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LIÇÃO Nº 7 – ESTÊVÃO, O MARTIR AVIVADO

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo sobre o avivamento, estudaremos a vida de Estêvão, o primeiro mártir da Igreja.

– O avivamento faz-nos entregar nossa vida por Cristo.

I – O MARTÍRIO COMO POSSIBILIDADE NA VIDA CRISTÃ

– Na sequência do estudo sobre o avivamento, este chamado das Escrituras para o quebrantamento e o poder de Deus, analisaremos a vida de Estêvão, o primeiro mártir da Igreja.

– Consoante já tivemos ocasião de analisar em lições passadas, o avivamento produz dois fatores aparentemente negativos, quais sejam, a perseguição e o surgimento de heresias.

– Pois bem, Estêvão vai nos mostrar que esta perseguição chega ao ponto do martírio, ou seja, da morte em razão da fé em Cristo Jesus.

– De pronto, é interessante observar que Jesus sempre deixou claro aos discípulos que eles poderiam perder sua vida por causa do Evangelho. Logo no “estágio de evangelização”, ainda durante Seu ministério terreno,

Cristo mostrou aos que iam pregar o Evangelho que eles seriam como ovelhas no meio de lobos (Mt.10:16; Lc.10:3).

– Ora, sabemos que os lobos se alimentam de ovelhas, matam-nas e, ao afirmar isto, o Senhor já mostrava que a morte era uma hipótese real para os Seus seguidores.

– Na mesma oportunidade, Jesus disse aos discípulos que não deviam temer quem podia matar o corpo, mas, sim, temer somente Aquele que pode matar a alma e fazê-la perecer no inferno tanto a alma quanto o corpo (Mt.10:28) e que os próprios familiares entregariam cristãos à morte, porque haveria um ódio de todos contra os servos de Jesus por causa do nome de Jesus (Mt.10:21,22).

– Ao afirmar isto, o Senhor também já mostra aos discípulos que alguns deles seriam mortos por causa do Evangelho, que Deus permitiria que o inimigo se utilizasse de seus agentes para ceifar a vida de alguns salvos.

– As Escrituras mostram-nos, aliás, como bem observou o próprio Senhor Jesus, um “rastro de sangue” de justos ao longo da história da humanidade, servos de Deus que foram mortos por causa de sua fidelidade ao Senhor, a começar de Abel (Mt.23:35; Lc.11:51), rastro que prosseguiria depois do próprio Jesus integrá-lo, e que somente será devidamente justiçado por Deus na Grande Tribulação (Ap.16:5,6).

– Este mesmo ensino, Jesus repetiu certa feita, quando uma multidão se reuniu para ouvi-l’O (Lc.12:4,5), mostrando, ainda, que quem confessasse Seu nome diante dos homens, Ele o confessaria diante do Pai, mas quem O negasse diante dos homens, igualmente seria negado diante do Pai (Lc.12:6-9).

– Nas últimas instruções, voltou a tocar no assunto, dizendo que Seus discípulos deveriam esperar do mundo o mesmo ódio com que havia sido Jesus tratado, não esperando que receberiam um tratamento diferente e, se levaram Jesus à morte, certamente o fariam com Seus discípulos (Jo.15:18-25).

– É interessante observar que, ao falar sobre esta realidade, o Senhor Jesus faz questão de ressaltar que os discípulos testificariam d’Ele por causa da vinda do Espírito Santo, a nos revelar, portanto, que o ódio do mundo em relação à Igreja é resultado direto de nos termos tornado templo do Espírito Santo (I Co.6:19), morada de Deus no Espírito (Ef.2:22).

– O martírio é, portanto, uma decorrência do testemunho do cristão. Observemos que a palavra “mártir” é uma palavra grega cujo significado é precisamente o de “testemunha”.

– Ser testemunha é ser mártir e, pela própria palavra, vemos que a morte física por causa do nome de Jesus é algo que se encontra inserido no contexto de testemunhar Jesus.

– Jesus disse que o revestimento de poder tornaria os Seus discípulos em testemunhas em toda a Terra (At.1:8) e isto nos mostra, pois, que o avivamento traz, em si, embutido a possibilidade de este testemunho chegar ao extremo, com a própria perda da vida por causa do Evangelho e da obra de Deus.

– O apóstolo Paulo, logo após a sua conversão, foi advertido que deveria padecer pelo nome de Jesus (At.9:16) e disto tinha ele plena consciência, quando disse aos anciãos de Éfeso que não tinha a sua vida por preciosa e que este sentimento fazia parte do ministério que recebera de Cristo para dar testemunho do evangelho da graça de Deus (At.20:24), a ponto de, na prisão, dizer que o morrer para ele era um ganho (Fp.1:20,21) e, próximo à morte, considerava este fato como sendo uma oferta de sacrifício ao Senhor (II Tm.4:6).

