LIÇÃO Nº 7 – A SUTILEZA DA RELATIVIZAÇÃO DA BÍBLIA
INTRODUÇÃO
– Satanás é o pai da mentira e, por conseguinte, odeia a verdade.
– Desde o Éden, o diabo tenta relativizar a Palavra de Deus.
I – A ORIGEM DA BÍBLIA ESTÁ EM DEUS
– Na sequência do estudo dos ataques contra a Igreja de Cristo, veremos hoje a sutileza satânica da relativização da Bíblia.
– O primeiro item de nossa Declaração de Fé fala da nossa crença na Bíblia Sagrada, de sua autoridade e ser ela a nossa única regra de fé e prática.
A colocação desta crença no início de nosso “Cremos” representou uma mudança em relação ao “Cremos” originariamente publicado desde 1969 no jornal “O Mensageiro da Paz”, onde era o segundo item, exatamente para que não haja qualquer dúvida de que, como herdeiros da Reforma
Protestante, consideramos que “Só as Escrituras têm autoridade absoluta” (o chamado “Sola Scriptura”), também revelando que toda e qualquer “declaração de fé” não tem qualquer valor “normativo”, mas tão somente a Bíblia Sagrada, que é a Verdade, a Palavra de Deus (Jo.17:17).
– A Bíblia é a Palavra de Deus. Ela mesma assim se define e o cumprimento exato de tudo quanto nela está desde os primórdios da história da humanidade é a prova irrefutável de que ela é, sem sombra de dúvida, a Palavra de Deus, a revelação de Deus aos homens.
Muitos têm tentado, ao longo dos séculos, levantar-se contra o Divino Livro, mas todos têm fracassado em seu intento de calá-la ou desacreditá-la, precisamente porque não se trata de uma obra feita pela mente, vontade ou imaginação humanas, mas tem sua origem, sua concepção e o zelo pelo seu cumprimento diretamente em Deus.
– No Sl.68:11a, é dito textualmente que “O Senhor deu a palavra”.
Em Hb.1:1, o escritor afirma que o Senhor falou antigamente aos pais pelos profetas de muitas maneiras e uma destas maneiras foram as Escrituras, que compunham “a lei e os profetas” (Mt.7:12; 22:40), lembrando-se que “a lei” foi escrita por Moisés (Dt.31:24), sendo ele próprio, Moisés, um profeta (Dt.34:10).
– Mas o escritor aos hebreus não diz que eram divinas apenas as Escrituras que são o Antigo Testamento, mas, também, afirma que passou Deus a falar pelo Filho, que é o Verbo de Deus (Jo.1:1).
– Ora, o Filho já era revelado por intermédio das Escrituras do Antigo Testamento (Jo.5:39) e continuou a sê-lo através do Novo Testamento, que é o registro determinado pelo Espírito Santo para tudo quanto Jesus ensinou (Jo.14:26; II Pe.3:16,17), Palavra esta que é a verdade e nossa fonte de santificação (Jo.17:17), pois, desde a antiga aliança, o Senhor utilizava do escrito para memória do que havia dito (Ex.17:14a).
– Não se tem, portanto, dúvida alguma de que a Bíblia provém diretamente de Deus, é a revelação do próprio Deus ao homem e, por isso, estamos diante da Palavra de Deus.
É interessante notar que nenhum outro livro sagrado das diversas religiões que existem sobre a face da Terra tem esta qualidade.
Embora se digam sagrados e frutos de revelações, jamais tais livros se apresentam como sendo a revelação do próprio Deus ao homem, como tendo origem no próprio Deus.
– O que mais se aproxima disto é o Corão, o livro sagrado muçulmano que, porém, segundo a crença islâmica, foi revelado a Maomé pelo anjo Gabriel e depois que ele teria descido do céu num instante anterior.
Tratar-se-ia, pois, de uma revelação mediada por um anjo, indireta, algo bem diferente daquilo que Deus efetivamente fez, quando revelou a Sua Palavra aos homens através da Bíblia Sagrada.
Além do mais, o Corão foi redigido posteriormente à morte de Maomé por pessoas que teriam “decorado” seu teor, ou seja, é um livro dependente da memória humana, algo muito diverso da Bíblia, que é a revelação do próprio Deus.
