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Lição 1 – A atualidade dos profetas menores

A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

    Estamos dando início ao último trimestre letivo do ano de 2012, completando, assim, pela graça e misericórdia do Senhor, mais um ano de estudos da Palavra de Deus, caminhando em santificação nesta nossa peregrinação terrena.

    O ano letivo iniciou-se com um importante estudo sobre a verdadeira prosperidade bíblica, quando, então, enfrentamos os ensinos falsos da teologia da prosperidade, de longe o maior mal que tem afligido a Igreja nestes dias derradeiros da dispensação da graça.

    No segundo trimestre, seguindo a linha adotada há alguns anos pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), tivemos o estudo de um livro das Escrituras, desta feita, o livro do Apocalipse, ainda que com ênfase na primeira parte do livro, que trata das sete cartas que o Senhor Jesus mandou às igrejas da Ásia Menor.

    No terceiro trimestre, findo há pouco, como que complementamos o estudo do primeiro trimestre, estudando sobre como vencer as aflições da vida, conscientizando-nos de que, neste mundo, teremos aflições mas que, mantendo a comunhão com o Senhor, não só as aflições não atingirão nossa vida espiritual, como também nós poderemos vencê-las assim como Cristo as venceu.

     Agora, neste último trimestre, seguindo a linha da CPAD de estudarmos livros tanto do Novo quanto do Antigo Testamento, teremos o estudo dos doze profetas menores, como são conhecidos os últimos doze livros do Antigo Testamento, livros estes que, na Bíblia Hebraica, correspondem a apenas um livro, denominado de “Os Doze”.

    O estudo dos doze profetas menores tem, como mostra o subtítulo de nosso trimestre, o objetivo de, através destas mensagens proféticas, dar a cada um de nós estrutura espiritual para que prossigamos em santificação.

    Com efeito, os profetas foram levantados em Israel como mensageiros de Deus a fim de que os israelitas corrigissem seu desvio espiritual e, desta maneira, retomando a linha traçada pelo Senhor na lei, pudessem aguardar devidamente o Messias que havia sido prometido.

     As mensagens proferidas pelos profetas em Israel, apesar de o Senhor Jesus já ter vindo ao mundo, continuam sendo atuais, uma vez que a Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25). São mensagens vindas diretamente de Deus, são palavras anunciadas por homens inspirados pelo Espírito Santo (II Pe.1:21) e, portanto, como Deus é imutável (Ml.3:6; Tg.1:17), o que o Espírito Santo falou para animar os israelitas no aguardo do Messias também nos serve para que, também, retomando uma vida de santificação, possamos aguardar este mesmo Messias que voltará para nos levar para a glória onde está atualmente (Jo.14:1-3).       É esta, aliás, a mensagem que nos traz a capa da revista do trimestre.

        A capa nos traz dois ambientes bem diversos. Em primeiro plano, vemos uma pena, uma lâmpada antiga e um rolo provavelmente de pergaminho, devidamente selado.

       Esta ilustração remonta-nos à Antiguidade, à própria elaboração das Escrituras, que eram manuscritas e copiadas pelos escribas em rolos de papiro ou de pergaminho. Cada rolo era um livro e um dos rolos continha as mensagens dos doze profetas denominados, posteriormente, de “profetas menores”, por serem as suas mensagens escritas de pequena extensão e, por isso, poderem ser reunidas todas em apenas um rolo, o chamado “livro dos doze”, que será, precisamente, o objeto do estudo deste trimestre.

       Entretanto, num segundo plano, encontramos prédios com arquitetura moderna, a nos indicar alguma das grandes metrópoles atuais do planeta.

       Esta segunda ilustração nos fala dos nossos dias, dias de grande tecnologia e desenvolvimento, dias em que os homens, ao contrário do que ocorria nos dias dos profetas menores, moram em grandes cidades e não mais no campo.

        Apesar de toda esta tecnologia e de todo este desenvolvimento, os homens, nos dias em que vivemos, continuam precisando da mensagem de Deus, continuam precisando melhorar os seus caminhos para que possam, um dia, ver o Senhor, pois, sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Hb.12:14).

       Assim como Israel vivia, no tempo dos profetas menores, uma perigosa decadência espiritual, nos dias em que vivemos, a Igreja está, também, a viver dias de apostasia e, portanto, mais do que nunca, a mensagem profética anunciada aos israelitas é bem-vinda para os servos de Cristo Jesus, a fim de que, melhorando nossos caminhos, separando-nos do pecado e revivendo as promessas de Deus, possamos todos, naquele dia, contemplar o final de nossa salvação, com a glorificação quando do arrebatamento da Igreja.

