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LIÇÃO Nº 3 – CIÚME, O MAL QUE PREJUDICA A FAMÍLIA

 

O ciúme não pode nortear os relacionamentos familiares.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo dos relacionamentos familiares, abordaremos a questão do ciúme.

– A casuística bíblica a respeito do ciúme é a dos irmãos de José, todos filhos de Jacó.

I – O CIÚME

– Na sequência do estudo dos relacionamentos familiares à luz de episódios bíblicos, abordaremos hoje a questão do ciúme, que o comentarista considerou como sendo “o mal que prejudica a família”.

– Se formos ao Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, lá veremos que ciúme é “estado emocional complexo exclusivamente humano que envolve um sentimento penoso provocado em relação a uma pessoa de quem se pretende o amor exclusivo; receio de que o ente amado dedique seu afeto a outrem (mais us. no pl.); zelo; medo de perder alguma coisa; inveja.

– Na etimologia da palavra, “ciúme” vem da palavra latina “zelumen, iminis”, proveniente de “zelus, i”, com o significado de “ciúme amoroso, desejo”.

– Como se pode observar, a palavra “ciúme” tem sua origem na palavra “zelo”, sendo como que uma deturpação de zelo, ou uma manifestação específica do “zelo”, em que se toma por objeto exclusivamente o “amor humano”, mais precisamente em “exclusividade do amor humano”, o “medo de perda deste objeto/sujeito amado e/ou desejado”.

– O “ciúme” apresenta-se, assim, na sua etimologia, como um desvio do zelo oriundo da própria natureza humana, o que nos remete, imediatamente, à realidade da depravação do homem por conta do pecado. Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias de Deus:

“…A Queda no Éden arruinou toda a humanidade tão profundamente que transmitiu a todos os seres humanos a tendência ou inclinação para o pecado. Não somente isso, contaminou toda a humanidade: ‘ não há um justo sequer’ (Rm.3:10);

‘ todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus’ (Rm.3:23).

A natureza moral foi corrompida [Gn.6:5,12], e o coração humano tornou-se enganoso e perverso [Jr.17:9].

Todas as pessoas estão mortas em ofensas e pecados [Ef.2:1], sáo inimigas de Deus [Rm.8:7] e escravas do pecado [Rm.7:5]. A corrupção do gênero humano atingiu o homem em toda a sua composição – corpo [Rm.8:10], alma [Rm.2:9] e espírito [Ii Co.7:1], conforme temos em Isaías:

‘Toda cabeça está enferma, e todo o coração, fraco. Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã’ (1:5,6). Isso prejudicou todas as suas faculdades, quais sejam: intelecto [Is.1:3], emoção [Jr.’17:9], vontade [Ef.4:18], consciência [I Tm.4:2; I Co.8:7], razão [Tt.1:15] e liberdade [Tt.3:3]. …” (DFAD, IX.6, pp.100-1).

– Diante deste quadro, não é difícil verificar que a deturpação do “zelo” em “ciúme” na criatura humana pecadora é mais um dos muitos elementos desviantes decorrentes da queda.

– Como diz o Dicionário, o “ciúme” é um “estado emocional complexo exclusivamente humano”, ou seja, é um estado nascido na natureza humana, a natureza pecaminosa herdada de Adão e que significa a deturpação, a corrupção do “zelo”, que é um sentimento existente em Deus e que deveria, também, estar presente no homem, criado à imagem e semelhança de seu Criador (Gn.1:26,27).

– Deus é um ser zeloso (Dt.4:24; 6:15; Js.24:19; Na.1:2), assim Se revelou nas Escrituras, a começar no monte Sinai, quando firmou um pacto com Israel (Ex.20:5; Dt.5:9). Ele mesmo Se denominou de Zeloso (Ex.34:14) e quer que sejamos igualmente zelosos (Gl.4:18; Tt.2:14; Ap.3:19).

– Conforme o Dicionário Vine, “zelo”, no seu sentido positivo, significa “estar cheio de zelo de justiça”, “a defesa dos direitos próprios com exclusão dos direitos dos demais”. No relacionamento entre Deus e o homem, o “zelo” significa “a promoção de Deus e de Sua glória acima de qualquer substituto”.

