LIÇÃO Nº 8 – A LEI E OS EVANGELHOS REVELAM JESUS
INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo da Bibliologia, entraremos na chamada “síntese bíblica”, um resumo dos livros das Escrituras Sagradas.
– O Pentateuco e os Evangelhos são uma revelação de Jesus Cristo.
I – O PENTATEUCO
– No estudo da Bibliologia, entraremos agora na chamada “síntese bíblica”, um resumo dos livros das Escrituras Sagradas, a fim de bem conhecermos a estrutura da Bíblia.
– Começaremos tratando, a um só tempo, do Pentateuco, os livros da lei, a chamada Torá, e dos Evangelhos, que narram o ministério terreno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
– Bem sabemos que o assunto das Escrituras é Cristo e veremos este cristocentrismo nestas duas porções, pois, se a lei foi escrita para apontar o “profeta como Moisés” (Dt.18:15-19), os Evangelhos mostram como este “profeta como Moisés” viveu entre os seus irmãos israelitas.
– A Bíblia trata o Pentateuco como uma só obra, chamando-a de a lei de Moisés, seja no Antigo, seja em o Novo Testamento.
A divisão que se fez em cinco livros decorreu muito mais do fato de os rolos dos escritos terem sido divididos em cinco ao longo dos séculos, divisão que foi seguida no momento da tradução das Escrituras para o grego (a Septuaginta).
Inobstante, a existência de uma conjunção “e” no início de cada livro e o fato de os ju terem denominado o título de cada livro unicamente com as palavras iniciais de cada livro, demonstram que há, entre eles, uma unidade, unidade esta que tem sido alvo de grande questionamento por parte da chamada “crítica bíblica”. Contudo, os servos do Senhor devem ter a mesma posição que teve Jesus, que sempre considerou a lei como uma só obra.
– A palavra “Pentateuco” é uma palavra grega, que significa “cinco estojos” ou “cinco receptáculos”, indicando que se tratava de escritos que, tradicionalmente, eram copiados em cinco rolos, que eram lidos pelos ju nas sinagogas, após o retorno do cativeiro da Babilônia.
Até os dias de hoje, os ju lêem a “Torah” completa durante um ano inteiro, tanto que o Pentateuco foi dividido em 54 porções, as chamadas “parachas”, para que esta leitura seja realizada exatamente no período de um ano.
– A Bíblia indica que se trata de uma obra única, porém, não de cinco livros separadamente elaborados. Ao lermos Dt.31:24-26, percebemos claramente que se trata de uma só obra, pois ali se fala em só livro, todo ele escrito por Moisés.
Esta consideração da lei como um todo, como uma só obra, é repetida em todas as Escrituras (Js.1:8; II Rs.14:6, 22:8; Ne.8:1,3; 9:3; Dn.9:3; Ml.4:4; Gl.3:10).
O próprio Jesus sempre fala na lei como uma coisa só, uma unidade (Lc.24:44; Jo.5:45,46; 7:19), o que foi seguido, depois, pelos discípulos e apóstolos ( Ate.26:22; 28:23).
– Como já dissemos, a lei de Moisés, denominada de “Torah”, era dividida costumeiramente em cinco rolos, ou seja, em cinco livros (não nos esqueçamos que se considerava um livro cada um dos rolos de papiro ou de pergaminho em que era escrito algum texto), cada um denominado pelos ju com as suas palavras iniciais. Assim, os ju identificaram cada livro com os seguintes nomes :
“Berishit”, para o primeiro livro, que se inicia com esta palavra hebraica, que significam “no princípio”;
“Shemoth”, para o segundo livro, que se inicia com esta palavra, que significa “nomes”;
“Vakhyra”, para o terceiro livro, que se inicia com esta palavra, que significa ” e chamou”;
“Bamidbar”, para o quarto livro, que se inicia com esta palavra, que significa “no deserto” e,
por fim, “Devarim”, para o quinto e último livro, que se inicia com esta palavra, que significa “palavras”.
– Quando as Escrituras foram traduzidas para o grego, os tradutores deram um título a cada um dos livros, conforme a mensagem preponderante neles contidas.
