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LIÇÃO Nº 5 – A INSTITUIÇÃO DA MONARQUIA EM ISRAEL  

  

Com a monarquia, Deus acolhe um desejo do povo de mentalidade gentílica para continuar a cumprir o Seu plano para a humanidade.  

INTRODUÇÃO

 – Na sequência do estudo dos livros de Samuel, analisaremos a instituição da monarquia em Israel.  

– Com a monarquia, Deus acolhe um desejo do povo de mentalidade gentílica para continuar a cumprir o Seu plano para a humanidade.  

I – O GOVERNO DE SAMUEL  

– Deixamos a lição passada o povo de Israel recebendo de volta a arca da aliança, mas imerso numa mentalidade gentílica que era consequência de mais de três séculos de um “círculo vicioso” em que não havia o ensino da Palavra de Deus e a nefasta influência dos povos gentios sobre os israelitas, que os levava à idolatria.  

– Como se isto fosse pouco, os dois filhos de Eli haviam comprometido a liderança sacerdotal, a ponto de Deus ter desamparado o tabernáculo em Siló e o sacerdócio não mais ser exercido em sua plenitude, tendo a arca permanecido em Quiriate-Jearim e alguns utensílios do tabernáculo sido levados para Nobe.  

– Neste estado lamentável de coisas, Deus Se fazia presente graças ao profeta Samuel, a quem o Senhor Se manifestava e cuja palavra era a verdadeira demonstração da vontade do Senhor. Todos os israelitas sabiam que Samuel era profeta e que o que ele dizia fatalmente acontecia.  

– Samuel, com a morte dos filhos de Eli e do próprio Eli, bem como com a irrelevância do novo sumo sacerdote, já que o tabernáculo se desfizera, passou a ser naturalmente a referência espiritual do povo de Israel.  

– Politicamente, o país estava arrasado. Os filisteus haviam efetuado um grande estrago entre os israelitas e, assim, além de serem tecnologicamente mais avançados, pois tinham o domínio da metalurgia, o que os israelitas não tinham, ainda haviam dizimado boa parte dos homens de guerra de Israel.  

– Samuel manteve-fiel ao Senhor, manifestando a Palavra de Deus para o povo e, também, detectando quais os fatores que tinham sido os responsáveis por tamanha derrocada espiritual.

– Entendemos que é neste tempo, que o texto sagrado diz que foram de 20 anos, que Samuel teve a inspiração do Espírito Santo para escrever o livro de Juízes, quando, então, detectou os dois principais motivos pelos quais o povo chegara a esta situação:

a falta de ensino da Palavra de Deus nos lares e a

má influência dos povos gentios que conviviam com os israelitas.

– Samuel, então, cria a “escola de profetas”, local onde reunia jovens que se dedicavam ao estudo da Palavra de Deus, visando, assim, suprir a deficiência da educação doutrinária doméstica e criar um grupo de pessoas que servisse a Deus e impedisse a apostasia generalizada.

– Como se isto fosse pouco, Samuel passou a julgar a Israel, já que, naturalmente, era a pessoa mais habilitada a fazê-lo, vez que tinha a respeitabilidade e confiança do povo, sendo também sacerdote.

Com o final do tabernáculo em Siló, Samuel foi morar em Ramá, terra onde sua família estava estabelecida, embora exercesse a judicatura em, Mispa ou Mispá, cidade pertencente à tribo de Benjamim.  

– Passados 20 anos, Samuel, certamente orientado pelo Senhor, chamou o povo de Israel e os convidou ao arrependimento, à conversão, conclamando a que deixassem os deuses estranhos e preparasse o coração ao Senhor e só a Ele servissem que, então, o Senhor os livraria do jugo dos filisteus (I Sm.7:4).  

– Samuel, porém, não ficou apenas na exortação verbal. Também chamou os israelitas a que se reunissem com ele em Mispa, que ele oraria ao Senhor intercedendo pelo povo.

A intercessão pelo povo era uma das características marcantes de Samuel, que, deste modo, estava bem longe do “perfil da cadeira” que caracterizara o ministério de Eli.  

– Como sacerdotes de Jesus Cristo (Ap.1:6; 5:10), temos o dever de orar sempre e nunca desfalecer (Lc.18:1), em especial, intercedendo por todos os homens, particularmente pelos que estão em eminência (I Tm.2:1,2). Muitas das mazelas que sofremos poderiam ter sido evitadas se a Igreja realmente exercesse este seu múnus intercessório.

– O povo, então, reuniu-se em Mispa e se arrependeram de seus pecados, tendo tirado água, derramado perante o Senhor e jejuado todo aquele dia. Samuel mostrava, assim, que, ao contrário da mentalidade gentílica então predominante, Deus não estava a serviço do povo, mas, sim, o povo é que deveria ser a serviço de Deus e submisso à Sua vontade.

– Samuel ensina claramente o povo de que a vitória seria resultado de uma vida de comunhão com o Senhor.

Quantos hoje em dia precisam aprender esta lição! Acham que o relacionamento com Deus dispensa a santidade e a comunhão, que tudo é uma questão de “toma-lá-dá-cá”, algo que é característico dos gentios.  

– Ao notarem que os israelitas haviam se reunido em Mispa, os filisteus resolveram combater, pois notaram a intenção de Israel de se livrar de seu domínio.