      Depois de uma lição introdutória, em que teremos um panorama geral a respeito dos profetas menores e da atualidade de sua mensagem profética, estudaremos, um a um, os doze profetas menores, de forma que, neste trimestre, não teremos, a rigor, blocos de lições, como costuma ocorrer.

      Apenas lembremos que os profetas menores costumam ser divididos em dois grupos, a saber: os profetas menores anteriores ao cativeiro da Babilônia e que proferiram suas mensagens tanto no reino do norte (Israel) como no reino do sul (Judá), que são Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque e Sofonias; e os profetas posteriores ao cativeiro da Babilônia, que somente proferiram mensagens para os judeus, já que o reino do norte foi destruído e que são Ageu, Zacarias e Malaquias.

        O comentarista deste trimestre é o pastor Esequias Soares da Silva, presidente das Assembleias de Deus em Jundiaí/SP, presidente da Comissão de Apologética da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) e Diretor Acadêmico da Escola de Missões das Assembleias de Deus (EMAD), que já há alguns anos vem comentando as Lições Bíblicas.

  1. B) LIÇÃO Nº 1 – A ATUALIDADE DOS PROFETAS MENORES

      Como parte das Escrituras Sagradas, a mensagem dos livros dos chamados “profetas menores” é sempre atual.

INTRODUÇÃO

– Os livros dos chamados profetas menores faz parte do cânon das Sagradas Escrituras e, portanto, é uma mensagem que é sempre atual, pois a Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25).

– Os livros dos chamados profetas menores foram inspirados pelo Espírito Santo (II Pe.1:21) e, portanto, fazem parte da obra que o Espírito Santo realiza em cada salvo para nos apresentar ao Senhor no dia do arrebatamento da Igreja (Jo.14:26; 16:13,14).

I – A PROFECIA NO ANTIGO TESTAMENTO

– Deus escolheu Israel para ser a Sua propriedade peculiar entre as nações da Terra (Ex.19:5,6). Assim, para que o povo não se corrompesse (Pv.29:18), sempre levantou, no meio de Israel, profetas, que eram Seus portavozes, como havia sido prometido ainda no deserto através de Moisés (Dt.18:20,21), ele próprio um profeta de Deus (Dt.34:10).

– A palavra “profeta” é grega e significa “aquele que fala por alguém”. Profeta é, portanto, a pessoa que fala por Deus, podendo, ou não, predizer o futuro. No hebraico, três são as palavras utilizadas para profeta, a saber: “nabi”(איבנ), “roeh” (חאך) e “hozeh”(הזוח), palavras que aparecem reunidas em I Cr.29:29.

– “Nabi” é a palavra mais comum nas Escrituras hebraicas e tem o mesmo significado do grego “profeta”, ou seja, “anunciador”, “declarador”. Já  “roeh” e “hozeh” significam “aquele que vê”, ou seja, “vidente”, como está traduzido na versão em língua portuguesa, que era, segundo I Sm.9:9, a antiga denominação dos profetas, querendo com isto dizer aquele que tem uma visão sobrenatural, aquele que Deus dá a enxergar algo que os homens não veem. Apesar dos esforços dos estudiosos, é difícil estabelecer se havia alguma diferença entre estes termos no início da vida de Israel e, em caso positivo, em que consistiria esta diferença.

– Além disso, os profetas também são identificados no Antigo Testamento como sendo os “homens de Deus” (“‘ish há Elohim”- א איש6:9 ;72:2.mS I ;6:41.sJ ;1:33.tD) (להים-8; I Rs.12:22; 13:1), a indicar que eram pessoas escolhidas por Deus para serem Seus mensageiros. O “profeta”, portanto, é alguém escolhido por Deus, um ser humano, mas que era separado pelo Senhor para trazer mensagens ao Seu povo.

– Tanto assim é que somente era reconhecido como “homem de Deus”, como profeta aquele que dissesse algo que se cumprisse, visto que esta era a prova indelével de que tinha sido ele porta-voz de Deus, que é a verdade (Jr.10:10). Eram estas, aliás, as instruções dadas pelo próprio Moisés ao povo (Dt.18:21,22). Este conceito israelita era conhecido até mesmo pelos povos vizinhos, como se verifica no caso da viúva de Zarefate (I Rs.17:23,24).