Ao primeiro livro, por tratar das origens de todas as coisas, deram o nome de “Gênesis” (palavra grega, que significa “origem”);
ao segundo livro, cujo assunto principal é a saída do povo de Israel do Egito, denominaram de “Êxodo”( palavra grega que significa “saída”);
ao terceiro livro, cujo principal tema são as regras a serem observadas pelos sacerdotes nos sacrifícios e demais ritos estabelecidos pela lei, denominaram “Levítico” (referente aos levitas);
ao quarto livro, que tem seus pontos mais importantes referentes aos dois grandes recenseamentos feitos no povo de Israel por Moisés, denominaram de “Números” e ao
quinto e último livro, que era uma repetição da lei por Moisés antes de sua morte, denominaram de “Deuteronômio” (palavra grega que significa “segunda lei” ou “a lei pela segunda vez”).
Estes nomes da Septuaginta acabam se universalizando, até porque diziam respeito ao tema dos livros e eram nomes gregos, sendo o grego a língua mais difundida neste período da história, tendo, ademais, sido os títulos acolhidos pela versão latina das Escrituras, o que tornou estes nomes universalmente aceitos.
– É importante, aqui, também salientar que quando falamos do Pentateuco como sendo “a lei de Moisés”, pode nos vir a ideia de que a expressão seria inadequada, já que o conteúdo dos livros de Moisés não é apenas referente à legislação que regeu o povo de Israel no seu relacionamento com , até porque sabemos que o período envolvido pelo Pentateuco, desde a criação até a morte de Moisés, envolve cinco dispensações, ou seja, seis diferentes relacionamentos entre e os homens, dos quais a lei é apenas o último deles.
Com efeito, dentro do Pentateuco, mais precisamente no livro do Gênesis, temos a descrição da dispensação da inocência, da dispensação da consciência, da dispensação do governo humano e da dispensação patriarcal.
– A lei somente entrará em cena no capítulo 20 do livro do Êxodo. Entretanto, quando se está a falar em “lei de Moisés, não devemos ter a ideia de que os livros tratam apenas desta dispensação, iniciada no Monte Sinai, nem que a expressão “lei de Moisés” contenha a ideia de que estamos a tratar de normas de conduta, de regras de convivência, que é a ideia que nos vem quando falamos em “lei”.
– Antes de tudo, “lei” é palavra que significa “algo que deve ser lido”. “Lei” vem de “lex”, que, em latim, por sua vez, significa “algo que deve ser lido”.
Quando falamos em “lei de Moisés”, estamos, muito mais que falando em regras, muito mais que falando na dispensação da lei, estamos querendo dizer que se trata de algo que Moisés escreveu e que deve ser lido.
Este sentido, aliás, é que explica porque em Roma, berço da cultura jurídica universal, chamava-se de “lex” a chamada “lei das Doze Tábuas”, que foi a primeira lei romana que foi escrita e que, por isso, podia ser objeto de leitura.
Quando se fala em “lei de Moisés”, no sentido de que estamos tratando aqui, estamos, antes de mais nada, falando de algo que Moisés escreveu e que deveria ser lido pelo povo.
– Por isso, o Pentateuco, embora tenha como parte preponderante de seu conteúdo a presença de normas de conduta, de regras morais e cerimoniais, que o povo de Israel deveria observar em seu relacionamento com , não se limita a isto.
– Temos, também, diversas narrativas históricas, notadamente as que se referem às origens do mundo e do povo de Israel, a vida dos patriarcas, bem assim a história da libertação de Israel e de sua peregrinação no deserto, bem como passagens de louvor e adoração a (os cânticos de Miriã e de Moisés) e até mesmo importantes e relevantes profecias.
Trata-se, assim, de um conteúdo variado, tudo escrito por Moisés e que deve ser objeto de leitura pelo povo de .
– Quando se discute a autoria do Pentateuco, parece-nos que se está a questionar algo que as Escrituras deixam claro e evidente.
No próprio Pentateuco, já há algumas passagens que apontam, com clareza, que se trata de uma obra de Moisés. Em Dt.31:24-26, não há dúvida alguma de que o livro foi escrito por Moisés, que, após terminá-lo, mandou que fosse colocado ao lado da arca do concerto, para que servisse de testemunho contra o povo de Israel.
Em diversas passagens das Escrituras, a autoria de Moisés é realçada. é o primeiro a confirmá-la, logo após a morte de Moisés, como se vê no introito do livro de Josué (Js.1:7,8), um testemunho insuspeito, pois, humanamente falando,
seria muito mais vantajoso a Josué dizer algo diverso do que o Senhor lhe disse, para poder reforçar a sua autoridade, num momento delicado como o que passava Israel pela perda de seu grande líder, povo, aliás, cuja obediência ao novo patriarca estava condicionada a uma demonstração de que estava com Josué assim como estivera com Moisés (Cf.Js.1:17).
