LIÇÃO Nº 5 – UMA PERSPECTIVA PENTECOSTAL DE MISSÕES
As Escrituras mostram-nos, com absoluta clareza, que o modelo bíblico da evangelização depende da atuação plena do Espírito Santo, em especial do batismo com o Espírito Santo.
INTRODUÇÃO
-Na sequência do estudo das missões transculturais, veremos hoje as missões sob a ótica do Espírito Santo.
-As Escrituras mostram-nos, com absoluta clareza, que o modelo bíblico da evangelização depende da atuação plena do Espírito Santo, em especial do batismo com o Espírito Santo.
I- A OBRA MISSIONÁRIA ESTUDADA A PARTIR DA VIDA DO APÓSTOLO PAULO
-A Igreja existe para pregar o evangelho a toda criatura (Mc.16:15) e para promover o aperfeiçoamento dos crentes (Ef.4:11,12). Esta é a razão de ser da Igreja e tudo o que se realizar, no meio do povo de Deus, jamais pode deixar de buscar estes objetivos traçados pela cabeça da Igreja, que é o Senhor Jesus (Ef.5:23).
-Esta tarefa só é possível, porém, se, ao lado da pregação do Evangelho, haja a indispensável atuação do Espírito Santo, pois é Ele quem convence o pecador do pecado, da justiça e do juízo (Jo.16:8). Se não houver quem pregue, não haverá quem se converta, mas também impossível é a conversão sem que haja o convencimento do Espírito Santo (Rm.10).
-Para que os discípulos pudessem cumprir esta tarefa, Jesus, Aquele que fez esta determinação, ainda mandou que aguardassem o revestimento de poder (Lc.24:49). Deste modo, é o próprio Jesus quem estabeleceu a necessidade e a indispensabilidade do batismo com o Espírito Santo para que se realize a obra missionária. Se Jesus assim determinou, quem somos nós para questionar isto?
-Ao Se humanizar, Jesus assumiu a forma de servo em toda a sua plenitude (Fp.2:7), o que significa dizer que, assim como os seres humanos, submeteu-se à ação do tempo e se sujeitou à morte física, se bem que, neste caso, a morte seria vicária, ou seja, em substituição aos demais homens (Rm.5:8), uma vez que não havia pecado para, merecidamente, submeter-se a esta circunstância.
-Dentro deste estado de coisas, Jesus teve, necessariamente, de exercer um ministério terreno temporário, sujeito ao tempo, já que, como Emanuel (Deus conosco), entre nós, não poderia ficar eternamente.
Resulta daí, portanto, a necessidade de constituir um grupo de homens e mulheres que, entre os homens, no mundo, continuassem, através dos séculos da dispensação da graça, graça esta trazida pelo próprio Jesus (Jo.1:17), a obra do Senhor, mediante a pregação do evangelho, a boa-nova de que Deus está disposto a perdoar os pecados
do homem e a restabelecer a comunhão entre Deus e o homem, mediante a aceitação do senhorio e do sacrifício de Jesus.
-Eis porque anunciou o Senhor aos Seus discípulos este grande mistério, que é a formação de um povo para a continuação deste trabalho de evangelização, a igreja (Mt.16:18), a quem determinou que pregasse o evangelho a toda criatura por todo o mundo (Mc.16:15).
-Mas, para que isto fosse possível, Jesus deixou bem claro que os Seus discípulos tinham de ser revestidos de poder (Lc.24:49). O trabalho destinado à Igreja, pelo Senhor, não pode ser feito de forma natural, é indispensável que tenhamos a ajuda, o conforto e a companhia do Espírito Santo.
-Jesus, quando veio ao mundo, foi gerado por obra e graça do Espírito Santo (Lc.1:35) e, para iniciar Seu ministério terreno, foi ungido pelo Espírito de Deus (Mt.3:16; At.10:38). De igual modo, os discípulos deveriam ser gerados pelo Espírito (Jo.20:22) e, posteriormente, para o início da fase pública de seus ministérios, revestidos de poder (Lc.24:49; At.1:8).
-Ciente desta circunstância, nada melhor para refletirmos sobre a importância e necessidade da atuação do Espírito Santo para a realização da obra missionária do que observarmos a vida do maior missionário dos tempos apostólicos, Paulo, cuja obra permitiu que a geração da igreja primitiva cumprisse o mandado de Jesus, alcançando todo o mundo conhecido de então na pregação do evangelho.
-Paulo é o protótipo do missionário dos tempos da “chuva temporã” da dispensação da graça, um estudo muito oportuno para nós que estamos no término da “chuva serôdia”, o avivamento pentecostal, o último avivamento antes do arrebatamento da Igreja.
OBS: Ao verificarmos a história do movimento pentecostal a partir da segunda metade do século XIX, vemos a consciência de todos os homens e mulheres de Deus envolvidos neste avivamento de que o objetivo do Espírito Santo era a evangelização de todo o mundo.
Moody e Torren não cessaram de enfatizar que o objetivo da busca da “segunda bênção” era a evangelização dos povos, tendo ficado gravadas na histórias as grandes cruzadas evangelísticas destes grandes pregadores. Fox Purham, em cujo seminário se iniciou a busca do batismo com o Espírito Santo, entendeu, após o batismo de Agnes Ozmam, que o falar línguas estranhas era o falar línguas estrangeiras com propósito missionário, o que, certamente, muito influenciou William Seymour, que sempre deu ao movimento da rua Azusa uma conotação missionária, tanto que seu periódico foi distribuído em todos os continentes do planeta, bem como o despertamento da rua Azusa fez com que muitos se envolvessem com a obra missionária, como foi o caso de Daniel Berg, Gunnar Vingren e, mesmo, Luiz Franciscon, os pioneiros do movimento pentecostal no Brasil.
Não houvesse essa visão missionária, o movimento pentecostal da rua Azusa, certamente, não teria sequer passado as fronteiras do estado norte- americano da Califórnia.
-Paulo sempre demonstrou ter consciência deste imperativo do Senhor para a Sua igreja, No seu encontro pessoal com Jesus, logo após a sua conversão, quase que imediatamente, reconheceu que Jesus é o Senhor (At.9:5,6) e que, a partir de então, estava totalmente à disposição da vontade de Deus, que era a de torná-lo um pregador do evangelho para os gentios (At.9:15), algo que, se não tinha sido revelado diretamente por Deus a Paulo, enquanto aguardava a vinda de Ananias, foi-lhe cientificado por este servo do Senhor.
