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LIÇÃO Nº 4 – QUANDO SE VAI A GLÓRIA DE DEUS

INTRODUÇÃO

– Após ter visto as abominações do templo de Jerusalém, Ezequiel vê o processo de retirada da glória de Deus.

– O Senhor é santo, nunca convive com o pecado.

I – O QUE É A GLÓRIA DE DEUS

– Na sequência do estudo sobre o livro do profeta Ezequiel e sua aplicação para nossos dias, analisaremos a segunda visão que o profeta teve da glória de Deus e de seu afastamento do templo de Jerusalém.

– Para entendermos o significado desta retirada da glória de Deus do meio do povo de Judá, faz-se mister, primeiro, saber o que é a “glória de Deus”, até porque, quando falamos de relacionamento entre Deus e o homem, e é disto que trata o tabernáculo, santuário e habitação de Deus no meio dos filhos de Israel (Ex.25:8), devemos lembrar a afirmação do apóstolo Paulo de que, por terem todos os homens pecado, estão destituídos da glória de Deus (Rm.3:23).

A Bíblia On-line da Sociedade Bíblica do Brasil traz três definições de “glória”:

1) Honra ou louvor dado a coisas (I Sm.4:21,22), a pessoas (Lc.2:32} ou a Deus (Sl.29:1; Lc.2:14);

2) A majestade e o brilho que acompanham a revelação da presença e do poder de Deus (Sl.19:1; Is. 6:3; Mt.16:27; Jo.1:14; Rm.3:23);

3) O estado do novo corpo ressuscitado, espiritual e imortal, em que os salvos serão transformados e o lugar onde eles viverão (I Co.15:42-54; Fp.3:21; Cl.3:4).

– A palavra glória aparece, pela vez primeira nas Escrituras, em Gn.31:1, quando os filhos de Labão acusam Jacó de ter toda uma glória a partir da diminuição patrimonial que teria causado a seu sogro e pai dos acusadores.

É a palavra hebraica “kabhodh” (כבוד ), “…propriamente peso, mas somente em sentido figurado num bom sentido, esplendor ou copiosidade: — glorioso, gloriosamente, glória, honra, honroso. Substantivo masculino singular que significa honra, glória, majestade, riqueza.

Este termo é normalmente usado para Deus (Ex.33:18; Sl.72:19; Is.3:8; Ez.1:28);

seres humanos (Gn.45:13; Jó 19:9; Sl.8:5; 21:5) e

objetos (I Sm.2:8; Et.1:4; Is.10:18), particularmente para a Arca do Concerto (I Sm.4:21,22)” (Bíblia de Estudo Palavras Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 3519, p.1700).

– Em o Novo Testamento, é a palavra grega “doksa” (δόξα), “…glória (como algo muito aparente), de forma abrangente (literal ou figurado, como sujeito ou objeto): – dignidade, glória (glorioso), honra, louvor, adoração.

Substantivo de dokeo, pensar, reconhecer. Uma semelhança, aparência. Nas páginas sagradas do Novo Testamento, honra, glória…” (op.cit. Dicionário do Novo Testamento, verbete 1391, p.2154).

– Quando se fala em glória, portanto, tem-se, por primeiro, a ideia de honra e de dignidade e, só por este fato, podemos observar que a maior glória é a de Deus, visto que é o Ser digno por excelência, o Ser Supremo e Soberano.

Aliás, quando verificamos a visão que João teve dos céus, vemos que os mais sublimes seres celestiais se prostraram diante de Cristo e disseram ser Ele digno de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória e ações de graças (Ap.5:12).

– Mas, quando se fala, também, em glória, está-se a falar da majestade e do brilho que acompanham a revelação da presença de Deus e, neste passo, temos, na ideia de glória de Deus, também a ideia da Sua presença, da Sua companhia.

– “…A glória de Deus é a beleza do Seu espírito. Não é uma beleza estética ou material, mas é a beleza que emana do Seu caráter, de tudo o que Ele é.

Tiago 1:10 convida um homem rico a “orgulhar-se se passar a viver em condição humilde”, indicando uma glória que não significa riqueza, poder ou beleza material. Esta glória pode coroar o homem ou encher a terra. É vista dentro do homem e na terra, mas não pertence a eles, só a Deus.

A glória do homem é a beleza do espírito do homem, a qual é falível e passageira, sendo assim humilhante, como nos diz o versículo.

Entretanto, a glória de Deus, manifesta através do conjunto dos Seus atributos, nunca passa. É eterna.…” (O que é a glória de Deus. Disponível em: https://www.gotquestions.org/Portugues/Gloria-de-Deus.html Acesso em 28 ago. 2017).

– “…O que vem a ser a glória de Deus? O que significa? A glória de Deus é o seu esplendor, sua majestade. A Bíblia usa a glória de Deus em sentido figurado, representando suas próprias manifestações.

