Lição 13 – A vigilância conserva pura a Igreja
A vigilância é indispensável para o início e o desenvolvimento do avivamento espiritual.
INTRODUÇÃO
– Terminando o estudo sobre o período da formação da Comunidade do Segundo Templo para extrairmos lições a respeito do avivamento espiritual, abordaremos o tema da vigilância.
I – O QUE SIGNIFICA VIGIAR
– Ao encerramos o estudo deste trimestre, onde procuramos, ao estudar os episódios que cercaram a formação da denominada “Comunidade do Segundo Templo”, desde a oração do profeta Daniel em Babilônia até o segundo governo de Neemias, extrair lições a respeito do avivamento espiritual, abordaremos a questão da vigilância espiritual.
– Nosso saudoso comentarista resolveu, na última lição, falar exclusivamente sobre a vigilância e seu papel no avivamento, sem fazer qualquer relação com os fatos históricos analisados ao longo do trimestre.
– Aqui, entretanto, procuraremos, ainda que de forma sucinta, fazer uma relação da vigilância com aqueles fatos históricos, até porque estamos diante de um “estudo de caso”.
– Logo no início do trimestre, vimos que todo o avivamento espiritual, ou até avivamentos espirituais, ocorridos neste período e que foram fundamentais para que a nação de Israel continuasse existindo e viesse a ser a pátria-mãe do Messias, que era o objetivo de todo este processo, iniciou-se com a oração do profeta Daniel, quando este viu que estavam se completando os setenta anos do cativeiro.
– Note-se, pois, que Daniel estava vigilante, durante todos os setenta anos em que esteve em Babilônia, jamais se esqueceu da profecia de Jeremias e decidiu se manter fiel ao Senhor desde o início porque aguardava o cumprimento da Palavra e a libertação de seu povo após o tempo previsto pelo Senhor para o cativeiro.
– A vigilância apresenta-se, pois, como uma atitude que revela, a um só tempo, as três “virtudes teologais”, quais seja, a fé, a esperança e o amor. A vigilância é resultado direto da fé.
Por confiarmos em Deus, na Sua Palavra, ficamos atentos para não desagradar ao Senhor e podermos usufruir de Suas promessas.
– Sendo resultado da fé, a vigilância é uma atitude que tem por consequência a esperança, pois quem vigia, quem fica atento por causa da confiança na promessa, começa a aguardar o cumprimento da promessa, a se guiar conforme esta esperança, que, inclusive, motiva a santificação ( I Jo.3:3).
– Por fim, a vigilância, ao motivar a esperança, faz com que se tenha uma decisão firme de agradar a Deus, de guardar-Lhe a palavra e esta decisão nada mais é que expressão do amor a Deus, pois o próprio Senhor Jesus disse que quem O ama, guarda a Sua Palavra (Jo.14:23).
– Ao desenvolver as três “virtudes teologais”, que são hábitos que adquirimos por força da ação direta do Espírito Santo em nós, é uma espécie de “cotidiano” estabelecido pelo Senhor em Suas novas criaturas, à evidência nos aproximamos cada vez mais do Senhor, e isto produz um avivamento espiritual, que, como já vimos ao longo deste estudo, tem em uma de suas facetas precisamente o aumento da intensidade em nossa comunhão com Deus.
– Quando proferiu o Seu sermão escatológico, Jesus o concluiu com severas advertências a respeito da vigilância (Mc.13:32-37), demonstrando, assim, que a perseverança que se exige para a vitória sobre as forças do mal e, por conseguinte, para a salvação (Mt.24:13) necessita fundamentalmente da presença deste fator promotor do avivamento.
Por isso, foi tão enfático ao dizer: “E as coisas que vos digo digo-as a todos: vigiai” (Mc.13:37). Mas o que é vigiar?
– Se formos ao Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, perceberemos que a palavra “vigiar” tem diversos significados, mas todos eles devem ser enfrentados para que entendamos o que o Senhor Jesus tem a dizer a respeito do tema, pois as Escrituras devem ser conhecidas em cada detalhe.
Neste dicionário, há seis principais acepções de “vigiar”, a saber:
1 observar com atenção; estar atento a
2 observar secreta ou ocultamente; espreitar, espionar
3 cuidar com atenção, olhar por; velar
4 fazer fiscalização de; controlar, verificar
5 permanecer atento, alerta ou desperto
6 ficar de sentinela, de guarda, de atalaia
– Vigiar significa, em primeiro lugar, observar com atenção, estar atento a. Quem vigia é quem observa com atenção, que está atento.
