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Lição 1 – O livro de Jó

A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Ainda sofrendo as consequências da pandemia do COVID-19, estamos a retomar o andamento dos estudos da Escola Bíblica Dominical, depois que tivemos um trimestre atípico, em que se estudaram diferentes temas nas igrejas locais, até porque a Casa Publicadora das Assembleias de Deus apresentou diferentes propostas.

Agora, apesar ainda das dificuldades, há a produção de uma revista e estaremos diante de um “trimestre bíblico”, pois estudaremos o livro de Jó, estudo que não se fazia em nossas Escolas Dominicais desde o 1º trimestre de 2003.

Tido como o mais antigo dos livros da Bíblia, pois a tradição judaica diz que foi o primeiro livro a ser escrito por Moisés, quando estava ainda ele em Midiã cuidando das ovelhas de seu sogro, é ele inserido no grupo dos chamados “livros poéticos”, pois é, na verdade,

com exceção de seu início e de seu final, uma série de poemas em que as personagens vão se alternando para discutir a questão do sofrimento de Jó, que é, logo no início do livro, apresentado como um servo de Deus exemplar.

Temos, assim, no que parece ter sido o início da inspiração do Espírito Santo para a redação das Escrituras Sagradas, uma profunda indagação a respeito do sofrimento do ser humano e de como isto se coaduna com a soberania divina e o desejo divino de se relacionar com o homem.

Por isso mesmo, muito oportuno o título do trimestre, que nos mostra que, neste livro, é patente a demonstração de como o homem é um ser frágil, de como ele é vulnerável e de como Deus está no absoluto controle de todas as coisas, de como Ele é o “Deus forte”, o “Senhor de todas as coisas”.

Tem-se, assim, a tensão entre a fragilidade humana e a soberania divina e nos embates doutrinário-teológicos que se estabelecem entre Jó e seus amigos, que eram homens sábios (Jó 34:2),

o leitor é convidado a refletir sobre a realidade da vida sobre a face da Terra e de que como devemos lembrar que somos miseráveis (Rm.7:24) e que só Deus é grande (Sl.95:3; 96:4).

O subtítulo do trimestre indica que esta reflexão sobre a fragilidade humana e sobre a soberania divina se dará à luz do sofrimento e da restauração de Jó, indicando, assim, que se trata de um trimestre bíblico.

Após uma lição introdutória, em que teremos um panorama do livro de Jó, teremos um bloco em que nos debruçaremos sobre a personagem principal do livro, que é o patriarca Jó, vendo quem é ele (lição 2),

qual o papel que Satanás desempenhou nesta provação narrada no livro (lição 3) bem como o drama e o lamento de Jó (lições 4 e 5).

Depois de termos estudado o patriarca Jó, analisaremos os “amigos” de Jó e as suas ideias equivocadas a respeito de Deus e de Seu caráter.

Assim, teremos a análise dos pensamentos apresentados, ao longo do livro, por Elifaz, Bildade e Zofar (lições 6 a 8), que será o segundo bloco do trimestre.

No terceiro bloco do trimestre, enfocaremos as reflexões trazidas pelo próprio Jó ao longo dos embates com os seus “amigos”, ocasião em que analisaremos a sabedoria de Deus (lição 9),

a última defesa do patriarca (lição 10) e, então, o elemento de transição entre os debates e a própria revelação divina, que é o discurso de Eliú, aquele que aparece apenas próximo ao final do livro (lição 11).

Por fim, no quarto bloco, veremos a própria intervenção divina, com as suas lições, preparando o patriarca para a sua restauração, que é, aliás, o tema da última lição (lições 12 e 13).

A capa da revista do trimestre apresenta-nos uma ilustração de como devem ser sido aqueles sete dias em que os “amigos” de Jó ficaram atônitos, sem palavras, ao verem o estado lastimável em que se encontrava o patriarca depois que havia perdido todo seu patrimônio, tinha perdido a saúde e era rejeitado por sua mulher, que estava a desejar a sua morte (Jó 2:11-13).

A ilustração mostra, claramente, a fragilidade humana, pois, assim como Jó nada tinha a dizer, não entendendo tudo o que lhe ocorrera, também seus amigos não tinham o que lhe falar, tendo de se recompor para, então, tentar racionalizar o episódio e, então, equivocadamente, concluírem que Jó havia pecado e que tinha de confessar seu pecado para sair daquela situação.