É sempre assim, quando nos aproximamos de Deus, quando damos um passo em direção ao Senhor, o inimigo se levanta, mas não devemos temer.

– Os israelitas, sabendo desta movimentação dos filisteus, foram até Samuel e pediram que ele clamasse a Deus em favor deles e foi o que Samuel fez, tendo o Senhor lhe dado ouvidos, tanto que, quando os filisteus vieram para a batalha, o Senhor trovejou com grade trovoada e os aterrou de tal modo que foram derrotados diante dos filhos de Israel, tendo, então, havido uma retumbante vitória, tanto que Samuel colocou um pedra e a pôs entre Mispa e Sem, chamando-a de Ebenézer, que significa “Até aqui nos ajudou o Senhor”.  

– Como resultado desta vitória militar, os filisteus foram desalojados dos termos de Israel, ou seja, deixaram de ocupar território israelita, nunca mais conseguindo retomar cidades dos israelitas. Era dado mais um passo para o fim da opressão dos filisteus sobre Israel (I Sm.7:13,14).  

– Samuel tinha empatia com o povo, tanto que não ficava apenas em Mispa. De ano em ano, rodeava a Betel, e a Gilgal, e a Mispa, julgando os israelitas em todos aqueles lugares (I Sm.7:16), estabelecendo uma “escola de profetas” em Ramá (I Sm.19:20).

Era alguém que era acessível ao povo, tanto que os mais simples dos israelitas sabiam ter condições de consultá-lo (I Sm.9:6).

– Samuel exercia a verdadeira liderança no meio do povo de Deus, que é a liderança servidora, aquela que sabe que a condição de ser líder não implica em ser servido, mas, sim, em servir.

É o tipo de liderança que deve existir no povo do Senhor, como nos ensino Cristo Jesus, Ele próprio o primeiro a viver tal padrão (Mt.20:25-28; Mc.10:42-45).

– Além da formação educacional do povo na Palavra de Deus, por meio das “escolas de profetas”, Samuel observou, também, como se vê no livro dos Juízes, que um problema existente era o hiato entre um juiz e outro, ou seja,

o intervalo entre a morte de um juiz e o surgimento de um outro juiz, algo que não era automático e que permitia que o povo se desviasse dos caminhos do Senhor, mesmo depois de ter se arrependido sob a liderança de um juiz (Jz.2:16-19).  

– Ciente desta situação, e já que o outro fator que levava ao povo ao “círculo vicioso” era a presença dos povos gentios entre os israelitas, elemento que não podia ser mudado por expressa determinação divina (Jz.2:1-5), Samuel engendrou um plano a fim de que também não se desse tal circunstância que facilitasse a corrupção espiritual do povo.  

– Assim, assim que envelheceu, Samuel constituiu a seus dois filhos, Joel (chamado de Vasni em I Cr.6:28) e Abias, como juízes sobre Israel, determinando que exercem sua judicatura em Berseba (I Sm.8:1,2).

 – Entretanto, esta providência de Samuel mostrou-se equivocada e podemos dizer que foi o seu grande erro.

O próprio Samuel, ao escrever o livro de Juízes, disse que era o Senhor quem levantava o juiz em meio à corrupção do povo (Jz.2:16,18). Ele próprio havia sido levantado por Deus nesta função, que, ao contrário do sacerdócio, não tinha qualquer determinação de hereditariedade.

– Portanto, ao escolher seus filhos para serem juízes, Samuel arrogou para si uma função que não era sua, mas sim do próprio Deus, não tendo tido a mesma prudência que tivera Gideão que, conclamado para o povo para que passasse a reinar sobre Israel e iniciasse uma dinastia, disse que quem deveria reinar sobre o povo era o próprio Deus (Jz.8:22,23).

– Samuel, assim, ainda que de outro modo, repete o erro de Eli, honrando mais a seus filhos que a Deus. Tornando hereditária uma função que não no era.

O resultado disto foi catastrófico: os filhos de Samuel não tinham a integridade do pai, corromperam-se e julgavam por suborno, o que trouxe revolta ao povo de Israel (I Sm.8:3,4).

OBS: Vejamos como Flávio Josefo descreveu o procedimento dos filhos de Samuel:

“…Estes [os filhos de Samuel, observação nossa], em vez de seguir as pegadas paternas, tomaram caminho totalmente oposto.

Recebiam presentes, vendiam vergonhosamente a justiça, calcam aos pés as leis mais santas, chafurdavam-se em toda a sorte de impurezas, sem temor de ofender a Deus nem de desagradar ao pai, que desejavam com tanto ardor que eles cumprissem o dever.…” (Antiguidades Judaicas, VI, cap.3, n. 221. In: JOSEFO, Flávio. História dos hebreus, v.1, p.127).  

– A situação chegou a tal ponto que os anciãos de Israel resolveram pedir a Samuel que lhes dessem um rei, para que fossem como as demais nações (I Sm.8:4).

A mentalidade gentílica não tinha sido desfeita, os israelitas ainda queriam se parecer com os outros povos e, ante a corrupção gerada pelos filhos de Samuel, resolveram pedir a instituição da monarquia.  

– Querendo fazer de Israel uma nação distinta, diferenciada, conforme a vontade de Deus, Samuel acabara por aguçar ainda mais o desejo dos israelitas de serem ainda mais parecidos com os gentios, tudo porque esquecera de que quem deveria reinar e dominar sobre o povo era o Senhor e não o juiz, profeta e sacerdote que Deus havia constituído sobre o povo.

