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Lição 1 – Daniel, nosso “contemporâneo” I

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ESBOÇO Nº 1

  1. A) INTRODUÇÃO AO TRIMESTRE

Estamos dando início ao quarto e último trimestre letivo de 2014, agradecendo a Deus por nos ter permitido estudar a Sua Palavra em liberdade mais um ano, rogando ao Senhor que permita que Seu Santo Espírito permita que tal liberdade se mantenha e até se amplie em nosso país, apesar do projeto anticristão que está em curso.

   Este quarto trimestre será mais um “trimestre bíblico”, como temos denominado os trimestres que estudam livros das Escrituras Sagradas. Desta feita, iremos estudar o livro de Daniel, tendo como comentarista o pastor Elienai Cabral.

   O livro de Daniel é conhecido como “o Apocalipse do Antigo Testamento”, visto que sua segunda parte é composta de profecias escatológicas, que apontam para o tempo do fim, tendo no livro do Apocalipse um inevitável paralelo.

   Com efeito, o livro de Daniel é uma resposta de Deus aos judeus que estavam no exílio da Babilônia, quando o Senhor usa do Seu servo, Daniel, que, providencialmente é posto no palácio de Nabucodonosor, para mostrar ao Seu povo que continuava o Senhor a ter o controle de todas as coisas, apesar da temporária perda da Terra Prometida por parte dos judeus, perda esta que nada mais era que o cumprimento da própria Palavra de Deus.

   Mesmo em meio ao cativeiro da Babilônia e no próprio núcleo do poder, Daniel é levantado como profeta de Deus e, mediante uma vida santa e dedicada ao Senhor, não só dá bom testemunho diante do Senhor e dos homens, como, ainda, é escolhido pelo Senhor para trazer revelações a respeito do tempo do fim, mantendo, assim, viva a esperança do povo na redenção que se daria mediante a vinda do Messias.

   Daniel mostra, assim, que a forma de se viver neste mundo que está no maligno (I Jo.5:19) é a de servir integralmente ao Senhor, servi-l’O de coração inteiro, algo que, muito provavelmente, o profeta aprendeu ao ouvir as prédicas e mensagens do profeta Jeremias (Jr.29:13), mensagens estas de que Daniel jamais se esqueceu (Dn.9:2).

   Por isso, aliás, o tema de nosso trimestre é “Integridade moral e espiritual”, a indicar que, neste mundo, o servo do Senhor precisa estar inteiramente nas mãos do Senhor, precisa entregar-se totalmente a Deus, pois só assim conseguirá viver sobre a face da Terra em peregrinação, ou seja, não perdendo o foco de que aqui está de passagem e que seu destino é a cidade celeste, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (Fp.3:20).

   Daniel foi um homem que, apesar de ter galgado as mais altas posições que uma pessoa poderia alcançar no seu tempo, jamais perdeu de vista a realidade de que esta vida é passageira e que o que devemos buscar é ter comunhão com Deus, a vida eterna. Era este o seu objetivo, tanto que, ao término de seu livro, o próprio Senhor manda que ele fosse até o “fim”, a fim de poder alcançar o repouso e a sorte que estava para ele reservada (Dn.12:12).

   A vida de Daniel é uma lição de fidelidade na Bíblia Sagrada, fidelidade esta que exige esta integridade moral e espiritual, que tem faltado a muitos em nossos dias. Somente sendo íntegros, ou seja, total e completamente submissos ao Senhor, obedientes e fiéis a Ele, poderemos nos manter neste mundo sem contaminação e termos a certeza de que estaremos, brevemente, no repouso que a nós é prometido pelo Senhor.

   A capa da revista deste trimestre traz-nos uma Bíblia que é segurada por ambas as mãos, de modo que não há qualquer membro superior que não esteja a envolver a Palavra de Deus.

   Esta ilustração fala-nos de integridade, pois todas as mãos estão a envolver a Palavra de Deus.

   Mãos na Bíblia falam de nossas obras, de nossa atitude, de nosso comportamento. Todo o nosso ser deve ter a Palavra de Deus como centro, como norte, como bússola da nossa existência sobre a face da Terra.

   É isto que vemos na vida não só do profeta Daniel mas também de seus amigos Hananias, Misael e Azarias. Desde o instante em que foram retirados do convívio de sua pátria e de seus pais, estes jovens jamais deixaram de ter a Deus como norte, como centro de suas vidas, a despeito de todas as grandes mudanças ocorridas em suas vidas.

   Muito provavelmente, eles nunca mais voltaram a Judá, nunca mais tiveram contato com suas famílias, mas jamais deixaram de ter comunhão com o seu Deus, a quem fielmente serviram e de todo o coração, não temendo sequer a morte por causa da sua fé.

   É precisamente esta conduta que deveremos ter, enquanto estamos neste “exílio da Babilônia”, que é a nossa vida sobre a face da Terra, pois, embora estejamos no mundo, dele não somos, como bem nos ensinou o Senhor Jesus (Jo.17:11,14).

   Após uma lição introdutória (lição 1), estaremos a estudar, a cada lição, um capítulo do livro de Daniel, que tem doze capítulos, de modo que podemos dizer que o trimestre tem dois blocos, já que o livro de Daniel tem duas partes bem definidas: uma histórica, que comporta os seis primeiros capítulos (lições 2 a 7), onde as profecias assumem um caráter secundário diante da narrativa de fatos concernentes à vida de Daniel e seus amigos no palácio e outra escatológica, onde as profecias do tempo do fim ganham o protagonismo do livro, referente aos seis últimos capítulos (lições 8 a 13).

   O comentarista deste trimestre é o pastor Elienai Cabral, membro da Casa de Letras Emílio Conde, da Academia Brasileira Evangélica de Letras e do Conselho Administrativo da CPAD, que vem comentando as Lições Bíblicas desde 1985.

