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LIÇÃO Nº 1 – TIAGO — FÉ QUE SE MOSTRA PELAS OBRAS

Lição 01 Fé e obras

Damos início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical.

ESBOÇO Nº 1

A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE  

    Damos início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, um trimestre que denominamos bíblico, tendo em vista que estaremos a estudar um livro das Escrituras Sagradas, desta feita um livro do Novo Testamento, a Epístola de Tiago.

    Tiago é a primeira das chamadas “epístolas gerais”, “epístolas universais” ou, ainda, “epístolas católicas”, assim denominadas as cartas do Novo Testamento que não foram escritas pelo apóstolo Paulo e que têm uma característica que as distingue das “epístolas paulinas”, qual seja, a de que são dirigidas para a totalidade da Igreja e não para uma igreja local ou, mesmo, para uma pessoa, como ocorre nas cartas escritas por Paulo.

    Com efeito, Tiago endereça a sua carta para “as doze tribos que andam dispersas” (Tg.1:1), indicando, assim, num primeiro instante, que estaria a escrever aos judeus de todo o mundo, embora, num sentido mais preciso, esta expressão “doze tribos” queira estar a representar o próprio “povo de Deus”, o “Israel de Deus” mencionado pelo apóstolo Paulo em Gl.6:16, o que torna como destinatária a totalidade da Igreja, razão pela qual a carta é conhecida como “Epístola Universal de Tiago” ou “Epístola Católica de Tiago”, uma vez que “católico” em grego significa, precisamente, “universal”.

    Por se destinar à totalidade do povo de Deus, a carta de Tiago não está presa a questões concretas de uma ou outra igreja local, mas visa, sim, trazer ensinos que revelam a própria vida cristã como um todo.

    Um dos pontos principais que se encontra no ensino de Tiago à Igreja é, precisamente, o relacionamento entre a fé e as obras, circunstância que, ao longo da história da Igreja, chegou, mesmo, a gerar uma discussão sobre a canonicidade do escrito. Martinho Lutero não compreendeu bem esta epístola, pois achava que ela se contrapunha ao que Paulo escrevera na carta aos romanos, diante da ênfase que Tiago dá às obras.

    No entanto, ao contrário do que Lutero achava, o fato é que Tiago está em perfeita consonância com o estudo paulino a respeito da justificação pela fé, pois está tão somente mostrando que uma verdadeira fé se mostra através das obras, como, aliás, teremos oportunidade de verificar, ao longo do trimestre, seja na lição 1, que é uma lição introdutória da epístola de Tiago, seja na lição 7, quando veremos que a fé se manifesta em obras.

    Após uma lição introdutória a respeito da carta de Tiago, que é a lição 1, as demais lições seguem “pari passu” esta epístola, motivo por que não temos como dizer que haja propriamente blocos neste trimestre.

    A capa da revista deste trimestre traz a imagem de uma criança necessitada recebendo um pedaço de pão. Tal ilustração remete-nos, claramente, ao texto de Tg.2:14-17, quando o autor fala a respeito da necessidade de a fé do cristão se traduzir em obras, pois se um irmão ou irmã tiver falta de mantimento cotidiano e nós simplesmente o despedirmos, sem lhe dar o necessário para o seu corpo, isto será de proveito algum, pois uma fé sem obras é morta em si mesma.

    A carta de Tiago, como afirma a Bíblia de Estudo Plenitude, “…é primariamente prática e ética, enfatizando o dever ao invés da doutrina. O autor escreveu para repreender à negligência vergonhosa de determinados deveres cristãos, Ao fazê-lo, ele analisou a natureza da fé genuína e estimulou seus leitores a demonstrar a eficácia de sua experiência do Cristo. Sua principal preocupação era a realidade na religião, e ele apresentou as reivindicações práticas do evangelho…”(BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.1298).

    Reside aqui uma extrema atualidade desta epístola para os nossos dias, visto que, até por circunstâncias históricas, notadamente a Reforma Protestante, há, entre os chamados “protestantes” ou “evangélicos”, uma tendência a menosprezar as “boas obras”, por causa de um equivocado conceito de que, já que as obras não salvam, não devem ser levadas em conta na vida cristã.

    A carta de Tiago é uma demonstração do conceito equivocado do menosprezo das obras. É evidente que a nossa salvação não provém das obras, para que ninguém se glorie (Ef.2:8,9), mas, como já afirma o próprio apóstolo Paulo ao falar sobre a salvação pela fé, a fé vem até nós para que andemos em boas obras (Ef.2:10).

    Quem é salvo, pratica boas obras, pois passamos a participar do corpo de Cristo e Jesus ficou conhecido por ter tido um ministério terreno onde andou fazendo bem (At.10:38). Destarte, o cristão, se participa da natureza divina, é uma pessoa que demonstra a sua fé por boas obras, algo que é mantido vívida em nossa mente na epístola de Tiago.

