LIÇÃO Nº 11 – ESDRAS VAI A JERUSALÉM ENSINAR A PALAVRA
Todo avivamento espiritual começa pela Palavra de Deus.
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo do período da formação da Comunidade do Segundo Templo para extração de lições sobre avivamento espiritual, analisaremos os capítulos 7 e 8 do livro de Esdras.
– Todo avivamento espiritual começa pela Palavra de Deus.
Para acessar o apêndice desta lição click aqui
I – ESDRAS É MANDADO PARA JERUSALÉM
– Estamos estudando, neste trimestre, o período da formação da denominada “Comunidade do Segundo Templo” para, com base nos relatos referentes a este momento histórico de Israel, extrairmos lições sobre o avivamento espiritual.
– Por isso mesmo, não teve o nosso saudoso comentarista a preocupação em fazer o estudo em uma sequência cronológica.
Assim, depois de termos tido algumas lições no livro de Neemias, cujos fatos se iniciam no vigésimo ano do reinado de Artaxerxes (Ne.2:1), iremos, nesta lição, fazer uma análise do papel de Esdras em todo este processo, ou seja, voltaremos para treze anos antes da ida de Neemias, ou seja, para fatos ocorridos no sétimo ano do reinado de Artaxerxes (Ed.7:7).
– O livro de Esdras, depois de narrar os episódios que cercaram a reconstrução do templo em Jerusalém, dá um salto de aproximadamente 57 anos, segundo os cronologistas bíblicas Edward Reese e Frank Klassen, pois a Páscoa mencionada em Esdras 6 teria ocorrido em 516 a.C. e os fatos noticiados em Esdras 7 teriam ocorrido por volta de 459 a.C.
– Notamos, portanto, que, na expressão “Passadas essas coisas”, constante de Ed.7:1, há este intervalo de tempo, intervalo, inclusive, em que se desencadearam os fatos narrados no livro de Ester.
– O templo foi reconstruído, mas não a cidade de Jerusalém. O governo passou a ser exercido, segundo conta Flávio Josefo, pelos sumos sacerdotes, auxiliados pelos “chefes dos pais” e não houve qualquer iniciativa para que se construísse a cidade de Jerusalém, principalmente seus muros, o que daria segurança para o próprio templo.
– Enquanto o povo voltava a uma situação de inércia com relação às coisas divinas, o inimigo não cessava de montar os seus ardis para tentar atrapalhar o plano divino para os judeus serem a propriedade peculiar de Deus dentre os povos.
– Assim é que, de um lado, os povos vizinhos começaram a se aproximar dos judeus, retirando aquela animosidade que havia caracterizado os primeiros anos de convivência, a ponto de conseguirem, inclusive, formar famílias com os judeus, numa proliferação de casamentos mistos.
– De outro lado, houve a tentativa de destruição de todos os judeus, nos dias do rei Xerxes, quando o primeiro-ministro Hamã, que era agagita, ou seja, descendente do rei dos amalequitas, Agague, que havia sido poupado por Saul (I Sm.15:8,9)., e assim mantido a semente deste povo que era inimigo dos israelitas.
OBS: Lembremos que, no livro de Ester, o rei da Pérsia é chamado de Assuero, mas Assuero era o título que recebia o rei da Pérsia, assim como o rei do Egito era chamado de Faraó.
O rei persa que se casou com Ester foi Xerxes, que reinou de 486 a.C. até 465 a.C. Ele era filho de Dario I, o rei que confirmou a ordem de Ciro para a reconstrução do templo.
– Deus havia tomado providências para impedir a destruição pretendida por Hamã, mas ainda não haviam sido tomadas medidas para que esta aproximação dos povos vizinhos aos judeus comprometesse a separação dos israelitas, condição necessária para que fosse o povo santo de onde viria o Messias para salvar a humanidade.
– Notamos, pois, como o inimigo sempre tenta atacar o povo de Deus em dois flancos: o primeiro, é o da destruição física. O diabo usa os seus agentes para eliminar fisicamente os servos do Senhor, como tentou fazer através do decreto que Hamã conseguiu que o rei Xerxes exarasse um decreto para matar todos os judeus (Et.3:8-13).