 – Costumamos denominar de “síndrome de Samuel” a esta circunstância em que as lideranças eclesiásticas, esquecendo-se de sua origem, arrogam o direito de querer determinar o critério de sua sucessão, implantando a hereditariedade onde ela simplesmente não foi posta por Deus. Trata-se de um mal que tem assolado muitíssimo as igrejas locais em nossos dias…

 – Samuel não gostou do pedido do povo, mas foi orar (I Sm.8:6), a fim de que pudesse tomar uma decisão, o que, aliás, deveria ter feito antes de constituir seus filhos como juízes.

Não há como tomarmos decisões no exercício da liderança no povo de Deus sem a devida orientação do Senhor, sem que antes O busquemos em oração.

– Ao buscar a Deus em oração, Samuel é posto em seu devido lugar. Não era a ele, Samuel, que o povo de Israel estava a rejeitar, mas, sim, ao próprio Deus, que era quem reinava sobre os israelitas desde a libertação do povo no Egito (I Sm.8:7).

 – O Senhor diz a Samuel que deveria atender ao povo, mas, que antes de mais nada, deveria dar a Israel a “lei do reino”, ou seja, os israelitas passariam a ter um rei, mas o governo continuaria a ser de Deus, o controle seria divino, Israel não deixaria de ser “a propriedade peculiar de Deus dentre todos os povos”.

– Israel queria ser como as demais nações, mas não seria. Ninguém pode frustrar os planos divinos (Jó 42:2 ARA).

O povo de Deus pode até querer parecer com os demais povos, mas jamais poderá ser igual a eles, pois pertence ao Senhor. 

 – Vemos que, milênios antes das chamadas “revoluções liberais”, Deus já instituía um poder político limitado, que não pode se sobrepor à soberania divina.

 – O rei teria poder para tomar o patrimônio dos seus súditos, de requisitar o trabalho de alguns, de criar toda uma máquina administrativa, que, naturalmente, custaria dinheiro e exigiria a contribuição da população, o que,

certamente, traria necessidades para o povo, mas que, quando eles clamassem a Deus, inclusive por eventuais abusos do rei, o Senhor não os ouviria (I Sm.8:10-18).

 – Temos nesta passagem bíblica uma boa diferença entre o reino de Deus e o reino dos homens.

No governo humano, o que vale é a segurança, a manutenção dos meios de controle social, não há maior preocupação com justiça, bem-estar, sendo o bem comum apenas um ideal, um objetivo, que, no mais das vezes, não será alcançado, até porque os homens governantes, como homens que são, são imperfeitos, falhos e podem distorcer o bem comum passando a buscar o bem próprio.

No reino de Deus, ao revés, nada disto há, havendo a fidelidade divina, que trará a justiça e o bem-estar, que atingirá o bem comum, logicamente dependendo da obediência humana. E só teremos um governo perfeito quando o próprio Senhor Jesus exercer o governo durante Seu reino milenial.  

– No entanto, mesmo sabendo disso, os israelitas não quiseram saber, queriam um rei, mesmo que viessem a sofrer por causa disso.

Ante a insistência do povo, Samuel, então, mandou que todos fossem para as suas casas, pois o Senhor lhes haveria de dar um rei (i Sm.8:19-22).

 II – A ESCOLHA DE SAUL

 – Devemos, logo de início, observar que a escolha de Saul, ao contrário do que costuma se dizer, não foi uma escolha do povo, mas, sim, uma escolha divina. O povo de Israel pediu que Samuel, que era o profeta de Deus, lhes desse um rei.

Não escolheram um rei para si, como, no futuro, haveriam de fazer as dez tribos no reino do norte, em mais um passo em direção ao desvio espiritual, quando escolheram Onri (I Rs.16:21,22) e, após a dinastia de Jeú, quando passaram sistematicamente a escolher reis para si até a destruição do reino do norte (Os.8:4).  

– O pedido de um rei por parte dos israelitas não surpreendeu ao Senhor, que, na própria lei, já havia deixado consignado esta hipótese e, inclusive, já estabelecido quais seriam os parâmetros para a instituição de uma monarquia (Dt.17:14-20).

Deus é onisciente e já sabia que o povo haveria de pedir um rei e usaria este pedido que, à primeira vista, representaria um desvirtuamento do povo, para, através dele, dar continuidade ao Seu plano salvífico.  

– Entendemos que o adversário de nossas almas deve ter exultado ao ver o pedido do povo em ter um rei “…para que ele nos julgue, como o têm todas as nações…” (I Sm.8:4),

pois se estaria aí em mais um passo para fazer com que Israel perdesse a sua identidade nacional e, deste modo, se malograsse o plano da salvação da humanidade, que dependia de uma nação diferente para nela nascer o Salvador.

Entretanto, mal sabia ele que a monarquia seria mais um passo para que se tivesse o Salvador, pois tal Salvador seria, precisamente, da linhagem real que surgiria com esta monarquia.

– O povo, porém, não havia perdido totalmente o temor a Deus, como fruto até do avivamento que havia sido produzido pelo próprio Samuel.