  1. B) LIÇÃO Nº 1 – DANIEL, O NOSSO “CONTEMPORÂNEO”  

O livro de Daniel não só nos fala do futuro, mas também de como devemos viver no presente.

INTRODUÇÃO  

– Damos início ao estudo do livro do profeta Daniel, tema que encerra nosso ano letivo de 2014.

– O livro de Daniel não só nos fala do futuro, mas também de como devemos viver no presente.

I – O CONTEXTO HISTÓRICO DO LIVRO DO PROFETA DANIEL  

– Pela graça de Deus, estamos a findar mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical, sendo que, neste quarto e último trimestre de 2014, teremos mais um trimestre bíblico, desta feita estudando o livro do profeta Daniel.

– O livro do profeta Daniel, conhecido como o “Apocalipse do Antigo Testamento” é conhecido por ser um livro profundamente escatológico, em que são trazidas revelações a respeito dos últimos tempos, sob o ponto- de-vista da nação de Israel.

– Para se entender este livro, faz-se necessário, antes de mais, fazer um contexto histórico do mesmo, para que entendamos porque, neste momento da história judaica, quis o Senhor revelar o tempo do fim para o Seu povo.

– Segundo Frank Klassen e Edward Reese, organizadores da Bíblia em ordem cronológica, publicada pela Editora Vida, Daniel nasceu em 628 a.C., ou seja, no décimo terceiro ano do reinado de Josias, precisamente o ano em que começou o ministério do profeta Jeremias (Jr.1:1).

– Vivia-se um momento de avivamento espiritual em Judá, pois Josias estava a efetuar profunda reforma religiosa em seu país, resgatando o culto a Deus e combatendo duramente a idolatria, que havia alcançado um grande ápice no reinado de seu avô, o ímpio Manassés, que, entretanto, se arrependera de seus pecados no final de seus dias (II Cr.33:10-13).

– Este avivamento espiritual, entretanto, não seria suficiente para aplacar a ira de Deus, pois, além de ter havido imensa maldade durante o longo reinado de Manassés, criou-se uma mentalidade que, infelizmente, não seria extirpada do meio do povo judaíta (Jr.15:4).

– Daniel nasce, então, num período em que o Senhor começaria a vaticinar para o povo a perda da Terra Prometida e o cativeiro da Babilônia em virtude da apostasia espiritual que havia contaminado o povo e da qual o povo, apesar de advertido por longos quarenta e dois anos, não se afastou.

– Vemos, então, de pronto, como o Senhor trabalha em favor do Seu povo e vela pela Sua Palavra para a cumprir (Jr.1:12). No mesmo ano em que levanta Jeremias para iniciar as solenes advertências para que o povo de Judá se arrependesse e não viesse a sofrer o juízo da perda da Terra Prometida, que era a maior punição prevista na lei de Moisés (Dt.28:64-67), também se encarrega de fazer nascer aquele profeta que traria a mensagem de esperança da redenção mesmo em meio a tanto juízo e sofrimento.

– Daniel cresce, portanto, diante desta situação de advertência divina a um povo que, apesar dos esforços tanto do rei Josias quanto dos profetas levantados pelo Senhor, insistia em viver no pecado, em se desviar dos mandamentos divinos, praticando toda a sorte de iniquidade.

– No entanto, Daniel, desde cedo, mesmo em meio ao seu povo, pertencia a uma minoria que insistia em se manter servindo ao Senhor. Dizemos isto porque, logo no limiar do livro de Daniel, ficamos a saber que Daniel e seus amigos assentaram em seus corações não se contaminar com o manjar do rei (Dn.1:8), prova de que, quando foram cativos em Judá, já tinham uma vida de santidade e de obediência à Palavra do Senhor.

– Isto também se demonstra pela profecia que Jeremias proferiu logo depois que Daniel e seus amigos foram levados cativos, uma visão em que o profeta via dois cestos, um de figos bons e outro de figos maus, tendo, então, o Senhor revelado a Jeremias que os figos bons representavam os que haviam sido levados ao cativeiro, entre os quais estavam incluídos Daniel e seus amigos (Jr.24:1-7).

– Desde logo, aliás, vemos aqui uma importante lição que nos dá Daniel, um “legado para a Igreja hoje”, como nos diz o subtítulo do trimestre, qual seja, o de se manter fiel a Deus mesmo em dias de apostasia espiritual, o de compor a “minoria” no meio do povo de Deus, quando este povo decide se curvar à iniquidade, apesar de todas as advertências divinas.

– É, aliás, este o quadro em que vivemos nestes dias que antecedem a iminente vinda do Senhor Jesus para arrebatar a Sua Igreja. Vivemos dias de apostasia espiritual, em que apenas uma “minoria” dos que cristãos se dizem ser mantém-se fiel ao Senhor, não se deixa curvar para a iniquidade, dando ouvidos às vozes isoladas que estão a anunciar a iminência do juízo divino sobre a face da Terra. Não foi à toa que o Senhor Jesus afirmou que, nestes dias, por se multiplicar a iniquidade, o amor de quase todos esfriaria (Mt.24:12 ARA).

– Crescendo em meio a este clima espiritual, Daniel presenciou o término do reinado de Josias, rei que morreu quando Daniel tinha apenas vinte anos de idade, bem como a subida ao trono de Jeoacaz, que reina apenas três meses e, em seguida, sua substituição por Jeoiaquim, em cujo terceiro ano do reinado, se dá a primeira deportação de judeus para a Babilônia, deportação em que estava incluído Daniel (Dn.1:1), o que se deu em 605 a.C., quando Daniel tinha vinte e três anos de idade.

