Sem categoria

Lição 10 – O Desafio da Janela 10/40

INTRODUÇÃO

-Na continuidade do estudo sobre as missões transculturais, abordaremos hoje o desafio da janela 10/40.

-A janela 10/40 é um exemplo eloquente de quanto ainda precisa ser feito em termos de missões transculturais

I – O QUE É A JANELA 10/40

-Faz quase dois mil anos que o Senhor Jesus mandou que os Seus discípulos pregassem o Evangelho por todo o mundo a toda criatura.

-Como nascemos em um país de cultura cristã, como é o Brasil, que, desde o início de sua história, esteve vinculado à “civilização cristã ocidental”, temos a falsa impressão de que o nome do Senhor Jesus é conhecido de todo o mundo e que não há mais lugar no planeta que não tenha sido evangelizado.

-Entretanto, não é esta a realidade. Quando se analisam os dados existentes, vemos que boa parte da Terra não tem a pregação do Evangelho e que milhões e milhões de pessoas não têm conhecimento de que Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e brevemente voltará.

-Ainda que os que se dizem cristãos, nas mais variadas vertentes e segmentos, constituam, ainda, a maior parcela da população, as estatísticas mostram que 31,5% da população poderia assim ser chamada, o que revela, de pronto, que menos de um terço da população mundial professaria a Jesus Cristo, o que é uma proporção inferior aos dos anjos caídos…

-E isto porque estão sendo contados como “cristãos” todos os segmentos que assim denominam, a começar da Igreja Romana, o que faz com que este número, ainda que diminuto, está a superdimensionar, e muito, os que são realmente cristãos, os que pertencem à Igreja.

-Os dois países mais populosos do mundo, China e Índia, têm reduzido número de cristãos. Entre os chineses, o número de cristãos seria de cerca de 97 milhões, o que representa 7% da população; entre os indianos, o número de cristãos é de cerca de 2% da população.

Assim, só nestes dois países se verifica quanto ainda se carece de evangelização …, não cansando de lembrar que, neste número, estão todos os segmentos religiosos sedizentes cristãos.

-Só estes dados mínimos já mostram como há muito o que fazer em termos de evangelização do mundo, que o Pacto de Lausanne, documento firmado num congresso mundial de evangelização naquela cidade suíça em 1974, muito bem definiu como sendo “a tarefa inacabada da evangelização”.

-Em termos de evangelização, podemos dizer que estamos como estava Israel, após seis anos de conquistas na Terra Prometida (segundo os cronologistas bíblicos Edward Reese e Frank Klassen, a conquista de Canaã, sob o comando de Josué, durou de 1422 a 1416 a.C.), quando o texto sagrado diz que “muitíssima terra ficou para possuir” (Js.13:1).

-“Muitíssima terra” ainda carece de ouvir a mensagem do Evangelho, estamos bem distantes do alvo estabelecido pela Grande Comissão, que é “todo o mundo”, “toda criatura”.

-Como afirma o Pacto de Lausanne, no seu item 6:

“…Cristo envia o Seu povo redimido ao mundo assim como o Pai O enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e sacrificial.

Precisamos deixar os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na sociedade não-cristã. Na missão de serviço sacrificial da igreja a evangelização é primordial. A evangelização mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral ao mundo todo.…”

-Embora seja inegável o grande avanço que a evangelização mundial teve a partir do início do avivamento pentecostal, ainda “muitíssima terra ficou para possuir” e mister que se altere esta desalentadora situação.

-Dentro deste estado de coisas, surgiu a constatação de que, particularmente, uma área do globo terrestre é extremamente carente de evangelização, a área situada entre os paralelos 10 e 40 Norte, entre os oceanos Atlântico e Pacífico, ou ainda desde o leste do continente africano até o oeste da Ásia, a que denominou “janela 10/40”.

-Ela recebeu este nome em 1990 pelo missionário argentino Luís Bush (nascido na Argentina mas criado no Brasil), que partiu de um estudo feito por Ralph Winter, no já mencionado Congresso de Evangelização em Lausanne, em 1974, quando se apresentaram os “GPNA”, ou seja, os “grupos de povos não alcançados”.