Queria um rei mas sabia que este rei tinha de vir da parte do Senhor, pois eram eles o povo de Deus. Por isso, mesmo insistindo em ter um rei, deixaram que ele fosse escolhido pelo Senhor, que Samuel, aquele cuja palavra jamais caía por terra (I Sm.3:19), dissesse quem seria o rei.

 – O Senhor, muitas vezes, é irônico, como diz o apóstolo, “escolhe as coisas vis deste mundo e as desprezíveis e as que não são para aniquilar as que são, para que nenhuma carne se glorie perante Ele” (I Co.1:28,29).

 – Assim é que a narrativa sagrada, logo depois de o povo ser despedido por Samuel para que ele começasse a procurar quem seria o rei, passa a se ocupar da menor família da menor tribo de Israel.

Sim, o Senhor vai buscar o rei onde o homem jamais ousaria de fazê-lo: entre o menor dos menores.  

– A tribo de Benjamim era a menor das tribos de Israel, pois fora quase dizimada numa guerra civil logo nos primeiros anos do período dos juízes, quando Fineias, neto de Arão, era o sumo sacerdote (Jz.19-21).

Assim, sua população era pequena, já que, para que a tribo não desaparecesse, tenha sido preciso, inclusive, que se arrumassem mulheres para alguns dos seiscentos homens sobreviventes.

 – Saul era filho de Quis, que era o chefe da menor família de Benjamim. Ele estava acompanhado de um servo, procurando as jumentas de seu pai que haviam se extraviado.

Notemos, de pronto, que Saul era criado numa família que tinha jumentas para cuidar, o que muito já nos revela a respeito do comportamento que teria este rei:

ele era acostumado a lidar com animais teimosos, de difícil trato, a quem se deveria recorrer, não raras vezes, à força para ser atendido. Aliás, a força era a marca de sua família (I Sm.9:1).

 

– Saul andou quilômetros e quilômetros atrás das jumentas de seu pai, sem sucesso e, verificada esta impossibilidade, decidiu retornar para sua casa, mas o seu servo, sabendo que estavam próximos a Ramá, cidade onde morava Samuel, instou com Saul para que fossem consultar ao Senhor para saber onde estavam as jumentas.  

– O que desde já percebemos é que Saul não era uma pessoa que costumasse consultar ao Senhor. Seu raciocínio fora puramente humano: já havia caminhado muito sem achar as jumentas e, diante disto, surgiria, da parte de seu pai, uma grande preocupação quanto ao seu paradeiro, de modo que era melhor voltar.

Era alguém prático, que pensava nas consequências de suas atitudes, o que é bom para a liderança, mas alguém que não tinha nenhuma dimensão espiritual em seu pensamento.

– Seu servo, que, naturalmente, era pessoa de quem se devia esperar menos do que Saul, entretanto, sabendo que estava em Ramá, a cidade do profeta de Deus, logo vislumbrou a possibilidade de se buscar a Deus e, assim, ter a solução para o problema. Como temos agido em nossas vidas: como Saul ou como seu servo? Pensemos nisto!  

– Saul nem ao menos tinha algo para oferecer ao profeta, pois era costume daquele tempo dar uma oferta ao profeta quando iam consultá-lo, mas até nisto o servo de Saul tinha se preparado, de forma que resolveu, então, Saul, acolher a sugestão do seu servo e foram a Ramá para consultar o profeta.

 – Neste episódio, é bom fazermos algumas observações, para evitar interpretações distorcidas que possam ocorrer.

A primeira observação é de que se estava na dispensação da lei, onde o Espírito Santo não habitava nas pessoas, mas visitava algumas, precisamente as que eram escolhidas por Deus para serem profetas.

Portanto, era uma necessidade consultar o homem de Deus para se ter uma palavra de Deus. Depois da morte e ressurreição de Cristo, entretanto, tal costume NÃO pode ser praticado, pois todos os salvos têm o Espírito Santo (Rm.8:9). 

 – Deus hoje pode usar pessoas que sejam profetas ou que tenham o dom espiritual de profecia para falar com os Seus servos (At.11:27,28; 13:1; 15:32; Ef.4:11; I Co.14:1),

mas isto parte do Senhor, ou seja, não devemos ir atrás de profetas ou pessoas que tenham o dom espiritual de profecia para termos mensagens de Deus, conquanto o Senhor possa usar tais pessoas para nos transmitir mensagens. Consultar profetas é algo extremamente reprovável, pois há um verdadeiro desprezo do Espírito Santo que habita em nós.

 – A segunda observação é que o costume de ofertar ao profeta era algo próprio daquele tempo, algo que não era instituído pela lei e que, de certa forma, representava uma influência gentílica, pois se costumava pagar pelas consultas aos oráculos dos deuses gentílicos.

Também NÃO é algo que se deva adotar em nossos dias. Por primeiro, já se viu que não se deve consultar pessoa alguma, de modo que, se não há consulta, também não há oferta para consulta.

– Por segundo, em nossa dispensação, é claríssimo o ensinamento de Jesus no sentido de que Seus servos devem trabalhar pelo reino de Deus SEM interesses financeiros, pois não se deve servir a dois senhores, quem serve a Deus não serve às riquezas (Mt.6:24),

tendo sido dito aos discípulos, por ocasião das comissões recebidas para sair em evangelização, que não possuíssem ouro ou cobre em seus cintos (Mt.10:9), devem dar de graça o que receberam de graça (Mt.10:8).  