– Na sequência das Escrituras, temos inúmeras referências de que Moisés é o autor do conteúdo do Pentateuco (Jz.3:4; I Rs.2:3; II Rs.18:6; I Cr.22:13; Ne.13:1; Ed.6:18; Dn.9:11; Mc.12:19; Lc.16:29; Jo.5:45; 9:28,29; At.13:29), inclusive o próprio Jesus atribuiu a lei a Moisés, motivo pelo qual não devemos ter dúvida alguma a respeito disto.
– Ao falarmos na autoria do Pentateuco, devemos observar a autoria do último capítulo do Deuteronômio, que fala da morte de Moisés e que contém um grande elogio da pessoa de Moisés. A atribuição da autoria do Pentateuco a Moisés foi contestada, algumas vezes, exatamente por causa desta parte final do livro.
Solomon Schechter chegou a alicerçar sua teoria de que o Pentateuco não foi escrito por Moisés exatamente porque não seria possível alguém relatar a sua própria morte. Entende-se, porém, que esta parte final do livro do Deuteronômio foi escrito por outrem, que a tradição judaica considera tenha sido Josué.
II – A IMPORTÂNCIA DO PENTATEUCO
– O conjunto dos livros denominados de Pentateuco ou Lei é um conjunto fundamental das Escrituras. É aqui que nós iremos observar o próprio núcleo da revelação divina para o Seu povo Israel e os alicerces de toda a revelação do plano divino para a humanidade.
Com efeito, são os livros da lei que explicam a origem de todas as coisas, inclusive do próprio povo de Israel, onde se apresenta o plano de para a humanidade e em torno do que gira todas as demais obras do Antigo Testamento.
– O próprio Jesus, na Sua tentação, utilizou para repreender o diabo apenas passagens do Pentateuco (Mt.4:4 é citação de Dt.8:3; Mt.4:7 é citação de Dt.6:16 e Mt.4:10 é citação de Dt.6:13 e 10:20), numa clara demonstração de que como nele se encontra o próprio âmago do Antigo Testamento.
Aliás, Jesus foi enfático ao dizer que não tinha havido para ab-rogar a lei, mas para cumpri-la (Mt.5:17). Noutra oportunidade, Jesus fez questão de afirmar que o assunto de Moisés era o próprio Cristo (Jo.5:46).
– Entre os ju, o Pentateuco é a parte de maior autoridade nas Escrituras, tanto que consideram que a Torah está acima dos demais escritos, preocupando-se em lê-las anualmente na íntegra, servindo os demais escritos, ainda que considerados divinamente inspirados, como complementação, explicação e ilustração do Pentateuco.
– Mesmo os saduceus, que negavam a existência de uma espiritualidade, reconheciam a autoridade divina do Pentateuco, ainda que somente do Pentateuco, mas isto revela que, mesmo um segmento religioso fortemente influenciado pelo materialismo, como eram os saduceus, não conseguiam, dentro do ambiente cultural hebraico, deixar de reconhecer a validade e a autoridade dos livros da Lei de Moisés.
OBS: “…Enquanto os outros dezenove ‘livros’ da Bíblia eram venerados em diversos graus de intensidade como sendo de inspiração divina, foi o Pentateuco, a Torah, o primeiro a alcançar a altura suprema da santificação.
Constituía a fonte primordial e imutável da religião e da forma de vida judaica. Por vinte e quatro séculos – desde 444 a.E.C. quando Esdras, o Escriba, o consagrou como as Escrituras e, junto com os sacerdotes e os levitas, o ministrou e explicou ao povo reunido diante do Portão da Água do Templo no monte Sion – os ju seguiram fielmente o caminho que seus antepassados tinham delineado para eles: seguir a Torah de que foi concedida por Moisés, o servidor de , e cumprir todos os seus mandamentos.’.
Os judeus devotos sempre encararam a Torah com respeito além de amor e exaltação. Reverenciavam-na, sobretudo, como o repositório de toda a verdade; declaravam-na perfeita, inalterável, e perene, pois não tinha sido elea revelada por diretamente a Moisés para a orientação de Israel no caminho da virtude de para a sua redenção final ? …” (AUSUBEL, Nathan. Bíblia. In: A Judaica, v.5, p.83-4).
– É no Pentateuco que se encontra a revelação mais clara e evidente da divindade em todo o Antigo Testamento.