O comentarista do trimestre é o pastor José Gonçalves, escritor, pastor das Assembleias de Deus em Água Branca, Piauí, graduado em Teologia pelo Seminário Batista de Teresina e em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí.

Ensinou grego, hebraico e teologia sistemática na Faculdade Evangélica do Piauí e que já há alguns anos comenta as Lições Bíblicas.

Que o estudo deste trimestre, num momento oportuníssimo, em que toda a humanidade está a sofrer uma pandemia, possa nos reforçar a convicção de que Deus está sempre no controle de todas as coisas e que o sofrimento não implica necessariamente em pecado e que sempre coopera para o bem daqueles que amam a Deus.

B) LIÇÃO Nº 1 – O LIVRO DE JÓ

O livro de Jó mostra a fragilidade humana e a soberania divina.

INTRODUÇÃO

– Teremos um trimestre bíblico, em que estudaremos o livro de Jó.

– O livro de Jó mostra a fragilidade humana e a soberania divina.

I – O LIVRO DE JÓ – UM LIVRO PECULIAR

– Neste quarto trimestre de 2020, estudaremos o livro de Jó, tendo, pois, um “trimestre bíblico”.

– O livro de Jó é um livro singular na Bíblia Sagrada, que se diferencia dos demais por suas peculiaridades.

– Em primeiro lugar, é um livro que, ao contrário dos demais, não apresenta qualquer indicação seja do lugar, seja do período histórico em que ocorreram os fatos nele descritos.

O escritor contenta-se, apenas, em indicar que Jó era um homem que habitava na enigmática “terra de Uz”, local que só é mencionado nas Escrituras neste livro e cuja localização é incerta e causa polêmica até hoje,

tendo apenas sido indicado pelo autor da obra que tal terra localizava-se no Oriente (Jó 1:3), o que, à evidência, algo absolutamente insuficiente, já que, até o início da divulgação do Evangelho, todos os fatos bíblicos se desencadeiam no Oriente.

– Com relação ao tempo em que ocorreram os fatos, então, nem sequer uma menção genérica é dada pelo autor.

Entretanto, como não há menção alguma seja ao povo de Israel, seja à lei de Moisés, temos de admitir que os fatos se deram no período patriarcal, muito provavelmente antes mesmo da chamada de Abraão.

– Em vista disto, temos que o livro de Jó é que apresenta os fatos mais antigos da história da humanidade depois dos onze primeiros capítulos do livro do Gênesis.

– Daí ter surgido uma tradição segundo a qual o autor do livro de Jó tenha sido Moisés, precisamente porque foi ele a quem Deus inspirou para registrar os fatos acontecidos nos primórdios da história da humanidade, havendo, mesmo, nesta tradição,

a ideia de que o livro de Jó, inclusive, teria sido o primeiro livro escrito por Moisés, antes mesmo do Pentateuco, o que faria do livro de Jó o mais antigo livro da Bíblia Sagrada.

– Mas não param aí as peculiaridades que distinguem o livro de Jó dos demais livros das Escrituras.

– O livro é incluído pelos estudiosos da Bíblia como um livro poético, porquanto, salvo a parte inicial do livro e sua conclusão, é formado de discussões de refinada elaboração artística e linguística, em verso, no qual se apresentam temas filosófico-teológicos da maior profundidade, onde se tentará explicar,

mais do que o problema do mal e do sofrimento, a própria soberania divina e o sentido do serviço a Deus, numa perspectiva que parte do mundo interior dos interlocutores, o que caracteriza o que, em teoria geral da literatura, denomina-se poesia.

– Temos, portanto, um escrito que não é histórico nem narrativo, mas uma verdadeira análise filosófico-teológica sobre a questão do sofrimento do justo, em que se apresentam interpretações diferentes sobre o caráter de Deus, visões que, revestidas de religiosidade, encontram-se, até hoje, no meio do povo de Deus, trazendo visões distorcidas a respeito de Deus e de Sua soberania.

– Por isso até, há aqueles que, discordando da tradição já apresentada, entendem que o livro de Jó, embora fosse antigo e oralmente transmitido de geração a geração em Israel, tivesse sido reduzido a escrito apenas bem posteriormente, depois mesmo do cativeiro da Babilônia, já na época da chamada “segunda comunidade”, ante o refino de sua elaboração.

