LIÇÃO Nº 11 – O AVIVAMENTO E A MISSÃO DA IGREJA
INTRODUÇÃO
– Na continuidade do estudo sobre o avivamento, o chamado das Escrituras para o quebrantamento e o poder de Deus, analisaremos os efeitos do avivamento espiritual para o cumprimento da missão da Igreja.
– A Igreja só cumpre sua missão mediante o avivamento espiritual.
I – A MISSÃO DA IGREJA
– Temos falado, neste trimestre, a respeito do avivamento espiritual, ou seja, a necessidade de manutenção da vida espiritual entre os membros do povo de Deus, entre aqueles que resolvem servir a Deus em meio a um mundo que está no maligno (I Jo.5:19).
– Por isso, os avivamentos que são mencionados nas Escrituras e os que ocorreram ao longo da história sempre se dão no meio do povo de Deus e, na atual dispensação, a dispensação da graça, tais avivamentos acontecem na Igreja, este conjunto de pessoas que creram em Cristo como Senhor e Salvador e tiveram seus pecados perdoados e que passam a constituir um dos três povos que existem sobre a face da Terra, a saber: judeus, gentios e Igreja (I Co.10:32).
– Diante deste quadro, é natural que o avivamento tenha efeitos sobre a missão que a Igreja precisa cumprir aqui na Terra, porque ela foi edificada pelo Senhor Jesus com tarefas a realizar.
– Ao definir avivamento, Charles Finney (1792-1875) disse que se tratava de “renovação do primeiro amor dos cristãos, que resulta em despertamento e conversão de pecadores a Deus”.
O grande avivalista norte-americano já mostra que uma das consequências inevitáveis do avivamento é a “conversão de pecadores a Deus”, que se constitui na principal tarefa da Igreja que é a de pregar o Evangelho e ganhar almas para Cristo.
– Não é diferente o que vemos na definição de John Stott (1921-2011), a saber, “uma visitação inteiramente sobrenatural do Espírito soberano de Deus, pela qual uma comunidade inteira toma consciência de Sua santa presença e é surpreendida por ela.
Os inconversos se convencem do pecado, arrependem-se e clamam a Deus por misericórdia, geralmente em números enormes e sem qualquer intervenção humana. Os desviados são restaurados.
Os indecisos são revigorados. E todo o povo de Deus, inundado de um profundo senso de majestade divina, manifesta em suas vidas o multifacetado fruto do Espírito, dedicando-se às boas obras”.
Stott também considera que o avivamento produz conversão de pessoas a Cristo e há, ainda, a produção do fruto do Espírito, pelo qual a Igreja acaba influenciando o mundo em que se encontra.
– Diante disto, é importante vermos para que serve a igreja, para que Deus constituiu a Igreja. Muito nos preocupa a realidade atual em que muitos têm perdido a noção do propósito de Deus ao constituir a Igreja.
– O apóstolo Paulo afirmou que o eterno propósito de Deus feito em Cristo Jesus nosso Senhor é o conhecimento da multiforme sabedoria de Deus pelos principados e potestades nos céus, anunciando entre os gentios, por meio do Evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo (Ef.3:8-11).
– A primeira razão de ser da Igreja, portanto, é a pregação do Evangelho aos judeus e aos gentios, ou seja, a anúncio da boa-nova, da boa notícia de que Deus enviou o Seu Filho ao mundo para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo.3:16).
Jesus deixou isto bem claro ao determinar aos discípulos que pregassem o Evangelho a toda a criatura por todo o mundo (Mc.16:15).
-A Igreja existe para pregar o Evangelho, para continuar a pregação de Jesus (Mc.1:14,15). Este, aliás, é um dos motivos pelos quais a Igreja é chamada de “o corpo de Cristo”, pois deve continuar a fazer o que Jesus fez.
– Enquanto esteve em Seu ministério terreno, o Senhor ia por todas as partes de Israel pregando o Evangelho (Lc.4:43), mas, agora, já que os Seus não o receberam (Jo.1:11), mandou que a Igreja prosseguisse este Seu trabalho, continuando a pregar o Evangelho, só que agora a todas as nações, inclusive aos judeus.
– Mas a Igreja não serve apenas para pregar o Evangelho. Tem ela também a tarefa de integrar as pessoas que aceitam a salvação no seu interior. Embora a salvação seja imediata e uma operação do Espírito Santo, o fato é que o crente não pode ser deixado à mercê, isolado e sozinho no mundo.