Com efeito, no Pentateuco, revela-Se de forma singular, seja como o Criador (na criação de todas as coisas), seja como o Senhor (é o que mostra Seu senhorio sobre a terra em episódios como o dilúvio, a torre de Babel, a formação e posterior libertação do povo de Israel), seja como um ser moral ( mostra todo Seu caráter moral na lei, a começar dos dez mandamentos).
Posteriormente, surgirá como o orientador em situações precisas, como o revelador do futuro, mas nunca mais, até a chegada de Jesus, apresentará uma revelação tão ampla quanto a que efetua nos livros da lei de Moisés. É por isso até que se encontra registrado que a revelação a Moisés era diferente da dos demais homens de (Dt.34:10).
– Se para os ju, o Pentateuco é a expressão máxima da Palavra de , não menos importante é ele para os cristãos.
Como já dissemos, sua excelência encontra-se confirmada por Jesus que a Ele recorreu para vencer Sua tentação contra o diabo, que resumiu Seu ministério como o cumprimento da lei (Mt.5:18), que fez questão de mostrar ao povo que estava a cumprir exatamente o que Moisés havia prescrito e predito (Jo.5:45,46).
– A importância do Pentateuco era tão grande que houve, mesmo, a necessidade de os apóstolos, em especial Paulo, demonstrarem que, com a mudança dispensacional, muitas das regras do Pentateuco tinham tido seu literal cumprimento em Cristo e, por isso, perdido a sua vigência. Não é outro o tema da epístola aos Hebreus.
– A relevância do Pentateuco está, por fim, no fato de que tudo que se origina ali tem seu complemento e término em o Novo Testamento.
A correlação entre o Gênesis e o Apocalipse é algo que tem admirado os estudiosos da Bíblia através dos séculos e uma comprovação inequívoca de que são estes os momentos inicial e terminal de toda a revelação divina para a humanidade.
Daí porque podermos afirmar que toda a argumentação que foi criada contra a autenticidade do Pentateuco nada mais é que uma artimanha, uma cilada do inimigo de nossas almas para tentar desacreditar a Bíblia Sagrada, pois o adversário tem plena consciência que é no Pentateuco que está construído o alicerce de todas as Escrituras.
OBS: Cabe aqui uma consideração de Nathan Ausubel, autor da parte referente ao Conhecimento Judaico na Enciclopédia Judaica e que se mostra favorável à crítica bíblica, que é muito pertinente quanto a todo este cipoal de teorias e argumentações que têm em vista apenas retirar a credibilidade das Escrituras:
“…Contudo, a bem da objetividade, cabe aqui uma palavra de cautela. Essas classificações, divisões e subdivisões do material das Escrituras, inclusive as datas, são grandemente sujeitas a inferências e conjecturas.
Millar Burrows (especialista bíblico protestante, observação nossa) comenta, em Que Significam essas Pedras ?, que algumas delas ‘repousam sobre premissas falsas e esquemas de desenvolvimento histórico irreais e artificiais.
E que deve fazer o paciente (o leigo) quando os médicos (os especialistas bíblicos) discordam ? Deve fazer o mesmo que em outras questões: escolher as melhores autoridades que possa encontrar e confiar nelas, mas não demais, depositando mais confiança num consenso geral do que em um escritor.” (Bíblia. In: Judaica, v.5, p.88).
Assim, seguindo o próprio conselho de Ausubel, que também escreveu que “… é evidente que deve haver certa validade na tradição de que Moisés escreveu os Cinco Livros de Moisés;
a memória popular – apesar de exagerar, às vezes, romanticamente – pode eventualmente ser mais precisa e exata do que um texto escrito, que foi muitas vezes adulterado…”(op.cit., p.85), fiquemos com a tradição confirmada por Jesus e tenham a convicção de que o Pentateuco é uma unidade literária, escrita por Moisés e que se constitui na base de todas as Escrituras Sagradas.
III – JESUS NO PENTATEUCO
– Ora, se dissemos que o Pentateuco é uma porção das Escrituras em que se tem uma clara revelação da Divindade, é evidente que vemos que, nos livros da lei, a revelação de Jesus Cristo tem de estar presente de forma sem igual.
– Já vemos Jesus como a Palavra criadora nas primeiras páginas do Pentateuco, quando é narrada a criação.
“Disse ” é expressão que vemos no capítulo 1 do livro do Gênesis e que o apóstolo João nos revelará que se trata do Verbo que é , por meio do que tudo se fez (Jo.1:1-3).