– Não bastasse isso, o livro de Jó contém um sem número de afirmações e de revelações que têm causado espanto aos cientistas de todas as áreas, porquanto neste livro se encontram diversas assertivas que foram só nos últimos anos confirmadas pelos cientistas nas suas descobertas revolucionárias, notadamente no século que se passou.

– Há quem afirme, por isso, que Jó seja o “cientista de Deus”, diante das suas revelações impressionantes, que tornam ainda mais intrigante o livro que iremos estudar neste trimestre.

– Assim, por exemplo, nele é dito que a Terra está sobre o nada (Jó 26:7), ou seja, aqui já se tem a revelação de que a Terra está no espaço sideral no vácuo, o que somente se descobriria milênios depois que isto foi escrito.

– Embora não faça menção de Israel, nem tampouco da lei, sempre foi um livro aceito pelos israelitas, embora conte a história de um “gentio”, o que também é outro fator a ser considerado, e isto em virtude da sua grande profundidade quanto aos dilemas existenciais da humanidade.

– Tudo isto faz com que seja ele um livro diferenciado em relação aos demais.

II – A ESTRUTURA DO LIVRO DE JÓ

– O livro de Jó apresenta uma estrutura também singular. Inicia-se a narrativa com a apresentação do patriarca, desde seu caráter até seu patrimônio e família.

– Em seguida, é apresentado o próprio testemunho de Deus a respeito dele, feito ao adversário que, enigmaticamente, é visto prestando contas ao Senhor. Ante este testemunho, há um desafio feito pelo inimigo, aceito por Deus.

– Começa, então, a provação de Jó, que, sem causa, perde seu patrimônio e seus filhos, mas, mesmo assim, retém sua sinceridade.

– Há novo colóquio entre o Senhor e o adversário, que resulta na permissão de retirada da saúde do patriarca, que, assim, é acometido de terrível enfermidade.

– Segue-se, então, a parte poética do livro, composto de discursos entre Jó e seus três “amigos”, Elifaz, Bildade e Zofar, que vêm à presença do patriarca com o intuito de fazê-lo confessar seus pecados, pois, para eles,

cada um dentro de suas nuanças, Deus somente castiga o pecador, jamais permitindo que o justo venha a sofrer, numa indicação clara que a chamada “teologia da prosperidade”, tão em voga nos nossos dias, tem sua origem desde os primórdios da história da humanidade.

– Após o debate entre Jó e seus trës “amigos”, exsurge na discussão o jovem e também enigmático Eliú, ao qual Jó não responde, cujo discurso procura demonstrar, sobretudo, a soberania de Deus.

– Em seguida, ingressa-se na parte final da discussão, com o colóquio entre Jó e Deus, onde o Senhor afirma a justiça de Seu ato de provação a Deus e a Sua soberania para fazê-lo.

– No final, Jó é restaurado, enquanto orava pelos seus amigos, recebendo em dobro tudo quanto antes possuía e, ainda, vivendo mais 120 dias após sua restauração.

– O livro de Jó , segundo Finnis Jennings Dake (1902-1987),

tem 42 capítulos,

1.070 versículos,

1.066 versículos de história,

1 versículo de profecia cumprida,

3 versículos de profecias não cumpridas,

329 perguntas,

13 ordens, nenhuma promessa,

4 predições,

10 mensagens de Deus (Jó 1:7,8,12; 2:2,3,6; 38:1; 40:1,6; 42:7).

– Inclusive, Dake faz esta observação: “…Podemos ver que há poucas profecias no livro de Jó, bem como poucas mensagens de Deus. É fácil de entender o porquê.

O livro contém muitas acusações e contra-acusações entre homens que apresentavam seus argumentos sem consultar Deus a respeito de qualquer assunto…” (BÍBLIA DE ESTUDO DAKE. Ed. CPAD-Atos, p.813).

– Esta observação de Dake faz-nos ver, aliás, como é oportuno o estudo de Jó num tempo em que muitos estão a querer entender o que está acontecendo, apresentando suas razões, seus argumentos, mas deixam de lado a Deus, deixando de lado as Sagradas Escrituras.

