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APÊNDICE Nº 1 – SAUL CONSULTA UMA FEITICEIRA 

APÊNDICE Nº 1 – SAUL CONSULTA UMA FEITICEIRA   

O episódio da consulta de Saul a uma feiticeira mostra bem o caráter pecaminoso deste ato. 

Texto áureo “Entre ti se não achará quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro,” (Dt.18:10) 

INTRODUÇÃO

– Em apêndice ao trimestre, analisaremos, um pouco mais amiúde, a consulta de Saul a uma feiticeira, que costuma trazer algumas dúvidas. 

– O episódio da consulta de Saul a uma feiticeira mostra bem o caráter pecaminoso deste ato. 

I – A SITUAÇÃO ESPIRITUAL DE SAUL  

– Estamos a estudar os livros de Samuel e, em apêndice a este estudo, tendo em vista não ter sido feito um estudo específico a respeito, analisaremos o episódio da consulta de Saul a uma feiticeira, que se encontra registrada em I Samuel 28. 

– Saul encontrava-se no trono há 40 anos e os filisteus, uma vez mais, ajuntaram seus exércitos para fazer guerra contra Israel (I Sm.28:1).

Esta era mais uma demonstração do fracasso experimentado por Saul, pois havia sido escolhido por Deus para livrar os israelitas dos filisteus (I Sm.9:16).

Entretanto, diante de sua rebeldia, havia sido rejeitado pelo Senhor (I Sm.13:13,14; 15:22,23) e, por conseguinte, não tinha cumprido o seu papel. 

– Desde o momento da unção de Davi pelo profeta Samuel, Saul perdeu a presença do Espírito Santo na sua vida (I Sm.16:14), passando, inclusive, a ser atormentado por um espírito maligno (I Sm.16:15,23; 18:10). 

– Saul, lamentavelmente, após a sua rejeição, trilhou um caminho descendente em termos espirituais, pois, na vida espiritual, não existe estacionamento:

ou nos aproximamos cada vez mais de Deus, a fim de chegarmos à estatura completa de Cristo (Ef.4:13);

ou nos afastamos cada vez mais do Senhor, até o ponto de nem sequer mais termos consciência ativa, ficando com a mente cauterizada, sendo um insensível espiritual completo (I Tm.4:2). 

– Esta insensibilização espiritual de Saul é observada ao longo da narrativa bíblica. Inicialmente, Saul era atormentado por um espírito maligno e, sob o domínio deste demônio, é que tentou, por exemplo, matar Davi com uma lança (I Sm.18:10,11),

na sequência de sua vida, começou a perseguir incessantemente Davi querendo matá-lo, sem que, para tanto, estivesse sob a influência de um espírito maligno, ou seja, estava já desejoso de matar aquele que sabia ser o escolhido do Senhor para sucedê-lo (I Sm.19:19-22,30-33; 24:20,21).

 – Esta atitude de Saul em relação a Davi caracteriza uma continuidade na rebelião a Deus, pois, mesmo sabendo que Davi era o “próximo” profetizado que iria sucedê-lo (I Sm.15:28),

insistiu em querer matá-lo, em consciente afronta ao Senhor, a nos mostrar porque foi ele rejeitado e teve apartada de si a benignidade de Deus (II Sm.7:15), enquanto que Davi, mesmo tendo também praticado pecados, obteve o perdão divino. 

– Não só em relação a Davi, mas Saul começou a se insurgir contra outras determinações divinas, como, por exemplo, ter mandado matar os gibeonitas (II Sm.21:1),

decisão que revela como Saul estava a se rebelar contra o Senhor, já que os gibeonitas não podiam ser destruídos não só pelo pacto que haviam firmado nos dias de Josué com Israel (Js.9),

como o Senhor disse que não mais permitiria o extermínio dos habitantes primitivos de Canaã ante a inércia dos israelitas na conquista (Jz.2:1-3).

– Saul enveredou, portanto, num caminho de progressivo distanciamento do Senhor, em aberta rebeldia contra Ele, o que gerava uma insensibilização espiritual cada vez mais profunda.

O próprio Davi, sabendo que Saul era irreversível nesta tendência, desistiu de continuar habitando em Israel, indo para Gate (I Sm.27:1,2). 

– Quando os filisteus se reúnem em Suném para guerrear uma vez mais contra Israel (I Sm.28:4), Saul teve medo do exército inimigo e, diante deste medo, resolveu consultar a Deus (I Sm.28:5).