-Nesta área do globo terrestre, há três características predominantes:

(1) uma área do mundo, com grande pobreza,

(2) com baixa qualidade de vida,

(3) combinado com a falta de acesso aos recursos cristãos.

-Aproximadamente 95% das pessoas menos alcançadas pelo evangelho são habitantes da Janela 10-40; e entre os 52 países menos evangelizados do mundo 31 estão nela. Segundo o pastor e missionário Aldo Ferreira de Souza:

“…De fato, 79% das pessoas mais pobres também estão nos países menos evangelizados do mundo. Quando alguém os relaciona com a Janela 10-40, verifica-se que 99% desses 2.300 milhões menos evangelizados vivem na Janela 10-40.

Apenas 6% da força missionária trabalha agora entre estes, que constituem 44% da população mundial. Este, de fato, é o maior desafio desta década para o cristão consagrado.…” (SOUZA, Aldo Ferreira de. Janela 10/40: um grande desafio. Disponível em: https://adalagoas.com.br/blogs/pr-aldo-ferreira-de-souza/12678/janela-10-40-um-grande-desafio Acesso em 23 ago. 2023).

-A janela 10/40 possui 62 países, com 3,8 bilhões de pessoas, das quais 1,8 bilhões nunca ouviram de Cristo, Cristianismo ou Evangelho.

Eis a relação dos países: Afeganistão, Arábia Saudita, Argélia, Bangladesh, Bahrein, Benin, Butão, Burkina-Fasso, Camboja, Catar, Cazaquistão, Chade, China, Chipre, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Autoridade Nacional Palestina (Faixa de Gaza e Cisjordânia), Filipinas, Formosa (Taiwan), Gâmbia, Gibraltar, Grécia, Guiné, Guiné-Bissau, Índia, Iêmen, Irã, Iraque, Israel, Japão, Jordânia, Kuwait, Laos, Líbia, Mali, Maldivas, Malásia, Mauritânia, Marrocos, Mongólia, Nepal, Nigéria, Omã, Paquistão, Portugal, Saara Ocidental, Senegal, Sudão, Síria, Sri Lanka, Tailândia, Tadjiquistão, Tibet, Tunísia, Turquia, Turcomenistão e Vietnã.

-O mundo tem 6,5 bilhões de habitantes em 252 países e 60% da população mundial vive na Janela 10- 40; os países da janela são também em sua maioria os de maior intolerância aos cristãos e ao evangelho.

-Numa lista das 50 maiores cidades do mundo, todas estão na Janela; 81% dos mais pobres do mundo também estão na Janela 10-40, são eles 26% da população mundial e, em sua maioria, os habitantes dela são adeptos do Islamismo, Hinduísmo e Budismo.

-“…Numa lista de 50 maiores cidades do mundo, a maioria está dentro da Janela 10-40. Isso significa que em cada uma destas cidades, há uma população de mais de 1 milhão de pessoas, dos quais a maioria, vive sem Deus, sem paz e sem salvação.…” (SEMIPA. 7 razões para você orar pela Janela 10-40. Disponível em: http://www.semipa.org.br/publicacao.aspx?id=336 Acesso em 23 ago. 2023).

-Em todo o mundo, temos 4.285.000 obreiros (pastores, missionários, evangelistas etc) que trabalham em tempo integral, destes, 4.000.000 trabalham em terras cristãs, 270.000 em terras não cristãs, e somente 15.000 entre os povos não evangelizados ou não-alcançados na Janela 10-40.

-Como se não bastasse isso, esta região possui, em suas proximidades, uma outra região, chamada de “Cinturão da Resistência”, composta por alguns países próximos da Janela e que também possuem resistência para entrada do evangelho, cito alguns: Indonésia (o maior país muçulmano do mundo), Mongólia e Somália.

Há quem considere como “cinturão da resistência” ou “cinto resistente” não só estes países, mas a própria janela 10/40.