-Esta consciência de Paulo sobre o seu papel como pregador do evangelho não foi apenas algo que acompanhou o instante da sua conversão, ou seus primeiros dias de fé, mas algo que sempre esteve presente na vida do apóstolo, como podemos verificar na sua última epístola, a segunda carta a Timóteo, onde afirmou, com todas as letras, que tinha consciência de que havia lutado incessantemente contra o mal, mas que havia guardado a fé e, agora, somente esperava a vinda do Senhor (II Tm.4:7,8).
-É importantíssimo que, na nossa vida espiritual, tenhamos esta mesma consciência, pois, se é verdade que a Paulo foi dada a tarefa de alargar o evangelho entre os gentios, tarefa que lhe era peculiar, a cada crente está reservada a missão de pregar o Evangelho, pois a ordem foi dada a toda a igreja e não apenas aos ministros do evangelho (Mc.16:15).
-Infelizmente, muitos nunca se despertam para esta realidade, enquanto outros, embora iniciem com o mesmo gozo e fervor dos primeiros dias de Paulo, ao invés de perseverarem como o apóstolo, acabam chegando ao estado dos efésios, que, tendo começado bem, já não mais agradavam a Jesus (Ap.2:4).
-A consciência de Paulo era tanta que, por mais de uma vez, nos seus escritos, Paulo mostra saber que está a serviço de Deus e que deve pregar o evangelho para que a vontade de Deus se cumpra na sua vida.
Diz que é devedor diante dos homens (Rm.1:14), porque tem um dever, qual seja, o de pregar o Evangelho. É este o sentimento que Paulo possuía: o de a pregação do evangelho ser um dever de cada cristão, um dever diante dos demais homens e que temos de cumprir até a volta do Senhor.
-O primeiro motivo pelo qual Paulo se dispunha a pregar o Evangelho, portanto, é que este é um dever de todo crente. Foi uma ordem dada por Jesus aos Seus discípulos e, se aceitamos Jesus como Senhor e Salvador, temos de Lhe ser obedientes, fazendo o que Ele nos manda, sem o que jamais provaremos que O amamos (Jo.15:10,14). Temos pregado o evangelho? Temos a consciência de que somos devedores diante de Deus e dos homens?
-É oportuno verificar que, quando falamos de obra missionária, muitos associam a expressão à pregação do evangelho em outros países, em outras culturas.
Logo imaginam que estamos a falar do envio de pessoas para pregarem Jesus Cristo do outro lado do mundo. Entretanto, esta ideia não merece acolhida. Obra missionária é obra de uma missão. Missão é uma tarefa, um trabalho que é dado, posto para alguém fazer (missão vem do latim “missio”, que significa “aquilo que foi posto”, “aquilo que foi determinado”).
-Ora, Jesus mandou todos os discípulos pregarem o evangelho a toda criatura por todo o mundo, começando por Jerusalém, depois para Judeia e Samaria, até os confins da terra. Portanto, a obra missionária envolve a pregação do evangelho em toda a parte, por todos os salvos.
Deste modo, não pensemos nós que o que Paulo sentia era consequência de ele ser “um vaso escolhido para levar o Meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel” (At.9:15b), mas, também, é algo que deve estar presente em todos nós, pois “não Me escolhestes vós a Mim, mas Eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em Meu nome pedirdes ao Pai, Ele vo-lo conceda.” (Jo.15:16).
-Somos devedores diante de Deus, porque, ao aceitarmos o senhorio de Cristo em nossas vidas, assumimos o compromisso de pregar o evangelho a toda criatura e em todo o lugar.
Não temos o direito de nos dispensarmos desta obrigação, que nos é imposta. Por isso, Paulo, com muita propriedade, afirma: “porque, se anuncio o evangelho, não tendo de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação, e ai de mim, se não anunciar o evangelho!” (I Co.9:16).
-Se a pregação do evangelho é uma obrigação que nos é imposta, se se trata de uma dívida que temos para com Deus e para com o próximo, haverá um dia em que deveremos prestar contas perante o credor (cfr. Mt.25:14-30) e que tristeza será sairmos como salvos como que pelo fogo, exatamente por não termos cumprido com esta obrigação! (cfr. I Co.3:12-15).
-Mas não é apenas por ser uma obrigação, que Paulo pregava o evangelho. Ele o fazia porque tinha o amor de Deus em seu coração. O autêntico servo de Deus tem o fruto do Espírito Santo e este fruto nada mais é que o desdobramento do amor divino que foi derramado em nossos corações. Quem é nascido de Deus, ama (I Jo.4:7).
-Este amor é o amor “agape”, ou seja, o amor que não se desenvolve por causa do valor do objeto amado, mas, bem ao contrário, por causa do valor daquele que ama.
Se, verdadeiramente, temos o amor de Deus, amamos o próximo assim como Deus ama a cada criatura. É por isso que Jesus afirmou que o segundo grande mandamento, que é mera consequência do primeiro, é, precisamente, a amar o próximo como a nós mesmos (Mt.22:39). Como dizer que amamos o próximo, se não desejamos a sua salvação e que, salvo, tenha ele a vida eterna?
-E este amor, que é de Deus e, portanto, não pode ser gerado inicialmente em nós, vem ao salvo por intermédio do Espírito Santo, que o derrama em nossos corações (Rm.5:5), e aí já vemos que não há como se realizar missões sem a atuação do Espírito Santo.
-Paulo amava o próximo e, por causa deste amor, ainda que incompreendido, pregava e ensinava os homens, porque os amava cada vez mais (II Co.12:15).
Como poderemos dizer que amamos nossos entes queridos, nossos colegas de trabalho, nossos vizinhos, nossos amigos, se não lhes pregamos o evangelho? Como poderemos, naquele dia, dizer que amamos estas pessoas, quando as virmos serem lançadas nas trevas exteriores, porque não aceitaram Jesus como Senhor e Salvador das suas vidas, exatamente porque fomos omissos e nunca lhes falamos do amor de Deus e da salvação na pessoa bendita de Seu Filho?
-Outro motivo pelo qual Paulo pregava o evangelho é a convicção, a certeza que tinha de sua salvação. Paulo não só sabia que era servo de Deus, tanto que assim se identifica em quase todas as suas epístolas, como também tinha convicção de que Jesus era o Salvador.
