Jovens – Lição 07 – É Deus que dá o crescimento
Sugestão de leitura
O espírito faccioso é uma das consequências da carnalidade no meio do povo de Deus
INTRODUÇÃO
– Na continuidade do estudo da primeira epístola de Paulo aos coríntios, estudaremos nesta lição um dos principais problemas daquela igreja: o partidarismo.
– O partidarismo existente na igreja de Corinto, relatado ao apóstolo pelos familiares de Cloé, era consequência direta da carnalidade existente no meio daqueles crentes e, ainda hoje, é um dos principais problemas enfrentados nas igrejas locais.
I – O PARTIDARISMO DA IGREJA EM CORINTO: O PARTIDO DE PAULO
– A primeira epístola de Paulo aos coríntios, como vimos na lição 1, parece ser a segunda carta que o apóstolo escreve àquela igreja depois que dali havia partido após dezoito meses de ministério naquele local.
Tendo-se encontrado com os familiares de Cloé (I Co.1:11), muito provavelmente em Éfeso, o apóstolo deles recebeu informações a respeito da situação da igreja em Corinto, além de dúvidas que lhes haviam sido mandadas pelos crentes com respeito à “carta anterior”, que tratara, entre outros temas, da associação com os que se prostituíam ( I Co.5:9), como também questões relacionadas com o casamento (I Co.7:1).
– Por primeiro, cumpre-nos aqui verificar a atitude dos familiares de Cloé, que alguns estudiosos identificam como sendo Estéfanas, Fortunato e Acaico (I Co.16:17).
Muitos, precipitadamente, consideram os familiares de Cloé como sendo um grupo de “fofoqueiros” e, inclusive, chegam a mencioná-los quando ensinam sobre os males da “fofoca” e do mexerico, práticas que são claramente condenadas nas Escrituras (Lv.19:16; II Co.12:20).
– “Mexerico”, diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “comentário intrigante”, “fofoca”, “intriga”, tendo como raiz o radical latino “misc”, que significa “misturar, confundir, perturbar”.
“Fofoca”, por sua vez, é uma palavra de origem africana, da língua banta, cujo significado é o de “dito maldoso”, “afirmação não baseada em fatos concretos”, “especulação”, “aquilo que é comentado em segredo sobre outrem”.
– Percebe-se, portanto, que as afirmações dos familiares de Cloé a respeito da situação em que se encontrava a igreja em Corinto não é “mexerico” nem tampouco “fofoca”.
Eram eles emissários de uma carta ao apóstolo, em que se apresentavam dúvidas ao apóstolo, a fim de que ele dirimisse as questões.
Ante a existência de questões e dúvidas por parte dos coríntios, o apóstolo, diligentemente, indagou os familiares de Cloé como estava a igreja, inclusive para fazer uma análise da situação que o permitisse melhor responder às indagações existentes.
Os familiares de Cloé, diante de tal indagação, tão somente responderam ao apóstolo, contando-lhe a verdade, sem interesse de denegrir ou prejudicar quem quer que fosse.
Temos, pois, que não se estava diante de qualquer “mexerico” ou “fofoca”, mas diante de um relato verdadeiro e cujo objetivo único e exclusivo era o de melhorar a vida espiritual da igreja.
– Nos dias hodiernos, também, precisamos, e muito, de “familiares de Cloé”, que possam dar notícia sem qualquer interesse senão o da melhora da obra de Deus, àqueles que estão na responsabilidade da liderança do povo de Deus.
Nos dias em que passamos, de crescimento quantitativo expressivo, que torna muito difícil a administração das igrejas locais (em parte, por causa do centralismo excessivo de nossa precária e “sui generis” organização administrativa), faz muita falta a existência de “familiares de Cloé”, que busquem trazer informações verídicas a respeito do povo de Deus, sem qualquer interesse, a fim de que a obra de Deus não tenha prejuízo.
– Tanto não se tratava de mexerico o que foi dito pelos familiares de Cloé que o apóstolo, em sua epístola, não só identificou a fonte das informações como também o que foi informado, algo, pois, muito diferente dos sussuros e tenebrosos comentários, feitos na surdina e nos gabinetes pastorais de nossos dias, onde os “informantes” são movidos pelo interesse e, não raras vezes, por benefícios de poder eclesiástico e de dinheiro…
– Os familiares de Cloé contaram ao apóstolo que a igreja em Corinto estava dividida, que se sobressaíam quatro facções, quatro partidos que disputavam entre si não só o controle da igreja, mas a primazia: os partidos de Paulo, de Apolo, de Cefas e de Cristo.
– O primeiro partido era o “partido de Paulo” que, ao contrário do que os “paulistas” esperavam, não contou com o apoio do apóstolo. Como sabemos, o apóstolo tinha sido o responsável pela abertura do trabalho do Senhor em Corinto, onde ficara por dezoito meses.
Assim, este “partido de Paulo” devia ser formado pelos “crentes antigos”, pelos “crentes fundadores”, pelos que se converteram ao Senhor durante a estada do apóstolo naquela cidade.
– É importante observar que, ao se referir a este partido, o apóstolo é mais enfático do que em relação aos demais, até porque o referido “partido de Paulo” havia sido formado à revelia do apóstolo e Paulo queria deixar bem claro que não aprovara tal iniciativa daqueles que, supostamente, estavam seguindo os seus ensinamentos na igreja em Corinto.
– O apóstolo, numa demonstração de humildade, lembra os coríntios de que, embora tivesse passado por um ano e meio entre eles, nunca tivera a pretensão de liderar aquela igreja, de se fazer pastor daqueles crentes. Seu chamado era de evangelista e não de pastor (I Co.1:17).
– Paulo deixa-nos uma importante lição que, lamentavelmente, muitos ministros do Evangelho não aprenderam até hoje, qual seja, a de que cada crente tem uma vocação na obra do Senhor (I Co.1:26; 7:20).
Os dons ministeriais não são dados a todos, mas a alguns e devemos entender qual é o papel que o Senhor nos destinou em Sua obra. Paulo sabia que havia sido chamado para evangelizar, não para “batizar”, ou seja, para apascentar crentes. Não era ele um pastor, alguém que deveria ficar à frente de uma igreja local, mas, sim, alguém chamado para pregar o Evangelho aos gentios, iniciar igrejas e, em seguida, partir para outro local.
– Com esta lembrança aos coríntios, o apóstolo, de pronto, negava ter criado um “sistema de igreja”, um “modelo de governo”, uma “forma de administração” , como, aliás, muitos têm inventado ao longo da história da igreja.
O apóstolo, aliás, fez questão de lembrar que, mesmo tendo ficado um ano e meio em Corinto, pessoalmente levou às águas batismais poucos crentes, como Crispo, Gaio e a família de Estéfanas, o que entendia, agora, como uma providência de Deus para que ninguém se dissesse crente em “seu nome” (I Co.1:14-16).
– Como o apóstolo Paulo é diferente dos falsos líderes, que grassam nos dias hodiernos entre o povo de Deus. Paulo não pregava senão a Cristo e Este crucificado (I Co.2:2), não sendo mais do que um imitador do Senhor (I Co.11:1).
Não aceitava que seu nome fosse usado pelos crentes nem tampouco que a ele fosse dado algum valor que pudesse obnubilar o nome do Senhor Jesus, o único que deve ser tido como exemplo (I Pe.2:21), o único que deve ser chamado de Pai e Mestre entre os crentes (Mt.23:8,9).
– Os falsos mestres, no entanto, têm prazer em ter ao seu redor seus discípulos (II Pe.2:2, 14,18,19; Jd.16,19), interpondo-se entre Cristo e os crentes, dizendo-se detentores de “novas unções”, de “coberturas apostólicas”, de “novas visões”, de “fórmulas de fé” e tantas outras invencionices, que têm o propósito único de lhes exaltar acima do próprio Jesus, criando um “culto da personalidade” que nada está a dever aos procedimentos similares dos regimes ditatoriais, em especial os que se ergueram no mundo ao longo dos séculos XIX e XX.