O Senhor revelou-nos o que irá acontecer para que os crentes sejam observadores de tudo o que está acontecendo à sua volta, a fim de que, com olhos espirituais, identifiquem e detectem nos acontecimentos do dia-a-dia a iminência, a proximidade da volta de Jesus.
– É por isso que não podemos concordar com aqueles que defendem que os crentes devem viver separados dos demais homens, da comunidade, completamente alienados a respeito do que acontece à sua volta.
O crente deve ser uma pessoa bem informada, que tenha conhecimento do que se passa na sua vizinhança, no seu local de trabalho, na sua escola, no seu bairro, na sua cidade, no seu Estado, no seu país e no mundo.
O crente deve ser pessoa que tenha conhecimento de tudo que está acontecendo, porque, só assim, poderá cumprir a ordem de Jesus, que é a de vigiar, ou seja, estar atento às coisas que estão acontecendo. Jesus, mesmo, jamais foi uma pessoa alienada, estava bem informado a respeito dos fatos e deles se aproveitava para pregar o Evangelho (cfr. Lc.13:1-5).
– Em termos de avivamento espiritual, torna-se necessário que o salvo tenha o devido discernimento do que está ocorrendo e, neste sentido, recorra ao Senhor não só para que tenha tal discernimento como também para que o Senhor tome as providências necessárias para o cumprimento de Suas promessas.
– Foi o que fez Daniel, quando notou que se aproximavam os setenta anos do cativeiro, ou, então, Esdras, quando entendeu que devia ir para Jerusalém, ou, ainda, Neemias, quando também entendeu que deveria promover a reconstrução de Jerusalém.
Todos eles, cientes das circunstâncias que os cercavam, foram buscar ao Senhor para saberem como agir.
Vigiar significa, em segundo lugar, observar secreta ou ocultamente, espreitar, espionar. O crente deve ser alguém que tenha discernimento, que possa ver além da superficialidade, que investiga o lado espiritual dos acontecimentos.
O crente tem a mente de Cristo (I Co.2:9-16), ou seja, tem acesso à profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus (Rm.11:33) e, portanto, estando em comunhão com o Senhor, deve saber interpretar os acontecimentos sempre pelo ponto-de-vista espiritual.
– O crente, também, tem de ter o discernimento para identificar as astutas ciladas do diabo. Para isto, devemos fazer como Esdras que, no caminho para Jerusalém, orou e jejuou para sentir a mão de Deus sobre si e sobre o povo que com ele estava e, somente assim, pôde chegar ao seu destino, apesar das astutas ciladas do inimigo ao longo do caminho (Ed.8:21-31).
– Faz-se necessário que sejamos homens espirituais, ou seja, pessoas que têm o Espírito Santo e, por isso, pode receber a revelação a respeito das profundezas de Deus, tudo discernindo e de ninguém sendo discernido (I Co.2:9-16).
Aliás, a vitória sobre o maligno depende de Ele estar conosco, para que, então, sejamos maiores do que o aquele que está no mundo (I Jo.4:4).
– Para sermos espirituais, à evidência, torna-se necessário que tenhamos intimidade com o Senhor, uma disciplina espiritual que nos leve à santidade, visto que o Espírito Santo somente está em comunhão com quem está separado do pecado, andando segundo o Espírito (Rm.8:1-9).
– Daniel tinha setenta anos de fidelidade ao Senhor e queria, sobretudo, a remissão do Seu povo, o cumprimento não só da profecia do retorno do cativeiro, mas da própria redenção de Israel, para que este pudesse ser, efetivamente, o povo santo e o reino sacerdotal que Deus propusera que eles fossem no monte Sinai. Não era diferente o objetivo tanto de Esdras quanto de Neemias.
Eles enxergavam além do plano puramente terreno, mas, sim, contemplavam o plano da eternidade, os propósitos divinos para com os israelitas, porque eram homens de Deus, fiéis ao Senhor, homens piedosos, homens de oração.
– Vigiar significa, em terceiro lugar, cuidar com atenção, olhar por, velar. O crente deve cuidar da sua vida espiritual, da sua comunhão com Deus, da sua salvação.