– No episódio da queda, Jesus mostra-Se como a “semente da mulher” que haveria de pôr inimizade entre a serpente e a humanidade (Gn.3:15), sendo, de pronto, tipificado na figura do animal morto para que pudesse o primeiro casal ter vestes condizentes (Gn.,3:21),
iniciando-se o que já se denominou de “rastro de sangue” que culmina com o derramamento do sangue de Jesus na cruz do Calvário, o antítipo de todos estes sacrifícios voltados para o restabelecimento da comunhão entre e o homem.
– Abel é o primeiro justo inocente a morrer, precisamente porque era justo, em outra tipificação de Jesus, que seria o próprio a mencionar esta sucessão de sangue inocente derramado em todas as Escrituras hebraicas (Mt.23:35; Lc.11:51), a demonstrar a necessidade de se restabelecer a justiça entre a humanidade.
– Com Noé e o dilúvio, vemos a arca salvadora daqueles que resolvem servir a em meio ao pecado disseminado, em mais uma figura do Salvador que haveria de poupar aqueles que n’Ele cressem do juízo vindouro, juízo anunciado por cerca de mil anos, desde os dias de Enoque, alguém que andou com e que, por isso, foi tomado pelo próprio Senhor, a nos mostrar que quem anda com está livre da morte e do juízo.
Na arca, foi a pomba quem guiou o patriarca no seu retorno à terra firme, a nos mostrar que, em Cristo, guiados pelo Espírito Santo, estaremos seguros para retornar à terra celestial.
E o Senhor Jesus fez questão de lembrar que os dias da Sua segunda vinda serão semelhantes aos dias de Noé (Mt.24:35).
– Em Babel, vemos, uma vez mais, o desprezo à Palavra de e as consequências de tal atitude. A rebeldia leva à confusão, à desunião, a proposta humanista afasta a humanidade de e aí entendemos o surgimento de um sistema rebelde que controle o poder político, o poder religioso e o poder econômico e que tantas mazelas traz a todos os homens.
– Por causa deste mundo sem e sem salvação, rebelde e soberbo, o Senhor forma, então, uma nação a partir de Abrão e da estéril Sarai, revelando-Se o Senhor da vida, mantendo, assim, a Sua promessa de salvação.
Em Abrão, seriam benditas todas as famílias da Terra (Gn.12:1-3), por meio de sua “semente” (Gn.12:7), mais uma expressão relacionada ao Senhor Jesus (Gl.3:16). A “semente da mulher” era também a “semente de Abrão”.
– , então, cumpre a Sua promessa, formando esta nação, por meio dos patriarcas, preservando esta descendência fazendo-a descer ao Egito, onde, previamente, havia levantado José, filho de Israel, como governador, para que fosse o “Zafenate Paneia”, ou seja, o “salvador do mundo”, em mais um eloquente tipo da figura de Cristo.
– Após a morte de José e daqueles que o conheciam, permitiu o Senhor que os israelitas passassem a ser oprimidos do Egito para que dali desejassem sair, indo para a terra que lhes havia sido prometida, e, para esta missão de libertação, prepara a Moisés, que, preparado para ser a filha de Faraó, decidiu ter a sorte do seu povo, assumindo o que o escritor aos hebreus denominará de “vitupério de Cristo”.
Surge assim um profeta que seria mais um tipo do Senhor Jesus, alguém que falava com o Senhor boca a boca (Nm.12:7,8), que operava sinais, prodígios e maravilhas (Dt.34:10-12), uma singularidade levantada por precisamente para deixar indicadores que permitissem ao povo identificar o Messias. A “semente de Abrão” seria também “o profeta como Moisés”.
– A narrativa da Torá, portanto, tinha a missão precípua de mostrar, por intermédio dos episódios que envolveram a liderança de Moisés, as características do Cristo que haveria de vir.
– Mas , ao Se relacionar com Israel, que escolheu para ser a Sua propriedade peculiar dentre os povos (Ex.19:5,6), estabeleceu a lei, os 613 mandamentos que haveriam de reger a vida dos israelitas sobre a face da Terra, tornando-o um povo santo e um reino sacerdotal.
– Nestes mandamentos, tratou, também, o Senhor de mostrar Aquele que haveria de vir. Praticamente todas as disposições da lei apontam para Cristo, pois a lei, como diz o escritor aos hebreus, é “a sombra dos bens futuros e não a imagem exata das coisas” (Hb.10:1). Paulo afirma que a lei era o aio que conduziria o povo a Jesus (Gl.3:24).
