Lição 1 – A autoridade da Bíblia
ESBOÇO Nº 1
A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE
Estamos dando início, pela graça de Deus, a mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical e iniciando um novo ciclo de sete anos, o que significa dizer que estamos começando um novo currículo da Escola Bíblica Dominical.
A cada sete anos, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus tem lançado um currículo, estabelecendo os temas a serem estudados por todas as faixas etárias, com exceção dos jovens e dos adultos, faixas em que não há uma pré-fixação de temas, mas uma retomada, a cada sete anos, dos principais assuntos que devem ser aprofundados no estudo da sã doutrina.
Neste novo ciclo, muito oportuno iniciarmos o estudo da Palavra de Deus pela Bibliologia, ou seja, a doutrina da Bíblia, pois estamos na Escola BÍBLICA Dominical, já que a Bíblia Sagrada é a base e o fundamento de todos os nossos estudos.
Vivemos dias difíceis, o princípio das dores, onde, como não poderia deixar de ser, a Palavra de Deus é duramente atacada, porque é ela a Palavra de Deus e o “espírito do Anticristo” tem como missão se levantar contra tudo o que se chama Deus ou se adora” (II Ts.2:4) e as Escrituras são o próprio testemunho do Senhor (Jo.5:39), motivo pelo qual é ela alvo prioritário dos ataques do inimigo.
Deste modo, voltarmos a estudar a Bíblia, compreender porque ela é a Palavra de Deus e como deve ela ser interpretada e qual é a sua estrutura se mostra como apropriado meio de iniciarmos um novo currículo da EBD.
O título do trimestre já mostra o lugar e o papel que as Escrituras devem desempenhar em nossa vida espiritual, em nossa peregrinação terrena.
“A supremacia das Escrituras” indica que a Bíblia está num lugar supremo e é este sim o lugar que deve a Palavra de Deus ter em nossas vidas e em nossa fé.
O próprio Deus diz que pôs a Sua Palavra acima do Seu próprio nome (Sl.138:2) e que vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12), de modo que não podemos, pois, de forma alguma, deixar de reconhecer que a Palavra de Deus é o norte de nossas vidas, o que devemos seguir, pois, em o fazendo, certamente estaremos realizando a vontade do Senhor.
A capa da nossa revista apresenta uma Bíblia aberta, um livro que está iluminado por raios que vêm do alto, havendo na capa, acima da Bíblia luz e abaixo dela trevas.
Esta ilustração, por primeiro, mostra-nos que o livro escrito, a obra literária não tem autoria humana. Ela é inspirada por Deus, que é a luz representada na figura, pois Deus é luz (I Jo.1:5).
A Bíblia não é uma obra humana, mas, sim, divina. Ela É a Palavra de Deus, a revelação de Deus ao homem. Por isso, o Senhor Jesus disse que ela é a verdade (Jo.10:10), a fiel testemunha do próprio Cristo (Jo.5:39), Ele próprio a Verdade (Jo.14:6).
A própria Bíblia diz que os homens que a escreveram o fizeram por inspiração do Espírito Santo (II Pe.1:21).
A origem divina das Escrituras jamais pode ser esquecida e quando verificamos tal verdade afastamos diversas ideias equivocadas, como a de que a Bíblia é fruto da Igreja, como defendem, por exemplo, os romanistas.
Mas, além de ter origem divina, vemos que a Bíblia se tornou um livro, ou seja, é, sob este aspecto, também uma obra humana, pois quis Deus que a Sua mensagem revelada fosse escrita por seres humanos.
Por isso mesmo, embora seja a revelação divina, a Bíblia foi escrita durante cerca de 1.500 a 1.600 anos, por mais de 40 pessoas, que viveram em épocas, lugares e circunstâncias completamente diferentes, mas que construíram uma obra única e completa.
Desde quando Moisés iniciou sua redação, no deserto de Midiã, cuidando das ovelhas de seu sogro, até o apóstolo João, preso, na ilha de Patmos, vamos ver o mesmo Espírito Santo inspirando os escritores que, cada um na sua individualidade, escreviam a mensagem que Deus lhe dava.
