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LIÇÃO Nº 1 – O AVIVAMENTO ESPIRITUAL

ESBOÇO Nº 1

A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Estamos dando início a um novo ano letivo da Escola Bíblica Dominical, o segundo ano do novo currículo da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, onde estudaremos, neste primeiro trimestre, a respeito da necessidade do avivamento espiritual para a vida de cada salvo na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Em tempos de apostasia e de frieza espirituais, quando tudo indica que nosso país mergulhará nas trevas do materialismo ateísta, e, desta feita, de forma irreversível, sob o domínio da chamada Agenda 2030, profundamente anticristã e preparatória do reinado da besta que é iminente, é extremamente oportuno que venhamos a nos debruçar sobre “o chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus”.

No ano passado, de forma muito feliz e oportuna, vimos a necessidade de termos conhecimento do que são as Escrituras, qual é a essência da doutrina de Jesus, que está contida no sermão do monte, como também da necessidade de estarmos alertas para as sutilezas de Satanás na tentativa de deturpação desta doutrina e, por fim, da extrema necessidade de estarmos prontos para escaparmos do iminente juízo divino, relembrando as profecias de Ezequiel.

Tudo isto está relacionado com um dos dois aspectos dos erros cometidos pelos homens e que levam à perdição espiritual, que o Senhor Jesus deixou bem claro ao ser desafiado pelos saduceus, já no final de Seu ministério, quando disse que uma das fontes dos erros é não conhecer as Escrituras (Mt.22:29).

Ao lado disto, porém, Cristo disse àqueles homens, que eram materialistas, que era mister, também, conhecer o poder de Deus (Mt.22:29).

Eles não criam na ressurreição precisamente porque não criam no poder de Deus, pois, como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus,

“… Ele (Deus, observação nossa) ´Espírito doador e mantenedor de toda a vida: ‘O Espírito de Deus me fez, e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida’ (Jó 33:4)…” (DFAD II, p.31)..

Ora, aos patriarcas, Deus já Se revelara como o Todo Poderoso (Ex.6:3) e, para mostrar a Israel que era o único e verdadeiro Deus, também demonstrou o Seu poder (Ex.13:3,9,14; Dt.4:34).

De igual maneira, quando Jesus veio a este mundo, demonstrou a Sua deidade e que era o Cristo através de sinais, prodígios e maravilhas, revelando o Seu poder (Hb.2:3,4).

Notamos, portanto, que não há como conhecermos a Deus plenamente, não há como nos mantermos sem errar se também não experimentarmos, se também não desfrutarmos do Seu poder.

É bem por isso que o Senhor Jesus, antes de subir aos céus, disse que os
Seus discípulos, para serem testemunhas d’Ele, tinham de receber o poder do Espírito Santo (At.1:8).

Vivemos dias de multiplicação da iniquidade, às vésperas do arrebatamento da Igreja e não há como perseverarmos até o fim para alcançarmos a salvação senão por meio da busca do poder de Deus.

Assim, muito oportuno o estudo que nos é proposto, para que venhamos a buscar a face do Senhor e, devidamente revestidos do poder de Deus, podermos resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes (Cf. Ef.6:13).

A capa da revista mostra um braço estendido para o alto, com a Bíblia Sagrada aberta na mão, aparentemente sob a ação do vento, pois suas folhas estão em movimento, debaixo do Sol, bem iluminada por ele.

Esta imagem evoca-nos, em primeiro lugar, uma atitude de súplica, a mão está estendida para o alto, a nos lembrar que devemos ter nosso foco nos céus, devemos buscar as coisas que “são de cima” (Cl.3:1,2).

Aqui temos a necessidade do “quebrantamento” de que fala o subtítulo de nosso trimestre. Como bem entendeu Davi no momento de seu arrependimento ante os pecado cometidos, “os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl.51:17).

Não se pode ter um verdadeiro e genuíno avivamento se não resolvermos buscar ao Senhor, reconhecer as nossas mazelas, a nossa pecaminosidade, a nossa imperfeição e admitirmos nossa total incapacidade de nos pormos em comunhão com Deus, a não ser nos humilhando, reconhecendo a nossa culpa e pedindo perdão, demonstrando nossa fé na pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Esta busca deve ser feita mediante os ditames das Escrituras, a Palavra de Deus, a verdade (Jo.17:17).

Não se pode buscar a Deus do nosso jeito, mas do modo estabelecido pelo Senhor, consoante a Sua revelação a nós, que é a Bíblia Sagrada.