– O “partido de Paulo”, portanto, foi desautorizado pelo próprio apóstolo, que insistiu em que não deveria ser qualquer seguidor da igreja em Corinto, pois quem havia salvado os crentes ali não tinha sido o apóstolo, mas, sim, o Senhor Jesus (I Co.1:13).
Como é bom que o líder faça o povo entender que devemos olhar para Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hb.12:1,2), “o único Deus, Salvador nosso, por Jesus Cristo, nosso Senhor” (Jd.25a).
– Pelo que podemos inferir do texto sagrado, este “partido de Paulo” era a “facção dos fundadores”, a “facção dos crentes antigos”.
Formada pelos que haviam se convertido ao Senhor Jesus durante os dezoito meses da estada de Paulo em Corinto, era um grupo que se apresentava como o “preservador dos ensinos do apóstolo Paulo”, como os “defensores da doutrina primitiva”.
– Teologicamente, pois, este grupo seguia os ensinamentos do apóstolo Paulo, ensinamentos que se notabilizaram, no meio da igreja da época dos apóstolos, como de ruptura com o judaísmo e com a lei.
Formada tanto por judeus como por gentios, mas com preponderância de gentios, a igreja em Corinto, certamente, ante o seu caráter cosmopolita, teve de enfrentar a questão da observância da lei de Moisés pelos cristãos e, como toda igreja local aberta pelo apóstolo Paulo, tinha um comportamento de não seguir a lei, de não obrigar os cristãos a observar os mandamentos da lei mosaica.
– Este grupo, pois, certamente, defendia a “liberdade que há em Cristo Jesus”, liberdade, entretanto, que não significava libertinagem, como salientará o apóstolo na sua carta aos coríntios. Já na “carta anterior”, o apóstolo tivera o cuidado de mostrar que, embora os cristãos não devessem observar a lei de Moisés e não ter um comportamento farisaico de separação dos pecadores, não estavam autorizados a se associar com os que se prostituíam (I Co.5:9), prostituição, aliás, que era uma das principais atividades em Corinto.
– Pelo teor da primeira carta canônica e pela forma vigorosa como o apóstolo Paulo se dirige aos crentes que estavam se comportando de modo libertino, em completa associação e tolerância com a imoralidade, tem-se a impressão de que o pensamento no sentido de conivência e consentimento com tais práticas vinha, precisamente, do chamado “partido de Paulo”, que era, assim, o grupo “liberal”, aqueles que confundiam a liberdade que há na graça com a libertinagem, que nada mais é que a escravidão sob o pecado sob a falsa roupagem cristã.
– Nos dias hodiernos, também temos os “liberais”, aqueles que, proclamando a “liberdade que há em Cristo Jesus”, condenam o que entendem ser “mandamentos de homens” ou “doutrinas de homens”, defendendo a “contextualização do Evangelho” e “a liberalização dos costumes”.
Estes “modernos integrantes do partido de Paulo” deveriam ler, com mais atenção, os escritos paulinos e verificar que se encontram completamente equivocados.
– Não resta dúvida de que estamos gozando da liberdade que há em Cristo Jesus (Gl.2:4), pois um dos trabalhos do Senhor Jesus foi o de apregoar a liberdade aos cativos e pôr em liberdade os oprimidos (Lc.4:19).
Contudo, “liberdade” não é, como equivocadamente se tem entendido, uma “autonomia”, ou seja, “liberdade” não é “ditar as próprias regras”, ensino este que remonta à filosofia iluminista de Immanuel Kant (1724-1804) e que é um dos princípios basilares do humanismo reinante em nossos dias.
– O apóstolo Paulo ensina-nos que a liberdade que temos em Cristo Jesus é a libertação da servidão da corrupção (Rm.8:21), a liberdade da glória dos filhos de Deus e, portanto, um comportamento de fazer a vontade de Deus, obedecendo-Lhe em tudo.
Por isso, a liberdade que há em Cristo Jesus não nos permite praticar o pecado, nem tampouco escandalizar o irmão (Gl.5:1,13; I Co.8:9).
A liberdade em Cristo Jesus jamais pode servir de cobertura da malícia (I Pe.2:16), como também não é o poder de fazer o que quiser, mas, sim, o de ouvir a Palavra de Deus e atender às regras ditadas por Deus, a “lei da liberdade” (Tg.1:25; 2:12).
– O “liberalismo” é apenas uma justificativa para permissão da prática pecaminosa, é apenas um discurso que faz com que as pessoas achem que viver em pecado não lhes causará dano algum com relação à salvação.
O “discurso liberal” está tão somente preocupado em criar um clima propício a que os falsos líderes obtenham os benefícios e vantagens que almejam (quase sempre de cunho pecuniário), e, pra tanto, buscam agradar aos crentes, “prometendo-lhes liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção” (II Pe.2:19a).
Tal discurso, nos dias da apostasia, é agradável aos ouvidos daqueles que querem viver em pecado, tendo, pois, atraído multidões, que buscam para si “doutores conforme as suas próprias concupiscências” (II Tm.4:3 “in fine”).
– Confunde-se a “liberdade em Cristo” com a “liberdade para pecar”, esquecidos de que “…quem comete pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o princípio. Para isso o Filho de Deus Se manifestou: para desfazer as obras do diabo.
Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado, porque a Sua semente permanece nele e não pode pecar, porque é nascido de Deus. Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo…” (I Jo.3:8-10a).
– Não é por outro motivo que o apóstolo Pedro chama estes “falsos mestres”, estes líderes liberais, de negadores do Senhor que os resgatou, cujo último estado é pior do que o primeiro, porque envolvidos e vencidos pelas corrupções deste mundo (II Pe.2:1,20). São, pois, instrumentos do diabo no meio do povo de Deus, cujo papel é o de levar os crentes à apostasia, assim como eles apostataram.
– Este grupo, embora se dissesse o “primitivo”, o “fundador”, tinha sido, também, o grupo que promovera a divisão no meio do povo de Deus. Os “liberais” são os que semeiam a discórdia entre o povo de Deus, porque eles são “sensuais, não têm o Espírito” (Jd.19).
Com efeito, ante os escândalos que começaram a surgir no meio da igreja em Corinto, notadamente os de ordem moral, foram os primeiros a levantar a “bandeira de Paulo”, a “bandeira da liberdade”, considerando os que se opunham a este comportamento imoral e incompatível com as Escrituras como sendo “legalismo”, “farisaísmo”, “atraso”.
Assim, ao dizerem que “eram de Paulo”, deram o ponto de partida para a disseminação do espírito faccioso no meio da igreja. Que Deus nos guarde dos “liberais”, do “partido de Paulo”!
II – O PARTIDARISMO DA IGREJA EM CORINTO: O PARTIDO DE APOLO
– Mas, assim que surgiu o “partido de Paulo”, um outro grupo de crentes resolveu, também, organizar a sua facção. Era o “partido de Apolo” (I Co.1:12), que se diziam seguidores de Apolo, o
grande e eloquente pregador que foi para Corinto, depois de ter devidamente evangelizado por Áquila e Priscila em Éfeso (At.18:24-19:1), portanto tendo ali chegado depois da partida de Paulo.
– A chegada de Apolo em Corinto, certamente, foi uma grande bênção de Deus para a igreja em Corinto.
A saída de Paulo, certamente, havia sido muito sentida por aqueles irmãos. Não devemos nos esquecer das peculiaridades de Corinto e como era difícil ser cristão num ambiente daqueles. Além do mais, Paulo havia ficado bastante tempo ali em comparação aos outros locais, de modo que a dependência da igreja em relação ao apóstolo era maior do que nas outras localidades.