    Não é sem motivo, portanto, que o título do tema do trimestre é “Fé e obras” e o subtítulo  “ensinos de Tiago para uma vida cristã autêntica”, ao nos mostrar, portanto, que a ênfase dada na epístola de Tiago é sobre a necessária correlação entre a fé e as obras, pois, como nos lembra a ilustração da capa da revista, não é possível que se diga ter fé em Deus se não há prática de boas obras.

    O comentarista deste trimestre é o pastor Eliezer de Lira e Silva, pastor das Assembleias de Deus em Curitiba/PR, que já há alguns anos vem comentando as Lições Bíblicas.

    Que, ao término deste trimestre, mediante o estudo da carta de Tiago, saibamos bem demonstrar a nossa fé em Deus através de boas obras e, por meio delas, os homens glorifiquem ao nosso Pai que está nos céus (cf. Mt.5:16).

B) LIÇÃO Nº 1 – TIAGO — FÉ QUE SE MOSTRA PELAS OBRAS 

A carta de Tiago mostra-nos, claramente, que não há fé verdadeira que não se mostre por boas obras.

INTRODUÇÃO 

– Estamos dando início ao estudo da carta de Tiago, este escrito do irmão do Senhor que nos mostra, entre outras coisas, que uma fé verdadeira produz boas obras.

– Não há fé verdadeira em Cristo Jesus que não se mostre por boas obras.

I – A CARTA DE TIAGO 

– Estamos dando início a mais um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical, desta feita, um trimestre que denominamos “bíblico”, já que estaremos a estudar a Epístola de Tiago, a primeira das chamadas “epístolas gerais”, “epístolas universais” ou, ainda, “epístolas católicas”.

– A epístola de Tiago é uma das chamadas “epístolas gerais”, “epístolas universais” ou, ainda, “epístolas católicas”, porque se trata de uma carta que é endereçada a todos os crentes em geral, não sendo especificamente destinada a uma igreja local ou a uma pessoa em especial, como ocorre nas cartas do apóstolo Paulo.

– Conforme se verifica logo no seu início, a epístola é endereçada “às doze tribos que andam dispersas” (Tg.1:1). Esta expressão é entendida, por alguns, como sendo um indicador de que a carta se dirigia tão somente aos crentes judeus de todo o mundo.

– No entanto, quando verificamos o teor da carta, bem observamos que a expressão “doze tribos” aqui não se refere apenas à nação de Israel, mas, sim, a todo o povo de Deus, sendo quase que uma expressão sinônima de “Israel de Deus” que o apóstolo Paulo emprega em Gl.6:16.

Tal entendimento se corrobora ainda mais quando vemos que foi o próprio Tiago quem, no concílio de Jerusalém, conduziu aquela assembleia a aceitar que os gentios também integravam a Igreja e que, inclusive, estavam isentos de observar a lei judaica (At.15:13-21).

OBS: “…Esta carta é mais especificamente um ‘escrito de caráter impessoal, uma instrução ética dirigida de forma geral a todas as comunidades cristãs, designadas em conjunto como ‘as doze tribos que se encontram na Dispersão’ (1.1), título tirado da história judaica e com o qual expressa de forma figurada o novo Israel convocado por Cristo.…” (BÍBLIA DE ESTUDO ALMEIDA, p.341).

– Como afirma o príncipe dos pregadores britânicos, Charles Haddon Spurgeon (1834-1892): “Tiago chama os convertidos dentre as doze tribos seus irmãos. A Cristandade tem um poder de unir — ele tanto descobre como cria relacionamentos entre os filhos dos homens. Ele nos lembra dos laços da natureza e nos une com os laços da graça.

Todo o que é nascido  do Espírito de Deus é irmão de todos os outros que nasceram do mesmo Espírito. Nós podemos ser chamados de irmãos porque fomos redimidos pelo mesmo sangue!

Somos participantes da mesma vida; nós nos alimentamos da mesma comida celestial; nós estamos unidos à mesma Cabeça viva — buscamos os mesmos objetivos; amamos o mesmo Pai — somos herdeiros das mesmas promessas e moraremos para sempre juntos no mesmo céu! …” (SPURGEON, Charles H. Toda alegria em todas tribulações. Sermão pregado na manhã de domingo de 4 de fevereiro de 1883 no Tabernáculo Metropolitano de Newington, p.1. Disponível em:  http://www.spurgeongems.org/vols28-30/chs1704.pdf  Acesso em 13 maio 2014) (tradução nossa de texto em inglês).

– A epístola de Tiago tem como autor Tiago, que se identifica tão somente como “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”. Esta identificação permite-nos inferir que este Tiago que escreveu a epístola não é nenhum dos dois Tiagos que compunham o colégio apostólico, ou seja, Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João (Mt.10:6), conhecido como “Tiago Maior”, bem como Tiago, filho de Alfeu (Mt.10:3), conhecido como “Tiago Menor”.

– Que a epístola não foi escrita por “Tiago Maior” é quase que evidente, visto que este foi o primeiro apóstolo a ser martirizado (At.12:1), numa época em que ainda não havia se iniciada a escrita do Novo Testamento.