– Em Jr.1:12, o profeta relata uma visão que teve de uma vara de amendoeira. A amendoeira é a primeira árvore a florescer na Palestina, daí porque seu nome em hebraico, “saqued” (דקש), ser um derivado da palavra “despertar”.
– A amendoeira seria, então, uma “árvore desperta”, uma “árvore vigilante”, simbolizando a “prontidão”.
Isto nos fala que a Bíblia é a Palavra de Deus porque somente em Deus o querer é o efetuar (Fp.2:13) e, portanto, somente Deus pode falar e o que foi falado se cumprir sem que nada necessite ser feito além do próprio pronunciar e Deus no-lo prova através da própria criação.
Por isso, podemos dizer, como afirmava o saudoso pastor Severino Pedro da Silva, que foi membro da Academia Brasileira Evangélica de Letras e da Casa de Letras Emílio Conde, “nem todos os homens cumprem a Palavra de Deus, mas ela se cumpre na vida de todos os homens”.
– A amendoeira, também, simbolizava em Israel a “redenção”, uma vez que, por ser a primeira árvore a florescer, era o primeiro sinal do retorno da vida, na primavera, após o rigoroso inverno, que dava a impressão de que a vida havia findado.
Ao comparar a Palavra como a amendoeira para o profeta, portanto, Deus também nos indica que a Bíblia é a Palavra de Deus, pois só Deus pode dar a vida, só Deus pode conceder vida ao homem (I Sm.2:6).
Também nesta expressão divina ao profeta notamos uma perfeita identificação entre a Palavra de Deus e Cristo, que também afirma ser fonte de vida eterna (Jo.1:4; 4:14; 5:26).
– A amendoeira, por fim, também simbolizava a pressa, já que era a primeira árvore a florescer na primavera.
Esta pressa significa a impossibilidade de haver obstáculos para o cumprimento da Palavra, bem como a prioridade absoluta que ela assume ante os desígnios divinos.
A Bíblia, assim, mostra ser algo que é levado em primeiro lugar, que ocupa o primeiro plano da vontade de Deus, a ponto, inclusive, de o salmista ter dito que Deus a pôs acima d’Ele próprio (Sl.138:2).
– O desígnio divino revelado ao profeta é a de que Ele vela pela Sua Palavra para a cumprir, é esta a sua prioridade.
Deus tem um compromisso inquebrantável com a Sua Palavra e, assim como a amendoeira é a primeira árvore a florescer, também a Palavra de Deus é a primeira a produzir seus frutos na ordem estabelecida pelo Senhor.
Por isso, não se pode, em absoluto, ter outra atitude, enquanto servos de Deus, senão a de pôr a Palavra como única regra de fé e prática nas suas vidas.
– Ninguém pode impedir o cumprimento da Palavra de Deus e, como ela é soberana, engrandecida pelo próprio Deus acima de Seu próprio nome, vemos que nada poderá impedir a ação divina de cumprimento da Sua Palavra (Is.43:13 “in fine”).
Desta forma, devemos ter plena consciência de que tudo que está escrito se cumprirá e que nós, como conhecedores desta Palavra, devemos sempre obedecer a ela e, assim, alcançados pelas bênçãos e promessas que ela contém.
– Por fim, ainda sobre a visão tão elucidativa de Jeremias, vemos que Deus mostrou ao profeta “uma vara de amendoeira”, e “vara”, como sabemos, indica orientação, direção, julgamento.
– A Palavra de Deus é um guia para o homem, é a seta que indica a Cristo, o caminho que conduz à vida eterna.
A Palavra, respeitando o livre-arbítrio humano, aponta qual deve ser o Caminho e nós o seguimos, ou não, conforme a nossa própria vontade.
No entanto, a Palavra é “uma vara de amendoeira”, ou seja, ela nos julgará pela decisão que tomamos em relação a ela, um julgamento que é, como a amendoeira, pronto, prioritário e que não poderá ser impedido por ninguém (Jo.12:48).
– Quando verificamos estas passagens bíblicas, vemos, pois, que as Escrituras têm em Deus a sua origem, a sua fonte e, portanto, não podemos, de forma alguma, pôr a Bíblia no mesmo nível de tudo quanto foi criado pelo homem.
– Se a Bíblia tem origem no próprio Deus e é Deus quem diz que a engrandeceu a ponto de a ter posto acima de Seu nome, como podemos querer comparar a Bíblia com as invencionices humanas?