– Muito pelo contrário, assim que alguém aceita a Cristo como seu Senhor e Salvador, tem de ser integrado na igreja local, no grupo social onde passará os dias aguardando a volta de Cristo (At.2:41,44). Esta função de integração, que tem no batismo nas águas o seu ponto mais importante, é, também, algo que tem sido muito negligenciado nos nossos dias.
– Outra função importantíssima que é a do aperfeiçoamento dos santos (Ef.4:11-16), a começar pelo discipulado (At.11:25,26). O crescimento espiritual do salvo somente se dá na igreja local.
Este é o modelo bíblico, de modo que sem qualquer respaldo nas Escrituras o falso ensino do “self-service”, tão em voga nos nossos dias, segundo o qual se pode servir a Deus “sozinho”, pois “antes só do que mal acompanhado”.
– Muitos têm se decepcionado com escândalos, intrigas e injustiças nas igrejas locais, que, como todo grupo social de seres humanos, têm defeitos e problemas (que o digam as igrejas que receberam epístolas dos apóstolos…) e, em meio a estas decepções, não vigiam e se deixam enganar por esta doutrina demoníaca. Precisamos uns dos outros para crescermos espiritualmente, para perseverarmos na fé.
– A Igreja, como é o povo de Deus na Terra na atual dispensação, é o único povo que pode adorar a Deus, visto que está em comunhão com Ele, já que seus pecados foram tirados por Jesus (Jo.1:29; Rm.5:1).
É, portanto, dever da Igreja adorar a Deus, em espírito e em verdade, já que o Pai procura tais adoradores (Jo.4:23). Deve, portanto, a Igreja cumprir este dever de adoração.
– A Igreja é uma nação santa, é o sal da terra e luz do mundo (Mt.5:13,14) e, por isso, por ainda estar no mundo, embora dele não seja (Jo.17:11,15,16), torna-se o porta-voz natural de Deus para os gentios e para os judeus.
A Igreja é a “boca” de Deus para o mundo e, por isso, temos o dever de proclamar a Palavra, de dizer ao mundo qual é a vontade de Deus em todos os assuntos e questões que se apresentarem enquanto perdurar a nossa jornada, a nossa peregrinação.
Por isso, tem a Igreja uma missão profética, deve proclamar a Palavra de Deus e exigir o seu cumprimento por grandes e pequenos, sem receio, a exemplo do que faziam os profetas do Antigo Testamento.
– Como a Igreja foi chamada para dar fruto e fruto permanente (Jo.15:16), frutos, aliás, que são diferentes dos outros povos (Mt.7:15-20), porque se trata do fruto do Espírito (Gl.5:22) e só a Igreja tem e recebeu o Espírito Santo (Jo.14:17),
temos que o comportamento da Igreja é diferente do comportamento dos demais homens, sejam judeus, sejam gentios, de sorte que a Igreja acaba por ter, também, uma missão ética, o dever de se portar de modo a não dar escândalo aos outros povos (I Co.10:32),
tendo de ter uma conduta que identifique a sua comunhão com o Pai (Mt.5:16). É por este motivo que tem a Igreja um dever ético.
– Também por estar no mundo e por se apresentar em grupos sociais, as chamadas “igrejas locais”, a Igreja acaba tendo de ter um papel perante a sociedade, como, aliás, todo grupo social.
– Os grupos sociais estão reunidos na sociedade, que é o grupo maior, o grupo que tem, por fim, promover a felicidade, o bem-estar, o chamado bem comum.
As igrejas locais não fogem a esta obrigação, que decorre da sua própria natureza de ser parte da sociedade.
Deus não nos tirou do mundo nem Jesus quis que isto se fizesse (Jo.17:15) e, diante desta realidade, assim como fez Nosso Senhor, devemos, também, ter uma atuação social digna de nota, que sirva de testemunho de nossa comunhão com Deus.
– A Igreja é o lugar que o Senhor designou para que sirvamos a Ele, pois, isoladamente, ninguém consegue desenvolver-se espiritualmente e chegar até a glorificação, último estágio de nossa salvação.
– As imperfeições humanas são tantas que o Senhor fez com que nos uníssemos nas igrejas locais, a fim de que cada um ajudasse o outro a crescer espiritualmente e a resistir ao mal até aquele grande dia.