– Ante a ameaça de eliminação física, o povo de Deus deve, sim, como fizeram os judeus naquela ocasião, clamar a Deus com orações e jejuns para que a ameaça seja eliminada, mas o fato é que não devemos temer perder a vida física, pois, ainda que sejamos fisicamente mortos, ninguém ou nada poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm.8:35-39).
– Prova disso foi a morte de Estêvão, o primeiro mártir da Igreja, que, quando se encaminhava para a morte por apedrejamento, pôde ver que os céus estavam abertos e o Senhor Jesus, à direita do Pai, estava em pé como que para recepcionar o Seu servo (At.7:55-60).
– Os servos do Senhor têm de estar dispostos a morrer por causa de Jesus, pois Ele Se dispôs a morrer por nós (I Jo.3:16; At.20:24).
Jamais podemos abrir mão de nossa comunhão com o Senhor por causa da ameaça física quanto à nossa vida biológica, pois quem amar a sua vida biológica, perderá a vida eterna (Mt.10:39; 16:25; Mc.8:35;Lc.9:24; 17:33; Jo.12:25).
– Alguém poderá dizer que este conceito somente existe na Igreja, não era aplicável aos judeus, mas a verdade é que este mesmo pensamento também vigorava entre os israelitas, precisamente no período da Comunidade do Segundo Templo, quando surgiu a ideia da “santificação do nome de Deus” (Kidush Ha-Shem), segundo o qual ao judeu era exigida a resistência até a morte contra qualquer iniciativa que representasse a apostasia espiritual.
OBS: Este pensamento foi fixado como regra apenas em 90 d.C., em Lida: “Todos os mandamentos (mitzvot) negativos da Torah, exceto os que dizem respeito à idolatria, ao adultério e ao assassinato, podem ser violados caso se corra perigo de perder a vida”.
– Por isso, é dito que não devemos temer quem pode matar o corpo, que é o inimigo de nossas almas, mas, sim, Aquele que tem poder para lançar o homem no lago de fogo e enxofre, que é o Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Mt.10:28).
– O segundo flanco pelo qual o inimigo ataca o povo de Deus é o da eliminação espiritual, ou seja, o de procurar matar os princípios, valores e crenças do povo ao longo do tempo, mediante um comportamento que seja permissivo em relação ao pecado, normalmente mediante a convivência com pessoas descomprometidas com os mandamentos do Senhor.
– Assim, enquanto tentou destruir fisicamente os judeus por intermédio de Hamã, o inimigo passou a fomentar uma aproximação entre judeus e os povos vizinhos, retirando, com o passar do tempo, a animosidade que existia.
Provavelmente, quando dos episódios narrados no livro de Ester, podem muito bem os samaritanos, amonitas, moabitas e arábios terem, com a mudança de ventos na política persa, ter se aliado aos judeus quando do dia de Purim (Et.9:2,3).
– Esta aproximação foi se estreitando cada vez mais e os judeus já começavam a se casar com mulheres estrangeiras, a começar das próprias lideranças do povo (Ed.9:1,2).
– Garantida a sobrevivência física dos judeus, como se viu no livro de Ester, a Divina Providência tratou de garantir a sobrevivência espiritual de Israel e, para tanto, não se sabe como, motivou o sacerdote e escriba hábil na lei de Moisés, Esdras, que vivia em Babilônia, a retornar para Jerusalém, a fim de ensinar a lei para o povo.
– O texto bíblico apenas diz que Esdras tinha linhagem sacerdotal, era descendente de Arão e que ele resolveu sair de Babilônia com destino a Jerusalém, tendo tido todo o apoio do rei Artaxerxes nesta sua decisão.
– Flávio Josefo diz que Esdras era o mais considerado dos sacerdotes judeus que morava em Babilônia, um homem de bom, que gozava de grande fama no meio do povo e muito amado pelo rei, que, a exemplo de seus antecessores, era simpático aos judeus.
OBS: “…Xerxes sucedeu a seu pai Dario e não foi menos herdeiro de sua piedade para com Deus do que do trono. Nada mudou a respeito do
que havia determinado com relação ao seu culto e teve sempre uma grande afeição pelos judeus. Joaquim, filho de Jesua, era grão-sacrificador durante seu reinado e Esdras era o primeiro e o mais considerável de todos os sacrificadores que tinham ficado em Babilônia.
