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Jovens – Lição 4 – A Liderança de Josué

INTRODUÇÃO

Josué apresenta-se como um dos grandes e principais líderes do Antigo Testamento, e a importância da sua liderança não se deve somente aos seus feitos à frente de Israel, mas principalmente pela conjuntura e o contexto que marcaram o momento em que foi estabelecido líder sobre o povo de Deus.

Logo que assumiu a liderança de Israel, Josué foi desafiado em, pelo menos, dois sentidos especiais:

I) Suceder a Moisés; e

II) Ser responsável por introduzir o povo de Israel na Terra Prometida.

O primeiro aspecto diz respeito a ter de substituir aquele que tem sido considerado um dos maiores — se não o maior — líderes da história de Israel, o que por si só já foi algo que estava além da capacidade humana de Josué.

O segundo aspecto tem uma relação com a res­ponsabilidade de liderar o povo no momento da materialização e do cumprimento da promessa que fez Abraão obedecer a Deus e deixar tudo para trás (Gn 12.1-4) e que mobilizou toda a trajetória de Israel até aquele momento.

Definitivamente, Josué foi um líder que teve de enfrentar imen­suráveis desafios e, sob a palavra e a presença de Deus, pôde ven­cê-los, vindo a tornar-se um dos principais referenciais de liderança bem-sucedida na Bíblia.

Sendo assim, analisar a liderança de Josué requer fazê-lo sob a perspectiva de ter sido ele:

I) O sucessor de Moi­sés;

II) Um líder certo na hora certa; e

III) A humanidade de Josué.

O SUCESSOR DE MOISÉS

A essa altura, já está claro que Josué teve uma grande missão recebida de Deus; contudo, por mais extraordinário que Moisés possa ter sido, o episódio da transição de liderança aqui analisada reafirma que por mais importante que Moisés tenha sido e o seu trabalho sirva de exemplo para muitos líderes, a obra de Deus não ficou presa e nem condicionada a ele, pois Josué já estava sendo preparado pelo Senhor para continuá-la.

Isso implica na grande verdade de que Deus é Soberano e de que é Ele quem conduz a sua obra independente­mente dos homens.

É necessário, portanto, que todo líder cristão seja consciente de que a obra sempre prevalecerá e que, quando necessário, o Senhor providenciará os meios e as pessoas para que isso ocorra, pois ele não se prende a nada e nem a ninguém. a obra pertence exclusivamente a Deus.

Uma Escolha Divina

É impossível desenvolver qualquer pensamento sobre a liderança de Josué sem que a de Moisés seja levada em conta, principalmente numa análise que é feita sobre o processo de transição.

Uma grande lição a ser aprendida nesse processo é sobre o desprendimento de Moisés, haja vista que ele não priorizou a perpetuação da sua lide­rança, mas, à medida que percebeu que se findavam os seus dias, ele mesmo tomou a iniciativa de pedir ao Senhor que lhe desse a direção sobre aquele que deveria sucedê-lo (Nm 27.15-17).

A iniciativa foi de Moisés, mas foi Deus quem apontou a Josué como o escolhido para a continuidade da sua missão (Nm 27.18). Josué foi uma escolha de Deus, e não do homem. Além de indicar Josué como sucessor de Moisés, o Senhor enfatizou a sua qualidade ao dizer: “[…] homem em quem há o Espírito […]” (v. 18).

Josué viria a ser um líder sob o domínio do Espírito Santo, ou seja, essa declaração ao seu respeito indica que ele foi um homem espiritual e que conduziria o povo de Israel sob esse padrão.

Há também informações de que Moisés impôs as mãos sobre Josué e de que este deveria ser apresentado ao sacerdote Eleazar (vv. 18,19).

Josué foi um líder de grandes e surpreendentes realizações; ele, no entanto, sempre soube que a autoridade que ele possuía para liderar o povo de Deus não pertencia a ele e nem emanava dele próprio, mas, ao contrário disso, a natureza dessa autoridade era divina e confirmada pelas mãos de Moisés diante de todo o povo.

O líder cristão deve ser consciente de que a sua liderança não se fundamenta em autoridade humana, mas divina; caso contrário, a sua derrota é certa, e grandes serão os prejuízos.