– Sendo fiel ao Senhor, Daniel recebe como “prêmio” a deportação para a Babilônia, o que era, como já dissemos supra, a máxima punição estabelecida na lei de Moisés, algo que não era do desconhecimento de Daniel, que era da linhagem real, instruído em toda a sabedoria, sábio em ciência e entendido no conhecimento, que tinha habilidade para viver no palácio do rei (Dn.1:3,4). Que impacto e que fato incompreensível para ele!

– No entanto, mesmo em terra estranha, Daniel se manteria fiel ao Senhor, como havemos de estudar nas próximas lições.

– Vemos, pois, que, diante da aplicação da máxima punição a povo de Judá prevista na lei de Moisés, tinha mesmo o Senhor de manter viva, no meio do povo, a esperança messiânica, como também a promessa da redenção de Israel. Por isso, no cativeiro, o Senhor levantará dois profetas que falarão a respeito do futuro de Israel., dando conta de que Deus não havia Se esquecido de Suas promessas e que mantinha o controle de todas as coisas: Daniel e Ezequiel.

– O livro do profeta Daniel, portanto, insere-se neste contexto histórico em que, apesar de o Senhor, em cumprimento à Sua Palavra, retirar o povo de Judá da Terra Prometida e, deste modo, como que parecer selar o fim daquele povo, manter as Suas promessas, não só reafirmando que haveria de redimir a nação que havia escolhido para ser Sua propriedade peculiar dentre todos os povos (Ex.19:5,6), como também mostrar a esta nação o seu futuro e o futuro das demais nações, comprovando, assim, que Ele é o Senhor não só de Israel mas de toda a Terra e que tem o pleno controle da história.

II – O LIVRO DO PROFETA DANIEL  

–  O livro de Daniel, no arranjo de livros proveniente da Septuaginta, é o quinto livro profético, o último dos chamados profetas maiores e situado antes dos profetas menores. No cânon judaico, entretanto, faz parte dos “Ketuvim”, ou seja, dos outros escritos, já que é um livro mais recente, escrito que foi durante o cativeiro babilônico.

–  Seu nome hebraico é “Daniyel”( )ﬢבֿיּﭏﬥ , nome de seu autor, cujo significado é “Deus é o meu juiz”, nome, uma vez mais, muito apropriado para descrever o ministério profético de Daniel, cuja vida foi o resultado de um constante julgamento de aprovação por parte do Senhor, a ponto de ser a única pessoa na história da humanidade a ter servido a três impérios mundiais. O nome hebraico foi mantido tanto na Septuaginta quanto na Vulgata.

– O livro de Daniel é bilíngue, ou seja, foi escrito em duas línguas: Dn.1:1 até Dn.2:3 e Dn.8:1 até o final do livro foram escritos em hebraico; Dn.2:4 até 7:28 foi escrito em aramaico, língua falada pelos babilônios e que foi adotada pelos judeus como língua corrente durante o cativeiro da Babilônia.

– Esta diversidade de línguas é utilizada pelos teólogos liberais como uma “prova” de que o livro teria tido mais de um autor e de que seria uma obra do período interbíblico, como analisaremos infra. Sem razão, porém, tais teólogos, pois isto apenas reflete o próprio ambiente em que vivia o profeta Daniel, que se utilizava do aramaico como sua língua cotidiana, vez que foi mandado ao palácio de Nabucodonosor exatamente para aprender esta língua e viver utilizando-a (Dn.1:4).

– Como afirma o biblista Robert Harkrider, “…O fato que o livro de Daniel usa ambas as línguas não prova que é obra de dois autores diferentes, mas que o único autor usou dois estilos distintos (capítulos 1-6 e capítulos 7-12). Se estas duas partes também tivessem sido separadas pelas duas línguas existiria um caso mais forte. Contudo, (1) tanto o aramaico como o hebraico são encontrados e, (2) o aramaico se sobrepõe em ambas as partes, ligando-as.

Portanto, estes fatos servem como uma forte confirmação de que um só autor seguiu um modelo consistente. Não sabemos por que a língua muda nestes lugares a não ser que ambas as línguas fossem entendidas comumente pelos judeus nos dias de Daniel.…” (Daniel: o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, pp.3-4. Disponível em: http://www.estudosdabiblia.net/daniel01.pdf Acesso em 18 ago.2014).

– Ademais, esta característica, que também encontramos em Esdras, apenas reflete o ambiente vivido pelo povo de Judá durante e após o cativeiro da Babilônia, em que o povo judeu estava a viver uma transição linguística, deixando de falar o hebraico para adotar o aramaico como seu idioma. É interessante notar que os mesmos “críticos bíblicos” nunca puseram em dúvida os comentários da lei oral judaica, a Guermara, que faz parte do Talmude, que foi totalmente escrita em aramaico…

– Seu autor é o próprio Daniel, que dá nome ao livro, como se deixa claro nos capítulos 8 a 12, onde o narrador se identifica como sendo o próprio profeta. O livro foi escrito até o terceiro ano de Ciro, o persa, ou seja, até o ano 537 a.C., data das últimas revelações recebidas pelo profeta (Dn.10:1), em Babilônia e Susã, locais onde Daniel morou, pela sua condição de alto funcionário tanto da corte babilônica quanto da corte medo-persa.

– Não há, pois, qualquer respaldo bíblico para se crer na chamada “teoria macabaica”, muito difundida pelos “teólogos liberais” (sempre eles…), que procura defender que o livro do profeta Daniel foi escrito entre 167 a.C. e 164 a.C. Para tanto, tais estudiosos se aferram ao conteúdo do capítulo 11, que traria com “grande luxo de pormenores” as guerras ocorridas entre o Egito e a Síria, algo que somente poderia ter sido escrito, dizem eles, depois que os fatos tivessem já acontecido.