Devemos nos render ao Senhor, reconhecer a nossa total dependência d’Ele. Trata-se de um “quebrantamento”, que, como diz o original hebraico “šābhar” (רבש), cujo sentido é “quebrar, derrubar, despedaçar, de coração partido, romper” (Cf. Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Dicionário do Antigo Testamento, verbete 7665, p.1946), representa um rompimento com a antiga maneira de viver, uma destruição do “velho homem” e um reinício, uma total submissão à vontade divina.

A ação do vento faz-nos lembrar que quem nos guia em toda a verdade e nos reveste de poder é o Espírito Santo, que o Senhor mandou para estar conosco (Jo.14:25; 16:13-15).

Este Espírito que nos convenceu do pecado, da justiça e do juízo e nos fez com que nos quebrantássemos e nos arrependêssemos (Jo.16:8), agora completa a Sua obra, enchendo-se d’Ele, revestindo-nos de poder (At.1:8; I Co.2:4).

Mediante esta atitude de súplica e de busca, consoante as Escrituras e a ação do Espírito Santo, temos vida e vida abundante (Jo.10:10), que nos permitirá permanecer na luz (I Jo.1:7) até o dia em que nos encontraremos com o Senhor nos ares (I Ts.4:16,17).

Após uma lição introdutória, em que falaremos o que é o avivamento espiritual, veremos como o avivamento é mostrado no Antigo Testamento e em o Novo Testamento, o que se constitui no primeiro bloco do trimestre, que é uma visão bíblica panorâmica do avivamento.

Depois, veremos o avivamento no ministério de Nosso Senhor, na vida da Igreja, no ministério de Pedro e na vida de Estêvão, que se constitui no segundo bloco do trimestre, que é o avivamento em Cristo e na igreja primitiva.

Em seguida, estudaremos o avivamento espiritual no mundo, o avivamento pentecostal no Brasil, o terceiro bloco, que fala do avivamento espiritual na história da Igreja.

Na sequência, estudaremos o avivamento espiritual na vida pessoal, na missão da Igreja e a vida no Espírito, o quarto bloco, que fala do avivamento espiritual cotidiano.

Por fim, temos uma lição conclusiva.

O comentarista deste trimestre é o pastor Elinaldo Renovato de Lima, pastor presidente das Assembleias de Deus em Parnamirim/RN, que há anos comenta as Lições Bíblicas.

Que, ao término do trimestre, estejamos a buscar incessantemente o
poder de Deus.

B) LIÇÃO Nº 1 – O AVIVAMENTO ESPIRITUAL

Para não errar, precisamos conhecer o poder de Deus.

INTRODUÇÃO

– Neste trimestre, estudaremos o chamado das Escrituras para o quebrantamento e o poder de Deus.

I – O QUE É AVIVAMENTO

– Avivamento é o ato de “tornar ou tornar-se mais vivo, reanimar ou reanimar-se, despertar, tornar-se mais forte, mais intenso, aumentar, intensificar-se, tornar-se mais nítido, destacar-se, tornar-se mais ativo (diz-se de fogo, brasa etc.),

tornar mais ágil, apressar” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa). Como se pode, pois, observar, quando se fala em avivamento se está a falar de um estágio posterior ao de viver.

Só pode ser avivado quem já está vivo e é por isto que este termo foi utilizado pelos pentecostais para se referir ao estágio espiritual posterior à conversão, para o apossamento das bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo (Ef.1:3).

– A única vez que o termo aparece na Versão Almeida Revista e Corrigida é em Hc.3:2, onde o profeta, no início da sua oração que finaliza o seu livro, faz um pedido ao Senhor, depois de ter ouvido a Sua Palavra e temido: “Aviva, ó Senhor, a Tua obra no meio dos anos, no meio dos anos a notifica; na ira, lembra-Te da misericórdia”.

“Aviva”, aqui, é tradução da palavra hebraica “chayah”, cujo significado é “viver, fazer viver, manter vivo, viver prosperamente, viver para sempre, sustentar a vida, ser rápido, ser restaurado para a vida ou para a saúde”.

A Septuaginta (versão grega do Antigo Testamento) usa a palavra “katenoesa”(κατενόησα) cujo significado é “observar”, “reparar”, “contemplar”, “perceber”.

OBS: A Nova Versão Internacional traduziu “aviva” como “realiza de novo”, enquanto a Nova Tradução na Linguagem de Hoje traduz a palavra por “Faze agora, no nosso tempo, as coisas maravilhosas que fizeste no passado”.