Como podemos querer julgar a Bíblia pelo que o homem tem produzido seja no campo filosófico, científico, tecnológico, artístico, religioso ou mitológico?
II – A AUTORIDADE DA BÍBLIA SAGRADA
– Temos visto que a Bíblia é a Palavra de Deus, porque tem origem em Deus, seu conteúdo foi comunicado por Deus aos homens santos escolhidos pelo Senhor para reduzi-la a escrito.
– Ante tais considerações, não temos como deixar de reconhecer que a Bíblia Sagrada é dotada de autoridade absoluta, ou seja, deve ser aceita pelo homem como única regra de fé e de prática, ou seja, o ser humano, se quiser ser fiel e obediente ao seu Criador, deve crer no que a Bíblia diz e fazer exatamente o que a Bíblia determina.
– Sendo a Palavra de Deus e a fiel comunicação da vontade divina aos homens, não há, mesmo, como deixar de observar o que é prescrito pelas Escrituras, nem deixar de crer naquilo que ela nos diz.
– No entanto, apesar disto, não têm sido poucas as tentativas, ao longo da história, e no meio do povo de Deus, para descaracterizar esta autoridade absoluta e prioritária que deve ter a Bíblia Sagrada na vida de um servo do Senhor.
– Por primeiro, como já dissemos supra, a Bíblia é a primeira a dizer que deve ser adotada como única regra de fé e prática. O próprio Deus pôs a Palavra acima de Seu nome (Sl.138:2), como também afirmou que Sua prioridade é velar pelo seu cumprimento (Jr.1:12).
– Em Seu ministério terreno, Jesus não agiu diferentemente. Também afirmou que as Escrituras não podem ser anuladas (Jo.10:35), são portadoras da vida eterna (Jo.5:39), como também são A Verdade (Jo.17:17), tendo, inclusive, ao dizer isto, pedido ao Pai que santificasse Seus discípulos por meio desta mesma Palavra.
– Os apóstolos, na igreja primitiva, jamais deixaram de autenticar a sua pregação com a Palavra de Deus, como revelam todos os sermões e ensinos registrados em o Novo Testamento. Não há, pois, como deixar de observar que a própria Bíblia afirma ser a única regra de fé e de prática de um servo do Senhor.
– Não bastasse a própria afirmação da Bíblia, temos que, ao longo da história de Israel, todos quantos procuraram se rebelar contra a autoridade das Escrituras foram apresentados como pessoas que se fizeram inimigas da vontade de Deus, demonstrando, claramente, que a desconsideração da autoridade das Escrituras é atentado contra o próprio Deus.
– São diversos os exemplos, mas citemos apenas alguns a título de ilustração:
a) Saul, o primeiro rei de Israel, foi rejeitado por Deus porque preferiu sacrificar a obedecer à Palavra do Senhor (I Sm.13:8-14).
b) Davi, mesmo sendo um homem segundo o coração de Deus, viu transformar-se em tragédia uma festividade que realizou para levar a arca de Deus para Jerusalém, por não ter atentado à lei do Senhor (II Sm.6:3-9; II Cr.15:1-3).
c) O povo do reino de Israel, o reino das dez tribos do Norte, perdeu a sua terra e a sua identidade, até o dia de hoje, porque rejeitou o conhecimento de Deus, ou seja, a observância da Sua Palavra (II Rs.17:7-23).
d) O povo do reino de Judá, o reino das duas tribos do Sul, perdeu a sua terra, que descansou durante setenta anos, por não ter cumprido a determinação do ano sabático (II Cr.36:21,22).
e) Os saduceus são apontados por Jesus como pessoas que viviam erradamente sob o ponto-de-vista espiritual por não conhecerem as Escrituras, ou seja, não a observarem, erro este que levou à total destruição deste partido judeu quando da destruição do templo de Jerusalém no ano 70 d.C. e a derrota definitiva para os romanos no ano 135 d.C. (Mt.22:29; Mc.12:24; Mc.12:27).
OBS: “…O conflito entre os saduceus aristocráticos e os fariseus plebeus — além das divergências doutrinárias era de caráter político e social.
Seus agrupamentos representavam interesses de classe opostos, e a animosidade continuou até a debacle do heroico Bar Kochba em sua revolta contra os romanos, em 135 d.C.
