Jovens – Lição 13 – A Vinda do Senhor: a Nossa Suprema Esperança
Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Saber quem são aqueles que zombam da vinda de Cristo;
Conscientizar sobre a certeza da vinda de Jesus;
Compreender a necessidade de estar preparado para o retorno do Senhor.
Palavras-chave: Esperança, alegria, crescimento e firmeza.
Introdução
Pedro está chegando ao final da sua segunda epístola, e depois de ter advertido os crentes acerca dos falsos mestres e suas heresias, ele tem uma palavra de ânimo e de esperança firmada na certeza da volta de Jesus, pois foi o Senhor quem o prometeu.
Se na sua primeira carta Pedro incentivou que os cristãos tivessem esperança no meio das provações, nesta segunda ele conclama a igreja a manter sempre viva a esperança futura, a despeito daqueles que desdenham da promessa de Cristo. Isso porque, o retorno do Filho de Deus em poder e grande glória é a nossa suprema esperança.
Despertando o ânimo sincero (3.1,2)
Antes de concluir sua segunda carta, Pedro deixa manifesto o propósito de suas duas epístolas: despertar o ânimo sincero dos crentes.
O sentido desta frase é fazer acordar a mente e a compreensão dos seus leitores. Também pode ser entendido como um chamado para que os cristãos pensem naquilo que é importante, colocando a mente para trabalhar i. Afinal, mente desocupada é fábrica de maus pensamentos.
Novamente, o apóstolo está conclamando seus destinatários a se recordarem daquilo que lhes havia sido ensinado pelos santos profetas e pelos apóstolos do Senhor.
Uma vez mais, Pedro mostra a harmonia entre o que fora dito pelos profetas e pelos apóstolos, entre o Antigo e o Novo Testamento.
Logo, “o significado é bastante claro, e ressalta a conexão entre os profetas que pre¬nunciaram a verdade cristã, Cristo que a exemplificou, e os apóstolos que deram dela uma interpretação autorizada” ii.
Note que Pedro emprega o título integral, Senhor e Salvador. Ao combinar os dois títulos, o apóstolo está ensinando que a “soberania inclui a salvação”.
Nas palavras de Michael Green: “Jesus não somente nos salva do passado (1:1-4), e é nosso Salvador no presente (2:20), mas também nos salva para o futuro. Negar a segunda vinda de Jesus é negar Jesus como Salvador” iii.
Escarnecedores da Vinda de Cristo
Os escarnecedores dos últimos dias (3.3)
“Sabendo primeiro isto”, no verso 3, revela que o que Pedro tem a dizer a seguir é de importância fundamental.
“Nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências”.
Escarnecedores são aqueles que zombam, ridicularizam e manifestam desdém por aquilo que deveria ser tratado com reverência e seriedade. Eles são guiados por suas próprias paixões, e fazem cinismo das coisas sérias, posando com ar de superioridade.
Estes zombadores faziam gracejos não somente com a demora na vinda de Jesus, mas principalmente com a promessa em si.
Afinal, para o hedonista pouco importa o mundo futuro, o que vale é o aqui e o agora. Para o materialista, não existe nada no mundo além daquilo que pode ser visto e tocado.
“Para os homens que nutrem uma crença na autodeterminação e perfectibilidade humanas, pois, a própria ideia de que somos dependentes e teremos que prestar contas é uma pílula amarga para engolir” iv.
Pedro afirma que estes escarnecedores surgiriam nos últimos dias. Certamente, Pedro não está se referido a um futuro distante, mas algo que já estava ocorrendo naqueles dias.
Cabe lembrar que “últimos dias” é uma expressão bíblica que alude ao período que começa com a ressurreição de Jesus e se estenderá até a sua volta, quando estabelecerá o seu Reino e julgará toda a humanidade.
Os cristãos primitivos acreditavam piamente que o futuro havia começado, atestado pelo derramamento do Espírito, que também servia de garantia da futura consumação v.
Enquanto Jesus não voltar, diz as Escrituras, muitos rirão da verdade (1 Tm 4.1,2; 2 Tm 3.1-9), num tempo marcado pela multiplicação da iniquidade.
Mas, a Bíblia também alerta para o fim dos escarnecedores: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).
A indignação de Pedro era porque os hereges estavam zombando do ensino cristão da parousia, a promessa da vinda de Cristo.