-Não poderemos jamais pregar o evangelho se não tivermos convicção, certeza de que Jesus é o Salvador. Esta convicção de Paulo acompanhou-o até os últimos momentos. Na sua última epístola, Paulo, mesmo preso e já sabedor de que não viveria muito, pôde dizer: “eu sei em Quem tenho crido e estou certo de Que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia” (II Tm.1:12).
-Jamais seremos pregadores convincentes do evangelho se nós mesmos não estivermos convencidos pelo Espírito Santo, se não tivermos convicção de que o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16).
-É, precisamente, por causa desta necessária convicção que o batismo com o Espírito Santo se apresenta como uma necessidade na vida do crente.
Se o evangelho é poder de Deus, é mister que experimentemos deste poder, que sintamos e sejamos instrumentos deste poder, sem o que não poderemos ter esta convicção. Paulo tinha esta convicção e, por isso, podia diferenciar-se dos grandes e eloquentes oradores de seu tempo, pois a sua pregação não era mera retórica, mas demonstração do poder de Deus (I Co.2:4-6).
-Por fim, Paulo pregava o evangelho porque tinha consciência de sua chamada pessoal, específica para fazê- lo. Ele era um “vaso escolhido” e, como tal, sabia muito bem o que Jesus dele exigia.
Esta chamada que lhe fora cientificada não muitos dias depois de sua conversão, foi somente confirmada e realizada algum tempo depois, mediante uma ordem expressa do Espírito Santo na igreja de Antioquia (At.13:2).
-Embora a obrigação de pregar o evangelho seja de todos os crentes, a forma, a maneira como cada um a fará é algo que depende da vontade do Senhor. A igreja é um corpo, o corpo de Cristo, e, assim sendo, cada membro tem a sua função, conforme a vontade da cabeça da igreja (I Co.12:12,17; Ef.1:22,23). O missionário transcultural somente o será se for assim comissionado pelo Espírito Santo.
-Em razão disto, é necessário que todos tenhamos comunhão com o Senhor e façamos exatamente o que Ele deseja na Sua obra. Nem todos terão a mesma função na obra do Senhor, mas todos têm ao menos uma tarefa a desempenhar na pregação do Evangelho, pois o nosso Deus não chama ociosos, mas, sim, trabalhadores para esta grande seara, cuja grandeza faz com que sempre haja poucos ceifeiros (Mt.9:37,38).
-Precisamos ser sensíveis ao Espírito Santo para que estejamos no centro da vontade de Deus, fazendo aquilo que o Senhor que façamos, ocupando o nosso lugar na obra do Senhor. É este, aliás, o conselho que Paulo dá a seu filho na fé, Timóteo (I Tm.4:14-16).
II- O MISSIONÁRIO PAULO DE TARSO
-Embora Paulo seja um exemplo eloquente de como se deve fazer missão transcultural, ou seja, de como se deve sobrepor as barreiras culturais e as diferenças humanas existentes entre os povos para que se cumpra o dever de pregação do Evangelho, não devemos nos esquecer o que já dissemos antes: que a obra missionária envolve a evangelização como um todo, ou seja, que a obra missionária consiste na pregação do Evangelho,
para que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, pois esta é a vontade de Deus (I Tm.2:4).
-Como verificamos supra, Paulo havia sido escolhido por Deus para efetuar esta grande tarefa. Esta escolha de Deus deu-se ainda antes do nascimento do apóstolo, como ele próprio afirmou, no decorrer de seu ministério (Gl.1:15).
-Temos de ter consciência de que a nossa escolha é um ato de soberania divina, é um desígnio de Deus e que, portanto, não nos cabe questionar o porquê de termos sido escolhidos para efetuar esta ou aquela tarefa na pregação do Evangelho.
Quantos crentes padecem e sofrem dores, tormentas e alcançam muitos reveses precisamente porque não se conscientizam de que Jesus é o Senhor (Fp.2:11) e que, se assim Ele determinou, só nos cabe obedecer, não questionar ou problematizar a Sua vontade. Paulo teve esta consciência e, assim que teve a revelação da salvação de Jesus (Gl.1:12), dispôs-se a fazer a vontade do Senhor, pregando o evangelho.
-É interessante observar que, assim que se converteu, Paulo já se pôs à inteira disposição do Senhor. “Senhor, que queres que faça” (At.9:6a) foi a expressão usada pelo apóstolo, alguém que, até poucos instantes antes, respirava ameaças e desejava a morte de todos quantos professassem o nome de Jesus (At.9:1).
-O primeiro passo para cumprirmos a ordem missionária do Senhor é nos colocarmos à Sua inteira disposição. É esta uma característica dos autênticos servos do Senhor.
Nesta mesma passagem, vemos que também esta disposição estava presente na vida de Ananias que, assim que chamado pelo Senhor, respondeu com um “eis-me aqui, Senhor’ (At.9:10 “in fine”). O primeiro passo para que alguém possa estar na obra missionária é a disposição em obedecer, é a submissão, a obediência ao Senhor.
-Paulo entrou em Damasco, não o membro ou preposto do Sinédrio, com amplos poderes para prender quem quisesse, desde que fosse achado como seguidor de Jesus, mas como uma pessoa absolutamente dependente da misericórdia divina e da vontade do Senhor.
-O crente deve se apresentar nesta condição diante de Deus: como alguém que está na absoluta dependência da vontade do Senhor, que não enxerga com os seus próprios olhos (como Paulo, que estava cego), mas que espera ter a visão de Deus para saber o que vai lhe acontecer.
-Enquanto Paulo se submetia inteiramente a Deus, o Senhor já começava a trabalhar por ele e a dar condições para que efetuasse aquilo que já havia planejado para o apóstolo.
Chama seu servo Ananias e determina que ele vá até onde Paulo estava, para orar por ele, restabelecer-lhe a visão e permitir-lhe não só o batismo em águas, para que se tornasse membro da igreja, mas também, o revestimento de poder. Ao mesmo tempo, dá a Paulo uma visão, em que lhe diz o que vai acontecer, a fim de que ele aceitasse a oração intercessória de Ananias. Paulo é, então, curado, batizado nas águas e cheio do Espírito Santo.
-Estavam cumpridas as etapas necessárias para que se iniciasse o ministério do apóstolo. Como é importante que sigamos o modelo bíblico para que alcancemos a posição que Deus quer nos pôr em Sua obra.