– O Senhor, porém, que é o dono da obra, tomou providências no sentido de tudo quanto havia sido plantado pelo apóstolo Paulo não viesse a perecer e envia Apolo para que este, com seu grande conhecimento escriturístico, pudesse fazer o trabalho da regadura, a fim de que o Senhor pudesse dar o crescimento àquela igreja local (I Co.3:6).
– Com Apolo, a igreja em Corinto certamente cresceu em conhecimento bíblico, pois Apolo era um grande pregador e conhecedor das Escrituras. Seu dom ministerial, portanto, era o de mestre e como tal esteve naquela igreja local.
– A Bíblia revela-nos que Apolo era natural de Alexandria, o principal centro filosófico daquele época, o que nos dá a entender que era versado tanto na filosofia grega quanto nas Escrituras.
Não devemos nos esquecer de que Apolo foi senão contemporâneo, conhecedor dos ensinos, em Alexandria, do grande filósofo judeu Filo (15 a.C. – 40 d.C.), conhecido como o “Moisés grego” ou o “Platão hebreu”, o grande nome que pôde fazer a associação entre a filosofia grega e a lei de Moisés, o que levou alguns estudiosos a achar que o autor da carta aos hebreus tenha sido Apolo, pela presença nítida da concepção filosófica de Filo naquela epístola.
– O “partido de Apolo”, portanto, era formado por aqueles que se dispuseram a levar avante os ensinos profundos de Apolo na sua ministração em Corinto.
A exemplo do “partido de Paulo”, era também um grupo que se constituiu à revelia do seu “mentor”, pois tudo indica que, a esta altura, Apolo já não mais se encontrava em Corinto (I Co.16:12).
Pelo contrário, ao saber que havia um grupo faccioso que o tomava como exemplo, Apolo, que não era “falso mestre”, não fez qualquer questão de ir a Corinto, apesar de Paulo assim ter solicitado.
– O “partido de Apolo”, portanto, era o grupo dos “intelectuais”, dos “teóricos”, daqueles que buscam reduzir a fé a um grupo de postulados racionalmente inteligíveis, os que estão à busca de modelos teóricos que, firmados na razão humana, expliquem a Deus e O tornem compreensível à mente humana.
– O apóstolo Paulo, como vimos na lição anterior, ele próprio, a exemplo de Apolo, um conhecedor da filosofia grega (embora Paulo tivesse se formado junto aos estoicos, em Tarso e Apolo, junto aos neoplatônicos, em Alexandria), fez questão de mostrar que o Evangelho não se prega nem se entende pela sabedoria humana, mas, antes, pela “loucura da pregação” (I Co.1:18-21).
– Nos dias hodiernos, ainda há os “intelectuais”, os “racionalistas”, que pretendem reduzir a Palavra de Deus a uma ciência, a uma filosofia, enfim, que pretendem esquadrinhar o Senhor na mente humana. “…Houve tempo em que se liam os textos sagrados com reverência.
Diante do numinoso, o mortal tremia; diante do sagrado, o pecador temia; diante do infinito, o finito se perdia; diante do eterno, o humano encolhia.
Lentamente, teólogos e exegetas, cientistas e técnicos, gramáticos e linguistas minaram os sonhos e fantasias dos meninos, esvaziaram a verdade dos poetas, quiseram explicar o mistério, captar a verdade, sistematizar Deus, dissecar o poema e criticar a alegoria.
E conseguiram! (…) Esses assassinos da beleza, no ímpeto de explicar o impossível e mapear os rumos do Espírito, deixaram o mundo mais pobre, a fé mais segura, a oração menos incerta e Deus ficou pequeno…” (GONDIM, Ricardo. Sem perder a alma, p.86).
– O “racionalismo” acaba destruindo a fé, não raras vezes levando os crentes ao agnosticismo (doutrina que considera inacessível ou incognoscível ao entendimento humano os problemas propostos pela fé) ou ao ceticismo (doutrina que descrê que o homem possa conhecer algo), ou seja, à descrença, à incredulidade, pois não se tem como entender os desígnios divinos com o uso exclusivo da razão humana.
Os pensamentos e caminhos de Deus são muito superiores aos pensamentos e caminhos humanos (Is.55:8,9), não havendo como atingirmos a sua profundidade (Rm.11:33-36).
– Nos dias em que vivemos, em que se supervaloriza o homem, em que se defende que o homem pode viver independentemente de Deus (este é o conceito-chave da Nova Era, a doutrina do espírito do anticristo), não são poucos os que procuram “racionalizar” o Evangelho, gerando, porém, um sem-número de pessoas descrentes e incapazes de voltar a crer na Palavra de Deus.
– O “partido de Apolo”, assim, mostrava-se extremamente perigoso, porquanto acabava tendo por objetivo, conscientemente ou não, levar o povo de Deus a adotar a sabedoria humana e, assim agindo, perder-se eternamente.
O apóstolo Paulo fez questão de mostrar que a sabedoria humana era incapaz de levar ao conhecimento de Deus e que “a loucura de Deus é mais sábia do que os homens e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (I Co.1:25).
– Notemos que Paulo, em momento algum, atacou a contribuição dada por Apolo à igreja em Corinto e bem considerou que o ensino trazido tinha sido fundamental para o crescimento espiritual da Igreja. O ensino da Palavra de Deus é indispensável para que haja o crescimento do povo de Deus.
Sem que se regue o que foi plantado, não há como Deus dar o crescimento. No entanto, estudar a Bíblia Sagrada não é adaptá-la à razão humana, não é transformar o Evangelho em uma filosofia, não é construir um modelo teórico científico de fé, mas aceitar a revelação divina como tal e procurar conhecê-la com o nítido propósito de se submeter a ela.
– A teologia nada mais é que a adoção do método científico para apreensão da revelação constante das Escrituras. É, portanto, a sistematização, dentro de critérios racionais, daquilo que foi revelado na Bíblia Sagrada. Por isso, a teologia deve se limitar a sistematizar e organizar o que está na Bíblia, nunca indo além da Bíblia, nem tampouco desprezá-la.
O “partido de Apolo” é, atualmente, representado pelos teólogos que, abandonando as Escrituras, adotam ou criam modelos teóricos nos quais procuram enquadrar a Palavra de Deus. Fujamos desta gente!
III – O PARTIDARISMO NA IGREJA EM CORINTO: O PARTIDO DE CEFAS
– Mas, como os crentes em Corinto eram carnais, estavam envolvidos pelo sentimento faccioso, pois este tipo de sentimento surge entre os que não têm o Espírito (Jd.19), entre os que têm amarga inveja no coração (Tg.3:14), a presença de “sábios e entendidos”, verdadeira expressão de sabedoria terrena, animal e diabólica (Tg.3:15), fez com que surgissem outros grupos, além dos “partidos de Paulo e de Apolo”.
– O aparecimento de sucessivas facções no seio da igreja em Corinto não é algo que venha nos admirar, apesar de ser uma igreja fervorosa.
Como vimos, Corinto era uma igreja carnal e onde há carnalidade, não demoram surgir as obras da carne, entre as quais estão as inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas e dissensões (Gl.5:20). Em estudo ministrado na Assembléia de Deus do Belenzinho, em São Paulo/SP, em 2 de março de 2009, o pastor norte-americano B. H. Clendennen, responsável pela “Escola de Cristo”, disse que as obras da carne são consequência natural da carnalidade.
Onde houver carnalidade, as obras da carne não tardam a aparecer, o que, aliás, já havia sido dito pelo Senhor Jesus, ao término do sermão do monte, quando afirmou que pelos frutos, conheceremos os verdadeiros e os falsos discípulos (Mt.7:15-20).
