APÊNDICE Nº 1 – A DINASTIA DE JEÚ
A casa de Jeú é uma “sobrevida” que Deus dá ao reino do norte.
Texto áureo
“Pelo que disse o Senhor a Jeú: Porquanto bem fizeste em realizar o que é reto aos Meus olhos e, conforme tudo quanto Eu tinha no Meu coração, fizeste à casa de Acabe, teus filhos até à quarta geração se assentarão no trono de Israel” (II Rs.10:30).
INTRODUÇÃO
– Em complemento ao estudo dos livros dos Reis, estudaremos o período da “casa de Jeú”, a quarta dinastia que reinou sobre Israel, o reino do norte, período que não foi tratado nas lições do trimestre.
– A casa de Jeú deu uma “sobrevida” ao reino do norte.
I – O REINADO DE JEÚ
– Nosso trimestre está a estudar os livros dos Reis, livros que abarcam um grande período da história de Israel, iniciando com o reinado de Salomão e indo até o cativeiro da Babilônia.
– Evidentemente, tratar deste período em apenas um trimestre letivo da Escola Bíblica Dominical é praticamente impossível e alguns saltos cronológicos foram dados a longo do trimestre, que temos procurado abarcar no meio das lições, ainda que de forma sucinta.
– Entretanto um destes saltos é por demais longo, pois, da lição 8, quando se estudaram os milagres do profeta Eliseu que envolvem o general siro Naamã, já se partiu, na lição 10, para o cativeiro do reino do norte, com análise dos últimos trinta anos da história deste reino, o que representa, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, um período de 113 anos, entre o milagre de Eliseu e os trinta anos antes da cativeiro.
– Diante disto, entendemos ser mais produtivo elaborar um apêndice para analisar este período, não realizando os “enxertos” que fizemos nos demais saltos cronológicos.
– Se vamos estudar a “casa de Jeú”, deve-se saber quem é esta personagem. Ela surge nas Escrituras em uma menção divina. O Senhor disse ao profeta Elias, no monte Horebe, que Jeú, filho de Nnsi, deveria ser ungido rei sobre Israel e que aquele que não fosse morto por Hazael, rei da Síria, seria morto por Jeú (I Rs.19:16).
– Jeú, portanto, surge no contexto de resposta divina ao profeta Elias. O profeta estava decepcionado, porque, após ter orado e vindo fogo do céu e consumido o holocausto, fazendo com que o povo reconhecesse que só o Senhor era Deus,
depois de ter orado e voltado a chover após três anos e meio de seca, ao contrário do que ele pensara, o culto a Baal e Aserá não fora extirpado de Israel pelo rei Acabe e a rainha Jezabel, mentora de toda aquela apostasia, não tinha sofrido qualquer abalo em seu poder, tanto que havia mandado um recado ao profeta de que, em 24 horas, ele seria morto, assim como mortos haviam sido os profetas de Baal e Aserá.
– O Senhor mostrava a Elias que ainda não era o momento de se retirar a casa de Onri, a terceira dinastia real de Israel, o reino do norte, do trono, mas que isto se daria no tempo aprazado por Deus, devendo Elias prosseguir em seu ministério.
– Jeú aparece, portanto, como um homem escolhido por Deus para pôr fim à casa de Onri e ao culto institucionalizado de Baal e Aserá, seria o vingador de Deus de todas as atrocidades cometidas por aqueles governantes e que haviam promovido a apostasia espiritual. Observemos que o nome “Jeú” significa “Ele é Javé”.
– O Senhor mostra, assim, ao Seu profeta que está no absoluto controle de todas as coisas e que há um tempo para todo o propósito debaixo do céu (Ec.3:1).
Elias via apenas a necessidade de retirada de Jezabel e de sua influência maligna, com o término daquela dinastia, mas o Senhor via muito mais além, pois os males causados por Jezabel tinham, inclusive, afetado o próprio reino de Judá, já que a filha de Acabe e Jezabel, Atalia, havia se casado com o então princípe herdeiro judaíta, Jeorão.
– Os anos se passaram desde esta revelação que Deus deu ao Seu profeta, mais precisamente, segundo os já mencionados cronologistas bíblicos, 21 anos.