A Bíblia refere-se a muitas aparições e atos de Deus fazendo menção da sua glória.(…).

1 – A glória de Deus é o seu esplendor, sua majestade.

2 – Às vezes a glória de Deus é usada em sentido figurado, representando ele próprio.…” (STEWART, DON. 103 perguntas que as pessoas podem fazer sobre Deus apud S. JÚNIOR, Hélio. O que é a glória de Deus? Disponível em: http://desafioscristao.blogspot.com.br/2011/04/o-que-e-gloria-de-deus.html Acesso em 28 ago. 2017).

– O Senhor é detentor desta glória sublime e eterna, tanto que, ao criar todas as coisas, Sua própria criação a manifestou, tanto que o salmista diz que “os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos” (Sl.19:1), a ponto de o apóstolo Paulo dizer que tal manifestação faz com que os homens fiquem inescusáveis diante do Senhor (Rm.1:18-21).

– Assim, os homens, pelo só fato da criação, têm conhecimento da glória de Deus e devem, em virtude desta manifestação, ser-Lhe obedientes e submissos, visto que se tem a nítida concepção de que Deus é o Senhor e digno de toda honra. Deve-se reconhecer, portanto, a Sua glória.

– Mas, muito mais do que fazer conhecida aos homens a Sua glória, o Senhor quis dela compartilhar com o homem, tanto que, todos os dias, vinha ao encontro do homem na viração do dia, no jardim do Éden (Gn.3:8) e, como Deus Se fazia presente de modo especial ao primeiro casal, não há porque duvidar de que Adão e Eva compartilhavam desta glória divina, ainda que habitassem a Terra.

A tradição judaica registrada no Talmude e em alguns targuns [comentários feitos por escribas do texto das Escrituras em suas explanações ao povo nas sinagogas – observação nossa] diz que Adão era um ser de extrema beleza e que possuía um brilho similar ao do sol e que sua pele era uma roupa brilhante, brilhando como suas unhas, querendo, com isto, afirmar que, de certo modo, antes do pecado, Adão compartilhava da glória divina. Também a tradição diz que a altura de Adão ia do solo até os céus, o que deve ser entendido num sentido metafórico, ou seja, de que o homem tinha pleno acesso à glória divina, manifestada pelos céus.

OBS: “…R. Bana’a disse: Percebi os dois saltos de [Adão], e eles eram como dois orbes do sol.(…) A beleza de R. Kahana era um reflexo de [a beleza de Rab; A beleza de Rab era um reflexo da beleza de R. Abbahu; A beleza de R. Abbahu era um reflexo da beleza de nosso pai Jacó, e a beleza de Jacob era um reflexo da beleza de Adão.…”(Talmude. Baba Bathra 58a. Disponível em: http://www.come-and-hear.com/bababathra/bababathra_58.html Acesso em 28 ago. 2017) (tradução feita pelo Google de texto em inglês). …”

“Como disse o rabino Elazar: A altura de Adão, o primeiro homem, chegou do chão ao céu, como se afirma: ‘Desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra desde uma extremidade do céu até à outra” (Deuteronômio 4:32).…” (Talmude. Hagigah 12ª. Disponível em: https://www.sefaria.org/Chagigah.12a.2?lang=bi&with=all&lang2=en Acesso em 28 ago. 2017) (tradução do Google de texto em inglês)” “…Sua pele era uma roupa brilhante, brilhando como suas unhas…” (Targ. Yer. Gen. iii. 7; Gen. R. xi.; Adam and Eve, xxxvii. Apud Adam. In: Jewish Encyclopedia. Disponível em: http://www.jewishencyclopedia.com/articles/758-adam Acesso em 28 ago. 2017) (tradução do Google de texto em inglês).…”.

Com o pecado, entretanto, o homem foi “destituído” da glória de Deus (Rm.3:23). A expressão empregada pelo apóstolo Paulo é a palavra grega “hustereo” (ύστερέω), “…ser posterior, i.e., (consequentemente) ser inferior; genitivo não chegar a , não alcançar (ser deficiente): – ficar para trás, não alcançar, não chegar a, ser destituído, falhar, sentir falta de, sofrer necessidade, (estar em) necessidade, ser pior” (Bíblia de Estudo Palavras Chave. Dicionário do Novo Testamento, verbete 5302, p.2443).

– Tem-se, portanto, que a ideia trazida pelo texto sagrado é a de que o homem, ao pecar, passou a ser inferior, daí mesmo a ideia de “queda”, de “descida” que está associada à prática do pecado pelo primeiro casal, fazendo com que o homem não mais pudesse alcançar a glória de Deus, ficasse aquém dela.