Neste ponto, pois, vemos que a Bíblia é um livro divino-humano, até porque seu assunto principal, que é o Senhor Jesus, é o Deus-homem.
Mas a capa nos mostra que a Bíblia vem da luz e é iluminada e é por meio dela que podemos ter acesso a esta luz, a esta iluminação.
Sem a Bíblia, temos as trevas da parte inferior da capa, porque a Bíblia é lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho (Sl.119:105). As Escrituras testificam-nos de Jesus, que é a luz do mundo (Jo.8:12).
O trimestre pode ser dividido em quatro blocos. Depois de uma lição introdutória, que nos fala da autoridade da Bíblia, veremos quais são as características do Santo Livro, a saber,
a sua inspiração divina (lição 2),
inerrância (lição 3) e
estrutura (lição 4).
O segundo bloco é dedicado ao estudo da aplicação da Bíblia, em que veremos
como se deve lê-la (lição 5),
como deve ela ser o guia de nossa vida (lição 6) e o
seu pode transformador de pessoas (lição 7).
O terceiro bloco é dedicado a uma síntese bíblica, em que faremos um passeio pelos seus livros:
a lei, os Evangelhos (lição 8);
os livros históricos e poéticos (lição 9),
os livros proféticos (lição 10),
os livros de Lucas (lição 11) e as
epístolas (lição 12).
Por fim, o quarto bloco, uma conclusão, onde analisaremos a
leitura da Bíblia e a educação cristã (lição 13).
O comentarista deste trimestre é o pastor Douglas Roberto de Almeida Baptista, líder da Assembleia de Deus da Missão do Distrito Federal e presidente da Comissão de Educação e Cultura da Convenção Geral das Assembleias de Deus, que foi o relator da Comissão Especial que elaborou a Declaração de Fé das Assembleias de Deus e que já tem, há alguns anos, comentado as Lições Bíblicas.
Que ao término do estudo deste trimestre, possamos ter reafirmado, em nossos corações, a convicção de que a Bíblia é a Palavra de Deus e que, com conhecimento de causa, possamos repetir o item 1 do Cremos de nossa Declaração de Fé: “ Cremos na inspiração divina, verbal e plenária da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé e prática para a vida e o caráter cristão”.
B) LIÇÃO 1 – A AUTORIDADE DA BÍBLIA
INTRODUÇÃO
– Iniciando não só um novo ano letivo, mas um novo currículo de EBD, estaremos a estudar a Bibliologia – a doutrina da Bíblia.
– A Bíblia é a Palavra de Deus
I – A ORIGEM DA BÍBLIA ESTÁ EM DEUS
– Estamos dando início a mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical, dando início a um novo ciclo de sete anos, com um novo currículo da Casa Publicadora das Assembleias de Deus.
– Este início começa pelo estudo da Bibliologia, ou seja, a doutrina da Bíblia, até porque é a Bíblia o livro que estudamos na Escola BÍBLICA Dominical.
– O primeiro item de nossa Declaração de Fé fala da nossa crença na Bíblia Sagrada, de sua autoridade e ser ela a nossa única regra de fé e prática.
A colocação desta crença no início de nosso “Cremos” representou uma mudança em relação ao “Cremos” originariamente publicado desde 1969 no jornal “O Mensageiro da Paz”, onde era o segundo item, exatamente para que não haja qualquer dúvida de que, como herdeiros da Reforma Protestante,
consideramos que “Só as Escrituras têm autoridade absoluta” (o chamado “Sola Scriptura”), também revelando que toda e qualquer “declaração de fé” não tem qualquer valor “normativo”, mas tão somente a Bíblia Sagrada, que é a Verdade, a Palavra de Deus (Jo.17:17).
