Lição 1 – Daniel ora por um despertamento
ESBOÇO Nº 1
- A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Neste terceiro trimestre de 2020, teremos, na Escola Bíblica Dominical, um trimestre que denominamos de “estudo de caso”, ou seja, estudaremos um tema, mas circunscrito a um determinado período.
Expliquemos melhor: estudaremos um tema, mas não em toda a Bíblia, como costuma ocorrer nos chamados “trimestres temáticos”, mas dentro de um determinado contexto, dado por um ou mais livros da Bíblia Sagrada.
Diante da pandemia da COVID-19, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus acabou por oferecer a alternativa de reestudarmos um tema tratado no terceiro trimestre de 1993, de autoria do saudoso missionário Eurico Bérgsten (1913-1999), o último dos grandes missionários escandinavos que tomaram parte na formação das Assembleias de Deus no Brasil.
O missionário, que sempre foi muito zeloso na doutrina do Espírito Santo, fez um estudo do avivamento espiritual tomando por base o final do cativeiro da Babilônia e a restauração da nação de Israel na Terra Prometida, o que se costuma denominar de a “Comunidade do Segundo Templo”, tempos narrados nos livros de Esdras e Neemias.
Assim, a partir do estudo desta restauração, o saudoso missionário procura mostrar a necessidade e as características do avivamento espiritual, fundamental para que a Igreja persevere até o dia do arrebatamento da Igreja, que está muito próximo, como demonstram os fatos que abalaram o mundo com esta pandemia.
Por isso mesmo, o título novo trazido pela Casa Publicadora para o este estudo: “os princípios divinos em tempos de crise”.
Trata-se de, à luz do que aconteceu com o povo de Deus ao término do cativeiro, onde não só se tratou de se recuperar social, econômica e politicamente o povo judeu, mas, principalmente, de restaurar o povo de Israel como povo de Deus,
verificar o que se deve fazer para que a Igreja não perca esta condição de “geração eleita, nação santa, sacerdócio real, povo adquirido” (I Pe.2:9), condição análoga à ostentada, então com exclusividade, por Israel no tempo da lei (Ex.19:5,6).
O subtítulo do trimestre delimita o alcance deste estudo bíblico, qual seja, tomar a reconstrução de Jerusalém como um exemplo de avivamento espiritual para os nossos dias.
Na verdade, o trimestre trata mais do que a reconstrução de Jerusalém, que foi obra de Neemias, mas trata de todo o período da restauração da chamada “Comunidade do Segundo Templo” até a reconstrução da capital, abarcando um período de mais ou menos 80 a 100 anos.
O título original do trimestre era “avivamento – uma necessidade dos dias atuais”, o que nos elucida que o propósito do estudo é mostrar a importância e necessidade do avivamento, tendo, como pano de fundo, o já mencionado momento histórico de Israel.
A capa da revista é uma ilustração do muro de Jerusalém, que é o símbolo de toda esta restauração do povo judeu depois do cativeiro da Babilônia, obra concluída em apenas 52 dias (Ne.6:15), apesar de toda a oposição para a sua realização, uma prova de que Deus deseja, sim, a restauração e constante renovação espiritual de Seu povo.
O trimestre pode ser dividido em quatro blocos.
O primeiro, composto das lições 1 e 2, vai tratar do avivamento espiritual e de suas características, começando na lição 1, pelo estudo de seu início, ainda no tempo do profeta Daniel, e um estudo mais detido na lição 2 sobre este fenômeno.
O segundo bloco trata dos fatos concernentes à reconstrução do Templo, mencionados nos primeiros capítulos do livro de Esdras, mostrando como, também neste fato, fundamental foi o avivamento espiritual do povo, o que abrange as lições 3 a 5.
O terceiro bloco cuida, então, do papel de Neemias na reconstrução de Jerusalém e todas as circunstâncias relacionadas com esta obra e as lições que se podem tirar daí para o avivamento espiritual, abrangendo as lições 6 a 10.