Tem-se, portanto, que um dever de cada cidadão desta nação chamada Igreja é o de ajudar uns aos outros, por intermédio do aconselhamento cristão (Rm.15:14; Cl.3:16; I Ts.5:11; Hb.3:13; 10:25);
o de consolar uns aos outros, por intermédio da visitação (I Ts.4:18; Hb.10:24; Tg.5:16); o de promover a comunhão uns com os outros, por intermédio da conciliação (Mt.18:15-17; Ef.5:21; Cl.3:13).
– Aliás, a Bíblia ensina-nos que devemos nos amar uns aos outros (Jo.13:35),
preferirmo-nos em honra uns aos outros (Rm.12:10),
recebermo-nos uns aos outros (Rm.15:7),
saudarmo-nos uns aos outros (Rm.16:16),
servimo-nos uns aos outros pela caridade (Gl.5:13),
suportarmo-nos uns aos outros em amor (Ef.4:2; Cl.3:13),
perdoarmo-nos uns aos outros (Ef.4:32; Cl.3:13),
sujeitarmo-nos uns aos outros no temor de Deus (Ef.5:21),
ensinarmos e admoestarmo-nos uns aos outros (Cl.3:16; Hb.10:25),
não mentirmos uns aos outros (Cl.3:9),
consolarmo-nos uns aos outros (I Ts.4:18),
exortamo-nos e edificarmo-nos uns aos outros (I Ts.5:11; Hb.3:13),
considerarmo-nos uns aos outros para nos estimularmos à caridade e às obas obras (Hb.10:24),
confessarmos as culpas uns aos outros (Tg.5:16).
Diante de tantas recomendações bíblicas, como podemos crer na doutrina do “self-service”?
– Sendo a Igreja a coluna e firmeza da verdade (I Tm.3:14-16), ao mesmo tempo em que tem o dever de proclamar a Palavra, exigindo de gentios e de judeus a observância das Escrituras, internamente, a Igreja deve preservar a sã doutrina (II Tm.4:1-5; Tt.2:7-10),
lutando tenazmente contra os falsos mestres que se introduzem no seu meio (II Pe.2:1-3; Jd.4), conservando, assim, a massa pura, não permitindo que se ponha nela o fermento arruinador (Mt.13:33; 16:6,11; Mc.8:15; Lc.12:1).
– A Igreja, como é um organismo vivo, não pode permitir que as coisas desta vida venham a matar a vida espiritual de seus membros. Por isso, é necessário que a Igreja mantenha os seus membros avivados, proporcionando um ambiente de avivamento espiritual contínuo, demonstrando, assim, ter vida em si mesmo, já que é o corpo de Cristo (Jo.5:26).
– Tem, por fim, a Igreja o dever de trazer de volta à comunhão aqueles que se desgarram do rebanho, que até se perdem, voltando para o mundo, devendo ir ao seu encontro, corrigi-lo e fazê-los voltar à comunhão, mesmo que estejam a disseminar heresias (Mt.18:15-20; Tt.3:10; II Tm.2:24,25).
II – A MISSÃO EVANGELIZADORA E O AVIVAMENTO
– Orlando Boyer (1893-1978), um dos missionários responsáveis pela obra pentecostal no Brasil, no prefácio de seu livro “Esforça-te para ganhar almas”, faz uma indagação muito adequada para iniciarmos o presente estudo:
“…Lembramo-nos de que como indivíduos somos a Igreja de Cristo? Para que existe no mundo a Igreja Cristã? Ela não é uma grande arca, em que podem flutuar os favoritos, felizes, e sem cuidado algum, por sobre o mar da vida até chegar à praia áurea.
Ela não é uma companhia de seguros, à qual se podem pagar prêmios e se ficar inteiramente livre do fogo do inferno!
A Igreja não é um clube social, cujos membros se reúnem ocasionalmente para gozar a companhia uns dos outros, se divertirem e trocarem ideias!
Não é uma casa de saúde em que os deformados espirituais e os moralmente anêmicos tratam de seus males hereditários. Não.
A Igreja de Cristo é uma instituição ganhadora de almas, a proclamar, a tempo e fora de tempo, que Jesus Cristo salva a todos os homens que O aceitarem.…” (op.cit., p.8).