– A Bíblia é a Palavra de Deus. Ela mesma assim se define e o cumprimento exato de tudo quanto nela está desde os primórdios da história da humanidade é a prova irrefutável de que ela é, sem sombra de dúvida, a Palavra de Deus, a revelação de Deus aos homens.
Muitos têm tentado, ao longo dos séculos, levantar-se contra o Divino Livro, mas todos têm fracassado em seu intento de calá-la ou desacreditá-la, precisamente porque não se trata de uma obra feita pela mente, vontade ou imaginação humanas, mas tem sua origem, sua concepção e o zelo pelo seu cumprimento diretamente em Deus.
– No Sl.68:11a, é dito textualmente que “O Senhor deu a palavra”. Em Hb.1:1, o escritor afirma que o Senhor falou antigamente aos pais pelos profetas de muitas maneiras e uma destas maneiras foram as Escrituras, que compunham “a lei e os profetas” (Mt.7:12; 22:40), lembrando-se que “a lei” foi escrita por Moisés (Dt.31:24), sendo ele próprio, Moisés, um profeta (Dt.34:10).
– Mas o escritor aos hebreus não diz que eram divinas apenas as Escrituras que são o Antigo Testamento, mas, também, afirma que passou Deus a falar pelo Filho, que é o Verbo de Deus (Jo.1:1).
– Ora, o Filho já era revelado por intermédio das Escrituras do Antigo Testamento (Jo.5:39) e continuou a sê-lo através do Novo Testamento, que é o registro determinado pelo Espírito Santo para tudo quanto Jesus ensinou (Jo.14:26; II Pe.3:16,17), Palavra esta que é a verdade e nossa fonte de santificação (Jo.17:17), pois, desde a antiga aliança, o Senhor utilizava do escrito para memória do que havia dito (Ex.17:14a).
– Não se tem, portanto, dúvida alguma de que a Bíblia provém diretamente de Deus, é a revelação do próprio Deus ao homem e, por isso, estamos diante da Palavra de Deus.
É interessante notar que nenhum outro livro sagrado das diversas religiões que existem sobre a face da Terra tem esta qualidade. Embora se digam sagrados e frutos de revelações, jamais tais livros se apresentam como sendo a revelação do próprio Deus ao homem, como tendo origem no próprio Deus.
– O que mais se aproxima disto é o Corão, o livro sagrado muçulmano que, porém, segundo a crença islâmica, foi revelado a Maomé pelo anjo Gabriel e depois que ele teria descido do céu num instante anterior.
Tratar-se-ia, pois, de uma revelação mediada por um anjo, indireta, algo bem diferente daquilo que Deus efetivamente fez, quando revelou a Sua Palavra aos homens através da Bíblia Sagrada.
Além do mais, o Corão foi redigido posteriormente à morte de Maomé por pessoas que teriam “decorado” seu teor, ou seja, é um livro dependente da memória humana, algo muito diverso da Bíblia, que é a revelação do próprio Deus.
– Em Jr.1:12, o profeta relata uma visão que teve de uma vara de amendoeira. A amendoeira é a primeira árvore a florescer na Palestina, daí porque seu nome em hebraico, “saqued” (דקש), ser um derivado da palavra “despertar”.
– A amendoeira seria, então, uma “árvore desperta”, uma “árvore vigilante”, simbolizando a “prontidão”. Isto nos fala que a Bíblia é a Palavra de Deus porque somente em Deus o querer é o efetuar (Fp.2:13) e, portanto, somente
Deus pode falar e o que foi falado se cumprir sem que nada necessite ser feito além do próprio pronunciar e Deus no-lo prova através da própria criação. Por isso, podemos dizer, como afirmava o saudoso pastor Severino Pedro da Silva, que foi membro da Academia Brasileira Evangélica de Letras e da Casa de Letras Emílio Conde, “nem todos os homens cumprem a Palavra de Deus, mas ela se cumpre na vida de todos os homens”.