A salvação é algo que tem de ser preservado, conservado, como nos ensina a Bíblia Sagrada, pois somente aquele que perseverar até o fim será salvo (Mt.24:13).
Por várias vezes, a Palavra de Deus nos aconselha a conservarmos uma vida de comunhão com Deus, uma vida de santidade e de obediência aos mandamentos do Senhor:
a) em Hb.3:6, é dito que somente aqueles que conservam firmes a confiança e a glória da esperança até o fim podem dizer que são a casa de Deus, que são templo do Espírito Santo, ou seja, que pertencem ao corpo de Cristo e, por isso, serão arrebatados.
b) em I Ts.5:23, é dito que o crente tem de manter conservado irrepreensível todo o seu ser (espírito, alma e corpo) para a vinda de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, a mostrar, portanto, que a conservação de nosso ser debaixo da potente mão de Deus é indispensável para que sejamos arrebatados.
c) em Jd.1, os crentes são chamados de queridos em Deus Pai e conservados por Jesus Cristo, a indicar que somente aquele que se mantém em comunhão com o Senhor Jesus, que se submete a Seu senhorio, como vara ligada na videira, será arrebatado no dia da vinda do Senhor e, por isso, o mesmo Judas aconselha o povo de Deus a se conservar no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna (Jd.21).
– Os avivamentos espirituais ocorridos no período da formação da Comunidade do Segundo Templo foram iniciados por homens que cuidaram de suas vidas espirituais, mesmo estando em circunstâncias amplamente desfavoráveis.
Daniel, Zorobabel, Jesua (ou Josué), Ageu, Zacarias, Esdras e Neemias eram homens que pautaram suas vidas na separação do pecado e na conservação da confiança e da glória da esperança, por isso conseguiram levar o povo a reconstruir uma sociedade sem perder a identidade como povo de Deus.
– Verdade é que não foram perfeitos, porque seres humanos, mas o Senhor, conhecendo as suas estruturas (Sl.103:14), soube ajudá-los quando foi necessário, a fim de que não desanimassem definitivamente ou perdessem o propósito divino, como ocorreu, por exemplo, no auxílio que os profetas Ageu e Zacarias deram a Zorobabel e Jesua (ou Josué) quando do embargo do segundo templo (Ed.5:1,2).
– Vigiar, em quarto lugar, significa fazer fiscalização de, controlar, verificar. O crente vigilante é aquele que vive conferindo a santidade, não a santidade dos outros, pois o crente não deve julgar o semelhante, pois esta é uma tarefa exclusiva do Senhor, o único juiz (Tg.4:11,12).
– O crente deve conferir a sua própria condição espiritual, deve examinar-se constantemente e observar se está sendo fiel ao Senhor, ou não.
O autoexame é uma necessidade para o cristão, bem como um anúncio da vinda de Jesus, como vemos, claramente, do ensino de Paulo sobre a ceia do Senhor (I Co.11:26,28).
O crente vigilante esforça-se para, a cada momento, se autoexaminar e se manter com as vestes limpas para que possa adentrar ao banquete nupcial das bodas do Cordeiro (cfr. Mt.22:11-14).
– Este comportamento está sempre presente no período de formação da Comunidade do Segundo Templo.
Nas orações registradas de Daniel, Esdras e Neemias, vemos como estes homens de Deus entendiam que eram pecadores tanto quanto os demais compatriotas e como a santificação era fundamental para que se pudesse conseguir o cumprimento dos desígnios divinos.
Eles buscavam não só se purificar como estavam atentos para que o povo igualmente se mantivessem tementes a Deus.
– O cuidado de Esdras e Neemias, como visto na lição anterior, com relação ao casamento misto é uma clara demonstração deste zelo, desta vigilância. É este comportamento, aliás, que o Senhor espera daqueles que escolhe para serem pastores do Seu rebanho (Hb.13:17).
– Vigiar, em quinto lugar, significa permanecer atento, alerta ou desperto. A vigilância não é, portanto, uma atitude episódica, um momento de reflexão ou de atenção transitório, periódico, como na semana da ceia do Senhor ou quando vamos ao culto ou a alguma reunião religiosa, mas uma atitude de vida, um modo de viver, um comportamento contínuo que deve ser uma constante até a vinda do Senhor.
Temos uma figura elucidativa deste tipo de comportamento entre aqueles que foram selecionados por Deus para estarem ao lado de Gideão.