– A presença de “intelectuais”, de “racionalistas”, em vez de aclarar pontos difíceis das Escrituras, de trazer mais conhecimento ao povo de Deus, provoca polêmicas e debates que levam a mais divisão no meio do povo de Deus.
A sabedoria humana é terrena, animal e diabólica e, por isso, não faz senão causar transtornos no meio da igreja, levando, nestes transtornos, muitos à morte eterna, visto que o trabalho do diabo outro não é senão matar, roubar e destruir (Jo.10:10).
– Neste sentimento faccioso crescente, surgiu o terceiro grupo, o “partido de Cefas” (I Co.1:12). “Cefas” é o nome do apóstolo Pedro em aramaico (Jo.1:42), a língua que era falada pelos judeus nos dias de Jesus.
A adoção por parte deste grupo do nome do apóstolo Pedro em aramaico já demonstrava ser um grupo de cristãos que se deixaram levar pelos judaizantes, ou seja, os crentes que haviam se esmerado em ir até as igrejas abertas pelo apóstolo Paulo e que tentavam convencer os crentes a seguir a lei de Moisés, como, aliás, havia ocorrido na Galácia, região próxima a Corinto (Gl.2:4; 6:12,13).
– O “partido de Cefas” é o grupo dos “legalistas”, dos “defensores das tradições”, dos “modernos fariseus”, dos “criadores de fardos difíceis de suportar”, que, lamentavelmente, ainda existem no meio das igrejas locais do século XXI.
São os que, não querendo viver a libertinagem do “partido de Paulo”, nem se reduzindo ao racionalismo do “partido de Apolo”, buscam na lei a razão de ser de sua fé, esquecendo-se de que estamos na dispensação da graça, onde não são os méritos nem as obras que trazem vida, mas a fé em Cristo Jesus, obtida mediante o favor imerecido a nós proporcionado pelo amor incondicional de Deus.
– O “partido de Cefas” impõe a lei sobre o povo de Deus. Cria um sem-número de “mandamentos de homens”, de “doutrinas de homens”, que têm mais valor que a Palavra de Deus.
São fardos criados pelos homens, que se perpetuam geração após geração, muitas vezes contrariando diretamente o texto sagrado.
São pessoas que seguem rigorosamente as tradições dos pais, mas não têm qualquer cuidado em saber o que foi determinado por Deus. Substituem a Palavra de Deus pelos ditos humanos, substituem o amor de Deus pela impiedade do homem.
– Este tipo de gente foi diretamente combatido pelo Senhor Jesus, que dedicou o Seu mais duro discurso aos fariseus (Mt.23).
Aliás, durante todo o ministério terreno de Cristo, podemos perceber que sempre os fariseus Lhe eram opositores, de modo que pertencer ao “partido de Cefas” é estar na incômoda posição de opositor de Cristo e o Senhor foi bem claro ao afirmar que “quem não é coMigo, é contra Mim; e quem coMigo não ajunta, espalha” (Mt.12:30; Lc.11:23). Ora, quem está contra Jesus, como pode esperar viver com Ele eternamente no céu?
– Os “mandamentos de homens” surgem quando não há obediência a Deus. O profeta Isaías é claro ao mostrar que a existência de mandamentos de homens dispensa o povo de ter Deus em seu coração (Is.29:13).
O “legalismo formalista” caracteriza-se, precisamente, pela valorização excessiva dos rituais, das aparências, do exterior, com total desprezo pelo interior do homem, pelo “homem do lado de dentro”.
Assim, havendo cumprimento de toda a ritualística, de toda a liturgia, o “partido de Cefas” fica satisfeito, mesmo que os participantes do ritual esteja com seus corações longe do Senhor.
– A justificação segundo o “partido de Cefas” vem do cumprimento dos mandamentos, ainda que isto se faça sem qualquer alegria, por obrigação ou por necessidade. Como o fariseu da parábola
contada por Deus, pretende-se o louvor diante dos homens, a consideração de uma imagem, de um papel, de uma máscara, mesmo que isto esteja bem distante da realidade. É o “partido da hipocrisia”, pois “hipócrita”, na Grécia, era o ator que representava um papel utilizando-se de uma máscara.
– A honra a Deus vem por meio de ensino de “mandamentos de homens”, de ensinamentos de pessoas que, muitas vezes, se desviaram da verdade e criaram fábulas e fantasias que substituem a verdade da Palavra (Mt. 15:9; Mc.7:7; Tt.1;14).
Tais mandamentos, ademais, por serem humanos, tornam-se inadequados e ultrapassados ao longo dos anos (Cl.2:22), causando ainda mais dissensões e divisões no meio do próprio “partido de Cefas”.
– O legalismo formalista, como é completamente desvinculado da vida espiritual, do “homem do lado de dentro”, leva, também, ainda que seja paradoxal, o povo a uma vida de pecado e à perdição eterna.
Embora se diga oposto ao “liberalismo”, embora se diga “zeloso da lei”, o fato é que o “legalista formalista”, o “moderno fariseu”, embora seja lindo por fora, é podre por dentro, verdadeiro sepulcro caiado (Mt.23:25-28).
No “legalismo formalista”, o pecado corre solto, visto que o que importa é tão somente não aparentar ser pecador, ainda que se o seja no interior, na sombra, na penumbra.
OBS: “…Devagar começamos a nos sentir especiais, bons crentes e não percebemos mais nossas falhas e pecados. Quanto mais usados por Deus, mais corremos o risco de acharmos que temos tanto crédito diante do Senhor, que Ele não se importa com nossos pequenos deslizes.
A própria dinâmica da Igreja estimula isto, pois vemos incoerências na vida de alguns de nossos líderes, mas dizemos:
‘Ele é tão consagrado e usado por Deus que não temos o direito de apontar suas falhas’.Tornamo-nos arrogantes, donos da verdade, com respostas prontas para tudo, superespirituais, legalistas, mas tudo isto não passa de uma cortina de fumaça atrás da qual escondemos nossos erros e pecados. Somos justos, ponto final: não precisamos mais de quebrantamento e confissão.…” (LUDOVICO,
Osmar. Antigos e modernos fariseus. Disponível em: http://pibbjovem.wordpress.com/2009/02/03/antigos-e-modernos-fariseus/ Acesso em 10 mar. 2009, publicada originalmente em Enfoque, edição 56, mar. 2006).
– Por isso, ao mostrar o lamentável estado espiritual do reino do norte (chamado pelo profeta de “Efraim”), o profeta Isaías fez questão de dizer que se tratava de um povo que, apesar de seu alto grau de pecaminosidade, era repleto de regras e de mandamentos a cumprir.
Servir a Deus foi confundido por ele como sendo uma vida de “mandamento sobre mandamento, mandamento sobre mandamento, regra sobre regra; um pouco aqui, um pouco ali” (Is.28:10).
– Quantos, na atualidade, não têm procurado este “caminho fácil de ir para o céu”. Acham que por cumprirem algumas práticas previstas na Bíblia ou, mesmo, nos códigos de regras criados por suas lideranças, estão livres para pecar à vontade, pois o céu lhes está garantido.
Acham, como Saul, que sacrificar é melhor do que obedecer, quando a Bíblia diz expressamente o contrário.
– Ao considerarem que a Palavra de Deus é tão somente um código normativo, acabam selando a própria destruição, porque cairão para trás, quebrantar-se-ão e se enlacerão, sendo presos, ou seja, ficando sob o domínio do pecado (Is.28:13), assim como os “liberais”, sem que possam ser libertos, pois a liberdade vem tão somente do conhecimento da verdade (Jo.8:32), de um encontro pessoal com Cristo, algo que os “legalistas formalistas” não estão dispostos a fazer, pois isto seria renunciar aos “mandamentos humanos”, seria renunciar a suas “regras sobre regras”.