– Este era o mesmo sentimento do apóstolo Pedro que, também, próximo à morte, mostrava toda sua resignação por esta circunstância, considerando isto como uma entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (II Pe.1:11-15).

– É bom salientar que, nos dias de Jesus, já havia, entre os judeus, uma concepção favorável ao martírio, surgida durante a terrível perseguição empreendida contra o culto a Deus por parte do rei sírio Antíoco IV Epifânio (215-162 a.C.), durante o período intertestamentário, cujos atos haviam sido profetizados por Daniel (Dn.11:21-35).

– No tempo desta perseguição, consoante a própria profecia de Daniel, haveria um esforço do povo fiel a Deus, que fariam proezas mas que, por causa disso, ao defender o culto a Deus, cairiam pela espada e pelo roubo (Dn.11:33).

Foi o que ocorreu na chamada “revolta dos Macabeus” (167-164 a.C.), quando estes sacerdotes se insurgiram contra as leis de Antíoco IV Epifânio que proibiam as práticas religiosas judaicas, como a circuncisão, a guarda do sábado e os próprios sacrifícios no templo.

– Ameaçados de morte por Antíoco IV Epifânio se insistissem em seguir a lei de Moisés, muitos judeus foram mortos e, a partir daí, surgiu o conceito de “Kidush Ha-Shem”, ou seja, a “santificação do Nome”, que,

“…na escala tradicional de valores religiosos judaicos não havia categoria de devoção que fosse considerada no mesmo nível da do martírio.

Não havia ato de virtude ou heroísmo que se pudesse comparar com o que consistia em oferecer a própria vida em ‘holocausto’, para a santificação do Nome de Deus, por lealdade à Torah e em defesa do povo judeu…” (AUSUBEL, Nathan. Kidush Ha-Shem. In: A JUDAICA, v.5, p.425).

– Notemos que, na profecia de Daniel, quem caiu pela espada e pelo roubo, por muitos dias, era “o povo que conhece ao seu Deus” , ou seja, os fiéis, aqueles que tinham intimidade e comunhão com o Senhor.

– Nos livros apócrifos de Macabeus, que, embora não sejam inspirados (e por isso não podem compor as Escrituras, ao contrário do que fazem os romanistas), são históricos, há relatos destes martírios e do efeito que tiveram sobre o povo que, animados por estes atos de fé, acabaram por derrotar os sírios e, inclusive, restabelecer momentaneamente a independência política dos judeus.

OBS: Em II Mc.6:18-31 há o registro do martírio do sacerdote Eleazar, de noventa anos de idade, que se recusou a comer carne imunda e em II Mc.7, o registro do martírio de Ana e dos seus sete filhos, por se recusarem a comer carne de porco.

– Deste modo, não era desconhecido dos cristãos a ideia de que poderiam morrer por causa do nome de Jesus, sendo certo que o apóstolo João nos ensina que o verdadeiro filho de Deus ama e o amor nos faz entender que Jesus deu a Sua vida por nós e nós devemos dar a nossa vida pelos irmãos (I Jo.3:16), a começar do irmão primogênito, que é, precisamente Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (Rm.8:29; Hb.2:11).

II – A BIOGRAFIA DE ESTÊVÃO

– Tendo então visto o aspecto da morte física como sempre uma possibilidade real e concreta na vida espiritual do cristão, notadamente quando se está em estado de avivamento, passemos, então, ao estudo desta personagem que foi o primeiro mártir da Igreja, o primeiro a ser morto por causa do nome de Jesus, Estêvão.

– Estêvão surge pela primeira vez em At.6:5, quando está entre os sete varões que são escolhidos pela igreja de Jerusalém para serem diáconos, passando a cuidar da assistência aos necessitados na igreja,

– O nome “Estêvão” é grego (“stephanos”), cujo significado é “coroa”. Como sabemos o nome de personagens bíblicas, normalmente, indicam o caráter da pessoa.

Estêvão havia sido escolhido para ser a “coroa”, para ser aquele que mostraria à Igreja o que espera cada servo de Jesus, qual é o seu propósito e que nos aguarda a “coroa”, o galardão, o prêmio pela nossa fidelidade, pelo nosso serviço na causa do Evangelho.

– O fato de Estêvão ter um nome grego e de ter sido escolhido como diácono na igreja de Jerusalém demonstra que deveria ser um judeu grego, ou seja, um judeu nascido na diáspora ou filho de judeus nascidos na diáspora, ou seja, fora da terra de Israel, pois todos os diáconos eleitos eram de nomes gregos e a sua eleição tinha por objetivo fazer cessar a murmuração existente de que as viúvas judias gregas não estavam sendo devidamente assistidas pela igreja (At.6:1).