Os trezentos homens escolhidos para compor este exército vitorioso eram homens que, ao tomarem água, se comportavam como cães, pois permaneciam atentos, olhando tudo a sua volta, por isso foram achados dignos de pertencer ao exército que venceu os inimigos do povo de Deus (Jz.7:4-7).
É este tipo de gente que o Senhor tem, também, escolhido para tomar parte em Seu exército: pessoas que permanecem atentas em todos os momentos.
– Daniel, Esdras e Neemias tinham uma constante vigilância, como mostram as suas biografias. A todo momento, a todo instante, não descuidavam de seu relacionamento com Deus e de verificar se o povo estava, ou não, servindo ao Senhor, tanto que mostram ter pleno conhecimento do “modus vivendi” do povo nas suas orações.
– Vigiar, em sexto lugar, significa ficar de sentinela, ficar de guarda, ficar de atalaia. O crente vigilante é um crente que não só se guarda do mal e das astutas ciladas do diabo, como também anuncia a todos quantos estão à sua volta do perigo que estão a correr, que dá notícia da realidade, da verdadeira situação em que o mundo se encontra.
– Por isso, o cristão vigilante faz questão de mostrar aos outros o risco que estão a correr por negligenciarem as atuações malignas, como também identifica claramente as ações demoníacas em curso.
Não é alguém que vá dar ouvido a doutrinas de demônios nem a espíritos enganadores que, estando no meio da igreja, estão a levar muitos à apostasia da fé (I Tm.4:1), inclusive os falsos ensinamentos sobre batalha espiritual.
– Esta atitude vemos com absoluta clareza na vida dos promotores de avivamentos espirituais no período de formação da Comunidade do Segundo Templo e, aqui é importante salientar, estes homens fizeram questão de expor a Palavra de Deus para o povo, a fim de que os judeus tivessem o conhecimento de que todo aquele cuidado não era um capricho pessoal, mas, sim, observância dos mandamentos divinos.
Vigiar, em sétimo lugar, segundo o mesmo Dicionário Houaiss, do latim vigìlo,as,ávi,átum,áre ‘velar, vigiar, estar alerta, não dormir’.
O crente vigilante, portanto, é aquele que não dorme. Dormir, como vemos na parábola das dez virgens, tem o significado de ter distraída a atenção para as coisas desta vida, descuidar da presença de Deus nas nossas vidas.
As virgens loucas não tinham azeite em suas lâmpadas, ou seja, tiveram desviada a sua atenção para as coisas desta vida e se descuidaram de ter o Espírito Santo em seu interior, o que acontece quando nós O entristecemos (Ef.4:30).
Não dormir é, portanto, não deixar faltar o azeite, o que acontece quando fazemos a vontade do Senhor, quando seguimos a Sua direção, quando nos inclinamos para as coisas do espírito (Rm.8:5-9).
– Ora, em termos de avivamento espiritual, faz-se necessário que, diariamente, mantenhamos o fogo do altar aceso, pois, se isto não acontecer, perderemos a comunhão com o Senhor e seremos, assim, presas fáceis do adversário, já que somos inferiores a ele (Sl.8:5), sendo maior o que está conosco do que o que está no mundo (I Jo.4:4).
– A acomodação ocorrida algumas vezes durante este período trouxe, como vimos ao longo do trimestre, sérios problemas para o povo judeu, como a questão dos casamentos mistos, o abandono da reconstrução do templo ou, ainda, a postergação por décadas da reconstrução de Jerusalém.
Em todos estes instantes, o prejuízo gerado foi grande e preocupante, tanto que exigiu algumas intervenções divinas para que não se tivesse uma irreversibilidade dos obstáculos surgidos com a comodidade.
– O apóstolo Pedro diz que devemos vigiar porque o diabo anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8).
– Nesta afirmação do apóstolo, vemos, por primeiro, que a vigilância se faz necessária porque o diabo sempre está ao nosso derredor, ou seja, não nos perde de vista, jamais desiste de nós.
– Há, ultimamente, quem ache que o diabo não se importa com o salvo, desistiu de tentar leva-lo ao fracasso, como se, em alguma oportunidade, ou alguma vez, tenha se conformado com a derrota. Muito pelo contrário, embora o príncipe deste mundo já esteja julgado (Jo.16:11), Satanás não se dá por vencido, mantendo sua diuturna atividade de acusação dos servos do Senhor perante Deus (Ap.12:10).