Os “modernos fariseus” continuam os mesmos dos seus similares dos dias de Jesus: para não se contaminar e poder participar da Páscoa, não ousam entrar no Litóstrotos (pavimento calçado com pedras na torre Antônia, lugar frequentado pelos gentios e, portanto, impuro aos olhos da lei judaica), mas não têm nenhum prurido nem dor de consciência ao dizer que Jesus tem de ser crucificado (Jo.18:28;19:13,15).
OBS: “…O pecado do orgulho espiritual é o coroamento da sutiliza do mal que opera em nós. Nos comparamos com bandidos e nos achamos santos. Nos tornamos enrijecidos para pedir perdão e para perdoar.
Mesmo surpreendidos em alguma falha, temos uma capacidade enorme de nos justificar. Para isto, citamos a Bíblia, acusamos pessoas e o diabo, manipulamos, mas nunca admitimos que estamos errados. Assim são muitos pastores, maridos, pais e irmãos na fé.
Quanto mais fariseus nos tornamos, mais sofisticamos nosso discurso teológico e mergulhamos no ativismo, pois discutir o sexo dos anjos e agitação ministerial se tornam mecanismos de defesa para que ninguém, nem Deus, se aproxime de nós.
Infelizmente, os critérios de avaliação da nossa fé são cada vez mais empresariais: liderança empreendedora, desempenho, sucesso, eloqüência, crescimento numérico, poder midiático e político. Passamos a viver duas realidades:
de um lado a vida pública, com seus discursos e eventos espetaculares, do outro a vida privada, a cabeça no travesseiro, os vínculos familiares e relacionamentos afetivos adoecidos.…” (LUDOVICO, Osmar. op.cit.).
Uma espiritualidade esvaziada de nossa humanidade, que erra, que chora, que se irrita, que sente raiva, que tem dúvidas, é irreal, hipócrita, fantasiosa, farisaica…
– Não se pode confundir o “partido de Cefas” com o “conservador” que tanto é atacado, na atualidade, pelos “liberais”.
Como vimos, o “liberalismo” defende a libertinagem, ou seja, que cada crente faça o que quiser, o que bem entender, porque é “livre”, algo que se viu não corresponder à realidade bíblica, que mostra haver uma “lei de Cristo” (I Co.9:21; Gl.6:2), uma “lei da liberdade” (Tg.2:12).
– O “partido de Cefas” preocupa-se tão somente com o exterior, com a aparência. Assim, pouco importa com o pecado, preocupa-se em que o pecado não apareça.
O “conservador”, o “verdadeiro legalista”, pelo contrário, é aquele que se preocupa em “limpar o interior do copo e o prato” (Mt.23:26), em ser sincero e reto diante de Deus, em ser agradável ao Senhor. Seu empenho é “conservar a sinceridade voluntária para sempre no intento dos pensamentos do coração do povo e encaminhar o coração para Deus” (I Cr.29:17,18).
O “conservador”, o “verdadeiro legalista” (que não se preocupa com a lei, mas com a justiça – Mt.5:20) é aquele que teme a Deus, tem prazer em ouvir e praticar a Palavra do Senhor, é o “sal da terra”, que conserva a sã doutrina e faz com que o pecado e a iniquidade não venham a tornar o ambiente putrefato e malcheiroso ao Senhor.
OBS: “…Somos conservadores no sentido estrito da palavra, pois não aceitamos nenhuma reforma. Nem as simples, como tampouco as radicais, como nos explica o dicionário.
Ao contrário dos programas e equipamentos de informática, a Palavra de Deus não precisa de atualização ou de ‘upgrades’. A Doutrina de Deus é eterna!
Ela foi escrita por Deus na Eternidade! Não precisa de atualizações, nem as há! Aleluia!Não confundamos Doutrina com costumes. Muitos dos querem demonstrar sua santidade pela exibição de sinais exteriores, são, em sua maioria, fariseus, pois não cumprem a Doutrina da Palavra de Deus.
Buscam a ausência do prepúcio, mas, como diz a palavra de Deus, judeus são aqueles os que o são de coração: ‘Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus’ (Rm 2:29).
Quem cumpre a Palavra de Deus, automaticamente e num “crescendo” (no sentido musical do termo), vemos, em sua vida, os sinais de uma vida santificada espalhando o perfume da simplicidade de Cristo!…” (ABREU, Sérgio Paulo Gomes de. Conservador e legalista. Disponível em: http://www.sogloria.com/imprimindo.php?id=447&cat=reflexao Acesso em 10 mar. 2009).
– O “partido de Cefas” é o partido da hipocrisia e da iniquidade (Mt.23:28), o partido do sem-número de dogmas e regras, das imensas dificuldades que, porém, nunca são praticados por seus inventores (Mt.23:3,4).
É o partido dos que serem ser louvados e engrandecidos pelos homens (Mt.23:4-6). Os que querem ser exaltados por seus códigos de ética, regulamentos internos, estatutos e normas, que entendem ser superiores até à Bíblia Sagrada. Tomemos cuidado com os “modernos fariseus”, que, como Jesus é o mesmo (Hb.13:8), continuam a ser abomináveis a Cristo.
IV – O PARTIDARISMO NA IGREJA EM CORINTO: O PARTIDO DE CRISTO
– Mas surgiu um quarto grupo faccioso na igreja em Corinto, que se intitulou “partido de Cristo” (I Co.1:12).
Este último grupo, num primeiro instante, pareceria ser o melhor de todos, pois, ao se dizerem de Cristo, estariam, assim, retornando ao ensino de Jesus de que não se deve ter ninguém como Pai e Mestre a não ser o próprio Senhor (Mt.23:8,9).
– No entanto, quando bem verificamos este grupo, podemos dizer que se tratava do pior de todos os grupos.
Não é correto haver facções na igreja e o simples fato de haver partidarismos já é um erro. Entretanto, entre todos os facciosos, o fato é que somente este último grupo era incapaz de ser admoestado ou advertido, pelo simples fato de que não havia como levá-los a um convencimento.
– O apóstolo Paulo, como vimos, foi extremamente duro com os integrantes do “partido de Paulo”, desautorizando-os, por completo.
Apolo, também, nem sequer quis ir para Corinto, porquanto não queria, também, endossar os integrantes do “partido de Apolo” que, com tal atitude, também se viram enfraquecidos.
Com respeito ao “partido de Cefas”, vemos que seu destino foi similar aos dos judaizantes, desautorizados que foram pelo próprio Concílio de Jerusalém (At.15), realizado por volta do ano 49, ou seja, uns seis anos antes da redação desta carta canônica aos coríntios.
– No entanto, o “partido de Cristo” era formado por aqueles que “só aceitavam os ensinos de Jesus”, que se rebelaram contra todo e qualquer ensinador, contra todo e qualquer apóstolo, ancião, presbítero ou pastor.
Na verdade, embora se diziam “de Cristo”, estes crentes eram os piores de todos, pois não aceitavam qualquer ensino, não admitiam ser orientados ou dirigidos por quem quer que fosse na igreja local.
– Seja quem for que lhes falasse, seja quem for que lhes advertisse, não seria “Cristo” e, por isso, não seriam dignos de ser ouvidos.
Era o grupo que simplesmente se considerava com uma relação privilegiada com o Senhor Jesus e que, portanto, não tinha de ouvir nem prestar contas a qualquer pessoa. Eram os precursores do “anarquismo cristão”, que surgiria na história da igreja a partir do século XVII.
– Quando dizem que “são de Cristo”, estes crentes estão apresentando uma justificativa para a sua rebeldia.
Eles há muito não ouvem mais ao Senhor nem sequer conhecem a Sua voz, não sendo, pois, Suas ovelhas, embora assim se identifiquem (Jo.10:27).