– Ao revelar o grande mistério que esteve oculto desde antes da fundação do mundo (Ef.3:9), a Sua Igreja, Jesus, logo ao fazê-lo, afirmou que ela seria edificada sobre Ele e “…as portas do inferno não prevaleceriam contra ela” (Mt.16:18).
– Vemos, portanto, claramente, que, desde o anúncio da existência da Igreja, o Senhor Jesus já deixou claro que a Igreja travaria um incessante combate contra as forças do mal, as autoridades espirituais da maldade (a palavra “portas” significa aqui “autoridades”, “forças proeminentes”), ou seja, estaria a agir no sentido contrário ao trabalho efetuado pelo adversário e pelos seus agentes.
– Jesus, certa feita, bem esclareceu qual era o trabalho do diabo e de seus anjos: “roubar, matar e destruir” (Jo.10:10). O Senhor, ao contrário, tendo vindo para desfazer as obras do diabo (I Jo.3:8), veio trazer vida e vida com abundância (Jo.10:10).
Ora, se a Igreja é o corpo de Cristo (I Co.12:27), tem como missão, portanto, a de trazer vida e trazer vida nada mais é que levar o próprio Jesus aos homens, que é caminho, verdade e vida (Jo.14:6), que é o pão da vida (Jo.6:48), vemos, já nesta revelação da igreja por Cristo, que a missão principal da Igreja seria a de levar Jesus aos homens.
– Mas, para que não houvesse qualquer dúvida a respeito de qual seria o papel da Igreja, ainda mesmo de seu estabelecimento na Terra, Jesus bem mostrou aos Seus discípulos qual era o papel destinado aos Seus seguidores.
– Ainda cumprindo o desiderato divino de anunciar a salvação ao povo judeu (Jo.1:11a), Jesus, a fim de atingir a todas as aldeias e povoados da nação israelita na Palestina, destacou setenta discípulos, de dois em dois, para pregar o evangelho (Lc.10:1-24), mostrando, assim, que a tarefa primordial daqueles que O serviam era o de levar a mensagem das boas-novas de salvação, que era o que denominou de “a obra do Senhor” (Lc.10:1,2).
– Depois de ter consumado a obra da redenção do homem no Calvário (Jo.19:30), sacrifício aceito pelo Pai como nos prova a ressurreição (At.3:25,26; 13:29,20),
Jesus, após ter passado quarenta dias dando prova da Sua ressurreição aos discípulos e falado a respeito do reino de Deus (At.1:3),
explicitamente determinou qual seria a tarefa principal da Igreja. Mandou que o evangelho fosse pregado por todo o mundo a toda a criatura (Mc.16:15),
uma ordem que estabeleceu um verdadeiro dever a todo cristão, a ponto de o apóstolo Paulo ter exclamado:
“Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho!” (II Co.9:16).
– Esta ordem de Jesus, registrada por Marcos, foi proferida quando Jesus apareceu aos onze, depois de ter lançado a incredulidade de Tomé, oito dias depois da ressurreição (Mc.16:15 c.c. Jo.20:26-29), sendo, portanto, um dos assuntos referentes ao “reino de Deus” (cfr. At.1:3).
– No registro feito por Mateus, a ordem de Cristo é dada em um monte na Galileia, para onde o Senhor havia determinado que os onze discípulos fossem (Mt.28:16),
tendo, então, a ordem de Cristo sido até mais ampla que a registrada por Marcos, envolvendo além da pregação do Evangelho, o batismo nas águas e o ensino da Palavra (Mt.28:19,20).
– Não foi uma ordem circunscrita apenas aos onze apóstolos, como defendem alguns, dizendo, portanto, que não é obrigação senão dos ministros a pregação do Evangelho, uma vez que Jesus também repetiu esta determinação quando, no dia da ascensão, apresentou-Se a mais de quinhentos irmãos, ou seja, a totalidade da nascente Igreja (cfr. I Co.15:6), no monte das Oliveiras (At.1:12).
Ali, o Senhor determinou que todos eles fossem Suas testemunhas, em todas as partes do mundo, o que, aliás, foi efetivamente cumprido pelos cristãos, depois que foram dispersos de Jerusalém (At.8:1-4), atitude que agradou ao Senhor (At.11:20,21), numa comprovação de que era o que estava de acordo com a Sua ordem proferida antes de subir aos céus.
– A ordem de Cristo, conhecida pelos estudiosos da Bíblia como a “Grande Comissão”, pois “comissão” significa “ato de cometer, encarregar, incumbir”, é, em primeiro lugar, uma ordem.