Contudo, o poder secular e religioso dos saduceus já havia sido abalado anteriormente em 70 d.C. (por ocasião da Destruição do Templo) e havia sido enterrado com a caliça do edifício do Templo e as ruínas políticas do Estado Judeu…” (AUSUBEL, Nathan. Saduceus. In: A JUDAICA, v.6, p.753).
– Apesar destes exemplos bíblicos, não foram nem são poucos os que se encontram na mesma e triste lamentável situação dos saduceus, errando por não conhecerem as Escrituras e lhes negando autoridade, embora se digam, como o faziam os saduceus, “defensores intransigentes das Escrituras” e isto porque, assim como os saduceus, embora afirmem prestigiar o texto sagrado e reconhecer-lhe a autoridade, diminuíam-no na prática de seus atos.
Os saduceus, por exemplo, somente criam nos cinco livros da lei, desprezando todas as demais Escrituras, como se elas não fossem igualmente inspiradas por Deus. De igual modo, estes
“modernos saduceus” promovem muitos erros porque não aceitam a autoridade da Bíblia Sagrada.
– Assim, existem aqueles que, embora digam que as Escrituras têm autoridade, não a consideram “a única autoridade”.
É o que ocorre, por exemplo, com a Igreja Romana, que, ao lado das Escrituras, consideram também como igualmente autoritária a “Tradição”, ou seja, os costumes e os ensinamentos surgidos ao longo da história daquela instituição. Como, porém, podem costumes e ensinamentos humanos ter o mesmo valor da Palavra de Deus?
OBS: A Igreja Romana põe em pé de igualdade as Escrituras e a Tradição, o que é completamente errado.
Transcrevemos um dentre muitos textos doutrinários romanistas que confirmam esta posição equivocada:
“…não é através da Escritura apenas que a Igreja deriva sua certeza a respeito de tudo que foi revelado. Por isso ambas [Escritura e Tradição] devem ser aceitas e veneradas com igual sentimento de piedade e reverência. (Constituição dogmática “Dei Verbum”, n.9).
– Este era o equívoco dos fariseus, outro grupo religioso existente nos dias de Jesus e que rivalizava com os saduceus.
Enquanto os saduceus desprezavam parte das Escrituras, os fariseus, embora reconhecessem todas as Escrituras de então (o Antigo Testamento), acrescentaram a elas uma série de mandamentos e prescrições, que denominavam de “cerca da Torá”, “mandamentos preventivos”, que tinham por objetivo dar condições para que se pudesse cumprir a lei de Deus.
– Nesta atitude, eles transformaram meros “mandamentos de homens” (Mc.7:7) em algo equiparável à Palavra de Deus, o que é, evidentemente, um rotundo absurdo, pois, por primeiro, Deus não precisa ser complementado pelo homem; por segundo, jamais algo proveniente da mente humana terá o mesmo valor de algo proveniente do Senhor (Is.55:8,9).
– Nada pode ser colocado ao lado e, muito menos, acima da Bíblia Sagrada. Ela deve ser a única regra de fé e de prática.
As heresias e falsas doutrinas sempre apresentam outros “escritos”, outras “revelações”, que buscam “complementar” as Escrituras, mas tudo deve ser sumariamente rejeitado, pois só à Sua Palavra o Senhor engrandeceu.
Jesus foi bem incisivo ao afirmar que somente a Palavra de Deus permanece para sempre (Mt.24:35; Lc.21:33; I Pe.1:23,25). Não é à toa que, em nossa declaração de fé, é dito que a Bíblia Sagrada é a “única revelação escrita de Deus” (DFAD, Cap. I, p.23).
– Nos dias difíceis em que vivemos, precisamos tomar cuidado para que nada seja igualado à Palavra de Deus.
A Bíblia Sagrada deve ser a nossa única regra de fé e de prática. Até mesmo as manifestações espirituais devem ser julgadas à luz da Palavra de Deus (I Co.14:29,32 combinado com Jo.7:24). Nestes dias, somente quem se agarrar à Palavra do Senhor poderá resistir até o dia do arrebatamento da Igreja!
III – A SUTILEZA DE SATANÁS DIANTE DAS ESCRITURAS
– O Senhor Jesus bem definiu quem é o diabo. Disse que ele é homicida desde o princípio e pai da mentira (Jo.8:44).