– Este princípio, aliás, é explicitado num dos mais antigos documentos cristãos que se tem notícia, a chamada “Didaqué”, onde assim está registrado:

“…Mas com respeito aos apóstolos e profetas, aja de acordo com o decreto do Evangelho.

Todo apóstolo que vier a ti seja recebido como o Senhor. Mas que ele não permaneça mais de um dia; ou dois dias, se houver uma necessidade. Mas se ele permanecer três dias, é um falso profeta.

E quando o apóstolo vai embora, não o deixe levar nada mais que pão até que ele se hospede. Se ele pedir dinheiro, ele é um falso profeta…” (Didaqué, ou o Ensino dos Doze Apóstolos, cap.11. In: Apócrifos e pseudoepígrafos da Bíblia. Trad. Cláudio J.A. Rodrigues. São Paulo: Novo Século, 2004, p.769).  

– Pois bem, de posse do necessário para consultar a Deus por meio do “vidente”, pois era assim que os profetas eram chamados naquele tempo (I Sm.9:9), Saul foi até Samuel.

 – Um dia antes, Deus já havia revelado a Samuel que Saul lhe viria procurar e que era este a quem o Senhor havia escolhido para reinar sobre Israel, o que é a prova indelével de que Saul foi escolhido por Deus e não pelo povo, como se costuma equivocadamente dizer (I Sm.9:15,16),

e que teria a missão de livrar o povo de Israel da mão dos filisteus, algo que começara a ocorrer com Sansão (Jz.13:5).

Observem os amados irmãos que o plano de Deus iniciado em Sansão continua a se desenrolar normalmente, a despeito de toda a infidelidade dos líderes e do povo durante todo esse meio tempo. Nada frustra os planos de Deus! Aleluia!  

– Samuel havia acabado de retornar para Ramá e faria um sacrifício no alto da cidade, pois todo o povo não se alimentaria enquanto ele não fizesse o sacrifício.

Saul aprendia ali que deveria antes aguardar que se fizesse o sacrifício para que depois se tomasse qualquer atitude, lição que aprendeu, ainda que não completamente, já que quem deveria sacrificar era Samuel, devendo o povo aguardar a ação do sacerdote (I Sm.9:11-13).

 – Este diálogo de Saul com as moças revela-nos como Deus já começa a instruir aquele que havia escolhido para reinar sobre Israel. Saul aprendia, primeiro, que se devia consultar a Deus para resolver os problemas, lição dada pelo seu servo, que se devia estar devidamente preparado para se consultar a Deus, outra lição aprendida com o seu servo.

Agora, com as moças, aprendia que se devia consagrar a Deus e esperar que o sacrifício fosse feito para só então passar a tomar decisões, passar a ter a vida cotidiana, ou seja, a dar-se prioridade ao Senhor em nossa vida. A bênção deveria vir antes da própria refeição (I Sm.9:13).

 – Os israelitas até hoje têm o costume de, antes de se alimentar, recitar a bênção, pedir a bênção divina e abençoar a comida, para, então, ter a refeição propriamente dita. Veem a refeição como um ato de adoração ao Senhor.

Cristo acolheu integralmente este costume, tendo assim agido inclusive quando já estava ressurreto, como se vê na casa dos discípulos de Emaús (Lc.24:30).

É muito triste vermos como tal costume, que deve ser seguido já que foi praticado por Jesus depois de Sua morte e ressurreição, tem perdido lugar entre os que cristãos se dizem ser.

 – Quando Samuel viu a Saul, o Senhor confirmou a ele que se tratava da pessoa que havia escolhido para ser o rei de Israel (I Sm.9:17).

Saul não conhecia a Samuel e foi perguntar a ele onde era a casa do vidente, tendo, então, Samuel se identificado e imediatamente convidado Saul a que subisse com ele ao alto,

sendo convidado a que participasse com ele da refeição e que seria despedido só no dia seguinte, já dizendo que as jumentas de seu pai haviam sido encontradas, bem como já dizendo a Saul que ele era o desejado de toda a nação israelita (I Sm.9:19,20).

 – Saul, como não era para menos, surpreendeu-se com esta declaração, afirmando ser da menor das famílias de Benjamin que, por sua vez, era a menor das tribos, mas Samuel não estendeu o assunto, levando-o e a seu servo para o alto, onde havia trinta convidados, dando-lhe lugar de destaque entre eles, bem como lhe entregando uma porção especialmente preparada (I Sm.9:22-24).

 – Este gesto de Samuel revela a fé que tinha este homem de Deus. Sendo avisado pelo Senhor de que Saul era o escolhido para ser o rei, já o tratou como tal, e seu gesto não ficou despercebido daqueles trinta convidados, que eram a “nata” de sua “escola de profetas”, que eram homens dedicados a Deus. Saul aprendia mais uma lição: deveria ter comunhão com os que servem a Deus, se quisesse ser bem sucedido em sua liderança.

 – Notamos que Deus, ao escolher alguém, não o deixa ignorante a respeito de como deve se portar na função que foi escolhido.

Ninguém poderá dar desculpas ao Senhor, no dia do juízo, com respeito ao mau exercício da posição que o Senhor lhe confiou. Lembremos disto, amados irmãos!

