LIÇÃO Nº 3 – ACABE E O PROFETA ELIAS
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo dos livros dos Reis, num salto cronológico, analisaremos o reinado de Acabe, quando foi levantado o profeta Elias.
– Elias foi levantado para dar sobrevida espiritual ao reino do norte.
I – O REINO DE ISRAEL APÓS A DINASTIA DE JEROBOÃO
– Ante as limitações de um estudo trimestral, faremos um salto cronológico, para estudarmos o reinado de Acabe, o sexto rei de Israel, quando, então, floresceu o ministério do profeta Elias.
– De qualquer modo, ainda que modo sucinto, analisemos os acontecimentos entre a derrocada da primeira dinastia do reino do norte, a casa de Jeroboão, até a subida ao trono de Acabe.
– Em conformidade à profecia de Aías, que predisse a destruição da “casa de Jeroboão” (I Rs.14:1-16), depois da morte de Jeroboão, seu filho Nadabe reinou apenas dois anos, sendo morto por Baasa, que reinou em seu lugar (I Rs.15:25-30).
– Com Baasa, pois, tem início a segunda dinastia do reino de Israel. Baasa, embora tenha conspirado contra o seu antecessor, foi um rei predito pelo Senhor, que assumiu o reino com permissão divina, mas que cumpriu a própria vontade de Deus no tocante à destruição da “casa de Jeroboão”.
– No entanto, o novo rei não quis abolir o culto aos bezerros de ouro, tendo mantido tudo quanto Jeroboão havia feito, o que causou, também, indignação divina, a ponto de o Senhor levantar outro profeta, desta feita, Jeú, filho de Hanani, que, a exemplo do que fizera Aías, também profetizou a destruição da “casa de Baasa”, em virtude de ter o rei Baasa seguido os “pecados de Jeroboão” (I Rs.16:1-4).
– Tal profecia também se cumpriu, visto que, depois da morte de Baasa, que reinou durante vinte e quatro anos, reinou o seu filho Elá, o qual, entretanto, reinou apenas dois anos, pois Zinri, que era o “chefe da metade dos carros” se rebelou contra ele e o matou, tendo se feito rei, embora tenha reinado apenas sete dias (I Rs.16:8-20).
– Zinri foi derrotado por Onri, que comandava o exército de Israel em guerra contra os filisteus, quando soube da morte de Elá.
Onri foi até Tirza, então a capital de Israel, tomou a cidade e matou a Zinri, fazendo-se rei, embora não tivesse o apoio de todo o povo, pois metade dos israelitas preferia a Tibni, filho de Ginate (I Rs.16:21).
Temos aqui, portanto, mais um passo negativo do povo de Israel em termos espirituais. O primeiro rei israelita, Jeroboão, tinha sido constituído por Deus. A segunda dinastia fora aprovada por Deus, pois resultava de um cumprimento de uma profecia divina, já que Baasa apenas cumprira o que fora profetizado por Aías.
– Agora, tendo Zinri cumprido o que fora profetizado pelo profeta Jeú, o povo se divide entre duas pessoas no tocante ao reino, ou seja, não havia mais, da parte do povo de Israel, qualquer cuidado em saber quem era o escolhido de Deus, quem estava disposto a cumprir a vontade de Deus no governo do povo.
– Na sucessão da “casa de Baasa”, vemos como o povo de Israel estava cada vez mais distante de Deus, em nítido caminho de apostasia, de desvio espiritual.
O povo se digladiou entre Onri e entre Tibni, sem se importar em consultar a Deus, numa atitude de total independência em relação ao Senhor, em total desacordo com o que preceituava a lei, que exigia que o rei fosse alguém escolhido por Deus (Dt.17:15).
– A Bíblia não nos diz quanto tempo perdurou o embate entre Onri e entre Tibni, embate este que terminou com a morte de Tibni e a consolidação do povo nas mãos de Onri (I Rs.16:22). Não se diz se Tibni foi morto de forma violenta ou natural, mas o fato é que, com a sua morte, o partido de Onri prevaleceu.
– O silêncio divino durante o governo de Onri e, mesmo, durante o embate entre Onri e Tibni, mostra claramente que se constituía uma dinastia totalmente indiferente e independente de Deus, que se tinha o resultado de um longo processo de distanciamento de Deus, a ponto de o próprio Deus Se calar.
– Notamos, assim, que a apostasia não é um episódio pontual, isolado e repentino. Pelo contrário, a apostasia é um processo lento e gradual, imperceptível para muitos mas que avança inexoravelmente até levar o indivíduo a um estado espiritual lamentável e, muitas das vezes, irreversível.
– Do início do reino de Israel com Jeroboão até a subida de Onri ao trono, passaram-se cinquenta anos, meio século, e o povo, que, no início, era temente a Deus, a ponto de Jeroboão saber que eles iriam a Jerusalém para adorar o Senhor, agora era um povo que nem sequer consultava ao Senhor para saber quem deveria reinar.
– Isto nos serve de grande lição, porquanto vivemos situação muito semelhante. Quando olhamos a história do movimento pentecostal, deste maior avivamento que já ocorreu na história da Igreja, notamos que, passado pouco mais de um século, também estamos numa situação espiritual extremamente lamentável e que está muito, mas muito aquém daquilo que vemos registrados nos anais da história.
– Nossos dias são dias de indiferença espiritual, de pouquíssimo contato com Deus, de absoluto desprezo do estudo das Escrituras e da busca do poder de Deus.
O temor a Deus que vemos presente nos pioneiros do movimento pentecostal é, na atualidade, apenas registro histórico, evento raro de se encontrar em nossas igrejas locais e isto mesmo depois de uma “chacoalhão” como é a pandemia da COVID-19.