II– UMA ÁREA DO MUNDO COM GRANDE POBREZA, DE BAIXA QUALIDADE DE VIDA E CULTURA RELIGIOSA MILENAR E ADVERSA

-Quando observamos a região denominada Janela 10/40, logo verificamos que se está diante da região mais pobre do planeta. 87% das pessoas mais pobres do mundo habitam nesta região.

-Isto se explica porque a área envolve, na África, a região do deserto do Saara, com as suas claras dificuldades de sobrevivência, como também áreas de grande densidade populacional e carências na Ásia Central, como o subcontinente indiano, como também várias regiões desérticas e de pouca produtividade agrícola.

-Este quadro de pobreza só tem aumentado ao longo dos anos, como também a própria desnutrição. Boa parte da população que passa fome no mundo e que, inclusive, morre de fome habita esta região. É uma miséria generalizada, como se pode observar, pois.

OBS: “… A Janela 10-40 é o lar da maioria dos pobres do mundo. Dos mais pobres entre os pobres, mais de oito em cada dez vivem na Janela 10-40.

Em média, eles vivem com menos de 250 dólares por família ao ano. Se pode verificar nesta região uma triste coincidência, pois alguns dos países mais pobres do mundo, são também os menos evangelizados. O mundo inteiro produz grãos suficientes para alimentar 20 vezes a humanidade por ano. No entanto, milhões estão morrendo de fome dentro da Janela 10-40.…” (SEMIPA, ed.cit.).

-O que mais chama a atenção é que foi na janela 10/40 que teve início a civilização humana. Segundo consta no texto sagrado, ali se formou não só o jardim do Éden, como também se desenvolveu a comunidade única pós-diluviana, que acabou sendo destruída pelo Senhor no episódio da torre de Babel e que levou ao espalhamento dos homens por todo o planeta.

-A terra de Israel, dada por Deus ao povo que formou a partir de Abraão, Isaque e Jacó também pertence a este região, que também foi abrangida pelas viagens missionárias do apóstolo Paulo.

-“… Mais de oito entre dez pessoas mais pobres, que têm uma média nacional bruta de menos quinhentos dólares por pessoa por ano, vivem na janela 10-40.

Mais da metade da população mundial vive na pobreza com menos de uma média de quinhentos dólares por semana.

Destes, 2,4 bilhões vivem na Janela 10-40. Apesar disso, apenas 8% de todos os missionários trabalham entre esses povos.…” (SOUZA, end.cit.)

-Esta situação de extrema pobreza traz um quadro de instabilidade sócio-política, porquanto, ante a escassez de recursos, a luta pela sobrevivência gera uma disputa pelo poder e pelo controle do que pouco se tem à disposição, ainda mais quando se está em sociedades que não conhecem a Palavra de Deus e que se construíram dentro dos ditames da corrupção generalizada da humanidade, como nos mostra o apóstolo Paulo em Rm.1:18-32.

-Bem por isso, aliás, no mais das vezes, os países, cuja própria geografia, por vezes, desconsidera realidades étnicas e cujas fronteiras foram fixadas artificialmente por grandes potências internacionais, são governados, em sua grande maioria, por regimes políticos ditatoriais e sanguinários, que se impõem pela força e pela natural dependência de sobrevivência que parte considerável da população tem, ante a pobreza generalizada.

-Esta fragilidade institucional prejudica o desenvolvimento destes países e faz com que eles se tornem presas fáceis de potências internacionais, não sendo poucos os governos que hoje estão atrelados a governos e interesses sabidamente anticristãos, vinculados a um dos três projetos de poder que, na atualidade, procuram alcançar hegemonia mundial e que têm como característica comum, o anticristianismo: o islâmico, o russo- chinês (comunista) e o globalista ocidental.

-Dentro deste quadro, já vemos as dificuldades de evangelização nesta região, pois, a princípio, os governos, eles próprios já sem condições de garantir estabilidade para suas populações, serão frontalmente contrários à pregação do Evangelho, visto que são seguidores e se constituem em executores de interesses e ideologias frontalmente contrários à Palavra de Deus.