Ao contrário de Jesus, a quem dizem ouvir, não são submissos, nem tampouco mansos ou humildes de coração (Mt.11:29,30). Consequentemente, se não fazem o que Jesus fazia, não O estão a seguir e, portanto, não podem ser considerados servos do Senhor.
– O “partido de Cristo” é o grupo dos rebeldes, dos insubmissos, daqueles que são “donos da verdade”, que não admitem ser orientados, dirigidos, repreendidos ou advertidos.
É o grupo dos “egoístas”, egocêntricos, que servem somente a si mesmos e não a Deus (Rm.16:18; Fp.3:19).
Este grupo tem crescido intensamente nos dias em que vivemos, pois o pensamento dominante hoje é o do egoísmo, da anulação do outro, do amor a si próprio (II Tm.3:1-4). O individualismo é a tônica entre os homens, mesmo entre os que cristãos se dizem ser.
– O “partido de Cristo” é o que mais se oporá aos ensinos do apóstolo à igreja em Corinto, serão os principais adversários da autoridade apostólica de Paulo e a quem o apóstolo se dirigirá na segunda carta canônica, como também na carta que deve ter sido enviada entre as duas cartas canônicas.
É o partido que liderará a oposição a Paulo, como é o partido que tem se notabilizado em enfrentar os genuínos e autênticos ensinadores da sã doutrina nos dias em que vivemos.
É o partido dos que estimulam e incentivam as rebeliões, as dissensões, é o grupo que tem aberto centenas e centenas de igrejas, comunidades e células por este mundo afora, porque não suportam a sã doutrina e só olham para si mesmos, para seus umbigos, só se preocupam consigo mesmos.
– O “partido de Cristo” é o grupo que tem destruído as igrejas locais enquanto grupos sociais. É o grupo que tem transformado os cultos em shows e momentos de lazer e entretenimento, que tem sufocado a Palavra e, em seu lugar, resolvido criar ambientes catárticos, guiados pela emoção e pela superficialidade (para não dizer nulidade) espiritual.
As igrejas locais viraram grandes multidões, grandes plateias, que não mantêm qualquer relacionamento entre si e que, portanto, não podem crescer espiritualmente como é desejo do Senhor, visto que uns dependem dos outros para que tal crescimento ocorra. Sem crescimento, tais crentes são facilmente atrofiados e, não demora muito, são totalmente mortos espiritualmente pelo inimigo de nossas almas.
– O “partido de Cristo” não promove o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, Aquele que morreu por nós na cruz do Calvário.
Longe disso, procura apresentar um “Jesus Cristo universal”, o “Cristo da Nova Era”, o “Cristo politicamente correto”, que não passa de um “mestre iluminado”, de um “profeta”, de um “filósofo”, “…o Jesus universal, aquele Jesus carinhoso, bom, que pregou a paz e viveu entre os homens [que] pode ser aceito por todos os segmentos religiosos (…) o Jesus homem, o pregador da paz, o inspirador de livros de autoajuda, o Jesus que vende, o Jesus do Mercado [que] é aceito por todas as religiões, enquanto o Jesus, chamado Cristo, o Salvador da humanidade está sendo deixado de lado…” (SOUZA FILHO, João A. Entramos em uma nova era. Disponível em: http://www.juliosevero.com Acesso em 10 mar. 2009).
– Nos dias em que vivemos, o “partido de Cristo” está muito ativo, incentivando e estimulando o individualismo entre os que cristãos se dizem ser, desviando as reuniões de adoração para a exaltação do homem e de tudo aquilo que ele representa.
São os criadores de invencionices como a “exigência de direitos diante de Deus”, como a “determinação”, como a “concessão de perdão a Deus” e tantas outras fábulas que têm o propósito de enaltecer o ser humano e diminuir a Deus e a Cristo Jesus.
É o “Evangelho da Nova Era”, que já tem conseguido preencher grande espaço nas igrejas locais.
Sejamos vigilantes e não sejam enganados por estes falsos cristos, mas nos esforcemos para que, pela Palavra, que é a Verdade, sejamos santificados (Jo.17:17) e possamos ver a Cristo Jesus em nós e possamos ter Jesus formado em nós (Mt.24:24-26; Gl.4:19).
V – O PROPÓSITO DIVINO DE UNIDADE PARA A IGREJA EM CORINTO
– Quando o apóstolo Paulo soube do sentimento faccioso que dominava a igreja em Corinto, teve necessidade de escrever a carta que é objeto de nosso estudo neste trimestre.
O apóstolo bem percebeu que esta situação se devia a dois fatores, precisamente os que já analisamos nas lições passadas: a carnalidade e o menosprezo ou desprezo pela mensagem da cruz.
– Após ter apontado os dois fatores geradores daquela situação, o apóstolo, no capítulo 3 da epístola, faz questão de mostrar que a existência de facções, de invejas, contendas e dissensões entre os crentes de Corinto era a demonstração de que ali ainda reinava a carnalidade e de que eles andavam segundo os homens.
– Paulo mostra aos coríntios de que, enquanto eles se digladiavam dizendo ser de Paulo, de Apolo, de Cefas ou de Cristo, a visão divina era muito diferente, pois o Senhor via a lavoura de Deus, o edifício de Deus, onde se tinha de dar crescimento a cada planta, como também se deveria edificar o prédio que se tinha de erguer.
– A igreja local, como a igreja em Corinto, nada mais é que lavoura de Deus e edifício de Deus, pois faz parte da igreja universal, que é o corpo de Cristo.
Em uma lavoura, não há como se ter o desenvolvimento de algumas plantas e não de outras, como também não se tem como as plantas lutarem entre si pela sobrevivência.
Não havendo um desenvolvimento harmônico, a plantação como um todo se prejudica, há um prejuízo geral.
Quando se tem alguma calamidade natural que atinge uma lavoura, não se diz que tantos pés se salvaram e tantos pés se perderam, mas, invariavelmente, o noticiário é claro ao dizer que a “safra quebrou, ficou comprometida”, sem qualquer distinção, porque o prejuízo existente é de toda a lavoura, não desta ou daquela planta.
– O apóstolo Paulo faz os coríntios ver que, na obra de Deus, um depende do outro e não é possível que haja dissensões ou contendas entre os irmãos.
Na igreja em Corinto, se Paulo havia sido o responsável pela abertura do trabalho, ou seja, pelo “plantio dos irmãos”, inclusive lhes criando com “leite”, pois, como recém-nascidos em Cristo não tinham como ter uma doutrina mais substanciosa (se você der feijoada a um bebê recém-nascido, ele morrerá apesar de a feijoada ser alimento), o Senhor havia providenciado a vinda de Apolo, para que os crentes prosseguissem em seu crescimento espiritual, sendo devidamente “regados” e recebendo uma doutrina mais forte.
No entanto, nem Paulo, nem Apolo tinham sido os responsáveis pelo crescimento, que vinha da parte de Deus (I Co.3:6).
– A obra é de Deus e cada crente tem sua função específica e previamente estabelecida pelo Senhor, o dono da obra.
Todos os crentes nada mais são que “cooperadores de Deus”, ou seja, pessoas que devem trabalhar e se esforçar, juntamente com o Senhor, que é o “dono da obra”, para que vidas sejam salvas e edificadas, por intermédio da mensagem da cruz.
– A obra é de Deus e, por isso mesmo, não pode ficar estagnada. Muitos, na atualidade, contentam-se com o tamanho de sua igreja local e estacionam, param de se esforçar, visando tão somente “manter” a igreja.
Tal pensamento é completamente equivocado, porque a igreja é “lavoura de Deus”, ou seja, algo que tem de ser continuamente regado e plantado, cuidado sem descanso, até o dia da colheita, que é o dia do arrebatamento da Igreja.
– Não se pode deixar de plantar, não se pode deixar de regar, porque Deus jamais deixa de dar o crescimento.