 – Logo de madrugada, Samuel faz Saul se levantar e o levou até o eirado. Saul aprendia aqui mais uma lição:

o líder não pode ser alguém preguiçoso ou desleixado, tem de estar pronto para exercer a sua função. O líder deve estar sempre pronto para servir. Saul teve de levantar de madrugada.

– Tendo Saul se levantado, Samuel mandou que ele despedisse o moço e que ficasse sozinho com o homem de Deus para que ouvisse a Palavra do Senhor. Saul aprendia aqui outra lição: há coisas no exercício da liderança que são exclusivas do líder. Nem tudo podem os outros saber, notadamente aquelas que dizem respeito à nossa intimidade com Deus, uma dimensão que deve estar sempre presente em nossas vidas (Ap.2:17).

 – Depois que o moço foi adiante, Samuel tomou um vaso de azeite e derramou sobre a cabeça de Saul, ungindo-o como rei de Israel. Surgia, assim, o terceiro ofício instituído por Deus: o ofício de rei.

Assim como o sacerdote, que tinha de ser ungido com azeite para exercer seu ofício (Lv.8:12; Sl.133:2), o rei também deveria receber esta unção, para que fosse separado para o múnus régio.  

– O outro ofício era o de profeta, que não exigia a unção como requisito para o seu exercício. O requisito exigido para o reconhecimento de alguém como profeta era o cumprimento de suas mensagens (Dt.18:2022), o que, aliás, havia ocorrido com Samuel,

que foi tido pelo povo como profeta precisamente porque tudo quando disse se cumpriu, nada caindo por terra (I Sm.3:19,20). O que não impediu que algum profeta fosse ungido também, como ocorreu com Eliseu (I Rs.19:16).

 – Estes três ofícios prefiguravam, em Israel, Nosso Senhor e Salvador Jesus, o Cristo, isto é, o Messias, isto é, o Ungido, Aquele que reúne, e Ele só, os três ofícios, pois é rei (Mt.2:2; Mc.15:2; Jo.19:19-22), sacerdote (Hb.3:1; 4:14,15) e profeta (Mt.13:57; 21:11; Jo.4:19; 9:17).

 – Esta unção com azeite era figura de que a pessoa escolhida e separada para um destes ofícios receberia a visitação do Espírito Santo, pois, para agir conforme a vontade de Deus, para exercer a função segundo os ditames divinos, somente sendo guiado e dirigido pelo Espírito Santo.

– Isto foi uma realidade na vida de Saul. Não só recebeu ele a unção com azeite, como, naquele mesmo dia, recebeu a visitação do Espírito Santo, numa clara demonstração, ainda no tempo da lei, que a unção era uma figura de uma realidade espiritual. 

 – Não há, portanto, qualquer cabimento que se recorra à unção com azeite, em nossos dias, para a separação de obreiros, como alguns têm feito.

Hoje em dia já vivemos a realidade espiritual em sua plenitude, de forma que não há que se recorrer a rituais de prefiguração.

A separação de obreiros se faz única e exclusivamente com a imposição de mãos (At.6:6; 14:23; I Tm.4:14), ante a realidade que os separados ao ministério já são cheios do Espírito Santo (At.6:3).

 – Saul havia sido escolhido para ser “o capitão sobre a herdade de Deus” (I Sm.10:1). Alguns, inadvertidamente, querem com esta expressão utilizada por Samuel, querer dizer que Saul foi ungido “capitão” por Deus e que foi o povo quem o escolheu como “rei”, o que não tem o menor cabimento.

– Ao dizer que Saul era o “capitão sobre a herdade de Deus”, Samuel estava apenas dizendo que Saul seria o rei de Israel, que dominaria sobre o povo de Israel (I Sm.9:16,17).

 – A palavra “capitão” é a palavra hebraica “nāghîdh” (ָ֑֑נׅגיד), “um comandante (como ocupando a frente) civil, militar ou religioso; de modo geral (abstrato plural), temas honrosos; — capitão, chefe, coisa excelente, (principal) governante, líder, nobre, príncipe, (principal) autoridade. Substantivo masculino que significa líder, governante, princípe.…” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, n. 5057, p.1786).

 – Portanto, não se tem dúvida alguma de que se tratava da escolha de Saul como aquele que reinaria sobre Israel, o rei que o povo queria que lhe fosse concedido.

A expressão “capitão” não retirava a qualidade de rei de Saul, mas a reforçava, mas dentro dos ditames divinos, ou seja, ao contrário dos reis das outras nações, ele seria alguém que estivesse à frente do povo, mas que não seria um deus, que não teria poder de vida ou morte sobre os israelitas, mas alguém que estaria à frente do povo, mas lembrando sempre que o povo era de Deus. 

 – “Capitão sobre a herdade de Deus”, disse o profeta Samuel, para lembrar a Saul que ele não teria plenos poderes, que estaria no governo, mas quem tinha o controle era o próprio Deus, que devia observar a lei do Senhor para que pudesse ter êxito na função que lhe era dada.

 – O povo queria um rei e o teria, mas este rei não poderia se apropriar da “herdade de Deus”. Este é o princípio do governo no povo de Deus.

O governo continua sendo divino, ainda que esteja em mãos humanas. Deus não abre mão de Seu senhorio. Haveria um rei, mas este rei era o “capitão da herdade de Deus”, estaria à frente do povo, mas jamais podendo suplantar a lei dada pelo Senhor a Israel.