– O diabo insiste, persiste e não desiste de tentar os servos de Deus, buscando tragar o maior número de pessoas que puder.
Sabendo que o inimigo nunca cessa de atuar bem como que se utiliza das mais várias estratégias e táticas para tentar fazer o salvo perder a sua salvação, é imperioso que estejamos em contínua vigilância, pois nunca sabemos como, quando e o que o diabo pode preparar contra nós.
– O Senhor Jesus disse que se alguém soubesse a que hora viria o ladrão, dar-se-ia o luxo de não vigiar durante todo o tempo, mas, como não sabe a que hora vem o ladrão, mantém vigilância a fim de não ser surpreendido por ele, não deixando que ele arrombe a casa (Mt.24:43; Lc.12:39).
– O diabo quer roubar a nossa coroa (Ap.3:11), pois seu trabalho é matar, roubar e destruir (Jo.10:10). Quer, também, arrombar a nossa casa e ocupá-la com sete espíritos piores do que os que antes a ocupavam, quando ainda não éramos salvos (Mt.12:43-45; Lc.11:24-26). Assim, torna-se necessário que estejamos vigilantes a todo tempo, pois não sabemos a que hora vem.
– A vigilância é necessária porque o diabo está em derredor, ou seja, está a uma certa distância e isto, naturalmente, exige maior atenção por parte de quem está a lutar contra ele, já que não pode ser claramente visto e acompanhado.
– Não resta dúvida de que a distância do inimigo de nós é uma bênção, pois isto revela que estamos protegidos, que ele não tem condições de nos tocar, que estamos debaixo da mão de Deus e, assim, a exemplo de Esdras, livre das ciladas do adversário, podendo caminhar seguramente para Jerusalém (Ed.8:31), sabendo que, da mão do Senhor, jamais seremos retirados (Jo.10:27-29).
– Mas, por outro lado, a certa distância do inimigo exige de nós um cuidado, uma cautela toda especial, para que ele não se aproxime, como também para que percebamos a sua movimentação. Esta certa distância mostra-nos a absoluta necessidade de dependermos do Espírito Santo, que nos guiará ao longo deste combate (Jo.16:13).
– As Escrituras dizem que o diabo está a “bramar como leão”. Seu rugido, indicador da sua fúria, se, de um lado, pode nos dar uma orientação de sua posição, permitindo que o detectemos (e, neste passo, ele é menos perigoso do que quando surge como a astuta serpente);
de outro, exige de nós uma firmeza espiritual, pois é natural que o bramido de um leão cause terror, intimidação e abalo.
Devemos vigiar para que isto não ocorra, devendo desenvolver a nossa fé, “firme fundamento das coisas que se esperam e prova das coisas que não se veem” (Hb.11:1), para que não venhamos a ser enfraquecidos pelo “rumor do bramido”, pois, como diz o fundador do judô, Jingoro Kano (1860-1938): “quem teme perder já está vencido”.
– Nunca é demasiado lembrar que somos inferiores ao inimigo, que ele é a mais astuta criatura que existe e, portanto, como ele busca tragar quem ele puder, somente pela vigilância poderemos escapar de suas ciladas, evitando assim dar-lhe lugar, sem o que, como o primeiro casal, haveremos de fracassar espiritualmente. Que Deus nos guarde!
II – O QUE SIGNIFICA NÃO VIGIAR
– Apesar da exortação do próprio Senhor ser no sentido de o crente ter de vigiar durante todo o tempo, não são poucos os que se comportam como se não houvesse uma necessidade de buscarmos continuamente ao Senhor para nos manter vivos em nossa peregrinação terrena.
– Este comportamento, aliás, é consequência de outro ensino equivocado, a saber, a colocação em segundo plano, quando não em último plano, da promessa da vinda de Jesus.
– Seja por meio da retirada total do tema do discurso eclesiástico, seja através de decepções com as falsas profecias de designação de datas para o tão aguardado retorno, muitos crentes têm negligenciado e deixado de esperar Jesus.
– Uma vida cristã sem esta esperança é uma vida sem alento, sem perspectiva da eternidade, uma vida que passa a ser perigosamente envolvida com as coisas deste mundo e que tem grande probabilidade de ser sufocada por estas mesmas coisas, como ocorreu com a semente que brotou entre os espinhos (Mt.13:22).