Era um homem de bem, gozava de grande fama no meio do povo, muito instruído nas leis de Moisés e muito amado pelo rei.
Assim, quando resolveu voltar a Jerusalém e levar consigo alguns judeus, que estavam morando em Babilônia, ele obteve desse príncipe umas cartas de recomendação endereçadas aos governadores da Síria…” (Antiguidades Judaicas XI.5, 443. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.239). Observe-se, apenas, que Josefo confunde os reis, pois, na verdade, o rei era Artaxerxes, filho de Xerxes e neto de Dario.
– Note-se que, em Babilônia, como disseram, ficou a maior parte dos judeus, formando uma colônia judaica que, inclusive, tinha um grupo que se dedicava ao estudo das Escrituras.
Babilônia será durante cerca de 1000 anos um famoso e conceituado centro de estudos judaicos, tanto que será lá que se organizará o mais famoso Talmude, considerado o segundo livro sagrado do judaísmo, que contém a tradição dos anciãos (Mt.15:2), com os comentários dos principais doutores da lei.
– Não se sabe porque, mas o fato é que este Esdras resolveu ir para Jerusalém, apesar de ter vivido toda a sua vida em Babilônia.
Foi certamente uma ação da Divina Providência, pois Esdras foi fundamental para a manutenção da identidade judaica, a ponto de ser chamado pelos judeus de “o segundo Moisés”.
– No Talmude da Babilônia, há uma nítida consideração de Esdras como o “segundo Moisés”, pois, a exemplo do libertador, Esdras entregou a lei para o povo judeu, que a estava esquecendo.
A lei era fundamental para que Israel se tornasse “a propriedade peculiar de Deus dentre os povos”, o “povo santo” e o “reino sacerdotal” (Ex.19:5,6).
– Para que Israel pudesse ser este povo peculiar de Deus, era preciso que fosse governado pelo Senhor, que o Senhor Se tornasse o Seu rei e, num reino, é o rei quem dá as normas, quem estabelece as regras. Daí porque ter o Senhor dado a lei para o povo, por intermédio de Moisés (Jo.1:17).
– No entanto, quando o povo retornou do cativeiro, parece que poucos ou quase nenhum dos mestres da lei voltaram para Jerusalém.
Esta circunstância fez com que não se tivesse o estudo da lei entre os que retornaram, enquanto que, em Babilônia, este estudo permaneceu, a ponto de Esdras ser um “escriba hábil na lei de Moisés” (Ed.7:6).
– Esdras, então, leva a lei novamente para o povo judeu, um povo que, por falta de instrução, estava correndo sério risco de ser destruído, assim como tinha acontecido com o reino das dez tribos (Os.4:6).
– Deus faz com que Esdras decida deixar o conforto de Babilônia, onde tinha pleno reconhecimento de todos, para ir até Jerusalém e ali ensinar a lei ao povo, assim como Moisés fez com Israel, eis o porquê de ser chamado de “segundo Moisés”.
OBS: Algumas passagens do Talmude fazem esta comparação entre Moisés e Esdras: “…A Guemará [os comentários dos mestres da lei – observação nossa] anota: (…) quando algumas das leis da Torá foram esquecidas na terra de Israel, Esdras subiu da Babilônia e restabeleceu as leis esquecidas…” (Sukkah 20a. Disponível em https://www.sefaria.org/Sukkah.20a?lang=bi Acesso em 07 jun. 2020 – tradução nossa de texto em inglês)”;
“… Inicialmente, a Torá foi dada ao povo judeu na escrita Ivrit, a forma original da linguagem escrita, e na língua sagrada, o hebraico.
Ela foi dada novamente nos dias de Esdras, na escrita Ashurit e na língua aramaica…” (Sanhedrin 21b. Disponível em: https://www.sefaria.org/Sanhedrin.21b?lang=bi Acesso em 07 jun. 2020 – tradução nossa de texto em inglês);
“…Em relação a Moisés, o versículo declara: ‘E Moisés subiu a Deus’ (Ex.19:3) e, em relação a Esdras, o versículo declara; “Este Esdras subiu de Babilônia e era escriba hábil na lei de Moisés, dada pelo Senhor Deus de Israel’.