A Continuidade da História

O pensamento sobre a responsabilidade que Josué recebeu de dar continuidade à história que Moisés ajudou a escrever é mais bem compreendida sob a perspectiva de que, embora a Bíblia seja com­posta de muitas histórias, também é um livro de uma história apenas, ou seja, a história de Deus.

Deve-se considerar o fato de que a Bíblia registra a história de Deus, que por graça decidiu contá-la por meio de homens. Isso implica afirmar que a Igreja de Cristo de hoje é a responsável por continuar a história começada pela Igreja de ontem.

Esse princípio não só está presente no processo de transição entre a liderança de Moisés e a de Josué, como também deve ser levado em conta caso haja interesse em fazer-se uma análise a seu respeito.

Assim como Moisés não foi alguém isolado dessa história, Josué deve ser considerado como parte dela. Uma das coisas mais importantes na vida de um líder espiritual é o vínculo a ser estabelecido e man­tido nas suas mais variadas dimensões, inclusive no que concerne na relação com as autoridades constituídas e o respeito que deve ser dispensado a elas.

Ao chamar a Josué e informá-lo acerca da sua missão, o Senhor não deixa de mencionar o nome de Moisés; pelo contrário, ele faz repetidas menções ao grande líder morto recentemente.

É possível perceber nitidamente que há uma ação voluntária em vincular a história de Josué à de Moisés, que, por sua vez, foi atrelada à dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Êx 3.6).

A liderança de Josué foi importante e ocupa um importante lugar nas Escrituras; no entanto, a sua liderança seria a continuidade de uma história já em andamento, com a qual Moisés já havia contribuído.

Enquanto Moisés libertou a Israel do Egito, Josué foi incumbido de introduzir este povo na Terra Prometida. A liderança de Josué é parte de uma construção, e não uma carreira solo, e ela só tem sen­tido quando inserida e compreendida à luz do trabalho que outros prestaram e do que outros ainda prestarão.

Conclui-se, portanto, que o líder cristão deve ter muito claro na sua mente a verdade de que a sua contribuição é uma parte, e não o todo; afinal de contas, a história de Deus é infinitamente maior do que qualquer outra história, e esse líder deve sentir-se honrado e privilegiado.

A Lealdade de Josué

O apóstolo Paulo declara que a principal expectativa a respeito do líder cristão é de que ele seja encontrado fiel (1 Co 4.2).

O líder fiel é caracterizado pela sua lealdade, que, por sua vez, é demonstrada pelas seguintes qualidades:

I) Honestidade;

II) Verdade;

III) Sinceridade;

IV) Compromisso com as alianças firmadas; e

V) Respeitabilidade.

Nesse caso, a lealdade de um líder cristão manifesta-se numa dimen­são transcendental (diante de Deus), pessoal (consigo) e interpessoal (com os seus liderados e com os seus líderes).

A lealdade desenvolve-se numa esfera interna e manifesta-se na externa. A lealdade do líder cristão é colocada à prova constantemente e é nas suas reações que se conhecerá o quão leal este líder é diante de Deus, dos seus liderados e dos seus líderes.

Josué apresenta-se como exemplo de alguém que colheu bons frutos da sua lealdade ao seu líder Moisés. Em momentos importantes da vida de Josué, é possível encontrar a figura de Moisés em algum nível; aliás, a primeira referência que a Bíblia faz do seu nome remonta ao seu ato de obediência (Êx 17.8-16).

Uma das características principais da lealdade de Josué a Moisés foi a sua firmeza, conforme se vê em dois momentos da sua história:

I) Diante do quadro em que Deus falava diretamente com Moisés e o povo admirava-o por isso, Josué “nunca se apartava do meio da tenda” (Êx 33.11), como demonstração de conhecimento do seu lugar, do seu momento e de firmeza; e

II) Junto de Calebe, ele esteve alinhado ao coração de Moisés no momento em que dez espias posicionaram-se contrários à conquista da Terra Prometida (Nm 14.1-9).

Esses dois quadros reafirmam a lealdade de Josué a Moisés, tanto num momento de honra, como também num contexto de dificuldades e cobranças.

Destaca-se ainda que Josué não exerceu a sua liderança sem que houvesse uma referência de autoridade espiritual que o preparou, encaminhou e respaldou ao longo da sua trajetória à frente de Israel (Nm 27.20).

A autoridade da liderança de Josué não procedia dele mesmo, mas daquela que o Senhor confiara a Moisés, razão pela qual o povo de Israel aceitava-o como líder e considerava tanto as suas palavras quanto as suas diretrizes.