– Como se não bastasse isso, vemos, também, embates com vistas a luta pelo poder eclesiástico, algo que inexistia nos primeiros dias, onde o Espírito Santo tinha plena liberdade para instituir aqueles que deveriam presidir sobre o povo.
Assim como em Israel, que recebera Jeroboão como rei por causa da profecia divina, sem qualquer contenda, e que, cinquenta anos depois, se dividia entre Onri e Tibni, sem qualquer consulta ao Senhor, vemos, com tristeza, dezenas de conflitos absolutamente carnais em torno do poder, sem qualquer atenção à vontade do Senhor.
– Os dias em que vivemos são dias de apostasia, até porque são os dias finais da dispensação da graça e toda dispensação terminou com um período de apostasia.
Resta-nos, portanto, não nos deixar envolver por esta indiferença espiritual, por esta autossuficiência e, apesar de todo o movimento contrário, esforçarmo-nos para buscar a Deus e nos mantermos em comunhão com Ele para que não sejamos apanhados de surpresa no arrebatamento da Igreja.
– Onri, após seis anos de governo, comprou de Semer o monte de Samaria e ali edificou uma cidade, a que deu o nome de Samaria, em homenagem ao antigo proprietário do monte, tornando-a capital de Israel (I Rs.16:24).
– Este gesto de Onri mostra bem qual era a mentalidade reinante. Ao comprar o monte de Samaria por dois talentos de prata, Onri poderia ter dado seu nome à cidade, mas preferiu nomeá-la pelo nome do antigo proprietário Semer. Por que o fez?
Porque a sua política era a de agradar a tudo e a todos, a de angariar alianças por meio da simpatia e da popularidade.
Assim, embora fosse o proprietário do monte, deu o nome da cidade em homenagem ao antigo proprietário que, aliás, bem poderia ser alguém que, no passado, tivesse ficado ao lado de Tibni…
– Ainda nesta sua política de agrado, popularidade e simpatia, Onri chegou, inclusive, a permitir que outros povos construíssem partes da cidade que edificara, como fica claro nas palavras de seu filho Acabe ao rei sírio Bene-Hadade em I Rs.20:34, onde se diz que o rei da Síria pôde construir ruas em Samaria, como prova da aliança que se firmou entre Israel e Síria.
– Onri buscou, portanto, “ficar de bem” com as nações que estavam à sua volta, procurando construir uma segurança em seu reino mediante alianças e compromissos com os povos em torno de si, em total confronto e violação ao que havia determinado o Senhor com relação a Israel.
– A vida de independência em relação a Deus, o distanciamento do homem em relação ao Senhor leva inevitavelmente a uma vida de comprometimento com o mundo, com aqueles que estão no maligno, que estão debaixo do domínio do pecado e do mal.
Quem se afasta de Deus, aproxima-se do mundo e do pecado, não há possibilidade de um meio termo, de uma terceira opção.
– Muitos, na atualidade, estão a seguir o caminho de Onri, ou seja, querem ser simpáticos, agradáveis e populares diante daqueles que não têm qualquer compromisso com Deus.
O preço por esta atitude é o de se fazer alianças comprometedoras com os pecadores e, pior do que tudo isto, com o pecado, o que faz com que percamos totalmente a nossa santidade, pois o compromisso com o imundo faz com que nos tornemos imundos também (Ag.2:13,14).
– Nesta sua gana por ser popular, simpático e agradável a tudo e a todos, Onri não pôs fim aos pecados de Jeroboão, mantendo-os assim como seus antecessores e, neste passo, prosseguiu adiante no caminho da apostasia, a ponto de o texto sagrado dizer que fez pior que seus antecessores (I Rs.16:25).
– Esta sua gana por popularidade e simpatia nada mais era que o desejo de se autoafirmar, de se mostrar como alguém bem sucedido, alguém que tinha alcançado o êxito sem qualquer necessidade de Deus.
Por isso, o texto sagrado diz que o que Onri buscava eram “as suas vaidades” e isto irritou o Senhor (I Rs.16:26).
– Quando buscamos as coisas desta vida, quando a nossa satisfação está em sermos alguém neste mundo, em desfrutarmos daquilo que o mundo oferece (fama, posição social, poder, riquezas, prazer etc.), estamos atrás de “vaidades”, ou seja, de “coisas vazias”, que não podem preencher o interior do homem, pois o homem tem um vazio do tamanho de Deus, que somente o Senhor pode preencher.
– É triste vermos que muitos, na atualidade, estão a correr atrás das “vaidades”, causando a mesma indignação divina que Onri provocou em seus dias. Salomão também sofreu deste mal, mas, no final de sua vida, espiritualmente restaurado (cf. II Sm.7:13-16), deixou-nos o livro de Eclesiastes, onde mostra, com absoluta convicção, de que tudo o que há neste mundo é vaidade (Ec.1:2,14; 2:17;12:8). Temos tido esta consciência, amados irmãos?
– Esta vida despida de qualquer sentido sobrenatural, de total desprezo a Deus e às coisas espirituais caracteriza o que o profeta Miqueias vai denominar de “estatutos de Onri” (Mq.6:16), uma vida onde não há qualquer preocupação em se praticar a justiça, amar a beneficência e andar humildemente com Deus (Mq.6:8), mas uma vida permeada da impiedade, do engano, da mentira e da violência, onde o que importa é tão somente o desfrute e a posse das coisas desta vida.
– Depois de doze anos de reinado, Onri morreu e foi sucedido pelo seu filho Acabe (I Rs.16:28), “Acabe”, cujo nome significa “o filho do pai”, foi um fiel seguidor dos erros e dos desacertos de seu pai Onri.
– Com efeito, assim que ele é apresentado nas Escrituras, é dito que ele fez o que parecia mal aos olhos do Senhor, mais do que todos os que foram antes dele, ou seja, conseguiu superar o seu pai Onri no desagrado a Deus.
– Acabe, além de permanecer nos pecados de Jeroboão, chegou ao ápice da apostasia, pois, se seu pai já havia iniciado alianças com os povos em torno de Israel, comprometendo-se com eles, Acabe assumiu de vez a idolatria, até então um tanto quanto disfarçada, trazendo o culto a Baal para Israel.
– Acabe casou-se com Jezabel, filha de Etbaal, rei de Sidom, e, com este casamento, permitiu que se construísse um templo a Baal em Samaria, como também ele próprio levantou um altar a Baal, como também construiu um bosque para Baal, passando a servir a Baal e a participar de seu culto (I Rs.16:31,32).
– Assim, sessenta e dois anos depois de Jeroboão ter violado a lei de Moisés, determinando que o povo de Israel cultuasse a Deus de forma contrária à própria determinação divina, Acabe violava o primeiro mandamento, admitindo a adoração a outros deuses além do Senhor, passando a adorar a Baal e a servi-lo, apesar de ainda dizer que servia a Deus.
– A apostasia chegava ao seu ponto culminante, pois o povo de Israel passava a dizer que havia outros deuses além do Senhor e, seguindo o exemplo do seu rei, passava a servir também a Baal, a quem se construiu um templo, um altar e um bosque para adoração.
– Mais uma vez vemos a gradualidade da apostasia. O que se iniciou como um pequeno desvio espiritual, como uma “forma diferente” de se cultuar a Deus acabou redundando em uma explícita idolatria, em uma nítida rejeição da lei do Senhor, já que se violava o primeiro mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim” (Ex.20:3; Dt.5:7).
– É precisamente o que temos visto na Igreja ao longo de sua história e, mais nitidamente, em nossos dias. Pequenas “inovações”, pequenas “considerações” são a porta de entrada para que, anos depois, tenhamos a mais explícita rejeição e negação da sã doutrina, do Evangelho, da Palavra de Deus.
Por acaso, não é o que vemos em diversos segmentos da Cristandade, que estão imersos na idolatria e em uma vida que nega completamente o que diz a Bíblia Sagrada?
– No entanto, também entre os que se dizem cristãos autênticos, que dizem ter a Bíblia como única regra de fé e prática, estamos a observar o mesmo fenômeno.
As “inovações”, as “modernidades” estão a construir novos movimentos de apostasia, onde já se nota a presença de muitos “Baais” a assolar o povo de Deus.
Voltemos às Escrituras, voltemos à simplicidade que há em Cristo Jesus, para que não venhamos a ser enganados como foi o povo de Israel nos dias de Acabe (II Co.11:3,4).
– Acabe casou-se com Jezabel dentro da mesma linha adotada por seu pai Onri, ou seja, de fazer aliança com os povos em volta de si. Etbaal, diz a história, era um próspero rei, que havia conseguido submeter Tiro a Sidom e, deste modo, controlava todo o comércio marítimo da época.
Sob o ponto-de-vista político e econômico, a aliança firmada por Acabe era sobremodo vantajosa para Israel.
– Todavia, um tal raciocínio só seria possível dentro de uma mentalidade de total desprezo à Palavra de Deus, como era exatamente o caso. A aliança prevista por Acabe foi de total comprometimento com os sidônios, a ponto de se permitir que se construísse uma casa a Baal em Samaria.
– Como se não bastasse isso, Acabe, deslumbrado com a prosperidade material dos sidônios, e levando em conta que Baal era tido como o deus da fertilidade, o deus da prosperidade, acabou por servir a Baal, passando a adorá-lo, tendo levantando um altar a ele no templo que fora construído em Samaria, como também um bosque, onde também ele seria adorado, como era costume naquele tempo.
– Acabe não só permitiu que o culto a Baal fosse realizado na própria capital de Israel, como passou a participar ativamente dele, institucionalizando a idolatria e fazendo com que Israel passasse a ter mais de uma divindade oficialmente.
– Israel, assim, rejeitava solenemente tudo quanto lhe havia sido dado por Deus através de Moisés, fazia de Deus apenas uma divindade a mais, e divindade secundária, já que, na capital do reino o que havia era o templo a Baal e o próprio rei era o primeiro a adorar a Baal.
– Nos dias em que vivemos, não tem sido diferente. Muitos já construíram seus altares a Baal e têm se encurvado a Baal, como consequência desta vida de busca das coisas terrenas, como resultado de uma convivência comprometedora com o mundo e com o pecado, como efeito deste deslumbramento com a aparente prosperidade e sucesso vivido por aqueles que não servem a Deus.
– Assim como Acabe, constroem uma vida em que o mundo, o pecado e Baal estão bem mais perto e acessíveis do que as coisas de Deus.
Quantos, na atualidade, por exemplo, não estão a preferir a passar muito tempo vendo o que não convém nos meios de comunicação de massa ou na internet em vez de cultuar a Deus nas igrejas locais ou, mesmo, cultar a Deus em seus lares?
São pessoas que puseram as coisas espirituais em segundo plano e preferem “estar na moda”, “viver como as demais nações”. Qual é a nossa situação?
– Acabe era, efetivamente, “o filho do pai”, alguém que não queria abrir mão da “vã maneira de viver que, por tradição, havia recebido de seu pai” (cf. I Pe.1:18), evitando romper com o pecado e com o mundo.
No entanto, quem quiser servir a Deus deve ter uma conduta completamente oposta, pois não poderemos jamais servir ao Senhor se não nos separarmos do pecado e do mundo, pois temos de ser santos como é santo Aquele que nos chamou (I Pe.1:15,16).
– O povo de Israel, que, como vimos, já estava tão distante de Deus quanto o seu rei, logo se apressou em seguir os passos de Acabe e, deste modo, também passou a servir a Baal, como também a outros deuses, como Asera, a “deusa-mãe”, que, na mitologia, era avó ou mãe de Baal, num culto que tinha tanto progresso que, em pouco tempo, havia 450 profetas de Baal e 400 profetas de Asera (I Rs.18:19), fora os sacerdotes que serviam no templo e no bosque.
– A situação de indiferença com relação ao Senhor e à Sua Palavra era tanta que foi nestes dias que Jericó, a “cidade maldita”, foi reconstruída, apesar da palavra de Deus através de Josué de que a reconstrução de Jericó causaria maldição a começar do que a edificasse.
No entanto, dentro de um clima espiritual de total desprezo ao que era dito por Deus, não é surpresa que tenha sido justo nos dias de Acabe que Hiel, o betelita, tenha reedificado Jericó e sofrido as consequências de seu gesto, com a morte de seus dois filhos (I Rs.16:34).
– Tudo isto ocorria em Israel, que não era nem sombra do reino sacerdotal e povo santo que Deus havia querido que ele fosse quando do pacto no Sinai (Ex.19:5,6). O povo servia a Baal e a Asera e não dava a mínima importância à lei de Moisés.
Teria Deus desistido de Seu povo? Teria o mal triunfado? Não, não e não! Deus iria agir e, para tanto, levantaria um grande profeta, o maior que já havia surgido desde Moisés.
II – O SURGIMENTO DO PROFETA ELIAS
– Quando tudo parecia perdido para o povo de Israel, quando tudo parecia que Israel havia abandonado de vez o seu Deus, o Senhor levanta o profeta Elias para combater este estado de coisas.
– Elias é daquelas personagens da Bíblia de que nada ou quase nada sabemos antes do início do seu ministério, circunstância que demonstra claramente que a Palavra de Deus tem o intuito de revelar aquilo que é pertinente à salvação do homem, sendo, obviamente, uma obra literária, histórica e científica, mas que não tem estes vieses como prioritários, sendo, pois, um grande equívoco querer reduzir o texto sagrado a estes aspectos.
– Elias surge nas páginas sagradas em I Rs.17:1 e de forma repentina, sem qualquer explicação, nem mesmo da sua genealogia, como é costumeiro fazer-se quando se trata, pelo menos, de personagens da história de Israel.
É apresentado apenas como “Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade”. Seu nome, que, em hebraico é ‘Elijah” (אליח ) (“Elias” é a forma grega do nome – “Ηλιου”), significa “Javé é Deus” e sintetiza, de forma sublime, todo o seu ministério profético: demonstrar ao povo do reino de Israel que o seu Deus é Javé, o mesmo “Eu sou o que sou” que havia Se revelado a Moisés no monte Horebe.
– Da forma abrupta como Elias é apresentado no texto sagrado, ficamos a saber tão somente que o profeta é natural de Tisbe, sendo dos moradores de Gileade.
Esta informação, além de escassa, traz uma série de problemas aos estudiosos da Bíblia, visto que a única menção que se faz desta cidade é no livro apócrifo de Tobias, onde é dito que se tratava de uma cidade que se situava na tribo de Naftali, na região da Galileia, enquanto que o texto sagrado diz que Elias era “dos moradores de Gileade”, ou seja,
alguém que morava na região daquém do Jordão, pertencente à meia-tribo de Manassés e à tribo de Gade (Js.13:24,25,30,31).
– Assim, ficamos sem saber se Elias morava em Gileade, tendo sido natural de Tisbe de Naftali ou se era de uma cidade chamada Tisbe que ficasse do outro lado do Jordão, na região de Gade ou da meia-tribo de Manassés.
Flávio Josefo, o grande historiador judeu, parece concordar com a ideia de que se tratava de uma cidade de Gileade que se chamava Tisbe, enquanto que a Septuaginta chama a cidade de “Tisbe da Galileia”, acolhendo a outra versão.
OBS: Eis o texto de Tobias 1:2, na Edição Pastoral: “No tempo de Salmanasar, rei da Assíria, Tobit foi exilado de Tisbé, que fica ao sul de Cedes, em Neftali, na Galileia do norte, acima de Hasor, a ocidente, ao norte de Sefat.”
Reproduzimos aqui, também, parte do texto de Flávio Josefo, nas Antiguidades Judaicas: “Havia agora um profeta do Deus Misericordioso, de Tisbe, uma cidade de Gileade, que veio a Acabe…” (JOSEFO, Antiguidades Judaicas 8:319. Disponível em: http://www.perseus.tufts.edu/cgi-bin/ptext?doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0146;query=whiston%20chapter%3D%23115;layout=;loc=8.363 Acesso em: 31 maio 2007) (tradução nossa de texto em inglês).
– Além do local de onde vem Elias, e que já dá margem a controvérsias, sobre Elias ficamos apenas a saber que se tratava de pessoa que tinha um traje característico, diferente daqueles usados pelas pessoas de seu tempo, tanto que bastava a descrição desta vestimenta para identificá-lo, a saber:
“…um homem vestido de pelos e com os lombos cingidos de um cinto de couro…” (cf. II Rs.1:8). Isto nos dá a entender que Elias deveria ter uma vida mais ou menos retirada da comunidade, uma espécie de “eremita” no deserto, o que, aliás, inspirou algumas ordens religiosas cristãs, notadamente a ordem dos “carmelitas”, que se inspiraram em Elias para construir a sua vida monástica.
– No entanto, embora Elias demonstre, pelos seus trajes e pela forma repentina com que se apresenta na história sagrada, que deveria viver um tanto quanto retirado da comunidade, não é correto dizer que haja respaldo bíblico para dizer que vivia isolado dos demais homens do seu tempo.
– Pelo que podemos observar do texto sagrado, percebemos que Elias tinha uma relação bem próxima aos chamados “filhos dos profetas”, ou seja, aos jovens que se dedicavam ao estudo da Palavra de Deus e a uma vida de serviço ao Senhor nas “escolas de profetas”, cuja origem remonta aos tempos de Samuel (I Sm.10:5; 19:20).
Com efeito, as páginas sagradas permitem-nos vislumbrar que Elias tinha um estreito relacionamento com estes grupos (II Rs.2:2, 4), sendo até possível que Elias tenha sido uma figura proeminente de tais grupos quando se apresentou ao rei Acabe, o que, aliás, explicaria a facilidade com que tenha conseguido se apresentar ao rei.
– Apesar de tão parcos conhecimentos a respeito de Elias antes do início do embate com Acabe, Jezabel e os responsáveis pelo culto de Baal, tais informações já nos são preciosas no sentido de se mostrar que alguém, para ser usado eficazmente pelo Senhor, precisa ter dois pontos que havia na vida de Elias: um distanciamento do mundo e um comprometimento com a Palavra de Deus.
– Elias não era uma pessoa que havia se misturado com as estruturas religiosas desvirtuadas e contaminadas do reino de Israel. Nos dias de Elias, vivia Israel uma situação espiritual extremamente difícil, como já visto supra.
– Servir a Deus nestas circunstâncias não era nada fácil, pois, ou se adotava o culto oficial do reino, criado no tempo de Jeroboão, idolátrico e totalmente desvirtuado das prescrições da lei de Moisés ou, então, se aderia ao culto a Baal, trazido por Jezabel e que alcançou grande popularidade.
Isto explica o distanciamento físico não só de Elias mas também dos filhos dos profetas, que não tinham espaço para, com liberdade, servir a Deus em meio a estruturas sociais altamente desfavoráveis a quem buscasse a presença do Senhor.
– Mas, ainda que possamos contemplar este distanciamento físico de Elias e dos demais que serviam a Deus naquele tempo, devemos ter como lição para os nossos dias deste comportamento do profeta não o distanciamento físico, mas, sim, o distanciamento espiritual.
– Embora muitos tenham se inspirado em Elias para tomar uma decisão de se apartar da sociedade a fim de servir a Deus, a lição que o profeta nos deixa é bem outra: é a da separação do mundo espiritual, da separação do pecado.
Na nova aliança estabelecida por Jesus Cristo, não há espaço para “eremitas”, para pessoas que saem da sociedade para servir a Deus mas, sim, pessoas que, a exemplo de Jesus, estão completamente separadas do pecado, mas vive no meio dos pecadores, para
“…salvar alguns, arrebatando-os do fogo” (Jd.23 “in initio”, isto é, a parte inicial do versículo). Jesus disse que não somos do mundo, não podemos nos comprometer com ele (Jo.17:16), mas não pediu que do mundo fôssemos tirados (Jo.17:15), porque é necessário que sejamos sal da terra e luz do mundo (Mt.5:13,14).
– Este não comprometimento de Elias com o mundo deve ter sido a raiz de seu inconformismo com o estado de coisas que reinava em Israel e que o levou a ser escolhido pelo Senhor para denunciá-lo e combatê-lo.
Tiago nos informa que Elias pediu que não chovesse sobre Israel (Tg.5:17), ou seja, antes de se apresentar para Acabe e anunciar a seca, “segundo a sua palavra” (I Rs.17:1 “in fine”), havia pedido a Deus este sinal e obtido do Senhor a aprovação, tendo, então, ido até o rei para anunciar este juízo divino.
– Este pedido de Elias revela bem que, embora distante fisicamente, o profeta não se encontrava indiferente nem alheio ao que se passava em seu país. Sua comunhão com Deus o impedia de ser uma pessoa alienada, alguém que não se importava com o destino espiritual do seu povo, com o aparente fracasso do propósito divino para com Israel.
Muito pelo contrário, ao ver um estado de completa apostasia espiritual, o profeta não se conformou e começou a pedir a Deus providências a fim de que Deus mostrasse quem era o único e verdadeiro Deus.
– Vemos, portanto, que, ao lado de um distanciamento físico e espiritual em relação aos apóstatas, Elias tinha uma vida de oração, uma vida de proximidade com Deus, a ponto de ter feito um pedido ao Senhor para que não chovesse, pedido que foi atendido e que o levou a se apresentar ao rei para tornar público o juízo divino.
– Temos aqui uma linda lição do profeta para todos nós. Precisamos nos manter distantes do pecado, mas não podemos ser alheios ao sofrimento dos pecadores e devemos agir debaixo da orientação e da vontade do Senhor para que os pecadores possam se converter e isto exige de cada um de nós, em primeiro lugar, uma vida de oração, uma vida de intensa comunhão com Deus a fim de que, num permanente diálogo com Ele, possamos saber qual é a vontade do Senhor.
– Não é outra coisa que nos diz o apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos, no capítulo 12, quando nos exorta a que apresentemos os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o nosso culto racional, não nos conformemos com este mundo, mas sejamos transformados pela renovação do nosso entendimento, para que experimentemos qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm.12:1,2).
– Somente se formos reais e autênticos adoradores do Senhor, o que significa adorá-l’O em espírito e em verdade, é que poderemos ter o sentimento de inconformismo com o mundo e, deste modo, experimentarmos qual seja a vontade de Deus para que, então, possamos ser sal da terra e luz do mundo, efetuando a tarefa que o Senhor requer de nós enquanto peregrinamos nesta Terra.
– A outra lição que aprendemos com Elias, já neste instante em que ele surge nas Escrituras, é de que devemos estar sempre comprometidos com o estudo da Palavra de Deus, com a busca da presença de Deus.
Elias tinha um carinho especial com os “filhos dos profetas”, com aqueles que, em meio a um mundo tão distante de Deus, dedicavam suas vidas para servir ao Senhor e informar-se a respeito da Sua Palavra.
Devemos ter este mesmo compromisso, devemos nos aliar àqueles que têm este mesmo propósito.
Ao nos reunirmos em classe, a cada Escola Bíblica Dominical, pomos em prática este exemplo deixado por Elias e, certamente, agradamos a Deus tanto quanto o profeta Lhe agradou no seu tempo.
– Elias surge no texto sagrado já desempenhando uma tarefa toda especial da parte de Deus. As Escrituras sempre mostram Elias na execução de uma tarefa, no desempenho de um encargo que lhe fora confiado pelo Senhor.
Neste ponto, há até um paralelo entre a forma como se narra a história de Elias e como Marcos, o evangelista, narrou o ministério de Jesus, que, naquele livro, é apresentado como o incansável servo do Senhor, como um homem de ações e de atitudes.
– Impulsionado pelo Espírito de Deus, Elias se apresenta diante do rei Acabe e declara que não haveria nem chuva nem orvalho enquanto o próprio profeta não o pedisse a Deus (I Rs.17:1).
Numa frase tão curta e sucinta, como é este versículo das Escrituras, encontramos um exercício imenso de fé, a conclusão de um processo que não deve ter sido simples.
Elias, um profeta que vivia retirado da sociedade, é levado pelo Espírito a se apresentar nada mais nada menos que diante do próprio rei e a dizer que haveria uma grande seca até o instante em que ele pedisse a Deus que chovesse.
Que coragem da parte do profeta! Que determinação, ou seja, que disposição firme de cumprir a Palavra de Deus!
– Aliás, aqui é oportuno mostrar que, quando se diz que Elias foi determinado, que nele era grande a determinação, estamos a utilizar a palavra “determinação” no seu significado correto e prescrito nos dicionários de língua portuguesa, ou seja, “forte inclinação a ser persistente no que se quer alcançar”.
– Assim, esta “determinação” nada tem que ver com o que têm ensinado os defensores da chamada “doutrina da confissão positiva”, entendida como uma “fé real”, uma “tomada de posse de bênção”, uma “exigência ao inimigo para nos obedecer”.
Elias jamais foi alguém que tenha “determinado” neste sentido distorcido que nos é apresentado pelos arautos da “confissão positiva”, mas uma pessoa “determinada”, ou seja, disposta a persistir no cumprimento das ordens que lhe deu o Senhor.
– Elias simplesmente disse ao rei Acabe que não choveria nem haveria orvalho enquanto ele não orasse a Deus neste sentido.
Nesta primeira palavra de Elias já se nota a missão que incumbiria ao profeta: mostrar que o Senhor era o verdadeiro Deus e não Baal.
– Baal era uma divindade que se entendia ser a controladora da natureza. A Baal se atribuía a fertilidade, ou seja, não só a reprodução dos animais, mas também a produção agrícola.
Por isso, Baal era tido como o responsável pelas chuvas que permitiam as fartas colheitas e era costume entre os povos cananeus, inclusive os fenícios, procurar agradar a Baal e ter pequenas estatuetas deste deus e de Asera, a deusa da fertilidade, como forma de obter o favor deste deus e, assim, prosperidade na colheita.
Ao dizer que não choveria até que houvesse um pedido do profeta a Deus, o Senhor está mostrando que é maior que Baal, que Ele, e não OBS: Como era e é comum nos cultos idolátricos, a divindade é sempre associada a alguma imagem ou a alguns locais.
Assim, Baal e Asera eram cultuados sob vários nomes, conforme o local onde se dava o culto, com uma ou outra variação nas crendices e nas lendas a respeito da divindade. Nos dias de Elias, o culto a Baal certamente estava vinculado a Baal-Mecarte, o deus de Tiro e de Sidom (Tiro foi uma cidade fundada pelos sidônios – Is.23:12).
III – ELIAS: UM HOMEM QUE EXPERIMENTOU O PODER DE DEUS PARA PODER MANIFESTÁ-LO A ISRAEL
– Assim que proferiu esta palavra ao rei, Elias foi orientado pelo Senhor para que saísse dos termos de Israel e fosse para o ribeiro de Querite, que estava diante do Jordão (I Rs.17:3). Como afirma Russell Norman Champlin (1933-2018), esta ordem divina tinha a ver com a proclamação dada por Elias e que
“…sem dúvida alguma, isso provocou uma tremenda agitação e a vida de Elias começou a correr perigo…” (CHAMPLIN, Russell Norman. Elias. In: Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.2, p.328).
As circunstâncias desta seca e a vida do profeta neste período é o tema de uma lição própria, motivo pelo qual não nos deteremos agora neste ponto.
– Basta apenas, por ora, dizermos que, durante esta grande seca, não só Israel experimentou quem é o verdadeiro Deus, como também o próprio profeta que teve a sua subsistência garantida pelo Senhor tanto à beira do ribeiro de Querite, em que o Senhor mostrou todo o Seu controle sobre a natureza, a fim de que o próprio profeta fosse testemunha daquilo que estava a pregar, ou seja,
que Deus era quem controlava a natureza e não Baal, quanto, posteriormente, em Sarepta de Sidom, quando o Senhor mostrou que não só controla a natureza como também quer o bem de todos os homens, a ponto de ter levado o profeta a ser sustentado por uma viúva gentia, que também recebeu a Providência Divina.
– Quando nos dispomos a fazer a vontade de Deus, também nos dispomos a experimentar em nossas próprias vidas o poder deste Deus cuja vontade estamos a cumprir. Não há como sermos testemunhas do Senhor se não vivenciarmos em nossas próprias existências o Seu poder.
– Elias seria usado por Deus com diversos sinais e maravilhas ao longo de seu ministério, seria um homem que demonstraria a Israel todo o poder de Deus.
Sua denúncia da apostasia nacional e sua pregação de que somente o Senhor era Deus não poderia ser algo teórico, mas, inclusive para ampliar a convicção do profeta, tinha de ser experimentado, provado pelo próprio profeta.
– Elias era um homem de Deus, tinha comunhão com o Senhor, era-lhe próximo, tendo uma vida de oração e de meditação nas Escrituras, mas precisava ter a vivência, a experiência no seu cotidiano, no seu dia-a-dia, deste poder divino, para que não tivesse qualquer dúvida ou sombra de dúvida de que o Senhor era o Todo-Poderoso, como disseram os patriarcas da nação israelita.
Mais ainda: Elias tinha de ter a experiência de que Deus era o único e verdadeiro Deus, não um Deus nacional, mas o Deus de todas as nações, como havia Se revelado a Israel quando da proposta do pacto do Sinai (Ex.19:5).
– Por isso, o Senhor fez com que o profeta fosse, num primeiro instante, sustentado exclusivamente pela Providência Divina, alimentado por corvos à beira do ribeiro de Querite, de onde obtinha a água, até que o ribeiro se secasse e, posteriormente, fosse sustentado por uma viúva gentia, que estava à beira da morte, tendo, inclusive, nesta ocasião, tido a oportunidade de promover a primeira ressurreição que se tem notícia na história sagrada, a do filho daquela viúva, ocasião em que esta reconheceu que Elias era um verdadeiro homem de Deus (I Rs.17:24).
– Depois de Elias ter experimentado que Deus era Todo-Poderoso e Deus de todas as nações, estava ele em condições de, novamente, se apresentar diante de Acabe, três anos e meio depois, para, então, concluir a demonstração de que o Senhor era o único e verdadeiro Deus.
– Nós também, ao longo de nossa jornada terrena, temos de experimentar o poder de Deus para que sejam efetivos conhecedores do Senhor.
Conhecer a Deus, como sabemos, não é ter apenas dados informativos a respeito do Criador, não é abastecer tão somente o nosso intelecto.
Conhecer a Deus é ter intimidade com Ele e isto nos leva a termos experiências com o Senhor, experiências estas que confirmam, comprovam tudo quanto d’Ele apreendemos seja nas Escrituras, seja na prática da oração.
– A experiência com Deus é fundamental para que sejamos edificados espiritualmente, para que tenhamos condição de sermos obreiros aprovados, que não tenham do que se envergonhar (II Tm.2:15). A aprovação pressupõe submissão a uma prova, a uma experiência em que se agradou a Deus.
– A vida de Elias mostra-nos, com absoluta clareza, que não podemos, em hipótese alguma, fazer algo para Deus se, antes, não formos aprovados, ou seja, se antes não formos submetido a uma prova, a uma experiência continuada com o Senhor.
Por isso, aliás, o apóstolo Paulo adverte a que não se separem para o ministério pessoas neófitas, ou seja, pessoas que ainda não tiveram esta indispensável experiência com o Senhor (I Tm.3:6).
– Na grande maioria das profissões, exige-se que a pessoa, antes de iniciar a sua vida profissional, submeta-se a um estágio, a um período em que adquira alguma mínima experiência para poder desempenhar bem o papel que pretende exercer na sociedade.
Na vida espiritual, não é diferente: faz-se mister que também passemos por um “estágio”, por uma experiência com o Senhor que nos habilite, que nos capacite a desempenhar a tarefa para a qual Ele nos escolheu. Estamos dispostos a isto?
– Não é por outro motivo que o Senhor Jesus afirmou aos saduceus que eles erravam muito porque não conheciam as Escrituras nem o poder de Deus (Mt.22:29).
Duas são as fontes de erro espiritual para o homem: a falta de conhecimento da Bíblia Sagrada bem como a falta de conhecimento do poder de Deus. Indispensável é conhecer a Palavra de Deus, mas igualmente indispensável é passar por uma experiência de vida com Deus para que provemos do Seu poder.
– Após a ressurreição do filho da viúva de Zarefate, Elias havia concluído o período de aprendizado sobre a superioridade de Deus sobre Baal. Devidamente experimentado na sua vida com Deus, durante três anos e seis meses (cf. Tg.5:17), estava pronto para um novo embate com o rei Acabe.
A seca era terrível, cumpria-se à risca o que havia sido profetizado por Elias e, então, o Senhor mandou que o profeta, uma vez mais, se apresentasse diante de Acabe, porque chegara o momento de chover sobre a terra (I Rs.18:1).