Assim como a subida aqui declarada, no que diz respeito a Moisés, é para a Torá, que ele recebeu de Deus e transmitiu ao povo judeu, assim também a subida declarada ali, no que diz respeito a Esdras, é para a Torá, como ele ensinou a Torá ao povo judeu e era adequado ter merecido originalmente dar…” (Sanhedrin 21b. Disponível em: https://www.sefaria.org/Sanhedrin.21b?lang=bi Acesso em 07 jun. 2020 – tradução Google de texto em inglês modificada por nós); “…Os Sábios ensinaram que Esdras instituiu dez ordenanças…” (Bava Kamma 82-a. Disponível em: https://www.sefaria.org/Bava_Kamma.82a?lang=bi Acesso em 07 jun. 2020 – tradução nossa de texto em inglês).
– Não há como se ter um avivamento espiritual se ele não se fundamentar na Palavra de Deus. Todos os avivamentos espirituais narrados nas Escrituras estão diretamente relacionados com o retorno aos mandamentos divinos, com a volta à Palavra de Deus.
– Alguém poderia objetar isto, uma vez que, na primeira lição deste trimestre, estudamos o início deste avivamento que levou à formação da Comunidade do Segundo Templo na oração de Daniel e não se cansou de afirmar que todo avivamento espiritual é caracterizado pela busca a Deus em oração.
– No entanto, o que motivou Daniel a orar? A profecia de Jeremias de que o cativeiro duraria 70 anos, ou seja, foi a Palavra de Deus que deu ensejo a Daniel iniciar a sua oração e, mais do que isto, a sua fé na Palavra que o fez clamar ao Senhor para que se tivesse o cumprimento da profecia.
– A tentativa de destruição do povo de Israel através da “matança espiritual”, que estava sendo levada a efeito pelo inimigo somente poderia ser dissipada com a Palavra de Deus, pois é ela o alimento do homem interior (Mt.4:4; Lc.4:4), é ela o elemento santificador (Jo.15:3; 17:17) e, sabemos todos, que, sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).
– Quando o povo já estava se casando com os estrangeiros, quando a nova geração nem sequer conseguia mais falar a língua judaica (Ed.9:1,2; Ne.13:23,24), colocando em risco a preservação da identidade nacional de Israel, o Senhor toma a providência necessária, que era levar um mestre da lei, o mais exímio daquele tempo para entregar novamente a lei ao povo e restaurar Israel como “propriedade peculiar de Deus dentre os povos”.
– Em nossos dias, não é diferente. Corremos também o risco de perdermos a identidade cristã, de voltarmos a ser vencidos pelas corrupções do mundo (II Pe.2:20), de sermos enganados pelos ventos de doutrina ardilosamente propalados por homens fraudulentos (Ef.4:14).
Por isso, o Senhor constituiu os Seus ministros (Ef.4:11), os quais, cada um na sua função, faz com que mantenhamos contato com a Palavra de Deus e, deste modo, possamos crescer como templo santo no Senhor, como morada de Deus no Espírito (Ef.2:20-22), pois só pode ser morada de Deus quem guarda a Sua Palavra (Jo.14:23).
II – A MISSÃO DE ESDRAS
– Esdras subiu de Babilônia com a missão de pôr regedores e juízes que julgassem a todo o povo que estava dalém do rio, a todos os que soubessem as leis de Deus e aos que não soubessem, Esdras deveria fazê-los saber (Ed.7:25).
– Como diz o Talmude, em texto reproduzido supra, Esdras subiu de Babilônia para Jerusalém para transmitir a lei de Deus para o povo judeu, que, por causa da falta de instrução, não a conhecia mais e isto fica bem claro no decreto do rei Artaxerxes,
que mandava que Esdras nomeasse juízes para o povo dentre os conhecedores da lei e que ensinasse os que não conhecessem, numa clara demonstração de que até a corte do rei da Pérsia sabia que os judeus não mais conheciam a lei de Moisés.
– O inimigo sabe que se o povo de Deus deixar de conhecer a Palavra do Senhor perderá a sua identidade, será destruído como povo, misturando-se com os que não creem em Cristo, com os que não têm compromisso de morar nas mansões celestiais.
Por isso, o adversário luta tanto contra a Palavra de Deus e procura, de todas as formas, fazer com que o povo não tenha acesso às Escrituras. Está entendido agora porque tantos procuram atrapalhar as Escolas Bíblicas Dominicais?