– Com relação ao “Tiago Menor”, também se tem como muito improvável que tenha sido ele o autor desta carta, tendo em vista que se trata de um apóstolo obscuro, que não tinha qualquer projeção maior nos escritos neotestamentários e que, portanto, pelo próprio contexto bíblico, não se apresenta como alguém que teria feito um escrito destinado a toda a Igreja.

– Não é o que ocorre com Tiago, o irmão de Jesus (Mt.13:55; Mc.6:3). Embora, durante o ministério terreno de Jesus Cristo, tenha sido um incrédulo (Jo.7:5), que, certa feita, quis, inclusive, prender a Jesus, tendo-o por um louco (Mc.3:21), o fato é que teve um encontro sobrenatural com o Cristo ressurreto (I Co.15:7), que foi fundamental para a sua conversão, tanto que, no dia de Pentecostes, estava ele entre os que foram revestidos de poder (At.1:14).

– O livro de Atos dos Apóstolos mostra que Tiago logo se sobressaiu entre os crentes na igreja de Jerusalém e, no concílio de Jerusalém, tudo indica que era ele o pastor daquela igreja, tanto que foi o que deu a última palavra naquela assembleia (At.15:13-21).

– Por três vezes, pelo menos, o apóstolo Paulo fala da proeminência de Tiago na igreja de Jerusalém. Em Gl.1:19, Paulo diz que, ao ir a Jerusalém depois de sua experiência com Cristo de três anos na Arábia, não encontrou os apóstolos em Jerusalém, a não ser Tiago, que, como se verifica, já estava a apascentar aquela igreja naquela ocasião. Em Gl.2:12, Paulo indica que alguns irmãos que foram a Antioquia vindos da igreja de Jerusalém, foram na condição de emissários de Tiago, a demonstrar que era Tiago o líder daquela igreja. Por fim, quando o apóstolo foi a Jerusalém após a sua terceira viagem missionária, vemos que ele se reporta a Tiago (At.21:18), em cuja casa se reúnem os anciãos da igreja.

– A confirmar estes escritos neotestamentários, temos o relato do historiador judeu Flávio Josefo, que, em seu livro Antiguidades Judaicas, relata que, por volta do ano 62 d.C., o sumo sacerdote Anano, aproveitando-se da ausência de um governador romano em Jerusalém, promoveu o julgamento e a morte de Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, por ser um “desobediente à lei”. Tal narrativa confirma, portanto, que Tiago era o líder cristão da igreja em Jerusalém.

 OBS: “…Morrendo Festo, Nero deu o governo da Judeia a Albino, e o rei Agripa tirou a grã-sacrificadura [o sumo sacerdócio, observação nossa] de José para dá-la a Anano. Anano, o pai, foi considerado como um dos homens mais felizes do mundo, pois gozou quanto quis dessa grande dignidade e teve cinco filhos que a possuíram também depois dele; o que jamais aconteceu a qualquer outro.

Anano, um dos que nós falamos agora, era homem ousado e empreendedor, da seita dos saduceus, que, como dissemos, são os mais severos de todos os judeus e os mais rigorosos nos julgamentos. Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não tinha chegado, para reunir um conselho, diante do qual fez comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, e alguns outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou ao apedrejamento. Esse ato desagradou muito a todos os habitantes de Jerusalém, que eram piedosos e tinham verdadeiro amor pela observância de nossas leis.…” (Antiguidades Judaicas XX, 8, 856. In: JOSEFO, Flávio. História dos hebreus, v.2, p.203).

– Vemos, portanto, que é extremamente razoável que esta epístola tenha sido escrita mesmo por Tiago, o irmão do Senhor Jesus, que ocupava uma posição de proeminência na igreja, sendo o pastor da igreja de Jerusalém.

– Deve-se, por fim, lembrar que existem muitos autores que confundem Tiago, filho de Alfeu (o “Tiago Menor”) com Tiago, o irmão do Senhor, conhecido como “Tiago, o Justo”. Esta confusão não tem qualquer cabimento, pois, como vimos, Tiago, filho de Alfeu foi um dos doze apóstolos, chamado pelo Senhor Jesus quando Tiago, o irmão do Senhor, nem ainda era crente, mas um opositor do ministério terreno de Cristo.

Esta confusão é, até certo ponto, deliberada, pois está vinculada ao dogma católico da virgindade perpétua de Maria, uma doutrina que não tem qualquer respaldo bíblico.

– Se Tiago, o irmão do Senhor, é o autor da epístola, ela foi escrita, portanto, até o ano de 62, ano de sua morte. Alguns entendem que a carta teria sido escrita por ocasião do concílio de Jerusalém, que se deu em por volta de 49 d.C., o que faria desta carta o mais antigo livro do Novo Testamento. A maior parte dos estudiosos, entretanto, assim não entende, dizendo que a carta de Tiago foi elaborada posteriormente, entre os anos 50 e 62, já que tudo indica que quem começou a escrever o Novo Testamento foi o apóstolo Paulo.

