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Lição 07 – Sardes, A Igreja morta I

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A carta à igreja de Sardes mostra-nos que a morte espiritual é possível aos crentes, se não houver vigilância.

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo das cartas de Cristo às igrejas da Ásia Menor, estudaremos hoje a quinta carta, endereçada à igreja de Sardes.

– A carta à igreja de Sardes mostra-nos que a morte espiritual é possível mesmo àqueles que, uma vez se renderam aos pés de Cristo Jesus, se não houver vigilância.

I – O CENÁRIO DA CARTA À IGREJA DE SARDES

– Prosseguindo o estudo das sete cartas que o Senhor Jesus mandou enviar às igrejas da província romana da Ásia, que constitui a parte substancial do estudo proposto pela CPAD para este trimestre no livro do Apocalipse, estudaremos a quinta carta, a carta encaminhada ao anjo da igreja e, por conseguinte, à igreja de Sardes.

– “Sardes, ou às vezes Sardis e Sárdis (Σάρδεις, em grego) [ e, também, Sardo, observação nossa], correspondente ao moderno vilarejo turco de Sart (província de Manisa), foi a capital da antiga Lídia – tendo sido depois a sede de uma província romana após as reformas administrativas de Diocleciano, continuando a pertencer a Roma depois e durante o período bizantino. Sardes localizava-se no fértil vale do rio Hermo e no sopé do íngreme monte Tmolo, distante cerca de 34 km ao sul daquele curso d’água. A importância da cidade era devida ao seu poderio militar, à sua relevante localização ligando o Egeu ao interior e a situar-se em um vale muito fértil” (Sardes. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/SardesAcesso em 03 abr. 2012).

– “…Originalmente, Sardes fora uma fortaleza poderosa, mas Ciro, rei da Pérsia, derrotou esta cidade e outras das redondezas, no ano de 549 a.C. Essa cidade passou às mãos de Antíoco, o Grande…” (SILVA, Severino Pedro da. Apocalipse versículo por versículo. 3.ed., p.51). Distava “…cerca de 24 km de Esmirna (…) situava-se numa estrada que unia Éfeso, Esmirna e Pérgamo ao interior da Ásia Menor…” (CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.6, p.99). “…Era famosa por sua riqueza e luxo. Conforme a tradição, esta cidade foi a primeira a receber o Evangelho pela pregação do apóstolo João…”(OLIVEIRA, José Serafim de. Desvendando o Apocalipse: o livro da revelação, p.23).

– O significado da palavra “Sardes” é discutido. Entendem alguns que seu significado é “sol, príncipe de gozo”. “…Os cidadãos ricos de Sardes eram ardorosos adeptos do culto a Cibele [deusa originária da Frigia, conhecida como “deusa-mãe”, que simbolizava a fertilidade da natureza, observação nossa], mas não eram exclusivamente patrimônio dela. Adoravam um vasto conjunto de deuses e deusas, entre elas Ártemis [Diana para os romanos, observação nossa]…” (CHAMPLIN. R.N. idem).

– Nada se sabe sobre o pastor da igreja em Sardes. Naverdade, a respeito desta igreja, a história irá retratar apenas um pastor daquela igreja, chamado Melito (?-180), mas que viverá muito depois da redação desta carta, já no século II d.C., autor da mais antiga lista cristã de livros do Antigo Testamento que chegou até nós, onde se verifica que o cânon do Antigo Testamento é o mesmo que temos na atualidade.

– A informação que se dá deste pastor, no entanto, não é das melhores. Segundo vemos da carta, referido pastor tinha nome de que vivia, mas já estava morto. “…’Ali, por ocasião em que essa carta estava sendo escrita, achava-se essa Igreja numa situação espiritual extremamente melindrosa. O processo de declínio de seu pastor fora tão sutil que, na realidade, nem fora observado’. …” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.51). Mais uma vez, vemos o Senhor Jesus poupando alguém de humilhação, querendo, sim, revelar o verdadeiro quadro espiritual existente, mas como um chamado ao arrependimento, não uma oportunidade para envergonhar alguém. Temos aprendido esta lição do Nosso Senhor?