– O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa diz que zelo é “grande cuidado e preocupação que se dedica a alguém ou algo; forte disposição, diligência, empenho aplicado na realização de algo (ao bom desempenho de tarefas, deveres, obrigações religiosas etc.); afeição intensa, amor por alguém ou algo; sentimento penoso provocado em relação a uma pessoa de que se pretende o amor exclusivo (mais us. no pl.); ciúme.”

– Como se pode perceber, pois, o “zelo” é um sentimento decorrente da dedicação a alguém, fruto do amor que se tem a alguém, uma busca de agrado ao ser amado, mediante dedicação e empenho.

– Sendo “a defesa de direitos próprios”, o zelo é algo que, validamente, só pode ser exercido sem qualquer senão por parte de Deus, que é o Senhor de todas as coisas (Sl.24:1).

Ele pode exigir exclusividade no relacionamento com Ele e devemos, sobretudo, ser zelosos no sentido de promover-Lhe a glória que só a Ele é devida e a ninguém mais (Is.42:8).

– Esta dedicação a Deus e à Sua justiça é o “zelo” que devemos ter, coimo nos ensina o Senhor Jesus (Mt.6:33), que, inclusive, exigiu isto do anjo da igreja em Laodiceia que, pelo seu descuido, havia, inclusive, posto Jesus para fora daquela igreja local, tanto que Ele estava à porta, querendo entrar (Ap.3:20).

– Pois bem, este zelo degenera em “ciúme”. Em vez de se ter “um grande cuidado e preocupação que se dedica a alguém ou algo”, passa-se a ter “um sentimento penoso em relação a uma pessoa que se pretende o amor exclusivo”, ou seja, em vez de uma atitude de amor a outrem, passa-se a uma atitude em que se pretende que outrem tenha o amor exclusivo ao ciumento.

– O ciúme, portanto, representa uma “guinada de cento e oitenta graus”, pois se deixa de se dedicar a outrem para que se exija que alguém se dedique ao próprio ciumento, tem-se uma prevalência do egoísmo, uma manifestação de um sentimento de domínio e de posse sobre alguém.

– Esta degeneração do zelo em ciúme outra coisa não é que um “efeito colateral” do pecado. O pecado surgiu na humanidade no exato instante em que o homem quis se tornar independente de Deus, deu-Lhe as costas, deixou de considerar-se como criatura feita para adorar a Deus para querer ser alguém independente, que passaria a ter a si mesmo como centro das atenções.

– O ciúme é manifestação do egoísmo, da prevalência do “eu” e, como tal, é mais uma demonstração da falta de amor, seja a Deus, seja ao próximo. O ciúme é a negação do amor a Deus, na medida em que o ciumento passa a se considerar o “centro do universo”, o “senhor do mundo”, o que implica em dizer que Deus não existe.

– O ciúme é negação do amor ao próximo, porque o ciumento se considera dono do próximo, o próximo deixa de ser considerado um sujeito, um ser à imagem e semelhança de Deus, dotado de dignidade, para ser um mero objeto, um instrumento a serviço do ciumento.

– A manifestação do ciúme, portanto, não passa de uma exteriorização da natureza pecaminosa do homem e a sua presença como elemento do relacionamento familiar evidentemente representará um mal que, como toda obra da carne, redundará em destruição e fracasso.

– O ciumento parte do pressuposto de que “tem direitos” sobre o amor e o sentimento da outra pessoa, o que é totalmente contrário ao que ensina a Palavra de Deus, que nos ensina que só Deus é o Senhor de todas as coisas e todas as pessoas (Sl.24:1), sendo certo que não devemos nos fazer servos dos homens (I Co.7:23).

– Deste modo, ninguém tem o domínio sobre outrem, de modo que se comportar como se se tivesse tal posse, tal propriedade é, sem dúvida, ter uma conduta pecaminosa e contrária à vontade de Deus.