– A amendoeira, também, simbolizava em Israel a “redenção”, uma vez que, por ser a primeira árvore a florescer, era o primeiro sinal do retorno da vida, na primavera, após o rigoroso inverno, que dava a impressão de que a vida havia findado. Ao comparar a Palavra como a amendoeira para o profeta, portanto, Deus também nos indica que a Bíblia é a Palavra de Deus, pois só Deus pode dar a vida, só Deus pode conceder vida ao homem (I Sm.2:6).
Também nesta expressão divina ao profeta notamos uma perfeita identificação entre a Palavra de Deus e Cristo, que também afirma ser fonte de vida eterna (Jo.1:4; 4:14; 5:26).
– A amendoeira, por fim, também simbolizava a pressa, já que era a primeira árvore a florescer na primavera.
Esta pressa significa a impossibilidade de haver obstáculos para o cumprimento da Palavra, bem como a prioridade absoluta que ela assume ante os desígnios divinos.
A Bíblia, assim, mostra ser algo que é levado em primeiro lugar, que ocupa o primeiro plano da vontade de Deus, a ponto, inclusive, de o salmista ter dito que Deus a pôs acima d’Ele próprio (Sl.138:2).
– O desígnio divino revelado ao profeta é a de que Ele vela pela Sua Palavra para a cumprir, é esta a sua prioridade.
Deus tem um compromisso inquebrantável com a Sua Palavra e, assim como a amendoeira é a primeira árvore a florescer, também a Palavra de Deus é a primeira a produzir seus frutos na ordem estabelecida pelo Senhor.
Por isso, não se pode, em absoluto, ter outra atitude, enquanto servos de Deus, senão a de pôr a Palavra como única regra de fé e prática nas suas vidas.
– Ninguém pode impedir o cumprimento da Palavra de Deus e, como ela é soberana, engrandecida pelo próprio Deus acima de Seu próprio nome, vemos que nada poderá impedir a ação divina de cumprimento da Sua Palavra (Is.43:13 “in fine”).
Desta forma, devemos ter plena consciência de que tudo que está escrito se cumprirá e que nós, como conhecedores desta Palavra, devemos sempre obedecer a ela e, assim, alcançados pelas bênçãos e promessas que ela contém.
– Por fim, ainda sobre a visão tão elucidativa de Jeremias, vemos que Deus mostrou ao profeta “uma vara de amendoeira”, e “vara”, como sabemos, indica orientação, direção, julgamento.
– A Palavra de Deus é um guia para o homem, é a seta que indica a Cristo, o caminho que conduz à vida eterna.
A Palavra, respeitando o livre-arbítrio humano, aponta qual deve ser o Caminho e nós o seguimos, ou não, conforme a nossa própria vontade.
No entanto, a Palavra é “uma vara de amendoeira”, ou seja, ela nos julgará pela decisão que tomamos em relação a ela, um julgamento que é, como a amendoeira, pronto, prioritário e que não poderá ser impedido por ninguém (Jo.12:48).
– Quando verificamos estas passagens bíblicas, vemos, pois, que as Escrituras têm em Deus a sua origem, a sua fonte e, portanto, não podemos, de forma alguma, pôr a Bíblia no mesmo nível de tudo quanto foi criado pelo homem.
– Se a Bíblia tem origem no próprio Deus e é Deus quem diz que a engrandeceu a ponto de a ter posto acima de Seu nome, como podemos querer comparar a Bíblia com as invencionices humanas?
Como podemos querer julgar a Bíblia pelo que o homem tem produzido seja no campo filosófico, científico, tecnológico, artístico, religioso ou mitológico?
II – A AUTORIDADE DA BÍBLIA SAGRADA
– Temos visto que a Bíblia é a Palavra de Deus, porque tem origem em Deus, seu conteúdo foi comunicado por Deus aos homens santos escolhidos pelo Senhor para reduzi-la a escrito.
– Ante tais considerações, não temos como deixar de reconhecer que a Bíblia Sagrada é dotada de autoridade absoluta, ou seja, deve ser aceita pelo homem como única regra de fé e de prática, ou seja, o ser humano, se quiser ser fiel e obediente ao seu Criador, deve crer no que a Bíblia diz e fazer exatamente o que a Bíblia determina.