O crescimento tem como objetivo a medida da estatura completa de Cristo, de varão perfeito (Ef.4:13), algo que é inatingível, o que significa afirmar que o trabalho dos “cooperadores de Cristo” é ininterrupto e sem descanso, porque nosso descanso não é aqui, por causa da corrupção, da corrupção que destrói grandemente (Mq.2:10).
– O apóstolo permite-nos verificar que, apesar do governo e da hierarquia ministerial, diante de Deus, todos são “cooperadores de Deus”, sem qualquer distinção.
Tanto o apóstolo, que havia aberto o trabalho, quanto Apolo, que havia sido apenas um ensinador, eram cooperadores de Deus.
Assim, ninguém se deve achar, na igreja local, maior do que outro, mas devemos considerar os outros superiores a nós mesmos (Fp.2:3) e, ainda mais importante do que isto, considerarmo-nos sempre inferiores ao nosso Mestre, o Senhor Jesus, a quem somente poderíamos nos igualar, enquanto homens, se atingíssemos a perfeição (Lc.6:40).
OBS: Os homens, ultimamente, têm sido muito arrogantes, achando-se superiores a todos os demais que servem a Deus.
Houve, inclusive, quem ousou ter poder para dar “cobertura apostólica” a seus liderados e, como resultado disto, não soube nem cuidar do teto de sua igreja matriz, que desabou. Cobre tanto seus liderados, que não pôde nem lhes dar um teto físico com as mínimas regras de segurança…
– A igreja local deve entender que é parte de um único corpo, o corpo de Cristo, a igreja universal. “O que planta e o que rega são um” (I Co.3:8 “in initio”), disse o apóstolo, contrariando, assim, o sentimento faccioso que imperava na igreja em Corinto.
A lavoura é uma unidade, assim como é o edifício, embora as plantas tenham existência individual, como também os materiais de construção que compõem o edifício.
A unidade não significa anulação das partes, mas significa dependência mútua, necessidade que cada um exista para que o outro possa alcançar a finalidade de seu ser.
– Nesta mesma carta aos coríntios, o apóstolo Paulo comparará a igreja com um corpo (I Co.12:12-31), para mostrar a dependência que cada crente tem em relação ao outro. Não há como, pois, permitir que haja conflito, contenda, inveja e dissensão entre os irmãos, pois isto significa a autodestruição da igreja.
– O fato de a igreja ser uma unidade, não dispensa cada crente de fazer a sua parte, nem retira a responsabilidade de cada um diante de Deus. Embora a igreja seja uma unidade e não se possa querer servir a Deus sem levar em conta o outro, cada um dará conta de si mesmo a Deus.
Por isso, o apóstolo foi claro ao dizer que “cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho” (I Co.3:8b), como também que “segundo a graça de Deus, que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele” (I Co.3:10). “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm.14:12).
– Percebemos, portanto, que o apóstolo Paulo, ainda que em virtude da graça de Deus (pois tudo é pela graça para que ninguém se glorie – Ef.2:8,9), disse que havia feito o trabalho que lhe fora confiado, qual seja, o de pôr o fundamento, sendo certo que outro (o pastor da igreja em Corinto àquele tempo) estava edificando sobre ele, edificação que não era apenas dos ministros e oficiais da igreja local, mas um trabalho a ser realizado por parte de cada crente.
– Não é por outro motivo, pois, que cada crente será levado perante o Tribunal de Cristo para que seja julgado conforme o que tiver feito, na obra de Deus, por meio do corpo, ou bem, ou mal (Rm.14:10; II Co.5:10). O Tribunal de Cristo será o primeiro evento depois da colheita da lavoura de Deus, o primeiro acontecimento após o arrebatamento da Igreja e antes das bodas do Cordeiro (Ap.19:7,8).
– O apóstolo é claro ao mostrar que o fundamento do edifício de Deus só pode ser Jesus Cristo (I Co.3:11), retomando, assim, seu ensino, já estudado, a respeito da singularidade da mensagem da cruz para a salvação da humanidade.
Mas, uma vez posto como fundamento Jesus Cristo, a edificação se fará pelo homem, que, conforme o caso, produzirá edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno e palha.
– É interessante notar que são seis os materiais de construção utilizados na edificação e seis, como se sabe, é o número do homem.
Trata-se, pois, de parte pertinente ao homem na obra de Deus, visto que há uma “cooperação”, ou seja, tanto Deus trabalha, como o homem também trabalha, a exemplo do que ocorreu com Jesus em Seu ministério terreno (Jo.5:37).
Aliás, não nos esqueçamos, o trabalho da igreja é mera continuação do trabalho de Cristo (Jo.14:12), daí porque a igreja ser chamada de “corpo de Cristo”, visto que prossegue o trabalho do Senhor Jesus sobre a face da Terra.
– Estes seis materiais, diz-nos o apóstolo, vão ser levados a julgamento, passarão pelo “fogo divino”, que aqui não representa o fervor espiritual nem tampouco o poder de Deus, mas o juízo, como se vê na pregação de João Batista (Mt.3:12).
Como ensina o pastor João Maria Hermel, presidente das Assembleias de Deus em Passo Fundo/RS, “…trata-se mais da qualidade do trabalho feito do que da quantidade de trabalho.” (Escatologia. In: Apostila da 62ª EBO da Assembleia de Deus do Ministério do Belém – São Paulo, p.58).
– Três destes materiais resistem ao fogo: ouro, prata e pedras preciosas. Representam as obras feitas de acordo com a direção e orientação divinas, obras feitas para a glória do Senhor, obras feitas com o propósito de louvar e bendizer ao nome do Senhor.
Como ensina o pastor João Maria Hermel:
“OURO: simboliza a glória de Deus, relaciona-se com as coisas celestiais (Ap.3:18; Jó 22:23-25).
PRATA: símbolo de redenção, resgate, sacrifício de Cristo (Ex. 30:11-16; I Co.1:23).
PEDRAS PRECIOSAS: simboliza tudo o que se faz através do Espírito Santo (Fp.3:3; Rm.15:18-20; Gn.24:53; I Co.12:4-6).…” (HERMEL. João Maria. op.cit., p.58).
– Os que tiverem edificado com estes materiais, certamente receberão galardão da parte do Senhor Jesus (I Co.3:14), visto que seu trabalho não foi em vão, resultou em frutos que foram aprovados pelo fogo divino.
– Entretanto, não são estes os únicos materiais com que se edifica na obra de Deus. Como o homem é falho (Sl.9:20), também se edifica mal, também se constrói com materiais que, lamentavelmente, não resistem ao julgamento do fogo divino.
Três são estes materiais, que não resistem ao fogo:
a madeira,
o feno e a
palha.
São obras realizadas sem a orientação divina, feitas por homens em prol dos homens, feitas sem o foco correto, que é o Senhor Jesus.
“…MADEIRA: representa a natureza humana (I Co.3:3; Lc.6:33,34).
FENO: representa aquilo que é seco, sem renovação (Jr.23:28; Is.15:6).
PALHA: representa a ausência de estabilidade (Ef.4:14) e também servidão (Ex.5:7), a palha não tem sabor, fala dos crentes que não perseveram nos caminhos do Senhor.…” (HERMEL, João Maria. ibid.).
Os que forem reprovados neste julgamento não perderão a salvação, pois a salvação se faz pela fé em Jesus e estes crentes creram em Cristo, tanto que puseram como fundamento da edificação o Senhor Jesus (I Co.3:15). Entretanto, não terão direito a galardão, mas tão somente a um louvor (I Co.4:5).
– Muitos crentes, ao se defrontarem com a realidade do julgamento do Tribunal de Cristo, costumam desdenhar da importância deste evento, dizendo que se contentam em estar no céu, nem que seja para ser um simples “tapete” nas mansões celestiais.