Segundo Flávio Josefo, este medo se deveu ao fato de que Saul percebeu que eles eram incomparavelmente mais fortes do que os israelitas. OBS: Eis o que diz a respeito Flávio Josefo:

“…Saul, tendo sabido que os filisteus tinham avançado até Suném, marchou contra eles, com seu exército e acampou em frente do deles, perto do monte de Gilboa, mas,

quando viu que eles eram incomparavelmente mais fortes, sentiu sua coragem diminuir e rogou aos profetas que consultassem a Deus para saber qual seria o resultado dessa guerra.…” (Antiguidades Judaicas VI, 15, 253. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.145).

 – O medo que teve dos inimigos era mais uma demonstração de que como estava má a sua situação espiritual, pois este “estremecimento do coração” revela a falta de amor a Deus que havia em Saul,

pois o medo é uma indicação que não se tem tal amor, já que “na caridade, não há temor; antes, a perfeita caridade lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em caridade” (I Jo.4:18). 

– Quando Saul resolveu consultar ao Senhor, porém, já era tarde demais.

Ao procurar saber a vontade de Deus, o Senhor não lhe respondeu nem por sonhos, nem por profetas, nem mesmo por Urim e Tumim.

Havia um silêncio sepulcral da parte de Deus, pois não havia a mínima comunhão entre Deus e Saul. 

– Saul persistia achando que Deus estava ao seu serviço, que Deus não era o Senhor e ele, servo, apesar de ser rei de Israel.

E Deus, que não Se deixa escarnecer, fazia com que Saul colhesse a indiferença e o desprezo que sempre tivera com relação ao Senhor, nada lhe falando. 

– Saul estava com medo e o silêncio de Deus aumentou o seu terror. Ele estava totalmente desorientado, não sabia o que fazer, o medo lhe tomava o ser e, no desespero, mandou aos seus criados que procurassem uma mulher que tivesse o espírito de feiticeira, para que ele a pudesse consultar (I Sm.28:7). 

– A que ponto chegava o rei Saul, alguém que fora escolhido pelo próprio Deus para reinar sobre Israel!

Contrariava abertamente a lei, determinando seus criados que buscassem uma feiticeira para que pudesse consultar, pois a lei era claríssima ao dizer que não podia haver feiticeiro entre os israelitas (Dt.18:10), pois esta era uma das abominações das nações primitivas de Canaã (Dt.18:9). 

– Ao agir desta maneira, Saul, ademais, revelava total descrença na Palavra de Deus, pois, em Lv.20:6, o Senhor deixa claro que quem se vira para os adivinhadores e encantadores, o Senhor poria a Sua face contra ele e seria extirpado do Seu povo.

Saul, assim, candidatava-se a ser extirpado do povo de Israel, assinava uma sentença de dupla morte: morte física e morte espiritual definitiva. 

II – SAUL CONSULTA A FEITICEIRA 

– O próprio Saul, num de seus rompantes de “justiça com as próprias mãos”, havia, também, mandado desterrar todos os feiticeiros de Israel (I Sm.28:9).

Entretanto, contrariando a sua própria ordem, agora pedia que lhe encontrassem uma feiticeira para que pudesse fazer uma consulta.

– Saul demonstrava ter uma mente completamente cauterizada. Queria porque queria uma forma de manipular as forças espirituais a seu favor.

Ante o silêncio de Deus, que já seria o suficiente para que ele entendesse quão terrível era a sua condição espiritual, parte para a feitiçaria, mesmo sabendo ser uma prática abominável a Deus, pois, na sua cegueira espiritual, achava-se acima do bem e do mal, vivia como se Deus não existisse. 

– Os criados, então, informaram a Saul que havia uma feiticeira em En-Dor, que tinha o espírito de adivinhar, o que, também, era algo expressamente proibido pela lei (Dt.18:11).

Saul, então, disfarçou-se, vestiu outros vestidos e, acompanhado de dois homens, foi de noite ter com a mulher, pedindo-lhe que, pelo espírito de feiticeira, fizesse “subir” a quem ele dissesse (I Sm.28:8). 

– Notamos aqui como Saul sabe que o que está a fazer é completamente errado.

Por primeiro, disfarça-se, finge ser uma outra pessoa, pois sabia que, como rei, jamais poderia fazer o que pretendia. Sempre que há engano, mentira ou fingimento, estamos diante de uma atitude abominável diante do Senhor, pois Cristo nada tem com o diabo (Jo.14:30) e é o diabo o pai da mentira e quando mente, faz o que lhe é próprio (Jo.8:44).

 – Saul veste outros vestidos, pois os vestidos reais são vedados para quem consulta um espírito de feiticeira.

Os vestidos reais denotam que a pessoa é ungida do Senhor, é escolhida por Deus. Não pode um rei se prestar a esta atitude de consultar uma feiticeira.

Portanto, não pode alguém que foi feito rei e sacerdote para Deus por Cristo Jesus se prestar a esta ação (Ap.1:5,6). Eis porque um genuíno e verdadeiro cristão jamais consulta espíritos. 

– O pedido de Saul era que a mulher usasse o “espírito de feiticeira” e “adivinhasse”.

Saul queria, mesmo, a manipulação de forças espirituais em seu proveito, mesmo sabendo que Deus havia Se calado diante de suas tentativas de consulta.

Saul estava a nivelar o Senhor com outras forças espirituais, uma atitude completamente alheia a todos os ensinamentos que Deus dera a Israel, a começar da profissão de fé de que Deus é o único Senhor (Dt.6:4).

Estava a quebrar o primeiro mandamento (Ex.20:3; Dt.5:7). Saul estava, mesmo, bem perto do fim! 

– A feiticeira, ante um pedido tão explícito de quebra da lei, alertou seu consulente de que Saul havia desterrado da terra os adivinhos e os encantadores.

Deus mostrava a Saul, pela boca daquela feiticeira, como ele estava a contrariar a si mesmo, como ele estava a quebrar conscientemente a lei.

Saul temeu continuar sua ação? Por acaso, Saul se arrependeu do que estava a fazer confrontado com as suas próprias ordens? Não, não e não!

Pelo contrário, jurou à mulher que nada lhe aconteceria, que ela não tivesse medo de morrer, porque mal algum lhe sucederia (I Sm.28:10).

 

– A mulher, diante desta garantia, sem saber de quem se tratava, perguntou a Saul quem que ele queria que ela fizesse subir e Saul, então, pediu que subisse a Samuel (I Sm.28:11,12). 

– A expressão “subir” aqui advém do fato de que, para os israelitas, os mortos ficavam “embaixo”, pois eles associavam o lugar dos mortos à sepultura, tanto que denominavam tal local de “Sheol” ou “Seol”, cujo significado é “sepultura”.

Assim, se os mortos ficavam “embaixo”, nesta concepção, quando viessem ao encontro dos vivos, eles, então, teriam de “subir”. 

– Ao fazer este pedido, Saul violava outro mandamento. Era terminantemente proibida a invocação de mortos, a consulta aos mortos na lei (Dt.18:11,14), mas Saul, conscientemente, queria porque queria consultar a Samuel, como se isto fosse possível. 

– Na sua insensibilização espiritual, Saul achava poder obter favores através daquele homem de Deus, mesmo tendo ele já morrido.

Quando foi rejeitado por Deus, Saul alimentou a ilusão de poder conquistar o apoio de Samuel, tanto que, na segunda rejeição, Saul tentou, sem êxito,

que Samuel o acompanhasse no sacrifício que planejara fazer com o melhor do gado de Amaleque, tendo, antes, pedido perdão a Samuel (mas não a Deus) pela desobediência que tivera na guerra contra os amalequitas (I Sm.15:25,26). 

– Mesmo diante da atitude firme de Samuel, que não aceitou acompanhá-lo no sacrifício e que, desde aquela data, nunca mais se encontrou com Saul (I Sm.15:35), mesmo assim Saul achava que poderia, agora, usar dos préstimos de Samuel, “fazendo-o subir”. Que cegueira espiritual! 

– Quando a mulher “fazia subir” a um suposto Samuel, ela deu um grito, pois o espírito lhe disse que quem estava a consultar era o próprio Saul.

Saul, então, desmascarado, tinha a oportunidade de se arrepender, de encerrar aquela macabra reunião, mas, mesmo diante de tal circunstância, reafirmou que a mulher nada deveria temer e lhe perguntou quem ela via (I Sm.28:13).

OBS: Flávio Josefo bem esclarece que foi o espírito quem identificou para a mulher quem era Saul:

“…Como ela não sabia quem era Samuel, obedeceu sem dificuldade, mas quando sua presença se fez notar, não sei o que de divino ela notou nele, que a surpreendeu e perturbou.

Voltou-se para Saul e disse-lhe; ‘Não soi vós o rei Saul’ (Ela o soubera pela visão)…’ (Antiguidades Judaicas vi, 15, 253. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.145).

 

– Observemos que, então, a mulher disse que estava vendo “deuses”.

Diante da própria situação em que Saul era desmascarado em seu engano, a mulher não teve outra coisa a fazer senão confessar que estava a ver “deuses”.

Portanto, o “Samuel” que se encontra em I Sm.28:12 não era o Samuel, profeta que já havia morrido, mas, sim, os “deuses” mencionados pela feiticeira, ou seja, um ser espiritual, pois “deuses” no texto bíblico do Antigo Testamento, muitas vezes, significa “seres espirituais”, como anjos ou demônios. 

– É de observar aqui que a mulher usou o plural, ou seja, vieram muitos seres e não apenas um.

“…Note-se que eram muitos. O pedido foi que viesse um, e vieram muitos. Se, por uma exceção, Deus tivesse deixado sair o espírito de Samuel, permitiria que saísse muitos?…” (ORTIZ, L.M. Saul e a feiticeira “apud”  JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.145 – nota do editor). 

– Quebra-se aqui, portanto, o ensinamento de que, excepcionalmente, Deus permitiria que mortos entrassem em contato com vivos, como defendem os romanistas e até alguns judeus, baseando-se, precisamente, neste episódio da feiticeira.

As Escrituras são claras ao dizer que não há comunicação entre vivos e mortos e este episódio mostra, claramente, que não houve uma “permissão excepcional”. 

OBS: Neste passo, aliás, é de observar que o livro de Eclesiástico, um dos livros apócrifos que foram introduzidos no Concílio de Trento na Bíblia pela Igreja Romana, equivocadamente, admite que era “Samuel” a pessoa que dialogou com Saul, a mostrar, com esta passagem, que se trata mesmo de um livro que não é inspirado e que jamais pode fazer parte das Escrituras.

Eis o trecho de Eclesiástico: “Depois disso, [Samuel] adormeceu e apareceu ao rei, e lhe mostrou seu fim (próximo); levantou a sua voz do seio da terra para profetizar a destruição da impiedade do povo.” (Eco.46:23).             

Eis um texto romanista que admite ter sido este episódio uma “exceção” para comunicação entre vivos e mortos:

“…Não obstante estas proibições, sabe-se que o rei Saul, atribulado numa campanha bélica, foi ter com a pitonisa (ou adivinha) de Endor, pedindo-lhe que o pusesse em comunicação com a alma de Samuel, seu guia de outrora (cf. iSm 28, 7-14).

O cronista bíblico acentua bem que esse feito foi ilícito: “Saul… se tornara culpado diante do Senhor… porque interrogara e consultara os que evocam os mortos” (1Cr 10, 13).

Não obstante, Deus se dignou permitir que o espírito de Samuel evocado respondesse: permitiu-o, não por causa dos ritos da pitonisa, que eram totalmente ineptos para tanto,

mas tornando como mera ocasião a visita do rei a adivinha o motivo por que então o Senhor atendeu a Saul foi, corno se depreende das palavras de Samuel,

o desejo de admoestar o rei a penitência ao menos no fim de sua vida (o rei Saul havia de morrer no dia seguinte);

a exortação dirigida a Saul em circunstâncias tão extraordinárias seria particularmente eficaz.

Disto, porém, não se segue que Deus se dirija aos homens por via tão estranha todas as vezes que estes o desejem.…” (AQUINO, Felipe. A Igreja aceitou a comunicação com os mortos? Disponível em: https://cleofas.com.br/a-igreja-aceitou-a-comunicacao-com-os-mortos/ Acesso em 30 ago. 2019).

Tal entendimento não pode ser admitido, pois não havia mais como Saul se arrepender, pois já fora rejeitado definitivamente e, como estamos a analisar, a mensagem demonstra, claramente, que não se tratava de Samuel.

 

– Cumpre observar que, mesmo Flávio Josefo, ao dizer que era “Samuel” quem falava com Saul, em sua narrativa, revela certas coisas interessantes: a primeira é que Saul nada via, mas apenas a feiticeira; a segunda, que quem falava com Saul era uma “sombra”, a confirmar, portanto,

que este “Samuel” era fruto tão somente da imaginação de Saul, do seu entendimento, o entendimento de uma pessoa completamente desamparada por Deus e que estava no “fundo do poço” espiritual.

OBS: Eis aqui o que diz Josefo a respeito deste episódio:

“…Ela respondeu que via aproximar-se um homem, que parecia todo divino. ‘Que idade tem ele?’, disse Saul, e ‘como está vestido?’

‘Ele parece”, respondeu ela, ‘um velho muito venerável e está revestido de um hábito sacerdotal’.

Então Saul não duvidou de que era mesmo Samuel e prostrou-se diante dele até o chão.

A sombra perguntou-lhe porque o havia obrigado a voltar do outro mundo.…” (JOSEFO, Flávio. Antiguidades Judaicas VI, 15, 253. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.145).

– Fica, logo no início da narrativa, evidenciado que não era Samuel quem aparecia, mas, sim, um demônio, um espírito maligno que assumia a figura de Samuel, a fim de enganar o rei Saul. Eram “deuses que subiam da terra”, disse a feiticeira, não era o profeta Samuel. 

– A mulher disse que a figura daquele que “subia” era um homem ancião, envolto em uma capa e o texto, então, diz que Saul entendeu que era Samuel e, de imediato, inclinou seu rosto em terra e se prostrou (I Sm.28:14). 

– Eis mais um ponto do texto que está a nos mostrar, com clareza, que não se tratava de Samuel, mas de um demônio que se passava por ele.

A mulher feiticeira não disse que era Samuel, disse que era um homem ancião, envolto numa capa.

Foi Saul quem achou que se tratava de Samuel e, imediatamente, fez um gesto de adoração, que Samuel jamais aceitaria, pois, como homem de Deus que era, sabia que só se deve adorar a Deus.

– Em momento algum das Escrituras, vemos Samuel admitindo que alguém lhe adorasse.

Jamais Samuel aceitou um tratamento quetal, de modo que o fato de este ser ter aceitado a adoração, mostra-nos que se tratava de um espírito maligno, pois só estes, rebeldes que são ao Senhor, aceitam este tipo de atitude por parte do ser humano. Veja que nem mesmo os anjos bons admitem tal conduta (Ap.22:8,9). 

– Em se tratando de um espírito maligno, não é de se admirar que ele seja mentiroso e que, na sequência, tenha mentido ao rei Saul, da forma bem usual que fazem os demônios, ou seja,

mesclando a verdade com a mentira, até porque, como costumamos afirmar, a meia verdade é uma mentira inteira. 

– Assim, fazendo-se passar por Samuel, o espírito pergunta porque o havia desinquietado, fazendo-lhe subir.

Aqui o espírito dá a ideia de que os mortos estão em estado de quietude, tranquilidade, o que não é verdadeiro.

Com efeito, segundo nos ensina o Senhor Jesus, os ímpios, no Hades, que é o “Sheol” dos israelitas, estão em tormento (Lc.16:24).

Como nunca uma palavra de Samuel, o Senhor deixou cair em terra (I Sm.3:19), temos aqui uma evidência de que não se tratava de Samuel o ser que dialogou com Saul. 

– Mas alguém poderá dizer que uma outra interpretação possível do texto é que Samuel, este sim, estava em tranquilidade, pois era justo e, portanto, não cabe a objeção lançada.

Sim, podemos concordar com este argumento, mas, também neste caso, sendo ele um justo, que estava no seio de Abraão, em tranquilidade, não iria ser ele mandado para a Terra,

pois assim não se permitiu a Lázaro, na mesma história contada pelo Senhor Jesus (Lc.16:27-31), pois devem os vivos ouvir a lei e os profetas e não os mortos. 

Também por este motivo, vemos que não se poderia tratar de Samuel este ser que dialogou com Saul. 

– Saul, então, diz ao suposto Samuel que estava angustiado, que os filisteus estavam em guerra e que Deus se havia desviado dele e não lhe respondera a suas consultas.

O suposto Samuel, então, lança em rosto a atitude de Saul, dizendo que, se Deus não lhe respondia e se tinha feito inimigo de Saul, porque, então, procurava consultá-lo (I Sm.28:15,16). 

– Neste passo, este ser que dialogava com Saul apenas repetia algo que já era do conhecimento de todos, ou seja, de que Saul havia sido desamparado por Deus, rejeitado por ele.

O próprio Saul, em seus encontros com Davi, quando este poupara a sua vida, havia dito claramente a todos que Davi haveria de sucedê-lo, de que ele e sua casa haviam sido rejeitados.

Portanto, o que o ser espiritual dizia era algo que podemos dizer que era “fato público e notório”. 

– Assim, fazendo-se passar por Samuel, o ser espiritual apenas repete que Samuel havia profetizado a rejeição de Saul e que o reino passaria a Davi, algo que, como já dissemos, o próprio Saul já havia declarado publicamente (I Sm.24:20).

Portanto, esta fala deste ser não tem coisa alguma de profético ou de novo, sendo tão somente repetição do que já era sabido, máxime das hostes espirituais da maldade,

pois Satanás é o responsável pelo maior sistema de informações que existe no mundo, pois tem milhões de demônios a seu serviço, tudo anotando, de tudo se informando.

– O demônio apenas diz que o Senhor havia feito o que fizera com Saul por causa da sua rejeição (I Sm.28:18), algo que, repetimos, era “fato público e notório”. 

– Então, este suposto Samuel passa a “profetizar”, dizendo que Israel seria entregue com Saul nas mãos dos filisteus e que, no dia seguinte, ele e seus filhos estariam com ele e o arraial de Israel estaria na mãos dos filisteus (I Sm.28:20).

Ao ouvir estas palavras, Saul caiu por terra e ficou com muito medo e desfaleceu, porque não havia comido pão todo aquele dia e toda aquela noite (I Sm.28:21). 

– Alguns, ao verem que a “profecia se cumpriu”, entendem que se tratava mesmo de Samuel o ser com quem Saul dialogava e até se prendem ao fato de, em I Sm.28:20, haver a expressão “palavras de Samuel”.

Por primeiro, a expressão nada significa senão as palavras de quem Saul achava ser Samuel, o mesmo ocorrendo aqui com o que se tem em I Sm.28:12. 

– Por segundo, veja-se que a mencionada “profecia” não era profecia, mas um palpite do ser espiritual, à vista das evidências e que, inclusive, apresenta fatos que não ocorreram e que, por isso mesmo, não podem ser atribuídas a Samuel, alguém a quem o Senhor nunca deixou que suas palavras caíssem por terra. Senão vejamos. 

– Saul estava angustiado, temeroso, em desespero e Deus não lhe deu resposta alguma.

O desespero dele era tanto que foi consultar uma feiticeira. Alguma dúvida de que se estava no quadro final da descida espiritual de Saul? Alguma dúvida de que Saul estava próximo do fim?

Os filisteus tinham resolvido guerrear e se desnudava o total desamparo espiritual de Saul.

Alguma dúvida de que se avizinhava a sua morte física? Não se trata de profecia, mas de uma evidência e que um demônio certamente teria plenas condições de identificar.

demais, o trabalho das hostes espirituais da maldade é matar as pessoas, de modo que influenciá-las no sentido de desesperarem da vida e resolverem dar cabo dela é o seu principal intento e, no caso, aliás, foram bem sucedidos quanto a isto, já que Saul acabou se suicidando. 

– É de se observar que este estado de Saul é bem descrito por Flávio Josefo, “in verbis”:

“…Deus não lhe respondeu, e esse silêncio duplicou-lhe o temor; julgou-se abandonado por Ele: seu ânimo abateu-se e ele resolveu nessa dificuldade, recorrer à magia…” (Antiguidades Judaicas VI, 15, 253. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.145).

Alguma dúvida de que se tratava de uma situação pública e notória, notadamente para um demônio?

Não nos esqueçamos de que, em Lv.20:6, Deus disse que quem consultasse adivinhadores e encantadores, Deus poria Sua face contra tal pessoa e ela seria extirpada do Seu povo.

Que isto significava senão que Saul estava à beira da morte física e da morte espiritual definitiva? 

– O ser espiritual afirmou que Saul e seus filhos estariam com ele no dia seguinte. Parece aí ter havido um acerto, não seria, portanto, uma “profecia de Samuel”? Saul e seus filhos estavam no campo de batalha.

Se era nítido que Deus não estava mais a amparar Saul, que se estava no final desta triste jornada descendente, alguma dúvida de que a batalha seria ganha pelos filisteus e que Saul seria morto?

Ante o fato de que Deus já havia escolhido Davi para suceder Saul, alguma dúvida de que os filhos de Saul também seriam mortos, a fim de que não houvesse descendência e Davi pudesse subir ao trono?

– Ocorre, porém, que esta “profecia” não se cumpriu! Saul e seus filhos realmente foram mortos, mas um filho de Saul, Isbosete, que não foi à guerra, foi constituído rei sobre Israel, com exceção da tribo de Judá, de modo que Davi não assumiu o trono de imediato como preconizado pelo demônio (II Sm.2:8). 