– Ao escolher judeus gregos para cuidar desta questão, usava-se de sabedoria, para evitar que a murmuração continuasse ou houvesse alguma suspeita de que haveria privilégio aos judeus nascidos na terra de Israel.

– Um outro fator que mostra ter Estêvão esta origem, ou seja, ter nascido fora da terra de Israel, é a circunstância de que frequentava a sinagoga chamada dos libertos, dos cireneus, dos alexandrinos, dos que eram da Cilícia e da Ásia (At.6:9), a mesma sinagoga que, provavelmente, era frequentada por Paulo, outro judeu nascido fora da terra de Israel e que se encontrava em Jerusalém.

– Muito provavelmente era esta sinagoga frequentada por Estêvão já antes de sua conversão, e, como se tem notícia de que era ele versado nas Escrituras (At.6:9), não é desarrazoado imaginar que, a exemplo de Paulo, também tivesse vindo para Jerusalém para estudar a lei de Moisés junto a algum mestre famoso, como Gamaliel (Cf. At.22:3).

– Temos, portanto, que Estêvão era pessoa que, bem cedo, havia se mostrado interessado no entendimento da lei de Moisés, alguém que dava às Escrituras grande valor, que entendia que nelas estava a vida eterna (Jo.5:39).

– Este interesse pelas Escrituras foi fundamental para fazer de Estêvão uma personagem relacionada ao avivamento da igreja primitiva e ao próprio martírio cristão. Não há como ser avivado, não há como promover avivamento se não se der às Escrituras proeminência, primazia.

– Estêvão viera para Jerusalém para estudar as Escrituras e era pessoa bem versada nelas, tanto que não havia quem pudesse disputar com ele na sinagoga (At.6:9,10).

– Temos aqui uma clara amostra de que não faz sentido algum o pensamento de que o cristão avivado é alguém que não estuda a Palavra de Deus, que não permite que “as letras o façam delirar”, que não se deixa levar pela “letra que mata”. Não é possível termos uma atitude de dissociação entre a Palavra de Deus e o avivamento espiritual.

– É falso dizer que quem se dedica ao estudo das Escrituras se torna um “intelectual”, um “frio espiritual”.

A única pessoa que o livro de Atos dos Apóstolos diz que realizava sinais e maravilhas além dos apóstolos na igreja de Jerusalém até a perseguição promovida por Paulo é, precisamente, Estêvão (At.6:8), que era conhecedor exímio das Escrituras.

– Vindo a Jerusalém para estudar as Escrituras, Estêvão, em circunstâncias que não sabemos, converteu-se a Cristo, passando a frequentar a igreja em Jerusalém.

– Sua conversão fez com que passasse a entender, na doutrina dos apóstolos, como Jesus era verdadeiramente o Cristo, passando, então, a evangelizar, inclusive na sinagoga que frequentava, iniciando a disputa nas Escrituras, provando nelas que Jesus era o Cristo, num procedimento que seria aprendido e depois repetido por Paulo, quando este se converteu (At.9:20-23).

– Estêvão, com a conversão, passou a ser templo do Espírito Santo e logo foi revestido de poder, pois um dos requisitos exigidos para a eleição ao diaconato era ser “cheio do Espírito Santo” (At.6:3), o que significa ser revestido de poder no livro de Atos dos Apóstolos (At.2:4).

– Para ter sido revestido de poder, Estêvão teve de se dedicar à oração, pois foi este o caminho traçado pelo Senhor para que tal bênção viesse (Cf. At.1:14), a nos mostrar, pois, que não há qualquer incompatibilidade entre o estudo das Escrituras e a vida de oração, como muitos, equivocadamente, defendem até nossos dias.

– Revestido de poder, Estêvão também recebeu dons espirituais, tanto que é a única pessoa que o texto bíblico registra realizar sinais e maravilhas sem que fosse apóstolo (At.6:8).

– Esta sua atitude de perseverar na doutrina dos apóstolos e na oração, revela que era alguém dotado de muita fé.

É descrito como “cheio de fé e de poder” (At.6:8). Sem fé, é impossível agradar a Deus e temos de ter uma atitude de comunhão e de busca do poder de Deus para que façamos o que quer Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que é o desenvolvimento de nossa fé, que, surgindo como um grão de mostarda, a menor de todas as sementes, deve se tornar uma frondosa árvore, como é a mostarda, a maior de todas as hortaliças (Mc.4:31,32).

– Estêvão era “cheio de fé e do Espírito Santo” (At.6:5). Cria nas Escrituras, via nelas que Jesus era o Cristo e o demonstrava com seu conhecimento, bem como buscava incessantemente o poder de Deus, de modo que não só fora revestido de poder, mas também tinha dons espirituais.