– O pastor da igreja de Sardes era um “crente nominal”, ou seja, tinha nome de que era crente, dizia-se seguidor de Cristo Jesus, mas, na realidade, sua vida, sua conduta, seu comportamento demonstravam que ele havia perdido a salvação, que ele não tinha comunhão com o Senhor. Por isso, tinha apenas o nome de crente, mas, espiritualmente, era um verdadeiro incrédulo, não tinha mais comunhão com o Senhor: “…as condições da igreja de Sardes têm imperado em qualquer época da igreja. Muitos crentes pensam estarem vivos e, em verdade, estão mortos espiritualmente.…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.7, p.47).

– Esta observação do Senhor Jesus mostra, claramente, que é possível perder-se a salvação que um dia obtivemos ao crer n’Ele.  O pastor de Sardes não foi considerado alguém que nunca havia sido salvo, mas, sim, alguém que, uma vez tendo obtido vida em Cristo, havia, por falta de vigilância, perdido esta dádiva celeste, passando apenas a ter nome de crente, mas tendo novamente morrido do ponto-de-vista espiritual.

– “…Dois gêneros de mortes estavam rondando este ‘anjo’: (a) a morte moral; (b) a morte espiritual (Cf. Gn.20:3 e Ef.2:1). Ele se encontrava duplamente morto (cf. Jd.12). A igreja é representada pelo seu pastor, mas também é repreendida por Cristo através do mesmo. Ela é repreendida por viver uma situação contraditória: a vitalidade exterior disfarça morte espiritual interior…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.52). “…A igreja de Sardes tinha fama de ser muito fervorosa, de ser observadora da sã doutrina(…). O que se percebe na igreja de Sardes é que ela tinha substituído o andar no espírito por ordenações humanas. Uma igreja pode se destacar pelos seus grandes movimentos, grandes corais, orquestras, pregadores eloquentes etc. mas nada disso prova que a igreja está espiritualmente viva. Muitos confundem gritaria com espiritualidade, quando, lamentavelmente, às vezes, não passa de simples emocionalismo ou até mesmo de pseudofervor. Se uma igreja é, ou não, espiritual, conhece-se pelas diversas operações do Espírito Santo que nela ocorrem, como salvação dos perdidos, transformação de vidas, cura divina, libertação de oprimidos por espíritos imundos e no cotidiano dos membros da igreja que procuram andar em santidade e no temor do Senhor etc.…” (OLIVEIRA, José Serafim. op.cit., p.23).

– Notamos, ainda, nesta observação do Senhor Jesus de que, como não se cansa de dizer o pastor Anselmo Silvestre (presidente de honra das Assembleias de Deus em Belo Horizonte/MG), “tudo tem de começar pelo altar”. O pastor de Sardes já estava morto e esta morte espiritual estava avançando sobre toda a igreja, pois, mesmo os “restantes”, diz o Senhor, estavam para morrer (Ap.3:2). Embora a salvação seja individual, o fato é que o pastor é o elemento, o fato primordial de influência sobre a vida espiritual dos membros de uma igreja local. Sabendo disso, o inimigo, por primeiro, matara o pastor, sabendo que, por causa disto, teria muito maior facilidade em matar os crentes de Sardes.

– Por isso, temos de interceder pelo ministério da igreja, para que não se torne ele um elemento de morte espiritual para os crentes em geral. Os ministros são constantemente atacados pelo inimigo de nossas almas, que sabe que, ao matar os que está à frente do povo, certamente terá muito mais facilidade para promover uma matança generalizada entre os salvos. Por isso, também, devem os obreiros ter vigilância redobrada, lembrando que a sua posição, fruto de uma escolha do próprio Senhor, exige-lhes maior responsabilidade.

– Nos dias em que vivemos, são muitos os que estão na mesma situação da do anjo da igreja em Sardes. São apenas “crentes nominais”, têm nome de servos do Senhor, mas se encontram mortos espiritualmente. Não é à toa que o último censo do IBGE, em 2010, registrou que já há, no Brasil, 14% (quatorze por cento) de “crentes não praticantes”, de crentes que “não têm igreja”. São pessoas que, assumidamente, afirmam que são “crentes”, mas que “não praticam a fé”, ou seja, têm apenas “nomes de crentes”, mas não têm mais vida espiritual. Estes foram os que se assumiram, e os que estão enrustidos? Deus nos guarde!