– Concordar com tal teoria, portanto, é simplesmente negar que o Senhor possa ter revelado a Daniel o que estaria para ocorrer no futuro de sua nação e que o texto seria uma verdadeira “fraude”, ou seja, uma suposta profecia que não seria profecia coisa alguma, mas uma invenção produzida por algum autor, para “testificar” fatos já acontecidos como tendo sido profetizados. Ora, como se vê, esta “teoria macabaica” é fruto da incredulidade da profecia e uma imputação de falsidade ao texto bíblico, algo que, naturalmente, não pode ser admitido por quem serve ao Senhor.

– Deve-se, ainda, observar que, se verdadeira fosse a “teoria macabaica”, não poderia ser aceito o livro de Daniel no cânon, visto que sabemos todos que, durante o período interbíblico, Deus não levantou qualquer profeta e, portanto, não se teve qualquer livro inspirado durante este período, como, aliás, reconheceram os próprios judeus, ao negarem autenticidade a toda e qualquer obra produzida durante este período, quando fixaram o cânon judaico no final do primeiro século e início do segundo.

– Além do mais, ao citar o livro de Daniel (Mt.24:15), o Senhor Jesus deu-lhe autenticidade, a mostrar, portanto, que não foi escrito durante o período interbíblico, durante o silêncio profético.

– O livro foi efetivamente escrito por Daniel, a quem o Senhor revelou o futuro da nação judaica, e o fato de os fatos nele narrados terem sido cumpridos, em especial a questão das guerras entre Egito e Síria, são mais uma demonstração da infalibilidade e inerrância da Palavra de Deus.

Ademais, estes fatos, embora tenham tido já um cumprimento histórico, não esgotam esta narrativa, porquanto são figuras daquilo que ainda está por vir na história judaica, tanto que o Senhor Jesus, anos depois da abominação do templo por Antíoco Epifânio, ainda Se refere a esta profecia de Daniel como algo que ainda iria ocorrer (Mt.24:15).

– Daniel, o autor do livro, pertencia à elite governante de Judá, ou seja, pertencia à família real, tendo sido levado na primeira leva de cativos para a Babilônia (Cf.II Rs.24:12 e Dn.1:1-3). Daniel foi, então, escolhido para ser instruído na ciência babilônica, mas, juntamente com seus amigos Hananias, Misael e Azarias, resolveu não se contaminar com a idolatria babilônica e Deus honrou sua disposição.

– Ao término do curso, Daniel foi considerado o mais sábio e erudito dos alunos e galgou posições na corte babilônica, tendo participado da elite governante de Babilônia e, mesmo após o fim do império babilônio, manteve-se na alta burocracia tanto no império medo quanto no império persa. Daniel é a única pessoa da história da humanidade que permaneceu na elite governante mesmo após a troca de comando em grandes impérios mundiais, numa demonstração de que era um excelente estadista.

– Desde o início de sua carreira de estadista, Daniel mostrou ser um profeta de Deus, pois o Senhor lhe deu o dom de interpretação de sonhos, sonhos estes que já demonstravam a escolha divina para que Daniel fosse o portador de mensagens relativas ao final dos tempos.

É interessante notar que Deus fez de Daniel um estadista, portanto alguém que trabalhava diariamente com a política para revelar os mistérios a respeito da história da humanidade até a redenção completa em termos políticos. Esta visão mundial também é mostrada pelo fato de o livro de Daniel ter alguns trechos em aramaico, que era a língua oficial da corte babilônica e medo-persa.

– Daniel é daqueles profetas que, ainda em vida, alcançaram o reconhecimento do povo de Deus como sendo um homem escolhido por Deus. Ezequiel, seu contemporâneo (segundo Frank Klassen e Edward Reese, Ezequiel nasceu em 622 a.C., ou seja, quando Daniel tinha seis anos de idade), demonstra bem este reconhecimento ao colocá-lo ao lado de Noé e de Jó como exemplo de justiça (Ez.14:14). Este fato, aliás, foi utilizado pelos chamados “críticos bíblicos” para tentar desmerecer o livro de Daniel, com teorias absurdas que chegam, mesmo, a negar que tenha existido tal profeta.

– Entretanto, o fato de Daniel ser o único livro apocalíptico aceito no cânon hebraico, sem qualquer resistência, é a maior demonstração de que Daniel existiu e que seu testemunho foi tão eloquente que fez com que um livro escrito fora da Palestina, em pleno cativeiro, fosse aceito sem reservas, apesar de sua mensagem enigmática.

– Segundo Finnis Jennings Dake (1902-1987), o livro do profeta Daniel tem 13 capítulos, 357 versículos, 16 perguntas, 218 versículos de história, 79 versículos de profecias cumpridas e 60 versículos de profecias não cumpridas, 7 ordens, 4 promessas e 16 mensagens de Deus.

– Alguns estudiosos das Escrituras associam o livro do profeta Daniel à letra “hê” (ﬣ), a quinta letra do alfabeto hebraico, letra esta associada à revelação, à inspiração do Espírito Santo (esta letra é pronunciada como um sopro), onde as “coisas secretas” são trazidas ao conhecimento dos homens, a revelar a onisciência e onipotência divinas. O livro de Daniel, ademais, é um verdadeiro alento, um “sopro de esperança” para o povo de Judá, num instante em que tudo parece perdido, com a perda da Terra Prometida e o próprio comprometimento da existência da nação, da propriedade peculiar de Deus dentre os povos.

– O livro de Daniel, que tem 12 capítulos, pode ser dividido em duas partes, a saber:

  1. a) 1ª parte – relato histórico dos fatos relativos da Daniel e seus amigos na corte de Babilônia e do Império Medo-Persa – Dn.1-6
  2. b) 2ª parte – mensagens proféticas a respeito do futuro de Israel e dos impérios mundiais até a redenção da humanidade – Dn.7-12

– O livro de Daniel, na versão grega da Septuaginta, contém acréscimos apócrifos, que foram incorporados pela Igreja Romana no Concílio de Trento (1545-1563), convocado para combater a Reforma Protestante.

