JUVENIS – LIÇÃO Nº 10 – UMA CARTA PARA VOCÊ
A epístola de I João foi escrita depois do ano 100 d.C. em Éfeso. Esta é a carta mais extensa.
Contém mais informações que as outras duas do mesmo autor. Aborda claramente a dimensão humana de Jesus, “ sobretudo porque associa a experiência de fé à contemplação sensorial: ouvir, ver, apalpar” (Comissão Diocesana de Liturgia, 2023).
No período de elaboração da epístola, havia muitos grupos que não criam na encarnação do Verbo, o que fez João destacar a deidade de Cristo e Sua humanidade no exercício do ministério tríplice de sacerdote, profeta e rei.
Todos nós já assimilamos, nas primeiras lições desta revista, que Cristo, em sua passagem pela Terra, atuava de acordo com as naturezas humana e divina, mantendo a identidade mútua com os seus filhos, assemelhando-se a nós, provou que é possível sermos seus imitadores como filhos amados, praticando o amor e a fraternidade, pois não há possibilidades de se amar a Deus, se não amarmos o próximo.
O amor ao próximo se concretiza no ato, resultante de quem possui a centelha da natureza divina em seu ser, daquele que foi adotado como filho de Deus e tem intimidade com o Pai Celestial.
A Igreja de Cristo faz diferença aqui na Terra por causa do exercício do nobre mandamento de amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Para ser uma Igreja verdadeira é preciso aprender a viver em comunidade, no estudo das Escrituras, na oração e no partir do pão, tal como a Igreja Primitiva comungava tudo e não havia entre os irmãos, crentes necessitados, pois todos tinham tudo em comum. Quão longe estamos vivendo do ideal que o Senhor estabeleceu para o seu povo!
Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios de temor, e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum.
Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. (Atos 2:42-45)
Desta forma, podemos inferir citando Lisânias Loback, o qual menciona a opinião de João Wesley sobre I João: “a parte mais profunda das escrituras sagradas”.
Ficamos pensando na motivação do pregador ao dizê-lo e do apóstolo na sua escrita que tanta diferença fez para o repertório de epístolas canônicas que temos nas Escrituras Sagradas.
Certamente que o tema, o assunto tratado na carta é imprescindível para a manutenção da comunhão na igreja, da comunhão dos crentes com Cristo, do reconhecimento pelo sacrifício feito na cruz do Calvário como a maior demonstração de amor já feita e a prova de que este ato sacrificial foi a iniciativa divina para demonstrar este amor e reconduzir o homem a um relacionamento com o Pai Celestial.
Embora seja sucinta, de leitura e compreensão inteligíveis (simples), não está endereçada particularmente a alguém, por isto a carta é para todos os cristãos e contém ensinos que todos devem assimilar para ter uma vivência cristã próspera:
“A carta de 1ª João tem um resumo daquilo que todo cristão precisa ter para andar na verdade, com fé, sem ser enganado, convicto de que o plano central de Deus para o homem, revelado na palavra de Deus, é verdadeiro e produz vida.” ( Loback, 2022) O apóstolo ensina e reforça cada princípio, mostra e repete em diversos pontos de vista, fazendo uso de poucos versículos.
João deixa claro, em sua epístola, que nossa vida deve ser pautada por princípios. Cristo ensinou os mais singulares princípios éticos que devemos seguir no Sermão da Montanha e deixou-nos claro que precisamos ser autênticos e nada ter a esconder, pois como sal da terra e luz do mundo, estamos em lugar de destaque, como referencial para aqueles que não conhecem a Deus: Vocês são a luz do mundo.
Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa. Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus”. (Mt 5:14-16)
O referencial de testemunho, exemplo de fé e reflexo dos atributos comunicáveis da natureza divina, tais como santidade, perfeição, bondade, benignidade, longanimidade, paz, sabedoria, amor etc. : “Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês”. (Mt 5:48)
É necessário seguir o padrão divino. Nosso Deus é luz, aquele que anda com Ele está na luz, vive na luz, é a luz. Portanto, as trevas não combinam com a luz, nem se misturam a ela.