– Pois bem, o mesmo Jesus disse que a Palavra de Deus é a verdade (Jo.17:17) e que Ele, Jesus, em quem o diabo nada tem (Jo.14:30), é a Verdade (Jo.14:6).
– Diante destas afirmações, vemos que não há como conciliar o diabo com as Escrituras, não há como se ter um “ambiente em comum” entre o que diz a Bíblia e o que diz, pensa e quer o inimigo de nossas almas.
– Por isso mesmo, desde o limiar da história da humanidade, o diabo sempre procurou distorcer a Palavra de Deus, sempre buscou que o homem desacreditasse nos ditos do Senhor, e, para tanto, ele faz uso de sua principal arma, a arma da sua própria natureza, que é a mentira.
– Como já disse alguém, toda mentira tem um “fundo de verdade”. Sem este “fundo de verdade”, a mentira não tem como ganhar adeptos ou seguidores, pois a pura ilusão, a pura ficção, a pura fantasia não tem o condão de obter a adesão de quem quer que seja.
Faz-se sempre necessário que haja algo de verdadeiro na mentira que é contada, algo que possa despertar a imaginação de alguém e fazer com que a pessoa seja iludida pela faceta sem respaldo da mentira que é contada.
– O diabo, que é conhecedor das coisas relacionadas ao homem (Mt.16:23), o mais antigo e experiente analista do comportamento humano, pois já existia quando o homem foi criado, faz, então, uso de suas técnicas para convencer o homem a desacreditar do que Deus disse, distorcendo tudo quanto o Senhor fala.
– Já no Éden, Satanás usou desta estratégia. Aproveitando-se da pouca atenção que Eva deu aos ditos do Senhor, levou-a ao pecado, contrariando o que Deus havia dito.
– O diabo, ante a afirmação de Eva de que não era possível nem tocar nem comer do fruto da árvore que estava no meio do jardim (Gn.3:2,3), vendo que a mulher havia acrescido algo que Deus não havia falado (não havia proibição alguma de tocar na árvore ou no fruto da árvore),
bem como confundido a árvore da proibição (a árvore que ficava no meio do jardim era a árvore da vida e não a árvore da ciência do bem e do mal), contou uma mentira à mulher, dizendo que isto não aconteceria, mas que, tão somente, seriam abertos os olhos da mulher e ela seria igual a Deus, sabendo o bem e o mal (Gn.3:5).
– Notemos que o diabo, ante a ignorância da mulher quanto ao dito de Deus, quanto à Palavra de Deus, apresentou uma mentira, uma afirmação diferente da que o Senhor havia falado e que não era de todo mentirosa, pois vemos que, realmente, os olhos do primeiro casal foram abertos (Cf. Gn.3:7), mas isto, em vez de lhes dar a independência em relação a Deus e a sabedoria prometida pelo diabo, trouxe-lhes a separação de Deus e a vergonha.
– A ação de Satanás continua a mesma. Por primeiro, sonda para ver o conhecimento que o filho de Deus tem da Palavra de Deus. Não é por outro motivo que o Senhor Jesus disse a Seus discípulos que eles precisam conhecer a verdade, pois é este conhecimento que os libertará (Jo.8:31,32).
– Sá há uma forma de nós permanecermos em Jesus, de prosseguirmos o caminho para o céu a partir do momento em que cremos em Jesus e nos arrependemos de nossos pecados, que são perdoados: conhecendo a verdade, que é a Sua Palavra.
– Precisamos ter a noção de que o conhecimento da verdade é condição indispensável para a nossa salvação, é nosso meio de sobrevivência espiritual e, por isso mesmo, Jesus a comparou ao pão (Mt.4:4; Lc.4:4).
Assim como o alimento é essencial para que nosso corpo físico sobreviva, também a Palavra de Deus é fundamental para que nos mantenhamos espiritualmente vivos.
– A primeira sutileza de Satanás, portanto, é diminuir a importância da Palavra de Deus para as nossas vidas, conseguir convencer o discípulo de Jesus de que “ele não precisa conhecer a Bíblia tão profundamente”, que “basta ter fé para ser salvo”, que “esta coisa de ler e estudar a Bíblia é para quem tem chamada ministerial, para quem quer ser pregador, ensinador, pastor”.
– Infelizmente, muitos têm acreditado nesta mentira satânica e tem ficado à mercê das ciladas e das armadilhas de Satanás e, assim como Eva, são facilmente ludibriados e enganados, perdendo a comunhão com Deus, perdendo a salvação.
