto e medroso, fechando-se ainda mais no local onde se encontra, prendendo-se mais e mais no seu quarto fechado.

Afinal de contas, como procede alguém que sabe que tem um leão lá fora pronto a devorarlhe? 

– Por isso, como já se disse, há o dito popular de que “a mente vazia é oficina do diabo”.

A falta de trabalho, o ócio faz com que nossas mentes sejam invadidas por pensamentos distorcidos, por enganos e mentiras, lançados ardilosamente por aquele que sabe como nunca afetar a nossa mente (cfr. II Co.4:4), querendo única e exclusivamente a nossa destruição.

– Mais uma vez vemos como a preguiça provoca um indevido e perigoso isolamento do próximo, que é como uma sentença de morte para um ser social como é o homem.

O medo e a aflição decorrentes da “imaginação do leão” fazem com que o preguiçoso se feche cada vez mais em seu “mundinho”, trazendo-o a um desfalecimento completo e mortal. 

– Na variante do provérbio, compilado no tempo do rei Ezequias, diz-se que o “leão está no caminho”, ou seja, o preguiçoso não quer andar, quer ficar parado, não tem coragem nem vontade de se pôr a caminho, de seguir rumo a um destino. 

– Ora, como todos sabemos, o caminho é Cristo Jesus (Jo.14:6), servir ao Senhor é servir ao Caminho, tanto que esta era a forma pela qual os cristãos eram conhecidos nos primeiros dias da Igreja sobre a face da Terra (At.18:26; 19:9,23; 22:4; 24:14,22; II Pe.2:2,21).

Assim, quando se diz que “há um leão no caminho”, há uma recusa a ir até o caminho, de nele trilhar, de nele adentrar. 

– Quando não se ingressa no caminho, de forma alguma se poderá chegar ao seu destino, ao seu final.

O preguiçoso, portanto, jamais poderá adentrar na verdade, na justiça, na salvação, porque simplesmente se recusa a perseguir este caminho. Será que temos agido como o preguiçoso? 

– O fato é que, temendo o “leão” e, por isso, não indo para fora nem tampouco para o caminho, o preguiçoso sela a sua sorte, que é a de ser, precisamente, devorado pelo leão.

O apóstolo Pedro é bem claro ao dizer que o nosso adversário brama como um leão, buscando a quem possa tragar, andando ao nosso derredor.

– Quem vai para fora, quem entra no caminho, escapa do leão, porque, neste caminho, o leão não consegue se aproximar, anda apenas ao “derredor”, não pode tomar das mãos do Senhor a presa (Jo.10:28).

No entanto, quem não estiver no caminho, debaixo das mãos do Senhor, este será certamente devorado pelo leão, porque não terá como fugir, será presa fácil de Satanás. 

– Quem é preguiçoso, quem é indolente e não busca maior proximidade com o Senhor, não tem coragem de ir ao encontro de Deus, certamente desfalecerá espiritualmente, não resistirá ao predador, será devorado pelo adversário, já que somente no caminho, somente “lá fora”, poderá crer em Deus e ser justificado, como foi Abrão. 

– É por isso que Salomão chama o homem preguiçoso de “falta de entendimento” em Pv.24:30, pois, como não foi “lá fora”, como não foi “ao caminho”, ele não alcança a sabedoria e, por esta razão, não tem como saber se conduzir, como ter vida sobre a face da Terra. 

– A desproteção do preguiçoso está evidenciada em outra passagem em que Salomão (ou os sábios cujos pensamentos foram coligidos por Salomão) fala do preguiçoso, que se encontra em Pv.24:30-34, que aqui chamaremos de “ilustração do campo”.

– Diz o proverbista que, ao passar pelo campo do preguiçoso, pela vinha do homem falto de entendimento (e aqui vemos, uma vez mais, que o preguiçoso é alguém despido de sabedoria), observou que o campo do preguiçoso estava cheio de cardos, sua superfície coberta de ortigas e a sua parede de pedra, derribada (Pv.24:31). 

– Como o preguiçoso não trabalha, ao mesmo tempo em que não há lavoura no seu campo, também aumentam os espinhos e cardos, que já são naturalmente produzidos pela natureza, como resultado até do pecado do homem (Gn.3:18). 

– Observamos aqui, então, um elemento “redentor” do trabalho, para lembrar a expressão do Papa Paulo VI, qual seja, através do trabalho podemos retirar “os espinhos e cardos”, ou seja, as dificuldades que, pela própria entrada do pecado no mundo, surgem naturalmente em nosso meio. 