– Tanto assim é que há um elucidativo procedimento previsto na lei de Moisés em que se mostra como o ciúme é visto perante as Escrituras.

Trata-se da conduta que deveria ter o marido que suspeitasse da fidelidade da mulher, ou seja, do marido ciumento, que se encontra em Nm.5:11-31.

– O marido que suspeitasse do adultério da mulher deveria levá-la até o sacerdote. Por primeiro, é interessante notar que o texto diz que só se faria este procedimento, ante a desconfiança, se “o espírito de ciúme viesse sobre o marido” (Nm.5:14).

– Notamos, pois, que não é considerado algo normal, algo querido que venha este “espírito de ciúme”. Já, de pronto, percebe-se que o surgimento do ciúme já é algo contrário ao desejo divino e, mais, agora que estamos na dispensação da graça, algo que não deve pertencer à nova criatura em Cristo Jesus.

– De qualquer maneira, aparecendo este sentimento, o marido deveria levar a mulher ao sacerdote. Isto é bem elucidativo.

Não podia o marido, mesmo sendo a cabeça do casal, diante do ciúme, fazer uso de qualquer autoridade.

Ele tinha de levar o caso ao sacerdote, que era o mediador entre ele e Deus, ou seja, diante do ciúme, deveria lembrar que não era ele “o senhor”, mas, sim, que deveria levar o caso para ser tratado diante do verdadeiro Senhor, o Senhor Deus.

– Logo se vê que não tem qualquer respaldo nas Escrituras condutas em que os ciumentos tomam atitudes por sua própria conta e risco, querem “fazer justiça com suas próprias mãos”, uma conduta cada vez mais frequente em nossos dias, inclusive entre os que cristãos se dizem ser.

– Quando chegar o “espírito de ciúme”, devemos levar a causa perante nosso sumo sacerdote, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

– O marido, então, deveria trazer uma oferta pela mulher, de modo que já demonstrava à mulher que estava a suspeitar dela, bem como publicamente revelava tal suspeita, o que também serve de comprovação de que os comportamentos ciumentos de pressão psicológica, de pressões entre quatro paredes, às escondidas e envolvidas na ocultação não são igualmente aprovadas por Deus.

– A oferta a ser apresentada pelo marido pela mulher era de uma décima de efa de farinha de cevada, sobre a qual não se deitaria azeite, nem sobre ela se poria incenso, e teria por objetivo trazer à memória a iniquidade (Nm.5:15).

– Note-se que o fato de a mulher trazer oferta pela mulher é uma atitude que mostrava ao marido que não tinha ele posse sobre a mulher, mas deveria interceder por ela, tinha responsabilidades para com ela, tanto que apresentaria esta oferta ao Senhor por ela ante a suspeita de adultério. Uma oferta que era para trazer à memória a prática de um pecado, caso ele tivesse sido cometido.

– O ciúme é a negação de tudo isto. É fruto de egoísmo, e, portanto, não comporta apresentação de oferta ou sacrifício por outrem, também é uma demonstração de posse, e quem se acha dono, quer ele mesmo punir a sua “propriedade”, não entregar o caso a outrem, no caso, a Deus.

– Chegando até o sacerdote, este deveria tomar água santa, colocar nela o pó do chão do tabernáculo, descobrir a cabeça da mulher e apresentar tanto a mulher quanto a oferta diante do Senhor, oferta que estará nas mãos da mulher.

– Este gesto mostra, claramente, que o marido não tinha domínio sobre a mulher, mas, sim, o Senhor. Ela deveria ouvir o juramento do sacerdote de que ela não havia pecado e tomar a água, sendo então ofertado o sacrifício.

– O ciúme também é associado à desconfiança e sabemos todos que a desconfiança é um sentimento que não pode estar presente entre servos de Deus. Tudo o que não se faz com fé é pecado (Rm.14:23).

– A desconfiança não pode habitar o nosso coração, de modo que devemos, sempre diante da “chegada do espírito de ciúme”, abrir um diálogo franco com o familiar e levar o caso à presença de Deus.