– Deus levantou profetas durante toda a história de Israel. A primeira pessoa que a Bíblia chama de profeta foi o próprio Abraão, de onde seria formada a nação israelita (Gn.20:7). No entanto, o primeiro profeta bíblico não foi Abraão, mas, sim, Enoque, que, ainda antes do dilúvio, teria profetizado a respeito do estabelecimento do reino milenial de Cristo (Jd.14).

– Em seguida, as Escrituras mostram que Deus levantou como profeta a Moisés (Ex.4:15,16), precisamente no instante em que começava a estruturar Israel como uma nação peculiar dentre todos os povos. Moisés, portanto, passa a ser um modelo a ser seguido pelos profetas de Israel, vez que foi ele o legislador, aquele que recebeu de Deus a própria lei, as regras do pacto pelo qual Israel se tornou a propriedade peculiar do Senhor dentre todos os povos.

– Não é sem razão, portanto, que Moisés tenha sido considerado no Antigo Testamento como o maior profeta que Israel tivera (Dt.34:10), pois ele mesmo teria recebido de Deus a própria lei, num relacionamento tão íntimo (e é isto que significa a expressão “cara a cara”) que fizera com que, ao retornar com as tábuas da Lei, o seu rosto brilhasse, refletindo a glória de Deus (Dt.34:29-35).

– A partir de Moisés, Deus sempre levantou profetas no meio do povo, revelando, sempre, qual era a Sua vontade para o povo. Como o próprio Jesus afirmou, o ministério profético somente se encerrou com João Batista (Mt.11:13), quando, então, veio o próprio Senhor, que não era apenas o porta-voz de Deus, mas o próprio Deus conosco (Mt.1:23).

– Os profetas são chamados de anteriores e de posteriores, conforme tenham, ou não, apresentado obras próprias. Assim, são considerados anteriores os profetas cujos ministérios estão registrados nos livros históricos (Samuel, Natã, Gade, Elias e Eliseu, entre outros), enquanto que são denominados de posteriores os profetas que, surgindo no final da história dos reinos já divididos de Israel e de Judá, deixaram escritas suas mensagens em livros próprios. Eles formam a segunda parte dos chamados “Neviim” (נכיאים), ou livros proféticos, começando pelo livro de Isaías e terminando com o livro que congrega os chamados “profetas menores”, chamado de “Os Doze” (na nossa Bíblia, os livros de Oseias até Malaquias).

OBS:  Devemos tomar cuidado com a expressão “profetas anteriores”, pois ela também é utilizada pelos muçulmanos. Para os islâmicos, os profetas anteriores são todos aqueles que antecederam a Maomé, inclusive o próprio Jesus.

– Agostinho (354-430), o grande filósofo e teólogo cristão do final da Antiguidade,  foi quem criou as expressões “profetas maiores” e “profetas menores” para designar os profetas cujos livros são mais volumosos (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel) e os demais livros, que são curtos, tão curtos que foram reunidos em apenas um livro, que foi chamado de “Os Doze”, em grego, na versão da Septuaginta, “Dodecapropheton”, ou seja, “Doze Profetas” (Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Ageu, Sofonias, Zacarias e Malaquias).

– Quando se fala em profecia, é preciso distinguir, em primeiro lugar, o sentido que assume esta palavra nas Escrituras, porquanto temos, ao longo da história da salvação, três manifestações distintas sob este nome, a saber, o ofício profético, o ministério profético e o dom espiritual de profecia.

– O ofício profético inicia-se com Enoque, vez que Judas menciona ter ele profetizado (Jd.14), embora a primeira pessoa denominada de profeta nas Escrituras tenha sido Abraão (Gn.20:7). O ofício profético teve como característica principal o da revelação progressiva do plano de Deus para com o homem. O profeta era o porta-voz de Deus, aquele que revelava o desconhecido à humanidade, o propósito divino para a restauração do homem. Neste sentido, o ofício profético durou até João (Mt.11:13; Lc.16:16), pois, com a vinda de Cristo, o próprio Deus Se revelou ao homem, de forma plena e integral (Hb.1:1). São, pois, totalmente espúrias e sem qualquer respaldo bíblico a aparição de novos profetas, que nada mais são que falsos profetas, como é o caso de Maomé, Joseph Smith, Reverendo Moon e tantos quantos se disserem complementadores da revelação de Cristo ao mundo.