– O avivamento exige que sejamos cheios de fé e do Espírito Santo. Jesus disse aos saduceus que eles erravam porque não conheciam as Escrituras nem o poder de Deus (Mt.22:29).

Estêvão fez o caminho diametralmente oposto, esmerou-se no conhecimento das Escrituras e se dedicou à busca do poder de Deus e, por isso, tornou-se a “coroa” dos cristãos da igreja de Jerusalém, alguém que era “cheio de fé e do Espírito Santo”.

– Que caminho temos seguido, amados irmãos? Como os saduceus, temos desprezado o conhecimento das Escrituras e o poder de Deus?

Ou, como Estêvão, temos nos dedicado tanto a um quanto a outro? Esta é a diferença entre termos pessoas religiosas, incrédulas e que não conseguem entender a revelação divina ao homem, como eram os saduceus, que até materialistas se tornaram, e os verdadeiros cristãos avivados da igreja primitiva.

– Embora Estêvão seja destacado no texto bíblico, observemos que todos os diáconos precisavam ser “cheios do Espírito Santo e de sabedoria”, ou seja, todos os sete escolhidos seguiram o mesmo caminho de Estêvão, ou seja, dedicando-se tanto ao estudo e meditação das Escrituras, para obter a sabedoria, como também se dedicando à oração e buscando o poder de Deus.

– Notemos, ainda, que tais requisitos são exigidos para a realização de uma tarefa material, que era a assistência social aos necessitados da igreja de Jerusalém, a nos provar que não há sequer a dissociação entre tarefas materiais e espirituais na igreja local. Temos de ter uma unidade, pois o cotidiano material, o dia-a-dia de nossa vida secular deve sempre refletir a nossa peregrinação terrena rumo aos céus.

– Ao ser escolhido como diácono, ademais, Estêvão mostra também que era alguém que perseverava na comunhão e no partir do pão.

Num ambiente de murmuração, de dissensão e de ressentimento, o diácono deveria ser alguém que pudesse apaziguar os ânimos, restaurar a união e promover a recuperação da confiança no serviço de assistência social aos necessitados.

– Alguém que pudesse fazer isso tinha de ser alguém que tinha comunhão com todos, tanto os judeus gregos quanto os judeus hebreus (aqueles que eram nascidos na terra de Israel). Ao ser escolhido pelo povo, mostra-se que Estêvão tinha este perfil.

– Quanto à perseverança no partir do pão, temos que, ao ser escolhido como diácono precisamente para dar assistência social aos necessitados, Estêvão mostra que se preocupava com esta circunstância, com este aspecto da vida na igreja.

O fato de ser um estudioso das Escrituras e um homem de oração não o impedia de ter preocupações concernentes à vida terrena, pelo contrário, revelava o amor de Deus em seu coração ao ter estas preocupações (Tg.2:14-17; I Jo.3:17,18).

– Estêvão, embora fosse diácono, não cessou de promover a evangelização. Uma das características do cristão avivado é pregar o Evangelho ao mundo, anunciar a salvação na pessoa de Jesus Cristo.

O fato de estar envolvido com a assistência social aos necessitados não o impediu de fazer o trabalho de evangelização.

– Eis uma prova bíblica de que a ordem de evangelização não era apenas para os apóstolos, mas para toda a igreja e de que é o propósito de nossa vida espiritual é cumprirmos esta missão, como membro em particular do corpo de Cristo.

Estêvão tinha de se dedicar a uma tarefa secular na igreja local, que não era pequena, mas isto não o desviava do alvo prescrito pelo Senhor, que é a cabeça da igreja.

– Em nossos dias, muitos “burocratas eclesiásticos” procuram esquivar-se da evangelização em nome das “tarefas da obra de Deus”, que, muitas das vezes, não têm sequer a importância da assistência social aos necessitados.

A tarefa da Igreja é ganhar almas para o Senhor Jesus e as manter em santidade e comunhão com o Senhor até o arrebatamento. Nada é mais importante que isso e tudo o que for feito tem de ter este objetivo.

– Não podemos de entender que o nosso alvo é Jesus e que Jesus quer que ganhemos almas para Ele. Não podemos nos distrair com as atividades terrenas, seculares a ponto de deixarmos de ficar aos pés do Senhor, de ouvir a Sua orientação, direção e ensino.

Não podemos agir como Marta, ficando ansioso e se afadigando com “muitas coisas”, lembrando que Jesus disse que a melhor parte foi a que escolheu Maria, parte que jamais lhe seria tirada e que era a única necessária (Lc.10:40-42).