– Vivemos uma sociedade secularista, ou seja, em que as pessoas entendem que tudo quanto ocorre e acontece, ocorre e acontece apenas na dimensão deste mundo, deste século, desconsiderando a eternidade ou a própria existência de Deus. Vivem como se Deus não existisse e, por isso, não podem entender o que está acontecendo, nem têm condições para tanto.

OBS: Neste passo, interessante aqui reproduzir as palavras ditas pelo ex-chefe da Igreja Católica quando visitou o Reino Unido em 16 de setembro de 2010:

“…Também agora, podemos recordar como a Grã-Bretanha e seus líderes enfrentaram a tirania nazista, que desejava eliminar Deus da sociedade e negava nossa humanidade comum a muitos, especialmente aos judeus, a quem não consideravam dignos de viver.

Recordo também a atitude do regime em relação aos pastores cristãos ou religiosos que proclamaram a verdade no amor, opuseram-se aos nazistas e pagaram com suas vidas essa oposição.

Ao refletir sobre as lições sombrias do extremismo ateu do século XX, jamais esqueçamos como a exclusão de Deus, da religião e da virtude da vida pública conduz, em última análise, a uma visão parcial do homem e da sociedade e, portanto, a uma visão “restritiva da pessoa e seu destino” (Caritas in veritate, 29).…” (BENTO XVI, Discurso às autoridades britânicas e à rainha Elizabeth II. 16 set 2010. Disponível em: https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/bento-xvi/viagens-bentoxvi/reino-unido/discurso-de-bento-xvi-as-autoridades-e-a-rainha-elizabeth-ii/ Acesso em 28 jul. 2020).

– Em Jó, temos a certeza de que a integridade e sinceridade no servir a Deus não dependem das circunstâncias que cercam o homem na sua vida terrena, bem como de que Deus está, sempre, no controle de todas as coisas, de forma que não podemos, de forma alguma, pelas aparências julgarmos a espiritualidade de alguém. Antes, pelos resultados de seus atos é que poderemos tirar alguma conclusão a respeito.

– É uma tendência quase natural fazermos o relacionamento entre dificuldades, adversidades e problemas com o pecado e a desobediência, fazendo uma confusão entre causas primárias e causas secundárias.

– É evidente que a pandemia que nos assolou recentemente é consequência do pecado. Antes que o primeiro casal pecasse, não havia doença sobre a face da Terra, a natureza não se apresentava como obstáculo ou impedimento para o cumprimento dos objetivos traçados pelo ser humano, que tinha autoridade sobre toda a criação terrena, dada pelo próprio Deus (Gn.1:27:28. Sl.8:4-8).

– No entanto, querer afirmar, como muitos estão a fazê-lo, que a doença veio para castigar os desobedientes, os ímpios, os falsos crentes e por aí vai é repetir precisamente os pensamentos trazidos pelos amigos de Jó ao longo dos discursos contidos naquele livro e o Senhor foi claríssimo ao dizer a Elifaz que tudo quanto eles disseram a respeito do Senhor era errado e deveriam eles se retratar, tanto que deveriam pedir a Jó que orasse por eles e eles deveriam oferecer sacrifício para serem perdoados (Jó 42:7-10).

– Devemos tomar muito cuidado com nossas percepções a respeito da ação divina, jamais nos deixando levar por nossas divagações, por nossas imaginações, mas sempre nos atendo ao que Deus revelou em Sua Palavra, para que não cometamos o mesmo erro dos amigos de Jó que foram reprovados pelo Senhor em meio ao sofrimento do patriarca.

– Alguns estudiosos da Bíblia que associam os livros das Escrituras a cada letra do alfabeto hebraico, veem no livro de Jó a vinculação à letra “tsade” (צ), letra que representa os “justos”, já que justo é, em hebraico, “tzaddik”.

Assim, o livro vai se referir a um justo, “in casu”, Jó, aquele cuja justiça é enaltecida por Aquele que é o Justo por excelência, que é o próprio Deus, que também se mostra no livro de Jó como o tem o controle de todas as coisas.

III – O LIVRO DE JÓ

– O livro de Jó é o primeiro livro poético na sequência em que os livros se encontram por ser considerado o mais antigo livro poético.

Sua antiguidade, aliás, faz com que, na Versão Siríaca (Peshitta), ele seja colocado após o livro de Deuteronômio, antes do livro de Josué. Entre os hebreus, porém, bem como na Septuaginta, ele vem depois do livro dos Salmos, que é o livro que inicia os “Ketuvim”.