– Não é desarrazoado, porém, entender que a carta de Tiago tenha sido escrita diante do mesmo contexto de boa parte das cartas de Paulo, ou seja, da necessidade de se tornar entendida a questão da salvação dos gentios, mostrando que a fé em Cristo Jesus era suficiente para a salvação, mas, e aí vem o toque pessoal de Tiago, sob a inspiração do Espírito Santo, que esta justificação pela fé deveria ser demonstrada por meio da prática de boas obras.

– Tiago, assim, está como a lembrar os ensinos de Cristo no sermão da montanha, o chamado “sermão ético” do Senhor Jesus. Tiago, em sua carta, quer deixar bem claro aos cristãos que a salvação é comprovada pela prática de boas obras, a ecoar, assim, as palavras do Senhor, segundo a qual, Seus discípulos seriam conhecidos pelos seus frutos (Mt.7:15-23).

– Alguns procuram ver nesta peculiaridade uma intenção de Tiago em contrariar os ensinos de Paulo, posição, aliás, que foi acolhida por alguns ao longo da história da Igreja, em especial, Martinho Lutero, que chegou a ver uma incômoda contradição entre esta carta e os escritos paulinos, a ponto de considerar que a carta de Tiago seria um escrito não inspirado. Nada mais falso, porém.

– A própria passagem de Ef.2:8-10, onde o apóstolo Paulo fala claramente que a salvação não é pelas obras, está explicitamente afirmado que fomos criados em Cristo Jesus para as boas obras, ou seja, uma demonstração de que agora somos “novas criaturas”, que fomos salvos, é a prática das boas obras, precisamente o pensamento exposto na carta de Tiago. Como se isso fosse pouco, as cartas de Paulo são, via de regra, compostas de uma parte doutrinária e de uma parte prática, onde o apóstolo, de forma abundante, mostra que a salvação exige um determinado tipo de conduta, é demonstrada através de um determinado comportamento que se distingue dos que não têm a Cristo como Senhor e Salvador.

OBS: “…O apóstolo Tiago sempre foi muito prático. Ele nunca discrepou de Paulo, mas, enquanto Paulo se debruçou mais sobre o lado doutrinário da Palavra de Deus, Tiago, que nos deu apenas uma epístola, debruçou-se mais sobre o lado prático. Não tenho dúvidas que, se Paulo tivesse tomado os mesmos assuntos que Tiago, teria escrito no mesmo estilo…” (SPURGEON, Charles H. Um aviso aos que são como ondas. Sermão que se pretendia ler no domingo 3 de outubro de1897, mas que foi ministrado na noite do domingo de 25 de maio de 1884 no Tabernáculo Metroplitano em Newington, p.1. Disponível em http://www.spurgeongems.org/vols43-45/chs2537.pdf Acesso em 22 maio 2014) (tradução nossa de texto em inglês).

– O teor da epístola de Tiago remonta, mesmo, ao sermão ético de Cristo Jesus e tem uma nítida influência da cultura judaica, a ponto de o teólogo Finnis Jennings Dake ter afirmado que “…Tiago é mais direcionado aos judeus em seu conteúdo do que Mateus, o evangelho para os judeus; do que Judas e Apocalipse, e até mesmo Hebreus.…” (BÍBLIA DE ESTUDO DAKE, p.1972).

Os comentaristas da Bíblia de Jerusalém afirmam que “…Ele [Tiago, observação nossa] se inspira particularmente na literatura sapiencial, para extrair dela lições de moral prática. Mas depende também profundamente dos ensinamentos do Evangelho, e seu escrito não é puramente judaico, como algumas vezes se tem afirmado [inclusive o próprio Dake, observação nossa].

 Ao contrário, aí se encontram continuamente o pensamento e as expressões prediletas de Jesus e, também desta vez, menos na forma de citações expressas tiradas da tradição escrita, do que mediante a utilização de tradição oral viva [o que facilmente se explica, seja pela incipiência de escritos do Novo Testamento no tempo de sua escrita, seja pela própria origem da carta, ou seja, a igreja de Jerusalém, que, como ninguém, possuía a memória dos ensinos do Senhor – observação nossa].

Em suma, trata-se de um sábio jude-cristão que repensa de maneira original as máximas da sabedoria judaica em função do cumprimento que elas encontraram na boca do Mestre. Vemos seu ponto de vista cristão sobretudo no enquadramento apocalíptico em que situa seus ensinamentos morais. Esses ensinamentos mostram também sua afinidade com os do Evangelho de Mateus, mais judaico-cristão…” (BÍBLIA DE JERUSALÉM, p.2103).

– Segundo Finnis Jennings Dake (1902-1987), a epístola de Tiago tem 5 capítulos, 108 versículos, 24 perguntas, 100 versículos de história e 8 versículos de profecias cumpridas.