Eles questionavam acerca do seu cumprimento. Onde está a promessa da sua vinda? A pergunta maldosa queria dar a entender o seguinte: se Cristo não tinha vindo até aquele momento, Ele nunca mais o faria.
Com isso, estavam dizendo que as palavras de Jesus não eram dignas de confiança (Mc 13.26,27; Lc 21.27; Jo 14.6).
Tal postura observou Stanley Horton, é semelhante a dos impenitentes do Antigo Testamento que zombavam das advertências divinas acerca da iminência do julgamento de Judá e Jerusalém: “O Senhor não faz bem nem mal” (Sf 1.12) vi.
É preciso observar que os falsos doutores não se contentavam em viver de maneira ímpia, segundo suas concupiscência, eles também insistiam em zombar do cristianismo.
Ainda hoje, estes escarnecedores riem de Deus, fazem deboche da igreja e menosprezam as coisas sagradas.
Não raro, presenciamos grupos de humor que fazem piadas dos valores cristãos e manifestações públicas que ultrajam símbolos religiosos, muitas vezes sob título de arte.
Não tem muito tempo, uma emissora de TV exibiu uma peça “humorística” chamada “Ônibus da fé”. O esquete mostrava passageiros “evangélicos” em um ponto de ônibus aguardando o transporte.
Enquanto esperavam impacientemente o ônibus, os tais fiéis estereotipados reclamavam, oravam e até mesmo falavam em línguas estranhas.
Passado algum tempo, um dos fiéis corre para avisar: “Ele está vindo!”. Enquanto os demais crentes comemoram, ele interrompe: “Não é o ônibus, é Jesus!”.
A reação do grupo é de tristeza: “Mas esse aí volta o tempo todo, eu quero o 437”, reclama o líder dos “crentes”.
A zombaria que a igreja enfrenta na atualidade era a mesma que Pedro presenciou em seus dias, diferenciando somente na forma.
Diante desse tipo de ataque, somos naturalmente impelidos a revidar de maneira furiosa. Entretanto, não podemos nos esquecer do conselho que vimos na primeira carta, para respondermos aos descrentes com mansidão e temor (1 Pe 3.15).
O argumento falacioso (3.4)
Qual era o argumento ao qual os falsos mestres apelavam para justificar a descrença na volta de Cristo? Eles diziam: “Porque desde que os pais dormiram todas a coisas permanecem como desde o princípio da criação” (v.4).
Na concepção dos falsários da fé, a história humana seguia uma continuidade permanente no tempo, sem espaço para mudanças miraculosas.
O mundo é o mesmo desde que foi criado e, portanto, é impossível acreditarem em acontecimentos extraordinários, muito menos na Segunda Vinda de Cristo.
Os falsos mestres assumem declaradamente uma perspectiva naturalista e materialista do mundo, segundo a qual todas as coisas são julgadas e compreendidas a partir do que os olhos podem ver e as mãos podem tocar.
Apesar de supostamente crerem em Deus, os falsos doutores eram movidos por premissas éticas e filosóficas que simplesmente anulavam a possibilidade da intervenção divina na história e na natureza.
Se a religião é avaliada simplesmente a partir daquilo que o mundo demonstra, ou de acordo com a “comprovação científica”, então não sobra nenhum espaço para Deus.
Naturalismo e cristianismo são visões de mundo conflitantes. Enquanto o naturalismo começa com a suposição fundamental de que as forças da natureza sozinhas são suficientes para explicar tudo o que existe vii, a fé cristã declara que todas as coisas foram criadas por Deus e por Ele todas as coisas são sustentadas.
Embora os escarnecedores afirmassem possuir um certo tipo de espiritualidade, no fundo o deus deles era a própria Natureza.
É nesse sentido que Paulo escreve aos Romanos: “E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.
Pelo que também Deus os entregou às concupiscências do seu coração, à imundícia, para desonrarem o seu corpo entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém!” (Rm 1.23-25).
Movidos pelo alerta de Pedro, devemos tomar todo o cuidado para não cairmos no engano de uma religião naturalista e anti-sobrenaturalista.
Esse cuidado deve ser redobrado na presente época, na qual prolifera um tipo de descrença, não a descrença na religião (e nas igrejas), mas a descrença no Deus das Escrituras: pessoal, soberano e que se interessa pelo ser humano.