-Muitos há que estão a queimar etapas, que estão a construir atalhos que, entretanto, não levarão a lugar algum e só atrapalharão a realização da vontade divina em nossas vidas.
“O que se apressa com os seus pés, peca” (Pv.19:2b), diz-nos Salomão e o pecador não tem comunhão com Deus. Como, então, podemos ter um comportamento desta natureza se queremos trabalhar na obra de Deus? Aguardemos o momento de Deus, pois, como diz o povo, “o apressado come cru”.
OBS: Oportuno aqui lembrar a passagem do livro “O Peregrino”, de John Bunyan (1628-1688) em que Cristão e Esperança se desviam do caminho para a cidade celestial, tomando o “Prado do caminho errado” onde sofreram enormes suplícios no castelo da Dúvida, onde morava o gigante Desespero (capítulo 15).
-Assim que foi revestido de poder, Paulo foi tomado por um grande amor pelas almas. Como já afirmamos, é impossível fazer a obra missionária sem que se tenha amor pelas almas perdidas. O verdadeiro crente é alguém que ama o pecador, pois tem o mesmo sentimento que teve Cristo Jesus (Fp.2:5), que sempre sentia compaixão pelo povo que vagava perdido neste mundo (Mt.9:36).
Logo já estava ele a pregar nas sinagogas de Damasco, então a capital da província romana da Síria, dizendo que Jesus era o Filho de Deus (At.9:20). Não perdeu tempo e já se envolveu na pregação do evangelho, com tanta dedicação que não tardou vir a perseguição, a ponto de ter de sair às pressas e mediante um estratagema de Damasco, sem o que teria sido morto ali mesmo.
-Por possuir este amor (e o conhecia tanto que foi a ele que o Espírito Santo inspirou para descrever, como ninguém, as qualidades deste amor, como lemos em I Co.13), Paulo era uma pessoa desprendida, que não tinha mais a sua vida como algo valioso, mas que vivia em função do próximo, em função dos outros.
Paulo muito padeceu e, o que é maravilhoso, sabia que muito sofreria, pois o Senhor já o afirmara, ainda antes da recuperação da sua vista (At.9:16).
-A vida de Paulo é um exemplo para a igreja de que não há sofrimento nem sacrifício que possa superar a dívida que temos para com Deus pela salvação que nos proporcionou na pessoa de Cristo Jesus.
Os tormentos passados por Paulo foram imensos (II Co.11:23-28), mas nada disso, segundo o próprio Paulo, pode ser comparado ao amor que Jesus demonstrou e demonstra por nós (Rm.8:35-39). Como afirma o poeta sacro Ernesto Wooton, “muito além do nosso entendimento, alto mais que todo pensamento, glorioso em seu sublime intento, é o amor de Deus, sem par” (1ª estrofe do hino 396 da Harpa Cristã).
-Servir a Deus tem um preço. Não é o preço da salvação ou da redenção, porque, se Deus fosse nos cobrar este preço, não teríamos condições de pagá-lo (Sl.49:7,8), preço este que foi o sangue de Jesus (I Pe.1:18,19), mas o preço da nossa fidelidade, da nossa santificação.
-Quando aceitamos a Cristo, renunciamos à impiedade deste mundo e à corrupção (Tt.2:12), gerando um inevitável conflito entre nós e o mundo (Jo.15:18-21).
Em razão disto, seremos odiados e, não poucas vezes, maltratados, perseguidos e humilhados, mas o importante é que combatamos este bom combate até o fim, pois a coroa de justiça aguarda aqueles que assim procederem e amarem a vinda do Senhor (II Tm.4:8).
-Disposto, obediente e amoroso, Paulo fez a sua parte para executar a tarefa missionária, aquilo que deu lhe destinava na igreja. A outra parte era a de Deus e, como sabemos, Deus é fiel, ainda que nós sejamos infiéis, pois Ele não pode negar-se a Si mesmo (II Tm.2:13). Deus havia escolhido Paulo e, portanto, responsabilizou-Se pela criação de condições para que Paulo a cumprisse conforme a Sua vontade.
-A primeira providência tomada por Deus diz respeito à própria formação cultural e educacional de Paulo. Não foi por acaso que Paulo surgiu como um dos raros homens (quiçá o único) de seu tempo que tivesse, a um só tempo, a cidadania romana, a erudição grega e o domínio da lei judaica.
Somente um homem com tais predicados poderia ter a desenvoltura que teve o apóstolo Paulo para pregar o Evangelho de forma eficaz e eficiente num mundo dominado por Roma e de forma a poder mostrar aos gentios a promessa messiânica, depósito máximo da cultura judaica.
-É, exatamente por isso, que Paulo considera todo o conhecimento adquirido antes da sua conversão como esterco (Fp.3:8), ou seja, algo que, para ele, havia perdido o valor, diante da missão que recebera de Deus, mas que era algo que servia de adubo, de fator fortalecedor para que levasse avante a obra do Senhor.
-Muitos, hoje em dia, desprezam e execram o tempo anterior à sua conversão e as coisas que, naquela época, aprendeu ou viveu, esquecendo-se de que tudo contribui juntamente para o bem daqueles que amam a Deus e são chamados pelo Seu decreto (Rm.8:28).
-A segunda providência tomada por Deus foi a de revestir Paulo do poder do Espírito Santo
(At.9:17,18). O revestimento de poder era indispensável, absolutamente necessário para que Paulo efetuasse
a missão espinhosa que lhe estava destinada. Assim como os demais discípulos, para pregar o evangelho de acordo com a vontade do Senhor, segundo o modelo estabelecido por Deus, Paulo tinha de ser batizado com o Espírito Santo.
-Podemos imaginar a pregação do evangelho que foi levada a efeito por Paulo sem que houvesse esta transmissão do poder divino a ele? Quem nos responde é o próprio Paulo: “a minha palavra, e a minha pregação, não consistiu em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.” (I Co.2:4,5).
“Porque o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder, e no Espírito Santo, e em muita certeza…” (I Ts.1:5a). Sem este revestimento de poder, quem nos diz é o próprio Paulo, não haveria qualquer diferença entre a pregação efetuada e um belo exercício de retórica.
-A terceira providência tomada por Deus foi a de, após ter batizado Paulo com o Espírito Santo, ter- lhe dado dons espirituais.