– No Antigo Testamento, o que temos, pois, é este ofício profético, o resultado da revelação progressiva de Deus aos homens até a vinda de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, onde este ofício se cumpriu plenamente. Por isso, não se pode confundir a natureza da atividade profética antes e depois de Cristo, equívoco que muito tem contribuído para a disseminação de heresias nestes últimos dias.- Portanto, as mensagens proféticas do Antigo Testamento tinham a finalidade de mostrar a Israel o Messias que havia de vir. Por isso mesmo, ainda há mensagens proféticas do Antigo Testamento que não se cumpriram, uma vez que estão relacionadas com o reino milenial de Cristo.

– Este é o sentido pelo  qual o Senhor Jesus disse, certa feita, aos doutores da lei, que as Escrituras d’Ele testificam (Jo.5:39), afirmação que também confirmou após a Sua ressurreição quando Se dirigiu aos discípulos que estavam no caminho de Emaús (Lc.24:25-27).

– Esta é também a razão pela qual os apóstolos, em sua pregação do Evangelho, sempre enfatizavam que Cristo viera cumprir as Escrituras (At.2:16,25; I Co.15:3,4), Escrituras que, àquela época, circunscreviam-se apenas ao Antigo Testamento. A mensagem profética do Antigo Testamento aponta para Cristo e, neste apontar para Cristo, é uma mensagem sempre atual e necessária para todos quantos em Cristo Jesus creem.

– Por isso, temos de ver com muita ressalva alguns críticos que têm surgido entre nós contra o uso do Antigo Testamento nas ministrações da Palavra em nossas reuniões. Se é verdade que devemos pregar Cristo e Este, crucificado (I Co.2:2), o fato de utilizarmos textos do Antigo Testamento não nos desvia deste indispensável e inevitável “cristocentrismo”. Não há mensagens mais cristocêntricas que as efetuadas pela igreja primitiva, como vemos nos livros do Novo Testamento, mas, em todos eles, observamos como era utilizado o Antigo Testamento, até porque eram, até então, as únicas Escrituras existentes.

– Não negamos que, nos dias hodiernos, muitos têm se apegado em demasia ao Antigo Testamento para ali construir as suas teses mirabolantes e antibíblicas, notadamente os pregadores de prosperidade, mas não podemos raciocinar pela distorção. O Antigo Testamento é tão cristocêntrico quanto o Novo Testamento e não podemos desprezá-lo, pois, devendo, tão somente, não nos esquecermos de, em sua mensagem, verificar onde está Jesus Cristo e pregá-l’O a partir daqueles textos, exatamente como faziam os apóstolos.

II – OS PROFETAS MENORES

– A expressão “profetas menores” foi cunhada por Agostinho, grande teólogo da Igreja, que viveu entre 354 e 430 d.C., levando em conta o fato de que os escritos destes profetas são diminutos em relação aos dos profetas estudados na lição anterior. Assim, não têm qualquer relação com a importância destes profetas ou com sua espiritualidade. Os profetas são iguais quanto a seus ministérios, mas estes profetas escreveram menos em relação aos demais, chamados “profetas maiores” (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel).

– A Bíblia hebraica reúne os escritos destes profetas num só livro, ou seja, seus escritos eram reunidos em um só rolo, chamado de “Livro dos Doze” (“Shenem Assar” – עשר שנים).  Na versão grega da Septuaginta, eles foram chamados de “Dodecapropheton”, ou seja, “Doze Profetas”. Isto é importante porque o fato de haver citações de alguns destes livros no Novo Testamento é a afirmação de reconhecimento de sua canonicidade integral, pois, para os judeus (inclusive os escritores do Novo Testamento), estes escritos formavam um único livro.  Na Vulgata e nas edições subsequentes, os livros foram divididos pelos seus autores, gerando, então, doze livros separados.

– Os profetas menores são: Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.  Estes profetas costumam ser divididos em dois grupos: os profetas pré-exílicos, ou seja, anteriores ao cativeiro da Babilônia (Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque e Sofonias) e os profetas pós-exílicos, ou seja, posteriores ao cativeiro da Babilônia (Ageu, Zacarias e Malaquias).