A Tradução Ecumênica Brasileira traduz o termo por “vivam teus atos”, com nota em que afirma que o significado da expressão é “faze viver”, lembrando aqui a Edição Pastoral, que utiliza a expressão “faze-a reviver”, que também é seguida tanto pela Versão dos Monges de Mardesous segundo o Centro Bíblico Católico como pela Bíblia de Jerusalém.

A Versão do Padre Antonio Pereira de Figueiredo traduz a palavra por “vivifica”. Já a Bíblia Viva, fugindo bem do significado, traduz o termo por “ajude-nos novamente nesta hora em que tanto precisamos de ajuda”.

Mantém a mesma tradução da Versão Almeida Revista e Corrigida, as seguintes versões: Almeida Fiel e Corrigida, Almeida Atualizada, Bíblia na Linguagem de Hoje, Tradução Brasileira e Edição Contemporânea de Almeida.

– Avivamento é, em primeiro lugar, o ato de tornar mais vivo, ou seja, transformar a vida espiritual em uma vida mais intensa, em uma vida abundante. Isto nos faz lembrar as palavras de Jesus que disse que tinha vindo ao mundo para que Seus discípulos tivessem vida, mas Sua missão não cessava aí. Tinha vindo para que houvesse vida e vida em abundância (Jo.10:10).

Neste texto, vemos, claramente, que a obra de Cristo não se limitava a dar vida àqueles que estavam à mercê do trabalho do inimigo, que é roubar, matar e destruir, mas que esta vida deveria ser abundante na vida de cada um dos alcançados pela Sua obra salvadora.

Vida abundante é uma vida em toda a sua plenitude, com todos os benefícios proporcionados pela comunhão com Deus.

Vida é estar em comunhão com Deus, é não ter mais separação de Deus por causa do pecado, mas vida abundante é a comunhão com a presença de todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo. Por isso, um dos significados de “chayah” é o de “viver prosperamente”.

– Avivamento é, em segundo lugar, o ato de reanimar, de despertar. Neste sentido, o conceito de avivamento nos lembra uma figura do mundo jurídico, que é o direito do proprietário de constranger o seu confinante a proceder com ele à aviventação dos rumos apagados, a renovação dos marcos destruídos ou arruinados (artigo 1.297 do Código Civil).

O proprietário, pela lei brasileira, sempre que perceber que os marcos e os limites de sua propriedade encontram-se desgastados, desaparecidos ou prontos a desaparecer, pode fazer com que eles sejam “aviventados”, ou seja, voltem a ser notórios, públicos, conhecidos de todos.

– Assim também ocorre na vida espiritual. O Senhor, que é nosso proprietário(Gl.2:20), pois nos comprou com o Seu sangue na cruz do Calvário (I Co.6:20; 7:23), de tempos em tempos, pode perceber que nossos marcos, nossos sinais estão sendo obscurecidos pelo dia-a-dia, pelas dificuldades desta vida e, por isso, faz com que os “aviventemos”, que os renovemos, mediante o avivamento.

O avivamento, também, assume as características de uma renovação espiritual, de um desabrochar dos sinais da presença de Deus que se estavam perdendo.

Foi assim na história de Israel e tem sido na história da Igreja. Foi por isso que o profeta Habacuque pediu ao Senhor que avivasse a Sua obra ao longo do tempo, no decorrer dos anos. Por isso um dos significados de “chayah” é “fazer viver, manter vivo, viver para sempre”.

– Em terceiro lugar, avivamento é o ato de tornar-se mais forte, mais intenso, intensificar-se. O avivamento envolve, também, o crescimento espiritual do crente. A vida espiritual é dinâmica, ou seja, é um contínuo movimento.

Assim como o organismo biológico vivo sempre está se transformando, não cessa de mudar a cada instante, com o surgimento de novas células a cada segundo, também o crente não cessa de se modificar a cada instante do ponto-de-vista espiritual.

Entretanto, enquanto na vida física nós passamos, a partir da juventude, a iniciar um desgaste cada vez mais intenso, pois o homem exterior, isto é, o nosso corpo, é corruptível, o homem interior, pelo contrário, como não sofre os efeitos do tempo, passa a ter cada vez maior intensidade, a ter um progresso a cada segundo que passa, caminhando para atingir o nível de varão perfeito, a estatura completa de Cristo (II Co.4:16; Ef.4:13).