– A morte espiritual é um fenômeno interior, incognoscível aos olhos dos homens, pois só o Senhor conhece o coração do homem (I Sm.16:7), mas esta morte não ficará para sempre desconhecida dos servos de Deus. Nada que seja oculto deixará de ser revelado (Mt.10:26). Há um tempo em que a pessoa, embora morta, fica temporariamente na videira, mas, por estar morta, não dá mais fruto e, por causa disso, a seu tempo, será tirada, lançada fora e queimada no fogo (Jo.15:2a,6).

– Esta era a situação do pastor de Sardes. Embora se dissesse vivo espiritualmente e até liderasse uma igreja, na verdade, ele já morrera espiritualmente. Entretanto, antes que fosse lançado fora, o Senhor Jesus ainda dele teve piedade e lhe deu uma oportunidade, através desta carta, para que se arrependesse e retornasse à comunhão com o Senhor.

– Lamentavelmente, muitos são “os pastores de Sardes” em nossos dias. Estão na liderança de igrejas locais, mas, embora sejam “pastores”, crentes não mais são. Estão mortos espiritualmente e, o que é pior, a promover morte espiritual no meio do povo de Deus. Muitos, mesmo, se esforçam para ter uma “aparência de vida”, para terem uma “aparência de piedade”, mas, além de jamais enganarem a Deus, não poderão enganar os homens por muito tempo. Precisam, em vez de criarem subterfúgios e enganos para os que com eles convivem, muitas vezes apenas para manter um determinado padrão de vida decorrente do seu salário na igreja local, lembrar-se de que ainda há oportunidade de arrependimento, pois, muito mais importante do que a vida passageira sobre a face da Terra é a eternidade com Deus, da qual, pela sua conduta pecaminosa, já estão extirpados desde já. Lembremo-nos disto, obreiros!

– O Senhor Jesus Se identifica para o anjo da igreja que está em Sardes e, por extensão, àquela igreja como “o que tem os sete Espíritos de Deus e as sete estrelas” (Ap.3:1). Para tratar com o pastor que já estava morto espiritualmente, o Senhor Se identifica como Aquele que é glorificado pelo Espírito Santo, Espírito este que recebe o que é do Filho e o anuncia à Igreja (Jo.16:13,14).

– A vida espiritual começa quando ouvimos a Palavra de Deus e somos convencidos pelo Espírito Santo do pecado, da justiça e do juízo (Rm.10:17; Jo.16:8-10), Espírito que também derrama o amor de Deus em nossos corações (Rm.5:5). Por isso, o Senhor Jesus lembra àquele pastor que Ele enviou o Espírito Santo para que nós não ficássemos órfãos neste mundo (Jo.14:18), a fim que tivéssemos vida e vida com abundância (Jo.10:10).

– “…Para a igreja morta de Sardes, Ele é O que tem os tem sete espíritos de Deus. Assim como o corpo sem o espírito está morto, a igreja sem o Espírito Santo está morta. Jesus Cristo tem a plenitude da vida. Vida abundante.…” (OLIVEIRA, José Serafim. op.cit., p.24).

– Precisamos ter comunhão com o Espírito Santo e, a cada instante de nossas vidas, d’Ele nos aproximarmos, a fim de que, numa vida de santificação contínua e incessante (Ap.22:11), nunca venhamos a perder a salvação. A falta da presença do Espírito Santo em nós, o nosso afastamento d’Ele faz com que percamos a salvação, pois passamos a ter uma conduta desagradável ao Espírito, que O entristece (Ef.4:30), que O agrave (Hb.10:29) e que acaba fazendo com que Ele Se retire de nós ao pecarmos (Sl.51:11).