O texto sagrado mostra explicitamente que Paulo era portador de oito dos nove dons espirituais: dom de línguas (I Co.14:18), de curar (At.28:8), de operação de maravilhas (At.19:11), de discernimento dos espíritos (At.16:16-18), da palavra da ciência (I Pe.3:15,16), da palavra da sabedoria (II Pe.3:15,16), de profecia (At.27:21-26), da fé (At.13:10,11).
-Só não há menção explícita do dom de interpretação de línguas, mas, quando Paulo diz que falava mais línguas do que todos e que só se poderia falar línguas em público se houvesse interpretação, podemos inferir que também interpretasse, pois, se assim fosse, não teria como dar tal ensino.
-Por isso, Paulo pôde dizer que o evangelho por ele pregado não era um mero discurso, mas demonstração do Espírito Santo e de poder.
-A quarta providência tomada por Deus foi a de estar na companhia de Paulo a cada momento, a cada instante. Paulo dizia que nada poderia separá-lo do amor de Deus que está em Cristo Jesus (Rm.8:39), bem como que não mais vivia, mas Cristo vivia nele (Gl.2:20), tamanha era a comunhão existente entre o Senhor e o apóstolo.
-Quem está no centro da vontade de Deus sente a presença do Senhor a cada instante, a cada momento. Podem as dificuldades, as adversidades serem muitas, pode, mesmo, como aconteceu com Paulo, haver a certeza de que a morte é inevitável, mas jamais estaremos sós, teremos bem perto de nós o Senhor e o consolo por Ele proporcionado, através do Espírito Santo.
III- OS ENSINOS DE PAULO SOBRE A CONSCIÊNCIA MISSIONÁRIA NA EPÍSTOLA AOS ROMANOS
-O apóstolo Paulo, sendo um grande missionário, que atendeu ao chamado do Senhor para dedicar-se integralmente à evangelização do mundo de então, deixou-nos grandes lições sobre a consciência que cada crente deve ter no tocante a seu envolvimento na evangelização, sendo esta uma das lições que nos trazem a sua epístola aos romanos, considerada, por muitos, como a sua mais profunda carta.
-A própria razão de ser da epístola aos romanos, qual seja, a de sensibilizar a igreja em Roma para que ajudasse o apóstolo a iniciar a evangelização da parte ocidental do Império Romano (a Espanha – Rm.15:28- 32), até então não alcançado pelo Evangelho de Cristo Jesus, mostra-nos quanto Paulo fazia da consciência missionária a razão de ser da sua existência sobre a face da Terra.
-No capítulo 15 da sua epístola aos romanos, o apóstolo Paulo mostra que o esforço evangelístico da igreja é resultado da consciência que cada crente tenha a respeito do significado do amor de Deus para cada um de nós e da necessidade que temos de manifestar este mesmo amor na nossa vida sobre a face da Terra.
-Hoje em dia há muitos que se preocupam com a inércia das igrejas locais com relação à evangelização que, lamentavelmente, se transformou em um departamento da igreja, quando deveria ser a própria razão de ser da existência da igreja. Entretanto, este descaso para com a evangelização nada mais é que falta de amor.
-O apóstolo deixa bem claro que, quando temos consciência de que Deus nos amou e de que como se demonstrou este amor na pessoa de Cristo Jesus, imediatamente nós nos conscientizamos de que somos depositários deste mesmo amor e que este amor somente se manifestará a partir do instante em que pusermos a mão ao arado e participarmos da evangelização do mundo sem Deus e sem salvação.
-O apóstolo Paulo afirmou que havia escrito aos romanos com o objetivo de lhes trazer a memória esta imperiosa necessidade da evangelização e do seu chamado ao ministério dos gentios e da urgente necessidade de se alcançar a Espanha, a região mais ocidental do Império Romano de então.
-Será que temos feito uma reflexão, uma análise de tudo quanto Deus tem feito em nossa vida? Quando lembramos quem éramos e quem hoje somos pela graça e misericórdia do Senhor, certamente seremos mais dispostos a fazer a obra do Senhor e a participar da evangelização dos povos, pois há muitos que ainda não foram alcançados pelo Evangelho.
-Na atualidade, com o incremento da tecnologia e dos meios de comunicação, cria-se a ilusão de que todos os povos já foram alcançados pelo Evangelho e que nada mais resta fazer a não ser ouvir o soar da última trombeta. Entretanto, biblicamente falando, se ainda soou a trombeta é porque o Evangelho ainda não alcançou todas as gentes, pois, quando isto ocorrer, então virá o fim desta dispensação (Mc.13:10).
Então, não nos iludamos com as aparências, mas nos esforcemos para alcançar a tantos quantos não tiveram, ainda, a oportunidade de ouvir as boas-novas de salvação!
-Sem a consciência desta necessidade, Paulo sabia que a igreja em Roma não o ajudaria. Era necessário que os romanos, judeus e gentios, entendessem claramente que não haveria como demonstrarem o amor de Deus em suas vidas sem que se envolvessem na obra missionária.
-É uma ordem de Jesus a evangelização do mundo, ordem destinada a toda a igreja e não apenas aos missionários ou aos obreiros. O “ide” do Senhor é abrangente e imperativo (Mc.16:15), fruto do seu imenso amor. Se todos os crentes entendessem que são fruto da obediência ao “ide” de Jesus, não haveria ociosos na igreja do Senhor.
-Temos aqui uma linda lição do apóstolo para a igreja da atualidade, a igreja que retomou a evangelização mundial dos tempos apostólicos, a igreja de Filadélfia: uma evangelização somente se faz depois que a igreja se conscientiza de que é fruto do amor de Deus e que precisa externar este amor que lhe foi derramado no coração pelo Espírito Santo. Sem que isto se dê, inútil será qualquer empreendimento missionário.
-Só depois que o apóstolo fala aos romanos a respeito do amor de Deus e de sua extensão aos gentios é que se apresenta como detentor de uma chamada para a Espanha.
-Primeiro, deve-se conscientizar o crente, depois, apresentar-se como pessoa disposta a ir ao campo para ganhar almas ao Senhor.
A obra missionária exige esforço de toda a igreja, pois Deus criou a igreja exatamente para a evangelização do mundo. Assim, não adianta o homem querer fazer a obra missionária sozinho, sem o apoio da igreja, porque, certamente, não prosperará, pois não é este o modelo bíblico.
-Por isso, depois de mostrar a necessidade do envolvimento da igreja em Roma, que deveria enviar, orar e contribuir, o apóstolo se apresenta como aquele que iria até o campo, como o evangelista, o anunciador das boas-novas e, para tanto, apresentou as suas credenciais que o recomendavam a tal disposição. Quais eram estas credenciais?