Não há tons cinzentos na vida do cristão. Somos da verdade ou da mentira. Cristo disse que o nosso falar deve ser “sim, sim ou não, não!” Se alterarmos o padrão, a origem será maligna (Mt 5.37).
Se pecarmos, é preciso confessá-lo, pois Cristo é o nosso Advogado. Se dissermos que nunca pecamos, somos mentirosos: “Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós.” (1 Jo 1:8)
Não podemos relativizar aquilo que Deus já padronizou: “Ai dos que chamam ao mal bem e ao bem, mal, que fazem das trevas luz e da luz, trevas, do amargo, doce e do doce, amargo.” (Is 5.20)
Hoje nada é pecado, tudo é antiético. Todos querem liberdade, mas ninguém tem tolerância. Apreciam a diversidade mas não aceitam diferente.
Na verdade, o mundo está muito chato. É por isso que esse livro é tão importante. Ele dá clareza e traz contraste, tira das sombras e nos posiciona, ou estamos na luz ou nas trevas, na santidade ou no pecado. Faça a sua auto avaliação, de forma sincera. (Loback, 2022)
O servo do Senhor anda na luz e coloca o amor em prática, pois o amor é comportamento (como diz nosso mestre Caramuru Afonso Francisco), concretiza- se em obras, tal como a fé segundo Tiago, fazendo a luz do evangelho de Cristo brilhar cada vez mais, evidenciando o propósito da nossa pregação. Aqueles que creem no Filho de Deus, andam na luz, praticam o amor ao próximo e não vivem pecando:
“Quem afirma estar na luz, mas odeia seu irmão, continua nas trevas. Quem ama seu irmão permanece na luz, e nele não há causa de tropeço.
Mas quem odeia seu irmão está nas trevas e anda nas trevas; não sabe para onde vai, porque as trevas o cegaram. (I Jo 2:9-11)
O apóstolo faz uso do vocábulo “filhinhos” no v.12, apontando para um menino em tenra idade (gr.teknia); no v. 14, refere-se a um menino tenro em experiência, preparação e disciplina (gr. paidia). Depois, chama os pais e os jovens. Barclay então questiona:
A pergunta então é: a quem escreve João? Podemos responder de três maneiras. Poderíamos interpretar essas três palavras como referindo-se a três grupos de idades diferentes dentro da Igreja — meninos, pais e jovens.
Os meninos têm a doce inocência da infância e do perdão. Dos tais é o Reino dos céus. Os pais possuem a amadurecida prudência que lhes proporciona a experiência cristã.
Passaram sua vida pensando naquele que é desde o começo e aprendendo mais dEle. Os jovens se caracterizam pela força que é prerrogativa da juventude, a força que os capacita a lutar e vencer em seus encontros pessoais com o Maligno. (Barclay, 2023)
João estava próximo de seus 100 anos de idade. É possível que ele não tenha usado “filhinhos” em todas as referências de sua carta com o mesmo sentido abordado acima.
Outras referências: 2:1,28; 3:7,8; 4:4; 5:21. Como pastor da Igreja de Éfeso na qual havia cristãos até a terceira geração ou mais, abaixo da sua, João pode ter sido motivado a se expressar da mesma forma com os cristãos para expressar afeto, amor cristão, haja vista que ele era uma espécie de pai espiritual que os guiava na trajetória da fé.
A vida cristã é uma constante batalha e as forças espirituais adquiridas para a vitória sobre o maligno são obtidas em todos os momentos, no início, no processo da caminhada ou no fim da trajetória.
