LIÇÃO Nº 7 – CRISTO É A NOSSA RECONCILIAÇÃO COM DEUS
Jesus reconciliou-nos com Deus.
INTRODUÇÃO
– Em continuidade ao estudo da carta de Paulo aos efésios, estudaremos hoje o trecho de Ef.2:13-18.
I – JESUS APROXIMA-NOS DE DEUS PELO SEU SANGUE
– Em continuidade ao estudo da carta de Paulo aos efésios, estudaremos o trecho de Ef.2:13-18, que é a continuação do exercício de “grata memória” que o apóstolo quer que os seus destinatários realizem, a fim de se conscientizarem da grandiosidade da salvação na pessoa de Cristo Jesus.
– Após descrever a triste condição dos gentios sem Deus, numa “separação completa” das coisas celestiais e divinas, Paulo usa, novamente, da conjunção subordinativa adversativa “mas” para indicar uma completa modificação da situação, para revelar como Deus é capaz de nos levar a uma circunstância oposta.
– Aqueles que, outrora, estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel, estanhos aos concertos da promessa, agora, no presente estado, encontram-se em Cristo Jesus (Ef.2:13).
– “Estar em Cristo” é uma expressão recorrente nos escritos paulinos, conquanto não seja algo que tenha sido revelado pelo Espírito Santo especialmente ao apóstolo dos gentios. Nas Suas últimas instruções, o Senhor Jesus também Se utiliza dela algumas vezes (Jo.14:20; 15:2,4-7; 17:21,23).
– Trata-se de uma expressão que demonstra a unidade que existe entre Jesus e os Seus discípulos. Jesus diz que devemos estar n’Ele como Ele está no Pai (Jo.14:20) e isto significa unidade (Jo.17:21,23), pois Cristo fez questão de dizer que Ele e o Pai eram um (Jo.10:30; 17:22).
– “Estar em Cristo”, portanto, é “ser um com Jesus” e somente somos um com o Senhor quando passamos a não mais viver mas a Ele viver em nós (Gl.2:20), quando renunciamos a nós mesmos (Lc.14:33), passando a realizar a Sua vontade, vontade esta que se torna a nossa comida, ou seja, a razão da nossa sobrevivência (Jo.4:34).
– Para nos tornarmos um com Jesus, que é o Santo de Deus (Lc.1:35; 4:34), é absolutamente necessário que tenhamos os nossos pecados perdoados, pois o pecado faz divisão entre nós e Deus (Is.59:2) e o Senhor Jesus, como sabemos, é Deus (Jo.8:58; 10:33).
– Por isso, para que haja esta comunhão com Cristo e, por conseguinte, com Deus, faz-se absolutamente necessário que os nossos pecados sejam retirados, pois, se isto não acontecer, nunca poderemos entrar em comunhão com Ele.
Foi, por isso mesmo, que Jesus Se fez homem para que assumisse a condição de Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo.1:29).
– Era preciso que o Senhor Jesus Se oferecesse como o Cordeiro de Deus, derramasse o Seu sangue e, deste modo, com o Seu sacrifício, tirasse o pecado da humanidade (Hb.10:28; I Jo.2:2), permitindo, assim, que não houvesse mais qualquer obstáculo para a comunhão entre Deus e os homens,
o que foi devidamente figurado para compreensão de todos com o rasgo do véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo no templo, evento acontecido precisamente no momento em que Jesus consuma a Sua obra, expirando na cruz do Calvário (Mt.27:51; Mc.15:38; Lc.23:45).
– Paulo diz que o sangue de Jesus faz com que cheguemos perto de Deus, ou seja, temos condição de nos chegar diante do Senhor, porque agora não há mais o pecado que fazia divisão entre Ele e nós.
– O escritor aos hebreus (que pode ser o próprio Paulo, segundo alguns) fala desta realidade, dizendo que, pelo sangue de Jesus, temos ousadia para entrar no santuário pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela Sua carne, o que nos permite chegarmo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa (Hb.10:19-22)..
– O sangue de Jesus purifica-nos de todo o pecado (I Jo.1:7), pois este é o papel do sangue: a purificação do homem para que ele possa se achegar às coisas santas (Hb.9:22), uma vez que o sangue representa a vida (Gn.9:4; Lv.17:11) e era necessário que alguém desse a sua vida para que fosse satisfeita a justiça de Deus, diante da morte, que entrou no mundo com a prática do pecado (Rm.5:12; 6:23).