Uma descrença prática que, a despeito de se afirmar crer em Deus, não acredita que Ele seja capaz de “manifestar o seu braço”, intervir na história e efetuar milagres em nossos dias.
Eis a razão pela qual notamos um sem número de ateus práticos em nossas igrejas: creem com os lábios, mas descreem com o coração.
Ao menos do ponto de vista da experiência com o sagrado, a descrença religiosa e o ateísmo cristão talvez sejam mais perigosos que o ateísmo secularista, na medida em que, diante do conformismo e do tradicionalismo da religiosidade formal, impossibilitam a plena experiência com Deus e impedem, ao mesmo tempo, o retorno imediato à verdadeira espiritualidade.
Mais cedo ou mais tarde é possível que o ateu reconheça a falibilidade de seus argumentos e de sua cosmovisão como um todo, sentindo a necessidade de voltar-se para Deus.
Enquanto isso, aqueles que vivem nas águas gélidas da religião da descrença, apegados ao formalismo e vinculados a uma divindade distante; um Deus sem poder, dificilmente cairão em si e abandonarão a vida de falsa credulidade que estão acostumados.
Com o passar do tempo a rotina da falsa credulidade retira o discernimento e a capacidade de vislumbrar o toque de Deus nas pequenas coisas da vida.
E assim, o crente incrédulo torna-se incapaz de ver e reconhecer sua própria incredulidade. No fim das contas, a falsa espiritualidade é a pior das cegueiras. É a cegueira daquele que têm olhos, mas não vê (Is 43.8).
Gosto particularmente de olhar para Isaías 53, porque esta pequena porção das Escrituras nos fornece esperança em tempos de ateísmo crescente, religiosidade formal e incredulidade prática.
O seu cumprimento profético de forma cabal em Cristo evidencia a veracidade das Escrituras e acima de tudo a fidelidade do próprio Deus.
Encontramos esperança porque vemos, ainda hoje, a mão de Deus se manifestar em nosso meio. Ao contrário do deísmo, que acredita em uma divindade distante, que criou o universo e o abandonou à própria sorte, por meio de Cristo encontramos um Deus que intervém e se revela diariamente; é o Pai presente (Rm 8.15).
Inegavelmente, o braço do Senhor tem se manifestado no nosso tempo. A palavra para “braço” é ‘zeroa’ e indica o forte braço de Deus intervindo nas questões da humanidade, indicando a sua ação decisiva .
Com efeito, a sua manifestação se dá mediante a sua provisão geral, para crentes e descrentes, mantendo a própria vida e suas condições, ou de modo específico para aqueles que o buscam e são alvos de sua graça salvadora.
O filósofo inglês Roger Scruton escreveu que Deus “tem uma relação íntima até com aqueles que o rejeitam.
Assim como o esposo de um casamento sacramental, Deus é inevitável, ou evitável apenas por meio da criação de um vazio.
Esse vazio se abre à nossa frente quando destruímos o rosto — não apenas o rosto humano, mas o rosto do mundo também.
O vazio sem Deus é aquilo com quem nos defrontamos quando nossos ambientes perdem o rosto” . Desse modo, ainda que os ateus possam não o reconhecer, negando-lhe a existência, ou os falsos profetas não aceitem a sua intervenção, o braço de Deus é quem os sustenta.
A Certeza da Vinda de Jesus
Ignorância deliberada (3.5-7)
Para refutar o argumento dos falsos mestres, Pedro inicia dizendo: “Eles voluntariamente ignoram isto: que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste” (v.5).
Como é possível perceber, antes mesmo de ofertar as razões da esperança da volta de Cristo, o apóstolo questiona o método enganoso utilizado pelos apóstatas, consistente na tática velada de propositadamente “esquecer”, desprezar uma informação ou questão importante.
Os falsos profetas são conhecedores da verdade, mas de forma deliberada agem como se não soubessem. Como bem destacou Warren Wirsbe:
“É espantoso como os chamados “pensadores” (cientistas, teólogos liberais, filósofos) são seletivos e se recusam, inten¬cionalmente, a considerar certos dados” x.