-Assim, a janela 10/40 é considerada “o coração do Islão”. O Norte da África e o Oriente Médio representam o núcleo da religião islâmica, sendo que o mais populoso país muçulmano é a Indonésia, que fica em área contígua a esta região, fazendo parte do “cinturão de resistência”.

-O islamismo é a religião que mais tem crescido no mundo nos últimos anos, havendo hoje cerca de 1,57 bilhão de pessoas muçulmanas em todo o mundo, o que representa quase um quarto da população mundial.

-A maior parte dos muçulmanos mora na Ásia, cerca de dois terços deles, havendo grande população muçulmana na Indonésia, Paquistão e, só depois, nos países do Oriente Médio e Norte da África, onde habitam 20,1% dos maometanos. A janela 10/40 é, assim, a região de maior presença islâmica no planeta.

-Ora, onde o islamismo prepondera, quase sempre se tem o domínio do próprio governo pela religião, pois é da própria essência deste movimento, atrelar a crença a um predomínio social e político, sem o que não se conseguirá o cumprimento dos propósitos daquela crença.

-Nos países muçulmanos, pois, via de regra, impera a chamada “sharia”, que é a lei islâmica, que molda todos os relacionamentos sociais, sendo que os que não forem muçulmanos, os chamados “dhimmi”, têm permitida

a profissão de sua fé, mas, em troca disto, estão submetidos a pagamento de taxas, sendo, porém, terminantemente proibido que busquem a conversão de muçulmanos a suas próprias crenças, o que já mostra como se complica sobremaneira a pregação do Evangelho nesses países.

-Mas é também na janela 10/40 que se encontra a maior presença de hinduístas e de budistas do planeta.

O hinduísmo concentra a esmagadora maioria de seus adeptos na Índia, já que é uma religião criada e que, pelos seus próprios princípios, está muito voltada ao próprio território indiano e, como sabemos, a Índia faz parte da janela 10/40.

-O hinduísmo, com seus dogmas religiosos, impõe uma sociedade de castas, onde não se permite a mobilidade social, de modo que há todo um modo de viver concebido e desenvolvido milenarmente em meio às crenças hinduístas, o que faz com que alguém que se converta ao Cristianismo se torne um “pária”, ou seja, alguém que está fora do sistema social, o que é uma imensa dificuldade para a propagação do Evangelho naquele país.

-O budismo, que também surgiu na Índia, tem, além da Índia, uma disseminação em países próximos, como também na China e Japão. Todos estes países pertencem à janela 10/40, de modo que podemos dizer que, assim como no hinduísmo, a esmagadora maioria dos budistas se encontra nesta região.

-Em suma: “…Cerca de 3 bilhões de adeptos das três maiores crenças do mundo: o Islamismo, Hinduísmo e Budismo, vivem na Janela 10-40.

Nesta região, numa extensão desde o norte da África até o Oriente Médio moram cerca de 1,58 bilhão de muçulmanos. No centro da Janela 10-40, onde está a Índia e arredores, predomina a presença do Hinduísmo, com uma população de mais de 1,2 bilhão de pessoas.

Na Índia, praticamente tudo que há entre o intervalo do céu e da terra é adorado, formando um panteão de mais de 33 milhões de deuses!

No lado direito do mapa da Janela 10-40, está o mundo (países) budista que cerca toda a China, que embora seja considerada uma nação ateísta, desde a revolução marxista no fim dos anos de 1940, é profundamente influenciada pelo budismo – e, detém o título de nação mais populosa do planeta. São 1,3 bilhão de chineses, dos quais a maioria está precisando desesperadamente de Jesus Cristo.…”(SEMIPA, end. cit.)

-Como se pode perceber, a janela 10/40 concentra grande parte destas três principais religiões mundiais que existem ao lado do Cristianismo, tendo as missões transculturais, portanto, de enfrentar esta milenar realidade cultural religiosa e adversa à sã doutrina.

-Como se não bastasse isso, na janela 10/40 concentra-se a maior parte dos países comunistas, a começar da China, que, aliás, juntamente com a Rússia (que não faz parte da janela 10/40), controlam vários países desta região.