– Sendo a Palavra de Deus e a fiel comunicação da vontade divina aos homens, não há, mesmo, como deixar de observar o que é prescrito pelas Escrituras, nem deixar de crer naquilo que ela nos diz.
– No entanto, apesar disto, não têm sido poucas as tentativas, ao longo da história, e no meio do povo de Deus, para descaracterizar esta autoridade absoluta e prioritária que deve ter a Bíblia Sagrada na vida de um servo do Senhor.
– Por primeiro, como já dissemos supra, a Bíblia é a primeira a dizer que deve ser adotada como única regra de fé e prática. O próprio Deus pôs a Palavra acima de Seu nome (Sl.138:2), como também afirmou que Sua prioridade é velar pelo seu cumprimento (Jr.1:12).
– Em Seu ministério terreno, Jesus não agiu diferentemente. Também afirmou que as Escrituras não podem ser anuladas (Jo.10:35), são portadoras da vida eterna (Jo.5:39), como também são A Verdade (Jo.17:17), tendo, inclusive, ao dizer isto, pedido ao Pai que santificasse Seus discípulos por meio desta mesma Palavra.
– Os apóstolos, na igreja primitiva, jamais deixaram de autenticar a sua pregação com a Palavra de Deus, como revelam todos os sermões e ensinos registrados em o Novo Testamento. Não há, pois, como deixar de observar que a própria Bíblia afirma ser a única regra de fé e de prática de um servo do Senhor.
– Não bastasse a própria afirmação da Bíblia, temos que, ao longo da história de Israel, todos quantos procuraram se rebelar contra a autoridade das Escrituras foram apresentados como pessoas que se fizeram inimigas da vontade de Deus, demonstrando, claramente, que a desconsideração da autoridade das Escrituras é atentado contra o próprio Deus.
– São diversos os exemplos, mas citemos apenas alguns a título de ilustração:
a) Saul, o primeiro rei de Israel, foi rejeitado por Deus porque preferiu sacrificar a obedecer à Palavra do Senhor (I Sm.13:8-14).
b) Davi, mesmo sendo um homem segundo o coração de Deus, viu transformar-se em tragédia uma festividade que realizou para levar a arca de Deus para Jerusalém, por não ter atentado à lei do Senhor (II Sm.6:3-9; II Cr.15:1-3).
c) O povo do reino de Israel, o reino das dez tribos do Norte, perdeu a sua terra e a sua identidade, até o dia de hoje, porque rejeitou o conhecimento de Deus, ou seja, a observância da Sua Palavra (II Rs.17:7-23).
d) O povo do reino de Judá, o reino das duas tribos do Sul, perdeu a sua terra, que descansou durante setenta anos, por não ter cumprido a determinação do ano sabático (II Cr.36:21,22).
e) Os saduceus são apontados por Jesus como pessoas que viviam erradamente sob o ponto-de-vista espiritual por não conhecerem as Escrituras, ou seja, não a observarem, erro este que levou à total destruição deste partido judeu quando da destruição do templo de Jerusalém no ano 70 d.C. e a derrota definitiva para os
romanos no ano 135 d.C. (Mt.22:29; Mc.12:24; Mc.12:27).
OBS: “…O conflito entre os saduceus aristocráticos e os fariseus plebeus — além das divergências doutrinárias era de caráter político e social.
Seus agrupamentos representavam interesses de classe opostos, e a animosidade continuou até a debacle do heroico Bar Kochba em sua revolta contra os romanos, em 135 d.C. Contudo, o poder secular e religioso dos saduceus já havia sido abalado anteriormente em 70 d.C. (por ocasião da Destruição do Templo) e havia sido enterrado com a caliça do edifício do Templo e as ruínas políticas do Estado Judeu…” (AUSUBEL, Nathan. Saduceus. In: A JUDAICA, v.6, p.753).