O avivamento, portanto, é a manutenção da vida espiritual alcançada e a obtenção de maior vigor no decorrer do tempo, pois o homem interior é corroborado com poder pelo Espírito Santo (Ef.3:16). Por isso, um dos significados de “chayah” é “sustentar a vida”.

– Em quarto lugar, o avivamento é o ato de tornar-se mais nítido, destacar-se. Assim como, ao se
“aviventarem” os limites entre dois prédios, percebe-se mais claramente onde se começa a propriedade de uma pessoa e onde ela termina, o avivamento é, também, uma ação que nos permite identificar com mais clareza quem pertence ao Senhor e quem dEle não é.

Uma igreja avivada é uma igreja que discerne bem quais são os verdadeiros e autênticos crentes e quais são os falsos apóstolos, a exemplo do que se deu na igreja de Éfeso que, em seu tempo avivado, pôde desmascarar os falsos apóstolos (Ap.2:2).

Um crente avivado é aquele que demonstra a presença de Deus na sua vida, bem como o poder do Espírito Santo. Por isso, os sinais e maravilhas são abundantes, como se vê nos tempos apostólicos (At.2:43; 4:30; 5:12,15; 19:4; I Co.2:4). Por isso, um dos significados de “chayah” é “restaurar para a vida e para a saúde”.

– Em quinto lugar, o avivamento é tornar-se mais ativo, mais ágil, apressar. É interessante observar que, para o lexicógrafo (isto é, o autor do dicionário), avivamento é tornar mais ativa uma chama, uma brasa, o que nos remete, de imediato, ao símbolo do fogo que João Batista utilizou para o batismo com o Espírito Santo.

O avivamento tem, como efeito, fazer com que a haja mais ação na obra do Senhor, que haja um movimento e é por isso que o avivamento é, antes de mais nada, um movimento do Espírito Santo.

Assim como no dia de Pentecoste, um som como de um vento veemente encheu o cenáculo e causou um reboliço que chamou a atenção de uma multidão de peregrinos, do mesmo modo o avivamento na igreja local causa uma movimentação que faz com que haja uma repercussão no meio da igreja e dos incrédulos.

Porventura, não foi o que ocorreu no avivamento da rua Azusa, cujos resultados se espalharam, rapidamente, pelos quatro cantos do mundo, inclusive aqui no Brasil?

– Mas, além de fazer com que haja mais ação (e eis a razão pela qual Jesus mandou que os discípulos aguardassem em Jerusalém até que do alto fossem revestidos de poder – Lc.24:49b), o avivamento concede, também, o senso da urgência, a consciência da necessidade de, apressadamente, pregar o Evangelho, diante da iminência da volta do Senhor.

A igreja dos dias apostólicos é apontada como sendo uma igreja que aguardava Jesus para os seus dias, tanto que necessário foi que os apóstolos, notadamente Paulo, dessem uma melhor explicação a respeito disto, para que não houvesse decepção entre os crentes (cf. II Ts.2:2).

No entanto, este sentimento era resultado direto do avivamento experimentado por aqueles irmãos. O avivamento dá-nos a consciência da urgência da tarefa da Igreja e não é casual que o arrebatamento da Igreja seja antecedido por um avivamento, a “chuva serôdia” que vinha um pouco antes da colheita, celebrada na Festa dos Tabernáculos.

Nossa dispensação terminará com a evangelização de todas as gentes (Mt.24:14) e isto só é possível diante de um avivamento, pois só ele faz com que haja pressa e urgência na obra do Senhor. Por isso um dos significados de “chayah” é, precisamente, o de “ser rápido”.

II – AS CARACTERÍSTICAS DO AVIVAMENTO

– O avivamento é, pois, uma realidade bíblica, um fator que sempre acompanhou o povo de Deus, seja Israel, na antiga aliança, seja a Igreja, nesta dispensação.

Portanto, um verdadeiro avivamento há de ter os contornos estabelecidos pela Bíblia Sagrada, nossa única regra de fé e de prática.

Por isso, não se pode concordar com aqueles que identificam o “pentecostalismo” como uma doutrina puramente mística, que privilegia a subjetividade, ou seja, a emoção de cada pessoa, que defenda um “contacto direto e místico” com
Deus.

– A doutrina pentecostal é, sobretudo, bíblica, ou seja, está fundada nas Escrituras e se baseia totalmente nelas.

É por isso, aliás, que o tema do nosso trimestre é “doutrinas bíblicas pentecostais”, ou seja, são doutrinas bíblicas que são evidenciadas e defendidas pelos pentecostais.