-Em primeiro lugar, o apóstolo se apresentou como sendo “ministro de Jesus Cristo entre os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo” (Rm.15:16). Nesta apresentação, o apóstolo mostra que só pode ir para o campo missionário quem for:
a)ministro de Jesus Cristo entre os gentios — o apóstolo tinha uma chamada do Senhor para pregar aos gentios. Havia sido constituído por Cristo para esta função no corpo de Cristo. Respondia a um chamado do dono da obra.
Não se faz a obra de Deus com oferecidos, com pessoas que se dispõem com seus próprios esforços, por sua própria conta a fazer a obra do Senhor. Embora seja tarefa de todos a evangelização, cada um tem um determinado papel nesta evangelização e para a tarefa do pregador há necessidade de se ter chamado para tal. Paulo podia ir para a Espanha, porque havia sido chamado por Cristo para pregar aos gentios.
b)ministrando o evangelho de Deus — o apóstolo Paulo se credenciava para ir para a Espanha porque a sua mensagem outra não era senão o “evangelho de Deus”. A pregação do missionário tem de ser “Jesus Cristo e este crucificado” (I Co.2:2).
O assunto dos apóstolos outro não era senão Jesus. Muitos trabalhos missionários, na atualidade, perdem-se porque envolvem tudo, menos Jesus. É óbvio que existem muitas estratégias de aproximação para com os povos a serem alcançados, mas nenhuma forma pode substituir o conteúdo, que é única e tão somente Jesus.
c) para que seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo – o apóstolo Paulo apresentava-se como um altruísta, como o tolerante que havia aconselhado os próprios romanos a ser com relação aos irmãos na fé.
O evangelista precisa ser alguém que tenha consciência de que seu objetivo é tornar os ouvintes da Palavra de Deus em pessoas que sejam agradáveis a Deus, em pessoas que tenham seus pecados perdoados e sejam santificados pela fé em Cristo Jesus.
O missionário não está ali para agradar a si próprio nem tampouco para amoldar aquela população aos seus costumes ou aos costumes da sua igreja de origem, mas para ganhar almas para o reino de Deus, que, como Paulo já afirmou, não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm.14:17).
Muitos têm fracassado porque se esquecem desta verdade bíblica e põem tudo a perder por causa de um etnocentrismo ou absolutismo de grupo que jamais foram aprovados pelas Escrituras Sagradas.
OBS: Etnocentrismo é “visão de mundo característica de quem considera o seu grupo étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais importante do que os demais”.
Absolutismo de grupo, por sua vez, é a “tendência de um grupo utilizar a ação e o pensamento que lhe são próprios como critério para julgar os outros”.
Embora isto seja algo particularmente presente nas chamadas “missões transculturais”, ou seja, missões que se dão entre culturas muito diferentes e distantes, também é um dado que precisa ser analisado em todo e qualquer trabalho de evangelização, pois os costumes e modos de vida são diferentes mesmo quando se está no mesmo país ou até na mesma cidade, como ocorre nas grandes metrópoles.
-Mas não eram apenas estes três pontos pelos quais o apóstolo se identificava. Em continuidade a estes elementos que poderíamos chamar de “credenciais”, o apóstolo apresentava uma “folha de serviços prestados”, folha esta muito diferente das que são exigidas na atualidade, onde se indaga sobre títulos, tamanho das igrejas que já dirigiu e, mesmo, arrecadação destas mesmas igrejas. A folha de serviços prestados de Paulo continha as seguintes informações:
a)tenho glória em Jesus Cristo nas coisas que pertencem a Deus (Rm.15:17) — o apóstolo Paulo não era uma pessoa que quisesse aparecer, mas que sabia que, na obra missionária, o único nome que deve ser glorificado é o de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
É indispensável que o missionário, o evangelista tenha o mesmo sentimento de João Batista e que entenda que o único que deve aparecer perante os homens é Jesus e não o pregador, não o homem.
Paulo não só não fazia questão de aparecer, como também sabia que a obra é de Deus e que, portanto, tudo deve ser feito debaixo da orientação divina. Paulo era, como afirmara, “escravo de Jesus Cristo”, alguém que não fazia coisa alguma a não ser obedecer ao seu Senhor. O “estrelismo” é algo que não se coaduna com o verdadeiro missionário, com o genuíno e autêntico obreiro.
b)não ousaria dizer coisa alguma que Cristo por mim não tenha feito, para obediência dos gentios, por palavra e por obras (Rm.15:18) — como conseqüência da sua submissão ao Senhor e de sua consciência de que é apenas servo, o apóstolo traz outra característica de seu ministério: a obediência a Cristo.
O apóstolo diz não ter a ousadia de falar ou fazer aquilo que não tenha sido mandado pelo Senhor, pois sabe que todas as coisas têm o propósito de levar os gentios a obedecer a Cristo. Um genuíno obreiro tem esta característica: submissão à vontade de Deus e plena consciência do propósito divino na sua chamada.
c)poder, sinais e prodígios na virtude do Espírito de Deus (Rm.15:19) — o apóstolo Paulo tinha como mostrar aos romanos a confirmação do seu ministério mediante a operação do Espírito Santo com poder. A presença do poder de Deus era um sinal de que o apóstolo era aprovado pelo Senhor e era uma garantia de que o apóstolo era obediente.
Vemos, pois, que a obediência ao chamado do Senhor e a humildade são indispensáveis para que os homens de Deus sejam usados com poder e autoridade pelo Espírito Santo. Paulo não apenas falava bem, mas Deus o usava com sinais e maravilhas.
d)esforço para anunciar o Evangelho, sem usar fundamento alheio (Rm.15:20) — o apóstolo também apresentou à igreja em Roma um trabalho dedicado. Paulo não era um parasita, mas alguém que se esforçava por pregar o Evangelho, não titubeando em trabalhar dia e noite para seu próprio sustento a fim de dar bom testemunho aos que evangelizava (cf. I Ts.2:9).