– Vivemos num mundo maculado pelo pecado, numa terra que ficou maldita por causa do pecado e, assim, a ordem natural das coisas é que surjam dificuldades, problemas e obstáculos para que nós tenhamos uma vida alegre e feliz sobre a face da Terra.

Quando nos dedicamos ao trabalho, parte destes problemas e destas dificuldades serão removidas, assim como o lavrador, no campo, retira os espinhos e cardos que nascem naturalmente, mas que, uma vez retirados, não causam mais males à produção. 

– O campo do preguiçoso, entretanto, terá muitos cardos, muitos espinhos, que prevalecerão e trarão sérios prejuízos para a sua vida.

Por isso, a vida do preguiçoso é mais difícil, é mais complicada do que a do trabalhador, porque, diante de sua inércia, o preguiçoso dá lugar à maldição, aos cardos, ao aumento de dificuldades e de problemas, que exsurgem naturalmente num mundo que está no maligno (I Jo.5:19). 

– Não é preciso fazer força alguma para que o mal viceje em nossas vidas, para que as dificuldades invadam o nosso viver.

Se, entretanto, não nos dedicarmos ao trabalho, se deixarmos que a ordem natural das coisas prevaleça, estaremos tão somente somando cada vez maior número de problemas e de males para a nossa existência. 

 – Mas, além dos cardos, o proverbista disse que a superfície do seu campo estava coberta de ortigas.

Estas plantas herbáceas, abundantes na região temperada, caracterizam-se por terem “ … muitos pêlos urticantes ocos chamados tricomas em suas folhas e caules, que agem como agulhas hipodérmicas, injetando histamina e outras substâncias químicas que produzem uma sensação de ardor quando contactado por seres humanos e outros animais…” (Urtica doica. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Urtica_dioica Acesso em 03 set. 2013).

 – Como se observa, portanto, a ideia trazida pela ortiga é muito semelhante ao dos cardos, mas tem algo mais profundo.

Os cardos são temporários, podem ser arrancados, não são uma plantação perene, ao contrário das ortigas, que se instalam de forma permanente.

Isto nos fala que uma vida de preguiça acaba trazendo alguns dissabores e dificuldades que se tornam irreversíveis, coisas que não mais se retirarão de nossas existências. Como é difícil recusar-se ao trabalho! 

– Mas, além dos cardos e das ortigas, o proverbista também afirma que, no campo do preguiçoso, encontrou uma parede pedra derribada.

Ora, esta parede de pedra era comum para proteção das vinhas, para proteção das plantações contra animais e até outros seres humanos.

 – A preguiça, porém, faz com que se tenha uma desproteção, precisamente o que falamos supra. Sem o trabalho, sem o esforço, o preguiçoso se encontra desprotegido, à mercê dos predadores e dos ladrões.

 – Salomão volta a mencionar isto no livro de Eclesiastes, quando afirma que “pela muita preguiça se enfraquece o teto, e pela frouxidão das mãos goteja a casa” (Ec.10:18), que a Bíblia de Jerusalém assim traduziu: “por mãos preguiçosas o teto desaba, por braços frouxos goteja na casa”.

– A preguiça traz total falta de proteção à casa do preguiçoso, a ponto de toda a estrutura familiar ruir por causa da aversão ao trabalho. “O teto desaba”, “goteja na casa”.

Não há estrutura familiar que resista à preguiça, as brechas se abrirão de todos os lados (o gotejar) e, por fim, tudo ruirá, não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada. 

– Ao ver este campo do preguiçoso, o proverbista disse ter aprendido uma lição, qual seja, o de que pobreza sobreviria ao preguiçoso como um ladrão e a necessidade, como um homem armado (Pv.24:34). 

– Sem a proteção do trabalho, o preguiçoso sofrerá a pobreza e a necessidade, que virão sem aviso e sem qualquer piedade ou dó, assim como o ladrão ou o homem armado avançam sobre a sua vítima, figura bem conhecida de todos nós que vivemos dias de intensa violência e criminalidade. 

– Sem a proteção do trabalho, não há como o homem querer ter prosperidade material, ter uma vida com condições mínimas de sobrevivência, ter satisfeitas as suas necessidades, a sua mantença nesta vida debaixo do sol. 

– No aspecto espiritual, também, não há como termos prosperidade, desfrutarmos das bênçãos espirituais que o Senhor já nos tem dado (Ef.1:3), sem que nos esforcemos, sem que haja trabalho de nossa parte.

A preguiça espiritual também chama o ladrão, chama o homem armado, que sobrevirá repentinamente sobre o indolente, trazendo morte certa, pois seu trabalho é tão somente matar, roubar e destruir (Jo.10:10).