– Com razão, portanto, aqueles que não aceitam a palavra “neopentecostalismo”, que vem sendo utilizada por estudiosos da religiosidade nos últimos anos, para identificar os movimentos e denominações que têm surgido a partir da década de 1970 e que se constituem, hoje, no ramo que mais cresce entre os chamados “evangélicos”, pelo menos nos países sul-americanos (o censo norte-americano de religiões, por exemplo, identificou as Assembleias de Deus como a igreja que mais cresceu em 2005), para não dizer especificamente no Brasil.

– Não se pode ter um “novo Pentecostes”, ou seja, uma “nova doutrina pentecostal”, ou ainda, para se usar de expressão tão em moda naqueles segmentos referidos, de uma “nova unção”.

A doutrina pentecostal não é uma “inovação”, nem uma “novidade”, mas é algo que está presente na Igreja desde o seu primeiro dia de manifestação ao mundo, ou seja, o dia de Pentecostes, pois é algo que está na Palavra de Deus e, sabemos todos, que esta Palavra não muda, nem jamais mudará (Sl.33:11; Mt.24:35; Lc.21:33; I Pe.1:23,25).

Por isso, como bem ensinou, certa feita, o saudoso pastor João Vicente Branco Júnior, de São Paulo/SP, seria correto falarmos em “neoigrejas pentecostais”, mas não em “igrejas neopentecostais”.

– Portanto, se o avivamento contínuo é bíblico, devemos observar nas próprias Escrituras quais são as suas características, até para que não nos deixemos enganar pelos “falsos avivamentos”, manifestações espirituais espúrias e que nada mais são que falsificações e imitações do inimigo de nossas almas, verdadeiros “ventos de doutrinas” que, como analisamos no trimestre anterior, também estão a aumentar em número, mormente agora quando se aproxima o dia da nossa glorificação.

– O pregador e teólogo norte-americano Charles Grandison Finney (1792-1875), ele próprio um dos grandes nomes do que ficou conhecido como “o segundo grande avivamento norte-americano” (1790-1840), que fez uma série de estudos a respeito do tema, afirmava que “o avivamento é a renovação do primeiro amor dos cristãos, que resulta em despertamento e conversão dos pecadores”.

– Ora, se se trata de “renovação do primeiro amor dos cristãos”, nada mais é que a restauração na vida de cada cristão de uma vida conforme a Palavra de Deus, a palavra que permanece para sempre e que entre os cristãos foi evangelizada (Cf. I Pe.1:25). Não há, portanto, nenhuma “inovação”, mas, sim, “renovação espiritual”, retomada dos ditames da imutável e sempre permanente Palavra de Deus.

– Ora, o avivamento da Igreja deve fazer com que se mantenham, diante desta imutabilidade da Palavra, as mesmas características que foram observadas na igreja primitiva.

Uma igreja avivada, pois, tem de ter os mesmos predicados que se encontraram na igreja de Jerusalém logo após o dia de Pentecostes e que vemos minudentemente descrita em At.2:41-47, que passaremos, então, a analisar.

– A primeira característica de um avivamento autêntico e que vem da parte de Deus é a perseverança na Palavra de Deus.

Com efeito, a igreja primitiva iniciou-se pela conversão de quase três mil almas sob o impacto da operação poderosa do Espírito Santo na vida dos discípulos batizados com o Espírito Santo, levando-os a “receber de bom grado a Palavra” (At.2:41).

Este é o primeiro ponto descrito nas Escrituras, pois todo avivamento começa pelo “recebimento da Palavra”, que, então, leva ao batismo nas águas, um sinal público que se dá da transformação interior já ocorrida.

OBS: É por isso que não podemos concordar com aqueles que insistem em pregar que o início da vida espiritual se dá com o batismo e dizem que isto se deu no dia de Pentecostes.

O texto sagrado diz que foram batizados aqueles que, de bom grado, receberam a Palavra, ou seja, o recebimento da Palavra é o primeiro ponto, a primeira mostra de um avivamento, não o batismo, que é consequência, e somente para os que eram incrédulos.

Os crentes que haviam sido revestidos de poder também receberam a Palavra e a pregaram com unção e discernimento espiritual do que estava a ocorrer, sem que precisassem ter sido batizados nas águas.