Veja que, pelo procedimento da mulher suspeita de adultério, o próprio Deus revelaria, no momento oportuno e da forma adequada, se havia, ou não, ocorrido a prática do pecado.

– Não é pelas nossas forças que manteremos o amor de nosso ente querido em relação a nós, a sua fidelidade ou o relacionamento que temos, mas, sim, pela presença de Deus em nossas vidas e na própria relação. O amor ao próximo decorre do amor a Deus.

– As Escrituras deixam bem claro que o relacionamento conjugal, que é o mais atingido pelo ciúme, é um

“cordão de três dobras” (Ec.4:12), é algo que envolve marido, mulher e o Senhor (Ml.2:14; I Co.11:3,12).

– Deste modo, o ciúme, ao querer descartar a figura divina do relacionamento, é uma expressão de incredulidade e que não pode, mesmo, ter bons resultados, pois é um passo decisivo para a própria destruição da relação familiar, especialmente a conjugal.

– Mas além de ser expressão de incredulidade e desconfiança, o ciúme é, também, demonstração de desamor, porque, como diz o dicionário, é “o medo de perder a pessoa amada”. Ora, quando se tem medo, não se tem amor (I Jo.4:18).

– O “medo da perda da pessoa amada” tem, como já visto, embutido o sentimento indevido de posse e propriedade sobre a pessoa, mas, além disso, revela falta de amor, pois, como explica o apóstolo João, “o temor traz consigo a pena e o que teme não é perfeito em amor”.

– O medo faz com que a pessoa não acredite nas intenções e atitudes da pessoa amada, começa a achar que vai perdê-la, que não terá mais a sua companhia, não terá as vantagens que a convivência com aquela pessoa lhe proporciona.

Diante disto, não mais deseja o bem daquela pessoa, não procurar agradar-lhe, o que representa um comportamento diametralmente oposto ao que é descrito em I Co.13.

– Quem tem medo de perder a pessoa amada não suporta qualquer contrariedade; não quer bem mas sempre suspeita mal; inveja os outros, notadamente quem ele acha estar em relacionamento com a pessoa amada;

é leviano, trazendo sempre acusações mesmo sem provas; manifesta soberba pois se entende “dono” da outra pessoa; porta-se com indecência, nesta sua ânsia de manter o domínio sobre outrem; busca só os seus interesses, pois está a demonstrar soberba e egoísmo;

irrita-se muito facilmente; folga com a injustiça, porque, inclusive, pratica injustiças nesta sua obstinação;

não folga com a verdade, pois entender ser “o dono da verdade”; nada sofre; nada crê; nada espera. É, pois, a contrafação do amor como descrito por Paulo em I Co.13.

– Diante de todo este quadro, é evidente que o ciúme, se nortear o relacionamento familiar, levará à sua destruição.

II – A CASUÍSTICA BÍBLICA: O CIÚME DOS IRMÃOS DE JOSÉ

– Feitas as considerações a respeito do ciúme e de seus deletérios efeitos, analisemos o caso bíblico trazido pelo comentarista da lição para ilustrar esta verdade sobre o mal do ciúme, que é o caso dos irmãos de José, ocorrido na família de Jacó.

– Notemos, por primeiro, que Jacó, como vimos na lição anterior, já sofria com a questão da predileção de filhos pelos pais, visto que era o favorito de Rebeca, sua mãe, enquanto seu irmão gêmeo e mais velho, Esaú, era o predileto de seu pai Isaque, predileção esta que, como visto, trouxe a própria destruição do lar.

– Jacó, mesmo, teve de ir para Padã-Arã a fim de constituir ali família, precisamente porque Esaú tencionava matá-lo após a que se supunha seria a iminente morte de Isaque. Jacó via-se sem família, sem lar, sem patrimônio, exatamente por conta de uma conduta familiar que não estava de acordo com a vontade divina.

– No caminho, em Betel, o Senhor confirma a bênção de Abraão a Jacó (Gn.28:10-22), dando uma clara demonstração ao jovem patriarca que ele deveria se conduzir segundo a vontade de Deus, que deveria buscar a orientação do Senhor em sua vida, notadamente a vida familiar, pois o propósito divino para ele era, precisamente, o de fazer uma grande nação.