Uma pessoa considerada jovem na fé pode ser dotada de maturidade espiritual e forte para vencer o maligno. Portanto, o vocábulo “filhinhos” não se refere apenas aos jovens, mas aos cristãos em geral: os pais, os jovens, os mais velhos, os imaturos, os maduros. Barclay afirma que
Todos os cristãos são como meninos pequenos, porque podem recuperar sua inocência mediante o perdão de Jesus Cristo. Todos os cristãos são como pais, totalmente amadurecidos, homens responsáveis, que podem pensar e aprofundar cada vez mais no conhecimento de Jesus Cristo.
Todos os cristãos são jovens, com uma gloriosa e vigorosa fortaleza para lutar e vencer em todos os seus encontros com o tentador e seu poder. […] chegamos à conclusão de que as bênçãos de cada grupo pertencem a todos os grupos, e que cada um de nós está incluído em cada um e em todos eles. (Barclay,2023)
Quando temos comunhão com Jesus Cristo e procuramos conhecê-lO, temos intimidade com Ele, com Sua Palavra.
Revestidos de Seu poder e autoridade, somos capacitados para vencer Satanás e seus ardis: “Alguns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós confiamos no nome do Senhor nosso Deus.” (Sl 20.7)
João vê o mal como um poder pessoal que procura nos derrotar e nos afastar de Deus. Somente o poder e a autoridade concedida por Cristo, em nossas vidas, nos dará condições de vencer e enfrentar os dardos inflamados do Maligno.
Naquela época, havia um sistema religioso denominado Zoroastrismo, que predominava na sociedade grega e via o mundo como um campo de batalha entre as forças opostas da luz e das trevas. O deus da luz era Ahura-Mazda e o das trevas, Ahura-Mainyu.
Eles vivenciavam um conflito eterno, e a grande decisão na vida dos fiéis, era decidir a quem iriam servir. Todo homem devia decidir aliar-se ou com a luz ou com as trevas.
Os cristãos sabiam que a divisão entre o mundo e a Igreja tinha outro cenário. Sendo assim, é nesta separação entre a igreja e o mundo que se observa a distinção existente entre ambos.
Mundo (kosmos) – é a bela criação de Deus, está claro que o crente não precisa separar-se das coisas criadas. O apóstolo não se refere a este mundo.
No entanto, quando usa o vocábulo “Kosmos”, em sua carta, João refere-se a este sistema social humano organizado sobre princípios pecaminosos, baseado em valores anti-ristãos e egoísmo.
A sociedade pagã, que adorava a criatura em detrimento do Criador, era mundana, desprezava o verdadeiro Deus e ainda perseguia os cristãos.
Por tais motivos e outros mais, o cristão deve ser diferente do mundo e ser autêntico na sua fé: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro.” (Mt 6:24)
Dentre os crentes que amam o mundo, destacam-se suas práticas de pecados que se concretizam em:
CONCUPISCÊNCIA DA CARNE (COBIÇA DA CARNE) – referem-se a todas as ambições mundanas e desejos mesquinhos. Assim vivem aqueles que estão na dimensão da materialidade, suprindo as necessidades do corpo físico, atendendo aos sentidos físicos.
Não demonstra autocontrole no ato de se alimentar, entrega-se ao prazer de ser bem-visto e cobiçado por olhares, é cobiçoso e de torpe ganância, sua moral é duvidosa e a origem das suas posses também.
Quem vive de acordo com a concupiscência da carne, não valoriza os bens espirituais, mas exalta os desejos mundanos, terrestres e materiais. Os mandamentos divinos são menosprezados diante da cegueira espiritual e desatento compromisso de quem não teme o juízo divino e as leis de Deus.
Não precisamos pensar tudo isto como privativo do pecador grosseiro, contumaz e notório. Qualquer pessoa que exige um prazer que pode significar a ruína de outrem, qualquer pessoa que não respeita a personalidade de outros ao gratificar seus próprios desejos, qualquer pessoa que vive no luxo quando outros vivem na necessidade, qualquer pessoa que faz um deus de seu próprio bem-star e sua própria ambição, é escravo dos desejos da carne. (Barclay, 2023)
CONCUPISCÊNCIA DOS OLHOS (COBIÇA DOS OLHOS) – resultado do efeito atrativo exercido naquele que se permite fascinar pela aparência. Nela, são confundidas a ostentação com felicidade e prosperidade. É o que se observa nas redes sociais, nas quais impera a aparência, o simulacro (fingimento), o disfarce, o mundo do faz-e- conta etc.