Será que temos estado desprotegidos, a ponto de o inimigo estar a ponto de nos matar? Pensemos nisto! 

– A situação do preguiçoso é tão delicada que ele não tem mais visão alguma.

Em sua indolência, ele se acha sábio aos seus próprios olhos, a ponto de se achar mais sábio do que sete homens que bem respondem (Pv.26:16). 

– Eis aqui outra grande dificuldade para o preguiçoso. Como ele tem se isolado e se alheado do mundo e dos que lhe cercam, ele se entende sábio e passa a ter uma arrogância que o impedirá de sair da situação terrível em que está, por pior que ela seja.

Esta constatação do proverbista explica muito porque vemos milhares e milhares de moradores de rua que, apesar de sua situação precaríssima, recusam ajuda e preferem prosseguir em sua condição subumana. Que Deus nos guarde de chegarmos a este estado de cegueira espiritual! 

– Esta situação é o que Salomão chama de “profundo sono” gerado pela preguiça (Pv.19:15), que gera no preguiçoso uma “alma enganadora”, que faz com que o preguiçoso padeça fome.

Autoiludido por sua suposta sabedoria, o preguiçoso acaba ficando invulnerável ao conhecimento, ao aprendizado, selando sua sorte de forma triste e cruel. 

III – O TRABALHO COMO VOCAÇÃO E O DEVER DO DESCANSO

– Mas a mordomia do trabalho não se circunscreve apenas à questão de termos, ou não, um trabalho, de não sermos preguiçosos. 

– Como já dito supra, é preciso termos consciência de que, quando trabalhamos, temos de agradar a Deus, é ao Senhor que estamos prestando serviço e, desta maneira, temos de ter noção de que a nossa ocupação é um modo de glorificarmos a Deus, de servirmos a Ele. 

– Todos temos de estar dispostos a ter uma ocupação. Isto nos faz lembrar o que os marinheiros perguntaram a Jonas, quando perguntaram qual era a sua ocupação e a que Deus servia (Jn.1:8).

“Ocupação” é a palavra hebraica “mlakhah” (ַמ לְְֵֵאד), “…(propriamente) representação, i.e., ministério, (de modo geral) emprego (nunca servil) ou trabalho (abstrato ou concreto); também propriedade (como resultado de trabalho)…” (Dicionário do Antigo Testamento. Bíblia de Estudo Palavras-Chave, verbete 4399, p.1749).

– Ao exercer uma atividade, devemos ter em mente que esta ocupação tem de agradar a Deus, temos de fazer o melhor, sabendo que há sempre um propósito divino para estejamos a desempenhar esta ou aquela tarefa na sociedade. 

– Como afirma o pastor batista Paulo Simões,

 “…Para o mordomo cristão, o trabalho é também uma forma de adorar a Deus pelos recursos que ele pode oferecer, a fim de contribuir para a consolidação e a expansão do Evangelho no mundo inteiro.…” (Mordomia do trabalho – Honestidade acima de tudo. Disponível em: http://batistafluminense.org.br/revista/documentos/palavraevida_3_ano_2014_tipo_1_capitulo_11.pdf Acesso em 19 maio 2019). 

– Ainda de acordo com este ministro do Evangelho, “…O chamado de Deus para uma vida de serviço chama-se vocação.

Vocação, no seu sentido popular de aptidão, é a habilidade para determinada atividade, manifestando a opinião de que toda vocação é uma dádiva de Deus e deve ser realizada com essa consciência.…” (end. cit.) e, neste passo, vemos que a mordomia do trabalho se entrelaça com a mordomia dos talentos, que não é o tema desta lição. 

– Todo trabalho a ser exercido tem de compreender que precisamos fazer aquilo que o Senhor que façamos, aqui que promoverá a nossa realização e o ser humano somente se realizará quando estiver cumprindo o propósito de Deus.

Não é por outro motivo que o Senhor disse que a Sua comida era fazer a vontade d’Aquele que O havia enviado (Jo.4:34). 

– Todos nós somos chamados ao trabalho, mas o Senhor deu a cada um habilidades diferenciadas precisamente para que façamos, na sociedade, aquilo que Ele quer que façamos.

É muito triste vemos muitos, nos dias hodiernos, sacrificando seus talentos e sua vocação em nome de uma suposta estabilidade econômico-financeira, pondo o dinheiro ou outros fatores, como a fama e o poder, acima da própria vontade de Deus. 