De igual modo, jamais foi pregar o evangelho no campo de outros, nunca tendo se envolvido em “disputas por crentes”, como tantos procedem na atualidade, “pescando em aquário”, em vez de pregar o Evangelho aos ímpios. Esta é uma marca que precisa estar na vida de um obreiro que se queira enviar.
e)trabalho atual, não apenas passado ou futuro (Rm.15:23-33) — o apóstolo Paulo não apenas relatou o seu passado, que, ademais, era conhecido de muitos irmãos gentios que ora congregavam em Roma, nem fez promessas com respeito ao seu futuro trabalho na Espanha. Muito pelo contrário, mostrou o seu trabalho atual como prova de sua disposição para pregar o Evangelho na Espanha.
Paulo mostrava que estava empenhado numa coleta aos santos na Judéia e que estava partindo para Jerusalém e que, logo em seguida, pretendia ir a Roma.
Paulo não estava pedindo um trabalho e, enquanto isto, ficava parado aguardando “o sinal de Deus”, como muitos fazem hoje em dia. Embora sentisse de Deus que deveria partir para a Espanha, não deixou de se empenhar numa coleta aos crentes da Judéia. A melhor prova que alguém pode dar de que deseja trabalhar para o Senhor é o de já estar trabalhando para o Senhor.
IV.A VISÃO E CAPACITAÇÃO MISSIONÁRIAS POR INTERMÉDIO DO BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
-Como já temos dito durante este trimestre, o batismo com o Espírito Santo é indispensável para que nos tornemos testemunhas de Jesus.
Quem o disse, repetimos, não foi algum teólogo ou pastor evangélico pentecostal, mas o próprio Jesus, que afirmou que receberiam Seus discípulos a virtude do Espírito Santo e, então, seriam Suas testemunhas tanto em Jerusalém, como na Judéia e Samaria e até os confins da terra (At.1:8).
Com o apóstolo Paulo, como vimos há pouco, não foi diferente. Para que pudesse iniciar a sua vida de pregação do evangelho, mesmo nas sinagogas de Damasco, onde tudo começou, foi necessário que, antes, Paulo fosse revestido de poder.
-Só o batismo com o Espírito Santo pode tornar o crente em uma testemunha de Jesus, em alguém que tem a iniciativa de declarar o que ocorreu em benefício do homem perdido na cruz do Calvário.
Como sabemos, a testemunha é, precisamente, a pessoa que tem a obrigação, o dever de declarar o que aconteceu. Se não o fizesse, na lei de Moisés, era considerada pecadora e estava sujeita a sanções (Lv.5:1).
-Poderá alguém objetar o que estamos a dizer, apontando exemplos (e dos mais eloquentes) de pessoas que são grandes pregadoras do evangelho, mas que não são revestidos de poder, não são batizados com o Espírito Santo.
Não resta dúvida de que há milhares, quiçá milhões de pessoas que estão a pregar o evangelho sem que tenham sido revestidas de poder, algumas delas, aliás, com um histórico formidável de cruzadas evangelísticas internacionais e que têm resultado na conversão de milhões de pessoas a Cristo Jesus ao longo de suas vidas.
Tudo isto é verdade, porém, não retira o fato de que o batismo com o Espírito Santo continua sendo necessário e indispensável para que haja uma capacitação e visão missionárias a contento.
-A existência de pregadores eloquentes, poderosos nas Escrituras e que não são revestidos de poder não é um fato que nos deva deixar surpresos ou que invalide o que estamos a dizer. Cremos que isto seja possível porque, já nos tempos apostólicos, aconteceu tal coisa.
Lucas registra-nos que esta era a situação de Apolo (At.18:24- 26). Entretanto, diz-nos a mesma Bíblia Sagrada que, assim que entraram em contacto com ele, Priscila e Áquila trataram de ensinar-lhe mais pontualmente o caminho que deveria seguir, ou seja, apesar de toda a bênção existente sobre a vida de Apolo, ele “não estava no ponto”, ou seja, precisava de algo para que pudesse ser usado plenamente pelo Senhor.
O fato é que estes grandes pregadores poderiam ser usados ainda mais pelo Senhor, poderiam fazer muito mais pelo evangelho e pela salvação das almas se, ao invés de se fiarem nos
recursos tecnológicos, nos recursos econômico-financeiros e no conhecimento das Escrituras, deveriam buscar a transmissão do poder, através do batismo com o Espírito Santo.
Ser testemunha é ser meio de prova, ou seja, ser um instrumento de comprovação do evangelho perante os demais. O crente que é batizado com o Espírito Santo é uma prova do amor de Deus aos homens, alguém que toma a iniciativa de enfrentar as hostes espirituais da maldade.
-O Espírito Santo tem como missão anunciar o que tem recebido de Jesus (Jo.16:15), glorificar o Filho, de forma que a pregação do Evangelho, que nada mais é que o anúncio do amor de Deus através da pessoa de Jesus Cristo, não pode ser realizada sem que haja a participação do Espírito Santo.
Sem o batismo com o Espírito Santo, esta pregação é feita de forma reativa, ou seja, como uma reação, uma resistência a ações do maligno, do mundo e do pecado. Com o batismo com o Espírito Santo, esta atuação é ofensiva, ou seja, há uma predisposição dos cristãos em investir contra as cidadelas do inimigo, o que é o comportamento apropriado para a execução da obra missionária.
-A Bíblia registra-nos que a obra missionária, nos tempos apostólicos, alcançou o mundo conhecido de então, em apenas uma geração, precisamente porque os crentes eram revestidos de poder e tinham intimidade com o Espírito Santo, a ponto de o Consolador indicar cada passo que deveria ser tomado pelos crentes no cumprimento da vontade de Deus.
O Espírito Santo teve papel fundamental na pregação do evangelho em Jerusalém e Judéia, como se vê na vida de Estêvão (At.6:8) ;
em Samaria, como se verifica na vida de Filipe (At.8:6,29);
na abertura da pregação aos gentios, na pregação a Cornélio e aos seus (At.10:19,20);
nos confins da terra, na escolha e no estabelecimento do itinerário das viagens missionárias de Paulo (At.13:2;16:7,10; 20:23).
-É o Espírito Santo quem dá aos crentes uma visão e capacitação que permitam que a obra missionária se desenvolva exatamente da forma desejada pelo Senhor, para que os discípulos possam “pontualmente” andar no caminho estabelecido por Deus.
Exemplo disso tem sido a história da igreja. Sempre que houve movimentos de despertamento espiritual e de presença da transmissão do poder do Espírito Santo, a obra missionária teve um vertiginoso crescimento, a ponto de milhares, milhões de pessoas serem alcançadas pelo perdão de Jesus.