– O sangue de Jesus purifica nossa consciência das obras mortas, permitindo que nós sirvamos ao Deus vivo (Hb.9:14), de modo que passamos a não mais ter culpa diante de Deus, somos justificados, temos “ficha limpa” nos céus, e esta condição, que nos torna santificados, faz com que possamos estar agora unidos a Cristo e, por consequência, unidos a Deus. Nós nos tornamos morada de Deus no Espírito (Ef.2:22).
– O Senhor Jesus disse que a Nova Aliança, o Novo Testamento foi estabelecido no Seu sangue (Mt.26:28; Mv.14:24; Lc.22:20; I Co.11:25); ou seja,
não há como se ter a comunhão com Deus, por intermédio de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, se não tivesse havido a morte do Senhor na cruz do Calvário.
É o derramamento do Seu sangue que permite que se tenha o restabelecimento da comunhão entre Deus e os homens, o retorno da amizade entre Deus e a sua principal criação terrena.
– Aliás, isto já estava demonstrado pelo próprio Deus quando anunciou o Seu plano de salvação.
Ao revela-lo, ainda no Éden, o Senhor disse que a semente da mulher esmagaria a cabeça da serpente, mas que haveria o ferimento do calcanhar (Gn.3:15).
Que é o ferimento do calcanhar senão a indicação da necessidade de derramamento de sangue para que houvesse o reatamento da união entre Deus e o homem?
– Mas, além da própria proclamação, o Senhor, ao matar um animal para que, de sua pele, fizesse túnicas ao primeiro casal para vesti-lo (Gn.3:21), também mostrou que os danos surgidos com a prática do pecado somente poderiam ser removidos mediante o derramamento de sangue. Por isso, o escritor aos hebreus disse que sem derramamento de sangue não há remissão (Hb.9:22).
– Os sacrifícios ofertados desde então apenas serviam para cobrir o pecado (Sl.32:1), para adiar o castigo devido para a sua prática, e era este, aliás, o sentido do chamado “holocausto perpétuo” ou “sacrifício contínuo” (Ex.29:36-42; Nm.28:3-8), instituído na lei mosaica, onde, diariamente, eram sacrificados dois cordeiros, um pela manhã e outro à tarde pelo pecado do homem.
Por causa deste sacrifício, o Senhor vinha aos filhos de Israel para que, pela Sua glória, fossem eles santificados (Ex.28:43).
– Pois bem, este sacrifício representava o sacrifício de Cristo que, feito uma vez (Hb.9:26,28; 10:10), já que perfeito (Hb.7:26-28; 9:12), fez vir, de forma definitiva, não só aos filhos de Israel, mas a todos os homens, a santificação pela glória de Deus (I Co.1:2; Jo.1:14; Lc.23:47).
II – JESUS É A NOSSA PAZ
– Além de ter derramado Seu sangue e, com isso, tirado o pecado do mundo, purificando-nos e, desta maneira, permitindo que entrássemos em comunhão com Ele e, por conseguinte, com a Santíssima Trindade, o apóstolo diz que Jesus Cristo é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um (Ef.2:14).
– Para bem entendermos esta expressão do apóstolo, necessário é que vejamos o significado de “paz” na cultura hebraica.
– Paz, na língua hebraica (língua em que se escreveu a quase totalidade do Antigo Testamento), é “shalom” ( ,)םלש que, muito provavelmente, é a palavra hebraica mais conhecida no mundo.
A ideia israelita de “shalom” é diferente da ideia que se edisseminou posteriormente entre os povos, mormente entre os gregos.
“…As palavras hebraicas se formam a partir de radicais. A raiz da palavra shalom é formada pelas letras shim, lâmed e mem.
A palavra shalem, que significa quitar, tem a mesma raiz de shalom. Podemos, então, entender que, quando não temos dívidas, sejam elas da espécie que forem – financeiras, promessas, compromissos, deveres religiosos, morais – conseguimos estar em paz;
shalem significa também – completo, íntegro, o que indica que paz significa integridade – a pessoa alcança a paz ao se tornar completa, íntegra.…” (MALCA, José Schorr e COELHO, Antonio Carlos. Shalom é mais do que paz. Jornal de ciência e de fé. dez. 2002. http://www.google.com/search?q=cache:6N7CLr58BLYJ:www.cienciaefe.org.br/jornal/dez02/mt06.htm+pa z,+Talmude&hl=pt-BR Acesso em 18 dez.2004). “…Basicamente, o vocábulo empregado no Antigo Testamento com o sentido de ‘paz’, shãlôm, significa ‘algo completo’, ‘saúde’, ‘bem estar’.…” (DOUGLAS, J.D.. Paz. In: O Novo Dicionário da Bíblia. v.2, p.1233).