OBS: É interessante notar que Flávio Josefo faz questão de comprovar a historicidade desta seca. Assim relata o historiador judeu:
“…aquela prolongada seca, de que o historiador Menandro fala quando narra os feitos de Etbaal, rei dos tírios [pai de Jezabel, observação nossa], assim: Houve naquele tempo uma grande seca que durou desde o mês de Hiperbereteu até o mesmo mês, no ano seguinte.
Esse soberano mandou fazer grandes preces e foram elas seguidas de um grande trovão. Foi ele que mandou construir as cidades de Botris, na Fenícia e a de Auzate, na África.
Estas palavras se referem, sem dúvida, a esta seca, que aconteceu no reinado do rei Acabe, pois Etbaal reinava em Tiro, nesse mesmo tempo.…” (JOSEFO, Antiguidades Judaicas 8,359. In: História dos Hebreus. Trad. Vicente Pedroso, v.1, p.192).
– Quando ia em direção a Acabe, Elias se encontrou com o mordomo do rei, Obadias, que era uma pessoa temente a Deus, o qual, inclusive, havia escondido profetas do Senhor em cavernas e providenciado o seu sustento em meio à grande seca e à implacável perseguição desenvolvida por Acabe contra os servos de Deus.
Este relato bíblico mostra-nos que Deus não só havia cuidado de Elias, como também de todos os Seus profetas, mostrando que havia absoluto controle divino sobre toda a situação, dito fazendo saber o seu profeta antes que ele se encontrasse com Acabe.
– Deus não muda e continua a guardar os Seus servos, o Seu povo em meio aos dias trabalhosos e difíceis que estamos a viver.
Basta apenas que temamos a Deus e que estejamos dispostos a servi-l’O e a fazer o que Ele nos manda, sem nos importarmos com as circunstâncias ou os possíveis riscos.
Obadias, apesar do cargo que ocupava, era um homem temente a Deus e, pela obra do Senhor, não tinha por valiosa a sua posição social (I Rs.18:3,4).
– Ao se encontrar com Obadias, Elias fica a saber que o rei Acabe o havia procurado em todos os lugares, a demonstrar, mais uma vez, que o Senhor o havia escondido, o havia não só sustentado, mas também protegido (I Rs.18:10).
Também foi cientificado de que não era o único a ter obtido a proteção e sustento da parte de Deus, que os profetas, aqueles com quem Elias tinha tanto cuidado, também haviam sido guardados, pela mão de Obadias.
– O encontro entre Elias e Acabe bem mostra como não há comunhão entre a luz e as trevas (II Co.6:14).
Elias havia profetizado e a profecia se cumpria integralmente, o que mostrava ser ele um profeta que vinha da parte de Deus (Dt.18:21,22).
Deveria, pois, o rei Acabe respeitá-lo, considerá-lo. Mas, pelo contrário, ao se encontrar com Elias, o rei o chama de “o perturbador de Israel” (I Rs.18:17).
Assim é o mundo, assim são os ímpios: eles aborrecem os servos do Senhor, consideram-nos um estorvo, um obstáculo, um empecilho. Jamais nos tratarão bem, jamais reconhecerão a nossa santidade e a nossa condição de filhos de Deus.
– Não nos iludamos, os homens sem Deus e sem salvação nunca nos darão valor, nunca falarão bem de nós. São palavras do Senhor Jesus:
“Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim.
Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece” (Jo.15:18,19).
Há muitos que querem agradar aos homens, que se preocupam em ser “populares”, “simpáticos”, “enturmados”, mas não cedamos a esta tentação.
O servo de Deus jamais será visto com simpatia pelo mundo pecador. Se, por um acaso, temos querido popularidade e simpatia e a tenhamos alcançado, ouçamos o que diz o Senhor: “Ai de vós quando todos os homens falarem bem de vós, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas!” (Lc.6:26).
– O profeta Elias, porém, não se abateu por causa desta ofensa, desta palavra mentirosa do rei, como também não ficou preocupado pelo fato de o rei lhe ser hostil (ninguém pense que este encontro se deu a sós.
O rei, certamente, fazia-se acompanhar de sua guarda pessoal, enquanto que Elias estava só).
Antes, com autoridade, disse que quem era o perturbador de Isael era o próprio rei, uma vez que ele havia deixado os mandamentos do Senhor e seguido a Baal e, devidamente orientado por Deus, lançou o desafio da reunião de todos no monte Carmelo, a fim de que se demonstrasse quem é o verdadeiro Deus (I Rs.18:19,20).
Devidamente experimentado e tendo vivido que Deus é o único Deus, Elias poderia lançar este desafio, a fim de proclamar a todo o povo o que havia aprendido.
– Esta necessária experiência pessoal com Deus e o decorrente crescimento espiritual é ainda um requisito para podermos proclamar, com efetividade, a palavra de Deus.
Não se pode pregar eficazmente o Evangelho sem que, antes, tenhamos tido um contacto intelectual com ele, bem como que tenhamos uma experiência pessoal com o Senhor.
Não foi por outro motivo que Jesus preparou, durante mais de três anos (praticamente o mesmo tempo da seca do tempo de Elias) os Seus discípulos e, depois, mandou que esperassem o revestimento de poder para iniciar a evangelização.
Um dos grandes problemas dos nossos dias é este descuido da preparação doutrinária e espiritual dos que querem anunciar a Palavra do Senhor, fazendo com que neófitos se desincumbam desta tarefa, causando prejuízos a si mesmos e à Igreja (I Tm.3:6).
– Era chegado o momento de mostrar que o único e verdadeiro Deus era o Senhor. É o que veremos na próxima lição.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: Portal EBD – Lição 3 – Acabe e o profeta Elias I