– Segundo alguns estudiosos das Escrituras que adotam a chamada “teoria da Bíblia como uma roda”, apresentada por Richard Amiel McGough, o livro de Tiago está vinculado à letra hebraica “sâmeque” (ס), cujo significado é o de “sustentáculo”.

– Para McGough, “…o livro de Tiago possui características diferentes que o distingue de todos os demais livros do Novo Testamento. É um corretivo para o potencial abuso das doutrinas da Sola Gratia e da Sola Fide, isto é, que a salvação é somente pela graça, somente pela fé. Sua forte ênfase na importância de uma real prática de boas obras confundiu grandemente Lutero (…) que ele chamou este grande livro como ‘uma carta de palha’.

 Parece-nos que, se Tiago é alguma espécie de palha, é a palha que deveria quebrar a parte de trás de algum camelo levando os fatos negados que testificam o desenho divino da Bíblia e sua integração com o alfabeto hebraico. Aqui em Tiago, o livro final do Raio 15 da Roda, que Deus revela o último significado último de ‘Sâmeque’ na mais ampla linguagem possível: ‘Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era.

Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito. Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã.

A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo.’ (Tg.1:23-27). Esta é a essência de ‘Sâmeque’: o sustento do corpo de Cristo, o Templo vivo de Deus…” (A Roda da Bíblia: a divina revelação da unidade da Bíblia Sagrada, pp.291-2. Disponível em: http://www.murraymoerman.com/1christ/scripture/BibleWheel.pdf  Acesso em 08 maio 2014) (tradução nossa de texto em inglês).

– Assim, a carta de Tiago mostra que o sustento de uma vida cristã, a sua autenticidade repousa na apresentação de boas obras, que, exteriormente, mostram a transformação operada no interior do homem pela fé em Cristo Jesus.

II – A ESTRUTURA DA CARTA DE TIAGO 

– A carta de Tiago apresenta-se como um característico sermão judaico e, como tal, repleto de ensinamentos, com vários assuntos, a exemplo do que ocorreu com o sermão da montanha, onde Jesus expôs a Sua doutrina, ou seja, o Seu ensino sobre diversos aspectos da conduta humana, a Sua “nova lei”.

– Assim sendo, a epístola de Tiago trata de diversos temas, o que torna até um certo ponto difícil estabelecer aqui uma estrutura, já que, ao contrário do que ocorre na maior parte das cartas paulinas, não se tem uma divisão nítida de temas e de questões a tratar.

– O autor vai desenvolvendo a sua obra passando de um assunto para outro, sem outra preocupação senão a de mostrar como deve ser a vida de alguém que diz servir a Cristo Jesus, de alguém que pertence ao “Israel de Deus”.

– Por isso mesmo, a divisão do livro de Tiago segue a sequência dos temas tratados na carta, de modo que, adotando como base a divisão da Bíblia de Estudo Pentecostal, podemos assim dividir a epístola de Tiago:

1. As provações e seu benefício (Tg.1:2-18), tema que pode ser subdividido em quatro:

a) a aceitação da provação como meio de crescimento – Tg.1:2-4;

b) a oração por sabedoria para lidar com as provações – Tg.1:5-8;

c) o regozijo pelo seu efeito nivelador nas pessoas – Tg.1:9-12;

d) o reconhecimento da diferença entre provação e tentação – Tg.1:13-18.

2. Ouvir a Palavra e praticá-la (Tg.1:19-27);

3. Ser imparcial e demonstrá-lo (Tg.2:1-13);

4. Professar a fé e comprová-la (Tg.2:14-26);

 5. Reconhecer ardis e evitá-los (Tg.3:1-5:6), tema que pode ser subdividido em seis:

 a) a língua desenfreada (Tg.3:1-12);

 b) a sabedoria terrena (Tg.3:13-18);

 c) a conduta pecaminosa (Tg.4:1-10);

d) falar mal de um irmão (Tg.4:11,12);

e) o mal da presunção (Tg.4:13-17);

 f) a riqueza egoísta (Tg.5:1-6).

6. Virtudes cristãs e sua prática (Tg.5:7-20), tema que pode ser subdividido em quatro:

 a) paciência e constância (Tg.5:7-11);

 b) genuína honestidade (Tg.5:12);

c) a oração eficaz pelos enfermos (Tg.5:13-18);

d) restauração dos desviados (Tg.5:19,20). 

– O primeiro tema de que trata Tiago é a respeito das provações ou tentações, que será o assunto da lição 2 deste trimestre. É extremamente instrutivo que Tiago comece a sua epístola falando das provações ou tentações, pois isto é como que um eco da última instrução deixada pelo Senhor Jesus aos Seus apóstolos antes do início do processo de Sua paixão e morte, como se verifica em Jo.16:33, quando afirmou que os Seus discípulos teriam aflições no mundo.

– Ao se dirigir às “doze tribos dispersas”, Tiago já adianta esta situação de aflição que vivia o povo de Deus. Eles se encontram na “dispersão”, na “diáspora”, sinal nítido de hostilidade do mundo em relação ao povo de Deus.