– Assim, a primeira vez em que a palavra é empregada nas Escrituras Sagradas, na versão Almeida Revista e Corrigida, é em Gn.15:15, quando é utilizada pelo próprio Deus a Abrão, na revelação que o Senhor deu ao patriarca sobre a formação da nação hebreia, quando diz que Abrão iria a seus pais em paz, ou seja, que morreria em boa velhice, quando tivesse completado a sua peregrinação.
– Em Gn.26:29, a expressão é utilizada por Abimeleque e seus oficiais, para dizer que tinham deixado Isaque partir com todas as suas riquezas, com todo o seu patrimônio, completo e inteiro, sem que lhe tivessem tocado.
– Também, na chamada “benção arônica”, é dito que o Senhor levante o rosto sobre cada israelita, ou seja, se faça presente na vida de cada israelita e, assim, lhe dê a paz, ou seja, a completude, a integridade espiritual (Nm.6:26). Em Jó 22:21, vemos explicitamente dito que ter paz é estar unido a Deus.
– Em Jz.6:17-24, temos o episódio em que o Anjo do Senhor aparece a Gideão e este, para que haja a confirmação de que ele seria o libertador de Israel da mãos dos midianitas, oferece uma oferta de manjares ao Senhor e lhe é mandado que vertesse o caldo sobre a carne e os bolos asmos e, então,
subiu fogo da penha que tudo consumiu e, deste modo, percebeu que se tratava de uma aparição do Anjo do Senhor e entendeu que haveria de morrer, mas o anjo disse que isto não aconteceria.
Em virtude disso, Gideão deu ao altar o nome de “O Senhor é paz”, mostrando, assim, que “paz” é uma situação de comunhão entre Deus e o homem, uma superação da separação que há, naturalmente, entre o Deus santo e o homem pecador.
– Notamos que a paz, portanto, dentro do conceito do Antigo Testamento, é um estado de integridade, ou seja, um estado em que a pessoa se sente completa, se sente amparada, se sente segura, se sente inteira, o que somente é possível quando o homem está em comunhão com o seu Criador.
– O ser humano foi feito para viver com Deus, foi feito para ser imagem e semelhança de Deus, para refletir a glória de Deus e, por isso, ao final de cada dia, Deus ia ao Seu encontro no jardim do Éden, para que o homem se sentisse completo.
Entretanto, com o pecado, houve a separação entre Deus e o homem (Is.59:2) e o homem perdeu este sentimento de completude, de integridade, perdeu a paz.
– A separação entre Deus e o homem pelo pecado é a causa da falta de paz entre os homens. É por isso que Paulo afirma que, com a obra redentora de Cristo, restaurou-se a paz.
Jesus é a nossa paz (Ef.2:14), porque derrubou a parede de separação que havia entre Deus e os homens. Cristo fez a paz (Ef.2:15).
– O Senhor Jesus é a nossa paz, porque Ele promove a completude, a integração entre Deus e o homem, restabelece a amizade perdida com a prática do pecado entre o Criador e o Seu mordomo na Terra.
– Mas não apenas isso. O Senhor Jesus, também, desfaz a separação que havia entre judeus e gentios. Abrão, quando foi chamado, recebeu a ordem de sair da sua terra, da sua parentela e da casa do seu pai (Gn.12:1), a indicar que esta nação que haveria de surgir dele seria uma nação separada das demais.
– Esta separação era exigida por Deus durante toda a história de Israel, pois os israelitas eram um povo santo (Ex.19:6; Dt.7:6; 14:21; 26:19), separado dos demais para serem do Senhor (Lv.20:26). Por isso, como Paulo dissera na passagem imediatamente anterior a que estamos a estudar, os gentios eram “separados da comunidade de Israel”.
– Entretanto, o Senhor Jesus derrubou a parede de separação que estava no meio (Ef.2:14), pois o Seu sacrifício tirou o pecado do mundo, satisfez a justiça divina para com todos os homens, de modo que também aos gentios foi aberta a oportunidade para que pudessem se aproximar de Deus.
– É interessante notar que a palavra grega utilizada aqui para “derribar” é “lúo” (λύω), cujo significado é “romper, quebrar, destruir, dissolver, soltar, derreter, desligar, soltar o que estava atado, desatar, desamarrar” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dciionário do Novo Testamento, n. 3089, p.2289).
– Jesus operou um livramento, desprendeu gentios e judeus de um jugo, de um domínio que lhes era impossível superar.
Faz-nos lembrar a queda das muralhas de Jericó, algo intransponível mas que o poder de Deus fez vir ao chão de imediato, como se nunca antes tivessem existido. Assim fez o Senhor por nós ao morrer na cruz do Calvário.