Elias já havia sido arrebatado para o céu e Eliseu estava exercendo seu ministério, quando o Senhor fala com Eliseu e o profeta, então, manda que um dos filhos dos profetas tomasse uma almotolia de azeite e fosse até Ramote-Gileade e ali ungisse a Jeú, filho de Ninsi, um dos capitães do exército de Israel, como rei de Israel (II Rs.9:1).
– O momento vivido por Israel era difícil. Tinha ocorrido mais uma guerra entre Israel e Síria e o rei Jorão, filho de Acabe, que já reinava há 13 anos, foi ferido em batalha e, então, retirou-se para Jezreel, no palácio real, para se recuperar das feridas.
O país sofria uma nova derrota militar e o rei estava convalescente. Em Judá, por sua vez, estava reinando há 1 ano Acazias, filho de Jeorão e de Atalia e, portanto, neto de Acabe e sobrinho de Jorão, que, ao saber que seu tio estava enfermo, resolveu visita-lo em Jezreel.
– É neste instante, em que ambos os reis descendentes de Acabe iriam se encontrar, em que Hazael, rei da Síria, só tinha ferido o rei Jorão, que o Senhor cumpre o que dissera a Elias.
– Eliseu manda que o filho do profeta vá até Ramote-Gileade, entre no local onde estavam os capitães, chame à parte Jeú e o unja como rei, devendo sair dali imediatamente (II Rs.9:1-3).
– Nesta passagem temos algumas lições a tirar. A primeira é que quem faz a unção é um filho do profeta, por ordem de Eliseu, que, por sua vez, age como sucessor de Elias.
Quando o Senhor diz que Elias iria ungir a Jeú no monte Horebe, não estava a dizer que seria a pessoa de Elias, mas o ministério por ele iniciado, ministério que tinha a missão de converter os israelitas a Deus, ministério que se encerraria somente com João Batista, o “Elias que havia de vir” (Mt.11:14).
– Elias tinha chegado ao monte Horebe pensando no “eu”, no “indivíduo”, que “ele” tinha fracassado ao não conseguir eliminar o culto institucional de Baal e Aserá, enquanto que Deus tinha uma visão muito mais ampla, tratava de um ministério que, começando por Elias, haveria de levar a conversão a Israel para que pudesse receber o Cristo.
– Também não podemos ter esta visão tacanha que teve o profeta Elias, não buscando entender o plano de Deus a partir de nós e de nossas circunstâncias, mas nos lembrando que somos membros em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27), uma pequena peça de engrenagem neste mecanismo gigantesco que o Senhor estabeleceu para demonstrar o Seu amor para com a humanidade e proporcionar-lhe a salvação.
– A segunda lição é a de que a restauração espiritual do reino somente poderia começar com a escolha divina.
Não há como efetuarmos uma renovação do povo de Deus se a liderança não for escolhida pelo próprio Senhor. É indispensável que quem está à frente do povo tenha sido chamado por Deus.
– A casa de Onri havia se iniciado com a escolha popular. Após o assassinato do rei Elá por Zinri, o povo se dividiu entre Onri e Tibni, tendo prevalecido o partido de Onri (I Rs.16:21,22) e todo o desastre que se estabeleceu decorreu deste início fora da vontade de Deus. Definitivamente, democracia não é o regime de governo que deve prevalecer no povo de Deus.
– Agora, o Senhor recolocava as coisas no seu devido lugar, mandando ungir o novo rei de Israel para, a partir desta escolha, promover a restauração espiritual do povo.
Deus toma a iniciativa para dar uma nova chance a Israel, e é sempre assim: Deus ama o homem e quer que ele se salve, por isso toma a iniciativa de chamá-lo à conversão, respeitando, porém, o livre-arbítrio que deu ao homem.
– A terceira lição é que a escolha importa na unção. O filho do profeta tinha de levar uma almotolia (um pequeno vaso) de azeite para ungir o novo rei. A simbologia do azeite fala-nos do Espírito Santo e da necessidade de aquele que for separado para o trabalho do Senhor, seja efetivamente cheio do Espírito Santo.