O verbo, em Mc.16:15, está no modo imperativo, ou seja, trata-se de uma ordem, não de uma recomendação ou de um conselho que venha da parte do Senhor. “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”.
Trata-se de uma ordem, de uma determinação, de alguém que se apresenta como Senhor e, portanto, com autoridade de mando, a quem se apresenta como servo, ou seja, como alguém disposto a obedecer.
Tanto assim é que o evangelho segundo Marcos termina com a afirmação de que, em cumprimento à ordem, os discípulos foram e pregaram por todas as partes (Mc.16:20).
– É importante verificarmos que se trata de uma ordem, pois, como se está diante de um mandamento, de uma determinação de Cristo, somente provaremos que O amamos, se a fizermos (Jo.15:14).
– Uma pessoa que se diga serva de Cristo e que não cumpre com este dever não é um verdadeiro e autêntico servo do Senhor. Quem não evangeliza, quem não prega o Evangelho não é um verdadeiro e autêntico servo do Senhor.
– E a estes, aliás, que o Senhor Jesus Se refere ao afirmar que “qualquer que Me confessar diante dos homens, Eu o confessarei diante de Meu Pai, que está nos céus.
Mas qualquer que Me negar diante dos homens, Eu o negarei também diante de Meu Pai, que está nos céus” (Mt.10:32,33). Não evangelizar é desobedecer ao Senhor e sabemos todos que nenhum desobediente ingressará na Jerusalém celestial.
– Pelo que vemos, portanto, não há como se ter o cumprimento da ordem de Jesus se não se estiver em comunhão com o Senhor, se não estivermos não mais vivendo, mas Cristo vivendo em nós (Gl.2:20), ou seja, se estivermos avivados, se tivermos o “primeiro amor”, que é precisamente o amor que nos impulsiona a pregar o Evangelho e a desejar ganhar almas para o Senhor Jesus.
– Quando se tem o avivamento espiritual, não há como se deixar de esforçar para se ganhar almas para o Senhor Jesus.
Todos se empenham em pregar a Cristo, em dizer que Jesus salva, em ver as almas crendo em Jesus como seu Senhor e Salvador.
– Quando se teve o derramamento do Espírito Santo, qual foi a primeira atitude dos crentes, quando começaram a dizer que estavam embriagados? Foi pregar o Evangelho, anunciar que Jesus salva os pecadores! (At.2:14-40).
– Qual era o propósito de toda a perseverança na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações, que nada mais era que o avivamento contínuo da igreja de Jerusalém? O texto sagrado nos diz: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At.2:47).
– Quando se tem a primeira manifestação dos dons espirituais por parte dos apóstolos, na cura do coxo da porta Formosa do templo de Jerusalém, qual foi o propósito divino para a realização deste milagre? Qual foi a reação dos apóstolos à admiração do povo?
A pregação do Evangelho e da salvação na pessoa de Jesus Cristo e a conversão de quase cinco mil almas (At.3:12-4:4).
– Quando se teve novo derramamento do Espírito Santo entre os crentes de Jerusalém e o lugar onde estavam reunidos chegou até a se mover, tamanha a manifestação do poder de Deus, o que pediam os apóstolos e os demais cristãos ao Senhor? Que o Senhor lhes concedesse ousadia para que falassem a Palavra do Senhor e a confirmasse com curas, sinais e prodígios pelo nome de Jesus (At.4:30,31).
– Perceba-se, ainda, que a perseguição veio sobre a igreja de Jerusalém precisamente porque, embora tivessem eles cumprido plenamente a ordem de evangelização na capital israelita (Cf. At.5:28), de lá não saíram, embora a ordem fosse para evangelizar Judeia, Samaria e os confins da Terra (At.1:18), todo o mundo (Mc.16:15).
– Notemos que, uma vez expulsos de Jerusalém, os cristãos passaram a pregar o Evangelho por ordem iam (At.8:4; 11:19-21), ou seja, o avivamento espiritual experimentado por aqueles crentes os levava a pregar o Evangelho, a buscar a salvação das almas.
– Destarte, não podemos ver outro propósito para o avivamento espiritual senão que se cumpra plenamente o propósito divino de levar a toda a humanidade o conhecimento da verdade e lhes abrir a oportunidade da salvação.