– Esta realidade foi difícil de ser compreendida até mesmo pelos discípulos do Senhor Jesus. O Evangelho era pregado apenas aos judeus (At.11:19),
apesar de Nosso Senhor ter mandado que se pregasse por todo o mundo a toda criatura (Mc.16:15), que se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados em todas as nações (Lc.24:47), que se fosse e se fizessem discípulos nas nações (Mt.28:19).
– A abertura da pregação do Evangelho aos gentios começou com Pedro indo à casa de Cornélio e não sem alguma resistência, tanto do apóstolo (At.10:28) como, depois, da igreja de Jerusalém (At.11:1-18).
De qualquer modo, na casa de Cornélio, o Senhor mostrou que realmente havia derrubado a parede de separação, tanto que revestiu de poder aqueles gentios, para mostrar aos discípulos que eles deveriam, sim, ser batizados nas águas, pois haviam se tornado filhos de Deus, haviam se juntado aos judeus igualmente convertidos para formar um novo povo – a Igreja.
– Tem-se aqui o que Paulo descreveu na epístola aos romanos como o enxerto do zambujeiro na oliveira em lugar dos ramos quebrados (Rm.11:17) ou que Nosso Senhor disse quando afirmou ser a videira verdadeira (Jo.15:1) e Seus discípulos, as varas (Jo.15:5), todos devendo estar em contínua unidade, produzindo frutos, sob pena de ser cortado e lançado fora (Jo.15:2-6; Rm.11:19-22).
– Exsurge um novo povo, resultado desta união de judeus e gentios em Cristo Jesus, que é a Igreja, a Igreja de Jesus (Mt.16:18), que o Senhor prometeu edificar quando da revelação que o Pai deu a Pedro de que Jesus era o Filho do Deus vivo.
– Os gentios, a rigor, não eram mais gentios. Aos olhos de Deus, uma vez tendo crido em Cristo, passaram a pertencer à Igreja, assim como os judeus, após terem crido em Cristo, já não eram, os olhos do Senhor, judeus, mas, sim, integrantes deste novo povo, que é a Igreja, pois três são os povos para Deus na face da Terra: gentios, judeus e Igreja (I Co.10:32).
– Jesus promoveu esta paz na Sua carne, ou seja, através da Sua morte vicária na cruz do Calvário, pois, ao derramar o Seu sangue, purificou o pecado de todos os homens (I Jo.2:2), redimindo toda a humanidade. Por isso, quem crer e for batizado, será salvo (Mc.16:16), pois o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê, primeiramente do judeu, mas também do gentio (Rm.1:16).
– Neste passo, aliás, é interessante vermos o que significam as chaves dadas ao apóstolo Pedro, que os romanistas identificam como sendo os poderes temporal e espiritual, que hoje subsistiriam no Papado (Mt.16:19).
Na verdade, as chaves são a concessão a Pedro da oportunidade de abrir as portas do Evangelho aos judeus, o que ocorreu no dia de Pentecostes (At.2:14,37), bem como aos gentios, o que ocorreu na casa de Cornélio(At. 10:34,47).
Pedro foi o primeiro a pregar o Evangelho aos dois povos que, em Cristo, o Filho do Deus vivo, se uniram num novo povo – a Igreja.
– Outro ponto que separava judeus de gentios era a lei dos mandamentos. A lei havia sido dada a Israel, no monte Sinai, quando os israelitas aceitaram a proposta divina de serem Sua nação sacerdotal, Seu povo santo, Sua propriedade peculiar dentre todos os povos (Ex.19:5,6).
– A lei foi dada a Israel, pois o Senhor Se dirige aos israelitas no monte Sinai, tanto que, antes de proferir os dez mandamentos, identifica-Se como o Deus que havia tirado Israel do Egito, da casa da servidão (Ex.20:2).
Estêvão, mesmo, diz que estas palavras de vida foram recebidas por Moisés para serem dadas aos filhos de Israel (At.7:38).
– Esta lei impunha a separação entre os israelitas e os estrangeiros, tanto que não permitia que pudessem os gentios ingressar no lugar de adoração, com algumas exceções (Dt.23:3,7,8; Ne.13:1).
Nos dias de Jesus, mesmo, no templo de Jerusalém, havia o chamado “pátio dos gentios”, um lugar separado em que os gentios poderiam ficar na entrada do templo, que era separado por uma parede do pátio frequentado pelos gentios, onde ficava o átrio do templo, a sua parte externa.
Esta figura da “parede de separação que estava no meio” a que alude Paulo foi certamente inspirada nesta construção do templo judaico.