– Este nosso relacionamento com o Espírito Santo exige de nós uma sensibilidade em nossa consciência, que é precisamente a faculdade do nosso espírito que nos faz ter uma ligação com o Espírito Santo. Como bem afirmou o pastor José Carlos Magalhães (pastor vice-presidente das Assembleias de Deus – Ministério de São Miguel Paulista, vinculada à COMADESPE), em reunião de obreiros nas Assembleias de Deus – Ministério do Belém – São Paulo/SP, em 2 de abril de 2012, o que o diabo procura roubar dos salvos é a sua consciência. Se perdermos a consciência, teremos as nossas mentes cauterizadas (I Tm.4:2) e, assim, poderemos viver simplesmente como “crentes nominais”, sem qualquer contato com o Espírito Santo e, ainda assim, achando que estamos a agradar ao Senhor. Que Deus nos guarde!

– Jesus é Aquele que “tem os sete Espíritos de Deus”, ou seja, Aquele que enviou o Espírito Santo e que trabalha em plena harmonia e comunhão com a Terceira Pessoa da Trindade e que, portanto, está em plenas condições de nos manter vivos espiritualmente, de nos avivar a cada instante de nossa jornada sobre a face da Terra. Não podemos, pois, permitir que o número de “crentes nominais” cresça em nossas igrejas locais e, para isto, devemos sempre levar os salvos a uma vida espiritual plena, mediante a oração, a meditação e o aprendizado das Escrituras e a busca do batismo com o Espírito Santo, dos dons espirituais e das demais “coisas do alto”.

– Mas, antes de levar o povo a uma vida de maior intimidade com o Senhor, a própria liderança precisa ter esta vida espiritual. De nada adianta convocar o povo para a oração, para o ensino e meditação na Bíblia Sagrada, para a busca do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais, se a liderança não tem uma vida espiritual voltada para as “coisas de cima”. É imperioso que os líderes sejam os primeiros a ter uma vida de oração, de meditação e aprendizado nas Escrituras e quem busca o batismo com o Espírito Santo e os dons espirituais. É precisamente isto que não temos visto com frequência nestes dias difíceis em que estamos a viver…

– Mas, além de ter “os sete Espíritos de Deus”, o Senhor Jesus Se identifica como Aquele que “tem as sete estrelas” (Ap.3:1). Sabemos, pela interpretação dada pelo próprio Cristo, que as “sete estrelas” representam “os anjos das sete igrejas” (Ap.1:20). Aqui o Senhor Jesus lembra a este pastor já morto espiritualmente, que a escolha para o ministério era do próprio Cristo e que, por isso mesmo, nada estava perdido. Jesus o havia escolhido, ele era do Senhor e, portanto, o Senhor que restaura vidas, que ressuscita mortos, estava pronto a restabelecer o ministério daquele pastor, desde que ele se arrependesse.

– É importante aqui observar que o Senhor Jesus fez questão de dizer que Ele era o dono das sete estrelas, que Ele as possuía, a indicar, portanto, que é Ele quem escolhe os ministros na Sua casa (Ef.4:11). Mesmo a um morto espiritual, o Senhor Se mostra pronto a perdoar e a dar vida. Por isso, devemos ser muito cuidadosos no julgamento de obreiros que são excluídos e retirados da comunhão da Igreja por causa de seus pecados e escândalos. Se é imperioso que assim se faça para a saúde espiritual do corpo de Cristo, jamais devemos nos precipitar quanto à salvação e, mesmo, à restauração do ministério daquela pessoa, pois o Senhor, ao pastor de Sardes, mostrou que, mesmo nos casos de morte espiritual, ainda há esperança. Lembremo-nos disto antes que façamos julgamentos a respeito de outrem!

II – O EXAME DOS DEFEITOS DA IGREJA DE SARDES PELO SENHOR JESUS

– Nesta carta à igreja de Sardes, o Senhor Jesus inverte o padrão que havia sido adotado nas epístolas anteriores. Naquelas, as qualidades eram exaltadas antes dos defeitos, o que nos levou, inclusive, a mostrar que este era uma característica a ser imitada por todos nós, ou seja, o de primeiro elogiar para depois repreender e criticar, numa clara demonstração de que não devemos jamais humilhar as pessoas.

– Aqui, porém, há uma inversão. E por que isto se dá? Precisamente porque o pastor de Sardes estava morto espiritualmente. Na morte, nada há de bom. Não havia o que elogiar especificamente ao pastor, porque ele já se encontrava morto. Havia a urgência deste aviso a ele a fim de que pudesse ele se arrepender de suas obras e, desta maneira, tornar à vida.