– Estêvão disputava na sinagoga mostrando, nas Escrituras, que Jesus era o Cristo, com sabedoria e sob direção do Espírito Santo que ninguém podia resistir-lhe, e se encontrava ele entre doutores, entre a elite do conhecimento da lei de Moisés, gente como Paulo, aluno de Gamaliel (At.6:10).

– Estêvão, também, andava entre o povo, não só pregando o Evangelho, mas também confirmando a palavra pregada com prodígios e grande sinais (At.6:8), resultado evidente de uma vida de oração e de busca do poder de Deus.

– Temos feito isto? Temos nos dedicado ao estudo das Escrituras, à oração e busca do poder de Deus e pregado o Evangelho a quem está à nossa volta?

Ou temos nos dedicado a muitos serviços eclesiásticos, desligados da tarefa primordial da Igreja, e simplesmente deixado de lado a meditação e estudo das Escrituras, como também não se dedicando à busca do poder de Deus?

– O quadro que se apresenta em muitas igrejas locais, na atualidade, é este, o de total desprezo pela evangelização, pela meditação das Escrituras e pela busca do poder de Deus.

Os que se dedicam a estas tarefas é a ampla minoria da membresia e os “membros mais ativos da igreja” são verdadeiras “Martas”, que estão ansiosas e se afadigam com coisas absolutamente secundárias e sem importância.

– Diante de tal quadro, não é surpresa vermos que Jesus não é mais ouvido nem percebido por muitos, as igrejas mais se assemelham a organizações não governamentais, enquanto que há um crônico analfabetismo bíblico e a total ausência de sinais, prodígios e maravilhas, sem falar que as conversões são raras.

– Estêvão vem nos mostrar que o Senhor espera outra coisa dos Seus discípulos, dos Seus seguidores e que somente entrarão nas mansões celestiais quem tiver um comportamento como o do primeiro mártir da Igreja.

– O êxito de Estêvão não poderia deixar o inimigo inerte. O diácono cheio de fé e do Espírito Santo começou a incomodar sobremaneira o reino das trevas, o mundo que está no maligno.

– Então, na sinagoga por ele frequentada, alguns que tinham, certamente, sido feridos em sua soberba por não terem podido resistir às palavras de Estêvão nas disputas, tiveram o mesmo sentimento de inveja que seus mestres tiveram em relação ao Senhor Jesus, quando o Sinédrio, o máximo órgão político e religioso de Israel, entregou Jesus a Pilatos (Mt.27:18; Mc.15:10).

– A amarga inveja no coração é proveniente da sabedoria terrena, animal e diabólica (Tg.3:14,15), uma obra da carne (Gl.5:19,21), que o inimigo costuma introduzir e ajuda a estimular de modo a promover a perseguição e a morte física dos servos do Senhor.

A inveja foi o fator que desencadeou a morte do primeiro justo por causa de sua fidelidade a Deus, pois foi a principal motivação para Caim matar seu irmão Abel.

– A inveja chega mesmo pessoas a pregarem o Evangelho para prejudicarem cristãos, como o próprio apóstolo Paulo relata ter ocorrido em Roma (Fp.1:15).

– Assim, motivados por inveja, alguns dos que disputavam com Estêvão na sinagoga, muito ligados à elite política e religiosa de Israel, ao Sinédrio, subornaram alguns homens para que dissessem que tinham ouvido Estêvão proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus.

– Observemos que, para enfrentar a Igreja, Satanás levanta não só pessoas influentes, como também usa do poder do dinheiro. O amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males (I Tm.6:10) e onde ele está presente não existe o amor a Deus (Mt.6:24).

– Destarte, quando se inicia uma perseguição, sempre teremos, logo de início, aqueles que serão subornados pelo dinheiro, a fim de fazer o “serviço sujo” contra os verdadeiros servos do Senhor.

Não foi bem isso que vimos, recentemente, na campanha presidencial recente em nosso país, onde muitos pregadores e pastores passaram a defender pautas anticristãs em troca de polpudas propinas e mediante promessas de remuneração em “encontros” que estarão começando a se realizar sob o novo regime anticristão que se instala neste país?

– O amor ao dinheiro, também, apresenta-se como uma arma para desviar espiritualmente a muitos, inclusive lideranças.

Lamentavelmente, critérios econômico-financeiros e materialistas passam a ser observados para separação de obreiros, para preenchimento de cargos na organização que sempre existe na igreja local, e, neste passo, temos pessoas malditas que, assumindo posições na igreja, sem ter qualquer compromisso com o Senhor (pois quem ama o dinheiro, não ama a Deus), comprometem sensivelmente o avivamento espiritual que deve haver na igreja.