– Apesar destes exemplos bíblicos, não foram nem são poucos os que se encontram na mesma e triste lamentável situação dos saduceus, errando por não conhecerem as Escrituras e lhes negando autoridade, embora se digam, como o faziam os saduceus, “defensores intransigentes das Escrituras” e isto porque, assim como os saduceus, embora afirmem prestigiar o texto sagrado e reconhecer-lhe a autoridade, diminuíam-no na prática de seus atos.
Os saduceus, por exemplo, somente criam nos cinco livros da lei, desprezando todas as demais Escrituras, como se elas não fossem igualmente inspiradas por Deus. De igual modo, estes “modernos saduceus” promovem muitos erros porque não aceitam a autoridade da Bíblia Sagrada.
– Assim, existem aqueles que, embora digam que as Escrituras têm autoridade, não a consideram “a única autoridade”.
É o que ocorre, por exemplo, com a Igreja Romana, que, ao lado das Escrituras, consideram também como igualmente autoritária a “Tradição”, ou seja, os costumes e os ensinamentos surgidos ao longo da história daquela instituição. Como, porém, podem costumes e ensinamentos humanos ter o mesmo valor da Palavra de Deus?
OBS: A Igreja Romana põe em pé de igualdade as Escrituras e a Tradição, o que é completamente errado. Transcrevemos um dentre muitos
textos doutrinários romanistas que confirmam esta posição equivocada: “…não é através da Escritura apenas que a Igreja deriva sua certeza a respeito de tudo que foi revelado.
Por isso ambas [Escritura e Tradição] devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência. (Constituição dogmática “Dei Verbum”, n.9).
– Este era o equívoco dos fariseus, outro grupo religioso existente nos dias de Jesus e que rivalizava com os saduceus. Enquanto os saduceus desprezavam parte das Escrituras, os fariseus, embora reconhecessem todas as Escrituras de então (o Antigo Testamento), acrescentaram a elas uma série de mandamentos e prescrições, que denominavam de “cerca da Torá”, “mandamentos preventivos”, que tinham por objetivo dar condições para que se pudesse cumprir a lei de Deus.
– Nesta atitude, eles transformaram meros “mandamentos de homens” (Mc.7:7) em algo equiparável à Palavra de Deus, o que é, evidentemente, um rotundo absurdo, pois, por primeiro, Deus não precisa ser complementado pelo homem; por segundo, jamais algo proveniente da mente humana terá o mesmo valor de algo proveniente do Senhor (Is.55:8,9).
– Nada pode ser colocado ao lado e, muito menos, acima da Bíblia Sagrada. Ela deve ser a única regra de fé e de prática.
As heresias e falsas doutrinas sempre apresentam outros “escritos”, outras “revelações”, que buscam “complementar” as Escrituras, mas tudo deve ser sumariamente rejeitado, pois só à Sua Palavra o Senhor engrandeceu.
Jesus foi bem incisivo ao afirmar que somente a Palavra de Deus permanece para sempre (Mt.24:35; Lc.21:33; I Pe.1:23,25). Não é à toa que, em nossa declaração de fé, é dito que a Bíblia Sagrada é a “única revelação escrita de Deus” (DFAD, Cap. I, p.23).
– Nos dias difíceis em que vivemos, precisamos tomar cuidado para que nada seja igualado à Palavra de Deus. A Bíblia Sagrada deve ser a nossa única regra de fé e de prática. Até mesmo as manifestações espirituais devem ser julgadas à luz da Palavra de Deus (I Co.14:29,32 combinado com Jo.7:24).
Nestes dias, somente quem se agarrar à Palavra do Senhor poderá resistir até o dia do arrebatamento da Igreja!
III – AS EVIDÊNCIAS INTERNAS E EXTERNAS DA ORIGEM DIVINA DAS ESCRITURAS
– A Bíblia Sagrada é a Palavra de Deus, porque o Senhor assim no-la mostra nas Escrituras, o que basta para crermos em tal realidade.