– Tal postura do Senhor Jesus mostra-nos, também, que, ao contrário do que afirma a doutrina romanista, não existem pecados graves ou leves, mas todos eles levam à morte espiritual e que, ante esta morte, não há outra solução senão o arrependimento, para que se consiga a restauração da vida, da comunhão com Deus.

– O Senhor Jesus manda ao pastor de Sardes que fosse vigilante (Ap.3:2). Tal declaração revela que o fator que fez com que o pastor de Sardes perdesse a sua salvação havia sido a falta de vigilância. É este um elemento extremamente importante para que nos mantenhamos vivos em nossa peregrinação terrena. Não foi por outro motivo que o Senhor Jesus afirmou, em Mc.13:37: “E as coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai”.

– Jesus disse, em Seu sermão escatológico, que o mais importante é que Seus discípulos mantivessem a vigilância (Mc.13:37), ordem que foi dada a todos. “Vigiar é ordem santa”, diz conhecido hino sacro de letra de autoria de Fanny Crosby(1820-1915), e devemos estar alerta para que não sejamos enganados pelo adversário. Precisamos estar vigilantes para que tenhamos êxito em nossa missão de servir a Deus e ir para o céu.

– Precisamos manter vigilância para, durante a noite, podermos ser usados por Deus para discernir espiritualmente o que ocorre à nossa volta (I Co.2:14-16) e termos condição de pôr emboscadas contra o inimigo, desfazendo as obras do diabo. Uma das formas principais de vigilância durante a noite é a oração (Lc.21:36; I Pe.4:7).

– Precisamos manter vigilância para não nos distanciarmos do necessitado, não passarmos de largo como fizeram o sacerdote e o levita (Lc.10:31,32), mas nos comportarmos como o bom samaritano(Lc.10:33-35), acudindo aquele que necessita de Jesus e da salvação, de Jesus e das bênçãos que Ele nos promete, demonstrando nosso amor ao próximo (Lc.10:27,28).

– Precisamos manter vigilância para não deixarmos de perceber o sinal a ser dado pelo Senhor Jesus, no instante em que vier buscar a Sua Igreja, para que aquele dia não nos tome de improviso e percamos a salvação da ira futura que está reservada para os que estão a aguardar o Senhor (Lc.21:34).

– O pastor de Sardes havia desprezado todas estas coisas e, por isso, acabou por morrer espiritualmente, desprezando não só o chamado especial recebido para servir ao Senhor no santo ministério, mas a própria salvação. Quantos assim não têm procedido em nossos dias, perdendo a salvação por falta de vigilância, deixando-se levar pela fama, pela aparência e pelo sucesso econômico-financeiro e social que desfrutam por causa da posição que têm na igreja local?

– Evidentemente que esta vigilância que o Senhor Jesus manda ao anjo da igreja em Sardes dependia, como se vê de Ap.3:3, do seu arrependimento diante destas palavras que lhe proferia o Senhor. Deveria, em se arrependendo dos pecados, passar a ter uma vida de vigilância, e não de desleixo espiritual, que o havia caracterizado até então. Eis uma atitude que devemos tomar em relação aos desviados que voltam à comunhão da Igreja. Devemos acompanhá-los de modo especial, em um renovado discipulado, enfatizando a necessidade de terem, doravante, uma atitude redobrada de vigilância.

– Além de mandar que o pastor de Sardes fosse vigilante, o Senhor Jesus também mandou que ele confirmasse os restantes que estavam para morrer (Ap.3:2). Esta expressão de Nosso Senhor revela que o pastor já havia levado boa parte da igreja para a morte espiritual, mas que ainda havia uns “restantes”. Sempre há um remanescente que permanece fiel, apesar de todas as circunstâncias adversas.

 

– Uma vez restaurado, o pastor de Sardes deveria cumprir o papel que é próprio de todo o ministro do Evangelho, qual seja, o de “confirmar os seus irmãos”. Ao revelar que Pedro O negaria, o Senhor também lhe disse que, quando se convertesse, deveria confirmar os seus irmãos (Lc.22:32), uma incumbência que não é peculiar a um suposto “ministério petrino” que hoje seria exercido pelos “sucessores de Pedro” (os Papas), mas, sim, uma responsabilidade deixada a todo ministro do Evangelho, pois, afinal de contas, eles são constituídos para o aperfeiçoamento dos santos (Ef.4:11-14).