– A vida cristã autêntica, a vida cristã genuína jamais pode se desenvolver sem que esta realidade esteja bem presente, ou seja, de que vivemos num mundo hostil, num mundo que nos aborrece e que, por isso mesmo, estamos sempre passando por adversidades, pois, embora estejamos neste mundo, não somos dele (Jo.17:11,16).

– Logo de início, portanto, vemos como o ensino de Tiago discrepa de tudo quanto se tem ouvido em nossos dias, num falso evangelho que defende a acomodação da vida cristã com este mundo e, o que é mais grave, que prega que a vida cristã tem de ser necessariamente regalada sobre a face da Terra.  Tiago é claríssimo ao afirmar que a existência de provações é motivo de alegria para o cristão, pois ela é um meio para o nosso crescimento espiritual (Tg.1:2).

– Aqui se tem, inclusive, um outro ponto importantíssimo para que aprendamos o que é a vida cristã autêntica, qual seja, a de que a vida espiritual é uma vida de contínuo crescimento, de que não existe possibilidade alguma de vivermos estacionados num determinado estágio em nossa vida espiritual. Ou crescemos em direção a Deus ou, então, estaremos sempre a decrescer.

– Esta dupla realidade, que Tiago já apresenta no limiar de sua epístola é de fundamental importância para quem deseja passar por esta peregrinação terrena e não perder o rumo do céu, para onde estamos indo. Temos entendido sito?

– O segundo tema tratado por Tiago é a respeito da necessidade de se ouvir a Palavra e de praticá-la, outro tema que nos reporta ao sermão do monte, quando, em sua conclusão, o Senhor Jesus fala a respeito das duas edificações, uma feita sobre a rocha e a outra, sobre a areia, dizendo que o sábio, aquele que edifica sobre a rocha, é figura daquele que ouve e pratica as palavras do Senhor Jesus (Mt.7:24-27).

– Tem-se aqui outro ponto fundamental para se entender o que é a vida cristã: o papel da Palavra de Deus. Tiago é bem claro ao mostrar que o segredo do sucesso espiritual está em ouvir a Palavra, mas não somente em ouvi-la, mas em recebê-la com mansidão, pois é a Palavra que pode salvar as nossas almas (Tg.1:21).

– A vida cristã somente existe se houver o recebimento da Palavra, recebimento este que é comprovado mediante a prática da Palavra, mediante a obediência. Tiago, como ninguém, tinha autoridade para dar este ensino, pois, durante o ministério terreno de Cristo, havia sido alguém que havia ouvido muitas vezes Jesus falar, mas não praticava aquilo que o Senhor falava, a não ser após o momento em que o Cristo ressurreto se lhe aparecesse, mudando totalmente a sua maneira de viver, tanto que Tiago era conhecido em Jerusalém, segundo os historiadores, como “Tiago, o justo”.

– Com efeito, assim fala Eusébio de Cesareia a respeito do comportamento de Tiago: “…Quando Paulo apelou a César e foi enviado a Roma por Festo, os judeus, desapontados em sua esperança de vê-lo atingido pela trama por eles armada, voltam-se contra Tiago, o irmão do Senhor, a quem os apóstolos haviam confiado o assento episcopal em Jerusalém. (…).

 Não conseguindo mais suportar o testemunho daquele que, por causa do elevado nível que tinha atingido na virtude e na piedade, era considerado o mais justo dos homens, mataram- no, usando como ensejo a anarquia reinante, já que Festo havia morrido na Judeia, deixando o distrito sem governante nem líder…” (História eclesiástica, p.72).

– A vida cristã está relacionada com o recebimento da Palavra com mansidão, com o próprio enxerto da Palavra em nós, outra realidade que tem sido esquecida em nossos dias difíceis.

– A salvação das nossas almas depende da Palavra de Deus, pois é ela que nos traz a fé salvífica (Rm.10:17), é a semente que germina e, assim, confere vida espiritual a todos quantos a ouvem e a praticam, como o Senhor esclareceu na parábola do semeador (Mt.13:1-23; Mc.4:1-20 e Lc.8:4-15).

– Para Tiago, quem ouve e não pratica a Palavra de Deus é alguém que não tem a mínima consciência da sua própria identidade, pois é semelhante a quem contempla ao espelho o seu rosto natural, porque se contempla a si mesmo e foi-se, e logo se esqueceu de que tal era (Tg.1:24). Como disse certa feita o ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II, na sua Encíclica “Redemptor Hominis”: “O homem que não conhece Jesus Cristo permanece para si mesmo um desconhecido, um mistério insondável, um enigma indecifrável” (apud AQUINO, Felipe. O que rege o seu futuro? Disponível em: http://laravazz.wordpress.com/2009/12/10/o-que-rege-o-seu-futuro/ Acesso em 08 maio 2014).