– No entanto, como o nosso Deus não é Deus de confusão (I Co.14:33), temos, ao lado da fé em Deus, que nos faz crer piamente que a Bíblia é a Palavra de Deus, diversas evidências, internas e externas, a respeito da origem divina das Escrituras, de sua condição de ser verdade.
– “Evidência”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “qualidade ou caráter de evidente, atributo do que não dá margem à dúvida”, palavra que vem do latim “evidentia” e do grego “enargeia”, cujo significado é “visibilidade, clareza, transparência”.
– Assim, para que não haja qualquer dúvida quanto à origem divina e a qualidade verdadeira das Escrituras, o Senhor mostra a todos os homens, pelo próprio exercício da razão, o caráter diferenciado da Bíblia Sagrada em relação aos demais livros, às demais obras existentes na literatura humana.
– Em primeiro lugar, temos a unidade do texto bíblico. Como dissemos, a Bíblia é uma coletânea de diversas obras.
Veja que o nome “Bíblia” é um nome plural. Trata-se de uma palavra grega que significa “os livros”. Tem-se, portanto, que a Bíblia é uma “biblioteca”, uma “coleção de livros”, que hoje nós encontramos em um único exemplar mas que, no princípio, eram separados, os chamados “rolos” ou “livros”, como vemos, até hoje, nas sinagogas judaicas.
– São 66 livros, que foram produzidos num período de 1.500 a 1.600 anos, por diversos autores, cerca de 40, que viveram em épocas, lugares e circunstâncias completamente diferentes.
Entre os autores da Bíblia, temos desde pessoas letradas e altamente eruditas, como Moisés e Paulo, como pessoas humildes, de pouca escolaridade, como Amós e Pedro.
Temos pessoas que pertenciam a elite das sociedades onde viviam, como Moisés, Isaías, Jeremias e Paulo, como pessoas das camadas populares, como Amós, Pedro ou Oseias.
Temos escritores que produziram suas obras em circunstâncias favoráveis, como Salomão, Daniel, Natã e Gade, que viviam em ambiente palaciano quando produziram seus escritos, como autores que escreveram em situações aflitivas e difíceis, como João, que estava preso quando escreveu o Apocalipse, ou Jeremias, que estava preso também quando ditou o núcleo de seu livro a Baruque e Davi, que escreveu vários de seus salmos em meio à perseguição que sofria do rei Saul.
– Diante de tais constatações, era de se esperar que a Bíblia Sagrada fosse um livro extremamente variado, sem qualquer unidade, sem um fio condutor, um mosaico da cultura hebraica.
Entretanto, é ela um livro único, que mantém uma unidade, que não contém contradições, que, para mais uma vez nos lembrarmos do saudoso pastor Severino Pedro da Silva, “que se combina em cada detalhe”.
– Há uma unidade no texto bíblico que indica ter ele a mesma autoria, apesar da diversidade de autores e de seus estilos, apesar das circunstâncias tão diversas em que foi produzida.
Esta unidade do texto bíblico, esta ausência de contradição mostra que se está diante de uma obra divina, temos uma evidência de que a Bíblia é a Palavra de Deus e, mais, de que é um livro diferente de todos os demais, pois todos os outros possuem contradições, quebra de harmonia.
– A unidade é uma evidência interna, porque oriunda do interior do próprio texto bíblico, do seu próprio conteúdo.
– A segunda evidência interna das Escrituras é o seu cumprimento. Como dissemos acima, citando o pastor Severino Pedro da Silva, “nem todos os homens cumprem a Palavra de Deus, mas ela se cumpre na vida de todos os homens”.
– O que está contido nas Escrituras cumpre-se todos os dias na vida das pessoas. A Bíblia disse que, por causa do pecado, o homem é pó e ao pó tornará (Gn.3:19), e, todos os dias, milhares de pessoas são sepultadas em cumprimento a esta Palavra.