Isso nada mais é do que falta de honestidade intelectual, o que é de se esperar de quem segue o curso do mundo e vive segundo suas paixões.
Sem dúvida, uma das estratégias das seitas e heresias é exatamente selecionar algumas partes das Escrituras e desprezar outras.
Como é frequente, tomam passagens bíblicas isoladas e fora do seu contexto para fazer acreditar suas falsas doutrinas.
O servo de Deus deve estar preparado para refutar este método interpretativo das Escrituras. Antes de atacar o conteúdo herético, é preciso demonstrar que os pressupostos e os métodos utilizados pelos ímpios são insustentáveis.
Assim, para desconstituir o argumento dos falsos doutores, Pedro vai questionar a premissa utilizada por eles – de que este é um mundo estável, imutável. Para tanto, o apóstolo recorre às evidências bíblicas e históricas. São elas: a criação do mundo pelo poder da Palavra de Deus e o julgamento diluviano (v.5,6).
“Pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste”.
Pedro está relembrando aos seus leitores acerca da história da criação contida no livro de Gênesis (1.9,10).
Michael Green pondera que “a ênfase dada neste versículo ao fiat de Deus na criação é importante para Pedro em argumentar contra os falsos mestres que aparentemente sustentavam a auto-suficiência e imutabilidade da ordem natural” xi.
Pelo contrário, diz Green, “o decurso da história é governado pelo Deus que é tanto Criador quanto Juiz do Seu mundo.
As palavras são um protesto contra o antigo conceito epicurista de um concurso de átomos, e seu equivalente moderno, a teoria de uma evolução perpétua” xii.
O mesmo Deus que criou o mundo foi o mesmo que enviou o Dilúvio como julgamento sobre os habitantes da terra, como forma de punição pelo pecado.
Ao comprovar a sua argumentação, infere-se do argumento de Pedro que, “se Deus é capaz de intervir no curso da história, Ele o fez no passado e pode fazê-lo outra vez.
A vinda do Dia do Senhor, prometida pelos profetas e apóstolos e também por Jesus Cristo, é tão certa quanto foi a vinda do di¬lúvio no tempo de Noé e do fogo e enxofre para destruir Sodoma e Gomorra” xiii.
Ao mesmo tempo em que comprovam a possibilidade da volta de Cristo, as palavras de Pedro também deixam entrever que Deus ainda haverá de julgar os homens ímpios, num claro alerta aos escarnecedores.
Ao utilizar as evidências históricas para confrontar os argumentos falaciosos, Pedro está demonstrando a importância desse recurso na apologética cristã, na defesa da nossa esperança e convicções.
Alister McGrath afirmou que “esse recurso à história desfere um poderoso golpe nos argumentos, em geral feitos sobre bases frágeis, de que a religião cristã não passa de uma espécie de satisfação de desejos inconscientes” xiv.
Com sua arguição, Pedro estava fazendo ruir o frágil edifício dos falsos mestres, ao mesmo tempo em que mostrava que aguardar a volta de Cristo não é uma ideia tola como supunham os acusadores da esperança Cristã.
Hoje, devemos fazer o mesmo quando somos confrontados pelas falsas religiões, ateus, agnósticos, céticos e todos aqueles que menosprezam a fé cristã.
É preciso recorrer às evidências históricas, arqueológicas, científicas e racionais que confirmam nossas afirmações.
Afinal, “o cristianismo é uma fé singularmente verificável, porque está baseada em fatos históricos que são claramente reconhecíveis e acessíveis a todos” xv.
No entanto, é preciso enfatizar neste ponto que não basta simplesmente confirmar a realidade histórica, é necessário também oferecer uma interpretação específica desses fatos.
Uma apologética verdadeiramente piedosa oferece, além das evidências, deve dar a elas sentido, de modo tal que impacte a vida daqueles com quem dialogamos. É isso o que Pedro faz na sequência, ao sublinhar o valor da promessa divina.
Deus não retarda a sua promessa (3.8,9)
Por isso, no verso 8, Pedro direciona uma palavra de ânimo e esperança aos amados irmãos. São três verdades bíblicas que todo crente deve guardar em seu coração.
Primeiro, o tempo de Deus é diferente do nosso: um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia, disse Pedro certamente recordando o salmista (Sl 90.4).