Este Concílio reconheceu como inspirados três acréscimos ao livro do profeta Daniel, que compuseram um acréscimo ao capítulo 3 (a partir do versículo 24 até o 90, quando, então, retoma-se o texto inspirado, que vai até o versículo 100, correspondendo aos versículos 24 até 30 de nossas Bíblias) e os seus capítulos 13 e 14 na Bíblia católico-romana, referentes aos “cânticos dos três jovens” e duas histórias intituladas , “história de Susana” e  “Bel e o dragão”, textos que somente existem em grego e que jamais foram reconhecidos pelos judeus como inspirados. Vejamos cada acréscimo separadamente.

– O cântico dos jovens teria sido um louvor entoado pelos amigos de Daniel na fornalha de fogo ardente. O texto bíblico inspirado não diz que os jovens louvaram a Deus na fornalha, o que teria sido digno de nota, pois até explicaria porque o rei Nabucodonosor teria ido até a fornalha para ver os três jovens. A falta desta menção faz-nos entender que seja improvável que tivesse havido algum louvor como o narrado no texto acrescido.

– Mas o teor do suposto cântico já revela que seu texto não pode ser mesmo inspirado. Diz o texto que Azarias (ou seja, Abedenego e a circunstância de ser relatado seu nome hebraico destoa da narrativa, pois, no texto inspirado, neste episódio, só são indicados os nomes babilônicos dos amigos de Daniel), em seu louvor, teria chamado o rei Nabucodonosor de “…injusto e o mais malvado de toda a terra…” (Dn.3:32, parte final, na numeração da Bíblia católico-romana).

Como poderia Abedenego assim se dirigir ao rei Nabucodonosor, a quem servia e de quem era um dos principais assessores(Cf.Dn.2:49) e, o que é mais intrigante, após ter reconhecido, com seus amigos, a autoridade humana do rei (Cf.Dn.3:17,18)? Seriam, então, estes homens uns hipócritas e fingidos? Naturalmente que não e, portanto, o texto acrescido contrasta com o restante do livro do profeta Daniel.

– Em Dn.3:49, é dito que …o Anjo do Senhor, porém, desceu na fornalha para perto de Azarias e seus companheiros. Tocou para fora da fornalha as labaredas de fogo e formou no meio da fornalha um vento úmido refrescante…”. Ora, este texto conflita com o que se encontra em Dn.3:25(nossa numeração, Dn.3:92 na numeração católica), que afirma que o rei viu os jovens andando dentro do fogo. Mas como havia fogo ali se as labaredas tinham sido postas para fora?

 E se as labaredas foram postas para fora, por que não se incendiou o palácio real? (verdade é que a tradução católica troca fogo por fornalha, neste texto, mas nem esta troca consegue explicar o que aconteceu com as labaredas postas para fora…).

– Com relação aos outros dois acréscimos, de pronto vemos que o texto inspirado do profeta Daniel foi devidamente encerrado no capítulo 12, inclusive com ordem para que se selassem as palavras ali contidas (Dn.12:9). Além do mais, a estrutura do livro do profeta contém uma parte histórica, que se esgotou no livro 6, sobrevindo a parte profética. Assim, os acréscimos deveriam, pelo menos, para guardar a estrutura do livro, serem interpolados entre o capítulo 6 e o 7.

– A “história de Suzana” narra uma suposta intervenção de Daniel num julgamento injusto contra Suzana, que teria sido condenada à morte sob acusação falsa de dois homens que queriam cometer adultério com ela. Aqui há erros históricos. O primeiro é que o texto retrata Daniel como um jovem que vivia no meio do povo judeu cativo (Dn.13:44), mas, como sabemos, desde tenra idade, Daniel viveu no palácio do rei de Babilônia, portanto fora da comunidade judaica (Cf. Dn.1:3,4).

– O segundo erro histórico consiste no fato de ser dito nesta, que, depois desta suposta intervenção que impediu a injusta condenação de Susana é que Daniel tenha sido prestigiado diante de seu povo (Dn.13:64), quando, na verdade, o prestígio de Daniel se deu por Nabucodonosor após o término da sua preparação para servir no palácio e, a partir de então, é que teve prestígio junto aos demais judeus (Dn.1:19-21).

– Além do mais, a expressão supostamente utilizada por Daniel às testemunhas que estavam mentindo, a saber, “…o anjo de Deus já recebeu ordem de arrebentá-lo ao meio…” (Dn.13:55b) ou “…o anjo de Deus está esperando para cortá-lo ao meio e acabar com os dois…” (Dn.13:59b), além de serem contraditórias, foram desmentidas pelos fatos, segundo a história, pois a narrativa diz que as referidas testemunhas foram condenadas à morte, pois “…fizeram com eles o que queriam fazer com Susana, de acordo com a lei de Moisés…” (Dn.13:62).

Então, vemos que Daniel teria mentido ao afirmar que o anjo de Deus iria executar as falsas testemunhas, pois elas acabaram sendo mortas por homens mesmo. Como, então, confiar num texto que coloca Daniel como um falso profeta (Cf.Dt.18:22), um homem que a Bíblia diz que é um dos mais justos que houve sobre a Terra (Cf.Ez.14:14)? E, mais, que tenha obtido prestígio junto ao povo ao profetizar falsamente?