– A quarta lição é que o filho do profeta tinha de ungir Jeú à parte, não na presença dos capitães.
Isto nos ensina que os que são chamados a liderar o povo precisam ter uma intimidade com o Senhor, uma vida devocional separada das atividades da liderança.
Lembremos o que disse Paulo a Timóteo, no sentido de que deveria, primeiro, cuidar dele mesmo e da doutrina para depois, então, exercer seu ministério pastoral (I Tm.4:16).
– Nos dias em que vivemos, muitas lideranças estão bem aquém de cumprir as suas tarefas, precisamente porque não têm este “momento a sós” com Deus, não tem uma dimensão individual na sua devoção, estando tomados por um ativismo que os resseca espiritualmente. Saul, também, foi ungido na particularidade, num momento solitário (I Sm.9:27).
– A quinta lição é que o filho do profeta deveria chegar, ungir a Jeú em local reservado e depois sair dali sem dizer coisa alguma a ninguém mais, tanto que foi tido como um louco. Tal determinação mostra, claramente, que havia distinções claras entre as atividades. O profeta iria ungir, mas a tomada de decisões para a retirada do governo vigente era matéria que cabia tão somente a Jeú. Cada um deve ficar na vocação que foi chamado, não se imiscuindo no ministério e tarefa do outro.
– Ao ungir Jeú, o filho do profeta traz a mensagem divina de que Jeú deveria ferir a casa de Acabe, agindo como vingador do sangue dos profetas e servos do Senhor que haviam sido mortos por Jezabel, Jezabel cuja carne seria comida pelos cães (II Rs.9:6-10).
– Jeú imediatamente demonstrou sua fé em Deus. Ao voltar ao local onde estavam os demais capitães, contou que fora ungido rei de Israel e, ato contínuo, a mostrar quão insatisfeitos estavam os israelitas com a casa de Onri, todos se aliaram a Jeú, aclamando-o como rei (II Rs.9:12,13).
– Jeú, então, saiu de Ramote-Gileade, que estava cercada pelos israelitas, indo então para Jezreel e lá matou tanto o rei Jorão quanto o rei Acazias, de Judá, que estava chegando para visitá-lo.
– Em Jezreel, também, mandou atirar Jezabel da sacada do palácio onde ela, toda embelezada, tentou seduzir o novo rei. Após sua refeição, Jeú mandou que o corpo de Jezabel fosse sepultado, mas, para surpresa de todos, quando foram buscar seu corpo, havia ele sido devorado pelos cães, cumprindo, assim, a profecia que havia sido dita por Elias (II Rs.9:16-37).
Jeú, então, desafiou os chefes de Jezreel para que escolhessem um novo rei da casa de Onri e disputassem com ele o reino, mas os chefes daquela cidade, ao contrário, mataram todos os descendentes de Acabe, de modo que a casa de Onri foi exterminada, assim como as casas de Jeroboão e de Baasa (I Rs.10:1-14).
– Jeú, também, já em Samaria, convocou um culto a Baal e mandou que todos os seus adoradores lá estivessem, dizendo que muito serviria a Baal, agindo com evidente astúcia, e, num ardil, certificado de que todos os seguidores de Baal ali estavam, mandou que todos fossem mortos e, deste modo, extirpou o culto institucional de Baal e Aserá de Israel, destruindo o templo que havia para estas divindades em Samaria, que se tornou local de latrina (I Rs.10:15-28).
– Jeú, em todos estes gestos, teve o apoio de um homem, chamado Jonadabe, filho de Recabe, que o auxiliou em todas as medidas. Jonadabe, cujo nome significa “Javé é generoso”, é apresentado como um homem que tinha, em seu coração, este mesmo desejo de extirpar a apostasia espiritual de Israel, tanto que é dito que seu coração era reto com o coração de Jeú (I Rs.10:15).
– Jonadabe é citado apenas aqui no livro dos Reis, e parece que sua dedicação, até então anônima na restauração espiritual de Israel, teria sido apenas episódica, com um papel apenas neste instante histórico do reino do norte.
Entretanto, 251 anos depois, veremos os seus descendentes sendo elogiados por Deus pela sua fidelidade, quando o profeta Jeremias lhes dirige palavra (Jr.35).