– A lei, além de causar separação entre judeus e gentios, não conseguia unir o povo de Israel a Deus. Como mostra o próprio Paulo, na epístola aos romanos, a lei somente conseguia apontar o pecado dos israelitas, mas era incapaz de desfazer a inimizade que havia entre Deus e os homens, inclusive os israelitas.
– Estêvão, mesmo, em seu sermão, bem mostra que os israelitas não quiseram obedecer à lei e, em seu coração, voltaram ao Egito, quebrando os dois primeiros mandamentos, quarenta dias depois de a lei entrar em vigor, no episódio do bezerro de ouro (At.7:38-43).
– Quando foi construído o tabernáculo, não só os israelitas não tinham acesso senão ao pátio, porque haviam perdido a condição de nação sacerdotal ante o pecado cometido, ficando o lugar santo restrito apenas aos filhos de Arão,
constituídos como sacerdotes, como também ninguém tinha acesso ao lugar santíssimo, onde ficava a arca da aliança, onde o Senhor se fazia presente, onde só poderia entrar, uma vez ao ano, o sumo sacerdote e, mesmo assim, após ter sacrificado por si e pelo povo.
– A lei, destarte, não havia desfeito a inimizade entre Deus e os homens, nem tampouco permitido a comunhão entre judeus e gentios.
– Contudo, o Senhor Jesus, por primeiro, desfez a inimizade que existia entre Deus e os homens, é a semente da mulher que pôs inimizade entre a humanidade e a serpente (Gn.3:15),
como prometido no Éden e, por segundo, sem qualquer acepção de pessoas, como bem admitiu Pedro ao entrar na casa de Cornélio,
bem discernindo a visão que tivera em Jope, permitiu que todos quantos cressem n’Ele pudessem ter acesso não ao santuário terrestre, como o templo de Jerusalém, mas ao santuário celestial, tivessem pleno acesso ao trono da graça (Hb.4:16; 10:19-22).
– Como bem afirmou o pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes, o Senhor Jesus realizou “a maior missão de paz do mundo”, que foi reconciliar Deus com os homens, os homens com Deus, fazendo a paz entre o Criador e a Sua mais excelente criação sobre a face da Terra (Sl.8:3-8).
– Agora, não há qualquer véu que impeça a entrada dos homens na presença de Deus. Todos quantos crerem em Jesus têm acesso não ao lugar santíssimo do templo de Jerusalém, mas ao Santuário celestial,
onde Suas orações sobem como incenso de cheiro suava ao Senhor (Ap.5:8; 8:3). Este acesso é pleno, pois, não só nossas orações são aperfeiçoadas pela companhia do Espírito Santo, que geme com gemidos inexprimíveis a nosso favor (Rm.8:26),
como temos a intercessão de nosso sumo sacerdote Jesus Cristo, que está à direita do Pai (Rm.8:34; Hb.10:19-21).
– Não há mais qualquer diferenciação entre judeus e gentios. Os céus que estão abertos para o judeu de origem grega Estêvão (At.7:56), são os mesmos céus que recebe o judeu da Terra de Israel João (Ap.4:1) ou que derrama o Espírito Santo sobre o gentio romano Cornélio (At.10:44).
Como bem afirma o próprio Paulo na carta aos colossenses, contemporânea desta que estamos a estudar: “onde não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo em todos” (Cl.3:11). Aleluia!
– Jesus, ao fazer esta paz, também criou um novo homem. A lei, que causava a separação, repleta de ordenanças, era incapaz de gerar uma nova criatura.
Apenas apontava o pecado daquele homem que, fosse judeu ou gentio, tinha uma natureza pecaminosa, que não era eliminada, nem tampouco submetida sob controle ou domínio. Uma vez praticado o pecado, o homem se tornava escravo do pecado (Jo.8:34) e a lei não podia fazer coisa alguma quanto a isso.
Mesmo os sacrifícios cerimoniais, como já vimos, tão somente cobriam o pecado (Sl.32:1).
– Entretanto, ao promover a redenção na cruz do Calvário, o Senhor Jesus gera um novo homem, uma nova criatura. O apóstolo diz que o Senhor Jesus desfez a inimizade para criar um novo homem (Ef.2:15).
– Daí porque, ao dialogar com o mestre de Israel, Nicodemos, tenha o Senhor aludido ao novo nascimento (Jo.3:3).
Quando o príncipe diz que Jesus era um mestre vindo de Deus, o Senhor o confirma ao dizer que é necessário nascer de novo e nascer da água e do Espírito (Jo.3:5).