Movimentos como os de perseguidos como hereges durante a Idade Média, a Reforma Protestante, despertamentos levados a efeito por John Wesley e, por fim, o movimento pentecostal que se levantou a partir do término do século XIX, são demonstrações claras e inegáveis de que, quando o Espírito Santo é buscado, quando se Lhe dá liberdade para operar, a conseqüência é um impacto missionário, um aumento na conversão das almas e um crescimento vertiginoso da pregação do Evangelho.
O movimento pentecostal de mais de 100 anos que ora vivemos é o principal responsável pela mais intensa evangelização que já existiu sobre a face da Terra. Isto, aliás, foi predito pelo Nosso Senhor que afirmou que nossa dispensação somente terminará quando o evangelho for pregado em todas as nações (Mt.24:14).
-A capacitação para a obra missionária, nos moldes desejados pelo Senhor, exige, previamente, o batismo com o Espírito Santo.
Não fosse assim, Jesus não teria determinado que os discípulos, antes de darem início a esta obra, aguardassem o batismo com o Espírito Santo 9Lc.24:49), como também não teria revestido de poder a Paulo antes mesmo de ele iniciar a pregação do evangelho nas sinagogas de Damasco.
Se Jesus entende ser necessário, indispensável, que alguém, antes de iniciar a obra missionária, ser revestido de poder, sendo, como é, o dono da obra, quem somos nós para questionarmos esta realidade ?
V.O ESPÍRITO SANTO CONTINUA ATUANDO NA OBRA MISSIONÁRIA
-Já vimos que, no Novo Testamento, mui especialmente no livro de Atos dos Apóstolos, o Espírito Santo teve uma participação ativa no desenvolvimento da obra missionária da geração apostólica da Igreja.
Só esta circunstância autoriza-nos a dizer que, como Deus não muda e nEle não há sombra de variação (Tg.1:17), como Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e eternamente (Hb.13:8), que, do mesmo modo como o Espírito Santo operou no início da história da igreja, está operando nos nossos dias.
-Entretanto, não bastasse esta certeza, vinda das Escrituras, que é a verdade (Jo.17:17), temos fatos históricos, a confirmar que o Espírito Santo continua operando da mesma maneira que nos primeiros dias da igreja, notadamente nos últimos 100 anos.
A história de movimentos como as Assembleias de Deus no Brasil está repleta de testemunhos e de demonstrações de ações do Espírito Santo em prol do desenvolvimento da obra missionária, obra esta que, como já falamos supra, é a mais intensa evangelização de toda a história da humanidade.
No que se refere, por exemplo, à história das Assembleias de Deus no Brasil, o seu início, feito sob exclusiva operação sobrenatural do Espírito Santo, que, inclusive, indicou o local onde deveriam iniciar a pregação (“Pará”), sem que ao menos se soubesse em que país este lugar ficava, é uma inegável comprovação de que “nosso Deus é o mesmo, hoje como então, Ele cura, batiza e nos dá salvação.
Abundante é aqui a vida espiritual, para os que recebem poder pentecostal!” (refrão do hino 453 da Harpa Cristã). Aliás, com relação a isto, o movimento das Assembleias de Deus foi o único movimento em toda a história do Brasil que teve início na região Norte e, via Nordeste, chegou ao Sudeste e ao Sul, que é mais uma prova de que se trata de algo feito não segundo a lógica humana, mas conforme os caminhos mais altos e pensamentos maiores do nosso Deus (Is.55:8).
OBS: Recentemente ouvimos o testemunho do pastor João Lündgren, até há bem pouco tempo pastor das Assembleias de Deus em Caxias do Sul(RS), filho do saudoso missionário Simon Lündgren, que relatou a forma como Deus confirmou a sua chamada missionária para o Brasil.
Num culto na Suécia, um irmão foi tomado pelo Espírito Santo e, em português, confirmou a chamada missionária do então jovem Simon Lündgren, que estava presente no culto, culto este que tinha a visita do missionário Gunnar Vingren, que já havia iniciado o trabalho pentecostal no Brasil.
Diante desta manifestação, o missionário foi em busca do jovem, a quem Deus já havia falado a respeito da obra. Simon Lündgren foi pastor em várias cidades do Brasil, tendo sido um dos principais responsáveis pelo estabelecimento das igrejas no Sudeste e Sul do país, com destaque para Santos/SP. São Paulo/SP e Curitiba/PR.
-O Espírito Santo não apenas escolhe, chama, dirige, mas também participa do trabalho de evangelização. A pregação do evangelho, a obra missionária recebem, da parte do Espírito Santo, um tratamento todo especial, pois é, como vimos, a principal tarefa, a razão de ser desta dispensação (cfr. Jo.16:13-15).
O Senhor sempre confirmou a palavra com sinais (Mc.16:20), que são a demonstração de Espírito e de poder de que falou Paulo aos coríntios (I Co.2:4), demonstração esta que foi atestada pelo principal historiador dos dias apostólicos (At.19:11).
-A história da igreja tem sido uma diária demonstração de que o Espírito Santo tem confirmado o trabalho dos Seus servos em todos os países, em todos os continentes, em todos os lugares onde têm os homens ouvido a pregação do evangelho. O evangelho continua sendo o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16).
Como disse Paulo, é no evangelho que se descobre a justiça de Deus de fé em fé. Mediante o desenvolvimento da obra missionária, temos a própria experimentação do poder e do amor de Deus para com o homem.
Deus tem sido fiel a cada instante, operando grandemente para que a Sua Palavra se cumpra na vida de cada um que aceita se submeter à vontade e ao desejo do Senhor, naquele que se dispõe a ser vaso para honra, santificado e idôneo para uso do Senhor, e preparado para toda a boa obra (II Tm.2:21).
-Diante de tanta fidelidade, de tanta lealdade da parte de Deus, será que podemos nos manter indiferentes a esta obra? Será que podemos permanecer como simples reatores da ação do maligno e do pecado, não desejando ficar à frente deste grande desafio que o Senhor Jesus nos deixou, de prosseguirmos a Sua obra, que já tem a garantia da vitória ? Que possamos nos alistar neste grande exército! ”
Pois, sejamos, todos, a Jesus leais, e a Seu real pendão; os que na batalha sempre são fiéis, com Ele reinarão.” (4ª estrofe do hino 46 da Harpa Cristã).
Pr. Caramuru Afonso Francisco
Fonte: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9910-licao-5-uma-perspectiva-pentecostal-de-missoes-i