As pessoas apenas registram o que é atrativo aos olhos e estimula a cobiça. Por causa de sua tendência a buscar apenas o que é material, o homem acha que a felicidade está nas posses, naquilo que pode adquirir e ostentar para que outros vejam.
Nesta postura, a pessoa vende-se a si mesma, pois a sua meta, seu propósito está apenas no que é visível e temporário, não está centrado no que é eterno. Aquele que acha que a felicidade está apenas no que está diante dos olhos, deixa de almejar o que é invisível e eterno, cujo valor é imensurável.
SOBERBA DA VIDA – João utiliza, segundo Barclay (2023), o vocábulo alazoneia, palavra grega que se refere ao alazon, o indivíduo que fazia ostentação de posses e feitos e proezas que lhe pertenciam para impressionar a outros e exaltar-se a si mesmo, é uma pessoa arrogante.
Fala a respeito daquilo que não possui e quando adquire algo, gaba-e em todo o tempo do que possui e do que não possui. O objetivo de sua vida é causar impressão nos outros com suas histórias fictícias.
O apóstolo deixa bem claro que o homem mundano vive de acordo com os apetites de carne e, além disto, este enganador convencido procura elevar a opinião dos outros a respeito de si.
Assim, está destruindo a sua vida, haja vista que seus propósitos são exclusivamente mundanos e suas metas são passageiras.
É o homem que constrói um castelo na areia. Excluiu Deus do centro de sua vida, condenando- se ao desengano, à desilusão, porque os fundamentos de sua vida são plenamente inseguros e vão ruir.
O homem de Deus colocou o Senhor no centro de sua vida, está pleno da certeza da alegria permanente em sua vida, porque construiu a sua casa sobre a rocha, sabe que é uma atitude sábia dedicar-se a algo que é seguro, que é certo para toda a eternidade.
Sugestão de Atividade:
- Professor, converse com seus alunos sobre situações que induzem àsconcupiscências da carne, dos olhos e soberba da vida. Use o quadro acima como instrumento pedagógico.
- Conversecom eles sobre as redes sociais e como as tais apelam para a concupiscência, para os desejos carnais, para a cobiça, a obtenção daquilo que não está ao nosso
- Aofalar sobre a concupiscência da carne, dos olhos e soberba da vida, também não podemos deixar de mencionar: os namoros e os princípios que precisamos seguir para não estimular os desejos carnais; o cuidado com as vestimentas que estimulam a sensualidade e olhares libidinosos; a importância da atitude humilde em momentos de exortação ou aconselhamento dos pais ou liderança da
- Curiosidade:O BANIMENTO DE JOÃO – RODRIGO SILVA ARQUEOLOGIA: https://youtube.com/shorts/lSiFk78vJ7w?feature=share.
REFERÊNCIAS:
BARCLAY, James William. O Novo Testamento Comentado. I João. Disponível em: https://files.comunidades.net/pastorpatrick/1Joao_Barclay.pdf. Acesso em 26 ago. 2023.
COMISSÃO DIOCESANA DE LITURGIA. A Primeira carta de João. Disponível em: https://diocesesa.org.br/2019/09/06/a-primeira-carta-de-joao/. Acesso em 26 ago.2023.
LOBACK, Lisânias. Por que é tão importante ler e estudar 1ª João. Disponível em: https://www.webig.pro.br/por-que-e-tao-importante-ler-e-estudar-1-joao/.Acesso em 26 ago.2023.
Profª. Amélia Lemos Oliveira
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/juvenis/9658-licao-10-uma-carta-para-voce-i
Vídeo: https://youtu.be/u9EunYc1VgU