Este pensamento está completamente equivocado e parte de um falso pressuposto, qual seja, a de que é optativa a edificação na obra de Deus.
– Jesus nos salvou para que fôssemos parte do Seu corpo. Não é uma opção pertencer, ou não, à igreja, pois não há outro lugar nem outro caminho para o céu senão o Senhor Jesus e a Igreja é o corpo de Cristo.
Não se pode ir ao Pai senão por intermédio de Jesus (Jo.14:6) e a salvação é feita mediante a formação de um povo: a Igreja (Ef.2:11-22).
– Todo salvo pertence à igreja e deve estar sempre ligado como vara na videira verdadeira (Jo.15:1-5). Se nos desligarmos do corpo, estaremos irremediavelmente perdidos (Jo.15:6).
Só no corpo de Cristo há sangue e água, ou seja, só na Igreja se tem a purificação dos pecados pelo sangue de Cristo e a santificação pela Palavra que nos permitirá perseverar até o final.
É bem por isso que Jesus, como já dissemos supra, mandou-nos que não corrêssemos atrás do Cristo ali ou acolá, já que Ele tem de estar em nós (Jo.14:23).
– Ora, todo crente, se é verdadeiramente um crente, está edificado sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina e todo edifício cresce para templo santo no Senhor, para morada de Deus em Espírito (Ef.3:20-22).
Por isso, dizer que quer ser um “tapete” nas mansões celestiais é um pensamento equivocado e perigoso, pois se o crente está na videira verdadeira, se tem vida abundante, tem de crescer e é feito para ser templo de Deus que cresce no Senhor.
– Bem por isso, o apóstolo Paulo, ao terminar esta análise dos partidarismos em Corinto, adverte os crentes a que se conscientizassem de que eram templo de Deus e que o Espírito de Deus habitava neles (I Co.3:16).
Quem não quer crescer espiritualmente, ainda que tenha posto como fundamento a Jesus Cristo, corre o sério risco de “destruir o templo de Deus”. Quem destrói o templo de Deus, diz o apóstolo, Deus o destruirá (I Co.3:17).
– Não querer crescer espiritualmente é iniciar o processo de destruição do templo de Deus, que é cada um de nós (Hb.3:6).
Para ser casa de Deus, diz o escritor aos hebreus, é necessário tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até o fim.
Mais uma vez, portanto, vemos que só os “conservadores” é que podem prosseguir na jornada espiritual até o dia do arrebatamento da Igreja.
Como ensina o pastor José Wellington Bezerra da Costa, atual presidente da CGADB e pastor presidente das Assembléias de Deus – Ministério do Belém, São Paulo/SP, “a vida espiritual é como andar de bicicleta: se alguém deixar de pedalar, para e cai”.
– Qualquer um de nós sabe que, iniciada ou, mesmo, concluída uma construção, se ela for abandonada, deixada ao ataque das intempéries, mais cedo ou mais tarde, ela se tornará imprestável, terá de ser destruída, não terá qualquer serventia.
Não é, porventura, este o estado das ruínas das civilizações antigas, que para nada mais servem senão para serem verdadeiros museus a céu aberto e, mesmo assim, mediante contínuo trabalho de restauração por parte dos governos ou entidades que cuidam da preservação do patrimônio histórico?
– Assim como uma construção abandonada, mais cedo ou mais tarde, terá de ser destruída (como, recentemente, aliás, ocorreu com o antigo estádio de futebol dos Eucaliptos, em Porto Alegre/RS, usado para a Copa do Mundo de 1950 e que, abandonado desde 1969, teve de ser demolido em 2009), o crente que não quer crescer, acabará destruindo o “templo de Deus” que tem em si, numa destruição que promoverá a própria destruição divina sobre quem assim proceder.
– Não devemos nos esquecer que a rejeição de Cristo foi o motivo pelo qual o templo de Jerusalém foi destruído (Lc.19:43-44 cf. Mt.23:37-38; At.3:13-15).
Os próprios rabinos judeus entendem que o templo foi destruído em virtude de “sinat chinaim”, i.e., “ódio sem sentido entre os judeus”, ou seja, “…a violenta rivalidade entre as seitas judaicas explodiu numa espécie de guerra civil, dividindo o povo judeu, enfurecendo a Deus e expondo a nação ao juízo divino e à fúria dos romanos…” (PRICE, Randall. Jerusalém, Jerusalém! Disponível em: http://www.beth-shalom.com.br/artigos/jerusalem.html Acesso em 10 mar. 2009).
– Embora Paulo tenha escrito esta carta aos coríntios antes da destruição do templo (que deu, inclusive, após a morte do apóstolo), não podemos deixar de observar que até mesmo os rabinos judeus entenderam que a destruição do Templo se deveu à autodestruição do povo judeu.
O “ódio sem sentido entre os judeus” é resultado direto da rejeição do Salvador, do Messias, dAquele que tinha amado tanto o ser humano que deu a Sua vida por ele (Jo.15:13).
Quando se rejeita a Cristo, e é este o fator gerador do sentimento faccioso, quando não se atende à Sua Palavra, o resultado outro não será senão a destruição do “templo de Deus” em que cada um de nós se tornou, quando aceitamos a Jesus como nosso Senhor e Salvador e deixaremos de ser o “templo do amor”, para ser o “templo do ódio”, para nos destruirmos a nós mesmos.
– Não podemos querer criar mecanismos para nos salvarmos sem que seja pelo caminho trilhado e a nós deixado pelo Senhor Jesus.
Ninguém queira criar “facilidades”, como se isto fosse possível na vida espiritual. Não há atalhos, não há “jeitinhos”.
Ou nos dedicamos a edificar sobre o fundamento que é Cristo Jesus, ou, então, estaremos a destruir o “templo de Deus” que somos nós, recebendo a ira divina, que permanece sobre todos aqueles que não têm o Filho de Deus (Jo.3:36). Qualquer outro modo de servir a Deus é “astúcia”, é “autoengano” (I Co.3:18-20).
– Vivemos dias difíceis, dias em que as pessoas se esquecem que tudo é de nosso, mas nós temos de ser de Cristo, assim como Cristo é de Deus (I Co.3:21-23).
Muitos estão a se gloriar, a construir facções e partidos, a se fazer “grandes lideranças”, envaidecendo-se pela mídia e por grandiloquentes discursos, em que prometem liberdade, sendo eles mesmos servos da corrupção.
– Devemos fugir dos partidarismos, que nada mais é que fruto de uma carnalidade que não se pode admitir no meio do povo de Deus. A Igreja deve ser guiada, orientada e dirigida pelo Espírito Santo, cujo parecer deve ser buscado pelas lideranças (At.15:28).
Quando, porém, não há busca pelo poder do Espírito (o “carisma”), mas uma luta pelo poder político, pelo poder temporal, caminhamos a passos largos para uma situação análoga a de Corinto, prontos a ser severa e duramente reprimidos pela Palavra de Deus.
Tomemos cuidado, a fim de que nossas lideranças não se transformem “meros políticos”, lembrando sempre que, ainda que se tenham de mudar lideranças no meio do povo de Deus, tudo deve ser feito “…de forma pacífica, em oração e unidade, e não com ofensas de parte a parte.…” (ZIBORDI, Ciro Sanches. Eleições CGADB: é tempo de unidade, e não de partidarismo. Disponível em: http://cirozibordi.blogspot.com/2009/01/momento-de-unidade-no-esprito-ante-as.html Acesso em 10 mar. 2009).
– Estamos dispostos a viver em união? Só os que andam na luz, como na luz Ele está, pode ter comunhão com os outros e o sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, continuará nos purificando de todo o pecado (I Jo.1:7). Só na união, o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre (Sl.133:3).
Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco
Vídeo 01: https://youtu.be/j6ZFbr0z8WA
Vídeo 02: https://youtu.be/He0I93t5PMQ