– O terceiro acréscimo diz respeito à história de “Bel e o dragão”, que está no capítulo 14 do livro de Daniel da Bíblia católico-romana. Começa o texto com uma incongruência histórica, pois Heródoto, o grande historiador grego (conhecido como o “pai da história”), afirma que Ciro derrubou seu avô Astíages (Dario, o medo, na linguagem bíblica), que o perseguira desde a mais tenra infância. Portanto, como Daniel poderia ser “…companheiro do rei (Ciro, observação nossa) e o mais íntimo de seus amigos…” (Cf. Dn.14:1), se era pessoa da mais estrita confiança do rei Dario (Cf.Dn.6:3, 6:28)?

– Como se não bastasse, na história, é dito que os babilônios obrigaram o rei Ciro a entregar Daniel para ser morto sob ameaça de que matariam o rei e toda sua família(Dn.14:29,30) Ora, como crer que o rei da Pérsia poderia ser derrubado pelos babilônios, que haviam sido vencidos há anos pelos persas e pelos medos, tendo sido subjugados? Seria um caso único de ameaça popular de um povo vencido contra um monarca do povo vencedor.

– Ademais, se isto tivesse acontecido, estaria invalidada a interpretação que Daniel deu ao rei Nabucodonosor a respeito da grande estátua (Dn.2:28-47), pois o império medo-persa foi o que sucedeu ao império babilônico (o peito e os braços de prata do sonho real) e teríamos aqui um caso em que os babilônios continuavam mandando, apesar de vencidos pelos persas. Como se verifica, mais um absurdo!

– Por fim, relata-se uma segunda ida de Daniel até a cova dos leões (Dn.14:31), onde teria sido alimentado por comida trazida de um certo profeta Habacuque, que morava na Judeia (Dn.14:33-39). Mas como dizer que havia profetas na Judeia neste período após a destruição de Jerusalém? Além do mais, a própria utilização da expressão “Judeia” mostra que o texto é anacrônico, já que a região não era conhecida desta forma nesta época.

– No livro de Daniel, ao lado da mensagem de que Deus honra aqueles que decidem servi-l’O mesmo diante de situações altamente adversas, como era o caso de Daniel e seus amigos na corte real pagã de Nabucodonosor, temos a mais forte mensagem escatológica do Antigo Testamento, que faz de Daniel o verdadeiro “Apocalipse do Antigo Testamento”.

– Em Daniel, vemos, exatamente, o prenúncio do Messias e do próprio período que intermediaria entre a retirada do Messias e a restauração espiritual de Israel (Cf.Dn.9:24-27), período este apenas indicado mas não revelado (Cf.Dn.12:4), pois tal revelação, o grande mistério de Deus, seria feita pelo próprio Jesus (Cf.Ef.3:4- 6), a saber, a Igreja.

– Reside aqui um importante aspecto para se entender o livro de Daniel. O profeta foi levantado por Deus para falar aos judeus, era um profeta do Antigo Testamento e, portanto, ainda que se esteja a falar de fatos futuros, relativos às últimas coisas, tais fatos dizem respeito à história de Israel. Portanto, amados irmãos, a Igreja não se encontra presente no livro de Daniel. O Senhor queria fazer saber aos judeus de que não havia Se esquecido das promessas dadas a este povo, mesmo diante da apostasia espiritual que os havia feito perder a terra de Canaã, e, para este propósito, levantou Daniel.

– Na profecia das setenta semanas, que é, sem dúvida, a mais conhecida das profecias de Daniel e que se constitui no núcleo central de toda a escatologia bíblica, fica bem evidenciada esta verdade bíblica a respeito do livro de Daniel, pois ali está registrado que o propósito das revelações dadas a Daniel diziam respeito ao futuro de Israel, à redenção daquela nação (Dn.9:20-27).

– Em Daniel, Deus revela-nos o curso da história da humanidade e, assim, temos a plena convicção que, ao contrário do que defendem os homens (notadamente os marxistas), a história não é o resultado cego de forças humanas, mas a realização do plano pré-estabelecido pelo Senhor. OBS:  ” O Livro de Daniel ante o Novo Testamento

 – A influência de Daniel no NT vai muito além das cinco ou seis vezes que o livro é citado diretamente. Muito da história e da profecia de Daniel reaparece nos trechos proféticos dos Evangelhos, das Epístolas e do Apocalipse. a profecia de Daniel a respeito do Messias vindouro contém uma descrição dEle como (1) a ‘grande pedra’ que esmagaria os reinos do mundo (2.34,35,45); (2) o Filho do homem, a quem o Ancião de dias daria o domínio, a glória e o reino (7.13,14); (3) ‘o Messias, o Príncipe’ que viria e seria tirado (9.25,26).

Alguns intérpretes crêem que a visão de Daniel, em 10.5-9, trata-se de uma aparição do Cristo pré-encarnado (cf. Ap.1.12-16). Daniel contém numerosos temas proféticos plenamente desenvolvidos no NT; e.g., a grande tribulação e o anticristo, a segunda vinda de nosso Senhor, o triunfo do reino de Deus, a ressurreição dos justos e dos ímpios e o Juízo Final.

As vidas de Daniel e dos seus três amigos evidenciam o ensino neotestamentário da separação pessoal do pecado e do mundo, i.e., viver no mundo incrédulo sem, porém, participar do seu espírito e dos seus modos (1.8; 3.12; 6.18; cf. Jo.7.6,15,16,18; 2 Co.6.14-7.1). (BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL, p.1243).

” Cristo Revelado – a primeira vez que se vê Cristo é na figura do ‘quarto’ (homem) ao lado de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na fornalha de fogo (3.25). Os três permaneceram fiéis ao seu Deus; agora, Deus permanece fiel a eles no fogo do julgamento e livra-os, inclusive, do ‘cheiro de fogo'(3.27). Outra referência a Cristo encontra-se na visão da noite de Daniel (7.13). Ele descreve ‘que vinha nas nuvens do céu um como o Filho do homem’, referindo-se à segunda vinda de Jesus Cristo. Outra visão de Cristo acha-se em 10.5-6, onde a descrição de Jesus é bastante idêntica à de João em Ap.1.13-16.” (BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, p.836).