Neste sentido, aliás, a metáfora já mencionada da “altura de Adão”, pois diz o Talmude: “…Quando o homem pecou, o Santo, abençoado seja Ele, colocou Sua mão sobre ele e o diminuiu, como está escrito:”Tu me cercaste em volta e puseste sobre mim a Tua mão” (Sl. 139:5).” (Talmude, Hagigah 12-a. Disponível em: https://www.sefaria.org/Chagigah.12a.2?lang=bi&with=all&lang2=en Acesso em 28 ago. 2017) (tradução nossa de texto em inglês).

– A “destituição” da glória de Deus foi, portanto, a deficiência de poder alcançar e partilhar da presença de Deus e, neste passo, a perda da “beleza divina”, do “esplendor divino”, o que implicou na própria corrupção do corpo, mas, sobretudo, na perda das qualidades morais de que Adão era dotado e o que faziam “reto” (Ec.7:29).

 Tanto assim é que, dentro do paralelismo da poesia hebraica, podemos inferir que a glória do Senhor é a “beleza da santidade divina” (Sl.29:2) e, portanto, sem tal santidade, perdida com o pecado, não há como se chegar à presença de Deus, o que apenas se conseguiria com a salvação. Charles Spurgeon afirma que

 “…Agora nossa adoração é espiritual, e a arquitetura da casa e as roupas dos adoradores são de nenhuma importância.

A beleza espiritual da pureza interior e da santidade exterior é muito mais preciosa aos olhos de nosso Deus três vezes santo” (O Tesouro de Davi. Comentário ao Sl.29:2. Disponível em: http://www.biblestudytools.com/commentaries/treasury-of-david/psalms-29-2.html Acesso em 28 ago. 2017) (tradução do Google de texto em inglês).

A “nudez” de Adão se apresenta, então, do ponto-de-vista espiritual, tanto que foi esta a justificativa apresentada por ele para ter se escondido do Senhor (Gn.3:10).

Por isso o Targum já aludido afirma que “quando ele [Adão] pecou, seu brilho desapareceu e ele apareceu nu”.

 Esta nudez não é a física, pois ele não usava vestes desde sua criação (Gn.2:25), mas, sim, a nudez espiritual de que alude o apóstolo Paulo em II Co.5:3, tanto assim que, quando somos salvos, somos “vestidos das vestes da salvação” (II Cr.6:41; Is.61:10).

– “…Ambrósio, com referência a Elias e seu jejum, no capítulo 4, diz: ‘Adão estava coberto com uma veste de virtudes antes da sua transgressão; mas, como se tivesse sido desnudado pelo pecado, ele se viu nu, porque a veste que tinha, anteriormente, foi perdida’.

E, novamente, no sétimo livro de seu comentário sobre o capítulo 10 daquele Evangelho, assinalando, de maneira ainda mais clara, a distinção entre a perda das qualidades sobrenaturais e a corrupção das naturais, ele diz: ‘Quem são os ladrões, se não os anjos da noite e da escuridão?

Primeiramente, eles nos despem das vestes da graça espiritual, e então nos infligem ferimentos’. Agostinho, (De Trinitate, lib. 14, cap. 16) diz: ‘Ao pecar, o homem perdeu a justiça e a verdadeira santidade e, por esse motivo, a sua imagem ficou deformada e manchada; ele recebe, novamente, essas qualidades, quando é renovado e reformado’…” (ARMINIO, Jacó. Um debate amistoso entre Jacó Armínio e Francis Junius, a respeito da predestinação, realizado por meio de cartas. In: As obras de Armínio. Trad. de Degmar Ribas. v.3, p.122).

Deus é vestido de glória e majestade (Sl.104:1) e refletia sobre o homem, de algum modo, esta circunstância, mas, com o pecado, isto se perdeu, o que somente ser restaura quando da salvação na pessoa de Jesus Cristo, já que, como diz o apóstolo Paulo, o salvo com cara descoberta reflete como um espelho a glória do Senhor (II Co.3:18).

– Tanto assim é que, mesmo quando Deus forma um povo que seria “propriedade peculiar Sua dentre os povos” (Ex.19:5,6), a glória de Deus se manifesta a Israel à distância, como no deserto, logo após terem murmurado por causa da fome (Ex.16:10), seja no monte Sinai (Ex.24:16,17).

– A glória divina, constante da nuvem, repousava sobre a arca da aliança, que os israelitas nem podiam ver e ficava no lugar santíssimo, separado pelo véu, numa clara figura de que, por causa do pecado, estava o homem sem condições de alcançar a glória de Deus, de dela compartilhar ou desfrutar.

– A arca, inclusive, era considerada a própria “glória de Israel” (I Sm.4:21,22). Tanto que, seja quando ela foi posta no tabernáculo, quando de sua edificação (Ex.40:34,45), seja quando o primeiro templo foi inaugurado por Salomão (I Rs.8:6-11; II Cr.7:1-3), a glória encheu ambos os santuários, daí porque se passou a confundir a própria arca com a glória de Deus.