– Jesus veio de Deus para nos ensinar que é preciso nascer de novo e que isto é possível quando cremos n’Ele, pois, ao crermos em Jesus, o que somente se dá quando crermos na pregação do Evangelho (Rm.10:817).
– Pedro diz que somos gerados de novo pela semente incorruptível, que é a Palavra de Deus (I Pe.1:23-25), dando origem a um novo homem, homem que não vive mais pecando (I Jo.3:9), novo homem que está unido a Cristo, enquanto que o velho homem permanece crucificado com Cristo (Gl.2:20; 5:24).
– Este novo homem está liberto do pecado, pois o Filho de Deus verdadeira nos livra (Jo.8:36) e, como “cristãos”, como “pequenos Cristos” (At.11:26), podemos, pela graça de Deus, repetir as palavras que o Senhor Jesus proferiu aos judeus: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (Jo.8:46a).
– Pela cruz, Jesus reconciliou gentios e judeus em um corpo, matando com ela as inimizades (Ef.2:16).
Podemos até afirmar que o Senhor estendeu seus braços na cruz, um braço para os judeus, o outro, para os gentios e, unindo ambos a Si, fez com que todos se unissem ao Pai por meio d’Ele.
– A palavra utilizada aqui no grego para “reconciliar” é “apokatallasso” (αποκαταλλάσσω), cujo significado é “reconciliar completamente, reconciliar, reconciliar a partir de um estado de ser deixado para trás” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Novo Testamento, n. 604, p.2083).
– Jesus, satisfazendo a justiça divina e derramando Seu sangue por nós, oferecendo Sua vida para nos dar vida, deixou para trás a questão do pecado e, deste modo, permite que todos quantos n’Ele creem venham a se reconciliar, a se unir novamente a Deus por meio d’Ele, pouco importando se são judeus ou gentios.
– Estes que creem em Jesus são reunidos em um corpo, que é a Igreja. Não nos esqueçamos de que a Igreja é revelada justo quando o Pai revela a Pedro que Cristo é o Filho de Deus vivo.
A missão do Cristo era edificar a Sua Igreja, a reunião d’Aqueles que, em Cristo, formariam um corpo para se unir a Deus.
– A cruz matou as inimizades, pois, ao derramar o Seu sangue, Jesus não só quitou a dívida que havia contra nós diante de Deus (Cl.2:14), daí porque ter afirmado que estava quitada tal dívida em uma das “sete palavras da cruz” (Jo.19:30), como também permitiu, como já disse supra, que, com a retirada do pecado, nada mais nos separasse do Senhor.
É a cruz que faz cessar a inimizade que se estabeleceu com o pecado entre Deus e os homens. Como bons filhos de Abraão (Gl.3:7), passamos a ser amigos de Deus (Is.41:8).
– Esta amizade com Deus, instaurada pela nova aliança no sangue de Cristo, conseguiu fazer o que a lei não podia, ou seja, restabelecer a comunhão com o Senhor e, agora, em Cristo Jesus, somos um em Cristo e Cristo é um em nós (Jo.15:4,5).
– Não se tem mais o caso de querer fazer o que a lei determina e não se conseguir em virtude da nossa pecaminosidade (Rm.7:14-21), mas, bem ao contrário, tendo nascido de novo em Cristo, acabamos por cumprir a lei, porque está ela agora gravada em nossos corações, já que estamos a cumprir o mandamento novo, ou seja, o mandamento do amor como Jesus nos amou (II Co.3:3; Tg.2:8; Rm.13:8; Jo.15:12).
– Esta verdade espiritual encontra-se muito bem sintetizada tanto no item 6 do Cremos de nossa Declaração de Fé, que transcrevemos:
“[CREMOS] na necessidade absoluta do novo nascimento pela graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus para tornar o homem aceito no Reino dos Céus (Jo.3:3-8; Ef.2:8,9)”, como também no item 7, igualmente transcrito:
“[CREMOS] no perdão dos pecados, na salvação plena e na justificação pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At.10:43; Rm.10:13; 3:24-26; Hb.7:25; 5:9).
III – A EVANGELIZAÇÃO DA PAZ
– Paulo diz que o Senhor Jesus reconciliou judeus e gentios com Deus em um corpo (Ef.2:16). Vê-se, claramente, que a reconciliação é operada única e exclusivamente por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
– Temos uma verdade espiritual que não pode ser jamais descurada. A reconciliação somente se faz por meio de Jesus Cristo, o único mediador entre Deus e os homens (I Tm.2:5).
Ele é o único que subiu ao patíbulo da cruz para nos salvar, o único que morreu por nós, de sorte que ninguém mais tem este papel nem tampouco precise o Senhor Jesus de qualquer assistência ou cooperação para tanto.