– A Palavra é, deste modo, fundamental para gerar a própria vida espiritual de um cristão, de sorte que é, assim, essencial que não só se ouça, mas que se pratique a Palavra para que se tenha vida e vida com abundância (Jo.10:10).

– Nos dias em que vivemos, a Palavra de Deus tem sido menosprezada e, porque não dizer, até mesmo totalmente desprezada por muitos que cristãos se dizem ser, que, deste modo, não têm sequer a noção de quem são verdadeiramente, achando-se servos de Deus, membros do corpo de Cristo, quando, na verdade, não passam de pessoas que estão mortas em seus delitos e pecados (Ef.2:1), já que não foram vivificados pela Palavra.

– Os únicos bem-aventurados, aqueles que realmente se constituem em discípulos de Cristo Jesus, são aqueles que praticam a Palavra, que perseveram em observar a “lei perfeita da liberdade” (Tg.1:25).

– Vemos nesta afirmação de Tiago, uma perfeita correlação com o sermão do monte de Jesus Cristo, que também mostra que, com a vinda do Senhor Jesus, havia uma nova lei, um novo conjunto de regras a nortear o nosso relacionamento com Deus. Se a salvação não vem pela observância de regras, como se dava na antiga aliança, é manifesto que quem crê em Jesus passa a ter um novo modo de vida, a observar tudo quanto o Senhor mandou, pois só é amigo de Jesus aquele que faz o que Ele manda (Jo.15:14).

– Que bom será se todo salvo em Cristo Jesus verificar que é fundamental a observância da Palavra, a perseverança na obediência ao que está nas Escrituras Sagradas para que nos mantenhamos vivos e, portanto, em condições de atingir os céus. Aleluia!

– O terceiro tema tratado na epístola de Tiago diz respeito à imparcialidade e à sua demonstração. Vemos aqui que a vida cristã leva a uma imparcialidade, ou seja, à justiça. Assim como Deus não faz acepção de pessoas, os Seus verdadeiros e genuínos servos também não tratam a ninguém com parcialidade.

– Esta imparcialidade é resultado direto da vida conforme a Palavra de Deus, pois é a Palavra do Senhor quem gera a justiça, que é a base de toda imparcialidade. Como diz Pedro, o salvo se faz participante da natureza divina (II Pe.1:4) e, por isso mesmo, passa a ter a mesma imparcialidade que tem o seu Senhor.

– A imparcialidade faz com que o salvo não se deixe levar por princípios e regras puramente humanos, decorrentes do egoísmo próprio da natureza pecaminosa do homem e, por isso mesmo, Tiago irá afastar da vida cristã autêntica qualquer conduta que leve em conta a posição social ou a condição econômico-financeira de alguém. Como é diferente o que ensina Tiago a respeito da vida cristã do que temos visto na atualidade, onde, como afirma conhecida música popular norte-americana, “o dinheiro faz o mundo girar” (“money makes the world go around”).

– Como seria bom que todo salvo em Cristo Jesus verificasse que o caráter genuíno da vida cristã se encontra no menosprezo e, mesmo, desprezo das coisas materiais, como, aliás, afirmou o apóstolo Paulo ao dizer que a nova vida em Cristo importa em pensar nas “coisas de cima” e não nas coisas desta vida, como se lê em Cl.3:1-3, pois este é um sinal de que a nossa vida está escondida com Cristo em Deus.

– Esta imparcialidade, que é a mesma justiça de que o Senhor Jesus fala no sermão do monte ser um requisito para se ingressar no reino de Deus (Mt.5:20), também leva o salvo a ter como parâmetro a ser observado nas relações com o próximo a misericórdia e não o juízo. Ao contrário do que havia na dispensação da lei, aqui não se tem a literalidade como regra, mas, sim, o exercício da misericórdia como diretriz a ser tomada (Tg.2:13), o que também foi ressaltado pelo Senhor Jesus em um de Seus confrontos com os fariseus durante Seu ministério terreno (Mt.9:13; 12:7).

– O quarto tema da epístola de Tiago diz respeito à profissão de fé e à sua demonstração. Aqui se tem, propriamente, o cerne de toda a carta, onde o irmão do Senhor analisará a necessidade de que a fé seja comprovada com boas obras, que a transformação interior produzida pela salvação seja mostrada ao mundo através da prática de boas obras.

– Como já dissemos supra, este posicionamento de Tiago não é qualquer novidade em termos de ensino cristão, como também não representa qualquer contradição ao que Paulo havia ensinado, pois a própria afirmação clássica de Paulo a respeito da salvação pela fé, na epístola aos efésios, vem acompanhada da afirmação de que fomos feitos novas criaturas para praticar boas obras (Ef.2:10). A propósito, Paulo, em seu discurso ao rei Agripa, diz sempre ter pregado que a salvação é acompanhada de obras dignas de arrependimento (At.26:20).

– Os questionamentos surgidos ao longo da história da Igreja, notadamente a de Martinho Lutero, não se justificaram, portanto, de modo que não há qualquer antinomia entre os escritos paulinos e a carta de Tiago.