Davi fala textualmente que a habitação da casa do Senhor era o lugar onde habitava a glória de Deus (Sl.26:9), certamente se referindo ao lugar onde ficava a arca. É elucidativo que, para escapar dos castigos divinos que sobrevieram a eles por conta da captura da arca, os filisteus tiveram de dar glória a Deus, como parte da expiação de culpa, antes de devolverem a arca a Israel (I Sm.6:1-6).

– Esta separação da glória de Deus se verificou, inclusive, quando o próprio Moisés subiu ao monte Sinai depois da entrega dos dez mandamentos, pois é dito que se chegou apenas à escuridade onde Deus estava (Ex.20:21), como também, quando subiu com os anciãos de Israel, a visão de Deus, na Sua claridade, foi vista mas mantida, ainda uma distância, tanto que o texto sagrado diz que o Senhor não estendeu Sua mão sobre os escolhidos dos filhos de Israel (Ex.24:11).

– Moisés voltou a subir o monte e, só então, a glória do Senhor o envolveu (Ex.24:15-18), tendo ele ali ficado durante quarenta dias e quarenta noites. Este envolvimento, contudo, não significou que Moisés tivesse tido o compartilhamento e desfrutar da glória divina, pois, quando sobe ao monte depois do episódio do bezerro de ouro, pediu a Deus que lhe mostrasse a Sua glória (Ex.33:18),

circunstância que nos mostra que Moisés não tivera ainda a oportunidade de superar aquela distância estabelecida por Deus e, ante o atendimento, ainda que parcial, do pedido de Moisés pelo Senhor, Moisés, ao retornar ao arraial, teve seu rosto resplandecente, ainda que temporariamente, o que o obrigou a usar um véu para esconder a sua face dos demais israelitas (Ex.34:29-35; II Co.3:7).

– Todavia, aqui, também, há o uso do véu, pelo qual Moisés encobria o rosto dos demais israelitas, que não podiam ver a face de Moisés, uma outra figura de que a glória divina era inacessível ao homem no pecado.

– Como se não bastasse a perda da glória divina, o homem, embrutecido pelo pecado (Rm.1:21,22), mudou a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem do homem corruptível, e de vares, e de quadrúpedes, e de répteis, passando a honrar e a dar glória a criaturas em vez do Criador, com a prática da idolatria (Rm.1:23), o que ocorreu não só com os gentios, mas com o próprio Israel, quando fizeram o bezerro de ouro (Sl.106:19,20).

A vinda de Jesus traz esta glória novamente ao encontro do homem. A propósito, a arca da aliança é um tipo de Cristo e, assim, neste sentido, o próprio Jesus é a “glória do Senhor”.

A chegada da justiça e da salvação seria o estabelecimento da salvação e da glória do Senhor (Is.46:13).

Já no Seu nascimento, a glória do Senhor cercou os pastores de Belém (Lc.2:8-13), demonstrando, deste modo, que Cristo veio trazer novamente a glória divina aos homens, tendo o próprio Cristo, no início do Seu ministério, afirmado que os céus estariam abertos e os anjos de Deus subiriam e desceriam sobre o Filho do homem, a indicar esta presença e esplendor sobre Ele.

Não foi à toa que o apóstolo João testificou que, quando o Verbo Se fez carne e habitou entre nós, pôde ser vista a Sua glória, como a glória do Unigênito do Pai cheio de graça e de verdade (Jo.1:14), afirmação que mostra o cumprimento da profecia de Isaías de que o Renovo do Senhor.seria cheio de beleza e de glória (Is.4:2).

– Em resposta a Natanael, Jesus disse que, dali em diante, os céus estariam abertos e os anjos subiriam e desceriam sobre o Filho do homem (Jo.1:51), a anunciar que a glória divina agora era acessível por meio de Cristo, a ponte entre Deus e os homens, a concretização da “escada o sonho de Jacó” (Gn.28:10-17) e, a partir do Seu primeiro milagre, começou a manifestar a glória de Deus (Jo.2:11).

– Jesus, mesmo é chamado de “o Rei da Glória” por Davi no Salmo 24, que nos fala tanto da entrada triunfal de Cristo nos céus em Sua ascensão (Sl.24:8), como de Sua entrada triunfal após o arrebatamento da Igreja (Sl.24:10). Ele é o Senhor da glória que foi crucificado (I Co.2:8; Tg.2:1).

II – EZEQUIEL VÊ NOVAMENTE A GLÓRIA DE DEUS

– Depois de ter visto as abominações do templo de Jerusalém e as providências divinas para o castigo dos impenitentes, o profeta Ezequiel tem uma nova visão da glória de Deus.