– O livro é chamado pelos hebreus de “Iyyob”, que é o nome do patriarca que é a figura central do livro. Não se trata de um nome hebraico e seu significado é obscuro.

Alguns consideram que signifique “voltar” ou “arrepende-se”, enquanto outros, relacionando o nome com o idioma árabe, entendem que a palavra queira dizer “perseguido” ou “inimigo”.

Claudionor de Andrade, no comentário da lição 1 do 1º trimestre de 2003, das Lições Bíblicas, diz que o nome hebraico significa “voltado para Deus” (Lições Bíblicas: jovens e adultos. 1º trim./2002, p.5).

– A autoria do livro é discutida. A tradição judaica do Talmude indica que seu autor foi Moisés, que o teria escrito quando ainda vivia entre os midianitas, antes, portanto, de sua chamada para a libertação do povo.

Outros entendem que o autor tenha sido o próprio Jó e ainda alguns que o livro tenha sido escrito por Eliú, o quarto amigo de Jó. De qualquer maneira, adotada qualquer uma das correntes de pensamento, temos que o livro de Jó é o livro mais antigo das Escrituras.

OBS: É interessante notar que há uma referência no livro de Jó que parece indicar que o patriarca não tinha o domínio da escrita (Jó 19:23,24).

Diante deste quadro há quem defenda a ideia de que o livro tenha sido escrito por Moisés a partir de dados que lhe teriam sido fornecidos por seu sogro Jetro, que seria filho ou neto de Jó.

As teses de que Jó ou Eliú teriam escrito o livro apresenta uma dificuldade: como estes livros teriam chegado aos israelitas e como teriam sido reconhecidos como a genuína Palavra de Deus ?

– O livro de Jó comprova esta antiguidade, pois nele não se menciona nem o povo de Israel, nem a lei de Moisés.

Jó aparece fazendo sacrifícios, a exemplo dos patriarcas e de figuras antigas como Melquisedeque. Deus é chamado, diversas vezes, de Todo-Poderoso, denominação também corrente nos tempos patriarcais (Cf.Gn.17:1).

– O livro de Jó tem como tema principal a questão do sofrimento do justo e de seu propósito. Pode o justo sofrer?

O sofrimento está vinculado, ou não, necessariamente ao pecado de alguém? Apresenta-se, portanto, como uma profunda reflexão a respeito do sofrimento e, por conseguinte, da posição do homem diante de Deus.

– O livro de Jó, que tem 42 capítulos, pode ser dividido em quatro partes, a saber:

a) 1ª parte – introdução histórica – a narrativa que mostra a decisão divina pela provação de Jó e o seu infortúnio – Jó 1-2.

b) 2ª parte – os diálogos entre Jó e seus amigos – Jó 3-37

c) 3ª parte – a resposta de Deus e seu efeito – Jó 38-42:6

d) 4ª parte – epílogo- a restauração de Jó – Jó 42:7-17

– As 1ª e 4ª partes do livro de Jó foram escritas em prosa, ou seja, em linhas contínuas, como costumamos fazer em nossos escritos.

Já as 2ª e 3ª partes do livro foram escritas em verso, formando uma bela composição literária que tem sido reconhecida, durante os séculos, por grandes estudiosos da literatura universal como uma das obras-primas da literatura em todos os tempos.

– Ao contrário do que afirmam alguns “críticos bíblicos”, temos razões sobejas para crermos na existência histórica do livro de Jó, embora seja difícil a identificação de onde seria a terra de Uz ou do tempo de sua vida.

Jó é mencionado ao lado de figuras históricas como Noé e Daniel no livro do profeta Ezequiel (Ez.14:14 – e a menção de Daniel aqui mostra como se tratava de pessoas reais, pois Ezequiel era contemporâneo de Daniel), como também foi mencionado por Tiago como sendo um ser real (Tg.5:11).

– O livro de Jó, ademais, é um livro onde se mostra quão insignificante é o conhecimento humano diante de Deus.

As indagações que Deus faz a Jó (Jó 38-41) são perguntas que, na sua esmagadora maioria, ficaram sem respostas durante milênios e algumas delas a ciência somente pôde responder nos últimos trezentos anos, estando, ainda, muitas sem a menor perspectiva de resposta.