– A restauração do pastor de Sardes representaria uma mudança radical no seu papel perante aquela igreja local. Em vez de ser um fator de desvio espiritual, ele passaria a ser uma referência de santidade, alguém que faria com que os crentes, que estavam perigosamente perdendo a saúde espiritual, fossem confirmados na fé e revitalizados.

– O ministro tem de ser consciência de que é um referencial na igreja local que preside e que todos o estão a observar e a imitá-lo. Devem, por isso, apresentar-se como homens de Deus, como homens de fé, a fim de que, ao serem imitados, façam com que todos sejam confirmados no caminho santo, aprovados em Cristo (I Co.11:1; Hb.13:7; I Pe.5:3).

– As obras do pastor de Sardes não eram perfeitas diante de Deus (Ap.3:2). Diz a Nova Versão Internacional (NVI) que as obras deste obreiro “não eram perfeitas aos olhos do meu Deus”. O Senhor observa as nossas obras. Ele, repetindo o que sempre diz nestas cartas às igrejas da Ásia, disse: “Eu sei as tuas obras” (Ap.3:1 “in medio”). Não podemos esconder o que fazemos os olhos do Senhor. É tolice querer estar à frente do povo de Deus com hipocrisia e fingimento.

– “…Não é a intensidade ou quantidade de trabalho que é importante para Deus, e, sim, a qualidade do trabalho. Com que objetivo se trabalha para o Senhor? Para galgar uma posição de honra na igreja? Para competir com alguém? Essas obras o Senhor não aprova, não as acha perfeitas diante de Deus. Trabalhemos para glorificar o nome do Senhor, para edificar a fé dos nossos irmãos, para a salvação dos perdidos. Essas obras, sim, o Senhor aprova e Se agrada delas!…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.24).

– Mas, para poder ser vigilante e confirmar os seus irmãos, era imperioso ao anjo da igreja em Sardes que ele se lembrasse do que tinha recebido e ouvido, o guardasse e se arrependesse (Ap.3:3a). Temos aqui, por primeiro, a informação de que o pastor de Sardes já havia sido um salvo, pois o Senhor Jesus manda que ele se lembrasse do que tinha recebido e ouvido, prova de que, uma vez, já havia recebido a Palavra que nele havia sido enxertada, o que lhe dera, no passado, a salvação da sua alma (Tg.1:21).

– Temos de ser vigilantes para que não venhamos a esquecer aquilo que um dia recebemos da parte de Deus. Nossa “memória espiritual” depende da comunhão com o Espírito Santo, pois é Ele quem nos faz lembrar das coisas que recebemos da parte de Cristo (Jo.14:26). Sem  o Espírito Santo, não há como termos tal lembrança. O Senhor Jesus falava àquele pastor, diante de Sua infinita misericórdia, para que ele pudesse voltar-se para o Senhor e, mediante o arrependimento dos pecados, pudesse ter esta lembrança para não mais pecar após a sua restauração espiritual.

– Não basta ouvir a Palavra de Deus, nem tampouco recebê-la. É indispensável que nós sejamos cumpridores desta Palavra, que nós a pratiquemos, sem o que o seu efeito salvífico não se produzirá entre nós. Pelo contrário, se tão somente nos acostumarmos a ouvir a Palavra de Deus, sem a praticar, estaremos irremediavelmente perdidos, como disse o Senhor ao profeta Ezequiel a respeito do povo judeu que se encontrava cativo na Babilônia em seus dias (Ez.33:30-33), o que é repetido, mais tarde, por Tiago, o irmão do Senhor (Tg.1:21-25).

– Era mister que o pastor de Sardes, arrependendo-se de seus pecados e os abandonando, lembrasse de tudo quanto recebera e ouvira da parte de Deus antes da queda e guardasse tudo quanto havia recebido e ouvido, vigiando para não mais pecar, sem o que a sua perdição era certa. Não foi por outro motivo que o salmista afirmou que escondera a Palavra do Senhor no seu coração para que não pecasse contra Deus (Sl.119:11). Qual tem sido nosso comportamento? Somos, a exemplo dos crentes de Sardes, ouvintes esquecidos?