Por fim, o quarto bloco trata do trabalho conjunto de Esdras e Neemias, após a reconstrução de Jerusalém, com a tomada de medidas como o ensino da Palavra de Deus, a proibição do casamento misto e a vigilância constante, que são fundamentais para que haja a perseverança e a contínua renovação espiritual do povo de Deus (lições 10 a 13).
Desde já queremos advertir os amados irmãos que a excepcionalidade do momento fará com que, talvez, estes subsídios complementares fiquem aquém do costumeiro, mas continuamos a pedir oração aos amados irmãos para que continuemos a levar avante este trabalho.
- B) LIÇÃO Nº 1 – DANIEL ORA POR UM DESPERTAMENTO
Todo avivamento começa com oração.
INTRODUÇÃO
– Neste trimestre, teremos um “estudo de caso’ – estudaremos sobre avivamento espiritual à luz dos episódios que ocorreram com Israel na restauração da nação após o cativeiro da Babilônia.
– Israel teve de ser restaurado espiritualmente depois do cativeiro para que pudesse receber, posteriormente, o Messias.
I – A CONFIANÇA DE DANIEL NAS PROFECIAS
– Estamos dando início a mais um trimestre, e de forma excepcional, já que, em razão da pandemia da COVID-19, a CPAD, depois de ter decidido não lançar uma revista neste trimestre, resolveu sugerir o reestudo de um tema abordado no terceiro trimestre de 1993,
quando o saudoso missionário Eurico Bérgesten, a partir dos episódios relacionados com a restauração do povo judeu, na formação do que se costumou denominar de “Comunidade do Segundo Templo”, fez um estudo sobre o avivamento espiritual.
– Não resta dúvida de que o avivamento espiritual é uma preocupação que deve estar presente na vida de cada servo de Deus, pois precisamos estar sempre em estado de renovação espiritual, pois, como nos ensina o apóstolo Paulo,
o homem interior deve se renovar dia-a-dia (II Co.4:16), sendo certo que o profeta Habacuque já afirmara que a obra do Senhor precisava ser avivada continuadamente ao longo dos anos (Hc.3:2).
– O ser humano está sujeito ao tempo, é uma criatura e, como tal, seu relacionamento com Deus sempre enfrenta um desgaste, corre o risco de deterioração, como tudo que se dá debaixo do sol, de sorte que é imperioso, mesmo, que, de tempos em tempos, o Senhor intervenha com uma renovação, um despertamento, a fim de impedir que o torpor tome conta dos Seus servos e do Seu povo, produzindo corrupção e distanciamento.
– Esta necessidade de contínua e constante renovação vemos na ordem divina dada aos sacerdotes para que, todos os dias,
houvesse a devida limpeza no altar de sacrifícios, para que o fogo não se apagasse, fogo este, observe-se, que tinha vindo diretamente do céu da parte de Deus, mas que tinha de ser mantido aceso pelos homens aqui na Terra (Lv.6:8-13; 9:23,24).
– Pois bem, como vamos tratar do avivamento espiritual a partir das experiências do povo de Israel após o término do cativeiro da Babilônia até que se completou a restauração de Israel como nação no que se costumou denominar de “Comunidade do Segundo Templo”,
não se pode iniciar este estudo senão nas próprias circunstâncias que deram início ao cativeiro e de como o povo judaíta se comportou diante dele.
– O cativeiro da Babilônia foi a máxima punição dada ao Senhor pela apostasia do povo de Judá.
Na lei de Moisés estava previsto que, se o povo de Israel viesse a desobedecer ao Senhor, sofreria uma série de castigos, numa gradação que, iniciando-se com a falta de chuva, terminaria pela retirada do povo da Terra Prometida, como se vê, principalmente, de duas passagens, a saber: Lv.26:14-45 e Dt.28:15-68.