-A presença de governos comunistas, que tem no materialismo ateu a sua própria essência, faz com que tais países sejam avessos à pregação do Evangelho e persigam os que ousam infringir a doutrina materialista divulgada, sendo este mais um fator a dificultar sobremaneira as missões transculturais.

-Por sinal, o país que mais severamente persegue os cristãos é, precisamente, um país comunista que pertence à Janela 10/40, a saber, a Coreia do Norte. Aliás, segundo a Lista Mundial da Perseguição divulgada em 18 de janeiro de 2023, os 21 países que encabeçam a lista pertencem à Janela 10/40.

Ei-los: Coreia do Norte, Somália, Iêmen, Eritreia, Líbia, Nigéria, Paquistão, Irã, Afeganistão, Sudão, Índia, Síria, Arábia Saudita , Mianmar, Maldivas, China, Mali, Iraque, Argélia, Mauritânia e Uzbequistão.

III– O DESAFIO DA MISSÃO TRANSCULTURAL NA JANELA 10/40

-Vistos alguns dos mais importantes dados a respeito da janela 10/40, temos, de pronto, a percepção de quão grande é o desafio para se pregar o Evangelho ali.

-Por primeiro, trata-se de lugares onde os recursos são muito escassos, ou seja, não há como pensar-se que se poderão obter recursos materiais na região para a manutenção ou mesmo o crescimento da obra missionária.

-Muito pelo contrário, qualquer atividade missionária que se desenvolva naquelas plagas deverá levar recursos materiais aos habitantes, uma vez que a miséria é o quadro mais comum que se encontra lá e a demonstração do amor de Deus, que será proclamado pelo Evangelho, exige que não se aja por palavras ou por língua, mas, sim, por obras e em verdade (I Jo.3:17,18).

-Numa região tão carente, é praticamente inafastável que a pregação do Evangelho já se inicie com uma intensa e marcante ação social, a fim de proporcionar, a olhos vistos, a grande diferença que existe entre a religião verdadeira e as demais manifestações religiosas, já que, como ensina Tiago, o irmão do Senhor,

“…a religião pura e imaculada para com Deus, o Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg.1:27).

-A ação social da Igreja deve ser vista como um “importante negócio” (At.6:3), pois é assim que as Escrituras nos dizem ser tal atividade da Igreja.

Trata-se de uma tarefa tão importante que os apóstolos criaram até uma função específica para dela cuidar, qual seja, a de “diácono” (At.6:3,5,6), palavra que, em grego, significa “servidor”, vez que deveriam eles servir às mesas, ou seja, cuidar da assistência aos necessitados.

-Logicamente que a ação social da Igreja não se limita apenas ao “serviço social”, nem pode se circunscrever ao aspecto material.

Por isso, não é desculpa a falta de recursos materiais para não se praticar atos de ação social. Quem não pode vestir, dar de comer ou dar abrigo a alguém, pode consolar, instruir, confortar, visitar.

“…A bondade não consiste em dar presentes, mas na doçura e na generosidade do espírito. Pode-se dar dinheiro da algibeira sem nada que venha do coração.

A bondade que se contenta com dar dinheiro não vale grande cousa e muitas vezes faz tanto mal como bem, mas a bondade que se traduz por uma verdadeira simpatia e um auxílio oportuno nunca deixa de dar bons resultados (…).

A verdadeira bondade procura e favorece tudo o que pode servir para fazer o bem no presente e, olhando para o futuro, trabalha com o mesmo espírito para a elevação e a felicidade da humanidade.…” (SMILES, Samuel. Trad. de D. Amélia Pereira. O caráter, p.290-1).

-Num ambiente de escassez como o que se vive na janela 10/40, bem como de fragilidade institucional, a própria ajuda material que se dê às populações deve ser feita com muito critério e sabedoria, a fim de que não se evite ou se diminua ao máximo a reação das lideranças que, além de viverem precisamente da miséria para se manter no mando, são, no mais das vezes, visceralmente contrárias ao Evangelho, já que, como vimos, há uma predominância na região de religiões não-cristãs quando não do materialismo ateu.