Todos os dias pessoas creem que Jesus é o Salvador e tem as suas vidas transformadas e tal transformação é testemunhada por todos, crentes ou incrédulos, a demonstrar que quem está em Cristo, nova criatura é, tudo se fez novo (II Co.5:17).
– Como se não bastasse isso, vemos que as profecias bíblicas se cumpriram ou estão se cumprindo, numa clara demonstração da origem divina das Escrituras.
As profecias messiânicas registradas pelos profetas de Israel foram cabalmente cumpridas em Cristo, como demonstram os Evangelhos, de forma irrefutável, pois, por exemplo, não há como negar a anterioridade dos textos de Isaías aos episódios que cercaram a vida terrena de Jesus, ou, então, os textos de Daniel e os episódios históricos ocorridos no chamado período intertestamentário.
– Mas, além do seu conteúdo ser confirmado, demonstrando a sua veracidade e a sua autenticidade, temos também evidências externas, ou seja, fatores que mostram ser a Bíblia uma obra diferenciada das demais e digna de crédito, por conta de fatos que não decorrem de seu conteúdo mas de outros elementos.
– Assim, por exemplo, temos o testemunho advindo da arqueologia, ou seja, da ciência que estuda vestígios materiais da presença humana, sejam estes vestígios antigos, com o objetivo de compreender os mais diversos aspectos da humanidade. Os arqueólogos se ocupam de descobrir artefatos, objetos que permitam entender como o homem vivia no passado, que permitem descobrir o passado.
– Pois bem, desde que começou a se desenvolver esta ciência, diversas descobertas de objetos, feitos em escavações realizadas nas chamadas “terras bíblicas”, ou seja, os lugares mencionados no texto bíblico, têm confirmado o relato das Escrituras, sendo, portanto, uma espécie de confirmação de sua veracidade.
– Diversas teorias que começaram a surgir, principalmente, a partir do século XVII, inclusive de pessoas que se diziam estudiosas da Bíblia Sagrada, que começaram a pôr em dúvida a veracidade das narrativas bíblicas, têm sido, uma a uma, desmontadas e desmentidas, nas últimas décadas, pelas descobertas advindas das escavações arqueológicas, que têm confirmado o texto das Escrituras.
– Temos aqui, portanto, uma evidência externa da autoridade das Escrituras, uma confirmação de sua veracidade, embora, como crentes que somos, não vinculemos nossa fé na Bíblia às descobertas arqueológicas.
– Outra evidência externa das Escrituras é a confiabilidade de seu texto. O Novo Testamento, segundo todos os critérios existentes, é a obra antiga de maior confiabilidade que há, porque contém manuscritos com variantes irrelevantes de um período muito próximo à sua elaboração, pois as cópias mais antigas encontradas são de décadas posteriores à sua produção, o que não acontece com qualquer outro livro, pois, por exemplo, as obras de Platão, as mais preservadas da Antiguidade, têm séculos de distância dos manuscritos que seriam originais.
– Esta evidência, inclusive, fortaleceu-se com a descoberta dos “manuscritos do Mar Morto”, os mais antigos manuscritos do Antigo Testamento, descobertos em 1947, que eram quase que 500 anos mais antigos que os textos mais antigos então conhecidos, quando se percebeu serem eles praticamente idênticos aos demais textos, com variações igualmente irrelevantes, numa clara demonstração de que Deus tem preservado, ao longo dos séculos, o texto da Sua Palavra.
– Nenhuma outra obra tem este grau de confiabilidade, a nos mostrar que se trata de livro singular, do livro divino que Deus quis produzir para levar o homem à salvação, à redenção em Cristo Jesus. Por isso, podemos dizer como o poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão: “Creio eu na Bíblia, livro de meu
Deus, para mim a Bíblia é o maná dos céus, mostra-me o caminho para o lar celestial, acho eu na Bíblia, graça divinal” (coro do hino 259 da Harpa Cristã).
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/6977-licao-1-a-autoridade-da-biblia-i