– Vemos claramente que o Senhor condicionou a posse da terra de Canaã para Israel à observância da lei, o que foi solenemente firmado no chamado “pacto palestiniano”, firmado pelas doze tribos de Israel nos montes Ebal e Gerizim, como determinado por Moisés (Dt.27 e Js.8:30-35).
– O povo de Judá não cumpriu a lei do Senhor e, apesar das múltiplas manifestações dos profetas para que o povo se emendasse bem como os castigos mandados por Deus neste sentido, não houve tal arrependimento, de sorte que o Senhor levantou o profeta Jeremias que, durante 40 anos, profetizou que o povo seria levado cativo para a Babilônia e que a terra ficaria deserta por 70 anos (Jr.25:11; 29:10).
– Parte da população de Judá deu ouvidos ao profeta, procurando manter uma vida de obediência a Deus, seja se arrependendo de seus pecados, seja construindo uma vida conforme a vontade do Senhor, seguindo, aliás, a própria conclamação ao arrependimento que foi levada a efeito pelo rei Josias, num verdadeiro avivamento espiritual ocorrido naquele tempo (II Cr.34:29-35:19).
Este remanescente do povo foi visto pelo próprio profeta Jeremias, logo após a primeira invasão dos babilônios a Jerusalém como sendo os “figos bons” (Jr.24).
– Entre estes “figos bons”, estava um jovem da linhagem real, chamado Daniel, que, como todos os “figos bons”, foi levado cativo na primeira leva de judeus para a Babilônia, onze anos antes da destruição do templo e da cidade de Jerusalém (Dn.1:1-7).
– Daniel, assim que foi levado para Babilônia, tomou a firme resolução de continuar servindo a Deus e demonstrou ter plena confiança nas profecias que havia ouvido do profeta Jeremias e, tanto é assim que, setenta anos depois,
quando já era um homem idoso, já há muitos anos ocupando altos cargos na administração de Babilônia, ao perceber que havia chegado o tempo do cumprimento da profecia, começou a orar a fim de que se realizasse o vaticínio do profeta (Dn.9:1-3).
– Ao buscar a Deus em oração e jejum para que houvesse a realização da profecia, Daniel nos dá importantíssimas lições.
– A primeira é a de que devemos confiar plenamente em Deus e, passe o que passar, venha o que vier, nunca devemos duvidar da Palavra do Senhor e aguardar o seu pleno cumprimento, não se deixando abalar por circunstância alguma desta vida, sabendo que Deus tem o absoluto controle de todas as coisas e que é fiel (I Co.1:9; I Ts.5:24; II Ts.3:3) e vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12).
– Se formos ver tudo o que aconteceu na vida de Daniel ao longo daqueles setenta anos, vemos que o profeta teria razões de sobra para não mais crer nas profecias, nem querer ver a sua realização.
Afinal de contas, já era um homem idoso, estava muito bem posicionado na sociedade da época, pois era um dos três principais assessores do rei Dario (Dn.6:1,2), não tendo, assim, qualquer vantagem com o final do cativeiro.
– No entanto, Daniel era um autêntico servo de Deus, que sabia que o mais importante na vida era o relacionamento com o Senhor e que Israel era a propriedade peculiar de Deus dentre os povos e que, em sendo assim,
o mais importante era que se regularizasse a situação do Seu povo, a fim de que, inclusive, se cumprissem as promessas referentes à vinda do Messias e à conversão do seu povo.
– A segunda lição é, precisamente, a prioridade que se deve dar à vida espiritual e ao nosso relacionamento com Deus e o Seu povo.
Daniel não dava tanto valor à sua posição social, nem tampouco à sua vida secular, mas, sim, ao seu relacionamento com Deus e do relacionamento de Israel com Deus.
– A terceira lição é a de que Daniel era um verdadeiro estadista, ou seja, queria o bem de seu povo para as próximas gerações, pensava no futuro do seu povo, no bem-estar de seu povo, não era egoísta, de modo que se dispôs, mesmo em idade já avançada, a jejuar e orar para que visse o bem de Israel se cumprindo.