– É bem por isso que o avivamento espiritual mais duradouro e mais amplo da história da Igreja, que é o avivamento pentecostal, é, também, o que mais se esmerou em evangelizar o mundo, atingindo os confins da Terra.
É a igreja de Filadélfia, que entra pela porta aberta pelo Senhor Jesus e que ninguém pode fechar (Ap.3:8), a igreja que guarda a Palavra de Deus, a começar da ordem de pregação do Evangelho (Ap.3:10).
– Por isso, devemos ter muito cuidado com aqueles que defendem a ideia de que Jesus não voltará enquanto o evangelho não for pregado em toda a Terra, enquanto não houver “o grande avivamento do tempo do fim”.
– Por primeiro, cumpre observar que muitos se baseiam, para assim afirmar, no texto de Mt.24:14, mas o texto não se refere ao “evangelho da graça de Deus” (At.20:24),
que é o evangelho pregado pela Igreja, mas, sim, ao “evangelho do reino” que será pregado durante a Grande Tribulação pelos 144.000 judeus, pois o “evangelho do reino” é o evangelho que foi pregado aos judeus (Mc.1:14,15; Mt.10:6; 15:24) e que voltará a ser pregado após o arrebatamento da Igreja, porquanto, então, a mensagem será de que Jesus voltará para reinar sobre a Terra.
– Mas é inegável que, em meio a “chuva serôdia” do término do “ano aceitável do Senhor”, haverá uma intensificação da pregação do Evangelho e, se em tempos em que o Espírito Santo atuará sob medida, o “evangelho do reino” será pregado em todo o mundo, por que não o seria o “evangelho da graça de Deus” num instante em que há um derramamento do Espírito Santo?
– Por segundo, não temos como controlar esta expansão do Evangelho, de modo que, ainda que entendamos, e não é desarrazoado pensá-lo, como já dissemos, que o tempo final da Igreja será de um grande avivamento e de pregação em todos os quatro cantos do planeta, não se pode dizer quando isto acontecerá.
– Episódios vários demonstram que o Senhor Jesus Se incumbe pessoalmente da tarefa da evangelização, sendo ilusório acharmos que isto dependa da ação humana.
Na China, por exemplo, quando ocorreu a abertura do regime comunista com a morte de Mao Tsé-Tung, quando se pensou que a igreja chinesa tinha sido dizimada, para surpresa de todos, havia ocorrido a duplicação do número de cristãos naquele país, mesmo sem qualquer possibilidade de ação de agências missionárias ou igrejas estrangeiras.
De igual maneira, há relatos de conversões de almas em países muçulmanos, principalmente no norte da África, por meio de ações sobrenaturais, mesmo sem que haja qualquer ação organizada de missionários, agências missionárias ou igrejas.
– Em sendo assim, jamais se saberá quando o evangelho será pregado a todas as gentes, quando se completará a plenitude de oportunidade de salvação à humanidade.
– Deste modo, o que nos cumpre fazer não é ficar acompanhando as notícias da expansão do Evangelho, mas nós mesmos termos o desejo de ganhar almas para o reino de Deus, pregando a Cristo a todos quantos estejam à nossa volta, mas só o faremos se estivermos avivados, se cultivarmos a comunhão com o Senhor.
Quando vemos hoje pouquíssimo interesse em falar de Jesus para as pessoas por parte dos que cristãos se dizem ser; quando são raríssimos os visitantes nos cultos;
quando os cultos dominicais noturnos deixaram de ser sobremodo evangelísticos para serem “cultos da família”; quando não são feitos mais apelos no final dos cultos (e o “apelo” é momento litúrgico que surgiu no Segundo Grande Avivamento Norte-Americano, uma criação de Charles Finney…);
quando diminuem a cada dia o número de conversões e de batismos nas águas; quando o evangelismo passou a ser tarefa de pequenos departamentos e alguns poucos abnegados, “gatos pingados”, como diz o povo, vemos bem como, em muitos lugares, faz-se necessário um avivamento espiritual.
III – O AVIVAMENTO E A MISSÃO EDUCADORA DA IGREJA
– A Igreja tem a missão de ensinar a Palavra de Deus aos servos do Senhor. Este ensino é uma de suas tarefas principais, que entendemos seja de igual importância que a tarefa de evangelização, até porque é complemento necessário e indispensável da evangelização.