– Assim, vemos que o livro de Jó, sendo o mais antigo das Escrituras, mostra quão sublime e excelso é o nosso Deus.

Assim, embora em Jó tenhamos até uma certa timidez nas concepções teológicas e espirituais, que seriam desenvolvidas posteriormente na sequência das Escrituras, ele já foi suficiente para demonstrar quão limitado e insignificante é o conhecimento do homem diante de Deus !

– No livro de Jó, observamos que Deus é o Senhor de todas as coisas e que tem o absoluto controle de tudo, mas Sua grandeza não O impede de cuidar de cada um de Seus servos.

Também aprendemos que o mal pode não ser consequência de pecado, mas uma provação divina. Jó, ademais, mostra a necessidade que há de se ter um árbitro entre Deus e os homens (Cf. Jó 9:32,33) e Jó manifesta sua esperança num Redentor (Jó 19:25-27). Em Jó, portanto, vemos Jesus, o Redentor que vive e que por fim se levantará sobre a terra.

OBS: “O Livro de Jó e seu cumprimento no Novo Testamento – O Redentor, a quem Jó confessa (19.25-27), o Mediador por quem ele anseia (9.32,33) e as respostas às suas perguntas e necessidades mais profundas, todos têm em Jesus Cristo o seu cumprimento. Jesus identificou-Se inteiramente com o sofrimento humano (cf. Hb.4.15,16; 5.8), ao ser enviado pelo Pai como Redentor, mediador, sabedoria, cura, luz e vida.

A profecia da parte do Espírito sobre a vinda de Cristo, temo-la mais claramente em 19.25-27.

Menção explícita de Jó, temos duas vezes no Novo Testamento:

(1) Uma citação (5.13, em 1 Co. 3.19) e

(2) uma referência à perseverança de Jó na aflição e o resultado misericordioso da maneira de Deus lidar com ele (Tg.5.11).

Jó ilustra muito bem a verdade neotestamentária de que quando o crente experimenta perseguição ou algum outro severo sofrimento, deve perseverar firme na fé e continuar a confiar nAquele que julga corretamente, assim como fez o próprio Jesus quando aqui sofreu (1 Pe 2.23).

Jó 1.6-2.10 é o mais detalhado quadro do nosso adversário, juntamente com 1 Pe.5.8,9.” (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.768).

” Cristo Revelado – Não há referência direta a Cristo em Jó; no entanto, Jó pode ser visto como um tipo de Cristo.

Jó passou por um grande sofrimento e foi humilhado e privado de tudo o que tinha, mas no final foi restaurado e intercedeu pelos seus amigos.

Cristo esvaziou-Se a Si mesmo, assumindo a forma humana. Sofreu, foi perseguido por homens e demônios, parecia abandonado por Deus, e tornou-Se um intercessor.

A maior diferença entre Cristo e Jó é que Cristo decidiu esvaziar-Se a Si mesmo, enquanto que a humilhação de Jó trouxe circunstâncias que estavam além do seu controle. O Livro de Tiago dirige a atenção do leitor para a paciência e a resignação de Jó.

Tiago declara que assim como a intenção de Deus com Jó era boa, assim também a intenção de nosso Senhor com cada um de nós é boa (5.11).” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.510) (Observação do autor deste esboço – discordamos que não haja menção de Cristo no livro de Jó, como é dito nesta passagem.

Aliás, esta observação é contraditada na mesma obra, na nota a Jó 19.25-26, na p.520, que diz: ‘ Esta é uma das maiores afirmações proféticas do ATE na qual se anuncia o Redentor Salvador, que trará esperança de ressurreição real e física à humanidade redimida – ver 1 Co. 15.35-49’. Acreditamos, portanto, ter sido um ato falho do exímio comentarista).

– Que, neste trimestre, possamos compreender os sublimes propósitos de Deus ao permitir o sofrimento dos justos, bem como busquemos ter uma vida diante de Deus que possa fazer com que o Senhor nos dê diante do universo o mesmo testemunho que deu de Jó e que seja esta a nossa finalidade e o nosso objetivo no servir a Deus e não nos deixemos levar pela pregação da “teologia da prosperidade”, cabalmente desmentida nestas páginas inspiradas do livro de Jó.

Ev. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/5784-licao-1-o-livro-de-jo-i

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