– A quarta lição é a de que, assim como devemos confiar em Deus e na Sua Palavra, devemos buscá-l’O para que haja o cumprimento das promessas e profecias. Daniel não fez uso de sua posição para tentar convencer o rei Dario a libertar os judeus. Sabia que o poder vem de /Deus e que somos todos meros homens (Sl.62:8-11; 9:19,20).
– Quantos, na atualidade, não cometem esse erro, querendo ver cumprido o vaticínio divino através de A ou de B, por causa da posição que ocupam?
Por vezes, a exemplo de Ester, Deus põe alguém num determinado lugar para que, por meio dele, se cumpra o bem do Seu povo, mas, mesmo nestes casos, e Ester é o exemplo, primeiro se deve buscar a Deus em oração e jejum para só depois aquela pessoa tomar alguma atitude.
– Daniel não tomou qualquer atitude a não ser orar e jejuar, pois sabia que Deus havia prometido livrar Judá do cativeiro quando se completassem os setenta anos e, portanto, foi diretamente a Deus no intuito de ver realizada a promessa.
– A quinta lição que aprendemos é que, quando temos uma oração com um determinado propósito, que exige até uma certa urgência, nada melhor do que reforçar a oração com o jejum, que é uma humilhação do corpo que é adicionada à humilhação do homem interior em prol da resposta divina.
– Daniel não somente resolveu orar, como também jejuar, também se utilizando de pano de saco e cinza, também conhecidas formas de humilhação na cultura daquela época (Dn.9:3).
Jejum, pois, não é simples abstenção de alimento, mas uma abstenção de alimento que tem em vista uma humilhação do corpo que se una à humilhação do homem interior com vista a obtenção de uma resposta divina.
– A propósito, este jejum de Daniel aqui é completo, ou seja, não se trata de um jejum parcial, como encontramos em Dn.10:3 e que comumente se denomina de “jejum de Daniel” e que tem sido um pretexto para muitos transformarem o jejum em mera dieta.
Que tal, quando se falar em jejum de Daniel, lembrar-se deste jejum de que estamos a tratar?
II – A ORAÇÃO DE DANIEL
– Daniel, ao verificar que se tinham dado ou se estava na iminência de se dar os setenta anos do cativeiro, dirigiu seu rosto ao Senhor para O buscar com oração, e rogos, e jejum, e pano de saco, e cinza (Dn.9:3).
– Não há como se ter um avivamento espiritual se não se voltar para o Senhor. Se se fala em “avivamento”, se está a falar em “tornar à vida”, a “intensificar a vida” e todos sabemos que a fonte da vida é Deus, como, aliás, disse o Senhor Jesus à mulher samaritana (Jo.4:7-14).
– Como se não bastasse isso, sabemos que, nas Escrituras, vida significa comunhão e, portanto, somente tem vida verdadeira aquele que está em comunhão com o Senhor e, portanto, “avivamento” não é outra coisa senão retomar ou intensificar a comunhão com Deus, até se chegar à unidade pretendida pela obra salvífica de Cristo (Jo.17:20-23).
– Sendo assim, não há outro caminho possível para o avivamento senão de se buscar ao Senhor, de ir ao Seu encontro e a forma pela qual o homem vai em direção a Deus outra não pode ser senão a oração, que é meio de comunicação entre Deus e o homem que tem como ponto de partida o ser humano.
– Nos dias em que vivemos, fala-se muito em avivamento, mas não se vê este princípio fundamental, que é a de haver direção de busca ao Senhor, de se levar o povo à oração e ao jejum para que se tenha tal avivamento.
Os “avivamentos” hodiernos têm agitação, louvores, confraternizações, interações, mas nada ou quase nada de direção do rosto a Deus, de oração e de jejum, da quietude para que se tenha a intimidade cada vez maior entre o Senhor e cada um dos membros em particular de Seu povo.