– O apóstolo João foi enfático ao afirmar que quem tem a esperança da volta de Cristo purifica-se a si mesmo (I Jo.3:3) e a consciência de que estamos em batalha espiritual e necessitamos urgentemente do Senhor e da Sua companhia também produz este anseio pela santificação.
– Todavia, ensinamentos que procuram menosprezar este aspecto da vida cristã (inclusive dizendo que vivemos um tempo em que o inimigo e suas hostes espirituais se encontram imobilizadas pela vitória de Cristo na cruz e Sua ressurreição,
não havendo mais que se falar em possessões demoníacas ou em ataques do maligno sobre os salvos) têm contribuído, e muito, para que muitos apostatem da fé, pois passam a negligenciar a santificação e a achá-la desnecessária, até porque, inclusive,
não creem seja na atualidade do revestimento de poder e dos dons espirituais, como também se sentem seguros em sua salvação por conta de uma predestinação incondicional.
– Esta atitude de pouco caso, de negligência, de pouca atenção à volta do Senhor, entretanto, é exatamente o estado de espírito que caracterizará o mundo no tempo do arrebatamento, pois assim foi predito nas Escrituras.
Jesus disse que as pessoas estariam despercebidas assim como a geração do dilúvio e a geração de Sodoma e Gomorra estavam completamente indiferentes ao tempo da iminente destruição de que foram vítimas (Mt.24:37-39; Lc.17:28-30).
– Esta falta de vigilância tem como resultado o fracasso espiritual, porquanto, como o inimigo não se descuida, irá tragar todos quantos se apresentarem desguarnecidos e alheios à realidade espiritual de confronto, que, aliás, torna-se mais intenso à medida que se aproxima o dia do arrebatamento da Igreja.
– Muitos crentes estão como aqueles homens de Siquém, Siló e Samaria, completamente alheios à realidade, que se dirigiam à casa do Senhor, que já havia sido destruída e que, por estarem completamente fora da realidade, acabaram sendo mortos por Ismael, filho de Netanias, depois de terem sido por ele enganados (Jr.41:4-7).
Assim como eles, estão alheios ao conflito espiritual que se trava entre a Igreja e as forças espirituais da maldade e, sem vigilância, serão alvos fáceis do inimigo que os enganará e, por fim, os matará.
– No período da formação do Segundo Templo, a esperança era a vinda do Messias, ardentemente desejada por Daniel, por exemplo.
A falta desta perspectiva fez com que houvesse os períodos de acomodação que puseram em risco a própria identidade do povo judeu e que acabaram levando ao período de torpor espiritual que caracterizou o chamado “período intertestamentário”,
entre Malaquias e João Batista, que se seguiu justamente depois deste período de formação da Comunidade do Segundo Templo, que se caracterizou pelo avivamento espiritual.
– Quando temos a convicção de que estamos aguardando a redenção final, passamos a ser muito mais cuidadosos com nossa vida espiritual, temos um ânimo renovado para vivermos em santificação e para estarmos preparados para ouvir a última trombeta.
Como as virgens prudentes da parábola, podemos voltar nosso alvo a cultivarmos a presença do Espírito Santo em nossas vidas e, com azeite suficiente, podermos até tosquenejar, mas jamais deixar de perder de vista a necessidade de estarmos prontos para resistir ao diabo e, deste modo, estarmos credenciados para o momento do retorno do Senhor.
– A ignorância a respeito da existência desta redenção ou o menosprezo quanto ao seu alcance faz gerar uma ilusória confiança, que pode ser fatal.
Quando não se tem um norte, um propósito, a acomodação é inevitável e o envolvimento com os objetivos terrenos é certo, o que torna a pessoa espiritualmente um gentio, querendo tão somente a satisfação das necessidades deste mundo (Mt.6:31,32), vivendo como se não existisse Deus e não se tivesse esperança neste mundo (Ef.2:11,12).
– Quem se acha confiado e seguro neste mundo, tende, a exemplo das virgens chamadas néscias ou loucas, a não mais se abastecer de azeite, pois não vê necessidade de se armar, já que entende que o maligno jamais lhe atacará e, como consequência disto, passam a desanimar, a não mais pôr como prioridade de suas vidas a comunhão com Deus, o reino de Deus e a sua justiça.
Deixam-se levar pelas coisas desta vida, pelas riquezas, pela prosperidade material, pela posição social (e aqui está incluída a luta por uma posição na igreja local, que é também um grupo social), pela fama e o azeite passou a ser insuficiente para que continue a brilhar como luz do mundo.