A autenticidade e genuinidade da liderança de Josué decorreram da sua relação de submissão e lealdade a Moisés, líder estabelecido e confirmado por Deus.

Josué pôde descansar em Deus e na sua promessa de que, assim como Ele fora com Moisés, seria com ele (Js 1.5). A referência usada por Deus foi a forma como Ele conduzira a liderança de Moisés e como Josué sempre esteve presente ao seu lado, não lhe restando dúvida alguma de que a sua liderança também seria vitoriosa (Js 1.10-15).

Essa relação de Josué com Deus e a forma como ele, Josué, lidara com a autoridade espiritual de Moisés contribuiu para que a sua liderança fosse confirmada pelo Senhor (Js 1.16-18). A lealdade é a marca de um líder espiritual de sucesso.

O LÍDER CERTO NO TEMPO CERTO

Qual o líder ideal para os dias atuais? Que perfil de liderança ade­qua-se à realidade atual, que seja capaz de enfrentar os desafios contemporâneos e que, acima de tudo isso, seja capaz de manter-se fiel ao padrão bíblico?

Muito provavelmente, essas são perguntas que, ainda que em outros termos, sempre estiveram presentes nos mais diversos contextos e momentos da história.

Sempre houve expectati­vas sobre o perfil do líder e o que esperar de uma liderança cristã, e não somente isso, mas também — e principalmente — em torno de Deus levantar o líder certo, no momento certo e para a tarefa certa.

Esta seção é dedicada a pensar em Josué como uma escolha certa de Deus; aliás, essa história serve como mais uma forma de confirmar a verdade de que o Senhor não erra e nem se engana nas suas esco­lhas.

Deus não investe em qualquer pessoa e nem semeia boa semente em terras não férteis. Se não houvesse nenhum relato bíblico-histórico sobre os feitos de Josué, e as informações estivessem restritas somente ao momento da sua chamada, ainda assim o seu chamado seria aceitável, pois a escolha de Deus sempre é a certa e dá certo.

Josué recebeu de Deus a capacidade de liderar, foi treinado para isso e viveu experiências que contribuíram com a sua formação como líder (Êx 17.8-15; 24.12,13; Nm 14.6-12; 27.12-23; 32.12; Dt 1.37,38; 34.9). Assim como as demais lideranças levantadas por Deus, a de Josué foi uma escolha acertada; afinal de contas, o Senhor não erra nas suas escolhas, e a trajetória de Josué confirma o quanto ele serviu de instrumento de bênçãos aos seus liderados.

Quem Foi Josué?

Não há muita informação sobre a família e a origem de Josué, a não ser que foi filho de Num, procedente da tribo de Efraim (Nm 13.8; 14.6; Js 1.1).

O nome Josué vem do hebraico Yehoshua ou Yeshua e significa “O Senhor é salvação”. O seu nome original foi Oseias, cujo significado é “salvação”, e Moisés muito provavelmente mudou para Josué quando enviou os espias para conhecerem a terra de Canaã (Nm 13.16). Ao transliterar para o grego, o nome Josué aponta para a expressão Iesous, que no latim é Jesus.

Os feitos de Josué apontam para a sua alta capacidade, e o seu comportamento indica a sua idoneidade, principalmente no quesito lealdade e submissão. Há outras qualidades em Josué, como, por exemplo, a justiça e a equidade na distribuição das terras, a humildade em ter-se mantido como servo de Moisés até que o Senhor fizesse dele líder sobre Israel, bem como a sua elevada capacidade estratégica nas grandes conquistas militares à frente do povo de Deus.

Josué foi um líder que não tolerou o pecado no meio do povo de Deus (Js 7) e tem-se consolidado como um líder a ser imitado por aqueles que desejam lograr êxito na sua liderança.

Josué e o seu Tempo

O líder eficaz deve ser alguém que seja compreendido pelos seus liderados, mas, para isso, ele deve compreender os seus liderados — caso contrário, a comunicação ficará comprometida ou nem mesmo existirá.

Um dos fatores principais para que realmente ocorra a comunicação é a capacidade de identificar os anseios e as expecta­tivas das pessoas com base na realidade em que elas vivem.