– Todo este avivamento que estudaremos, ao longo do trimestre, começou com esta resolução individual e solitária do profeta de buscar a Deus, de abrir a sua janela em direção ao que tinha sido o templo de Jerusalém (Dn.6:10), como mandavam as prescrições (I Rs.8:46-53; II Cr.6:34-39) e, com rogos, jejum pano de saco e cinza começar a clamar ao Senhor o livramento e a restauração de seu povo.
– Quem quiser um avivamento, que siga o que o profeta Daniel fez, que comece ele a clamar e a buscar ao Senhor, a fim de que as promessas e profecias se cumpram e que haja renovação e restauração espiritual para o povo de Deus.
– Daniel não usou de sua posição respeitável perante o povo para censurá-los, para arrogar uma santidade ou dar “lições de moral”.
Muitos, na atualidade, diante dos desvios espirituais, dos escândalos, começam a usar de sua posição para vociferar a sua santidade, para condenar os que estão errados, esquecidos de que a tarefa do servo de Deus é se apiedar dos que estão duvidosos e salvar alguns, arrebatando-os do fogo (Jd.21,22), procurando fazer veredas direitas para os nossos pés para que o que manqueja não venha a se desviar inteiramente mas, antes, seja sarado (Hb.12:13).
– Verdade é que isto não significa afirmar que devamos “passar pano” nos pecados cometidos ou na vida desregrada de alguns, como, aliás, fizeram equivocadamente os coríntios com relação àquele que abusara da mulher de seu pai (I Co.5:1), mas, ao contrário,
impor a devida disciplina, quando necessário, como recomendou o apóstolo Paulo naquele caso, disciplina esta, entretanto, que deve ser um remédio e não um veneno, como, nesse mesmo caso, disse o apóstolo posteriormente (II Co.2:6-11).
– A atitude de Daniel foi buscar ao Senhor, rogar a Ele, inclusive se considerando como um dos pecadores, pois, sabia o profeta, não há ninguém que seja bom sobre a face da Terra, sendo todos os homens maus e pecadores (Sl.14:2,3; Mt.19:17).
Daniel humilhou-se diante do Senhor, pois não podemos nos considerar superiores a pessoa alguma (Fp.2:3), pois, quando nos humilhamos, temos o mesmo sentimento de Nosso Senhor e Salvador (Fp.2:5-8).
– Tomás de Kempis (1380-1471), autor do livro “Imitação de Cristo”, afirma, com muita propriedade:
“…Quando o homem se humilha por seus defeitos, aplaca facilmente os outros e satisfaz os que estão irados contra ele.
Ao humilde Deus protege e salva, ao humilde ama e consola, ao humilde ele se inclina, dá-lhe abundantes graças e depois do abatimento o levanta a grande honra. Ao humilde revela seus segredos e com doçura a si o atrai e convida.
O humilde, ao sofrer afrontas, conserva sua paz, porque confia em Deus e não no mundo. Não julgues ter feito progresso algum, enquanto te não reconheças inferior a todos.…” (op.cit., livro segundo, cap.2.2, p.32).
– Não há como vir um avivamento se não nos humilharmos perante o Senhor. Deus exalta os humildes (Ez.21:26) e somente por meio da humilhação do povo de Deus haverá o sarar da terra (II Cr.7:14) e a exaltação do próprio povo (I Pe.5:6).
Um avivamento é um estado de exaltação do povo de Deus, é um momento de cura espiritual e, portanto, jamais poderá surgir se, antes, não houver a humilhação.
– Daniel, então, orou ao Senhor, que ele chama de “meu Deus” e fez confissão de seus pecados e iniquidades, admitindo a rebeldia contra o Senhor e o apartamento de Seus mandamos e juízos (Dn.9:4,5).
– Daniel reconhece as suas imperfeições. Não resta dúvida de que o profeta era, desde a tenra idade, um servo de Deus.
Era um dos “figos bons” e, no palácio de Nabucodonosor, assentou no seu coração não se contaminar com os manjares do rei (Dn.1:8); demonstrando, deste modo, ser um homem que se mantinha em santificação, separado do pecado, mesmo em meio a uma corte altamente idólatra e dada a toda sorte de feitiçaria.