Na correria pela busca das coisas perecíveis, das coisas passageiras, cansam-se e passam a necessitar de um repouso.
– São estas as pessoas que não mais se preocupam em refletir a glória de Deus (Mt.5:16; II Co.3:18), mas que se contentam em brilhar em lugar de Cristo.
São estas as pessoas que se deixam entorpecer pelo mundo e por toda a sua glória e que adormecem de forma perigosa para a sua eternidade (I Co.11:30).
Estes, quando perceberem, terão perdido a oportunidade de se salvarem, porque já terão sido mortas pelo inimigo, que é homicida desde o princípio (Jo.8:44) e não perde oportunidade de matar quando lhe dão lugar. Daí porque o apóstolo Paulo ter dito que não devemos dar lugar ao adversário (Ef.,4:27).
– Estes são os negligentes, que se avolumam aos milhares, aos milhões nos nossos dias dentro dos templos evangélicos.
São os crentes figurados em Laodiceia, que perderam a visão espiritual, que se deixaram levar pelas atrações deste mundo e que serão vomitados pelo Senhor naquele dia que tanto menosprezaram (Ap.3:14-16).
III – COMO DEVEMOS VIGIAR
– A primeira atitude para quem quer ter uma vida espiritual intensa é, como vimos, a vigilância. Esta é uma atitude indispensável para que o cristão consiga viver neste mundo sempre se aproximando de Deus e se afastando do mal.
– Esta consciência de que se faz necessário todos os dias se aproximar de Deus (Sl.73:28), de que isto é fundamental para a nossa própria sobrevivência espiritual enquanto estivermos nesta peregrinação terrena, leva-nos a uma vida de vigilância.
Quando somos vigilantes, além de termos consciência de que precisamos nos aproximar de Deus a cada dia até o dia do arrebatamento ou de nossa morte física, também temos consciência de que estamos numa carreira, de que a nossa vida é uma peregrinação que só vai terminar no céu e que temos de nos esforçar para lá chegarmos.
Somos, então, vigilantes porque sabemos para onde estamos indo e qual é o nosso alvo (Fp.3:14), sabemos onde está a nossa cidade (Fp.3:20) e, por isso, corremos com paciência a carreira que nos está proposta, olhando para Aquele que já a trilhou por nós, Jesus (Hb.12:1,2), tomando todo o cuidado para não nos desviarmos da rota.
– Por fim, quando somos vigilantes, sabemos que devemos ser cautelosos porque a acomodação nos fará alvo fácil do inimigo, que está determinado a nos roubar a salvação, a nos matar e destruir (Jo.10:10), mas também sabemos que se a ele resistirmos, ele não terá outra coisa a fazer senão fugir de nós (Tg.4:7) e que, se guardarmos o que temos recebido do Senhor, seremos vitoriosos (Ap.3:11,12). Por isso, na vida diária nesta terra temos de, em primeiro lugar, vigiar.
– A segunda atitude adequada para quem está, de verdade, sabendo que precisa ter uma vida espiritual intensa é manter uma vida de oração.
Não há como estarmos próximos do Senhor se com Ele não mantivermos uma contínua comunicação, pois não há comunhão sem comunicação.
– A comunicação com Deus dá-se, preferentemente, pela oração e pela meditação na Palavra de Deus. Somente quem mantém uma vida de oração pode ouvir a voz de Deus, está acostumado a tal voz (Jo.10:14-16).
– Ora, no período da formação da Comunidade do Segundo Templo, a oração sempre teve um papel de proeminência. Daniel, Esdras e Neemias eram homens de oração e não só oravam, como também jejuavam e se humilhavam em reforço à oração e levaram o povo a também orar e jejuar.
– A terceira atitude de quem sabe que está numa batalha espiritual é a santidade. Quem se aproxima de Deus, simultaneamente se afasta do pecado.
Não há hipótese alguma de vitória sobre a maldade sem que estejamos separados do pecado, pois só quem estiver em comunhão com o Senhor, lavado e remido no sangue do Cordeiro, poderá vencer o maligno, pois só estes entrarão na cidade santa pelas portas (Ap.22:14).
Quem não seguir a santificação, não verá o Senhor (Hb.12:14). Só os limpos de coração verão a Deus (Mt.5:8).