– Ao chegar a Padã-Arã, porém, Jacó não se comportou como devia. Tendo percebido a Divina Providência no seu encontro com a família de sua mãe (Gn.29:9-16), que, certamente, apegada como era a Jacó, havia-lhe contado, com minúcias, como havia se casado com Isaque (Gn.24), imediatamente deixou-se guiar pelo coração e se afeiçoou a Raquel, trabalhando sete anos por ela (Gn.29:18-20).

– Há mal em se apaixonar por alguém? Evidentemente que não! Entretanto, não podemos, como servos de Deus, pôr a nossa atração acima dos propósitos divinos para a nossa vida.

Era, sim, da vontade do Senhor que Jacó se casasse com uma das filhas de seu tio Labão, havia ido a Padã-Arã com este objetivo (Gn.28:1,2), mas o seu amor por Raquel foi motivado por uma atração física e sem consulta ao Senhor, tanto que nem percebeu que Labão não a prometeu, mas tão somente disse que era melhor que a desse a ele do que a outro varão.

– O fator físico era tão forte neste relacionamento que Jacó nem percebeu que, na noite de núpcias, quem ingressou no tálamo foi Leia e não Raquel (Gn.29:23,25-27), sendo, assim, enganado, como, aliás, havia enganado seu pai. Jacó, de certa maneira, demonstrava aqui um mesmo descontrole de instinto que havia no seu irmão Esaú, que as Escrituras dizem ser fornicário (Hb.12:16).

– Em mais uma demonstração de que se estava deixando guiar pelo seu ego e não por orientação divina, Jacó, ao receber a proposta de se tornar bígamo, casando-se também com Raquel e por ela trabalhando mais sete anos, não hesitou em aceitá-la, mesmo sabendo que não era esta a conformação divina para a família.

Tanto Abraão quanto Isaque haviam sido monogâmicos, mas Jacó se conformou aos padrões morais de Padã-Arã, quando havia ido para lá exatamente para não repetir os erros de seu irmão Esaú, que adotara a bigamia (Gn.26:34).

– Estes fatores denotam que, na formação de sua família, Jacó não se deixou orientar pelo Senhor e isto traria terríveis consequências não só para a sua vida familiar, mas, também, para sua vida individual e para a sua vida espiritual.

– Se assim foi com Jacó, não pensemos que será diferente conosco. Muitos têm padecido grandemente, tanto em suas vidas pessoais, quanto em suas vidas espirituais, porque não têm sido cuidadosos no momento de formação de suas famílias, na escolha de seus cônjuges, deixando-se conduzir por múltiplos fatores, como atração física, situação econômico-financeira, posição social, desprezando totalmente os princípios bíblicos e a própria vontade de Deus para as nossas vidas. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– O fato é que Jacó se casou com as irmãs Leia e Raquel e aí já começou o ciúme a frequentar aquele lar. É bom observar que Jacó se casou imediatamente com Raquel, embora tivesse que trabalhar a Labão mais sete anos por ela.

– Jacó amava mais Raquel que Leia e isto era por todos sabido, até porque trabalhou quatorze anos por ela. Surge, então, uma nítida competição entre as irmãs pelo marido comum.

– A família, gerada pela prevalência da atração física e que se formava segundo o padrão cultural arameu e não segundo Deus, agora assistia à competição entre as duas mulheres. O Senhor, então, vendo o injusto desprezo que Leia sofria, abriu a sua madre, enquanto que Raquel era estéril (Gn.29:31).

– Notamos aqui como o Senhor não admite o favoritismo, o desprezo injusto por alguém. Jacó aceitara Leia como mulher, não a podia aborrecer, como fazia e, por isso, o Senhor, em forma de compensação, permitiu que Leia tivesse filhos, precisamente para que Jacó não a abandonasse, conforme o costume da terra onde estava e que adotara como seu “modus vivendi”.