– Manteve-se, governo após governo, civilização após civilização, sempre nesta conduta de santificação, de separação do pecado, mas não podia ser considerado um homem perfeito, pois nenhum homem o é.
Por isso, validamente, confessou os seus pecados e iniquidades, reconhecendo que, a exemplo dos seus demais compatriotas, não servia a Deus a contento, não atingi o patamar de santidade requerido pelo Senhor, embora sempre se esforçasse para o fazer.
– Não há como termos um avivamento se não admitirmos as nossas imperfeições, se não reconhecermos nossas fraquezas e a necessidade que temos de buscar cada vez mais ao Senhor.
Se nos considerarmos santos o suficiente, cairemos no erro dos fariseus e jamais conseguiremos ter uma renovação ou um fortalecimento espirituais.
O Senhor Jesus foi claríssimo ao afirmar que ao dizer aos fariseus que eles permaneciam no pecado porque, sendo cegos, diziam que viam e recusavam-se a ter uma visão espiritual crendo em Jesus (Jo.9:39-41). Que Deus nos guarde!
– Ao mesmo tempo que Daniel reconhecia a falibilidade do ser humano, do povo de Israel e dele próprio, exaltava o Senhor e reconhecia a Sua grandeza, poder e fidelidade.
O avivamento é possível porque Deus é grande, poderoso e fiel e, portanto, pode nos encher do Seu poder, fazer-nos trasbordar do Espírito Santo, realizando sinais, prodígios e maravilhas, porque assim Ele prometeu a todos quantos O buscarem.
Jesus foi claríssimo ao afirmar que quem busca, acha; quem bate, abrir-se-lhe-á e quem pede, dar-se-lhe-á (Mt.7:7,8).
– Muitos, em nossos dias, sabedores de que as profecias bíblicas indicam que vivemos um tempo de aumento da iniquidade e de apostasia espiritual, desanimam quando se fala em avivamento, esquecendo-se de que Deus prometeu ouvir tantos quantos O buscarem, independentemente do momento em que se está a viver.
– Daniel vivia um período em que Babilônia havia caído e havia exsurgido o Império Persa. A alteração do domínio sem que se abrisse uma oportunidade de libertação dos povos dominados parecia indicar mais um longo período de dominação,
parecia que a possibilidade de uma anarquia que permitisse o retorno da independência política dos povos dominados havia desaparecido e, com isto, a esperança do cumprimento das profecias e Daniel, mais do que ninguém, alguém enfronhado na estrutura do poder, sabia disso.
– Contudo, Daniel não se fiava nas circunstâncias, mas, sim, na grandeza, no poder e na fidelidade de Deus e, por isso mesmo,
foi orar ao Senhor, sabendo, inclusive, que o povo judeu não merecia esta bênção, já que nada estava a fazer no sentido de melhorar os seus caminhos, mas o fato é que Deus havia prometido livrar o Seu povo e, portanto, haveria de cumprir o que dissera.
– Daniel confessa que o povo judaíta não tinha ouvido os profetas durante todos os anos em que pregavam eles para que o povo se arrependesse de seus pecados e voltasse a cumprir a lei.
No próprio cativeiro, Deus levantara, além do próprio Daniel, Ezequiel, mas o povo insistiu em continuar a ouvir falsos profetas, como Acabe e Zedequias (Jr.29:21).
Mesmo assim, sabendo que com o povo estava sempre a “confusão de rosto”, a Deus pertencia a justiça (Dn.9:7,8).
– Entretanto, exatamente por saber quem era Deus, o profeta pedia ao Senhor o perdão dos pecados, admitindo que a perda da Terra Prometida tinha sido justamente aplicada ao povo, como constava na lei (Dn.9:9-14).