-A própria miséria existente é um fator que faz com que haja, nestes países, uma precariedade em todos os setores, como comunicações, transportes, logística, a dificultar, também, sobremaneira, o próprio desenvolvimento da atividade missionária, como o intercâmbio entre as igrejas locais mantenedoras e os próprios missionários.

-Em razão mesmo das dificuldades existentes e da própria prevenção contra a pregação do Evangelho, tem sido uma salutar iniciativa de muitos a preparação e a atuação por meio de missionários autóctones, ou seja, por vezes, ao invés de se enviar algum missionário para um destes países, procura-se preparar alguém do próprio povo a ser alcançado que, tendo conhecimento da cultura, que, afinal de contas, é a sua, tem mais facilidade para fazer missões do que um estrangeiro.

-Temos conhecimento de que em países como a Índia, o Tibete, o Nepal e o Butão tem sido este o expediente utilizado, tendo alcançado grandes resultados.

A utilização de missionários autóctones que mantenham incólumes a sua identidade cultural nativa é um fator de aproximação com os ouvintes e que tem trazido excelentes resultados.

-Não devemos nos esquecer de que o missionário por excelência, Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, ao vir a este mundo, apresentou-Se como um autóctone, assumiu plenamente a sua condição de judeu (Lc.2:21,42;4:16), para poder resgatar as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt.15:24).

-Nas missões transculturais, é mister, como dizia o padre católico e que foi superior geral dos jesuítas,Pedro Arrupe (1907-1991), que se tenha a “inculturação”, ou seja, que o missionário incorpore a cultura do povo a que foi enviado para pregar o Evangelho, processo este que começa pela “encarnação”, ou seja, assim como Jesus Se fez homem para poder evangelizar os homens, Se fez judeu para poder evangelizar os judeus, o missionário tem de ser fazer um daqueles que pretende evangelizar.

-Assim, a utilização de missionários autóctones é uma importante “queima de etapa”, um avanço na execução da obra missionária, o que, num local com tantas adversidades, como é a janela 10/40, apresenta-se como grande trunfo em prol do reino de Deus.

-Deve-se fazer, aliás, como fazem os próprios governos e os grupos dirigentes destes países que, sabendo da precariedade das condições em suas nações, mandam seus filhos, a elite da sociedade para se preparar intelectualmente nos grandes centros internacionais, a fim de que adquiram o conhecimento necessário para, depois, poderem guiar os seus países.

-Assim como tais pessoas vão para as melhores universidades, escolas, colégios, obtêm o melhor conhecimento para, depois, em seus países, terem condição de dirigir e governar, também a Igreja deve preparar, nos lugares em que há condições, aqueles autóctones para que, tendo o necessário conhecimento da Palavra, a devida “tecnologia”, ganhem almas para Cristo em sua terra natal, tão hostil ao Evangelho e sem condições de lhes dar esta formação.

-Temos aqui, aliás, uma forma pela qual igrejas locais que não têm condições de arcar com os altos custos da manutenção de missionários na janela 10/40 podem contribuir eficazmente para missões transculturais naquela região: ajudando a manter os serviços de preparação de missionários autóctones quando estes estiverem entre nós.

-A utilização de missionários autóctones não pode, entretanto, fazer o inverso do que se está aqui a dizer, ou seja, há muitos que se utilizam de pessoas nativas para fazer a obra missionária, mas querem que elas se comportem como se fossem estrangeiros, ou seja, exigem que o missionário assuma a cultura da igreja local que o manterá, que o sustentará.

-Tal circunstância é extremamente danosa à obra missionária, pois se estará excluindo a proximidade e a melhor compreensão por parte daquele missionário junto aos ouvintes da proclamação do Evangelho e ainda gerará um estranhamento por parte dos naturais que, certamente, ficarão chocados, escandalizados com a mudança cultural sofrida pelo missionário autóctone, fatores que, certamente, representarão a criação de ainda mais obstáculos para a conversão das almas.

-Um dos grandes pregadores do Evangelho na Índia foi Sadhu Sundar Singh (1889-1929), conhecido como “o apóstolo dos pés sangrentos”.