OBS: Muitos romanistas escandalizaram-se quando o Papa Francisco, em uma homilia no Vaticano, em 12 de dezembro de 2019, afirmou que a tentativa de se criar um quinto dogma mariano, fazendo de Maria “corredentora” era “uma bobagem”.
Em que pese algumas posições atuais tomadas pelo chefe da Igreja Romana que pareçam demonstrar que aquela instituição, ao menos em sua cúpula, está a se render ao espírito do Anticristo, temos nesta afirmação uma insofismável verdade bíblica.
Jamais se pode atribuir a qualquer criatura a figura de “corredentor” da humanidade. Jesus atuou solitariamente neste ponto (Jo.16:32).
– Esta reconciliação é feita pelo próprio Cristo e é Ele quem forma este corpo onde se reúnem judeus e gentios, que é a Sua Igreja.
Por isso, também, não é possível crer-se numa reconciliação operada por meio de intermediários que formem uma mediação entre Cristo e os Seus discípulos, como crê não só o romanismo,
que instituiu um sacerdotalismo, que é em tudo alheio ao presente ensino do apóstolo Paulo, como também alguns outros movimentos, como um “cristianismo apostólico” que tem invadido muitas igrejas de denominações, em variações como o gedozismo ou outras vertentes do chamado movimento celular.
– É Cristo quem, pela cruz, mata as inimizades e reúne em um corpo judeus e gentios, formando a Igreja, Igreja esta que, composta pelos ramos da videira verdadeira, tem de produzir frutos (Jo.15:1-8).
– Mas aqui uma outra verdade: os judeus e gentios reconciliados por Cristo a Deus devem formar um corpo.
Não é possível que alguém tenha sido remido por Jesus e se mantenha solitário, isolado, caminhando sozinho para as mansões celestiais, como os “desigrejados” da atualidade acham ser possível. Fomos reconciliados com Deus mas postos em um corpo, do qual Cristo, aliás, é a cabeça (Ef.1:22; 5:23).
– Somos um novo homem, uma nova criatura, mas este novo homem, esta nova criatura continua sendo um ser que precisa tanto de Deus quanto do próximo, daí porque, quando Deus deu a lei,
serem os dois grandes mandamentos precisamente os do amor a Deus e do amor ao próximo (Mt.22:34-40) e, agora, que nos é possível cumprir a lei por sermos uma nova criação, é evidente que não se poderia descurar da dimensão social da natureza humana.
– Paulo faz questão de dizer que Jesus dos dois povos, isto é, gentios e judeus, fez um novo povo, que é a Igreja, prova de que, assim como igreja não é o templo nem tampouco uma organização eclesiástica, também não é possível considerar-se que se possa servir a Deus sem que se viva em comunhão com outros irmãos, que formam a igreja num determinado lugar.
– Vemos, pois, que a tese dos “desigrejados”, do chamado “self-service” é totalmente contrária à verdade da salvação operada por Cristo Jesus.
Quando somos salvos, passamos a pertencer a um corpo e precisamos conviver com outros irmãos num determinado lugar, pois o nosso crescimento espiritual depende de tal convivência.
– A cruz mata as inimizades e, portanto, não há que se falar mais em ódio a Deus, que era a característica dos gentios, como o apóstolo deixa claro em Rm.1:18-21, muito menos em ódio ao próximo, já que, agora, os salvos perseveram na comunhão, amando-se uns aos outros (At.2:42; Jo.15:17), até porque o ódio ao próximo era característica do velho homem (Tt.3:3).
– A atitude de isolamento espiritual embute sempre uma arrogância e uma soberba. Quem se nega a pertencer a uma igreja local fá-lo porque se acha superior aos demais, porque vê somente defeitos na vida em comunidade, apegando-se aos escândalos e aos episódios negativos que sempre ocorrem onde existem seres imperfeitos e falhos como são os seres humanos.
– Ora, este sentimento de superioridade é o avesso do que deve ter aquele que é salvo em Cristo Jesus, que deve ter, isto sim, humildade, considerando os outros superiores a si mesmo (Fp.2:3-5) e lembrando que, como somos imperfeitos, dependemos, sim, do concurso de outros salvos para bem marcharmos para as mansões celestiais.