– Um avivamento somente pode vir quando admitimos a justiça divina e reconhecemos que, validamente, estamos debaixo da ira divina por causa de nossos pecados, mas também que Deus é grandioso em perdoar, desde que nós nos convertamos (Is.55:6), pois o objetivo do Senhor é utilizar-Se dos castigos com o objetivo de levar o povo ao arrependimento e à conversão (Dn.9:13).
– Não há avivamento se não houver arrependimento dos pecados, se não houver conversão. O avivamento é uma decorrência do reconhecimento de nossa necessidade diante de Deus, de nossa pecaminosidade.
Falar-se em avivamento sem que se tenha a noção de que é preciso haver arrependimento e conversão é uma fraude, é uma contrafação.
– O pedido de Daniel era, em primeiro lugar, que o Senhor apartasse da Sua ira e do Seu furor a cidade de Jerusalém e o seu santo monte, pois, se Deus não perdoasse o povo, jamais poderia haver a repatriação de Israel.
Jerusalém havia se tornado um opróbrio para todos os que estavam ao redor única e exclusivamente pelos pecados do povo.
– Quando notamos que há a necessidade de um avivamento, ou seja, quando percebemos que o nível espiritual do povo está a declinar, temos de reconhecer que isto se deve tão somente por culpa dos homens, que são pecadores e rebeldes contra Deus, e isto deve ser reconhecido, pois, caso contrário, não se poderá ter avivamento algum.
– Por isso, o profeta Daniel dizia que seu pedido não era fiado nas justiças dos homens, mas, sim, nas misericórdias do Senhor, pois são elas a causa de não sermos consumidos, como disse o profeta Jeremias (Lm.3:22,23), misericórdias que se renovam a cada manhã.
– Quando falamos em renovação espiritual, falamos, como já dissemos, em renovação do homem interior dia após dia e, portanto, somente pode ocorrer tal renovação se for ela baseada nas misericórdias do Senhor, que são igualmente renovadas a cada dia, a cada instante. É porque Deus é misericordioso que podemos falar em avivamento.
– O pedido do profeta era que o Senhor fizesse resplandecer o Seu rosto sobre o santuário assolado por amor do Senhor (Dn.9:17). O profeta queria que a glória do Senhor voltasse a se manifestar no templo de Jerusalém.
Daniel queria que o povo adorasse ao Senhor, que a glória do Senhor aparecesse para o povo. Vemos que o desejo de Daniel era uma perfeita comunhão entre Deus e o Seu povo.
– Desejar um avivamento é, precisamente, desejar que haja uma comunhão
III – A RESPOSTA À ORAÇÃO DE DANIEL
– Tanto Daniel fez tudo corretamente, como se devia, que o Senhor ouviu o seu clamor e mandou o anjo Gabriel para trazer-lhe a resposta, que foi a revelação das setenta semanas, quando, então, o Senhor dá a Daniel a notícia de que Israel seria, sim, redimido,
mas isto não se daria com o cumprimento da profecia de Jeremias, mas, sim, depois de um período de setenta semanas de anos, ou seja, 490 anos,
período que se iniciaria com o atendimento do pedido do profeta, qual seja, a reedificação da cidade de Jerusalém, pois Deus, atendendo à oração feita, iria apartar a cidade de Jerusalém da Sua ira e furor (Dn.9:20-27).
– O avivamento já começava a dar resultado. Graças à oração de Daniel, o Senhor iria afastar Seu furor e ira da cidade de Jerusalém e cumprir a profecia de Jeremias.
Não se teria apenas o retorno do povo à Terra Prometida mas, também, a promessa de uma restauração espiritual, que começaria com a ordem para a reedificação de Jerusalém e terminaria com a redenção final do povo, após as setenta semanas.
– É assim que se começa um avivamento: com oração, humilhação, arrependimento e conversão.
Quem assim age é ouvido pelo Senhor e o Senhor anuncia, então, que começará a agir, a fim de que todos venham à plena redenção.
O objetivo de um avivamento não é, em absoluto, a exaltação do homem, mas uma oportunidade para que todos façam a vontade de Deus e entrem em comunhão com Ele.