– Este tipo de gente sempre aparece quando há sinais de avivamento na igreja, como podemos verificar no episódio de Simão quando ocorreu o derramamento do Espírito Santo em Samaria (At.8:18-24).

– Esta prática de venda de cargos e posições foi um dos motivos, aliás, da Reforma Protestante, um dos principais fatores responsáveis pelo completo desvio espiritual que levou a este movimento de avivamento espiritual no século XVI.

– Vemos, desde pronto, que o objetivo destes homens era precisamente o de que encontrar um argumento para matar Estêvão. Como bons conhecedores da lei e das tradições judaicas, eles bem orientaram a respeito de que acusação deveria ser proferida: a de blasfêmia.

– Por que a blasfêmia? Porque esta era um dos pecados que, por ser considerado extremamente grave, era previsto na lei como tendo de ser punido com a morte imediata do transgressor “para tirar o mal do meio de Israel” (Dt.13:5).

– Estas condutas deveriam ser púnicas com apedrejamento e todo o povo deveria ser convocado para atirar pedras sobre o transgressor até que ele morresse.

– Naqueles dias, a pena de morte não podia ser aplicada pelo Sinédrio (Jo.18:31). Entendiam os doutores da lei que a aplicação da pena de morte exigia certeza absoluta da prática da infração cuja pena, segundo a lei, era a morte e tal certeza absoluta exigia no mínimo duas testemunhas presenciais e que o autor do delito tivesse plena consciência de que o ato que estaria para cometer era violador da lei de Deus e apenado com a morte. Diante de tais circunstâncias, não havia como se condenar alguém à morte.

– No entanto, nos casos em que a lei de Moisés afirmava que era preciso punir o transgressor “para tirar o mal do meio de Israel”, havia um entendimento de que, nestes casos, o tribunal não agiria como uma corte legal, limitada às exigências judiciais, mas como um “tribunal administrativo”, quando, convencido que se estava diante de perigo à ordem pública, à lei religiosa ou à moral, se deveria, sim, eliminar o transgressor, ou deixar que o povo o fizesse.

– A intenção era, portanto, a morte física de Estêvão e não é desarrazoado pensar que, por trás de toda esta trama, estava precisamente Saulo, o aluno de Gamaliel, que estava assaz incomodado com “o Caminho” (At.22:4), com a “seita dos nazarenos” (At.24:5), que considerava Jesus como Deus e que ameaçava perverter a religião judaica.

– Diante destas falsas acusações, excitaram o povo, os anciãos e os escribas, de tal modo que investiram contra Estêvão, arrebataram-no e o levaram até o conselho, certamente o Sinédrio ou parte dele que se achava reunido (At.6:12).

– Notemos aqui como, depois do uso do dinheiro, temos o uso dos meios de comunicação para difamação e desmoralização dos verdadeiros e genuínos servos do Senhor. Como é antiga a “fake news”, que nada mais é que a velhíssima mentira, cujo pai é o diabo, que peca desde o princípio (Jo.8:44).

– Esta desmoralização e difamação dos verdadeiros servos do Senhor, que, hoje, vem acompanhada do chamado “cancelamento das redes sociais”, é tão presente em nossos dias e causa um efeito tão nefasto às pessoas que o ex-chefe da Igreja Romana, o Papa Emérito Bento XVI, chegou mesmo a entender que se trata de uma nova forma de martírio. Disse ele:

“…Na nossa época, o preço que deve ser pago pela fidelidade ao Evangelho já não é ser enforcado, afogado e esquartejado, mas muitas vezes significa ser indicado como irrelevante, ridicularizado ou ser motivo de paródia.…” (Discurso feito na vigília de oração para a beatificação do Cardeal John Henry Newman. Hyde Park/Londres 18 set. 2010. Disponível em: https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2010/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20100918_veglia-card-newman.html Acesso em 26 nov. 2022).

– Temos de concordar com o ex-líder romanista. Em nossos dias, em que parte de nossas vidas está umbilicalmente relacionada às redes sociais, ser dali banido, ser ali ridicularizado e descredibilizado já é, em certo sentido, um decreto de morte, que nos faz lembrar a “morte civil” dos direitos antigos, onde a pessoa, embora fosse mantida viva, era considerada “morta” nas relações sociais e jurídicas.

– Estêvão era uma pessoa de boa reputação, que tinha um bom testemunho diante de todos, tanto que havia sido escolhido como diácono (At.6:3).

É próprio de quem serve a Deus ter uma boa reputação não só entre os cristãos, mas entre todos, pois é alguém que vive retamente, de forma honesta e sincera, sempre fazendo o bem (At.5:13; I Pe.2:11,12).

– Evidentemente que, por não mais andarmos segundo o mundo, segundo a carne, nosso modo de viver é diferente, oposto dos demais e somos criticados por isso, mas isto não abala a nossa reputação.