– Muito se fala em vocação quando se trata do ministério, das coisas relativas a Deus e ao Evangelho, mas, na verdade, todos nós temos de ter consciência de que, em nosso trabalho dito “secular”, também estamos a desempenhar uma atividade que tem de glorificar a Deus. A vocação a que somos chamados não abrange apenas assuntos espirituais, mas também os que são tidos como materiais. Não somos de nós mesmos (I Co.1:30; 6:19,20) e que, portanto, devemos ficar na vocação em que fomos chamados pelo Senhor (I Co.7:20-23).

 

– Poucos param para pensar no que significa “profissão”. Quando vamos ao dicionário, vemos que “profissão”.

A palavra significa “ação ou resultado de professar”, “declaração ou confissão pública de uma crença, religião, sentimento, opinião, tendência política” e que passou a significar também  “um trabalho ou atividade especializada dentro da sociedade”.

– Tem-se, portanto, que a profissão é, antes de mais nada, uma assunção de uma posição, de uma postura, e somente podemos fazê-lo, dentro da mordomia cristã, em obediência e submissão a Deus, levando, assim, em conta as habilidades que ele nos deu. 

– Não há como desvincular o trabalho, portanto, dos desígnios divinos, sendo, pois, um trabalho um meio absolutamente indispensável para darmos glória a Deus e exaltarmos o Seu nome. 

– Como ensina o pastor Paulo Simões,

“…Sendo qualquer atividade uma vocação divina, deve ser exercida com honestidade.

Honestidade não é uma questão de opinião pessoal; é uma questão de caráter.

O caráter justo de Deus, que é implantado no homem pela regeneração por meio do Evangelho.

O cristão é perfeito na honestidade do seu trabalho, porque este é o seu caráter, a sua forma de ser, um ser continuamente transformado pela renovação do seu entendimento, conforme Rm 12.2.…” (end.cit.).

– Mas, ao lado deste dever de trabalhar honestamente, na área que está de acordo com as habilidades concedidas a nós pelo Senhor e segundo a Sua vontade, para agradar-Lhe, temos também que o homem tem um “dever de descanso”. 

– Ao se encerrar o relato da criação, é dito que Deus “descansou” (Gn.2:2).

A palavra hebraica aqui é conhecidíssima, “shabbath” (ׇשׇבת), “…repousar, i.e., renunciar ao esforço; usada em muitas relações de envolvimento (…) (fazer, deixar, determinar), cessar, celebrar, causar a queda, fazer cair…” (Dicionário do Antigo Testamento. Bíblia de Estudo Palavras-Chave, verbete 7673, p. 1946). 

– Sabendo das limitações humanas, o Senhor dá o exemplo ao homem, a fim de que ele tivesse um tempo para descansar, repousar, ou seja, um período em que fizesse cessar o esforço que deveria dispender para sobreviver sobre a face da Terra, uma vez tendo entrado o pecado no mundo. 

– Por isso mesmo, no Decálogo, um dos mandamentos era, precisamente, o de trabalhar seis dias, reservando um para o descanso (Ex.20:9,10; Dt.5:13-15), mandamento este que tinha em vista o homem e não o dia de sábado (Mc.2:27). 

– O Senhor Jesus tinha em mente esta realidade ao mandar que os discípulos fossem repousar depois de terem trabalhado na Sua obra (Mc.6:30,31). 

– Faz-se necessário que tenhamos um tempo para descansar, para recarregar as energias, sem o que não poderemos, em absoluto, continuar a trabalhar. Aqui a mordomia do trabalho se entrelaça com a mordomia do tempo, tratada na lição anterior. 

– Os dias em que vivemos, em que tudo tem de ocorrer no “tempo real”, faz com que muitos desprezem esta realidade e, não raras vezes, muitos se tornam “workaholic”, ou seja, um viciado em trabalho, um trabalhador compulsivo. 

– Jamais podemos, como mordomos cristãos, nos tornar dominados por coisa alguma (I Co.6:12), muito menos o trabalho. Devemos todos ter um momento de repouso, de descanso e de lazer, a fim de desfrutarmos do fruto do nosso próprio trabalho. 

– Não é à toa que Salomão diz que, no mundo debaixo do sol, a maior bênção divina são precisamente estes momentos em que podemos desfrutar do produto de nosso esforço, sem o qual não terá sentido algum o próprio trabalho (Ec.2:24; 3:12,13,22; 5:18; 8:15). 

– Temos o dever de descansar fisicamente, de cessar as atividades de trabalho, periodicamente, a fim de podermos ter condição de prosseguir trabalhando num momento subsequente.

O trabalho foi feito para dignificar o homem, torna-lo semelhante ao Senhor, jamais para destruir o ser humano. Lembremos sempre disto!

 

 

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/4358-licao-9-a-mordomia-do-trabalho-i

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