– Quando vemos que parcela ínfima, diminuta dos que cristãos se dizem ser frequenta as Escolas Bíblicas Dominicais, os cultos de ensino e meditam diariamente nas Escrituras logo percebemos porque o amor de quase todos se esfriará e a esmagadora maioria dos sedizentes discípulos de Jesus não será arrebatada quando o Senhor voltar para buscar a Sua Igreja.
– Ao falar com os saduceus, o Senhor Jesus foi bem objetivo e direto: os saduceus erravam porque não conheciam as Escrituras (Mt.22:29; Mc.12:24).
Por isso mesmo, o diabo procura fazer com que os discípulos de Cristo não conheçam as Escrituras, porque, desta maneira, certamente errarão, certamente cairão em pecado.
– O erro dos saduceus era tanto que, embora formassem a elite sacerdotal, eram verdadeiros materialistas, não crendo na ressurreição, nem em anjo, nem em espírito (At.23:8).
Aceitavam apenas o Pentateuco, desprezando todos os demais livros das Escrituras hebraicas e, mesmo assim, não compreendiam corretamente nem mesmo os livros de Moisés, tanto que Jesus lhes mostrou, no próprio Pentateuco, como havia ressurreição e vida espiritual.
– É precisamente isto que faz o diabo: luta para que a pessoa não conheça as Escrituras e, por este desconhecimento, faz com que eles passem a crer em algo completamente diferente do que Deus ensina, em algo que não se constitui em verdade, ou seja, faz com que as pessoas depositem sua confiança em mentiras, em farsas, em ilusões.
– Não é o que vemos em nossos dias? Pessoas que, apesar de frequentarem as igrejas locais, são facilmente iludidos pelo primeiro falsário que se lhes apresenta com alguma doutrina ou ensino completamente antibíblico, sem qualquer fundamento. Tudo isto porque as pessoas relativizam a importância das Escrituras para a nossa vida espiritual.
– Lucas, inspirado pelo Espírito Santo, faz um elogio aos judeus de Bereia (At.17:11), dizendo que eles eram mais nobres que os judeus de Tessalônica. E onde estava a nobreza daquela gente?
No fato de que conferiam nas Escrituras o que era ensinado e pregado por Paulo. Eram conhecedores das Escrituras e, por isso, não eram facilmente enganados. Precisamos ser “bereanos”.
– Quando temos conhecimento das Escrituras, o diabo não tem espaço e acaba sendo vencido. É o que vemos na tentação de Jesus no deserto da Judeia.
Ali, o Senhor Jesus utilizou as Escrituras, a espada do Espírito (Ef.6:17) como a arma de ataque e saiu vitorioso. A tudo o que o diabo falava, Cristo respondia com “Está escrito”! (Mt.4:4,7,10; Lc.4:4,8,12).
– Mas aí vem a segunda sutileza de Satanás, pois, como dizia o saudoso pastor Severino Pedro da Silva (1946-2013), “o diabo insiste, persiste e não desiste”.
Quando ele percebe que a pessoa tentada é conhecedora das Escrituras, ele traz a sua próxima arma, que é a distorção das Escrituras, a apresentação do texto bíblico fora do contexto ou mesmo adulterado.
Pedro disse a respeito disto ao afirmar que “os indoutos e inconstantes torcem para sua própria perdição” (II Pe.3:16).
– O diabo, ao ter recebido de Jesus uma resposta baseada nas Escrituras, na segunda tentação, conforme o relato de Mateus, ao sugerir a Jesus que se jogasse do pináculo do templo, fez uma citação do Salmo 91, citação porém adulterada, porquanto disse que ali estava escrito que o Senhor daria ordem aos Seus anjos para que guardassem Cristo em todos os Seus caminhos para que Seus pés não tropeçassem nalguma pedra (Mt.4:6; Lc.4:10,11).
– Entretanto, o diabo havia adulterado o texto do salmo. O salmista diz que haveria a promessa de guarda se a pessoa andasse nos caminhos do Senhor (Sl.91:11), não, evidentemente, nos caminhos sugeridos pelo diabo.
Trata-se, portanto, de uma sutil, quase que imperceptível mudança do texto, mas que é feita precisamente para enganar aquele que se diz conhecedor das Escrituras.