– Esdras era um escriba hábil na lei de Moisés, ou seja, era alguém que conhecia a lei com profundidade. Flávio Josefo diz que não havia quem conhecesse mais a lei do que ele e, por isso mesmo, o Senhor o escolheu para que ensinasse o povo judeu.
Para que se ensine é necessário que se conheça. Não é possível ser mestre se não se tiver conhecimento do que será ensinado.
– Esdras era um escriba, ou seja, era alguém que copiava os textos sagrados. Naquele tempo, não havia imprensa e os textos eram manuscritos, ou seja, escritos à mão.
O material empregado para se escrever era o papiro, que se deteriorava com facilidade, de modo que era importante que se fizessem cópias das Escrituras de modo ininterrupto.
– Os escribas eram, naquele tempo, praticamente os únicos que conheciam as Escrituras, pois, por causa do cativeiro, o povo havia deixado de falar o hebraico e adotado o aramaico, a língua falada em Babilônia, como seu idioma.
Entretanto, os textos sagrados eram escritos em hebraico e, deste modo, só os escribas, que copiavam os textos em hebraico, tinham acesso ao conteúdo dos textos sagrados e, deste modo, podiam explica-los ao povo, que nem hebraico mais falava (Ne.8:7,8).
– Os mestres na Igreja não podem ser diferentes em nossos dias. Se é certo que as Escrituras, desde a Reforma, é acessível ao povo porque foram traduzidas no idioma de cada um, também se sabe que não basta o conhecimento da língua para se poder entender o texto sagrado, como nos mostra o eunuco que era mordomo-mor de Candace e que, pelo que se verifica da narrativa bíblica, conhecia o hebraico (At.8:27-35).
– Hoje em dia, é mister que, na Igreja, haja ministros que saibam explicar e fazer com que as Escrituras sejam entendidas, e, para tanto, não se faz necessário apenas conhecer
– Esdras não era apenas um escriba, mas um “escriba hábil” e aqui se tem a palavra hebraica “mahir” (ריה ִמׇ), que significa “ligeiro, donde habilidoso — diligente, apressado, pronto, disposto” (Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 4106, p.1732), palavra que deriva de “mahar” (רה ַמׇ), cujo significado é “estar líquido ou fluir facilmente”.
– Esdras era alguém muito cuidadoso com o estudo e a cópia das Escrituras e alguém que tinha extrema facilidade no entendimento do texto sagrado e esta é uma das características daqueles que são vocacionados para o ensino da Palavra: têm prazer em estudar e conseguem rapidamente entender o sentido do que está escrito.
Não é à toa que é dito que “a mão do Senhor seu Deus estava sobre ele” (Ed.7:9). Esdras tinha a assistência divina para compreender a lei do Senhor.
– O entendimento das Escrituras é obtido espiritualmente, porque foi o Espírito Santo que inspirou os autores sagrados (I Pe.1:20,21).
Os discípulos só compreenderam as profecias a respeito de Cristo depois que o próprio Jesus lhes abriu o entendimento (Lc.24:45). As coisas espirituais somente se discernem espiritualmente ( I Co.2:11-16).
– Esdras não subiu sozinho, mas se fez acompanhar de sacerdotes, levitas, cantores, porteiros e netineus, que eram servos hereditários que haviam sido doados aos levitas e que, tradicionalmente, são considerados como sendo os gibeonitas.
Nunca se faz a obra de Deus solitariamente, máxime quando se está a restaurar o povo de Deus, como era o caso.
– Mas por que Deus escolheu Esdras para esta tão importante tarefa? O texto sagrado nos informar que Esdras era um escriba hábil na lei de Moisés, mas, para chegar a este estágio, ele tomou, antes, algumas decisões em sua vida que o tornaram apto para ser o “segundo Moisés”.
– Por primeiro, é dito que Esdras tinha preparado o seu coração para buscar a lei do Senhor. Esdras tinha linhagem sacerdotal, desde muito cedo soube disto, mas ele tomou uma decisão que muitos dos demais sacerdotes, estivessem eles na Terra Prometida ou fora dela, não haviam tomado: ele preparou seu coração para buscar a lei do Senhor.