– Assim, o cordeiro pascal, cujo sangue concedeu vida aos israelitas e providenciou a sua libertação da escravidão, apontava para Jesus, a nossa Páscoa (I Co.5:7), que nos libertou da escravidão do pecado (Jo.8:34-36) e nos concedeu vida com abundância (Jo.5:24; 10:10).
– De igual maneira, os dois cordeiros que eram diariamente sacrificados no tabernáculo em prol de todo o povo (Ex.29:38-46), assim como todos os animais sacrificados, apontavam para Cristo, o Cordeiro de que tira o pecado do mundo (Jo.1:29), cujo sacrifício perfeito era prefigurado nos sacrifícios de animais (Hb.9:11-14).
– O próprio tabernáculo, sendo a casa de , apontava, em todos os seus pormenores, para o Senhor Jesus, que tabernaculou entre nós (Jo.1:14).
– No deserto, diversas manifestações do poder e da glória de apontam para o Senhor Jesus: o maná, apontando para Jesus, o pão da vida (Jo.6:32-35);
a serpente que curou os israelitas que eram feridos pelas serpentes ardentes, apontando para o Cristo que, levantado na cruz, haveria de salvar o mundo da escravidão do pecado e do domínio da antiga serpente, o príncipe deste mundo (Jo.3:14,15); a rocha que dava água para o povo, apontando para Cristo que dá a água da vida (Jo.4:10-15; I Co.10:4).
– Nota-se, pois, que, no Pentateuco, em cada pormenor, vemos a figura de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, cuja vinda foi, uma vez mais, prometida no dia mesmo da entrega da lei, o que somente seria revelado por Moisés ao término do seu ministério (Dt.18:15-19).
IV – OS EVANGELHOS TÊM COMO PERSONAGEM PRINCIPAL O SENHOR JESUS
– Assim como a Torá apresenta não só os mandamentos da lei de Moisés mas a própria narrativa que dá os primórdios do mundo e do povo de Israel até a sua entrada na Terra Prometida e o início de sua história, em o Novo Testamento temos os Evangelhos, que nos mostram os mandamentos do Senhor Jesus, a Sua doutrina,
como também narram o Seu ministério terreno, a Sua passagem sobre a face da Terra, quando formou o novo povo de , a Igreja, preparando-a para que iniciasse a sua jornada e peregrinação até chegar às mansões celestiais.
– Por isso mesmo, embora não tenham sido os primeiros livros a serem escritos em o Novo Testamento, estes livros foram postos no introito da segunda parte das Escrituras, precisamente para que se mantivesse a simetria com as Escrituras hebraicas.
– Os Evangelhos não são apenas uma biografia do Senhor Jesus. Por primeiro, uma biografia deveria contar, com pormenores, a vida da personagem central e, neste ponto, vemos que há um silêncio total entre os doze e trinta anos da vida de Cristo, o que, numa biografia, jamais seria permitido, admitido ou tolerado.
– Os Evangelhos, sem se descurar dos aspectos biográficos de Jesus, notadamente os que confirmam a Sua messianidade, não têm este propósito, mas, sim, o de mostrar ao mundo que Jesus de Nazaré é o Cristo, o Messias, o Salvador do mundo, cumprindo todas as profecias que haviam sido proferidas e que realizou a obra da salvação.
– Por isso mesmo, os livros são denominados de “Evangelhos”, ou seja, são “boas novas”, “boas notícias”. São a mensagem de que Jesus, cumprindo as profecias, veio ao mundo para salvar a humanidade.
A palavra “evangelho” era comumente utilizada, naquela época, para dar nome ao anúncio dos feitos de um rei e, mais precisamente, do imperador romano, dias ou até meses antes de ele realizar uma visita a alguma localidade do Império.
– Naquele tempo, esta alta autoridade era precedida por um anunciador, o “arauto”, que divulgava as ações e vitórias alcançadas pelo rei ou imperador para que, quando ele chegasse, fosse devidamente reverenciado pela população que o receberia.
Frise-se, aliás, que havia uma divinização das figuras reais e do próprio imperador romano (Otávio, o primeiro imperador romano, assumiu o nome de Augusto – Lc.2:1, que significa divino e assim seus sucessores eram também tratados – At.25:21,25).
– Assim, ao chamarmos os livros que contam o ministério e vida terrenos de Jesus de “Evangelhos”, estamos dando a exata medida do que pretendem estas narrativas – anunciar os feitos de Jesus e mostrar, através deles, que Ele é o Filho de , o Salvador do mundo.