Não se evangeliza enquanto não se dá condições para que o novo convertido possa, com suas próprias forças, servir a Cristo, tenha condições de, por si só, dar testemunho consciente a respeito do que é ser cristão.
– Assim, a evangelização, a proclamação do Evangelho envolvem algo mais do que simplesmente anunciar as boas-novas de salvação, mas também, a concessão do fundamento doutrinário básico capaz de tornar a pessoa consciente do que representa ser um cristão. Por causa disto, a evangelização já traz em si um discipulado, ou seja, um aprendizado, pois “discipulado” nada mais é que “aprendizado”.
– No sentido cristão, como define o pastor Elienai Cabral, consultor teológico da Casa Publicadora das Assembleias de Deus, “discipulado é o trabalho cristão efetuado pelos membros da igreja, a fim de fazer dos novos crentes, autênticos cristãos, cujas vidas se assemelham em palavras e obras do ideal apresentado pelo Senhor Jesus Cristo”.
– O discipulado nada mais é que ensinar a Palavra de Deus aos novos convertidos, àqueles que aceitaram a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador de suas vidas e fazer com que eles, que foram escolhidos por Deus,
possam viver de tal maneira que deem o fruto do Espírito, ou seja, tenham um novo caráter, uma nova maneira de viver que leve as pessoas a glorificar ao nosso Pai que está nos céus, ou seja, vivam de tal maneira que suas ações os transformem em testemunhas de Jesus, em prova de que Jesus salva e, por isso, outras pessoas reconheçam o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, ou seja, o Evangelho (Rm.1:16).
– Foi exatamente isto que Barnabé e Paulo fizeram na igreja de Antioquia, a primeira igreja formada por gentios na história da Cristandade. Como estes crentes não partilhavam das promessas de Deus, como os judeus (Rm.9:4,5), havia necessidade de instruí-los nas Escrituras, para que aprendessem o que é servir a Deus.
– Tinham, sim, se convertido ao Senhor, como pudera ser atestado por Barnabé, que percebeu terem eles, realmente, nascido de novo, terem sido alcançados pela graça de Deus e terem o propósito do coração de permanecer no Senhor (At.11:23). Mas isto era insuficiente para que pudessem transformar o propósito em realidade.
– Como Jesus ensina na parábola do semeador (Mt.13:3-8), é preciso que a semente germine e cresça em boa terra para que frutifique.
Para que a terra seja boa, é necessário que o terreno seja devidamente preparado, adubado e tornado adequado para o crescimento exitoso. Esta preparação do terreno nada mais é que o ensino da Palavra, que é tarefa da Igreja. Por isso que Paulo diz que cabia a ele e a Apolo a plantação e o regar, sendo de Deus, porém, o crescimento (I Co.3:6-9).
– Por isso, Barnabé, ao verificar que havia conversão autêntica, tratou de buscar a Paulo e, durante todo um ano, houve o discipulado, ou seja, o ensino da Palavra àqueles novos crentes.
O resultado daquele ano de ensino não poderia ser melhor: os novos convertidos passaram a ter uma vida muito semelhante a de Jesus, passaram a ser diferentes dos demais moradores de Antioquia, passaram a ser provas vivas da transformação que o Evangelho produz nas pessoas.
– Após terem sido ensinados na Palavra e terem mudado de vida, os moradores de Antioquia passaram a notar a diferença e, cumprindo o que disse Jesus a respeito do efeito das boas obras dos Seus discípulos, passaram a chamar os discípulos de “cristãos”, isto é, “parecidos com Cristo”, “semelhantes a Cristo” (At.11:26). Eram os homens glorificando ao Pai que está nos céus (Mt.5:16). Era o resultado do ensino da Palavra.
– Discipulado, portanto, é esta tarefa de ensinar a Palavra de Deus aos salvos, a fim de que eles se pareçam cada vez mais com o Senhor Jesus, para que eles se tornem cada dia mais parecidos com Jesus.
O objetivo do ensino das Escrituras não é formar “doutores em Divindade” nem tampouco “Ph.Ds em teologia”, mas, sim, fazer surgir homens e mulheres que, com suas vidas, mostrem que Jesus as transformou e que estão caminhando para o céu, desde já tendo uma vida de santidade e de pureza, pessoas que são testemunhas de Jesus, provas vivas de que Jesus realmente salva o homem e o faz, novamente, imagem e semelhança de Deus.