– Todo avivamento é um mover do Espírito Santo e a função primordial do Espírito Santo é glorificar a Cristo, anunciando a Sua verdade (Jo.16:13-15). Ora, a Verdade de Cristo é a Palavra de Deus (Jo.17:17), Palavra esta que testifica de Jesus (Jo.5:39). Portanto, todo e qualquer avivamento resulta em um retorno às Escrituras, à Palavra do Senhor.

– Desde o Antigo Testamento, sempre vemos que os momentos de avivamento do povo de Deus são caracterizados por uma busca da lei do Senhor, por uma renovação no interesse e na observância das Escrituras.

Todo e qualquer movimento que menosprezar a Palavra de Deus, que não der espaço ao estudo e ao ensino da Palavra, não é um verdadeiro avivamento espiritual, mas um movimento místico, que se misturará facilmente com manifestações sobrenaturais de procedência maligna.

OBS: Não é, por outro motivo, pois, que o autodenominado “grande e último avivamento do tempo do fim” que teve seu início na Igreja do Avivamento Mundial, em Boston, nos Estados Unidos, por parte do sr. Ouriel de Jesus, deve ser repelido, pois seu início está vinculado a “novas escrituras”, “novas revelações” supostamente dadas àquele senhor. Não há como concordar-se com um “avivamento” que deixa de lado as Escrituras e se apegam a invencionices humanas.

– Não só o avivamento traz o recebimento da Palavra, mas, também, a perseverança na doutrina dos apóstolos.

Uma igreja avivada, ao contrário do que muita gente pensa e faz na atualidade, não é uma igreja que não estude a Palavra de Deus, nem uma igreja que, por achar que “a letra mata”, não frequenta ou nem tem cultos de ensino e de doutrina, procurando apenas “reuniões de poder”.

O verdadeiro avivamento faz com que o crente seja guiado pelo Espírito Santo e esta direção exige, em primeiro lugar, a perseverança na doutrina dos apóstolos. Crente avivado é crente que conhece a doutrina dos apóstolos e que, por isso, não se deixa levar por qualquer “vento de doutrina”.

– A segunda característica de um avivamento autêntico e que vem da parte de Deus é a perseverança na comunhão (At.2:42).

O avivamento espiritual é um movimento que dá aos crentes a consciência de que são um único corpo cuja cabeça é Cristo e que devem viver em união, sem qualquer distinção ou discriminação de espécie alguma.

O avivamento da rua Azusa causou espanto e críticas por parte da sociedade norte-americana porque pôde reunir, em uma só comunidade, brancos e negros, numa sociedade fortemente racista e segregacionista como eram os Estados Unidos do início do século XX.

Um verdadeiro e genuíno avivamento não faz distinção de espécie alguma, reconhecendo que, para Deus, não há acepção de pessoas (Dt.10:17;
At.10:34). Por isso, na igreja primitiva, “todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum”
(At.2:44).

OBS: Por isso, não podemos aceitar como avivamento genuíno e autêntico aquele que é gerado em “encontros secretos”, aonde somente algumas poucas pessoas têm acesso, para receber uma “unção” sobre a qual estão proibidos de revelar, como ocorre no gedozismo. Isto não é o avivamento verdadeiro.

– A perseverança na comunhão, também, tem uma dimensão vertical, ou seja, o avivamento leva os crentes a terem uma consciência da necessidade de se santificar para permanecerem em comunhão com o Senhor.

Todo avivamento genuíno leva o povo a melhorar os seus caminhos diante de Deus, aumentando a qualidade de seu comportamento, a fim de diminuir as brechas pelas quais pode advir a prática do pecado. Um verdadeiro e genuíno avivamento não abre mão de uma postura ética diferente, não admite a convivência com o pecado.

OBS: Por isso não podemos admitir como provenientes de um verdadeiro e genuíno avivamento manifestações que, apesar de sobrenaturais e espantosas, não tragam qualquer mudança de comportamento na vida das pessoas. Um verdadeiro avivamento faz as pessoas deixarem os embaraços e as práticas pecaminosas que antes toleravam e, vez por outra, consentiam ou faziam.

– A terceira característica de um genuíno avivamento é a perseverança no partir do pão (At.2:42). Esta expressão tem sido entendida como sendo uma indicação de que, desde os tempos primitivos, a celebração da ceia do Senhor era uma constante entre os crentes, e, neste sentido, é conjugada à expressão “comunhão”, mas, entendemos que, além deste significado, que não desprezamos, haja outro, como já dissemos ao analisarmos a primeira parte da expressão (comunhão).

O partir do pão abrange mais do que a participação na ceia do Senhor, envolve a consciência da necessidade do próximo, do amor ao próximo.