– Esdras quis conhecer as Escrituras e isto foi fundamental para ele se tornar o escriba hábil na lei do Senhor. Ele tinha desejo em saber qual a vontade de Deus para o Seu povo, o que Deus havia revelado ao homem.
– Nós também temos de ter desejo de conhecer as Escrituras, até porque são elas o nosso alimento espiritual (Mt.4:4; Lc.4:4) e o principal meio de santificação (Jo.15:3; 17:17).
O conhecimento das Escrituras não é, como alguns pensam, um meio de erudição, um meio de preparação para o exercício de algum ministério, mas o meio de sobrevivência espiritual. Quem não conhece a Palavra de Deus será destruído, acabará por morrer espiritualmente. Pensemos nisto!
– Mas não era apenas isto que Esdras desejava. Ele queria conhecer as Escrituras de modo que seu coração estivesse voltado para elas.
Ele não havia preparado a sua mente para buscar a lei do Senhor, ele não desejava conhecer a Palavra de Deus como fonte de erudição, como forma de obtenção de conhecimento intelectual, mas como meio de vida. Ele preparou o seu coração, ele queria viver de acordo com as Escrituras.
– Por isso, o texto prossegue dizendo que Esdras cumpria a lei do Senhor. Para ser um bom ensinador da lei, é preciso ser um bom cumpridor das Escrituras.
Esdras quis aprender a lei para cumpri-la, para viver de acordo com a vontade de Deus. Não podemos ser como os fariseus, que ensinavam mas não praticavam o que ensinavam (Mt.23:2,3), mas imitemos a Jesus, que primeiro fazia para depois ensinar (At.1:1).
– Só, então, quando aprendeu para cumprir e, efetivamente, cumpriu a lei do Senhor é que Esdras começou a ensinar e se sobressaiu, em Babilônia, como o maior dos mestres da lei, a ponto de ter conseguido do rei da Pérsia a autorização para ir a Jerusalém e ensinar a lei a todo o povo judeu.
OBS: “…Esdras era o primeiro e o mais considerável de todos os sacrificadores que tinham ficado em Babilônia.
Era um homem de bem, gozava de grande fama no meio do povo, muito instruído nas leis de Moisés e muito amado pelo rei.…” (JOSEFO. Flávio. Antiguidades Judaicas XI.5, 443. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.239).
– Esdras conseguiu a autorização para que, com ele, fossem tantos judeus quisessem, havendo, pois, desta feita, uma nova leva de judeus que retornavam para a Terra Prometida.
O Senhor não só estava cuidando para que o povo sobrevivesse espiritualmente, como também estava mandando mais pessoas para morar na Terra Prometida, precisamente para que, com o final dos casamentos mistos, não houvesse problemas concernentes à perpetuação do povo judeu nas futuras gerações.
– Esdras, também, recebeu autorização do rei para receber donativos como também todo o apoio que se fizesse necessário para que se fizesse o serviço do templo em Jerusalém, inclusive recursos financeiros e toda a espécie de produtos que se fizessem necessários.
Tamanha benevolência do rei foi objeto de gratidão por Esdras, que reconheceu que nisto tudo estava a mão do Senhor (Ed.7:11-28).
– Diante de uma bênção tão grande, que fez Esdras? Ele se esforçou, segundo a mão do Senhor sobre ele, e ajuntou dentre Israel alguns chefes para subirem com ele (Ed.7:28).
Esdras dá-nos importantíssimas lições ao nos afirmar isto. A primeira é que precisamos ter o devido reconhecimento de que Deus está no controle de todas as coisas.
Embora tivesse Esdras um certo conceito em Babilônia e na corte do rei Artaxerxes, atribuiu tudo a Deus, nada a si. Precisamos reconhecer que tudo está nas mãos do Senhor e que, sem Ele, nada podemos fazer (Jo.15:5 “in fine”).
– A segunda lição é que o fato de tudo estar sob o controle de Deus não nos isenta de nos esforçarmos, de fazermos a nossa parte.
Sem o Senhor, nada podemos fazer, mas, com o Senhor, temos algo a fazer. Esdras se esforçou, tratou de organizar sua ida a Jerusalém, de obter a documentação necessária, de tomar as devidas providências para a realização desta viagem.