Sendo de família da elite de sua região na Índia, convertendo-se, começou a estudar teologia e a ser preparado para ser um pastor, mas logo entendeu que esta sua “ocidentalização” (a Índia, à época, pertencia ao Império Britânico), traria grandes impedimentos à evangelização.

-Abandonou o estudo teológico e passou a pregar o Evangelho assumindo a postura de “sadhu”, ou seja, um místico, um andarilho que, por sua espiritualidade elevada, fica a dar conselhos e a ensinar o povo, andando de cidade em cidade, de vila em vila.

Sob esta roupagem típica da cultura hindu, Sundar Singh pôde se aproximar dos hindus e lhes pregar o Evangelho, ganhando milhares de alma num país tão adverso ao Evangelho como é a Índia.

-Outro drama a ser enfrentado na janela 10/40 é a perseguição religiosa, que não é feita apenas pelos governos, mas, também, por segmentos sociais e até mesmo organizações terroristas, como ocorre, por exemplo, no Norte e Centro da África, onde existem organizações islâmicas que promovem a “jihad” no seu sentido mais macabro, qual seja, o de eliminação física daqueles que se recusam a se converter ao islamismo.

-Célebre é o movimento chamado “Boko Haram” que atua em alguns países africanos, cuja especialidade é sequestrar cristãos e obrigá-los a negar a fé e a passarem a seguir o islamismo, sob pena de morte.

-A questão da perseguição, porém, está reservada para a próxima lição, motivo por que não nos depararemos neste tema por ora.

-Vê-se, portanto, que não é à toa que a região seja a menos evangelizada, diante das imensas dificuldades que se apresentam, mas isto não pode servir de desculpa para mantermos os números ínfimos de evangelização daquela região.

-Temos de cumprir a Grande Comissão e não podemos ficar inertes diante de uma realidade tão avessa a este cumprimento. A própria elucidação trazida pelos que se debruçaram sobre esta realidade é uma ação do Espírito Santo.

-Se, no passado, em visão, o Senhor mostrou a Paulo a necessidade de ir para a Europa (At.16:9), agora, mediante todos estes estudos feitos por ocasião dos Congressos de Evangelização Mundial em Lausanne e em Manila, faz-nos ver a extrema necessidade de também ajudarmos estas milhões de almas que perecem sem Deus e sem salvação.

-Temos nós o mesmo sentimento que há em Cristo Jesus, que teve compaixão ao ver os israelitas como ovelhas desgarradas sem pastor (Mt.9:36), chorando porque foi por elas rejeitado (Lc.19:41-44)? Temos esta mesma sensibilidade espiritual?

-Por isso, diante deste grande desafio que se nos apresenta, precisamos enfrentá-lo, conforme o nosso chamado, consoante a nossa vocação.

Se não temos como ir até estes países, oremos pelos que lá estão a pregar o Evangelho, pois a oração do justo pode muito em seus efeitos, mas não uma oração cerimonial, formalista, mas uma oração de coração, que mostre nossa compaixão pelas almas.

De igual maneira, contribuamos para os que estão a fazer missões na janela 10/40, bem como com os projetos de várias agências missionárias que estão empenhadas em suprir esta lacuna que envergonha a todo o corpo de Cristo.

– Como diz o poeta sacro e missionário britânico Henry Maxwell Wright (1849-1931), que, nascido em Portugal, evangelizou aquele país (que faz parte da janela 10/40):

“Revestidos da couraça de Jesus, como servos Seus e filhos, sim, da luz, gloriando-nos em Cristo e Sua cruz, vamos, vamos trabalhar!

Os perdidos, vamos com amor buscar, aos desesperados vamos declarar que Jesus está pronto a salvar!

Ó, sim, vamos trabalhar! Acordai! Acordai! Despertai! Despertai!…” (terceira estrofe e primeiro verso do refrão do hino 63 da Harpa Cristã).

Pr. Caramuru Afonso Francisco

Site: https://www.portalebd.org.br/classes/adultos/9984-licao-10-o-desafio-da-janela-10-40-i

Deixe uma resposta

Descubra mais sobre Iesus Kyrios

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading