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LIÇÃO Nº 10 – O PECADO DO HOMEM SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS   

                         

O pecado de Davi manchou a biografia deste homem de Deus para sempre e nos mostra quão deletério é o pecado para quem se dispõe a servir ao Senhor. 

INTRODUÇÃO 

– Estudaremos, nesta lição, o “negócio de Urias, o heteu” (I Rs.15:5), certamente o episódio mais lamentável da biografia de Davi, um vergonhoso conjunto de atos pecaminosos que mancharam para sempre a biografia deste rei,

já que seu pecado foi expressamente mencionado, no versículo já referenciado, texto escrito depois da cativeiro da Babilônia e quando se relatava fatos ocorridos no reinado de Abião, rei de Judá, bisneto de Davi. 

– Esta grande falha de Davi, que é até hoje apontada por muitos pregadores, estudiosos e leitores das Escrituras, não deve servir para criticarmos e injuriarmos aquele grande homem de Deus,

mas para nos lembrar que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm.3:23; 5:12) e que, assim como Davi, mesmo cheios do Espírito Santo, necessitamos vigiar para não cometermos atos de igual ou até maior gravidade que Davi. 

I – A GUERRA NÃO DESEJADA CONTRA AMOM 

– Deixamos Davi no ápice de seu poder político-militar. Havia subjugado os filisteus, os siros, os moabitas, os zobitas, como também havia feito aliança com os fenícios, os gesuritas e os hamatitas, de forma que não tinha qualquer adversário na região da Palestina, entre o Mar Mediterrâneo e o rio Eufrates. 

– Conta-nos, então, o texto sagrado que morreu o rei de Amom, Naás, tendo, então, Davi mandado uma comitiva para consolar o novo rei, Hanum, visto que Naás havia usado de beneficência com Davi, pois havia dado asilo aos seus familiares quando da perseguição sofrida nos dias de Saul (I Sm.22:3; II Sm.10:2; I Cr.19:1,2).

Davi demonstra, com este gesto, toda sua gratidão para com aqueles que lhe haviam feito bem. 

– Devemos ser gratos a todos quantos nos fazem benefícios. A gratidão é uma característica que não pode faltar na vida daqueles que servem a Deus (Cl.3:12-15).

Davi, mesmo no trono e numa posição de superioridade sobre o novo rei de Amom, não deixou de demonstrar sua gratidão pelo bem que tinha recebido quando ainda era um fugitivo de Saul, mostrando que não havia se esquecido de suas origens.

Quantos, na atualidade, se comportam desta maneira, mesmo se dizendo cristãos?

Devemos ser agradecidos a todos quantos nos fizeram bem no passado, mesmo que as circunstâncias atuais nos sejam amplamente favoráveis. 

– Davi procurou levar consolo e ajuda a Hanum quando este passava por uma dificuldade, quando havia perdido o seu pai e tinha à frente um grande desafio, que era o de reinar sobre o seu povo.

Também, como servos de Deus, devemos estar dispostos a ajudar aqueles que passam por dificuldades.

É muito fácil aproximarmo-nos daqueles que passam por momentos de sucesso e de êxito em suas vidas, mas também temos de estar próximos daqueles que estão angustiados, tristes e desolados (Rm.12:15).

A propósito, o pregador nos ensina que é bem melhor estarmos na casa onde há luto do que na casa onde há banquete (Ec.7:2) e que é na casa do luto que está o coração dos sábios (Ec.7:4).

– Entretanto, o gesto de Davi não foi bem interpretado por Hanum, ou antes, pelos seus príncipes.

Ao receber a comitiva de Davi, os amonitas interpretaram que se tratava de espiões que, a pretexto do consolo ao novo monarca, estavam mesmo obtendo informações para que Davi se aproveitasse da mudança de governo e viesse dominar Amom.

Diante disto, convenceram Hanum a que ultrajasse a comitiva de Davi, rapando-lhes a metade da barba e a metade dos vestidos até as nádegas, despedindo-os desta maneira (II Sm.10:3,4; I Cr.19:3,4). 

– Nem sempre, ou, nos dias em que vivemos, quase nunca, os gestos benevolentes dos servos do Senhor serão entendidos por aqueles que vivem no mundo ou, até mesmo, pelos que cristãos se dizem ser que estão ao nosso lado.

A malícia reina soberana nos corações dos ímpios e dos pecadores, ou seja, a intenção maldosa, a inclinação para o mal, a maldade, de sorte que sempre as pessoas interpretarão mal os nossos gestos, até porque não se pode sequer exigir destas pessoas que compreendam as nossas atitudes, pois só Deus conhece o coração do homem (I Sm.16:7). 

– Os servos de Hanum levaram o novo rei, inexperiente, a uma guerra, porque tinham uma intenção maldosa em seus corações, acharam que Davi estava a espionar Amom, quando não era este o intuito de Davi.

Ao maquinarem o mal e o retribuírem com uma maldade, acabaram por trazer para si aquilo que temiam.

Achando que Davi queria guerra com Amom, acabaram por provocá-la e por trazer a ruína da sua própria nação.

Aprendamos esta lição extraída das Escrituras: não façamos o mal para prevenir um mal, pois este “mal preventivo” nada prevenirá, mas trará o mal que tanto tememos (Jó 3:25). 

– A humilhação de alguém é uma maldade. Hanum e seus príncipes humilharam a comitiva de Davi, rapando-lhes metade da barba e metade dos vestidos até as nádegas e os despediram, fazendo-os ter de andar desta maneira pela estrada, para serem vistos por todos.

Davi, ao saber da notícia, mandou que fossem encontrá-los, mas não permitiu sequer que seus enviados fossem naquele estado a Jerusalém, mas mandou que ficassem em Jericó (lugar amaldiçoado e que não tinha ainda qualquer cidade reconstruída),

um local isolado e não habitado, até que suas barbas crescessem novamente (II Sm.10:5; I Cr.19:4,5). 

– Vemos neste episódio que a humilhação não é uma atitude que agrade a Deus.

Foram os amonitas quem praticaram esta humilhação, a exposição pública, enquanto que Davi, o homem segundo o coração de Deus, mandou que fossem ao encontro daqueles homens e os mandou a um local desabitado, onde pudessem se recuperar do vexame sofrido, sem que fossem vistos pelo seu povo.

Davi não permitiu a exposição pública dos seus servos, nem que passassem vergonha diante do povo. 

– Muitos, na atualidade, não têm este bom senso, este respeito à dignidade da pessoa humana.

Baseados em I Tm.5:20, foi costume das igrejas locais, durante muitos anos, uma exposição indevida, uma humilhação dos que pecavam, entendendo que a “disciplina” exigia a execração pública da pessoa. 

– Não é isto que vemos, porém, neste episódio bíblico, onde temos um homem que é tipo de Jesus.

Repreender o pecador na presença de todos não significa humilhá-lo. Deve-se denunciar o pecado, mostrar o mal que é o pecado, mas se deve preservar a pessoa do pecador.

A repreensão é uma fala de correção, mas com objetivo de cura, de restauração.

Davi mandou os homens ao encontro daqueles que estavam envergonhados e determinou que se restaurassem, para, então, tornar ao convívio com o povo.

A repreensão na presença de todos, prevista em I Tm.5:20, é para conhecimento do que que está acontecendo, para notícia do estado doentio do pecador, a fim de que todos vão ao seu encontro e o ajudem na sua restauração, a ser feita em lugar reservado, livre dos olhos dos curiosos, livre da especulação e da humilhação. Aprendamos esta linda lição com Davi. 

– Vendo os amonitas que haviam ultrajado Davi e que haviam dado causa a uma guerra, contrataram mercenários entre os siros de Bete-Reobe e os siros de Zobá, como também junto ao rei de Maaca e aos homens de Tobe, num total de trinta e três mil homens ?(I Sm.10:6; I Cr.19:6,7). 

– Davi, então, enviou Joabe e todo o exército dos valentes. Joabe dividiu o exército em duas linhas, pondo Abisai, seu irmão, sobre uma delas, liderando a outra, tendo obtido grande vitória sobre os inimigos (II Sm.10:9-16; I Cr.19:6-15).

Como os siros se reorganizassem, o próprio Davi assumiu o comando do exército e foi guerrear contra eles, impondo-lhes grande derrota, a ponto de todos os servos de Hadade-Ezer, rei de Zobá, dalém do rio, terem feito paz com Davi, que, assim, conseguia aliança inclusive com povos que viviam além do rio Eufrates, aumentando sua área de influência (II Sm.10:17-19; I Cr.19:16-19). 

II – O NEGÓCIO DE URIAS, O HETEU 

– Os mercenários aliados de Amom haviam sido fragorosamente derrotados e decidiram fazer paz com Israel e não mais socorrerem os amonitas (II Sm.10:19; I Cr.19:19).

Restava, então, terminar o conflito com a sujeição de Amom, pois os amonitas haviam sido derrotados mas retornado para as suas cidades, não tendo sido feita a paz entre Israel e Amom. A guerra estava, portanto, inacabada. 

– Decorrido um ano deste embate, quando se tinham as condições climáticas necessárias para o reinício da guerra (pois, durante o inverno, não havia como guerrear), em vez de Davi prosseguir a campanha militar, mandou que Joabe comandasse o exército e liderasse a invasão e sujeição de Amom (II Sm.11:1).

Assim como havia feito no início da batalha anterior, Davi omitiu-se, preferindo ficar no palácio do que liderar o seu exército. Joabe, é certo, era o comandante do exército (II Sm.8:16), mas Davi sabia que era sua a função de liderar o povo nesta empresa, tanto que o texto sagrado diz que era aquele “o tempo em que os reis saem”. 

– Davi estava acostumando-se com o palácio, com as benesses de ser rei e já não demonstrava o mesmo empenho de antes.

No tempo de os reis saírem para a guerra, resolveu ficar no palácio, na ociosidade.

Este seu gesto foi a porta de entrada para o seu maior fracasso espiritual e nos traz um importante ensino, qual seja, o de que o ócio não é uma conduta que se deva ter entre os servos do Senhor. Jesus jamais foi ocioso, mas disse que trabalhava como o Seu Pai (Jo.5:17).

De igual maneira, nós, integrantes do corpo de Cristo, temos de trabalhar constantemente (I Co.15:58), pois não é aqui o nosso descanso, por causa da corrupção que destrói, que destrói grandemente (Mq.2:10). 

– Vivemos dias em que o ócio é o grande sonho e desejo dos homens. O trabalho tem sido dia após dia aviltado e os trabalhadores cada vez mais explorados e tornados indignos.

O que mais se busca é “sombra e água fresca”. Recentemente, uma pesquisa do IBGE revelou que, no Brasil, em 2018, mais de 10,8 milhões de jovens entre 15 a 29 nos são ociosos, não estudam, trabalham ou ajudam em casa. Que fazem estas pessoas senão o que não presta?

Como já diziam os antigos, “mente desocupada é oficina do diabo” e isto é uma realidade à luz das Escrituras, visto que é na ociosidade que a mente é recheada de maus pensamentos e de tudo aquilo que desagrada a Deus.

 – O ócio, por primeiro, fez com que Davi dormisse até tarde. Davi só se levantou do seu leito na hora da tarde e, como não tinha o que fazer, passeava no terraço da casa real, quando viu uma mulher se lavando, mulher mui formosa à vista.

O ócio proporciona tais circunstâncias. O rei estava no palácio, onde não deveria estar; acordou num horário em que não deveria acordar e acabou fazendo o que não deveria fazer, que era passar no terraço real. A mulher se lavava e ele passou a observá-la, o que não deveria também fazer. 

– Muitos procuram dizer que Davi não era o único culpado, porque a mulher também estava a se exibir, a se manter sob a mira dos olhares de Davi, a fim de seduzi-lo.

O texto bíblico não nos diz que a mulher estivesse se lavando em local inapropriado, nem que ela o fazia de modo indevido, com intenção de chamar a atenção do rei.

O ócio de Davi era a raiz de todas as coisas e, mesmo se a mulher tenha querido se exibir, somente o fez porque Davi deu esta ocasião, deixando de fazer o que lhe era devido, para ficar sem fazer coisa alguma, enroscando-se com as ciladas do adversário.

Obs:  Sobre o assunto, achamos oportuno aqui registrar o pensamento de Valdenira Nunes Menezes da Silva, que entendemos ser extremamente adequado e apropriado a respeito:

“…Estes versículos nos fazem pensar um pouco sobre o caráter da personagem central do nosso estudo – Bate-Seba. A Bíblia nos diz que ela era uma cordeira.

E quais são as características de uma cordeira, de uma ovelha? Ela é mansa, seguidora fiel do seu dono, o pastor, calada, nada reclama. O Senhor comparou-a a uma cordeirinha, mas muitos de nós a chamamos de adúltera.

E você, amada irmã, como classificaria Bate-Seba? Adúltera ou cordeirinha?

Nós não conhecemos o coração de Bate-Seba mas Deus ‘… sabe os segredos do coração’ (Sal 44:21b).

Não sabemos e não podemos acusá-la de ter tomado banho no jardim de sua casa, propositalmente, para ser vista pelo rei.

Como era para o rei Davi estar no campo de batalha, ficando na cidade apenas os velhos, as mulheres e as crianças, é impossível julgarmos já que a Bíblia não nos revela a intenção dela.

Não podemos colocá-la no banco de réus e taxá-la de ADÚLTERA porque não existe prova suficiente para tal acusação.

Eu não posso julgá-la mas Deus pode, pois só Ele conhece o coração do homem. Só Ele sabe o que aconteceu naqueles momentos.

Uma lição muito importante podemos tirar de toda esta tragédia: O BANHO EXTERIOR É IMPORTANTE E NECESSÁRIO SE, JUNTO A ELE, VIER O BANHO INTERIOR – A PUREZA DA ALMA, UM CORAÇÃO PURO, SINCERO E CHEIO DE AMOR PELO PRÓXIMO.

Mesmo o Senhor tendo-a chamado de cordeira, mesmo nós não sabendo se ela foi culpada ou inocente, ela foi castigada:

a- Ela engravidou.;

b- Ela perdeu o seu marido Urias que morreu no campo de batalha.;

c- Ela perdeu seu filho recém-nascido.…” (Bate-Seba: uma cordeira inocente? Disponível em: http://br.geocities.com/Bereanas/Bate-Seba-UmaCorderinhaInocente.htm Acesso em 13 out. 2009) 

– Davi viu a mulher e a achou formosa à vista. Olhar não era ruim, mas permanecer olhando e cobiçar a mulher já representou o pecado.

Davi nem sabia quem era a mulher, mas sabia que não era nenhuma das suas mulheres, mas a cobiçou, o que já se constituiu em adultério aos olhos do Senhor (Mt.5:28).

Não há como escaparmos do pecado, que jaz à porta, ou seja, está “de tocaia” (Gn.4:7), se deixarmos o lugar em que Deus nos pôs para trabalhar.

Quem sai de debaixo do esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente (Sl.91:1), não tem descanso e tropeçará na vida espiritual.

 

 

– Não bastasse estar fora do lugar onde deveria estar, pois era tempo de os reis saírem à guerra e Israel estava em guerra contra Amom, Davi ainda se deixou levar pelo olhar.

Devemos ter muito cuidado com nossos olhos, pois eles são a candeia do corpo (Mt.5:22,23). Se a candeia do corpo não for luz, mas trevas, diz-nos o Senhor Jesus, quão tenebroso é o nosso estado.

Vivemos na “era do audiovisual”, em que a visão é primordial e tem sido uma grande, poderosa arma do adversário contra os que querem servir a Deus.

Tomemos cuidado para que não sejamos atingidos pela “concupiscência dos olhos”, como aconteceu com Davi. 

– Davi quis saber quem era aquela mulher e lhe disseram que era Bate-Seba, filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu(II Sm.11:3), um dos valentes de Davi (II Sm.23:39; I Cr.11:41).

Davi, mesmo sabendo que se tratava da mulher de um de seus soldados, mandou trazê-la e entrou a ela, deitou-se com ela e manteve com ela um relacionamento amoroso a ponto de engravidá-la (II Sm.11:3-5). 

– Vemos, nitidamente, que a falta de vigilância que deu origem à “concupiscência dos olhos”, tornou-se, rapidamente, em cobiça da própria mulher, a “concupiscência da carne”.

Davi não mais se continha em seu desejo de possuir aquela formosa mulher e, mesmo sabendo que se tratava de uma mulher casada, casada, inclusive, com um de seus valentes, não se controlou e acabou por mandar chamá-la e levá-la ao ato sexual, ao relacionamento amoroso indevido.

Bate-Seba, cujo nome significa “filha do juramento” ou “sétima filha”, não se indispôs com o rei, mas consentiu com aquele ato pecaminoso.

Consumava-se o adultério, algo completamente desagradável ao Senhor (Ex.20:14; Dt.5:18).

 

– A tradição judaica diz que Bate-Seba era neta de Aitofel, o grande conselheiro de Davi, identificando o Eliã mencionado em II Sm.11:3 com o mencionado em II Sm.23:34, outro dos valentes de Davi.

Em razão disto, a literatura rabínica vê Bate-Seba como uma mulher muito sábia e inteligente, que teria sido decisiva na formação de seu filho Salomão e no seu interesse para ser sábio quando assumiu o reino de Israel em lugar de seu pai.

Entretanto, segundo os rabinos, Bate-Seba era de mui tenra idade quando foi seduzida por Davi. Dizem alguns que tinha pouco mais de 8 anos e outros, não mais do que 16. 

– O fato é que Davi pecou com Bate-Seba e esta, ao engravidar, mandou que se desse a notícia ao rei. Davi, então, mostrando que, além de ter cedido à “concupiscência dos olhos” e à “concupiscência da carne”,

também havia sido atingido pela “soberba da vida”, não assumindo o pecado cometido, procurou armar um estratagema para que a criança concebida por Bate-Seba fosse considerada como filho de seu marido.

Urias estava na batalha contra Amom e, por isso, Davi mandou que fosse chamado para Jerusalém, pois, pensava que, assim fazendo, Urias se deitaria com Bate-Seba e o filho nela existente seria atribuído a seu marido (II Sm.11:6). 

– Vemos aqui que Davi, de modo arrogante, não se arrependeu de seu pecado, mas procurou maquiálo, escondê-lo aos olhos do povo. Triste coisa é a opção por encobrir o pecado em vez de confessá-lo.

Quem encobre as transgressões, diz o proverbista, nunca prosperará, mas somente o que confessa e deixa alcança misericórdia (Pv.28:13). 

– Como bem ensina o pastor e teólogo José Mathias Acácio, não há maior tolice do que tentar esconder um pecado, pois pecado é uma ofensa a Deus e de Deus nada se oculta, pois Ele tudo sabe, Ele tudo vê.

Assim, quando se tenta esconder um pecado, daquele que quem o pecado deveria ser escondido, já é manifesto e nenhuma utilidade há ocultar o pecado dos demais, pois pecado é um assunto entre nós e Deus. Gasta-se, pois, energia inutilmente quando se procura ocultar um pecado. Pensemos nisto! 

– Para se manter o pecado encoberto, praticam-se outros pecados. Davi, não querendo confessar sua culpa, tratou de chamar Urias da batalha, tendo, então, para disfarçar, procurado obter informações de Urias com relação à batalha.

Depois de ter recebido as informações de seu fiel valente, mandou que Urias descesse à sua casa e lavasse os seus pés. Entretanto, Urias não foi para a sua casa, preferindo ficar com os servos de Davi no palácio real.

Isto fez porque havia um costume entre os soldados de não irem a suas casas enquanto perdurasse a batalha, não se sentindo digno de desfrutar do bem-estar de seu lar enquanto seus companheiros estavam no campo de batalha (II Sm.11:8-11). 

– Urias mostrava assim sua fidelidade e dedicação para com o rei Davi e seu exército.

Tendo informado o rei de tudo o que se passava na guerra, preferiu ficar com os servos do rei no palácio, aguardando a ordem para retornar ao campo de batalha, de que desfrutar de benesses que não seriam jamais alcançados por seus companheiros de luta.

Urias era solidário com os seus companheiros, sabia que estava numa guerra, que lugar de soldado era no campo de batalha, e que não poderia se valer de uma circunstância momentânea para sair da disciplina militar, da sua condição de soldado. 

– Que contraste entre Davi e Urias. Enquanto Davi se encontrava fora do seu devido lugar, no palácio, adulterando em vez de estar no campo de batalha pelejando pelo seu povo, Urias, mesmo no palácio, podendo legitimamente ter a companhia de sua mulher, não saía de sua posição de soldado que está na luta. Como temos procedido:

temos nos deixado levar pelas circunstâncias e passado a usufruir das vantagens que se nos oferecem na obra de Deus para nosso deleite próprio, ou temos buscado estar ombro a ombro com os nossos irmãos que, como nós, estão lutando para chegar ao céu?

 Infelizmente, não são poucos os que têm cedido às ofertas aparentemente legítimas dos Davis, para se esquecerem das necessidades e agruras dos irmãos e entrar no ritmo das benesses e mordomias que tanto têm depauperado a obra do Senhor… 

– Ainda que entendamos que Urias tenha procurado não escandalizar seus companheiros de luta e se manter firme com os costumes militares então vigentes,

não procurando desfrutar daquilo que poderia fazer legitimamente, pois Bate-Seba era sua mulher, não podemos, também, deixar de verificar aqui que Urias, ao se prender a um costume militar

(costume, aliás, que não tinha origem judaica, mas dos próprios moradores de Canaã, como ensina Robertson Smith em sua “Religião dos Semitas”, segundo a Enciclopédia Judaica – disponível em: http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=425&letter=B  Acesso em 13 out. 2009), acabou, também, por sobrepor a tradição à sua própria vida familiar.

Urias nem sequer, apesar de ter autorização real, foi até sua casa para saber como estava Bate-Seba, sendo, pois, um perfeito tipo daqueles que têm sacrificado suas famílias em prol da vida ministerial e/ou eclesiástica,

atitude que não tem respaldo bíblico e que causa a destruição de muitos lares e, por conseguinte, de muitos ministérios, uma das grandes chagas de nossas igrejas locais. 

– Se é certo que Urias não deveria ter desfrutado da oportunidade para ter um relacionamento íntimo com sua mulher, pois isto escandalizaria seus companheiros militares, não é menos certo que deveria, ao menos, ter ido ver sua mulher, que não se sentiria assim desprezada ou abandonada.

Bate-Seba estava, como se vê, numa situação de carência afetiva quando foi chamada por Davi, situação que muito contribuiu para que o adultério se consumasse. 

– Nos dias hodiernos, não tem sido diferente. Muitos têm, em nome da obra de Deus, negligenciado suas mulheres, as deixado de lado, tornando-as presas fáceis dos “Davis” que estão a observá-las e a considera-las formosas e a lhes oferecer o carinho que tem sido negado por seus maridos.

Aliás, nos dias de hoje, não são apenas homens que têm se oferecido para suprir estas carências afetivas, mas muitas mulheres, o que tem contribuído enormemente para o aumento do lesbianismo.

Precisamos acordar enquanto é tempo, não permitindo que o desprezo e menosprezo do cônjuge, notadamente da mulher, cuja sensibilidade é mais aguçada, seja a cunha, a porta de entrada para que o inimigo promova a destruição dos lares dos servos do Senhor. 

– Urias recusou-se a ir até sua casa, mesmo quando indagado por Davi a respeito e, então, Davi partiu para outra armadilha.

Convidou Urias para comer e beber, embebedando-o para ver se, embriagado, não se conteria e iria descer à sua casa, a fim de saciar-se com sua mulher.

Neste gesto de Davi, altamente reprovável, vemos, porém, uma importante lição:

a de que a embriaguez por álcool ou quaisquer outras substâncias faz reduzir o nosso autocontrole, motivo assaz suficiente para que não seja uma conduta a ser seguida pelos que cristãos dizem ser (Pv.23:29-35), que devem produzir o fruto do Espírito, que tem como um dos Gomes a temperança, o autodomínio (Gl.5:22). 

– Urias embriagou-se, mas a embriaguez não foi tal que o fizesse mudar de propósito.

Apesar de ébrio, Urias não desceu à sua casa, mantendo-se entre os servos no palácio real (II Sm.11:12-15). Com esta atitude de fidelidade e lealdade aos costumes e aos companheiros, Urias, sem saber, estava selando a sua própria morte.

Vendo Davi que Urias não havia ido até a sua casa, resolveu, então, matá-lo e, numa sordidez terrível, fez com que o próprio Urias fosse o portador da ordem de seu assassinato.

– Joabe, ao ler a carta, não pensou duas vezes em seguir as ordens do rei. Fê-lo não por lealdade a Davi, mas, sobretudo, para ter uma “carta na manga”, para ter uma grande vantagem em relação ao rei que, como sabia, não o havia posto no comando do exército voluntariamente e que tinha desaprovado o assassinato de Abner.

Joabe viu a grande oportunidade de ver Davi igualar-se a ele em ignonímia, em ver o rei se tornar um criminoso puro e simples. Além do mais, Joabe, como os filhos de Zeruia em geral, tinham enorme prazer em matar. 

– Urias, então, foi assassinado, com a espada dos amonitas, visto que foi deixado só e abandonado na linha de frente da batalha, não tendo chance alguma para se defender.

Aos olhos dos homens, Urias havia morrido por causa de uma fatalidade, em lealdade a seu rei, numa manobra completamente equivocada e que foi até objeto de desaprovação por Davi, ao receber a notícia, até que soubesse que tudo havia sido feito para que Urias fosse morto ( II Sm.11:16-25). 

– Vemos, de imediato, como a luta para encobrir um pecado fez com que outros pecados fossem cometidos.

Davi traiu um de seus melhores soldados e o assassinou, ainda que com a espada dos amonitas.

Davi perdeu, ademais, toda a sua autoridade moral perante Joabe, tendo, inclusive, de justificar e desculpar um erro crasso de batalha, a fim de que o pecado encoberto se mantivesse ignorado do povo.

O grande rei Davi, o ungido do Senhor, agora era tão somente um adúltero, um assassino, um hipócrita, alguém que tolerava os mais absurdos erros militares. Tudo porque não quisera encobrir o seu pecado.

 – O mesmo sucede aos que servem a Deus e, ao pecar, em vez de pedirem perdão a Deus por Jesus Cristo, como nos determinam as Escrituras (I Jo.2:1,2), preferem esconder seu erro e criam artifícios e ardis para que o pecado se apresente como uma fatalidade, uma ocorrência normal.

Aos israelitas, morrera um valente em uma peleja, uma fatalidade, algo que “não pareceu mal”, como disse Davi ao mensageiro de Joabe. Perdera-se a dignidade, a autoridade e a santidade.

O errado parecera certo e o certo, errado. Eis a situação lamentável em que se encontram muitas vidas e igrejas locais nestes dias de apostasia. Que Deus nos guarde! 

– Urias morreu em batalha. Passados os dias de luto, Davi chamou Bate-Seba e se casou com ela, Bate-Seba deu à luz um filho.

Parecia que tudo estava resolvido, que Davi havia muito bem escondido seu pecado e que poderia muito bem continuar a sua vida. “Porém esta coisa que Davi fez pareceu mal aos olhos do Senhor” (II Sm.11:27). 

III – A DESCOBERTA DO PECADO DE DAVI E O ANÚNCIO DA SUA PUNIÇÃO

– Quando talvez Davi nem se lembrasse mais de todos os males que havia cometido, eis que aparece o profeta Natã e, numa audiência pública, conta ao rei a história de dois homens, um rico, com muitíssimas ovelhas e vacas e outro pobre,

que não tinha coisa nenhuma senão uma pequena cordeira, que tinha crescido com ele e com seus filhos igualmente.

Vindo um viajante, o rico, ao hospedá-lo, mandou matar a ovelha do pobre, em vez de matar algumas de suas próprias ovelhas.

Davi, ao ouvir esta história, não deixou nem que o profeta a concluísse e, enfurecido, disse que o rico era digno de morte e que pela cordeira que tomara teria de restituir o quádruplo, porque havia feito tal coisa e não havia se compadecido do pobre (II Sm.12:1-6). 

– Vemos, neste ponto, que Davi estava mesmo cauterizado com o pecado cometido.

Nem sequer pensou no que havia feito com Urias. Pelo contrário, num desequilíbrio impróprio a um homem prudente como era, nem deixou o profeta terminar a sua história e proferiu o julgamento com grande alarde, considerando o homem rico como autor de furto premeditado, impondo-lhe a pena correspondente a esta espécie de furto (Ex.22:1; Dt.24:7).

O tão prudente Davi, depois do pecado, tornara-se um “santarrão”, alguém que fazia questão de se mostrar santo, justo e imparcial. 

– Devemos tomar muito cuidado com os que se esforçam para aparecer santos, com os “santarrões”, com os “modernos fariseus”, que impõe fardos difíceis de carregar para os outros, mas que têm uma vida completamente diferente daquela que pregam.

A “santarronice”, ou seja, a “santidade aparente, impiedosa, estridente, escandalosa” não é uma santidade sincera, mas um sinal de hipocrisia, de vida dupla, de corações de duplo ânimo que, para o público, aparece como santo e limpo, mas que, no oculto, são verdadeiras “carniças”, escravos do pecado. Tomemos cuidado com este tipo de gente!

OBS: Por absolutamente oportuno, transcrevemos aqui poema de Gregório de Matos Guerra, um dos principais poetas brasileiros do século XVII, que fala precisamente sobre a hipocrisia, que era tão comum na capital brasileira da época, Salvador, mas que hoje, nos dias em que vivemos, está disseminada em toda a igreja não só no Brasil mas em todo o mundo: 

                                     Anjo Bento

                               Gregório de Matos

 

Destes que campam no mundo

Sem ter engenho profundo

E, entre gabos dos amigos,

Os vemos em papafigos

Sem tempestade, nem vento:

 

Anjo Bento!

 

De quem com letras secretas

Tudo o que alcança é por tretas,

Baculejando sem pejo,

Por matar o seu desejo,

Desde a manhã té à tarde:

 

Deus me guarde!

 

Do que passeia farfante,

Muito prezado de amante,

Por fora luvas, galões,

Insígnias, armas, bastões,

Por dentro pão bolorento:

 

Anjo Bento!

 

Destes beatos fingidos,

Cabisbaixos, encolhidos,

Por dentro fatais maganos,

Sendo nas caras uns Janos:

Que fazem do vício alarde:

 

Deus me guarde!

 

Que vejamos teso andar

Quem mal sabe engatinhar,

Muito inteiro e presumido,

Ficando o outro abatido

Com maior merecimento:

 

Anjo Bento!

 

Destes avaros mofinos,

Que põem na mesa pepinos,

De toda a iguaria isenta,

Com seu limão e pimenta,

Porque diz que o queima e arde:

 

Deus me guarde!

 

– Davi estava desequilibrado na sua distribuição de justiça. Diz a Bíblia que “se acendeu em grande maneira contra aquele homem”.

Era sinal da sua “santarronice”, de sua hipocrisia, algo a que devemos atentar em nosso dia-a-dia, em nossa igreja local. 

– O profeta, então, numa atitude extremamente corajosa e que é própria de um homem de Deus, sem dar voltas e de forma direta, disse que aquele homem da história era o próprio rei Davi que,

apesar de ter sido ungido rei sobre Israel e ter tido a oportunidade de ter tomado para si tantas mulheres e tanto poder, havia desprezado a palavra do Senhor, fazendo mal diante dos Seus olhos, ferindo à espada Urias,

o heteu e tomado a sua mulher como mulher e matando Urias com a espada dos filhos de Amom (II Sm.12:7-9). 

– Numa só tacada, o Senhor revelara todo “o negócio de Urias, o heteu”, algo que ninguém tinha conhecimento até então.

Joabe sabia do assassinato, mas não sabia do adultério, porque estava no campo da batalha quando ele aconteceu.

Os servos palacianos podiam saber do adultério e das artimanhas para que Urias fosse até sua casa, mas não sabiam do assassinato de Urias, porque viviam no palácio.

Somente Davi de tudo sabia e tudo procurara esconder, mas além de Davi outrem também sabia de tudo: Deus, que tudo vê (Jó  31:4; 34:21). 

– Não nos iludamos, amados irmãos. Tentar encobrir pecado é uma atitude tola e insensata.

Pecado é uma transgressão contra Deus. Assim, quando procuramos encobrir o pecado, estamos tentando esconder uma transgressão contra o Senhor.

Ora, quem é o único que certamente viu o nosso pecado? Precisamente, o Senhor.

Ora, então de que adianta encobrirmos os pecados dos outros homens, se pecado é um assunto entre nós e Deus e Deus sempre nos vê pecar?

Não é um desperdício de tempo e de energia sem qualquer sentido?

Como diz o profeta Isaías: “Ai dos que querem esconder profundamente o seu propósito do Senhor!

Fazem as suas obras às escuras e dizem: Quem nos vê? E quem nos conhece?” (Is.20:15). 

– Davi parecia ter feito tudo perfeito, ninguém jamais conseguiria descobrir o que havia feito. Enganou-se.

Deus tudo viu e tudo revelou, a fim de que o rei pudesse se arrepender. Deus tudo revelou porque não há a mínima possibilidade de escondermos algo do Senhor, que tudo conhece (Sl.139:1-3), como, aliás,

o próprio Davi tinha cantado durante a trazida da arca par Jerusalém, segundo Reese (o organizador da Bíblia em ordem cronológica), que considera que Davi compôs este salmo durante a vinda da arca para Jerusalém. 

– Se se discute se existe crime perfeito, tenha-se a convicção de que não há pecado perfeito.

O crime pode não ser descoberto pelo Estado (pois o crime é uma ofensa contra o Estado, contra a sociedade), que é imperfeito e não tem condições de sempre descobrir quem praticou um crime, mas ninguém, absolutamente pessoa alguma conseguirá encobrir qualquer pecado.

Assim como aconteceu com Davi, que teve tudo revelado e ainda com chance de se arrepender, assim ocorrerá no dia do juízo do trono branco, quando se abrirão os livros e todos que não participarem da primeira ressurreição serão julgados pelo que fizeram durante sua existência terrena (Ap.20:4-6,11-15).

Que possamos ter tudo revelado pelo Espírito Santo e tenhamos condição de nos arrepender a tempo, para que sejamos participantes da segunda ressurreição, antes que venha o juízo, que será sem misericórdia (Tg.2:13). 

– Natã teve grande coragem. Sabia a mensagem que deveria dar ao rei e, certamente, era grande o risco que o rei, enfurecido, viesse matá-lo. Mas Natã não teve por preciosa a sua vida, mas tinha plena consciência da sua responsabilidade como profeta do Senhor.

Era imperioso que transmitisse a mensagem vinda da parte de Deus, ainda que fosse a revelação de um pecado oculto, ainda que fosse a revelação de erros lamentáveis da parte do rei.

Que tenhamos a mesma coragem que teve Natã, jamais deixando de falar a verdade ao povo de Deus, custe o que custar, doa a quem doer. 

– Em seguida à mensagem de revelação do pecado encoberto, Natã também pronunciou a sentença divina:

“não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para que te seja por mulher;

suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol, porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol” (II Sm.12:10-12). 

– Vemos nesta sentença divina, a famosa “lei da ceifa”, que Paulo tratará em Gl.6:7,8 e o profeta Oseias em Os.8:7; 10:12,13, como também o proverbista em Pv.11:18,25; 12:14; 22:8, uma lei existente inclusive na natureza, chamada de Terceira Lei de Newton, que nos diz que “Para cada ação há sempre uma reação, oposta e de mesma e intensidade.” 

– Davi havia usado a espada dos filhos de Amom para destruir uma família e matar Urias.

De igual maneira, a espada não sairia de sua casa, destruindo-a e, inclusive, matando seus familiares.

Dali para a frente, vemos no relato bíblico como a espada realmente não saiu da casa de Davi:

Amnom, seu filho primogênito, foi morto por ordem de seu meio-irmão Absalão, quando estava embriagado pelo vinho (I Sm.13:28).

 Absalão, por sua vez, também foi morto por ordem de Joabe, o mesmo Joabe que fez com que Urias fosse morto com a espada dos filhos de Amom (II Sm.18:14,15).

Por fim, Adonias acabou também morto por ordem de seu meio-irmão Salomão (I Rs.2:23,24).

Pela morte causada, três mortes, uma a menos que o quádruplo sentenciado pelo rei ao homem rico.

OBS: “…O agudo grito de angústia com o qual ele [Davi, observação nossa] recebeu a notícia do falecimento de Absalão foi apenas um débil eco da agonia do coração que experimentou aquela morte e muitas outras,

como parte da colheita da concupiscência e engano por ele mesmo semeado tantos anos antes…” (JONES, T.H. Davi. In: DOUGLAS, J.D.(org.). O novo dicionário da Bíblia. Trad. de João Bentes, v.1, p.393). 

– Teria havido misericórdia da parte de Deus e teria Davi perdido um filho a menos que os quatro que ele havia desejado ao rico da história contada pelo profeta?

Não, não houve misericórdia. Não devemos nos esquecer que o primeiro a morrer foi o filho de Davi com Bate-Seba, que adoeceu logo após a revelação do pecado.

Aqui a espada foi a do próprio Senhor contra Davi, que confirma o quádruplo, visto que Davi havia, certamente, “furtado” a ovelha única de Urias (II Sm.12:15,19). 

– Davi havia desonrado o leito de Urias, trazendo Bate-Seba para deitar-se com ele no palácio e, inclusive, tentando embebedar Urias para que ele fosse até sua casa e ali se deitasse com sua mulher.

Fez isto de modo oculto, pois apenas tomou Bate-Seba por mulher, publicamente, após o luto dela pelo seu marido. Davi haveria de ser desonrado publicamente por um próximo seu.

Com efeito, Absalão, assim que entrou em Jerusalém, após ter destronado seu pai, fez questão de desonrar o leito paterno, abusando das dez concubinas que Davi havia deixado no palácio, cumprindo-se assim a profecia de Natã.

A desonra clandestina e oculta foi paga com uma desonra pública e notória (II Sm.16:20-22). 

– Diante desta revelação e da sentença divina, que fez Davi? Como rei, poderia ter mandado matar ou encarcerar Natã, pois tinha poderes para tanto, como, aliás, fizeram posteriormente alguns reis de Israel e de Judá, como Acabe (I Rs.22:25-28), inclusive alguns que eram tementes a Deus, como, por exemplo, Asa (II Cr.16:10).

No entanto, Davi, ao receber a mensagem divina, caiu em si e se arrependeu de seu pecado.

Publicamente, na mesma hora, reconheceu seu erro, dizendo: “Pequei contra o Senhor” (II Sm.12:13). 

– Davi mostrou, uma vez mais, que era um homem segundo o coração de Deus. Havia pecado de maneira altamente reprovável, nem parecia ser o homem que Deus havia escolhido para governar o Seu povo.

Mas, confrontado com o pecado, reconheceu seu erro e, inclusive, compôs o Salmo 51.

Este tema é assunto de nossa próxima lição, mas, desde já, podemos ver que, como homem, Davi pecou, mas, como era segundo o coração de Deus, reconheceu o seu pecado e, por isso, alcançou a misericórdia de Deus.

Com Davi aprendemos que não há outro caminho senão o de confessarmos os nossos pecados, pois Deus está pronto a nos perdoar. Como disse Isaías:

“Buscai a Deus enquanto se pode achar, invocai-O enquanto está perto.

Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que Se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” (Is.55:6,7). 

– No mesmo instante em que Davi confessou o seu pecado, arrependido, o Senhor o perdoou. O profeta Natã foi claríssimo: “Também o Senhor traspassou o teu pecado; não morrerás” (II Sm.12:13).

Quem confessa o pecado, não fica sem o perdão divino. O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm.6:23).

Quando nos arrependemos dos nossos pecados e cremos em Jesus Cristo, passamos da morte para a vida, não entramos em condenação (Jo.5:24). 

– Davi foi imediatamente perdoado, assim como sua mulher Bate-Seba. Houve arrependimento e, com o arrependimento, sobrevém o perdão.

Entretanto, o perdão do pecado não significa que as consequências do pecado não ocorrerão.

Deus quis salvar o homem e podia fazê-lo pois é o Senhor de todas as coisas, mas também estabeleceu a lei da ceifa, de sorte que as consequências do pecado teremos de carregar até o final de nossa existência terrena.

Deus não Se deixa escarnecer, Deus não abre mão de Sua autoridade e majestade, de Seu senhorio e, por isso, jamais deixa que as consequências do pecado sobrevenham aos pecadores.

Deus é amor e, por isso, alcançamos o perdão dos nossos pecados, visto que o preço já foi pago por Jesus na cruz do Calvário (I Jo.2:1,2), mas as consequências de nossos atos pecaminosos nos seguem, pois Deus é um Deus de justiça. 

– Quais seriam estas consequências? É o que veremos, amiúde, na próxima lição.  

Ev.  Caramuru Afonso Francisco

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