– A terceira lição é de que nada podemos fazer solitariamente. Além de Deus, precisamos de outros homens, dos irmãos, daqueles que formam, conosco, o povo do Senhor.
Esdras tratou de ajuntar alguns chefes para subirem com ele para Jerusalém. Somos membros uns dos outros (Rm.12:5; Ef.4:25) e, como fazemos parte de um corpo, não temos como agir solitariamente, máxime nos assuntos concernentes ao povo de Deus.
– Esdras tanto valorizava os seus compatriotas que fez questão de nomear os chefes que subiram com ele (Ed.8:1-20).
– Este cuidado de Esdras de procurar levar consigo outras pessoas foi tanto que, assim que ajuntou o povo, foi verificar quem eram os que iriam com ele e descobriu que não havia nenhum levita entre os que se dispuseram ir para Jerusalém.
Ora, era importantíssimo que levitas voltassem para a Terra Prometida, pois eles eram os encarregados pelo Senhor para realizar a obra na casa de Deus (Ed.8:15).
– Esdras não se conformou com isso e tomou providências no sentido de que os levitas fossem procurados e convencidos a se mudarem para Jerusalém, pois a ordem real era neste sentido (Ed.7:13).
– A regra para o retorno à Terra Prometida era a voluntariedade. Ninguém poderia ser obrigado ou constrangido a ir para lá. De igual modo, ninguém é obrigado ou constrangido a servir a Deus.
Devemos, a exemplo de Esdras, tentar convencer as pessoas, ir ao encontro delas, falar que Jesus quer salvá-las, mas o Evangelho é sempre uma proposta, jamais uma imposição.
– Alguns levitas foram convencidos, num total de 38 levitas e 220 netineus, que eram servos dos levitas. Alguém poderá dizer que era um número pequeno, inclusive diante dos demais que se dispuseram ir e que somavam 1.496 homens.
No entanto, Esdras não estava preocupado em quantidade, mas, sim, em ter pessoas que tivessem realmente a disposição de servir ao Senhor, de ajudá-lo na tarefa de reinstituir a lei do Senhor entre os judeus.
Tanto é assim que agradece ao Senhor pela vinda daqueles homens, pois sabia que isto era o resultado da “boa mão de Deus sobre eles” (Ed.8:18).
– Não nos iludamos, amados irmãos. O número daqueles que atendem ao chamado salvador do Senhor é bem pequeno (Mt.7:14) e ainda quase todos se esfriarão (Mt.24:12 ARA).
Glorifiquemos a Deus por pertencermos a este pequeno rebanho (Lc.12:32) e nos alegremos, junto com os anjos, quando alguns, ainda que sejam poucos, entram neste caminho santo (Lc.15:7,10).
III – A IDA DE ESDRAS PARA JERUSALÉM
– Reunido todo o povo que ia para Jerusalém, Esdras, então, que havia acampado o povo junto ao rio Aava, um rio que ficava distante de Babilônia cerca de oito a nove dias de viagem, ao noroeste da cidade, apregoou um jejum para que todos se humilhassem diante da face de Deus, para lhe pedir caminho direito (Ed.8:21).
– Que grande lição nos dá Esdras. Não há como iniciarmos uma tarefa determinada por Deus se, antes, não buscarmos a face do Senhor em oração e jejum.
Esdras conhecia a lei do Senhor, sabia que tinha capacidade para empreender a missão que lhe fora confiada pelo rei e que, sabia ele, era, antes de mais nada, um milagre divino, uma intervenção do Senhor para obter o bem-estar espiritual do Seu povo.
– No entanto, era preciso buscar a face do Senhor, ir até ele com oração, jejum e humilhação, a fim de que se pudesse ter êxito naquela empreitada.
Era preciso pedir “caminho direito” ao Senhor. O “caminho direito” era um caminho correto, satisfatório, ou seja, Esdras queria que o Senhor capacitasse o povo para que eles, na sua jornada para Jerusalém, pudessem corresponder à vontade do Senhor.
– Temos de reconhecer que sem o Senhor nada podemos fazer e, portanto, para bem executarmos aquilo que Ele quer de nós, faz-se mister que busquemos a Sua face, que oremos, jejuemos e nos humilhemos, para que o Senhor nos dê da Sua graça e, assim, tenhamos condições de corresponder ao que o Senhor quer de nós.