– Na Septuaginta, que é a versão do Antigo Testamento para o grego, que, segundo a tradição, teria sido feita por sábios judeus em Alexandria, no Egito, no reinado de Ptolomeu II Filadelfo (309-246 a.C.), o segundo rei do Egito depois divisão do reino de Alexandre, o Grande por seus generais, rei que ficou com o domínio da Palestina, a ordem dos doze profetas menores é diferente da que adotamos atualmente, a saber: Oseias, Amós, Miqueias, Joel, Obadias, Jonas, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

– A autoria destes livros é muito discutida. Entendem alguns que foi feita uma compilação dos registros das profecias destes homens de Deus, enquanto outros  entendem que os escritos são dos próprios profetas, que foram reunidos posteriormente no chamado “Livro dos Doze”. Como a característica destes profetas é, precisamente, o de terem registradas as suas mensagens, a hipótese mais provável é a de que tenham sido os próprios profetas os seus autores. Naturalmente que os escribas, posteriormente, resolveram reunir estes registros num só rolo, até porque não era razoável fazer rolos com mensagens não muito extensas.

– A tradição judaica entende que o profeta  escrito mais antigo teria sido Oseias e, por isso, colocam seus escritos no início do “Livro dos Doze”.  No entanto, se for feita uma análise criteriosa, veremos que o profeta escrito mais antigo é Jonas, pois a Bíblia diz que Jonas profetizou a respeito de Jeroboão II (II Rs.14:27), dando a entender que o ministério deste profeta é anterior a este rei ou do início de seu reinado, sendo certo que Oséias começou a profetizar no reinado de Uzias (Os.1:1), que só começou a reinar no vigésimo sétimo ano de Jeroboão II (II Rs.15:1). Há alguns estudiosos que identificam o filho da viúva de Sarepta, o jovem a que Eliseu enviou para ungir a Jeú, com este profeta.

– Vejamos um sucinto resumo de cada um dos doze profetas menores que estudaremos neste trimestre:

A – PROFETAS ANTERIORES AO CATIVEIRO DA BABILÔNIA

1) OSEIAS – Em hebraico, “Oshea”(הושע), que significa “Jeová é salvação”.  Seu ministério é considerado o mais longo de todos os profetas do Antigo Testamento e durou desde o reinado de Jeroboão II no reino donorte até depois da própria destruição do reino do norte, já no tempo de Ezequias no reino de Judá.

2) JOEL – Em hebraico, “Yo’el” )יןאל),que significa “Jeová é Deus”.  Joel é um profeta do reino do sul, o reino de Judá. Segundo alguns estudiosos, o ministério de Joel é da época do rei Joás, ou seja, um pouco anterior a Isaías e a Amós. Sua antigüidade é admitida na tradição judaica, tanto que é colocado após os escritos de Oséias no “Livro dos Doze”.

3) AMÓS – Em hebraico, ” ’Amos”(עמןס), que significa  “fardo, carga pesada”(ou, também, segundo outros, “forte”), nome bem adequado para descrição do ministério deste profeta que, sendo um agropecuarista simples do reino do sul, foi chamado para trazer mensagens duras para o povo do reino do norte, o reino de Israel, enfrentando grande perseguição e oposição, principalmente dos sacerdotes de Betel, que eram os responsáveis pela perpetuação do “pecado de Jeroboão, filho de Nebate”, o principal fator que levou à destruição das dez tribos. Seu ministério ocorreu  durante o reinado de Jeroboão II, rei de Israel, num período de ilusória prosperidade, mas que era, na verdade, um prenúncio da destruição que estava por vir e que é simbolizada pelo terremoto, como se vê em Am.1:1.

4) OBADIAS – Em hebraico, ” ‘Obadiah” (עןבדיה), que significa “servo de Jeová”. É o menor livro do Antigo Testamento, dotado de tão somente um capítulo, sendo uma profecia contra Edom, povo formado pelos descendentes de Esaú, que também era chamado de Edom, que quer dizer “vermelho” (Gn.25:30). Edom regozijou-se com a derrota de Judá e, por isso, Deus lança um juízo sobre o povo edomita que, realmente, desapareceu enquanto povo, ainda que, nos tempos de Jesus, fosse um edomita que estivesse reinando sobre os judeus (Herodes era edomita).

5) JONAS – Em hebraico, é “Yonah” (יןנה), que significa pombo. Jonas era filho do profeta Amitai e era da cidade de Gate-Hefer, cidade mencionada em Js.19:13 e que pertencia a tribo de Zebulom, localidade próxima à cidade de Nazaré. Portanto, tratava-se de um profeta do reino do Norte, o reino de Israel.