– Ao inspirar os quatro autores a redigir os Evangelhos, o Espírito Santo quis reduzir a escrito o Evangelho, este anúncio da vida e obra de Jesus para a salvação da humanidade que o próprio Cristo mandou que fosse pregado ao mundo (Mc.16:15).
– Alguns perguntam porque são quatro os Evangelhos, já que Jesus fala em “o Evangelho”, sendo único. Existem mesmo os que mostram que o fato de serem quatro os evangelhos, ter-se-ia aí uma fraqueza da mensagem, como costumam dizer os estudiosos muçulmanos.
– No entanto, quando se verifica a existência destes quatro evangelhos, temos não uma demonstração de fraqueza, mas, bem ao contrário, uma eloquente afirmação da completude divina, da multiforme graça de que mostra a pessoa e obra de Cristo sob quatro prismas, talvez para nos dar ideia da universalidade da mensagem da salvação, que abrange os “quatro cantos da Terra”, todos os lugares, já que são quatro os pontos cardeais.
– Já no tabernáculo, já tínhamos a indicação de que a obra salvífica de Cristo apresentava quatro aspectos, pois, na entrada da casa de , as cortinas eram de quatro materiais: linho fino torcido, pano azul, púrpura e carmesim (Ex.26:1).
– O profeta Ezequiel, ao contemplar a glória de e os seres celestiais que nela se destacam, os querubins, pôde perceber que cada um destes querubins possuía quatro faces: homem, leão, boi e águia (Ez.1:10).
– Assim, o Evangelho é um só, pois é a notícia de que Jesus veio salvar o homem, mas ele é apresentado sob quatro aspectos, daí porque dizermos em “Evangelho segundo Mateus”, “Evangelho segundo Marcos”, “Evangelho segundo Lucas” e “Evangelho segundo João”.
– Dois dos evangelistas foram participantes dos fatos que narraram. Mateus, o publicano que foi chamado ao colégio apostólico, mostrou o cabal cumprimento das Escrituras hebraicas na pessoa de Jesus, o “filho de Davi, filho de Abraão”.
É um evangelho voltado, primeiramente, aos ju, mas que também demonstra como Jesus veio cumprir o que acerca d’Ele estava escrito.
– O outro participante dos fatos é João, muito provavelmente o mais dos apóstolos, o pescador que se tornaria o apóstolo do amor.
Tendo sido o último a escrever, como que preenche as lacunas dos outros três evangelhos, fazendo jus até a própria profecia do Senhor registrada no próprio evangelho, que seria ele, João, aquele que completaria as próprias Escrituras.
– Dois dos evangelistas, porém, não presenciaram os fatos que narraram. Marcos deve tê-los acompanhado em parte, pois é ele identificado com aquele jovem que foge nu quando da prisão de Jesus (Mc.14:51,52), mas o que escreveu é considerado como lhe tendo sido relatado por Pedro (Cf. I Pe.5:13).
– Já Lucas, como ele próprio afirma, elaborou seu livro com base nos testemunhos que colheu de contemporâneos dos fatos, realizando, deste modo, uma acurada pesquisa, que acabou servindo de síntese da memória dos cristãos da primeira geração da Igreja.
– Esta diversidade de relatos e de autores que possui uma harmonia singular (tanto que uma das disciplinas teológicas é, precisamente, a Harmonia dos Evangelhos), é mais uma demonstração da credibilidade, fidelidade e divindade da Palavra de e do cuidado divino para com o registro da passagem do feito homem entre nós.
– O primeiro evangelho, e dizemos primeiro na ordem em que se encontra na Bíblia, sem discutir aqui questões cronológicas, o “Evangelho segundo Mateus”, apresenta o Senhor Jesus como “Filho de Davi, filho de Abraão” (Mt.1:1), destacando, de pronto, a condição real de Jesus, a Sua condição de israelita. Jesus é apresentado como o Rei, o que nos lembra a púrpura da cortina do tabernáculo e o rosto de leão dos querubins.
– Em Mateus, Jesus é Aquele que é reverenciado como rei dos judeus pelos magos do Oriente e causa a ira de Herodes, o Grande, então rei da Judeia; é Aquele que cumpre cabalmente as Escrituras, a demonstrar que é o Messias, o Filho de Davi; é Aquele que, como Rei, traz as leis de Seu reinado (o sermão do monte – Mt.5-7; as questões da tradição – Mt.15, do divórcio – Mt.19, do tributo – 22:15-22), como também explica como é o reino de (as parábolas do reino de – Mt.13, 18:1-14, 20:1-16; 21).