– Como se isto fosse pouco, Saul e seus filhos não foram fazer companhia a Samuel. Saul, rejeitado por Deus, suicida, de quem a benignidade de Deus se apartou, foi, certamente, para o Hades, para o lugar de tormento,

que é separado por um abismo do seio de Abraão, onde estava Samuel, não havendo qualquer possibilidade de contato entre um lugar e outro (Lc.16:23-25).

Jônatas, por sua vez, homem fiel a Deus, certamente foi para o seio de Abraão e não para o Hades, de modo que não acompanhou a seu pai Saul.

Este suposto Samuel, portanto, falou algo que Deus fez cair por terra e isto é uma evidência de que NÃO se tratava de Samuel.

– Notamos, pois, que as evidências do texto mostram claramente que não se tratava de Samuel o ser que dialogou com Saul. 

– Como se isto fosse pouco, temos que as Escrituras Sagradas dizem claramente que os mortos jamais se comunicam com os vivos. Davi afirmou que os vivos vão ao encontro dos mortos, mas os mortos jamais vêm ao encontro dos vivos (II Sm.12:23). 

– O profeta Isaías tem, também, uma palavra, dizendo que o povo deve buscar a Deus, jamais indo atrás de espíritos familiares ou adivinhos, pois os vivos não têm como interrogar os mortos (Is.8:19).

Observemos, aliás, que, neste texto, o profeta mostra claramente que os que se entendem ser os “mortos”, são, na verdade, espíritos familiares e adivinhos, ou seja, espíritos malignos que, por meio de adivinhos, fazem-se passar por mortos. 

– Na própria história de Lázaro e do rico, que é uma história e não uma parábola, o Senhor Jesus deixa bem claro que não há a menor possibilidade de comunicação entre vivos e mortos, pois Deus deixou a Sua Palavra para que os vivos aprendam a respeito da eternidade, da vida além-túmulo, jamais sendo permitido que mortos voltem a este mundo para falar com os vivos. 

– Alguém pode objetar tal fato, trazendo como exemplo o episódio da transfiguração de Jesus (Mt.17:1-8; Mc.9:1-8; Lc.9:28-36), quando o Senhor falou com Moisés, que já havia morrido.

Neste episódio, é importante observar que, antes deste diálogo, Jesus Se transfigurou, ou seja, a Sua natureza divina absorveu a humana e, portanto, Jesus, como Deus, falou com Moisés e com Elias, mostrando, aliás, que Deus é Deus dos vivos, pois para Ele os mortos vivos estão (Mt.22:32). 

– Como bem afirma o pastor José Serafim de Oliveira, no episódio da transfiguração, Jesus, como Deus, convocou o morto Moisés, o que é bem diferente de invocar mortos, como fazem os seres humanos. 

– Como se isto não bastasse, cumpre observar que só Jesus falou com Moisés e com Elias, tendo os discípulos apenas ouvido a conversa, em mais uma demonstração que homens vivos não podem se comunicar com homens mortos. 

– Se não há comunicação entre mortos e vivos, sempre que há invocação de mortos, como ocorreu no episódio de Saul, os mortos não comparecem, pois não podem fazê-lo e, na verdade,

abre-se a oportunidade para que demônios, os espíritos familiares mencionados por Isaías, se apresentem, mentindo, enganando, fazendo-se passar pelos mortos, como aconteceu no episódio que está sendo estudado. 

– Era o que ocorria nos cultos das nações que cercavam Israel e as demais da Antiguidade, como em todas as religiões que recorrem a este expediente de consulta aos mortos, como vemos nos diversos segmentos do espiritismo, como também no próprio romanismo. 

– Os romanistas procuram distinguir entre a invocação de mortos, condenada nas Escrituras, e a chamada “intercessão dos santos”, como eles denominam a suposta capacidade que teriam os salvos em Cristo Jesus que já estão no Paraíso de intermediar bênçãos junto ao Senhor.  

– Consoante ensina o teólogo católico Felipe Aquino,

“…a Igreja aceita a invocação dos santos (orações humildes dirigidas aos justos do céu para que intercedam por nós),

mas não aceita a evocação dos mortos (pratica ritual que julga obter respostas e mensagens dos mortos).…” (A Igreja aceitou a comunicação com os mortos? Disponível em: https://cleofas.com.br/a-igreja-aceitou-a-comunicacao-com-os-mortos/ Acesso em 30 ago. 2019).

OBS: Eis as passagens do Catecismo da Igreja Católica que procuram “embasar” esta ideia da intercessão dos santos: “958.