Se é certo que o avivamento espiritual nos revela que os crentes estão em paz com Deus, alimentando-se da Sua Palavra, não é menos certo que nem só da Palavra viverá o homem, mas também do pão material, tanto que vemos, sempre, nas igrejas avivadas, um trabalho de assistência social e de benemerência bem avançados (At.2:44,45; 4:35; II Co.11:9; Ef.4:28) e não somente por intermédio da igreja local, com os diáconos, mas num relacionamento fraternal, doméstico, independente da própria intermediação da igreja (At.2:46).

– A quarta característica de um genuíno avivamento é a perseverança nas orações. Um avivamento faz com que os crentes orem e a oração do justo pode muito em seus efeitos. Uma igreja avivada não pára de orar, faz contínua oração.

Não podemos concordar com “avivamentos” que têm barulho, emoção, mas que não levam os crentes a orar ou a buscar a face do Senhor fora do “transe”.

A história dos avivamentos mostra que sempre o povo foi levado a buscar ao Senhor, a orar, a jejuar e a adorá-lO na beleza da Sua santidade.

OBS: “…Se nós gastássemos mais tempo em oração, haveria maior plenitude do poder do Espírito em nosso trabalho.

Cada vez mais homens que anteriormente trabalharam inequivocamente no poder do Espírito Santo agora estão se enchendo de ar com gritos vazios e dando pancadas nele com gestos sem sentido, porque deixaram de orar.

Nós devemos passar muito tempo de joelhos diante de Deus para continuarmos a ter o poder do Espírito Santo.…(TORREY, R.A. How to pray. Disponível em < http://www.gotothebible.com/HTML/howtopray.html > Acesso em 29 maio 2006) (tradução nossa)

– A quinta característica de um genuíno avivamento é o temor a Deus (At.2:43). Um avivamento traz ao povo uma devida reverência às coisas de Deus, um respeito a tudo o que se relaciona com o culto.

Não se está a falar de um formalismo vazio, sem sentido, mas de um respeito decorrente do reconhecimento da santidade e da majestade de Deus.

Um verdadeiro avivamento não produz bagunça ou anarquia. É um ambiente de ordem e de decência, onde o nome do Senhor é glorificado e onde os incrédulos, ao invés de se escandalizarem, sentem a presença do Senhor.

– A sexta característica de um genuíno e verdadeiro avivamento é a ocorrência de sinais e maravilhas (At.2:43).

Os sinais são confirmações da Palavra do Senhor (Mc.16:20), demonstrações de que a pregação da Palavra não é um mero exercício de retórica, eloquência ou oratória, mas uma amostra do poder de Deus através do Espírito Santo (I Ts.1:5).

Uma igreja avivada é uma igreja onde há milagres e sinais, mas, percebam os irmãos, este é um dos últimos pontos mencionados por Lucas na descrição da igreja primitiva.

Estes sinais e maravilhas eram resultado de todas as outras características, um elemento confirmador de tudo o mais.

Não podemos, pois, julgar pela aparência, apenas procurando os sinais, mas devemos julgar os movimentos segundo a reta justiça, ou seja, conferindo tudo com a Palavra de Deus, para só, então, nos atermos aos sinais. Somente assim não seremos iludidos pelo adversário de nossas almas (Jo.7:24; II Co.10:7).

– Nos dias em que vivemos, muitos se dizem pentecostais, mas há anos não veem em suas reuniões a ocorrência de sinais e de maravilhas.

Ocorre aqui o que dissemos no início desta lição: como podemos dizer que somos crentes pentecostais se a atualidade da operação do Espírito Santo não é uma realidade entre nós? Não podemos viver da memória, nem tampouco da história dos nossos pais na fé.

É preciso que a atualidade do poder de Deus seja evidenciada no nosso meio, em nossas reuniões. Se não há mais sinais e maravilhas, algo está errado.

Precisamos pedir a Deus um avivamento, avivamento que não é apenas a busca de “milagreiros” ou a promoção de “campanhas” para que haja “revelações”, “profecias”, “curas”, mas, muito mais do que isto, é necessário que a própria igreja local verifique onde caiu, para se arrepender e, assim, praticar as primeiras obras, tornando a ter o “primeiro amor”, assim como Jesus mandou que a igreja de Éfeso fizesse, ela própria uma igreja avivada que perdera o fervor (Ap.2:5).

– A sétima característica de um genuíno e verdadeiro avivamento é perseverança na frequência aos cultos e às demais reuniões da igreja.