III – A CONTEMPORANEIDADE DE DANIEL  

– Por fim, diante do título dado pelo nosso comentarista a esta lição, ou seja, “Daniel, ‘o nosso contemporâneo’”, torna-se necessário discutir esta “contemporaneidade”, pois, à primeira vista, o livro teria duas partes que contestariam tal contemporaneidade: uma histórica, que nos falaria do passado, a abarcar os seis primeiros capítulos e outra, escatológica, que nos revelaria fatos futuros, ainda não acontecidos e que se darão depois do arrebatamento da Igreja. Como, então, dizer que Daniel é nosso “contemporâneo”?

– Por primeiro, devemos sempre observar que a Palavra de Deus, por ser divina, é atemporal, ou seja, não está sujeita ao tempo, daí porque ter o apóstolo Pedro dito que ela “permanece para sempre” (I Pe.1:25), expressão, aliás, que não é inovadora, visto que já estava presente no profeta Isaías (Is.40:8), conceito também ensinado pelo Senhor Jesus (Mt.24:35).

– Assim, o livro do profeta Daniel, como parte do cânon sagrado, é sempre uma palavra atual, contemporânea, que pode e deve ser aplicada para os nossos dias, sendo “lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho” (Sl.119:105).

– No entanto, além deste dado, que se aplica a todo o texto da Bíblia Sagrada, o livro do profeta Daniel possui algumas peculiaridades que nos são extremamente caras, importantes e indispensáveis, a nós que somos a geração do término da dispensação da graça, a geração do arrebatamento da Igreja.

OBS: “… E é evidente que suas profecias, mesmo sendo futurísticas, têm sua aplicação na vida de Israel e da Igreja, já na presente Era, pois desde que Cristo iniciou o Seu ministério e, com Ele, o Reino de Deus, o domínio dos ‘últimos tempos’ já está presente misteriosamente entre nós, com o seu peso de promessas e, simultaneamente, seu atual julgamento.

A expressão ‘o tempo do fim’ é usada no NT para designar ‘a época do Evangelho de Cristo’ (Hb.1:1), ‘a época do Espírito Santo em sua plenitude’ (At.2:17),  ‘a época dos últimos tempos (I Tm.4:1) e ‘a época dos últimos dias maus’ (II Tm.3:1). É evidente que Daniel aponta claramente para todas essas épocas…” (SILVA, Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo, pp.9-10).

– Daniel foi escrito durante um período de apostasia espiritual e registra a vida de jovens que, apesar de viverem num mundo imerso no pecado, no centro mesmo de toda a rebeldia e toda espécie de desatino espiritual, como era Babilônia, mantiveram-se fiéis a Deus e, por causa desta fidelidade, lograram êxito em suas vidas seculares.

– O livro de Daniel mostra-nos, pois, que é perfeitamente possível se manter fiel a Deus mesmo diante de todas as pressões e vicissitudes existentes no mundo que está no maligno e que quer tragar a todos quantos queiram se manter firmes em seu propósito de servir a Deus.

– Assim como Daniel e seus amigos tiveram de pagar alto preço para se manter fiéis ao Senhor, seja a fornalha de fogo ardente, seja a cova dos leões, também nós, se quisermos cumprir o compromisso assumido quando e nosso batismo nas águas, diante de Deus e dos homens, de servir ao Senhor até a morte, também passaremos por momentos extremamente delicados, em que nossas vidas estarão em risco e serão até mesmo ceifadas por conta de nossa fidelidade.

– O livro de Daniel mostra-nos, ainda, que, para manter esta fidelidade e termos condições de resistir às enormes pressões deste mundo, torna-se necessário termos integridade espiritual, ou seja, temos de servir a Deus realmente e não apenas de palavra. Temos de ser pessoas de oração e de meditação nas Escrituras, como eram Daniel e seus amigos.

– Daniel e seus amigos eram conhecedores e observadores das Escrituras, pois, como nos relata o texto sagrado, eram “instruídos em toda a sabedoria, sábios em ciência e entendidos no conhecimento” (Dn.1:4), desde a sua tenra idade, conhecendo, assim, perfeitamente a lei de seu Deus, a ponto de não aceitar participar de atos que contrariassem a Palavra de Deus.

– Daniel e seus amigos, também, eram homens de oração, que não cessavam de buscar a presença de Deus, não só nos momentos de angústia (Dn.2:17,18; 9:3), como também no dia-a-dia de suas vidas (Dn.6:10). As revelações recebidas por Daniel eram, invariavelmente, resultado de uma vida de oração e de jejum. Jamais teremos condição de vencer as hostes espirituais da maldade se não vivermos em constante oração e jejum.

– O livro de Daniel mostra-nos que a fidelidade a Deus não nos impede de termos uma efetiva ação na sociedade que nos cerca, mesmo sendo esta sociedade dominada pelo pecado.

– Daniel e seus amigos ocuparam altas posições na corte de Babilônia e da Medo-Pérsia, trazendo grande contribuição à sociedade de sua época, sem que, para tanto, tivessem se corrompido ou negado a sua fé.

– Os servos de Deus são constituídos como “sal da terra” e “luz do mundo” (Mt.5:13-15), de sorte que não podemos viver de modo sectário, isolados dos demais homens, buscando com isso uma “santidade”. Santidade é viver separados do pecado, não dos pecadores. Daniel e seus amigos não se contaminaram com o pecado, mas viviam no meio dos pecadores, dando bom testemunho de sua fé no único e verdadeiro Deus, testemunho este que era dado pelos próprios inimigos (Dn.6:4,5).