– Com relação a este ponto, é bom ressaltar que a resistência observada à aceitação de Tiago como escrito canônico, que é um dado histórico, não se deveu a esta circunstância. Eusébio de Cesareia menciona que, ainda em seu tempo (ou seja, o século IV), a Epístola de Tiago era questionada por alguns, embora fosse “conhecida e aprovada por muitos” (História eclesiástica, p.104), mas tal discussão não era em virtude do seu conteúdo, mas, muito mais, pelo fato de ter vindo de uma autoridade local, ainda que prestigiada, como era o caso de Tiago, além de não ter tido ampla divulgação, como as cartas de Paulo. No entanto, Atanásio de Alexandria (295-373) a relaciona entre os textos inspirados e assim foi ela reconhecida em diversos concílios no século IV, sem qualquer objeção, inclusive o Primeiro Concílio de Niceia (325).

– O quinto tema da epístola de Tiago diz respeito ao reconhecimento de ardis e a necessidade de evitá- los. Do mesmo modo que o irmão do Senhor reconhece que a vida cristã é repleta de aflições neste mundo, que depende da Palavra de Deus para a sua mantença, o que gera, como consequência, tanto a imparcialidade quanto a prática de boas obras, também afirma que se faz necessário, durante a nossa peregrinação terrena, termos uma constante vigilância, a fim de não tropeçarmos na caminhada para o céu.

– Neste passo, também, irá ecoar o que o Senhor Jesus dissera a respeito da necessidade de o cristão estar em constante vigilância e oração (Mc.13:33), a fim de não sermos enganados pelo maligno ou pela carne e, por causa disso, fracassarmos na fé.

– Este cuidado deve começar pela língua, considerado pelo irmão do Senhor como um fogo, como mundo de iniquidade, embora seja um pequeno membro. Faz-se preciso ter uma grande intimidade com o Espírito Santo, pois o domar da língua está acima da capacidade humana.

– Outro cuidado que se deve ter é com a sabedoria terrena. A natureza pecaminosa do homem pode querer nos deixar levar pela sabedoria terrena, que não provém de Deus, mas, sim, é algo diabólico, que, por isso mesmo, deve ser evitado. Em dias de supervalorização do homem e de seu conhecimento, em dias de preferência à ciência e à filosofia, devemos bem observar este ensino de Tiago, vigiando para que não sejamos levados por esta sabedoria terrena, animal e diabólica (Tg.3:15).

– Ainda um outro cuidado que Tiago diz que deve estar presente em toda vida cristã autêntica é a própria natureza pecaminosa do homem, tema que também foi tratado por Paulo em diversos de seus escritos. É a famosa luta entre a carne e o espírito, a circunstância de que, enquanto não vier a glorificação do corpo, termos de conviver, dentro de nós, com a velha natureza humana, escravizada pelo pecado e que deve ser mantida crucificada com Cristo.

– Tiago traz ensinos importantíssimos para que não permitamos que esta natureza pecaminosa venha, inclusive, a perturbar o nosso relacionamento com Deus e que devemos viver sob absoluto controle do Espírito Santo, a fim de que não darmos ocasião para que a carne venha a nos levar à perdição.

– Por fim, ainda dentro deste contexto dos cuidados que devemos ter em nossa vida espiritual, para que ela seja autêntica, Tiago fala a respeito da maledicência, do nosso julgamento em relação ao próximo, lembrando que todos somos iguais e que, portanto, não podemos, de modo algum, proceder ao julgamento do irmão, pois não somos nem juízes, nem legisladores, prerrogativas que são únicas e exclusivas do Senhor. Aqui também Tiago faz eco ao que já ensinara o Senhor Jesus no sermão do monte (Mt.7:1; Lc.6:37).

– O sexto e último tema tratado na epístola de Tiago é a respeito das virtudes cristãs e de sua prática. O irmão do Senhor salienta aqui quais os hábitos que deveriam ser perseguidos pelos verdadeiros e genuínos servos do Senhor, mostrando que a vida espiritual não é apenas de abstenções, mas, também, de práticas. Neste passo, Tiago irá afirmar que o verdadeiro servo de Cristo deve ser paciente, constante, honesto, homem de oração e sempre pronto a obter a reconciliação daqueles que se desviam da verdade.

– Ao elencar as virtudes cristãs, Tiago, mais uma vez, salienta a necessidade que se tem de exercer, sempre que possível, a misericórdia e de se buscar a comunhão com Deus e com o próximo, deixando-se, em segundo plano, questões de somenos importância.

– Ao longo deste trimestre, haveremos de ver, com maior vagar, cada um destes temas e, certamente, bem instruídos pelo irmão do Senhor, termos condições de ostentarmos o mesmo testemunho que ele ostentou em Jerusalém até morrer por causa da fé. Amém.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco  

Site: http://www.portalebd.org.br/files/3T2014_L1_caramuru.pdf

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