6) MIQUEIAS – Em hebraico, “Mikhah” (מיכה), que significa, “quem é semelhante a Jeová ?”.  Seu ministério ocorreu durante os reinados de Jotão, Acaz e Ezequias, reis de Judá, sendo ele próprio deste mesmo reino, pois era de Moresete ou Maressa (Js.15:44), local que tem sido identificado com uma aldeia situada a 40 km a sudoeste de Jerusalém, pertencente à tribo de Judá. Logo observamos que seu ministério é contemporâneo aos de Isaías, Oseias e Amós, se bem que tenha desenvolvido seu ministério no reino do sul, ou seja, durante a época de Isaías.

7) NAUM – Em hebraico, “Nahum”(נחןם), que significa “consolação”, o que levou alguns críticos a acreditarem que este nome seja um pseudônimo, apenas um nome para indicar que o livro era uma espécie de consolo para o povo de Israel, qual seja, a destruição dos assírios, que haviam destruído o reino do norte. Entretanto, esta teoria não tem qualquer demonstração, sendo mais uma atitude dos críticos para tentar lançar descrédito sobre as Escrituras Sagradas. Apesar do silêncio do livro, tudo indica que Naum profetizou na mesma época de Jeremias e era ele um profeta do reino do sul, pois Elcose, sua terra natal (Na.1:1) se situa no reino de Judá.

8) HABACUQUE – Em hebraico, “Habaquq” (חבקןק), que significa “abraço ardente”`, “abraço amoroso” ou “lutador”. Este livro é “sui generis”, pois seu livro é o resultado de uma indagação do profeta a Deus. Assim não se tem, propriamente, uma mensagem de Deus para o povo, mas uma resposta de Deus ao profeta que é tornada pública. Habacuque escreveu quando Nabucodonosor invadiu Judá, o fato que sensibilizou o profeta e fê-lo fazer sua indagação ao Senhor. É, portanto, mais um profeta do reino do sul (Judá).

9) SOFONIAS  – Em hebraico, “Tsephan-Yah”(צפניה), que significa “Jeová esconde”, “Jeová protege”, ou, ainda, “tesouro”. Sofonias pertencia à família real judaica, pois era filho de Cusi, tataraneto do rei Ezequias. Seu ministério desenvolveu-se nos dias do rei Josias, o último rei fiel de Judá (Sf.1:1).

B – PROFETAS POSTERIORES AO CATIVEIRO DA BABILÔNIA

10) AGEU – Em hebraico,  “Haggai”(חגי), que quer dizer “festivo” ou “festividade”, o que talvez estivesse relacionado com a data do  nascimento do profeta ter se dado em alguma festa ou solenidade do calendário judaico. Mais uma vez vemos um grande paralelo entre o nome do profeta e o seu ministério, pois Ageu foi levantado para Deus para que o povo voltasse a ter, novamente, as suas festividades, que haviam se interrompido com o cativeiro da Babilônia e que tinham o templo como um indispensável ponto de referência (cfr. Ex.34:18,22,23). Foi contemporâneo de Zacarias.

11) ZACARIAS – Em hebraico, “Zachar-Yah” (זכריה), que significa “Jeová se lembrou”. Uma vez mais, apesar de se tratar de nome muito comum, aqui temos mais uma perfeita adequação entre o nome e o propósito do ministério do profeta. Assim como Ageu, Zacarias foi levantado por Deus para que o povo tivesse a certeza de que, apesar das dificuldades presentes e da situação de penúria que se vivia, Deus não havia Se esquecido, mas, bem ao contrário, havia Se lembrado de Seu povo e estava com ele nesta dura tarefa de reerguimento das bases da nação judaica depois do retorno do cativeiro da Babilônia. Foi contemporâneo de Ageu.14)

 12) MALAQUIAS  – Em hebraico “Mala’kh-Yah” (מלאכי), que significa “anjo ou mensageiro de Jeová”, ou ainda, “seu mensageiro”, que, aliás, foi a tradução dada pela Septuaginta(“angelou autou” – άγγέλου αύτου), que, assim, não considerou a expressão como a de um nome próprio. Isto fez alguns estudiosos a acharem que o livro é anônimo, ou seja, não se saberia quem seria o autor do livro, que teria se identificado apenas como “mensageiro de Deus” e muitos até entendem que o livro teria sido escrito por Esdras (assim foi considerado no Targum de Jônatas — principal texto comentado em aramaico do Antigo Testamento — ideia que foi acolhida por Jerônimo, o tradutor da Bíblia para o latim – a chamada Vulgata Latina), no período de ausência de Neemias, sem identificação de autoria. A tradição judaica, entretanto, sempre afirmou ter existido um profeta com o nome de Malaquias e não seria a única vez em que Deus teria levantado alguém cujo próprio nome indica a natureza de seu ministério diante do Senhor. Malaquias foi o último mensageiro antes do silêncio de quatrocentos anos, o último escritor do Antigo Testamento.