– Esta realidade é tanta que as Escrituras bem revelam a interdependência que deve haver entre os salvos, pois nos afirmam que devemos nos amar uns aos outros (Jo.13:35),
preferirmo-nos em honra uns aos outros (Rm.12:10),
recebermo-nos uns aos outros (Rm.15:7),
saudarmo-nos uns aos outros (Rm.16:16),
servimo-nos uns aos outros pela caridade (Gl.5:13),
suportarmo-nos uns aos outros em amor (Ef.4:2; Cl.3:13),
perdoarmo-nos uns aos outros (Ef.4:32; Cl.3:13),
sujeitarmo-nos uns aos outros no temor de Deus (Ef.5:21),
ensinarmos e admoestarmo-nos uns aos outros (Cl.3:16; Hb.10:25),
não mentirmos uns aos outros (Cl.3:9),
consolarmo-nos uns aos outros (I Ts.4:18),
exortamo-nos e edificarmo-nos uns aos outros (I Ts.5:11; Hb.3:13),
considerarmo-nos uns aos outros para nos estimularmos à caridade e às obas obras (Hb.10:24),
confessarmos as culpas uns aos outros (Tg.5:16)
– Para fazer isto, diz o apóstolo, o Senhor Jesus evangelizou a paz, tanto aos judeus (“que estavam perto”) como aos gentios (“que estavam longe”) (Ef.2:17).
– A mensagem do Senhor Jesus, o Evangelho, é o Evangelho da paz, ou seja, é a mensagem de boas novas que traz ao conhecimento da humanidade de que ela pode se integrar novamente em Deus, de que ela pode se tornar amiga de Deus,
de que ela pode voltar a ter comunhão com o Senhor, desde que se arrependa dos seus pecados e creia que Jesus é o Senhor e Salvador, Aquele que tira os nossos pecados.
– Depois da prisão de João, o Senhor Jesus começou a pregar o evangelho do reino de Deus e dizia ao povo que eles deveriam se arrepender dos seus pecados e crer no Evangelho (Mc.1:14,15).
Foi esta, também, a mensagem pregada por Pedro no dia de Pentecostes (At.2:38-40). Paulo afirma-nos que esta é a mensagem que devemos pregar, a mensagem da reconciliação entre Deus e o homem por intermédio de Jesus (II Co.5:17-21).
– Esta deve ser a nossa postura. Devemos viver uma vida nova, que mostre ao mundo que Jesus realmente salva e transforma o homem, rogando aos incrédulos que se reconciliem com o Senhor.
Como diz o refrão do hino 207 do Cantor Cristão, intitulado Mensagem Real, da autoria de Flora Hamilton Cassel (1852-1911) e Elijah Taylor Cassel (1849-1930):
“Eis a mensagem que me deu Aquele que por nós morreu: reconciliai-vos já, é ordem que Ele dá, reconciliai-vos já com Deus”.
– Este andar pregando o Evangelho da paz é ademais uma das peças da “armadura de Deus” de que Paulo falará aos efésios no término da epístola, uma importante arma de defesa contra as investidas do maligno. Paulo diz que devemos calçar os nossos pés nos calçados da preparação do evangelho da paz (Ef.6:15).
– Nosso viver deve ser uma pregação, nosso testemunho deve ser tal que as pessoas, ao notar nossa unidade com o Senhor Jesus, creiam que Cristo foi enviado ao mundo para salvar a humanidade (Jo.17:21).
Nossas atitudes são uma preparação para a pregação do Evangelho e para que a Palavra leve fé salvadora aos ouvintes e eles alcancem a salvação.
– O evangelho traz a paz e, portanto, tanto judeus quanto gentios passam a se completar com Cristo, a se unir a Ele, gerando a “paz”, pois, como vimos, paz é completude, integridade.
– Convencidos pelo Espírito Santo do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8-11), o ser humano passa a ter acesso ao Pai, por Cristo, em um mesmo Espírito.
Não há como chegarmos à comunhão com o Pai se não for por Jesus (Jo.14:6; I Tm.2:5) e pela ação do Espírito Santo (Jo.3:5,6; I Co.12:3).
– A salvação, portanto, não é fruto de uma iniciativa do homem, de uma suposta boa vontade do homem para com Deus, como entendia João Cassiano (360-435),
que criou o chamado “semipelagianismo”, mas, sim, uma ação da graça de Deus, Deus que quer que todos se salvem (I Tm.2:4) e que, por isso, providencia meios pelos quais o homem possa entender o que diz o Espírito Santo e, desta maneira, ser convencido por Ele do pecado, da justiça e do juízo, crendo em Jesus.
– Eis porque não se possa admitir que alguém, que não seja convencido pelo Espírito Santo, alcance a salvação e porque se deva, antes de levar alguém ao batismo, verificar se está ele a produzir, ou não, o fruto do Espírito.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5240-licao-7-cristo-e-a-nossa-reconciliacao-com-deus-i
Video 02: https://youtu.be/_GpfSQ3jV5A