– Enquanto no templo, onde se deveria adorar a Deus, o profeta tivesse contemplado uma série de atitudes pecaminosas, e das mais graves, tendo, depois, notado a movimentação divina para que se tivesse a devida punição para tanta maldade, que se daria na terra, a atenção do “atalaia de Deus” é voltada para o firmamento (Ez.10:1).

– Em meio à maldade que existe no mundo (I Jo.5:19), bem como diante das calamidades decorrentes da própria prática do pecado, é mister que os servos de Deus se voltem para o firmamento, para o céu, pois é lá que está Nosso Senhor. Temos nos voltado para os céus ou estamos a nos envolver com as coisas terrenas?

– Olhando Ezequiel para o firmamento, o profeta viu novamente aquelas criaturas da sua primeira visão junto ao rio Quebar, criaturas que haveria de saber, nesta oportunidade, que se tratava de querubins (Cf. Ez.10:20).

 Acima da cabeça deles, apareceu como uma pedra de safira, com o aspecto da semelhança de um trono (Ez.10:1).

– Sendo, como era, um sacerdote, Ezequiel, ao contemplar aquela pedra de safira, pode ter se lembrado da cena descrita em Ex.24:10, quando Moisés, Arão, Nadabe, Abiú e setenta dos anciãos de Israel viram o Senhor e, debaixo dos Seus pé, havia como uma obra de safira e como o parecer do céu na sua claridade. Ezequiel não tinha dúvida de que estava a ver a glória de Deus.

– É interessante notarmos que a pedra de safira, que como que anunciava a glória divina, estava acima da cabeça dos querubins. Embora sejam criaturas das mais excelentes na hierarquia celestial, os querubins estão abaixo do Senhor.

Um destes querubins, por querer sair desta posição, acabou sendo expulso do céu e se tornando o inimigo de nossas almas.

Nunca devemos nos esquecer de que Deus está acima de todas as coisas e que temos sempre de obedecer-Lhe, de reconhecer-Lhe o senhorio.

– Precisamente porque os judaítas não tinham reconhecido que o Senhor é Deus e só Ele, que não podemos ter outros deuses diante d’Ele é que se estava passando por aquele processo de ira divina. Se os querubins, poderosos como são, estão abaixo do Senhor, por que haveremos de querer superá-l’O, de sermos indiferentes à Sua vontade?

– A pedra de safira tinha o aspecto da semelhança de um trono, mostrando ao profeta que Deus não só está acima de tudo e de todos, como também é Ele quem governa, é Ele quem tem todo o poder e autoridade.

Não é por outro motivo que o Senhor Jesus, ao nos ensinar a orar, disse para que pedíssemos ao Pai que viesse o Seu reino (Mt.6:10; Lc.11:2), pois não há como servirmos ao Senhor sem que Lhe sejamos submissos.

– Demonstrando o Seu comando e majestade, o Senhor, então, falou ao homem vestido de linho que fosse entre as rodas, até debaixo do querubim e enchesse as mãos de brasas acesas dentre os querubins e as espalhasse sobre a cidade (Ez.10:2).

– Os querubins estavam ao lado direito da casa quando aquele homem entrou e uma nuvem encheu o átrio interior.

Ezequiel, sacerdote que era, ao ver que uma nuvem havia enchido o átrio interior, pôde entender claramente que se tratava da glória de Deus, pois a nuvem era sempre uma marca desta glória durante o tempo em que os israelitas peregrinaram no deserto rumo a terra de Canaã (Ex.24:16; 40:34; Nm.9:16,21; Sl.105:39).

– A glória de Deus se levantou de sobre o querubim para a entrada da casa e se encheu a casa de uma nuvem e o átrio se encheu do resplendor da glória do Senhor (Ez.10:4).

– Nesta visão, o profeta ficava a saber que a glória de Deus havia descido do céu para que ficasse no meio do povo de Israel. Deus havia formado a nação de Israel e a escolhido para ser a Sua propriedade peculiar dentre os povos (Ex.19:5,6) e, para tanto, quis habitar no meio do povo (Ex.25:8).

– Tanto assim foi que, quando da inauguração do tabernáculo, a glória do Senhor encheu o local (Ex.40:34,35), tendo, inclusive, descido fogo do céu que consumiu o primeiro sacrifício que estava sendo oferecido no altar e acendeu o próprio fogo do altar (Lv.9:23,24).

A glória de Deus, portanto, era a demonstração da presença de Deus no meio do Seu povo, a autenticação de Sua aprovação e de Sua majestade sobre o povo.