III – A ATUALIDADE DOS PROFETAS MENORES

– Já temos dito, ao longo deste estudo, que todas as Escrituras Sagradas são atuais, pelo simples fato de se tratar da Palavra de Deus, e Deus é atemporal, ou, na feliz expressão do pastor Severino Pedro da Silva (Assembleia de Deus – Ministério do Belém – São Paulo/SP), para Deus sempre há um “eterno presente”.

– Portanto, se as Escrituras são a Palavra de Deus e, para Deus, inexiste o tempo, Sua Palavra há de ser aplicável a todo e qualquer tempo, sendo sempre, pois, atual. Foi o que disse o apóstolo Pedro, ao dizer que a Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25) e o que disse o próprio Senhor Jesus, ao afirmar que as Suas palavras não hão de passar (Mt.24:35; Lc.21:33).

– Desta maneira, como os profetas menores pertencem ao cânon sagrado, isto é, pertence à relação dos livros que foram considerados pelo povo de Israel como sendo inspirados por Deus, consideração esta que foi confirmada pelo Senhor Jesus, que fez citação dos mencionados livros durante Seu ministério, dando conta de que se tratam de escritos inspirados pelo Espírito Santo (II Pe.1:21), não há porque  duvidarmos que as mensagens daqueles homens de Deus, embora voltados para o povo da antiga aliança, são perfeitamente aplicáveis a nós, que somos o atual povo de Deus (I Pe.2:10).

– Mas, além deste fato que, por si só, é bastante e suficiente para que nós estejamos sempre a meditar nestes livros (ainda que saibamos que são os menos lidos, tanto que são de difícil encontro quando se pede aos cristãos que os leiam em nossas reuniões…), tem-se uma outra circunstância que justifica o seu estudo e que, inclusive, levou a CPAD a levar-nos a estudá-los neste trimestre.

– Os livros proféticos, em geral, trazem mensagens de homens de Deus que foram levantados pelo Senhor após a divisão de Israel em dois reinos – o reino do norte, que se chamou Israel e o reino do sul, que foi chamado de Judá, divisão esta que foi motivada pela idolatria de Salomão (I Rs.11:1-13), o que representou o reingresso da idolatria no meio do povo de Deus, idolatria esta que havia sido extirpada desde o tempo do profeta e último juiz de Israel, Samuel.

– Ante o desvio espiritual dos reis e a impotência dos sacerdotes em refrear esta apostasia, restou ao Senhor, dentro de Seu profundo amor para com o Seu povo, levantar profetas para que, através deles, pudesse levar o povo ao arrependimento de seus pecados e ao término deste período de decadência espiritual.

– As mensagens dos profetas chamados “literários”, ou seja, daqueles profetas que deixaram registradas suas mensagens, mostra o interesse do Senhor em não permitir o desvio espiritual do  povo. Como os profetas literários são os últimos profetas, os profetas mais tardios, notamos nitidamente que estamos num período ainda mais crítico, em que o povo se recusava a ouvir a voz do Senhor e a se arrepender dos seus pecados.

– Mas, na Sua onisciência, o Senhor mandou que estes profetas deixassem suas mensagens escritas, ao contrário dos que os haviam antecedido, uma vez que tais mensagens seriam adequadas e pertinentes não apenas para o povo de Israel neste momento de grande decadência espiritual, mas, também, no futuro, para a Igreja, este novo povo de Deus que surgiria após a vinda do Messias.

– Assim como os israelitas viviam, na época destes “profetas posteriores”, um período de grande decadência espiritual, a Igreja, nos últimos dias da dispensação da graça, também sofreria com a apostasia, como, aliás, relata o apóstolo Paulo em sua segunda carta aos tessalonicenses, quando afirma que, antes que venha a manifestação do Anticristo, ou seja, antes do término do tempo da Igreja sobre a face da Terra, é mister que haja a apostasia (II Ts.2:3).