O líder que deseja galgar patamares de destaque na sua liderança precisa, portanto, conhecer o seu tempo e ser capaz de identificar os seus dramas, com vistas a apresentar soluções e até mesmo se permitir ser instrumento para a solução.

Em primeiro lugar, o líder deve conhecer o seu tempo porque é dentro dele que são impostos ao líder os grandes desafios à sua liderança e que ele é chamado a exercê-la.

Em segundo lugar, o conhecimento do próprio tempo facilita o importante processo de identificação das necessidades e dos anseios das pessoas da sua época — ou seja, o conhecimento do próprio tempo leva o líder a estar atualizado.

O líder cristão pode identificar as características do seu tempo por meio de quatro passos:

I) Ser capaz de parar quando necessário;

II) Ter um tempo de reflexão sobre os movimentos vigentes da sua época;

III) Estar disposto a dialogar sobre o assunto; e

IV) Estabele­cer as verdadeiras prioridades para uma liderança atual e relevante.

Olhar para o tempo em que Josué foi constituído líder sobre Israel é ter de reconhecer o quão grande foi o desafio da sua liderança.

A palavra “transição” define muito bem o tempo de Josué, e isso implica uma época marcada por:

I) Incertezas;

II) Insegurança;

III) Grandes expectativas;

IV) Desconfiança; e

V) Medo.

No caso da transição vivida por Josué, há um aspecto bem peculiar, pois ele sucedeu o grande líder Moisés, razão por que teve de lidar com a comparação constante entre ele e o seu precursor.

É dentro desse contexto que Deus levanta a Josué e mostra a sua soberania, o seu domínio e reafirma o seu controle da história, independentemente do homem. O tempo em que Josué foi levan­tado desafiou-o a ser quem ele foi chamado para ser e que, de fato, conseguiu ser com a graça de Deus, isto é, um líder de sucesso.

Josué, o Líder Certo para a Hora Certa

Em toda a Bíblia Sagrada, é possível encontrar registros que con­firmam que, para cada tempo e em diferentes circunstâncias e ne­cessidades, Deus sempre levantou pessoas com as quais pôde contar e usar como cooperadores na sua obra, inclusive na qualidade de líderes espirituais.

Exemplo disso é Neemias, que providencialmente foi inserido no contexto do palácio sob o governo de Artaxerxes e ali teve condições de pleitear por condições para a reconstrução dos muros e das portas de Jerusalém (Ne 2).

A posição de copeiro do rei no palácio não teve como finalidade o benefício pessoal de Neemias, mas é evidente que foi resultado de uma ação estratégica de Deus para colocá-lo em um lugar que o favorecesse na sua missão. Neemias foi uma pessoa certa, no lugar certo e para a tarefa certa.

Do mesmo modo, Josué foi uma escolha de Deus para o seu tempo, razão pela qual foi o líder certo, no lugar certo e com a tarefa certa.

É bem verdade que, aos olhos humanos, a falta de Moisés não seria preenchida por ninguém, só que é Deus quem controla os tempos, as estações, os povos e a história (Sl 59.13; 103.19; Zc 9.10), e, por isso, na sua onisciência, Josué já estava nos seus planos para que, no tempo oportuno, fosse apresentado como líder no lugar de Moisés.

Deus está acima da história, do tempo e dos homens. Perceba isso na diferença da personalidade e do perfil de liderança de Moisés e de Josué, pois aquele é descrito na Bíblia como o homem mais manso da terra (Nm 12.3), enquanto este é apresentado como homem de guerra, que, aliás, estava sempre disposto a guerrear (Js 5.13-15). Basta imaginar Josué na liderança de Israel — povo de dura cerviz — na sua travessia pelo deserto.

Dificilmente restaria alguém com vida, tendo um líder com o ímpeto de guerra como ele tinha. Por outro lado, imagine Moisés, manso como era, tendo de introduzir Israel à Terra Prometida tomada por inimigos que deveriam ser enfrentados e vencidos.

Definitivamente, Josué foi o líder certo, na hora certa e com a tarefa certa.

A PESSOA DE JOSUÉ

Os feitos de um homem, por maiores que sejam, não o tornam mais do que ele realmente é, ou seja, homem, ser humano.

Com base nisso, toda liderança, ainda que bem-sucedida e triunfante, deve ser exe­cutada, analisada e refletida à luz da humanidade de quem a exerce, pois, caso contrário, os danos poderão ser irreparáveis.