– Uma das consequências mais imediatas de uma vida de negligência com relação à batalha espiritual é o descuido com relação à santificação e à santidade. O próprio Jesus nos ensinou isto ao narrar a parábola dos dois servos.
O pecado é o fator que nos distancia de Deus (Is.59:2) e, se pecarmos e não confessarmos o pecado e o deixarmos, brevemente estaremos novamente aprisionados pelo pecado, derrotados na batalha espiritual.
– Tanto assim é que uma das principais armas satânicas para tentar impedir que o povo judeus mantivesse a sua identidade após o término do cativeiro foi a mistura com os povos vizinhos, mediante os casamentos mistos, o que teve de ser duramente combatido por Esdras e Neemias.
– A quarta atitude de quem tem que ter uma vida espiritual intensa é a presença do Espírito Santo em nossas vidas.
Para termos o Espírito Santo em nós, é necessário que nos ajuntemos com o Senhor (I Co.6:17), ou seja, que tenhamos uma vida de comunhão com Deus, que desfrutemos da Sua intimidade, mediante a oração e a meditação da Palavra de Deus.
– Para termos o Espírito Santo em nós, temos de ter uma vida de separação do pecado, agindo sob a orientação divina, pois assim são os que andam segundo o espírito (Rm.8:1,5,9), o que faz com que não estejamos inclinados às coisas carnais, aos prazeres oferecidos pelo mundo.
Quem tem o Espírito Santo não O entristece (Ef.4:30), não mais praticando as obras que são próprias de quem vive segundo a carne (Gl.5:19-21; Ef.4:24-29,31,32).
Quem tem o Espírito Santo busca crescer espiritualmente, através do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais, mas, sobretudo, buscar conformar o seu caráter ao caráter de Cristo, procurando fazer aumentar em si, a cada instante, o amor de Deus (I Co.12:31).
– A presença do Espírito Santo levando o povo judeu à contrição, ao arrependimento, ao cumprimento da vontade de Deus foi uma constante durante os avivamentos espirituais ocorridos no período da formação da Comunidade do Segundo Templo,
e foi em razão disto que o templo e Jerusalém foram reconstruídos, a lei voltou a ser observada e a nação de Israel continuou a existir, podendo ser a pátria-mãe do Salvador (Ap.12:5).
– A quinta atitude de quem tem uma vida espiritual intensa é o amor, o “caminho mais excelente” que deve ser buscado pelo cristão.
Quando aceitamos a fé, recebemos o amor de Deus em nossas vidas e este amor deve ser cultivado, aumentado e praticado em relação a Deus e ao próximo.
Em relação a Deus, demonstraremos nosso amor se fizermos o que Ele nos manda através da Sua Palavra (Jo.15:14).
– O amor não é demonstrado por palavras ou por belas declarações, mas por gestos concretos e atitudes reais (I Jo.3:18).
De igual forma, temos de demonstrar nosso amor com relação ao próximo (Mt.22:39), que nada mais é que o reflexo do amor de Deus para conosco e para com toda a humanidade.
Somente quem ama a Deus e ao próximo, segue o exemplo de Cristo, dando a sua vida pelo irmão, mediante a luta para libertar o próximo do domínio do pecado e esta é a prova de temos o amor de Deus em nossos corações (I Jo.3:16).
– A sexta atitude de quem tem vida espiritual intensa é a fidelidade. Quem se aproxima continuamente de Deus persevera até o fim (Mt.24:13). Para receber a coroa da vida, temos de ser fiéis até a morte (Ap.2:10).
Temos de manter o compromisso de cerrar fileiras após o Nosso Senhor e Salvador e, com Ele, “ter vida em abundância”.
– Esforcemo-nos, portanto, para que sejamos vigilantes, tenhamos uma vida de oração, de santidade, cheia do Espírito Santo, com o verdadeiro e genuíno amor divino em nossos corações e com absoluta fidelidade e lealdade ao Senhor.
Não nos deixemos perturbar pela apostasia daqueles que se deixam enganar pelo inimigo dando ouvido a doutrinas de demônio e a espíritos enganadores (I Tm.4:1).
Nunca percamos de vista que a razão de ser da nossa fé é a vida eterna, é o convívio para sempre com nosso Senhor nas mansões celestiais. Vigiemos, pois, para que possamos resistir e, havendo feito tudo, ficar firmes.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5756-licao-13-a-vigilancia-conserva-pura-a-igreja-i