– Por isso, para levar avante seu propósito de ceifar a vida física dos servos de Deus, mister se faz que Satanás crie uma “excitação dentre o povo”, um estado emocional e irracional que permita que as pessoas sejam tomados de fúria momentânea e passageira contra o servo do Senhor, gerando uma raiva e um ódio que possa, sem reflexão, levar as pessoas a odiar e a matar aquele que é difamado.

– Em nossos dias, temos visto como os meios de comunicação têm sido nitidamente utilizados com este propósito, de estigmatizar pessoas, torná-las “vilões”, gerando sentimentos e emoções irrefletidas na população com relação a esta ou aquela pessoa que está a contrariar os interesses daqueles que dominam a sociedade e, por conseguinte, os meios de comunicação.

– Não só o povo, mas também anciãos e escribas foram envolvidos na excitação e se criou o clima propício para, num determinando instante, Estêvão ser detido e levado à presença do conselho que, “coincidentemente”, já estava reunido esperando o acusado (At.6:12).

– Por isso, precisamos ter muito cuidado ao lidar com informações, principalmente nos dias em que vivemos em que as notícias são dadas instantaneamente.

O justo não é o ímpio que nada investiga (Sl.10:4). Bem ao contrário, o discípulo de Jesus é criterioso, prudente, que tudo analisa antes de tomar conclusões, análise que não é apenas lógica e racional, mas, sobretudo, espiritual. Temos de ser homens espirituais, que tudo discernem e de que ninguém é discernido (I Co.2:15).

– Levado ao Sinédrio, foram apresentadas falsas testemunhas que diziam que Estêvão não cessava de profetizar palavras blasfemas contra o templo e contra a lei e que tinham ouvido Estêvão dizer que Jesus Nazareno haveria de destruir o templo e mudar os costumes que Moisés lhes havia dado (At.6:13-15).

– Para excitar o povo, disseram que Estêvão havia proferido palavras contra Moisés e contra Deus. Agora, diante do Sinédrio, já se muda o discurso e se diz que Estêvão se dizia contra o templo e contra a lei, que Jesus haveria de destruir o templo e mudar os costumes que Moisés havia dado.

– Tratava-se, certamente, de mentiras que, muito provavelmente, ditas pelos que disputavam contra Estêvão na sinagoga, tinham sido por ele devidamente desmascaradas.

Estêvão mostrava que Jesus era o Cristo, que Moisés havia falado a respeito de Jesus e que Jesus já havia cumprido a lei e que era necessário crer n’Ele para que se ter a salvação.

– Apesar de todo o ódio movido contra Estêvão e de toda a fúria do momento, Deus estava com Estêvão que não se mostrava abalado e, assim como Jesus, não abria a sua boca diante de tantas falsidades.

Ele estava sob o completo domínio do Espírito Santo e, quando assim se está, não se fala a menos que o Espírito mande que falemos.

– Estêvão encontrava-se em plena comunhão com o Senhor, totalmente cheio do Espírito Santo, tanto que seu rosto passou a brilhar como o rosto de um anjo, tamanha era a glória presente na vida daquele servo do Senhor e isto foi visto pelos seus próprios acusadores (At.6:15).

– Nos momentos em que formos levados perante as autoridades, devemos estar em perfeita comunhão com o Senhor. Temos paz com Deus por meio de Jesus (Rm.5:1), não podemos nos deixar levar pelo medo, pois o medo é sinal de falta de amor (I Jo.4:18).

– Uma das características mais comuns de relatos de martírios ao longo da história da Igreja foi precisamente o alto de grau de autocontrole, paz, tranquilidade e quietude que tinham os mártires em momentos que, humanamente falando, eram demasiadamente tensos e angustiantes.

Estamos nesta condição, neste patamar de espiritualidade? Façamos como Estêvão, não deixemos de meditar nas Escrituras e de buscar o poder de Deus!

Dias sombrios estão reservados em nosso país para os cristãos sinceros e verdadeiros, e teremos de enfrentá-los com esta mesma sobriedade do primeiro mártir da Igreja,

– Depois da sucessão de falsos testemunhos, foi concedida a palavra a Estêvão pelo próprio sumo sacerdote, para que se defendesse (At.7:1) e aí temos o registro de um dos mais importantes sermões das Escrituras, sermão que, inclusive, serve para elucidar diversos pontos a respeito do plano de Deus para a salvação.

– O sermão de Estêvão mostra como o avivamento espiritual dá-nos uma visão ampla das Escrituras, como temos a iluminação do Espírito Santo, que nos leva a falar de modo sobrenatural, trazendo ao povo uma revelação daquilo que está escrito de modo a testemunhar a verdade da Palavra de Deus.