A Bíblia não oculta as limitações e nem os defeitos dos seus personagens, assim como faz questão de exaltar as suas virtudes e as suas conquistas.

Ressalta-se que:

I) Nenhum líder, por mais brilhante que seja, con­segue ser tudo e realizar tudo sozinho;

II) A obediência e submissão a Deus são ordens destinadas a todos os líderes espirituais, pois todos são servos e dependem única e exclusivamente do Senhor; e

III) As palavras divinas de encorajamento e de fortalecimento servem a todos os líderes espirituais, pois todos passam por momentos de desânimo, medo e apreensão.

Desse modo, fica a verdade de que todo líder é humano e depende do Senhor.

Por essa causa, a proposta aqui é a de fazer uma análise de Josué enquanto humano, iniciando com uma reflexão sobre a sua relação familiar, passando pela sua humanidade em si e culminando com o seu maior erro.

Josué e a sua Família

Dentro de uma perspectiva bíblica, é inadmissível que o líder cristão cuide de pessoas em detrimento da sua própria família. Antes de liderar os outros, o líder cristão deve ser líder do seu cônjuge e dos seus filhos. Dito de outra forma, ele deve liderar a sua própria casa.

O apóstolo Paulo é enfático sobre isso ao escrever que: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a fé e é pior do que o infiel” (1 Tm 5.8).

Em outro texto, o apóstolo é bem específico ao tratar diretamente com a liderança da igreja, conforme se lê: “que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (porque se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?)” (3.4,5).

A autoridade de um líder cristão depende diretamente da sua relação com a própria família. Nesse sentido, Josué pode ser con­siderado um líder bem-sucedido.

A Bíblia não dá informações detalhadas sobre a família de Josué, e nem mesmo se ele foi casado e se teve filhos, mas o pouco do que se pode saber é que ele, ainda que com poucas palavras, dá indícios do seu sucesso em conduzir a sua família em servir a Deus.

Embora anônima, a família de Josué tem servido de inspiração para muitas pessoas ao longo da história, principalmente para aqueles que exercem liderança, pois ele pôde dar a seguinte declaração: “[…] eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15).

De acordo com o que tem sido base de reflexão até aqui, tudo aponta para a dupla responsabilidade que o líder tem de servir de exemplo e de inspiração aos seus liderados, e Josué apresenta-se como um líder de sucesso nesses quesitos, em especial na condução da sua família, já que a sua fala traduz a sua decisão no que tange à sua casa, e, como resposta, todo o povo respondeu positivamente e renovou a aliança e o compromisso de servir somente ao Senhor, à semelhança do seu líder Josué (24.16-17).

Josué e suas Imperfeições

Antes da breve abordagem acerca da humanidade de Josué que aqui será feita, acentua-se que o líder cristão precisa ter conhecimento da sua identidade, que, nesse caso, envolve a consciência sobre si mesmo, do que é chamado para fazer e de como isso deve ser feito.

O autoconhecimento e a clara noção da missão a ser cumprida são indispensáveis a um líder cristão, mas não somente isso; é preciso também que haja a consciência de que conhecer a própria identidade deve vir antes mesmo de qualquer plano de trabalho ou método a ser usado com vistas aos bons resultados, além de compreender e ter em alta conta o fato de que esse autoconhecimento deve ser norteado pelos princípios da Palavra de Deus.

Um aspecto teológico que contribui com a análise sobre esse ponto é a relação do trabalho do líder com a consciência da sua própria humanidade e de que forma isso pode e deve afetar a sua liderança.

Inevitavelmente, a humanidade do líder cristão sempre será contras­tada com a divindade daquEle que o chamou para esse ministério, e isso implica em algumas lições fundamentais:

I) Essa consciência coloca o líder no seu lugar e faz com que ele reconheça o lugar que pertence somente a Deus;

II) O reconhecimento do contraste entre a humanidade do líder e a divindade de quem o chamou leva-o a depender inteiramente de Deus, e isso o levará a uma vida de oração; e

III) A graça divina manifesta-se e torna-se mais visível aos homens à medida que Deus usa um determinado líder não obstante as limi­tações impostas pela sua humanidade.