– Devemos, a exemplo de Daniel e seus amigos, também dar um bom testemunho diante dos homens, desempenhando com galhardia as funções que nos forem cometidas na vida secular, de modo que os homens, ao ver as nossas obras, possam glorificar ao nosso Pai que está nos céus (Mt.5:16), mesmo que o façam mediante críticas e manifestações de inveja (I Pe.2:12).

– O livro do profeta Daniel indica-nos como devemos viver numa época de apostasia espiritual, num mundo dominado pelo pecado, como devemos viver de forma a agradar a Deus e mantermos nosso compromisso com Deus até o fim de nossa existência terrena.

– Mas, além deste aspecto, o livro do profeta Daniel também nos mostra que não é possível sermos fiéis em nossa peregrinação térrea se não escondermos em nosso coração a esperança do cumprimento das promessas do Senhor, se não pusermos como alvo a redenção eterna.

– Daniel e seus amigos foram levados cativos para Babilônia, mas jamais perderam de vista a esperança messiânica e as promessas do Senhor. Setenta anos depois de ter chegado a Babilônia, Daniel continuava com a mesma esperança de ver cumpridas as profecias que ouvira durante sua infância e adolescência, como se verifica claramente da leitura de Dn.9:1,2.

– Apesar de viver uma vida regalada, de ter posição de destaque na administração da potência mundial da época, Daniel não se prendeu a estas coisas e almejava a redenção de seu povo, a comunhão com Deus. Por isso, ao verificar que se estavam a completar os setenta anos de cativeiro profetizados por Jeremias, começou a buscar a Deus em prol da redenção de seu povo.

– Foi por ter como objetivo e desejo a redenção de Israel que Daniel foi agraciado pelo Senhor com a revelação das setenta semanas, este período de tempo que demoraria para que Israel obtivesse a redenção e se tornasse o reino sacerdotal e povo santo, como prometido pelo Senhor desde a aliança do Sinai (Ex.19:5,6).

– Isto nos mostra que não há como vivermos sobre a face da Terra de modo agradável ao Senhor sem sermos impelidos pela esperança da redenção, ou seja, pela glorificação, que é o último estágio do nosso processo de salvação.

– É esta outra lição que nos ensina o livro do profeta Daniel. Sua parte escatológica ensina-nos de que devemos viver neste mundo sob a perspectiva da nossa redenção, redenção esta que se dará no dia do arrebatamento da Igreja. Como bem disse o poeta sacro Almeida Sobrinho: “Nossa esperança é Sua vinda, o Rei dos reis vem nos buscar, nós aguardamos Jesus ainda, té a luz da manhã raiar” (primeira parte do estribilho do hino 300 da Harpa Cristã).

– Não foi à toa que o maior e mais duradouro avivamento da história da Igreja, o avivamento pentecostal, tenha tido como uma de suas origens o despertamento ocorrido na Igreja a respeito da realidade do arrebatamento, mais precisamente nos estudos de John Nelson Darby (1800-1882) a respeito das dispensações, estudo este que foi divulgado por Cyrus Ingerson Scofield (1843-1921).

Realmente, não há como se desvincular uma vida abundante no Espírito Santo da perspectiva da volta de Cristo, tanto assim que a mensagem do Evangelho completo se encerra com a afirmação de que “Jesus brevemente voltará”.

 OBS: “…Sir Isaac Newton vaticinou o estudo deste livro em confronto com as profecias, quando disse: ‘Perto do tempo do fim, surgirá um grupo de homens e mulheres que voltará a sua atenção para as profecias (Daniel e Apocalipse) e insistirá na sua interpretação literal, no meio de clamor e oposição.…” (SILVA, Severino Pedro da. Daniel versículo por versículo, p.9).

– O livro do profeta Daniel revela-nos que Deus está no absoluto controle de todas as coisas, que a história está sob o Seu domínio e que tudo quanto foi profetizado acontecerá infalivelmente. Resta a nós, portanto, ir até o fim e aguardar o repouso que nos está prometido, ou, para se utilizar aqui da linguagem da Nova Versão Internacional, aguardar o momento em que iremos nos levantar “para receber a herança que nos cabe” (Dn.12:13).

– Se perdermos esta perspectiva da redenção, esta visão escatológica, corremos sério risco de perdermos a salvação, poiso apóstolo Pedro nos ensina que tais pessoas se tornam escarnecedoras, que passam a andar segundo as suas próprias concupiscências e que, por isso mesmo, passam a duvidar da vinda de Cristo (II Pe.3:3,4).

– A propósito, é nítido que, nos últimos anos, esta perspectiva escatológica tem se perdido em nossas igrejas locais. Raras são as pregações que alertam para a iminência da volta de Cristo e os estudos escatológicos têm rareado cada vez mais e, quando estão presentes, muitas das vezes, são apenas exercícios de curiosidade ou especulações que deixam de lado o foco do arrebatamento da Igreja e da nossa necessária preparação.

– Daniel era um homem que não perdia o foco da redenção do seu povo, do cumprimento das promessas messiânicas e, por isso mesmo, teve a revelação do que iria ocorrer até que tal redenção se cumprisse, mas, ao mesmo tempo que tinha tais revelações, foi advertido para que se mantivesse fiel, pois só assim conseguiria desfrutar das referidas promessas, que não se dariam no seu tempo.

– Nós, também, ainda que tudo indique que sejamos a geração do arrebatamento, devemos nos empenhar para vivermos com fidelidade, numa vida de meditação nas Escrituras, oração e jejum, a fim de que possamos desfrutar daquilo que nos está prometido, mesmo que isto ocorra após a nossa morte física.

– Eis aí a contemporaneidade do livro do profeta Daniel. Eis aí a necessidade de que, através deste estudo, assumamos uma postura de integridade moral e espiritual que certamente nos levará aos céus.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco  

Site: http://www.portalebd.org.br/files/4T2014_L1_caramuru.pdf

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