O objetivo do ensino da Palavra de Deus, do discipulado na Igreja, portanto, é “formar Cristo em nós” (Gl.4:9), é refletirmos como espelho a glória de Deus (Ii Co.3:18).
OBS: Ph.D significa “Philosophy Doctor”, ou seja, doutor em filosofia, que é o título comumente dado nos países de língua inglesa a quem defende tese acadêmica de doutorado.
– Embora muitos considerem que o “discipulado” seja uma tarefa destinada somente aos novos convertidos, ou seja, um período de ensino da Palavra de Deus até o batismo nas águas, temos que a realidade bíblica é bem diferente.
– Não resta dúvida de que é necessário um discipulado específico para o novo convertido, como, aliás, vimos no episódio da igreja em Antioquia.
Assim como o recém-nascido tem de ser objeto de um cuidado específico e diferenciado na vida física, também na vida espiritual o novo convertido deve ser objeto de um cuidado especial, devendo existir, em toda igreja local, um segmento que cuide especificamente dos novos convertidos, de modo a acompanhá-los na sua nova vida com Cristo, orientando-os e os socializando, de modo a que possam ser integrados na igreja local como novos membros do corpo de Cristo.
– Entretanto, o discipulado não se encerra com o batismo nas águas do novo convertido que, tendo dado frutos dignos de arrependimento, desce às águas e é inserido na igreja local. O discipulado, tendo como finalidade o de nos fazer cada vez mais parecidos com o Senhor Jesus, é uma tarefa incessante, que não tem fim.
– Quando vemos que Cristo constituiu os dons ministeriais na Igreja a fim de aperfeiçoar os santos, vemos que a tarefa do discipulado é uma tarefa que não tem término na vida de cada igreja local.
– Discipular é ensinar a Palavra, é aperfeiçoar os santos. Assim, somente pode ser considerada encerrada quando alguém tiver atingido a perfeição, pois só alguém perfeito não necessita ser aperfeiçoado.
Tanto assim é que o apóstolo Paulo afirma que os dons ministeriais devem ser exercidos até que cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13).
– Quem, porventura, chegou a este estágio durante os quase dois mil anos de Igreja? Alguém já chegou à estatura completa de Cristo? Alguém já atingiu a perfeição? Evidentemente que não!
– Se formos para a história dos grandes homens de Deus, sem dúvida que diríamos que, nos tempos apostólicos, o apóstolo Paulo se encontrava entre aqueles que poderiam ter chegado a este nível. No entanto, o próprio Paulo afirmou que não havia chegado a tal condição (Fp.3:12), sendo, neste passo, seguido por Pedro (II Pe.3:15,16) e João (Jo.20:30,31; 21:24,25).
– Se estes homens, que conviveram ou tiveram uma revelação especial de Jesus, não chegaram a esta estatura, quem somos nós para dizer que o fizemos?
Por isso, indubitavelmente, o discipulado é uma tarefa que nunca há de terminar na Igreja, visto que seu alvo é inatingível.
Podemos, mesmo, afirmar que, ao dizer que o objetivo do discipulado é nos levar à estatura completa de Cristo, estamos aqui diante de uma expressão bíblica cujo significado é um só: “devemos aprender sempre”.
OBS: Neste sentido, aliás, devemos aqui corroborar os ensinos judaicos a respeito. Os rabinos judeus deixaram registrado no Talmude, o segundo livro sagrado do judaísmo, que a pessoa deve estudar a Torah até a morte, porque o homem é dado a esquecer e, portanto, se deixar de estudar, poderá esquecer e se perder.
– Ora, não se pode realizar tal tarefa a não ser que se tenha um avivamento espiritual. Não pode haver a busca das Escrituras, se não houver sede de Deus (Sl.42:2) e a missão ensinadora da Igreja traz a perseverança na doutrina dos apóstolos, que é um dos pilares que caracteriza o avivamento contínuo desde os primeiros dias da Igreja sobre a face da Terra (At.2:42).
– Quando vemos uma igreja que não valoriza o estudo das Escrituras, com menosprezo da Escola Bíblica Dominical, dos cultos de ensino e de doutrina, cujo grau de “analfabetismo bíblico” é grande e onde não se concede, nos cultos, primazia à Palavra de Deus, estamos diante de uma igreja que precisa urgentemente de avivamento espiritual.
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/8888-licao-11-o-avivamento-e-a-missao-da-igreja-i