Esse princípio é percebido no contexto em que Deus adverte a Jeremias a clamar, pois o texto bíblico informa que o profeta estava preso (indicação da sua humanidade e incapacidade de autolibertar­-se);

o texto ainda reafirma a soberania de Deus e a sua autonomia em fazer o que quer e da forma como desejar (divindade de quem falava com o profeta), em um claro contraste de realidade, razão por que Jeremias deveria orar, pois ele depende exclusivamente de Deus (Jr 33.1-3).

A humanidade de Josué também é apresentada nas Escrituras, inclusive contrastando com a grandeza de Deus, como quando recebeu a informação de que o momento de assumir a liderança sobre Israel, o Senhor teve de encorajá-lo, pois ele certamente estava amedrontado, assustado e com muitas dúvidas (Js 1.2,3,5-9; 3.7-8).

A humanidade de Josué é notada em todo o registro bíblico, inclusive no episódio em que demonstrou um sentimento de exclusivismo e até de “ciúmes” ao informar a Moisés de que Eldade e Medade estavam profetizando no arraial, tendo sido duramente advertido pelo líder de Israel na época (Nm 11.26-30).

Conclui-se, portanto, que aqui está um grande e maravilhoso mistério, em que este Deus perfeito decide agir e operar por meio de pessoas imperfeitas na condução do seu povo e na cooperação da sua obra. Isso é obra da graça de Deus, pois o seu poder, conforme diz a Bíblia, “se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12.9).

Ao usar pessoas dotadas de limitações, tanto o poder de Deus como a sua graça são mais bem compreendidos pelos homens.

A humanidade do líder cristão não pode ser renegada e nem considerada um problema, mas deve ser colocada diante do Senhor com vistas a ser moldada, preparada e, por fim, usada para a glória de Deus.

A Falha de Josué

Não há líder perfeito; daí a necessidade de pessoas dispostas a atender ao chamado divino para atuarem na obra de Deus. O princípio da complementaridade deve prevalecer na liderança cristã.

Esse princípio propõe que um auxilie o outro nas suas mais diversas limitações, ou seja, aquilo que faltar em um determinado líder que seja suprido por outro, porque é somente assim que o padrão de excelência idealizado por Deus será alcançado.

Conforme já analisado, Josué serviu a Moisés com lealdade, fideli­dade e submissão; ele, entretanto, não seguiu o exemplo do seu líder em buscar de Deus uma direção sobre quem o sucederia e como deveria portar-se no processo de preparo e inserção dessa pessoa como líder de Israel.

Esse erro tem sido considerado o mais grave — e, em certo nível, até irreparável — de Josué, já que, como um dos grandes e principais líderes do relato bíblico, ele deixa essa lacuna, ao contrário de outros que se preocuparam e atuaram no processo sucessório, como se vê a seguir:

I) Moisés preparou e conduziu a Josué na transição;

II) Samuel preparou a Davi;

III) Elias conduziu a Eliseu para sucedê-lo;

IV) Eliseu, a Jeú; V) Jesus deixou os seus discípulos;

VI) Paulo preparou e designou a Timóteo, que, por sua vez, confiou a homens fiéis e idôneos.

Todavia, a história de Josué é concluída com esse vazio terrível e que trouxe consequências terríveis, como ainda será visto (Jz 17.6; 18.1; 19.1).

O que levou Josué a não trabalhar a sua sucessão?

Não é possível e nem prudente afirmar alguma coisa nesse sentido, porque a Bíblia não oferece informações a esse respeito.

Por outro lado, não há restrição em apontar possíveis motivações que levaram Josué a cometer esse erro e que servem de alerta para a liderança cristã da atualidade.

As possíveis motivações podem ser assim dispostas:

I) Falta de desprendimento da posição que ocupa;

II) Desconexão com a verdade de que a obra é de Deus; logo, ela é maior do que o líder;

III) Priorizar projetos pessoais em detrimento da vontade de Deus; e

IV) Falta de buscar em Deus uma direção nesse sentido.

Portanto, aqui se extraem três lições:

I) Esta foi a grande falha de Josué;

II) O líder cristão deve preocupar-se e envolver-se com o processo de transição de gerações; e

III) A figura de um líder espiritual é indispensável na condução do povo de Deus na terra.

Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!

Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. Liderança na Igreja de Cristo: Escolhidos por Deus para servir. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.

Fonte: https://www.escoladominical.com.br/2022/10/21/licao-4-a-lideranca-de-josue/

Vídeo: https://youtu.be/23jmedCRx5I

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