– Daniel, embora fosse um estadista, não estava preocupado com a independência política do povo de Israel, com a restauração do reino e do trono de Davi, mas, sim, com o perdão do povo, com o arrependimento e a conversão dos israelitas ao Senhor.
– Este é o objetivo de um avivamento: a redenção. Tanto assim é que, ao trazer a resposta do Senhor a Daniel, o anjo Gabriel veio dizer que estavam determinadas setenta semanas para extinguir a transgressão, dar fim aos pecados e expiar a iniquidade e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e ungir o Santo dos santos (Dn.9:24).
– A resposta divina mostra, claramente, que a preocupação do profeta, o seu pedido era a redenção do seu povo, a salvação de Israel.
Aqui vemos que este era o que Daniel tinha no coração, a mostrar que profeta estava em perfeita sintonia com o Senhor, que também quer a salvação de todos os homens (I Tm.2:15; Ez.18:23).
– O desejo do profeta que trouxe esta resposta divina ao seu clamor foi o mesmo desejo manifestado pelo Senhor Jesus quando chorou sobre Jerusalém após a entrada triunfal (Lc.19:41-44),
entrada triunfal que representa, aliás, o cumprimento da sexagésima nona semana da revelação, tendo sido também o mesmo desejo demonstrado pelo apóstolo Paulo na epístola aos romanos (Rm.9:1-5).
– O avivamento tem como finalidade precípua a salvação das almas, é para isto que Deus renova o Seu povo, a fim de que todos possam crer que Jesus foi enviado ao mundo para salvá-lo.
Também através deste critério da finalidade podemos observar quantos falsos avivamentos têm sido propalados na atualidade…
– Notemos que o início da redenção se daria com a saída da ordem para a reedificação da cidade de Jerusalém e a reconstrução de Jerusalém, portanto, tem este papel, ou seja, de indicar que o povo estaria espiritualmente pronto para iniciar esta nova “jornada” rumo a redenção.
– É precisamente este período que haveremos de estudar, entre a oração de Daniel e a resposta que lhe deu o Senhor, o que ocorreu no primeiro ano de Dario, rei dos medos, que é, precisamente, o primeiro ano do rei Ciro, quando se deu o término do cativeiro da Babilônia (Dn.9:1,2; II Cr.36:22; Ed.1:1)
até a reconstrução de Jerusalém, que se dá quando Neemias não só reconstrói os muros mas impõe a lei mosaica sobre a cidade, depois de reconstruída, inclusive por ocasião de seu segundo mandato,
período em que ocorre a restauração espiritual de Israel, a fim de que pudesse ele reiniciar sua peregrinação sobre a face da Terra como propriedade peculiar dentre os povos, a fim de trazer ao mundo o Cristo do Senhor.
– O avivamento traz, portanto, a criação de condições que permita que o povo de Deus caminhe sobre a face da Terra de maneira a cumprir o propósito divino estabelecido para ele.
Assim como Israel tinha o papel de trazer o Salvador para o mundo (daí porque Jesus ter dito que a salvação vem dos judeus – Jo.4:32), a Igreja tem o de pregar o Evangelho e caminhar para as mansões celestiais e isto ela fará com muito melhores condições se estiver sempre avivada, sem o que não poderá cumprir os desígnios divinos.
– Somente com o avivamento é que o povo de Deus pode ser efetivamente propriedade do Senhor, o “o povo que chama pelo Seu nome” (Dn.9:19) e isto se daria quando Jerusalém pudesse ser, uma vez mais, “a cidade que chama pelo Seu nome’ (Dn.9:18),
o que se daria efetivamente quando ela se tornasse, novamente, o lugar do templo e um lugar habitável, sendo este o sinal do avivamento que haveria de vir, como teremos ocasião de estudar neste trimestre.
– Mas o que é mesmo o avivamento? É o que veremos na próxima lição.
Ev. Caramuru Afonso Francisco