– Não é o fato de termos sido escolhidos para realizar uma tarefa, de termos nos esforçado para ter capacidade para cumprir a tarefa a que o Senhor nos chama uma licença, uma desculpa para aguardarmos passivamente que Deus opere em nós.
– Não somos merecedores da escolha divina, nem temos capacidade em nós mesmos para realizarmos o que nos foi proposto. Precisamos do Senhor e, por isso, temos de, antes de começar a fazer o que nos foi mandado, clamar a Deus.
– Esdras apregoou este jejum também porque teve vergonha de pedir segurança para o rei da Pérsia. Esdras ensinava que Deus era Todo-Poderoso, era o único e verdadeiro Deus e isto ele dizia para um rei que cria em dois deuses, um deus do bem e outro deus do mal, que se digladiavam indefinidamente.
– Assim, o hábil escriba pensou que, se pedisse apoio para o rei da Pérsia, estaria admitindo que o Deus de Israel era uma divindade que se confundia com o deus do bem persa e que, assim, era necessário lutar contra o deus do mal.
Não era isto que Esdras ensinava e defendia e, portanto, viu que haveria, no mínimo, uma incoerência entre seus ensinos e suas atitudes.
– Outra importantíssima lição que nos dá Esdras. Devemos viver aquilo que ensinamos, aquilo em que dizemos acreditar.
Esdras, pelo que ensinava, não podia pedir segurança para o rei da Pérsia, mas, ao mesmo tempo, sabia que o caminho era perigoso e o inimigo certamente tentaria impedir a chegada do povo a Jerusalém. Assim, resolveu pedir a Deus a proteção e levou o povo todo a orar, jejuar e se humilhar com este propósito.
– Simultaneamente, usando de prudência, Esdras mandou que se pesassem todos os tesouros que haviam sido doados, todo o ouro e toda a prata, a fim de que se tivesse um controle do numerário colocado à disposição.
Outra importante lição que aprendemos: deve haver a máxima transparência com relação aos recursos materiais postos à disposição da obra do Senhor.
– Esdras tinha sensibilidade espiritual. Apregoou o jejum e percebeu que Deus havia Se movido pelas orações (Ed.8:23) e, diante desta circunstância, iniciou a jornada para Jerusalém e, ao longo da caminhada, a boa mão do Senhor esteve sobre os judeus e o Senhor os livrou da mão dos inimigos e dos que armaram ciladas no caminho (Ed.8:31).
– Em nossa caminhada rumo a Jerusalém celestial, não é diferente. O inimigo estará sempre à espreita, buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8), mas, se nós nos mantivermos debaixo da potente mão de Deus, se confiarmos n’Ele e tivermos comunhão com Ele, também serem livres do mal, pois o Senhor nos pediu que assim clamássemos ao Pai (Mt.6:13), sendo também este o pedido que Nosso Senhor e Salvador faz em favor de nós (Jo.17:15).
– Ao chegarem a Jerusalém, aquela multidão repousou durante três dias e, depois, foram pesados os tesouros, comprovando-se a fidelidade de todos quantos haviam viajado, ou seja, de que ninguém tinha se apropriado daquilo que havia sido consagrado ao Senhor.
– Quando chegarmos aos ares, onde nos encontraremos com o Senhor (I Ts.4:16,17), também haverá o “peso dos tesouros”, que é o Tribunal de Cristo, onde seremos julgados pelo que fizemos na obra do Senhor, ou bem, ou mal (Rm.14:10; II Co.5:10).
– Depois desta pesagem, os transportados ofereceram holocaustos ao Deus de Israel, tanto de gratidão quanto pelo pecado, porque haviam vivido uma experiência que os havia aproximado de Deus.
Ocorrera um verdadeiro avivamento espiritual entre os transportados e, por estarem avivados, poderiam eles ser usados por Deus na renovação espiritual dos que já estavam morando na Terra Prometida.
– Esdras, então, teve de enfrentar a questão dos casamentos mistos, mas isto é um assunto para a próxima lição.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5687-licao-11-esdras-via-a-jerusalem-ensinar-a-palavra-i-e-apendice-n-1-esdras-e-neemias-promovem-avivamento-pela-leitura-da-palavra-de-deus