Sabiamente, Warren Wirsbe escreveu: “Deus pode realizar em um só dia aquilo que outros levariam um milênio para fazer! Ele espera para operar, mas uma vez que começa seu trabalho, ele o completa!” xvi.
Se o tempo de Deus é diferente do nosso, é bom confiar que o relógio dEle está batendo na medida exata, sem adiantar ou atrasar.
O tempo de Deus é diferente do nosso, afinal Ele está fora do tempo. Nós, simplesmente mortais, nos sujeitamos ao relógio e corremos atrás dos minutos e das horas.
Costumamos pensar, dizia C. S. Lewis, que todo o universo e até o próprio Deus passam do passado para o futuro, como nós fazemos.
Mas, com toda a certeza Deus é atemporal, Ele está fora e além da linha do tempo. “A vida dele não consiste em momentos que são seguidos por outros momentos” xvii, e é por isso que “Deus não precisa se afobar no fluxo de tempo deste universo, assim como um escritor não precisa viver o tempo imaginário de seu romance” xviii.
Segundo, a promessa de Deus não está atrasada como muitos creem (v.9); o Eterno é soberano e trabalha de acordo com o calendário Dele.
Ter fé implica confiar que Deus está conduzindo a curva da história da melhor maneira, não cabendo a nós duvidar ou questionar os seus desígnios.
Pedro não questiona e muito menos especula sobre a data exata do Dia do Senhor. Afinal, Ele se lembrava da palavra de Jesus sobre este assunto: “Porém daquele Dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas unicamente meu Pai” (Mt 24.36).
Existem duas posturas igualmente equivocadas sobre a volta de Jesus. Uma é não acreditar nela, a outra é acreditar e fazer uma previsão sobre o dia “exato” deste acontecimento.
Ambas as posturas desonram o Evangelho, consistindo em heresias de perdição. É por esse motivo que devemos tomar cuidado tanto com a descrença quanto com o espiritualismo escatológico de homens que parecem saber mais sobre as últimas coisas que o profeta Daniel e o apóstolo João, que escreveu o Apocalipse.
Com a veemência que lhe era peculiar, A. W. Tozer escreveu em seu livro Preparando-se para a volta de Jesus:
“Reconheço que as profecias bíblicas são um campo fértil para seitas e farsas religiosas, e isso tem causado a queda de muitos no cristianismo.
Heresias associadas às profecias das Escrituras, principalmente às de Apocalipse, afastam as pessoas da questão principal” xix.
Isso porque, estes “especialistas escatológicos” se perdem em pormenores e gastam o tempo em trivialidades apocalípticas.
Embora a Bíblia não nos informe a data exata da volta de Jesus, não devemos nos preocupar com isso. Como disse Tozer: “Não sei como será o amanhã. Ninguém sabe, nem mesmo os anjos sabem; somente o Pai que está no Céu.
Portanto, não fiquemos desanimados porque nós, pessoas comuns, somos tão incapazes de prever o futuro quanto os grandes líderes mundiais” xx.
Não precisamos saber o dia exato da Segunda Vinda, pois a intenção é estarmos sempre alertas, prontos para o grande dia.
Terceiro, o Senhor é longânimo, e está dando oportunidade para que os pecadores se arrependam.
Certamente, a afirmação de Pedro (não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se (v.9) de modo algum está chancelando o universalismo, a ideia segundo a qual todos serão salvos ao final. Até porque, o verso é claro ao estabelecer a condição para a salvação: o arrependimento.
A Bíblia diz com todas as letras que Deus deseja que todos os homens sejam salvos (1 Tm 2.4). Vale ressaltar que oportunidade universal da salvação está longe de ser uma reivindicação de salvação universal.
Olson explica que “a morte de Cristo na cruz concedeu possibilidade de salvação a todos, mas ela é, de fato, concretizada quando os humanos a aceitam por intermédio do arrependimento e fé” xxi. O propósito da morte de Cristo na cruz foi proporcionar a salvação a toda a humanidade, mas sob a condição da fé em Cristo (Jo 3.16; 1 Tm 4.10).
No que tange à extensão, Cristo entregou-se na cruz por toda a raça humana, e não apenas a um grupo seleto de eleitos (1 Jo 2.2).
Na verdade, o fato da graça e misericórdia de Deus possibilitar mais tempo para as pessoas reconhecerem Cristo como Senhor e Salvador, aponta para a necessidade da pregação do evangelho pela igreja.