-Por isso mesmo, quando da apostasia verificada nos dias de Eli, em que os filhos deste juiz e sumo sacerdote, Hofni e Fineias, profanaram grandemente o santuário (I Sm.2:22-25), a glória de Deus se retirou do tabernáculo (Sl.78:56-62), tanto que a própria arca foi levada pelos filisteus, tendo se resumido esta situação no próprio nome dado ao neto de Eli, nascido sob o impacto da notícia da tomada da arca da aliança pelo inimigo, a saber, Icabô, cujo significado é “foi-se a glória de Israel” (I Sm.4:21,22).

– A glória de Deus somente retornaria quando da construção do templo em Jerusalém, ocasião em que, mais uma vez, na inauguração, desceu fogo do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios, tendo a glória do Senhor enchido a casa (II Cr.7:1-3).

O Senhor, uma vez mais, mostrava Seu desejo e intenção de estar no meio do Seu povo, de ter comunhão com Ele.

– No entanto, desde então, o povo de Israel prosseguiu em pecar contra o Senhor, praticando a idolatria, a começar do próprio Salomão, de modo que, durante 390 anos, não se arrependeram das suas más práticas, mas, ao revés, estavam na mesma situação lamentável, quiçá até pior, que tinha estado o tabernáculo nos dias de Eli, conforme o próprio Deus mostrara a Ezequiel.

III – A GLÓRIA DE DEUS DEIXA O TEMPLO

– O profeta viu, então, que a glória do Senhor enchera o átrio interior, com uma nuvem, mas os querubins foram para o átrio exterior. O estrondo das asas dos querubins era como a voz do Senhor quando falava (Ez.10:4).

– Muito interessante que o som produzido pelos querubins em movimento fosse igual à voz do Senhor. Isto nos mostra que, na dimensão celestial, as criaturas divinas sempre ecoam a fala de Deus, em momento algum destoam daquilo que é dito e manifestado pelo Senhor.

– Quando obedecemos ao Senhor, quando vivemos de acordo com o que Ele fala, quando cumprimos e observamos a Palavra de Deus, estamos como que a reproduzir o que existe na dimensão celeste, estamos a reproduzir o ambiente da glória de Deus.

Não há, portanto, como deixarmos de ter a vida eterna, de habitarmos para sempre com o Senhor na Sua glória se, desde já, estivermos neste ambiente glorioso, por intermédio da nossa obediência e serviço a Deus.

– O homem vestido de linho, então, foi até as rodas para retirar as brasas que deveria espalhar pela cidade, brasas que lhe foram entregues por um dos querubins. Notamos como o ambiente celestial é de ordem.

O homem vestido de linho não tinha autorização para ele próprio retirar as brasas, algo que era da alçada dos querubins. Devemos todos entender que cada um tem seu lugar no reino de Deus. Como diz o apóstolo Paulo: cada um fique na vocação em que foi chamado (I Co.7:20).

No ambiente da glória de Deus tudo é ordenado, nada é discrepante, todos exercem a sua função, formando uma unidade que é profícua e realiza a vontade do Senhor.

Esta mesma harmonia se verifica na própria descrição que o profeta faz das rodas junto aos querubins e dos próprios querubins:

todas as quatro rodas tinham uma mesma semelhança, como se estivesse uma roda no meio de outra roda e quando os querubins andavam, as rodas também andavam pelos seus quatro lados, não se virando quando andavam e para o lugar para onde olhava a cabeça, para esse andavam, não se virando quando andavam (Ez.10:9-12).

– Nesta descrição do profeta, vemos, por primeiro, que todos eram guiados pela cabeça. Na Igreja, todos nós também temos de ser guiados pela cabeça, que é Cristo (Ef.5:23), Cristo que nos mandou o Espírito Santo, que nos faz sempre lembrar o que o Senhor Jesus nos diz (Jo.14:26; 16:13).

– Por segundo, vemos que todas as rodas tinham uma mesma semelhança, assim como, na Igreja, todos somos filhos de Deus, todos temos de nos conformar à imagem de Cristo (Rm.8:29), para sermos, dentro do plano original divino, imagem e semelhança de Deus (Gn.1:26,27).

– Por terceiro, a semelhança era tanta que parecia que uma roda estava no meio de outra roda. Devemos ser tão semelhantes a Cristo, que se forme uma unidade entre nós e Cristo, pois é este o propósito do Senhor para com a Sua Igreja, que todos sejamos um n’Ele, como Ele e o Pai são um (Jo.17:21).

– Por quarto, os querubins não se viravam quando andavam, andando para o lugar onde olhava a cabeça. A Igreja deve olhar para Cristo (Hb.12:2) e não se distrair, jamais perder o alvo pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp.3:14), que é o trono de Cristo, onde Ele está a nos aguardar (Hb.12:2; Ap.3:21).

Os querubins tinham quatro rostos: querubim, homem, leão e águia. Tem-se entendido que cada um dos rostos do querubim traz-nos uma das imagens pelas quais o Senhor Jesus é mostrado nos Evangelhos: como querubim, ou seja, como servo de Deus, no evangelho segundo Marcos;

como homem, o homem perfeito, a expressa imagem e semelhança de Deus, no evangelho segundo Lucas; como leão, o rei dos animais, no evangelho segundo Mateus e, por fim, como águia, a ave que voa mais alto, como Filho de Deus, no evangelho segundo João.

– Os querubins, assim, sendo criaturas que estão diante da glória de Deus, mostram a plenitude da glória divina que veio à humanidade, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, Deus feito homem, a esperança da glória (Cl.1:27).

– A glória de Deus que tinha estado no átrio interior e que passara para o átrio exterior, agora era vista saindo da casa, parando sobre os querubins (Ez.24:18).

A conduta pecaminosa dos judaítas, as abominações do templo estavam a fazer com que a glória divina dali saísse, porque Deus é santo e não pode conviver com o pecado.

– Quando nos aproximamos de Deus, Deus Se aproxima de nós, como nos diz Tiago (Tg.4:8a). Não é por outro motivo que o salmista Asafe diz que é bom nos aproximarmos de Deus (Sl.73:28). Quando damos um passo em direção a Deus, Ele também dá um em nossa direção.

– Entretanto, quando nos afastamos do Senhor, Ele também Se afastará de nós. Na medida em que vamos nos envolvendo com o pecado, vamos deixando de observar a Sua Palavra, vai ocorrendo um distanciamento cada vez maior.

– Conforme vimos na visão que Deus dera ao profeta, as abominações do templo de Jerusalém estavam em todos os cantos daquele santuário.

Não havia pessoa ou local que não estava a profanar a casa de Deus e, diante deste quadro, não podia mais a glória de Deus permanecer ali, como, aliás, já havia ocorrido em Siló, no tempo do tabernáculo.

– Ante as profanações cometidas por Hofni e Fineias, o Senhor tratou de criar uma circunstância para que a arca da aliança fosse retirada do tabernáculo e para lá nunca mais ela voltou, tendo mesmo o tabernáculo sido destruído e, durante algumas décadas, os objetos sagrados mantidos espalhados em Israel, até serem novamente congregados, ainda que não em sua totalidade, no templo construído por Salomão.

– Agora, o profeta via que a glória de Deus estava se retirando do templo. O pecado estava a como que expulsar o Senhor de Sua casa. Nos dias hodiernos, não é diferente. Nós agora somos templo do Espírito Santo (I Co.3:16,17; 6:19), morada de Deus em Espírito (Ef.2:22) e, se passarmos a viver pecando, também afugentaremos o Senhor de nosso ser, repetindo tristemente o que foi feito pelo anjo da igreja em Laodiceia (Ap.3:20).

A glória de Deus saiu do templo e, em seguida, os querubins alçaram as suas asas e se elevaram da terra aos olhos do profeta, quando saíram, sendo acompanhados pelas rodas, parando à entrada da porta oriental da casa do Senhor e a glória do Deus de Israel estava no alto sobre eles. Temos aqui mais um afastamento da glória do Senhor.

A glória já se encontrava acima dos querubins, no alto, como que se recolhendo, voltando ao lugar de onde a princípio estava.

A glória de Deus havia descido do céu para estar com o povo. Agora, por causa da impenitência do povo, recolhia-se para o céu, deixava o povo à mercê, abandonava o povo à sua própria sorte. É precisamente isto que ocorre com os que se rebelam contra o Senhor.

– O apóstolo Paulo menciona algo similar quando fala a respeito dos gentios, daquelas nações que se rebelaram contra Deus em Babel. Por se recusarem a glorificar a Deus como Deus, tais nações foram entregues às concupiscências de seus corações, à imundícia, abandonados às paixões infames (Rm.1:21-26).

IV – O JUÍZO DE DEUS CONTRA OS CHEFES DO POVO

– Em seguida, o Espírito levantou o profeta e o levou até a porta oriental da casa do Senhor e estavam à porta vinte e cinco homens e, no meio deles, Ezequiel viu Jazanias, filho de Azur e Pelatias, filho de Benaías, que eram os príncipes do povo.

O Senhor, então, disse ao profeta que estes dois dos principais eram homens que pensavam na perversidade e davam ímpio conselho em Jerusalém, dizendo que não estava próximo o tempo de edificar casas, que a cidade seria a panela e eles, a carne (Ez.11:1,2).

– Notemos que o Senhor fez questão de identificar ao profeta que a liderança era a primeira a querer fazer desacreditar a palavra do Senhor e que, por isso mesmo, a glória de Deus não podia mais conviver com o povo, pois estavam eles no caminho diametralmente oposto da vontade de Deus.