– Jonadabe dá início, a partir dali, a uma forma peculiar de servir ao Senhor, como que reconhecendo que as estruturas dos reinos de Israel e Judá, pela sua infidelidade, não subsistiriam e que era necessário ser fiel ao Senhor em todas as circunstâncias e, como resultado disso, conseguirá que sua descendência sobreviva ao desaparecimento de ambos os reinos.
– Jonadabe deixa-nos um exemplo a ser seguido. É ele, na verdade, alguém que nota, bem antes do surgimento da Igreja, de que devemos viver neste mundo servindo a Deus, colaborando com aqueles que fazem a vontade do Senhor, mas jamais nos prendendo a este mundo, porque devemos, sim, lembrar que a nossa pátria é a cidade celestial.
– Jeú estava cumprindo à risca a vontade de Deus mas, infelizmente, não teve coragem de enfrentar os “pecados de Jeroboão”. Manteve os cultos dos bezerros de ouro em Dã e Betel, bem como a classe sacerdotal que havia sido criada para estes cultos.
– Ao não romper com este mal, Jeú desagradou ao Senhor, que mandou uma mensagem ao rei de que, como ele havia cumprido as ordens divinas dadas quando de sua unção, sua casa reinaria até a quarta geração de seus filhos, ou seja, haveria cinco gerações nesta dinastia, mas a sua casa também haveria de ser destruída, porque não rompera com os pecados de Jeroboão.
– O texto sagrado é claro: “Jeú não teve cuidado de andar com todo o seu coração na lei do Senhor, Deus de Israel, nem se apartou dos pecados de Jeroboão, nem se apartou dos pecados de Jeroboão, que fez pecar a Israel” (II Rs.10:31).
– Não basta cumprir as ordens divinas e fazer a vontade de Deus até certo ponto. Ou perseveramos até o fim, ou não seremos salvos. Jeú é o tipo daquele que, tendo começado bem, acaba se rendendo às circunstâncias do mundo e, por causa disso, acaba perdendo a fé e a salvação.
É o grupo mencionado por Jesus na parábola do semeador, que, tendo nascido de novo, são sufocados pelos espinhais, ou seja, não suportam a perseguição e a angústia por causa da Palavra (Mt.13:21). Que Deus nos guarde!
– Como resultado de sua desobediência ao Senhor, Deus permitiu que Hazael, rei da Síria, tomasse parte do território de Israel, que, assim, deixou de estar integralmente nas mãos dos israelitas (II Rs.10:32,33).
– O Senhor mostrava claramente ao povo do reino do norte que, em se mantendo a impenitência, corriam eles o risco de perder a Terra Prometida, como havia sido fixado no chamado “pacto palestiniano” (Dt.27:11-26), o pacto em que o Senhor condicionou a permanência dos israelitas em Canaã à observância da lei (Lv.26:43; Dt.28:64).
II – O REINADO DE JEOACAZ
– Jeú reinou 28 anos sobre Israel (II Rs.11:36). Com a sua morte, sem qualquer problema, seu filho Jeoacaz assume o trono, cujo reinado durou 17 anos (II Rs.13:1).
– O nome “Jeoacaz” significa “Javé assegura” ou Javé garante”. Este nome, dado certamente por Jeú a seu primogênito, revela como o rei Jeú confiava em Deus, mas, infelizmente, ao não romper com os “pecados de Jeroboão”, revelou que não tinha tanta certeza de que o Senhor garantiria o seu reinado e o seu governo, pois não teve coragem de romper com o culto dos bezerros de ouro.
– Jeoacaz não rompeu, igualmente, com os pecados de Jeroboão e o Senhor, revelando todo Seu desagrado com tal atitude, fez com que os reis da Síria, tanto Hazel quanto seu filho Benadade, guerreassem contra Israel e oprimissem o reino (II Rs.13:3,4). A situação era tão preocupante que o exército israelita tinha apenas cinquenta cavaleiros e dez carros (II Rs.13:7).