Segundo Simon Kistemaker, “Não é o pecado humano, mas a longanimidade divina, que não pode ser compelida, que determina a demora. É o Deus soberano que graciosamente concede mais tempo para o arrependimento” xxii.
Preparando-se para a Vinda do Senhor
O alerta (3.10-13)
Pedro diz no verso 10: “Mas o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há se queimarão”.
Pedro está chamando atenção para a forma repentina que será a vinda de Jesus. Pedro está se lembrando das palavras do Senhor no Sermão do Monte quando promete voltar como um ladrão de noite (Mt 24.43).
Diz Michael Green: “A parusia será tão repentina, tão inesperada, tão desastrosa para os despreparados, como um arrombamento noturno” xxiii.
Podemos não saber o dia, a hora ou o ano da volta de Cristo, mas uma coisa temos a completa certeza. O Dia do Senhor virá! Esta convicção é nossa suprema e bem-aventurada esperança.
Embora não saibamos ao certo os detalhes da afirmação de Pedro sobre este acontecimento glorioso, temos a certeza de que:
Os crentes esperam ansiosamente o fim da terra somente porque isto significa o cumprimento de outra das promessas de Deus – sua criação de novos céus e nova terra.
O objetivo de Deus para as pessoas não é a destruição, mas a recriação; não é a aniquilação, mas a renovação.
Deus irá purificar os céus e a terra com o fogo; a seguir. Ele irá criá-los novamente. Todos os crentes podem alegremente esperar pela restauração do bom mundo de Deus (Rm 8.21).
Em uma bela descrição dos novos céus e da nova terra, os crentes têm a segurança de que será um mundo em que habita a justiça, porque o próprio Deus viverá entre o seu povo (veja Ap 21.1-4,22-27) xxiv.
Aguardar a volta de Cristo não é uma atitude de mera passividade. Tal expectativa requer uma postura vigilante e santa (ver Rm 13.11-14; 2 Co 5.1-11; Fp 3.17-21; 1 Ts 5.1-11; Tt 2.11-15; 1 Jo 2.28,29).
Enquanto ansiamos os novos céus e a nova terra, somos instados a viver neste mundo imaculados e irrepreensíveis (vv.13,14). Isso porque, “o imperativo moral segue o indicativo escatológico” xxv. Em outras palavras, o modo como encaramos o porvir molda a nossa forma de viver o presente.
Fica evidente o contraste entre os crentes que aguardam a volta de Jesus, e os ímpios que desdenham do seu retorno glorioso.
Enquanto os cristãos são aconselhados a viverem de maneira santa e piedosa, os ímpios são ensinados a procederem de modo imoral.
Isso demonstra que as crenças de uma pessoa acerca das coisas futuras definem o modo como ela vive nesta terra. Aqueles que não acreditam em julgamento e vida futura vivem com base no lema “aproveite o momento”.
Enquanto isso, aqueles que acreditam que devem prestar contas ao Criador, o qual julgará todo ser humano, vivem a vida presente em santidade e temor a Deus; é uma vida feliz segundo o propósito de Deus.
Pedro diz que devemos aguardar e apressarmo-nos para a vinda do Dia de Deus (v.12). Ou seja, temos expectativa, mas também temos pressa.
Esperamos, mas também anelamos. Essas palavras correspondem à antiga oração que a igreja vem fa¬zendo desde o primeiro século a promessa de Cristo: Maranata, “Ora, vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20).
Como disse A. W. Tozer: “O propósito das profecias bíblicas não é alarmar-nos, e sim nos alertar para estarmos prontos para o segundo advento de Jesus – importante verdade bíblica que consola e encoraja os cristãos.
Essa é a origem da expressão bem-aventurada esperança (Tt 2.13). Em um mundo repleto de incertezas, o consolo dos cristãos é a bem-aventurada esperança de que o Filho de Deus em breve voltará” xxvi.
Esta esperança é suprema porque é o cerne da fé e da mensagem cristã. Embora vivemos esperançosos com aquilo que Deus faz conosco hoje, mais ainda esperamos no que Ele tem nos reservado para o futuro.