A comunhão com os defuntos. «Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam venerou, com muita piedade, desde os primeiros tempos do cristianismo, a memória dos defuntos; e,

“porque é um pensamento santo e salutar rezar pelos mortos, para que sejam livres de seus pecados” (2 Mac 12,46), por eles ofereceu também sufrágios» (II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 50). A nossa oração por eles pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua intercessão em nosso favor.

  1. Na única família de Deus. «Todos os que somos filhos de Deus e formamos em Cristo uma família, ao comunicarmos uns com os outros na caridade mútua e no comum louvor da Santíssima Trindade, correspondemos à íntima vocação da Igreja» (II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 51). 2683.

As testemunhas que nos precederam no Reino (Cf. Heb 12,1), especialmente aquelas que a Igreja reconhece como «santos», participam na tradição viva da oração pelo exemplo da sua vida, pela transmissão dos seus escritos e pela sua oração actual. Elas contemplam a Deus, louvam-n’

O e não cessam de tomar a seu cuidado os que deixaram na terra. Tendo entrado «na alegria» do seu Senhor, foram «estabelecidas à frente de muita coisa» (Cf. Mt 25,21).

A sua intercessão é o mais alto serviço que prestam ao desígnio de Deus. Podemos e devemos pedir-lhes que intercedam por nós e por todo o mundo.”

Como se verifica, tal defesa não tem suporte em qualquer dado escriturístico devidamente contextualizado, baseando-se ou em documentos romanistas ou até em um livro apócrifo. 

– Para os romanistas, a “intercessão dos santos” resultaria da comunhão que há entre os santos, resultado da unidade da Igreja e, como os salvos falecidos fariam parte do mesmo corpo de Cristo, se poderia pedir a sua intercessão, assim como se pode pedir a intercessão dos salvos que estão ainda na dimensão terrena.

OBS: É evidente que a Igreja é uma e que todos os salvos pertencem a ela, estejam vivos ou mortos. Eis o que afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus:

 “A Igreja é formada por todos aqueles que Deus chamou para fora do mundo, tendo sido esses resgatados da vã maneira de viver por intermédio do precioso sangue de Cristo [ I Pe.1:18,19] (…).

A Igreja atuante é aquela que ainda milita na terra, formada por todos aqueles que seguem a Cristo, lutam contra a carne, o mundo, o Diabo, o pecado e a morte [Ef.6:12].

A Igreja triunfante é constituída dos irmãos que já partiram deste mundo, tendo vencido todos os seus inimigos e que agora estão com o Senhor Jesus.

Eles e nós pertencemos à mesma Igreja: ‘do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome’ (Ef.3:15)…”(Capítulo XI, pp.120/122).

Mas daí a dizer que os já falecidos intercedem pelos que ainda vivem na Terra há uma enorme distância, que não tem qualquer respaldo bíblico. Ademais, a oração é uma das características da igreja atuante, como se verifica de Ef.6:18.

– Entretanto, como bem ensinou o Senhor Jesus na história do rico e Lázaro, não é possível a qualquer justo já falecido saber o que se passa na dimensão terrena, não havendo comunicação entre vivos e mortos, de modo que não é possível a comunicação entre vivos e mortos, ainda que sejam estes e aqueles salvos na pessoa de Cristo Jesus (Lc.16:27-31). 

– Quem pede a “intercessão dos santos”, está, sim, invocando pessoas mortas, pedindo a ajuda de pessoas mortas, o que não é possível e contraria tudo quanto ensinam as Escrituras.

Devemos pedir a intercessão dos vivos por nós (Ef.6:19; Cl.4:3; II Ts.3:1) e nos dirigir única e exclusivamente a Cristo Jesus, que está intercedendo por nós (Rm.8:34).

É a Cristo, e somente a Cristo, que devemos nos dirigir, indo até o trono da graça (Hb.4:16), até porque Cristo está vivo e vive para todo o sempre (Ap.1:18). 

– Este episódio mostra-nos que jamais podemos recorrer a tais consultas a mortos, que não há comunicação entre vivos e mortos e que somente um homem num lastimável estado espiritual, como era o caso de Saul, pode recorrer a tais expedientes.

Que isto nos sirva de lição e que sempre busquemos única e exclusivamente a Deus.  

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/4588-licao-6-a-rebeldia-de-saul-e-a-rejeicao-de-deus-i-e-apendice-n-1-saul-consulta-a-feiticeira

 

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