– Leia teve três filhos (Rúben, Levi e Judá) e Raquel foi movida pela inveja (Gn.30:1), que nada mais é que um subproduto do ciúme. Por isso, entregou sua serva Bila para que, por ela, Jacó tivesse filhos, que assim fossem considerados de Raquel.

Jacó, que bem sabia a história de sua família, cometeu outro erro ao aceitar tal condição, de que seu pai Isaque tinha sido vítima, na sua dura convivência com Ismael, também filho de uma serva.

– O ciúme levou a mais uma conduta desagradável a Deus. Jacó aceitou, uma vez mais, um comportamento inadequado e teve filho com Bila, Dã, que haveria de ser (e ainda o é) uma fonte de problemas para o povo de Israel.

Depois de Dã, Bila ainda teve um segundo filho, Naftali, cujo nome significa “lutas”, pois Raquel dizia estar “lutando com sua irmã” (Gn.30:8).

– O ciúme torna a vida familiar uma “luta”. O que deveria ser um ambiente de comunhão, um exercício de vida em comum, uma vivência terrena da comunhão existente nos céus entre as Pessoas Divinas, bem como da comunhão entre Deus e o Seu povo, passa a ser um local de disputas e competições, um fator de desgaste emocional e de desagregação.

– E Raquel não estava errada, lamentavelmente. Com o nascimento de Naftali, vendo Raquel que poderia “entrar em desvantagem”, pois tinha três filhos contra dois já de Raquel (ainda que por meio de Bila), usa da mesma estratégia e entrega sua serva Zilpa para Jacó, e nasce, por conseguinte, Gade, sendo que, depois, Zilpa tem outro filho, Aser.

– A luta só aumentava. Rúben, o primogênito, colheu mandrágoras no campo e trouxe a sua mãe Leia. Raquel quis as mandrágoras para si e as pediu para Leia, que só aceitou dá-las sob o compromisso de ter o direito de dormir com Jacó e “o negócio foi feito”.

Jacó, então, deita-se com Leia e esta concebe e tem mais um filho, Issacar. Jacó retoma o relacionamento íntimo com Leia e nasce, ainda, outro filho, Zebulom e, por fim, uma filha, Diná (Gn.30:14-22).

– Neste confronto, o Senhor entra, mais uma vez, como mediador e Se lembra de Raquel, permitindo que ela concebesse e tivesse um filho. Nasce, então, José (Gn.30:22-24).

– Nesse tempo, então, completando-se os quatorze anos que Jacó tinha de trabalhar para Labão, quis Jacó ir embora de Padã-Arã, mas seu tio Labão o convence de permanecer (Gn.30:25-36).

– Somente depois deste quatorze anos é que Jacó parece se lembrar das promessas de Abraão na sua vida, promessas pelas quais ele havia tanto lutado no passado.

O ambiente de competição e disputa dentro do seu lar impediu, ainda, que ele pudesse dar aos filhos a devida educação, consoante os princípios vividos na casa de Abraão e na casa de Isaque.

– Parece que, nesta formação, teve papel preponderante Débora, que tinha sido ama de Rebeca (Gn.35:8), que, naturalmente, formou os filhos de Jacó segundo a cultura arameia, tanto que havia ídolos na casa de Jacó (Gn.31:19; 35:2).

– Jacó circuncidou seus filhos, prosseguindo a aliança firmada por Deus com Abraão (Gn.34:14-17), mas, tirante este aspecto quase que ritual e somente externo, não havia, no lar de Jacó, nenhum sinal distintivo das demais famílias do local, em que pese estar Jacó destinado a ser o pai de uma nação diferente das demais.

– Com o nascimento de José, observando Jacó a intervenção divina, já que Raquel era estéril, teve revigorada a sua vocação divina, tendo, então, pensado em deixar Padã-Arã, mas este ímpeto não durou muito, pois Labão logo o convenceu a permanecer.

– Jacó, então, começa a tratar José com distinção diante de todos os seus outros onze filhos. Era o filho de Raquel, a sua amada, era, como ele próprio, um milagre de Deus, e, deste modo, Jacó passou a tratar José diferentemente, repetindo os erros cometidos por seus pais.