– Estêvão discorreu sobre toda a história de Israel, para mostrar àquele povo que tinham sido eles sempre insensíveis ao Espírito Santo, haviam sempre se posto contra os homens que Deus levantara para lhes trazer a mensagem dos céus.

Assim, mostra como José foi vendido por inveja dos seus irmãos, como Moisés também foi rejeitado pelo povo num primeiro momento, como foi este Moisés quem edificou o tabernáculo, que, mais tarde, foi substituído pelo templo, como também os profetas foram sempre perseguidos, não tendo tido Jesus tratamento diverso.

– Ao mostrar estes fatos históricos, Estêvão lançava em rosto a hipocrisia daquela gente que sempre havia se levantado contra Deus e contra o templo e que agora o acusavam de ser quem dizia coisas contra Deus e contra Moisés ou contra a lei.

– Sem ter como contrariar a verdade lembrada a Estêvão pelo Espírito Santo e magistralmente anunciada, não fez a multidão senão ranger os dentes e se enfurecer em seu coração.

– Estêvão, então, completamente cheio do Espírito Santo, acabou tendo a visão dos céus abertos e a Jesus à direita do Pai, tendo dito isto para todos. O crente avivado é aquele que tem os céus abertos para si.

Estêvão estava conformado à imagem de Cristo, comportara-se como Jesus durante seu julgamento e revelava tudo quanto lhe fora lembrado pelo Espírito na sua pregação.

– Diante de tal afirmação de Estêvão, o povo, então, gritou com grande voz, tapou os ouvidos e arremeteu unanimemente contra o diácono, expulsando-o da cidade e o apedrejando, precisamente como já articulado pelos seus algozes, que queriam “tirar o mal do meio de Israel”.

– Certamente, quando Estêvão revelou a visão que estava tendo, os seus inimigos se aproveitaram para dizer que ele estava a blasfemar e, por isso mesmo, o povo gritou, tapou os ouvidos e resolveu executar a Estêvão naquele mesmo instante.

– Começou a apedrejamento, mas Estêvão não teve a ajuda de ninguém. Deus permitiu que fosse morto. Estêvão, porém, estava conformado a imagem de Cristo, atingira a estatura completa de Cristo, tanto que, no seu último instante de vida, repete o mesmo gesto de Jesus, a primeira palavra da cruz, pedindo perdão aos seus algozes, e, ao fazê-lo, acabou por expirar (At.7:59,60).

– Devemos notar que morreu de joelhos, pedindo o perdão para os seus algozes e que o texto bíblico diz que “adormeceu”, numa clara demonstração de que a morte é para o cristão uma mera passagem para o encontro com o Senhor, para aguardar no Paraíso o arrebatamento da Igreja.

– Paulo, muito provavelmente um dos que elaboraram a trama, estava ali como testemunha do Sinédrio, como autoridade que consentia com a morte daquele homem, garantindo a impunidade para os que participavam daquele ato ante os romanos e a própria lei judaica.

– No entanto, a figura de Estêvão ficaria indelevelmente marcada na mente daquele fariseu, aluno de

Gamaliel e o martírio deixou certamente aquele homem abalado e isto seria um fator decisivo para a sua conversão (At.22:20).

– Deus permitiu a morte de Estêvão porque dela adviria o maior pregador do Evangelho dos tempos apostólicos. Como diria o pai da Igreja, Tertuliano (160-220), “o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”.

– Deus também permitiu a morte de Estêvão porque, a partir dela, teve início grande perseguição contra a igreja em Jerusalém, liderada precisamente por Paulo, o que permitiu a expansão do Evangelho para Judeia, Galileia e Samaria e depois para os gentios (At.8:1; 11:19,20), como era o desejo do Senhor Jesus (At.1:8), mas não estava sendo observado pelos discípulos.

– Um cristão avivado é poderoso instrumento para que haja a expansão do reino de Deus, para que o Senhor possa tornar mais pontual o caminho seguido pela Igreja na face da Terra.

– Estêvão, no avivamento espiritual, chegou próximo ao estágio da glorificação. Seu rosto já brilhava como de um anjo, viu os céus abertos e o Senhor Jesus à direita de Deus, já não mais vivia mas Cristo vivia nele, tanto que tomou as mesmas atitudes de seu Senhor e Salvador.

– É isto que Deus quer de cada um de nós. Ajamos como Estêvão, imitemo-lo, pois era ele imitador de Jesus e, ainda que a morte física nos alcance, ainda que, como ele, sejamos martirizados, teremos a mesma vitória, seremos uma “coroa” no reino de Deus.

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/8761-licao-7-estevao-o-martir-avivado-i

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