– O segundo evangelho, o “Evangelho segundo Marcos”, afirma, em seu introito, “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de ”, demonstrando bem ser o arauto do anúncio d’Aquele que há de vir.
Neste evangelho, porém, embora Jesus já seja apresentado como o Filho de , é Ele mostrado como o Servo das profecias messiânicas, tanto que já é apresentado pregando o Evangelho do reino de após a prisão de João (Mc.1:14), o que nos lembra o carmesim da cortina do tabernáculo e o rosto de boi dos querubins. Jesus veio cumprir o serviço da salvação, morrendo em nosso lugar na cruz do Calvário, realizando a obra dada a fazer pelo Pai.
É o evangelho que mostra Jesus trabalhando incessantemente, curando enfermos, expulsando demônios, realizando milagres.
– O terceiro evangelho, o “Evangelho segundo Lucas”, o mais pormenorizado, escrito pelo único autor gentio das Escrituras (se entender que Jó não escreveu o livro que leva seu nome), o cientista Lucas, mostra Jesus como o homem perfeito, a verdadeira sabedoria de (Lc.11:49), que satisfaz todos os requisitos exigidos pela cultura helenística quanto à perfeição, tanto que abundam no Evangelho as parábolas, demonstrações de Seu perfeito saber.
Jesus é o Filho do homem, a nos lembrar o linho fino torcido das cortinas do tabernáculo e o rosto de homem dos querubins.
– O quarto evangelho, o “Evangelho segundo João”, é diferente dos demais. Embora não se tenha, como já visto, um propósito biográfico nos três primeiros evangelhos, é inegável que eles nos trazem um resumo da vida e obra de Jesus, numa certa cronologia, a fim de abarcar os três anos e meio do ministério público do Senhor.
Por isso, são eles chamados de “evangelhos sinóticos”, pois trazem uma “sinopse”, um resumo da vida e obra de Jesus.
– O “evangelho segundo João”, no entanto, procura trazer provas da divindade de Jesus, para que as pessoas possam crer n’Ele e alcançar a salvação e, para isso, traz sete sinais praticados por Jesus, os quais, na sua grande maioria, não foram narrados nos outros evangelhos.
Além destes sinais, traz discursos do Senhor Jesus que elucidam a Sua obra salvífica. Este objetivo evangelizador é sentido até hoje pois é costumeiro método de evangelização a entrega de evangelhos segundo João aos pecadores que, ao lê-lo, convertem-se.
– Logo no começo do livro, João apresenta Jesus como , o Verbo que Se fez carne e habitou entre nós, o que nos faz lembrar do pano azul das cortinas do tabernáculo e do rosto de águia dos querubins, pois Jesus é Aquele que desceu do céu para depois subir a ele novamente (Jo.3:13). Em diversas passagens, Jesus é confrontado pelos ju precisamente por reivindicar a Sua divindade.
– Jesus é apresentado nos Evangelhos, portanto, como Aquele que veio da glória celestial, que já havia sido apresentada sob quatro aspectos, tanto tipologicamente no tabernáculo, como na visão dada pelo profeta Ezequiel, que até hoje tem sua imagem vinculada entre os ju como a do profeta que teve a visão da glória de .
– É o Filho de Davi, o Messias de linhagem real descrito nas profecias; é o Servo Sofredor, também descrito nas profecias; é o Homem perfeito, que, por isso, pode servir de exemplo a toda a humanidade; por fim, é que Se fez homem, revelando todo o Seu amor e pagando o preço dos nossos pecados.
– Nos quatro Evangelhos, é mostrado que Jesus nasceu de uma virgem, viveu como judeu observante da lei e que nunca pecou, que cumpriu a missão que Lhe foi confiada, que morreu por nós, sendo inocente, mas que também ressuscitou, mostrando que Sua morte representou o pagamento da justiça divina e a retomada da comunhão entre e o homem.
– Jesus, portanto, nos Evangelhos, é mostrado como o Senhor e Salvador do mundo, como Aquele que pode resgatar o homem do pecado e que, sendo seguido, levar-nos-á às mansões celestiais e a sua peregrinação terrena é a indelével prova de tudo isso, de modo que não temos como dizer não estar provado que Ele salva e nos garante a vida eterna.
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7010-licao-8-a-lei-e-os-evangelhos-revelam-jesus-i