– Tendo nascido num instante em que Jacó revigorava sua vida espiritual e sendo o predileto de seu pai, José já teve uma formação diferenciada, percebendo-se nitidamente que passou a cultivar as promessas divinas da família, tendo uma vida distinta da de seus irmãos.

– Este tratamento diferenciado, porém, acabou por gerar um clima de competição e de ciúme entre os irmãos, que, aliás, haviam todos sido criados dentro de um ambiente conflituoso que havia entre Raquel e Leia.

– Quando Jacó retorna para Canaã, atendendo à ordem divina (Gn.31:3), restabelecendo, assim, sua vida espiritual, tanto que passa a se chamar Israel depois do encontro com o Senhor no vau de Jaboque (Gn.32:22-32), tendo, finalmente, feito um concerto entre sua família e Deus em Betel (Gn.35:1-7), tem-se, logo em seguida, o nascimento de Benjamim e a morte de Raquel (Gn.35:16-20).

– Com a morte de Raquel, a sua amada, Jacó, então, ainda mais reforça sua predileção por José, até porque seu primogênito, Rúben, comete ato desonroso, deitando-se com Bila (Gn.35:22), sendo que, antes, Levi e Simeão haviam traído os siquemitas e realizado grande morticínio (Gn.34:25-31).

– A situação chega ao ápice quando Jacó presenteia seu filho José com uma túnica de várias cores (Gn.37:3), o que fez realçar a inimizade latente que já havia dos irmãos para com José.

Como se isto fosse pouco, José ainda conta aos irmãos e a seu pai dois sonhos que teve, tudo dando a indicar que seria o senhor da família (Gn.37:5-10).

– O ciúme gerou inveja dos irmãos contra José e tanto se aguçou que todos resolveram matá-lo e, na primeira oportunidade que tiveram, quando José foi ao seu encontro por ordem de seu pai, executaram o plano, que, no último instante, foi interrompido por Rúben, que não permitiu o assassinato de José, que acabou sendo vendido como escravo aos midianitas, quando Rúben estava ausente, por ideia de Judá (Gn.37:11-30).

– Nota-se, pois, como o ciúme faz com que se tomem atitudes as mais perversas possíveis. Como vimos, o ciúme é uma manifestação de egocentrismo, de se querer ser o centro das atenções e os filhos de Jacó nasceram e cresceram dentro de um ambiente em que Raquel e Leia lutavam pelo amor exclusivo de Jacó.

– Agora, ante as atitudes de Jacó, os filhos não toleraram esta exclusividade que parece estar sendo conquistada por José, que era já considerado como o futuro “pai de família” do clã que se formava.

– O ciúme gera insensibilidade. Vejam que José foi jogado numa cova, despido de sua túnica, mantido ali certamente com fome e sede enquanto seus irmãos se alimentavam.

E, por fim, venderam o irmão, tirando ainda proveito financeiro do fato de não terem podido matá-lo, impedidos que foram por Rúben.

– Depois, em uma grande hipocrisia, procuraram “consolar” Jacó da morte de José, mentira por eles inventada, ao mancharem a túnica com sangue de um cabrito, mantendo esta mentira por longos quinze anos.

– Eis o que o ciúme faz com uma família. Jacó ficou todos aqueles anos com um sentimento terrível de perda, que fruto de uma mentira. Isto não trouxe para Jacó consideração para com os demais filhos, como eles pensavam.

Foi gerado um mal na família (Cf. Gn.50:20), que Deus tornou em bem, mas que trouxe, sim, grandes prejuízos.

– Isto é o que faz o ciúme. Tomemos, pois, irmãos, cuidado para não sermos dominados por este grande mal, que prejudicará a família e que, nem sempre, levará ao bem posterior, como aconteceu na família de Jacó, que estava completamente inserida no plano de Deus para a humanidade. Que Deus nos guarde!

 

 Pr. Caramuru Afonso Francisco

Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9044-licao-3-ciume-o-mal-que-prejudica-a-familia-i

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