– A ira divina manifestava-se para que o povo pudesse se converter. Quando não servimos a Deus, ficamos debaixo da Sua ira (Jo.3:36). A opressão decorrente da desobediência de Jeoacaz era, paradoxalmente, um alerta que Deus dava ao povo para que se arrependesse.
– O culto institucional de Baal e Aserá havia sido eliminado, mas isto não era suficiente. Era necessário que o povo também deixasse o culto aos bezerros de ouro e voltasse a observar a lei do Senhor e, para tanto, Deus permite que, a exemplo do que ocorrera no período dos juízes, inimigos se levantassem contra Israel.
– Jeoacaz entendeu parcialmente o recado. Pôde discernir que a opressão advinda da Síria era resultado da ira divina e, portanto, suplicou ao Senhor, pedindo livramento e o Senhor o ouviu, deu um salvador a Israel e os filhos de Israel saíram de debaixo das mãos dos siros e habitaram em suas tendas, como dantes, mas, apesar disto, não se apartaram dos pecados de Jeroboão (II Rs.13:4-6).
– O Senhor mostra toda a Sua disposição de perdoar, salvar, mas o povo, mesmo sendo abençoado e liberto, manteve a sua impenitência, a sua prática pecaminosa, de modo que, quando o povo perde a Terra Prometida, isto ocorre por causa da conduta voluntária do povo, não por causa de uma indiferença ou crueldade de Deus, lembremos sempre disto.
– É precisamente isto que nos relata o texto sagrado em II Rs.13:23, onde é dito que, por ter o Senhor misericórdia dos israelitas, compadeceu-Se deles e não os quis destruir nem os lançar da sua presença, apesar de ter permitido que Hazael oprimisse a Israel todos os dias de Jeoacaz.
III – O REINADO DE JEOÁS
– Morto Jeoacaz, seu filho Jeoás assumiu o trono, sem qualquer contestação também, numa prova de que Deus estava a cumprir a Sua Palavra, qual seja, a de que haveria cinco reis desta dinastia. “Jeoás” significa “Javé é forte”.
– Jeoás reinou 16 anos e manteve a prática dos pecados de Jeroboão, prosseguindo a impenitência do povo que revelava grande ingratidão ao Senhor apesar do livramento que haviam tido da opressão síria.
Jeoás sofreu novo ataque da Síria e temeu o retorno da situação de calamidade vivida por seu pai. Então, angustiado, foi até o profeta Eliseu, que ainda vivia, embora estivesse já doente da doença de que haveria de morrer.
– Jeoás, ao chegar à presença do profeta, repete as palavras que o próprio profeta havia dito pouco antes do arrebatamento de Elias: “Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros” (II Rs.13:14).
– Esta expressão do rei ao profeta comporta algumas reflexões. Mostra, por primeiro, que o rei conhecia a história de Eliseu e reconhecia ser ele um homem de Deus e o sucessor de Elias.
– Tal afirmação, também, deve ter trazido ao profeta acamado uma consolação, pois lhe trouxe a lembrança do início de seu ministério, que estava sendo cabalmente cumprido até aquele momento.
Deve ter sido renovado espiritualmente ao relembrar que tinha, sim, a porção dobrada do espírito de Elias, apesar do momento difícil que estava a passar no ocaso da sua vida.
– O Senhor continua a agir desta maneira. Trouxe um rei angustiado, infiel, para, uma vez mais, consolar e confortar o Seu servo, que tanto tinha trabalhado em prol da adoração a Deus.
Também muitos servos do Senhor, na atualidade, sob o impacto das enfermidades, já não podendo servir a Deus, são consolados e confortados diariamente por parte até de pessoas que não servem a Deus, “porque Deus não é injusto para se esquecer da vossa obra e do trabalho da caridade que, para com o Seu nome, mostrastes, enquanto servistes aos santos e ainda servis” (Hb.6:10).
– Por segundo, Jeoás chama a Eliseu de “meu pai”, mostrando que era o profeta o “pai espiritual” de Israel, a principal autoridade religiosa do país e isto vindo de quem estava a reinar. Trata-se de uma demonstração de honra ao profeta, o cumprimento de que Deus honra aqueles que O honram (I Sm.2:30).
– Eliseu, então, manda que o rei pusesse a sua mão sobre o arco e sobre as flechas, em seguida, pôs as suas mãos sobre as mãos do rei e mandou que o rei abrisse a janela para o oriente e atirasse flechas e, enquanto o rei atirava, disse que a flecha era o livramento do Senhor, o livramento contra os siros.
Então, mandou que o rei atirasse as flechas ferindo a terra e o rei Jeoás atirou três flechas e cessou (II Rs.13:14-18).
– Ante tal atitude, o profeta se indignou, porque o rei revelou ter tido pequena fé. Se Eliseu era o “pai espiritual”, o sucessor de Elias, o homem de Deus, o rei deveria ter confiado e atirado várias flechas, já que as flechas eram o livramento do Senhor, o livramento dos siros, mas, como havia só atirado três flechas, teria apenas três vitórias militares contra a Síria, que, assim, persistiria como inimiga de Israel (II Rs.13:19).
– Jeoás, a exemplo de seu avô e pai, não perseverava em servir a Deus, não se mantinha fiel até o fim, com uma pequena fé que cessava ao longo da caminhada que decidira fazer em direção ao Senhor. Como atirou as flechas apenas três vezes, somente feriria os siros por três vezes, mantendo-se a Síria como inimigo, que não seria consumido.
– Esta é a situação daquele que não persevera até o fim, que segue a Cristo apenas por um tempo. Acaba tendo vitórias sobre o mal e o pecado, mas até um determinado tempo. Depois, permite que o inimigo novamente se instale e o engane e, lamentavelmente, o leve para o seu mesmo destino – o lago de fogo e enxofre. Tomemos cuidado, amados irmãos!
– Assim como dissera o profeta Eliseu, Jeoás fez três guerras contra a Síria, então governada pelo filho de Hazael, Benadade, tendo recuperado as cidades que Hazael havia tomado de Jeoacaz, obtendo três vitórias, mas não eliminando os siros (II Rs.13:24,25).
IV – O REINADO DE JEROBOÃO II
– Quando morreu Jeoás, foi ele sucedido, igualmente sem qualquer problema, pelo seu filho Jeroboão II, que era o quarto rei da dinastia de Jeú e que teve longo reinado, o mais longo de todos os do reino do norte, 41 anos (II Rs.14:23).
– Esta longevidade do reinado de Jeroboão II é mais um reflexo da misericórdia divina. Sabiam todos que a casa de Jeú duraria apenas cinco gerações e já estávamos na quarta. Com um longo reinado, o Senhor mostrava toda a Sua longanimidade, dando, uma vez mais, oportunidade a que Israel se arrependesse dos seus pecados e se convertesse.
– Jeroboão II, já pelo seu nome, revela que não era esta, porém, a índole do povo. Seu pai homenageia justamente aquele que levou o povo à idolatria, dando ao seu filho o nome do primeiro rei do reino do norte.
– Jeroboão II não rompeu com os pecados do seu homônimo, mantendo o culto aos bezerros de ouro.
– Apesar disso, o Senhor mostrou a Sua misericórdia e, como passava o povo por muita dificuldade, em virtude dos conflitos com a Síria, deu forças ao novo rei para que este restabelecesse os termos de Israel, desde a entrada de Hamate até ao mar da Planície, recuperação de territórios que haviam sido tomados durante o reinado de Hazael, rei da Síria (II Rs.11:32,33).
– Esta ação do reinado de Jeroboão II foi precedida pela pregação do profeta Jonas, filho do profeta Amitai (II Rs.14:26), que estimulou e incentivou tal iniciativa, demonstrando ser esta a vontade de Deus. É aqui que entendemos porque Jonas, mais tarde, vai resistir a ir pregar em Nínive, porque sua imagem estava associada ao bem-estar da nação e a Assíria já se mostrava como uma ameaça a Israel.
– O Senhor permite a restauração territorial de Israel porque não queria ainda apagar o nome de Israel de debaixo do céu, tendo Se compadecido do povo (II Rs.14:26,27). Entretanto, apesar disto, o povo não se arrependeu, não se converteu.
– Pelo contrário, a prosperidade trazida no reinado de Jeroboão II serviu apenas para intensificar a situação de injustiça, de exploração dos mais pobres e de maldade que havia na sociedade israelita, tanto que o Senhor levantou profetas para denunciar este estado de coisas, como Amós (Am.1:1) e Oseias (Os.1:1)
– A perseguição que sofreu o profeta Amós, notadamente por parte da classe sacerdotal que cuidava do culto aos bezerros de ouro (Am.7:10,11), mostra que o povo, apesar da demonstração de misericórdia do Senhor, aferrava-se à prática do pecado, recusava-se a obedecer a Deus.
– O início do ministério de Oseias, que, segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, ocorreu no 18º ano do reinado de Jeroboão II, é outra ilustração de como o povo israelita estava sendo ingrato com Deus.
– Oseias é mandado casar com uma prostituta para revelar o que estava acontecendo no relacionamento espiritual entre Deus e Israel, ou seja, o Senhor, claramente, diz que os israelitas estavam se prostituindo espiritualmente, apesar de terem se compromissado em servir a Deus (Os.1,2).
– O resultado disto é que o Senhor, inclusive pelo profeta Amós, disse que haveria de levantar a espada contra a casa de Jeroboão II (Am.7:9).
V – O REINADO DE ZACARIAS E O TÉRMINO DA CASA DE JEÚ
– Deus havia acenado com compaixão e misericórdia para o povo de Israel e para a casa de Jeú. Livrara Israel da opressão da Síria, como também promovera a recuperação do território israelita, dando-lhe prosperidade econômica.
– Em resposta a tais gestos concretos de amor e misericórdia, que não ficaram apenas nos acontecimentos, mas foram explicitadas pelas mensagens proféticas de Jonas, Amós e Oseias, o povo persistiu em pecar, em não romper com o culto aos bezerros de ouro, e a cometer uma série de atitudes contrárias à lei.
– Diante disto, não restou ao Senhor senão cumprir a Sua Palavra. Após um longo reinado, Jeroboão II é sucedido por seu filho Zacarias, o quinto rei da casa de Jeú.
– A sucessão fez-se sem problemas maiores, porque era mister o cumprimento da Palavra do Senhor que havia dito que haveria cinco reis da casa de Jeú sobre Israel.
– Todavia, a prática pecaminosa tinha crescido grandemente entre o povo e, máxime, nas elites da nação, como revelara o profeta Amós.
– Zacarias não havia rompido com os pecados de Jeroboão, que, conforme se vê do livro do profeta Amós, tinham até se fortificado no período, pois o responsável pelo culto aos bezerros de ouro, Amazias, tinha grande influência junto ao rei Jeroboão II (Am.7:10-13).
– Com apenas seis meses no trono, Zacarias sofreu uma conspiração, liderada por Salum, filho de Jabes, e foi ferido diante do povo, sendo morto (II Rs.15:10), tendo, então, Salum tomado o poder, onde ficaria por apenas um mês, quando, então, seria também assassinado por Menaém, que reinaria em seu lugar (II Rs.15:13,14).
– A sociedade israelita via o assassinato público de um rei, a nos mostrar que estava presente o quadro descrito pelo profeta Oseias: “só prevalecem o perjurar, e o mentir, e o matar, e o furtar, e o adulterar, e há homicídios sobre homicídios” (Os.4:2).
– Cumpria-se a Palavra do Senhor e a casa de Jeú era tirada do trono, depois de cinco gerações. Uma dinastia que se caracterizara por não servir a Deus de coração inteiro, de buscar ao Senhor mas até certo ponto, de nunca romper com os pecados de Jeroboão.
O resultado disso foi o aumento do pecado e o desprezo das iniciativas divinas de misericórdia e compaixão.
– Começava agora um período crítico na vida de Israel. Se a casa de Jeú tinha dado uma “sobrevida” ao reino do norte, como disse o profeta Oseias, tinha início uma contenda com os habitantes da terra de Israel, pela falta de verdade, benignidade e de conhecimento de Deus na terra (Os.4:1), contenda que terminaria com o cativeiro e a destruição do povo das dez tribos de Israel.
Ev. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://portalebd.org.br/classes/adultos/6684-licao-9-o-reinado-de-joas-i-2