Os crentes da igreja primitiva “perseveravam unânimes todos os dias no templo”. Observemos que os crentes nem se incomodavam em se reunir no templo de Jerusalém, onde ficavam os seus maiores adversários, visto que tinham sido os integrantes do Sinédrio, que ficava junto ao Templo, os responsáveis pela prisão, condenação e morte de Jesus e pela perseguição.

Os crentes sentiam prazer em cultuar a Deus e, por isso, iam ao Templo, onde haviam sido ensinados, por sua cultura, a adorar ao Senhor.

Os avivamentos sempre mostram, nos seus registros, multidões reunidas para adorar a Deus e ouvir a Sua Palavra, nas mais adversas circunstâncias de tempo ou de lugar. Nada supera o desejo que tem o crente avivado em se reunir e adorar ao Senhor e ouvi-l’O falar., pois ele está

“…certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm.8:38,39).

– A oitava característica de um genuíno e autêntico avivamento é a alegria e singeleza de coração. Uma igreja avivada é uma igreja que não se prende a formalismos, a cerimônias, rituais e solenidades excessivas, mas uma igreja onde não se desvia da simplicidade que há em Cristo Jesus (II Co.11:3).

O avivamento faz-nos ser simples e sinceros diante de Deus e dos homens (II Co.1:12; Cl.3:22). Podemos notar que toda e qualquer frieza espiritual é sempre acompanhada de uma maior pompa e circunstância nos rituais, pompa e circunstância que acaba sendo abominável aos olhos do Senhor, visto que não é acompanhada da necessária santificação (Is.1:10-14).

– A alegria que caracteriza o avivamento espiritual não é algo que seja fabricado por uma técnica neuropsiquiátrica, nem por um artificial estado de emoção.

Bem ao contrário, a alegria nasce espontaneamente no coração do crente avivado, porque é fruto do Espírito Santo, é o gozo pela sua salvação (Sl.51:12).

OBS: Como é diferente a alegria de uma igreja avivada das aberrações como a “risada santa” que tem sido difundida pelos falsos pregadores na atualidade!

– A nona característica de um genuíno e autêntico avivamento é o louvor a Deus (At.2:47). Um avivamento exalta o nome de Deus, coloca-O acima de tudo o mais.

Quando falamos em louvor, falamos em exaltação de Deus, em cânticos, hinos e salmos que enalteçam o Senhor e não o homem, que trazem enlevo à alma e ao espírito, e, por conseguinte, não agridem o corpo, nem promovam qualquer sentimento carnal.

“Avivamentos” feitos com base em “louvorzões”, que suprimem a Palavra do Senhor, que promovam a sensualidade e a emoção, que agitem as pessoas e que se utilizem de ritmos criados para adoração ao diabo ou a seus agentes, que privilegiem o “eu” do crente em detrimento do Senhor nunca podem ser verdadeiros e autênticos avivamentos.

Não passam de versões modernas do velho “alarido dos que cantam” do bezerro de ouro, que continua sendo abominável aos ouvidos do Senhor (Ex.32:7,8,18).

– A décima e última característica de um avivamento genuíno é o crescimento da igreja, ou seja, a salvação de almas, levando os incrédulos a receber a Palavra de Deus, fechando-se, então, o círculo virtuoso estabelecido pelo avivamento.

O avivamento do povo de Deus faz com que os homens glorifiquem ao Pai que está nos céus (Mt.5:16) e, por causa disto, muito são constrangidos pelo Espírito Santo e convencidos do pecado, da justiça e do juízo(Jo.16:8), convertendo-se a Jesus Cristo.

Por isso, os avivamentos sempre fizeram as igrejas locais crescer numericamente, mas o crescimento quantitativo é decorrência do crescimento qualitativo. Crescimento numérico sem que, antes, tenha havido avivamento, não é crescimento, é “inchamento”, cujos efeitos são altamente prejudiciais à obra de Deus, como é exemplo que jamais deve ser esquecido a “conversão” de milhares e milhares de pessoas após o Edito de Milão, em 315, que abriu as portas da igreja para o paganismo e para o desvio espiritual.

– Cremos, realmente, num avivamento contínuo? Somos pentecostais? Só podemos dizer que sim se formos crentes avivados. Temos as características bíblicas para sermos considerados crentes avivados? “Aviva, Senhor, a Tua obra, no meio dos anos”!

 

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/8577-licao-1-o-avivamento-espiritual-i

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