A nossa responsabilidade (3.14)
Seguindo seu raciocínio, Pedro conclama sua audiência a aguardar o cumprimento profético, ao mesmo tempo em que devem ser achados imaculados e irrepreensíveis em paz (v.14).
Diferentemente dos falsos mestres que eram “nódoas e máculas” (2.13), os cristãos devem seguir o exemplo do Senhor Jesus que era “sem defeito e sem mácula”.
Uma vez mais Pedro deixa transparecer em sua carta a responsabilidade do cristão em relação a sua chamada e vida espiritual.
A respeito dessa passagem, Roger Stronstad escreve: “Existe uma óbvia impressão de responsabilidade humana fluindo através das cartas de Pedro.
Embora Deus seja aquEle que faz preciosas promessas, e embora recebamos seu divino poder e chamada, a responsabilidade é acrescentada ao elemento divino.
Uma vida moral e ética não se adquire instantaneamente após a conversão, antes, é um modo de vida consistente e cotidiano alcançado gradualmente” xxvii.
Mas não somente isso, enquanto aguardamos, vivemos em paz. Mesmo vivendo em um mundo agitado e violento, a nossa suprema esperança guarda os nossos corações com uma paz que excede todo o entendimento.
Saudação final (3.15-18)
Pedro conclui sua segunda carta enfatizando longanimidade de Cristo, e a importância de se compreender as palavras do apóstolo Paulo, apesar de alguns pontos difíceis.
Admoesta os crentes a se precaverem contra o engano dos homens abomináveis. Para tanto, diz para crescerem na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Estes são os conselhos que sintetizam as duas cartas do apóstolo. Para estarmos firmes na verdade é preciso crescer na graça e no conhecimento, isto é, precisamos nos desenvolver espiritual e intelectualmente.
“O conhecimento de Cristo e o conhecimento através de Cristo, se andarem juntos, são a proteção contra a heresia e a apostasia e também são o meio para o crescimento na graça. Em resumo, Pedro exorta os crentes a se tomarem mais como o Mestre, demonstrando as características de Cristo em suas vidas” xxviii.
Mas, sobretudo, é preciso que seja dada glória e honra ao Senhor Jesus, hoje e eternamente. Amém!
Notas e referências do Capítulo 13
Que Deus o(a) abençoe.
Telma Bueno
Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens
i KISTEMAKER, 2006, p. 431.
ii GREEN, 1983, p. 119.
iii GREEN, 1983, p. 120.
iv GREEN, 1983, p. 122.
v FEE, Gordon. Paulo: O Espírito e o povo de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 11.
vi HORTON, 2012, p. 102.
vii COLSON, Charles; PEARCEY, Nancy. E agora como viveremos. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p. 76.
viii PRICE, Ross E. e outros. Comentário Bíblico Beacon – Vol. 4 Isaías a Daniel. Rio de Janeiro: CPAD, p. 162.
ix SCRUTON, Roger. O rosto de Deus. São Paulo: É Realizações, 2015, p. 17–18.
x WIRSBE, 2007, p. 598.
xi GREEN, 1983, p. 125.
xii Idem.
xiii WIRSBE, 2007, p. 599.
xiv MCGRATH, Alister. Apologética pura e simples. São Paulo: Vida Nova, 2013, p. 59.
xv GEISLER; MEISTER, 2013, p. 33.
xvi WIRSBE, 2007, p. 599.
xvii LEWIS, 2005, p. 223.
xviii Idem.
xix TOZER, A. W. Preparando-se para a volta de Jesus. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 2018, p. 14.
xx TOZER, 2018, p. 17.
xxi OLSON, 2013, p. 289.
xxii KISTEMAKER, 2006, p. 447.
xxiii GREEN, 1983, p. 131.
xxiv Comentário do Novo Testamento de Aplicação Pessoal, Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 758.
xxv GREEN, 1983, p. 133.
xxvi TOZER, 2018, p. 14.
xxvii ARRINGTON; STRONSTAD, 2015, p. 3.
xxviii KISTEMAKER, 2006, p. 466.
Fonte: http://www.escoladominical.com.br/home/licoes-biblicas/subsidios/jovens/1706-li%C3%A7%C3%A3o-13-a-vinda-do-senhor-a-nossa-suprema-esperan%C3%A7a.html
Video: https://youtu.be/DDOdsfLsGAY