– Por isso mesmo, é costume ouvirmos de teólogos que toda heresia tem origem em algum texto bíblico. Não é de se admirar: o diabo, aproveitando-se do “ignorante ou inconstante”, que, sem método e sem direção do Espírito Santo, toma contato com as Escrituras, faz com que ele entenda equivocadamente o texto, extraia dele algo que ele não tem, e, a partir daí, inicie um desvio doutrinário que o conduzirá, como diz Pedro, à perdição, assim como a todos os que o seguirem.
– Daí a importância de, ao estudarmos as Escrituras, que já vimos ser uma questão de sobrevivência espiritual, tomarmos os devidos cuidados para que o façamos da forma correta, para evitarmos ser enganados pelos falsos ensinos, pelas heresias, pelas distorções.
– Para tanto, faz-se mister, em primeiro lugar, que sempre estejamos a “meditar” nas Escrituras e isto significa estar com nossa mente voltada para o estudo, sem quaisquer distrações ou devaneios. É preciso separarmos um tempo para que tenhamos um encontro com o Senhor através da Sua Palavra.
– Não se trata, portanto, de uma mera leitura, de uma leitura como se estivesse lendo qualquer outro livro, mas, sim, de uma leitura com toda a reverência, com toda a atenção, com toda a nossa mente voltada para o texto, pois, na verdade, esta leitura não é um mero ler, mas um diálogo que estabeleceremos com o Senhor, em que Ele tem a iniciativa, ao contrário da oração, em que a iniciativa é nossa.
– Neste aspecto, portanto, vemos que se trata de um diálogo com Deus e precisamos estar sensíveis à voz do Espírito Santo. É ele quem deve nos guiar em toda a verdade (Jo.16:13), de modo que somente aprenderemos as Escrituras mediante a direção e o ensino do Espírito Santo.
– As Escrituras foram inspiradas pelo Espírito Santo (II Pe.1:21) e, portanto, somente o Espírito Santo poderá nos dar o exato e correto sentido do texto bíblico, pois Ele é o Espírito da verdade (Jo.16:13) e não falará de Si mesmo, glorificando a Jesus e anunciando o que Ele nos ensina (Jo.16:14) e nos fará lembrar tudo o que Jesus disse (Jo.14:26), pois as Escrituras são as fiéis e inerrantes testemunhas do Senhor Jesus (Jo.5:39).
– Ao falar sobre o erro para os saduceus, Cristo disse que eles erravam por não conhecerem as Escrituras nem o poder de Deus.
Aqui está o complemento de que estamos a falar. Faz-se necessário que, para não errarmos, tenhamos uma comunhão com o Espírito Santo, que nos dará o poder de compreensão da Palavra de Deus, como também o poder para, com ousadia, pregarmos esta Palavra aos incrédulos e vermos confirmada a Palavra com os sinais que se seguem aos que creem (Mc.16:20).
– Além deste contato com o Espírito Santo, temos, também, os ensinos dos mestres que o Senhor Jesus põe na Igreja (Ef.4:11), que, a exemplo de Paulo, faz-nos compreender “os pontos difíceis de entender” (II Pe.3:16).
– O Senhor Jesus deseja o aperfeiçoamento dos santos e, por isso, constitui na Igreja os pastores e os mestres para que eles deem o devido ensino aos servos de Deus.
Entretanto, sempre devemos conferir estes ensinos com as Escrituras e com o que se tem ensinado ao longo da história da Igreja, o chamado “Magistério”.
– Embora não demos ao “Magistério” o mesmo papel que o Romanismo lhe dá, colocando-o, inclusive, ao lado e, por vezes, acima das Escrituras, é inegável que não se pode deixar de admitir que, em Seu zelo pela Igreja, tenha o Espírito Santo proporcionado, ao longo dos séculos,
a ortodoxia doutrinária junto ao povo de Deus, de modo que não se pode simplesmente desconsiderar algum ensinamento que tenha sido dado ao longo dos anos e que, agora, alguém, inopinadamente, venha a dizer que está tudo errado e que há agora uma “nova revelação”, um “novo entendimento” a ser seguido.
– Como ensina o professor de teologia, pastor José Mathias Acácio, com quem tivemos a honra de conviver no corpo docente da Faculdade Evangélica de São Paulo (FAESP), quando alguém trouxer uma “nova revelação”, uma “nova verdade” das Escrituras, devemos fazer três perguntas bem simples:
por que o Espírito Santo deixaria esta “verdade” escondida durante quase dois mil anos do Seu povo?