– O profeta, então, recebe uma nova mensagem profética de juízo, dizendo ao povo que, ao contrário do que eles criam, haveria, sim, a destruição de Jerusalém e do templo, que a espada viria sobre eles e que haveria mortandade na cidade, porque, espiritualmente, já estavam eles mortos (Ez.11:5-9).

– Não adianta os homens criarem para si imaginações, ideias e crenças que estejam em desacordo com a Palavra de Deus.

Enquanto aqueles dois líderes diziam que tudo seria paz, que a cidade seria a panela e os judaítas a carne, ou seja, que haveria fartura, descanso e repouso, o Senhor mostrava que o que dissera se cumpriria, que haveria juízo, mortandade e destruição por causa da impenitência do povo.

– Não podemos nos deixar iludir pelos pensamentos vãos de homens ímpios, que se rebelaram contra Deus e não aceitam a Sua Palavra.

O que pensam e dizem é mentira, o que acontecerá é a verdade e a verdade é o que dizem as Escrituras, o que Senhor revelou na Bíblia Sagrada. Tomemos cuidado, amados irmãos!

Enquanto Ezequiel profetizava, um dos líderes, Pelatias, caiu morto e o profeta, então, caiu sobre o seu rosto e intercedeu pelo povo (Ez.11:13). Este gesto do profeta mostra bem como deve ser o interior dos servos do Senhor.

Embora estivesse a ver abominações, embora estivesse decerto escandalizado com o que estava a contemplar, Ezequiel não desejava o mal do povo, queria a salvação da sua nação. Tinha ele o mesmo sentimento de Deus, que não tem prazer na morte do ímpio, mas quer que o ímpio se arrependa (Ez.18:23. 33:11).

– Assim devemos agir, amados irmãos. Em meio à multiplicação da iniquidade que presenciamos, do esfriamento espiritual de quase todos os que cristãos se dizem ser, devemos desejar o arrependimento desta gente, pregar-lhes a mensagem da salvação, pois não podemos ter prazer na morte dos ímpios, se é que somos verdadeiramente filhos de Deus.

– O Senhor, então, ante esta intercessão do profeta, garante a Ezequiel que o povo não seria de todo destruído. Haveria um remanescente, que seria espalhado por entre as nações, mas que depois seria novamente ajuntado e receberia, uma vez mais, a terra de Israel (Ez.11:14-17).

O Senhor promete que redimiria os israelitas, dar-lhes-ia um mesmo coração e um espírito novo seria posto dentro deles e lhes tiraria de sua carne o coração de pedra e lhes daria um coração de carne para que andassem nos Seus estatutos e os executassem, para que pudessem ser o Seu povo e o Senhor, o seu Deus (Ez.11:18-20).

– Entretanto, os impenitentes seriam, sim, destruídos, porque levaram sobre si o próprio caminho que haviam escolhido (Ez.11:21).

Vemos aqui, a propósito, uma distinção entre o destino de Israel e o destino de cada israelita, algo que muitos não conseguem entender e, por causa disso, acabam por confundir questões importantes como o livre-arbítrio e a responsabilidade individual.

– Deus tem promessa para Israel, estabeleceu que é ela a Sua propriedade peculiar dentre os povos, a Sua nação sacerdotal e povo santo. Tal propósito divino não pode ser alterado, pois Deus é imutável e soberano.

– No entanto, tal circunstância não elimina a necessidade de cada israelita exercer o seu livre-arbítrio, aceitando ou rejeitando ao Senhor.

Ante o pedido do profeta, Deus reafirmou Seu compromisso com Israel, mas também disse que todos quantos haviam se rebelado contra Ele sofreriam a perdição, não porque estivessem predestinados a isso, mas porque haviam rejeitado ao convite do arrependimento levado durante séculos pelos profetas.

Ezequiel, então, viu que a glória de Deus se retirou definitivamente do templo e da cidade, pois os querubins elevaram as suas asas e as rodas o acompanharam e a glória do Senhor se alçou do meio da cidade e se pôs sobre o monte que está ao oriente da cidade. Deus havia abandonado os impenitentes israelitas, mas não a Israel.

– Terminava a visão, este verdadeiro “teletransporte” que o Senhor fizera com o profeta e Ezequiel se viu, então, novamente na Caldeia e anunciou tudo quanto vira para os seus compatriotas cativos.

– Como estamos nós, amados irmãos? Como Ezequiel, tendo a visão da glória de Deus, podendo dialogar com o Senhor, em comunhão com Ele? Ou como os impenitentes que, embora dentro do templo, estavam longe de Deus, pecando incessantemente, sem temor algum, completamente alheios ao Criador, a ponto de a glória ter se retirado de lá. Pensemos nisto!

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/8276-licao-4-quando-se-vai-a-gloria-de-deus-i

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