– O Senhor Jesus, mesmo, quando pregou o Seu sermão dito escatológico ou profético, fez questão, também, de advertir os Seus discípulos que, nos últimos dias, haveria muitos falsos profetas, que haveriam de corromper o povo (Mt.24:4,11 e 24), que foi, aliás, a mais repetida de todas as afirmações naquele que é Seu mais longo sermão registrado nas Escrituras Sagradas.

– O apóstolo Pedro, também, fez questão de dizer aos cristãos que, nos últimos dias, haveria uma proliferação de falsos mestres, assim como houve, em Israel, precisamente no período que estamos a analisar, uma proliferação de falsos profetas (II Pe.2:1), mensagem também repetida por Judas, o irmão do Senhor, que foi, contra a sua própria vontade, instigado pelo Espírito Santo para que escrevesse sobre a necessidade de batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos (Jd.3,4).

– Deus, em Sua presciência, portanto, sabendo que a Igreja haveria de passar por momentos muito similares pelos quais passava Israel na época em que estava a levantar profetas dentro de um quadro de apostasia, não só levantou estes homens de Deus para corrigir o povo e levá-lo ao arrependimento de pecados e a uma vida de aproximação junto a Deus, ou seja, uma vida de santificação, como também mandou que estas mensagens fossem escritas, a fim de que não só servissem para a geração para as quais era destinada, mas, também, séculos e milênios depois, para nós, que estamos a servir ao Senhor nestes derradeiros dias da dispensação da graça.

– Diante de um quadro de decadência espiritual, o Senhor faz-Se presente no meio do povo, demonstrando Seu imenso amor e a extrema necessidade de os israelitas se voltarem para Ele, a fim de que pudessem ser cumpridas as muitas promessas dadas pelo Senhor a Israel.

– Os próprios judeus reconhecem, até hoje, que os profetas trouxeram para o povo de Israel a face e o caráter de Deus. Como diz Nathan Ausubel, “…Se a Torah — os Cinco Livros de Moisés — pode ser tida como o símbolo do intelecto da religião judaica, então as obras dos Profetas podem ser consideradas seu coração. Não se encontram, em todas as literaturas sagradas da Humanidade, documentos em que melhor se expressem tão elevados sentimentos e aspirações a uma sociedade liberta da guerra, da fome e da opressão(…0. Os autores dos Documentos Proféticos foram, de certa maneira, desbravadores do espírito; abriram caminhos de luz na escuridão da selva social da Antiguidade…(BÍBLIA. In: A JUDAICA, v.6, p.88) (destaque original).

– Assim como as mensagens dos profetas eram suficientes para que o povo de Israel se arrependesse de seus pecados e retornasse a ter comunhão com Deus, desfrutando de todas as Suas promessas a fim de que, devidamente, pudessem aguardar o Messias e alcançassem a sua salvação mesmo que o Messias não viesse em seus dias, pois a simples vida de fé nesta esperança lhes resultaria na salvação, do mesmo modo estas mensagens proféticas, ainda hoje, podem nos ser úteis para que, em santificação, aguardemos o arrebatamento da Igreja para que nos encontremos com o Senhor nos ares e com Ele vivamos para sempre (I Ts.4:16,17).

– O estudo dos profetas menores, com suas mensagens mais compactas e dirigidas para certos pontos específicos que estavam a impedir a comunhão de Israel  com o seu Deus, apresenta-se, assim, como um grande instrumento para que nós, que também vivemos dias de grande apostasia, de grande desvio espiritual, saibamos como devemos agir para que nos mantenhamos em santificação.

– Afinal de contas, no término da última mensagem de Cristo para a Igreja, que é o livro de Apocalipse, ficou bem claro que quem é santo, deve se santificar ainda (Ap.22:11) e o “Livro dos Doze” traz mensagens de doze homens de Deus que, levantados pelo Senhor em uma época muito similar à nossa, mostraram, inspirados pelo Espírito Santo, como devemos agir para que, devidamente separados do pecado, possamos ver o Senhor naquele dia que tanto esperamos.

– Que neste último trimestre de 2012, possamos, mediante o estudo acurado das mensagens destes homens de Deus, que o Espírito Santo inspirou e mandou que registrasse para nós, possamos tomar posse destes tesouros deixados pelo Senhor para que, devidamente lavados no sangue do Cordeiro, mantenhamo-nos puros e possamos entrar na cidade celeste pelas portas (Ap.22:14). Amém!

Caramuru Afonso Francisco

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