Por que Ele haveria de revelá-la a tal pessoa agora?
Por fim, se esta “verdade” é necessária à salvação, por que só foi revelada agora?
Não é difícil entendermos que esta “nova verdade” não subsistirá a tais questionamentos e que, ou não será uma verdade, ou então é um fato completamente insignificante para a salvação das almas.
– Não se pode, porém, também deixar de verificar, e o Senhor Jesus no-lo mostra no sermão do monte, que muitas inverdades são repetidas “ad nauseam”, geração após geração, sem que sejam, efetivamente, o que seja o revelado nas Escrituras.
– Em Seu sermão doutrinário, com a autoridade de quem deu a lei a Israel, Jesus mostrou como havia distorções nos ensinos dos escribas e fariseus, ensinos estes que eram seguidos e até admirados por muitos.
As interpretações dadas e tidas como verdadeiras, porém, não correspondiam à vontade de Deus e, por isso mesmo, devemos ter cuidado com o Magistério e eis o motivo por que não pode ele se equiparar à Palavra de Deus.
– Por fim, temos mais uma sutileza de Satanás, que é a de tentar fazer com que olhemos as Escrituras sob o ângulo do tempo. Como bem disse o Senhor Jesus, Satanás compreende as coisas dos homens, não as de Deus (Mt.16:23) e, por isso, busca fazer com que vejamos a Bíblia Sagrada sob o tempo.
– O ser humano, por ser criatura, está submetido ao tempo. Por isso, o próprio Deus nos ensina que há um tempo determinado para todo propósito debaixo do céu (Ec.3:1) e o próprio Jesus, ao Se humanizar, fê-lo dentro do tempo, na história, tanto que nasceu sob a lei (Gl.4:4).
– Entretanto, a Palavra de Deus tem sua origem em Deus e Deus está acima do tempo, Ele é o único ser eterno.
O mesmo texto que diz que Deus é a verdade, diz que Ele é o Rei eterno (Jr.10:10). Moisés, em seu último cântico, lembra a Israel que deveria ter por sua habitação o Deus eterno (Dt.33:27) e Isaías faz questão de recordar aos israelitas que o Criador dos confins da Terra, o Senhor, é o eterno Deus (Is.40:28).
– Ora, em sendo assim, as Escrituras são atemporais, não sofrem a influência do tempo e, embora tenham sido escritas por homens que, como tais, estavam sob o tempo e, por isso, se utilizaram de uma linguagem do seu tempo, não transmitiram uma mensagem que seja temporal.
A Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25). Passará os céus e a terra, mas as palavras do Senhor não hão de passar (Mt.24:35; Lc.21:33).
– Por isso, tenhamos muito cuidado com aqueles que procuram “contemporizar”, “atualizar”, “modernizar”, “aplicar a Bíblia para o nosso tempo”, “ajustar o texto aos nossos tempos”, “adaptar a Bíblia para os nossos dias” ou coisas semelhantes.
– Tudo isto é submeter a Palavra de Deus ao tempo, é negar a sua origem divina, a sua imutabilidade, a sua eternidade. As Escrituras foram notificadas pelos profetas segundo o mandamento do Deus eterno, ensina-nos Paulo (Rm.16:26).
– A submissão da Bíblia ao tempo é simplesmente descartar a sua origem divina, é negar seja ela a Palavra de Deus para ser simplesmente uma grande obra da literatura universal, o que é totalmente inadmissível.
– Lamentavelmente, são muitos os que estão a pensar e a agir segundo esta mentalidade e, por isso, estão a se utilizar das Escrituras segundo as suas conveniências, acatando apenas parte do que foi revelado ao homem, deliberadamente descrendo na Bíblia Sagrada.
Quem não crê nas Escrituras, não crê em Jesus e quem não crer em Jesus está condenado à perdição eterna.
– Tomemos cuidado, amados irmãos, com mais esta sutileza satânica e cumpramos as Escrituras, nela creiamos, não a questionemos, observemo-la, pois assim chegaremos aos céus e com Jesus, o Verbo, a Palavra, haveremos de sempre viver. Amém!
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/7873-licao-7-a-sutileza-da-relativizacao-da-biblia-i