 – Esta mesma concepção de liderança é a que vige hoje na Igreja, o outro povo de Deus, e com muito maior ênfase, já que não há na Igreja, como havia em Israel, qualquer conotação de poder temporal, como havia em Israel que era uma das nações existentes naquela época. 

 – A liderança na Igreja deve ser feita em submissão à cabeça da Igreja, que é Cristo Jesus (Ef.1:22; 5:23), e aqueles que estão à frente do povo, ou seja, os que presidem (Rm.12:8; I Ts.5:12),

exercer suas funções com cuidado e com trabalho, sabendo que estão a apascentar o rebanho do Senhor (I Pe.5:2), tendo, ainda, de servir de exemplo ao rebanho (I Pe.5:3), sabendo que o rebanho é de Deus e que não podem ser movidos por torpe ganância nem se apropriando do que não lhe pertence, querendo, assim, ter um domínio que não é seu, mas de Deus.

 – Samuel, então, mostrando que Deus tem o pleno controle da situação, diz a Saul tudo o que lhe iria acontecer ainda naquele dia.

Disse-lhe que Saul acharia dois homens junto ao sepulcro de Raquel, que estariam à sua procura, já que as jumentas haviam sido achadas e quem estava “desaparecido” era o próprio Saul e que, depois, quando chegasse ao carvalho de Tabor, encontraria três homens que estariam subindo a Deus a Betel, que lhe dariam dois pães e, então, quando chegasse ao outeiro de Deus, onde estava uma guarnição dos filisteus, encontraria um racho de profetas e, então,

o Espírito do Senhor se apoderaria dele e ele profetizaria com aqueles profetas e ele seria mudado em outro homem e que, então, deveria ele fazer o que achasse a sua mão, porque Deus estaria com ele, mas, então, deveria descer a Gilgal e esperasse por sete dias ali até que Samuel sacrificasse e lhe fosse dito o que deveria fazer (I Sm.10:2-7).

– Esta passagem bíblica mostra-nos como Deus está no pleno controle de todas as coisas, como sabe tudo, nada escapa ao Seu controle.

As minúcias contadas por Samuel a Saul eram uma comprovação cabal e inesquecível de que Deus poderia não mais reinar sobre Israel, mas mantinha o pleno e absoluto controle de todas as coisas e que isto não iria se alterar só porque Israel passaria a ter um rei. Aliás, era a este rei que se mostrava isto de forma bem peculiar.  

– Saul era devidamente instruído por Deus a respeito de como deveria se conduzir, qual era a sua posição, o que o Senhor continua a fazer com todos os que chama para a liderança. 

 – O texto sagrado diz que tudo isto aconteceu com Saul naquele mesmo dia. Ele teve a visitação do Espírito Santo, profetizou, embora não se tenha se tornado um profeta, tanto que passou a haver um provérbio em Israel com o seguinte dito:

“Está também Saul entre os profetas?”, cujo significado é que Saul era um estranho entre os profetas, embora tenha profetizado.

 – Já no tempo da lei, havia a extrema necessidade de que o líder do povo de Deus fosse alguém que tivesse a plenitude do Espírito Santo.

É evidente que, no tempo da lei, não se poderia ter a plenitude do Espírito, pois o Espírito Santo nem sequer podia habitar no interior do homem, mas o máximo que se podia ter naquela época,

que era a visitação do Espírito a ponto de alguém profetizar, tinha de ser experimentado por Saul, sem o que não tinha ele a capacitação necessária para reinar. Era mister que fosse “mudado em outro homem” para exercer a liderança.

 – Como, então, admitir que, na Igreja, em plena dispensação da graça, quando o Espírito Santo está derramado, quando habita em todo salvo, uma liderança não tenha a plenitude do Espírito Santo, que se tenham obreiros que não sejam revestidos de poder? É um verdadeiro contrassenso, que não tem o menor cabimento.

 – A mudança em Saul começou no mesmo momento em que terminou o diálogo com Samuel, pois é dito que, finda a conversa, Deus mudou o coração de Samuel em outro (I Sm.10:9).

Não há como termos a plenitude do Espírito Santo se não obtivermos a mudança de coração, o que o Senhor Jesus denominaria de “novo nascimento” (Jo.3:3).  

– A plenitude do Espírito, como vimos, é uma necessidade indispensável para quem exerce a liderança no povo de Deus, mas isto não pode ocorrer se, antes, não houver uma mudança de coração. A salvação é um pré-requisito para o exercício da liderança e isto vemos claramente na vida de Saul. Saul teve mudado o seu coração, tornou-se uma pessoa diferente e, sem isso, jamais poderia ter sido rei em Israel.  

– Depois, tendo mudado o seu coração, pôde receber a visitação do Espírito Santo e, por conseguinte, profetizado juntamente com os profetas com quem encontrou no caminho.

Nenhuma manifestação legítima do Espírito Santo prescinde da prévia conversão, da prévia transformação interior de alguém.

Por isso, quando virmos manifestações sobrenaturais acompanhadas de atitudes que demonstram não ter havido verdadeira salvação, repudiemos tais manifestações, pois são simulações carnais e/ou demoníacas.

 – Apesar de tudo o que aconteceu, quando Saul se encontrou com seu tio, não lhe declarou o negócio do reino.

Confirmou ter estado com Samuel, mas, prudentemente, não falou coisa alguma a respeito de sua escolha como rei, pois Samuel lhe dissera que ele tinha de descer a Gilgal e aguardar, durante sete dias, o sacrifício que Samuel ali faria.

Começava bem o monarca, observando a mensagem divina e sabendo esperar no Senhor. Que bom seria se tivesse sempre se comportado assim.

– Samuel, então, convocou o povo em Mispa e mandou que todos se reunissem para que ele anunciasse quem fora escolhido como rei de Israel.

Samuel, então, chamou as tribos e escolheu a tribo de Benjamim, que era a menor de todas. Na tribo de Benjamim, escolheu a família de Matri, que era a menor de todas e, por fim, mandou chamar a Saul, filho de Quis, que não foi encontrado.

 – Saul havia descido até onde estava o profeta, mas, reconhecendo-se pequeno, incapaz de liderar o povo, havia se escondido entre as bagagens.

Esta reação de Saul era mais do que compreensível. Sabia ele a grande responsabilidade que seria reinar sobre Israel, a sua total ausência de condições.

Era uma pessoa humilde e que, nas experiências profundas que tivera desde a consciência de sua escolha, não tinha como se achar capaz e senhor da situação.

 – Ninguém se esconde de Deus. Não tendo Saul sido encontrado, é consultado o Senhor e é revelado que ele estava escondido entre a bagagem. Foram e o encontraram e ele foi posto no meio do povo.

 – Quando o povo o viu, ficou admirado. Saul era o mais alto de todos os israelitas. Do ombro para cima, não havia quem tivesse a sua estatura. Revelava-se, pois, um perfeito guerreiro. Tinha, certamente, um porte atlético invejável.

O povo deixou-se levar pela aparência e quando Samuel o apresentou como o escolhido, todo o povo jubilou, porque queria alguém que estivesse diante dele nas guerras e Saul tinha o perfil físico desejável.  

– Agora, se é verdade que o povo consentiu com a escolha divina por causa da aparência física de Saul, não levando em conta quaisquer outros atributos, muito mais importantes, como os atributos morais e espirituais, isto não nos permite dizer que a escolha foi do povo.

O texto sagrado é claríssimo ao dizer que Samuel disse ao povo que Deus havia escolhido Saul e os israelitas, equivocadamente, se alegraram com a escolha por causa da aparência física, mal sabendo que o Senhor mudara o coração de Saul e o visitara com o Espírito Santo para poder bem exercer a função para a qual havia sido escolhido.  

– O povo expressou toda a sua carnalidade, toda a influência que havia sofrido das demais nações, mas isto era completamente indiferente para o Senhor. Deus havia capacitado Saul para a função, ainda que o povo não tivesse levado em conta o preparo espiritual de Saul para consentir com esta escolha.  

– Samuel, ante a aprovação popular, repetiu aos israelitas e ao rei o direito do reino, que havia sido dado também por Deus.

Verifiquemos, portanto, que, milênios antes dos filósofos e cientistas políticos elaborarem regras para a limitação do poder político, em Israel já havia uma “constituição” a limitar os poderes do monarca, a estabelecer claramente o que o rei podia, ou não, fazer diante do povo.

 – Depois disso, cada um foi para a sua casa e Saul, também, foi para Gibeá, onde morava, tendo-os acompanhado todos os que faziam parte do exército e que o Senhor havia tocado para que fossem, a partir de então, fazer companhia ao rei.

 – Saul podia ter exigido que todo o exército o acompanhasse, mas não o fez. No entanto, o Senhor, que cuidava do Seu povo, tocou no coração de alguns do exército que fizessem companhia ao rei. Saul ainda não tinha assimilado bem esta sua nova condição, estava um tanto quanto receoso, tímido, mas Deus não permitiu que esta timidez resultasse em ausência de soldados à sua disposição.

Saul se fez acompanhar dos melhores soldados. Por que melhores soldados? Por que eram os mais hábeis ou os mais fortes? Não, porque eram os que eram sensíveis à voz do Senhor, ao toque do Senhor.

 – Mais uma importante lição que aprendemos: os líderes na casa do Senhor devem estar acompanhados daqueles que são sensíveis à voz do Senhor, que recebem o toque de Deus.

 – Mas não há como fugir à oposição. Mesmo capacitado pelo Senhor e aprovado pelo povo, Saul já enfrentou uma resistência.

Alguns, que o texto sagrado chama de “filhos de Belial”, ou seja, pessoas completamente descompromissadas com Deus, pessoas malignas, desprezaram Saul, desconsiderando-o e colocando em xeque a sua capacidade, mas Saul, agindo como verdadeiro servo do Senhor, ignorou-os, “fez-se como surdo”.  

– A oposição sempre existirá, não há como dela escapar, pois estamos no mundo. No entanto, não podemos valorizar este tipo de gente.

Se estamos na direção do Senhor, ignoremos os opositores, não lhes demos ouvidos, pois, como diz Salomão, “o governador que dá atenção às palavras mentirosas achará que todos os seus servos são ímpios” (Pv.29:12).

 – Israel tinha, finalmente, o seu rei. Como ele se sairia no exercício da função? É o que veremos na próxima lição.

 Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/4568-licao-5-a-instituicao-da-monarquia-em-israel-i

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