– O Senhor Jesus não deixa qualquer sombra de dúvida ao pastor de Sardes e, por extensão, a toda aquela igreja. Se não houvesse o arrependimento e a vigilância posterior, o Senhor viria como um ladrão e não saberiam a hora em que viria (Ap.3:3b). Isto tem só um significado: caso não houvesse o arrependimento e a vigilância, a perdição era certa, pois aqueles crentes seriam surpreendidos pela volta do Senhor e, deste modo, estariam despreparados, perdendo a oportunidade de viver para sempre com Cristo, assim como as virgens loucas da parábola contada por Jesus no Seu sermão escatológico (Mt.25:1-13). Qual é a nossa situação?

– Na perspectiva histórica que é dada às cartas de Jesus às igrejas da Ásia Menor, a igreja de Sardes representa a chamada “igreja moderna”, cuja data inicial é considerada como o ano de 1517, quando Martinho Lutero (1483-1546) dá início à Reforma Protestante, afixando as suas 95 teses na igreja do castelo de Wittenberg, período que se estende até meados do século XVIII.

– “…Está em foco na igreja de Sardes uma representação da Reforma Protestante, que se propôs a reformar a vida espiritual da Igreja, mas se limitou a uma reação contra a rígida hierarquia eclesiástica, libertando-se do vigário autoritário da igreja de Roma. Com a liberdade adquirida, dividiu-se em diversas denominações religiosas. E a igreja reformada passou a vangloriar-se de sua ortodoxia, mas pouco fez pelo reavivamento espiritual. Ficou longe de ser igual a Igreja Primitiva, impossível de ser comparada com o modelo estabelecido pelo Espírito Santo, no dia de Pentecostes, na época dos apóstolos…” (SILVA, Osmar José da. op.cit., pp.47-8).

– Neste período, se é verdade que há o rompimento com “Jezabel”, se não mais se tolera o pecado da idolatria, o fato é que a “vida espiritual” propalada pelos reformados, advinda da observância da Bíblia Sagrada, era apenas aparente. Não resta dúvida de que o gesto do rompimento com os “sacrifícios da idolatria” representou um grande avanço, mas um avanço insuficiente para trazer a vida espiritual exigida.

– A Reforma Protestante trouxe a lume os “cinco solas”, ou seja, a síntese dos “…credos teológicos básicos dos reformadores, pilares os quais creram ser essenciais da vida e prática cristã.(…) São eles: Sola fide (somente a fé); Sola scriptura (somente a Escritura); Solus Christus (somente Cristo); Sola gratia (somente a graça); Soli Deo gloria (glória somente a Deus)” (Cinco solas. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinco_solasAcesso em 03 abr. 2012). Tais verdades bíblicas são indispensáveis para que se tenha a salvação, mas isto era necessário mas insuficiente.

OBS: “…O Senhor não disse que a obra de Lutero não era boa; mais apropriadamente, Ele disse que não era perfeita. Era boa, mas não o suficiente. Aos olhos do Senhor, Ele não encontrou nada perfeito: houve um começo, mas sem um final.(…) Com Lutero, o problema da justificação foi solucionado. A justificação é pela fé, e ter paz diante do Senhor é pela fé. Lutero não somente nos mostrou a justificação pela fé, mas também nos legou a bíblia aberta.(…) Contudo, aqui surge um problema: o protestantismo não nos deu uma igreja adequada. Como resultado, aonde quer que fossem a doutrina da justificação pela fé e a bíblia aberta, uma igreja estatal era estabelecida.  A seita Luterana tornou-se a igreja estatal em muitos países. Mais tarde, na Inglaterra, a Igreja Anglicana veio a existir, a qual é também uma igreja estatal. Começando com Roma, a natureza da igreja mudou. E na época da justificação pela fé e do retorno à bíblia aberta, as igrejas protestantes ainda não tinham visto o que deveria ser a igreja. Embora houvesse a justificação pela fé e a bíblia aberta, as igrejas protestantes ainda seguiam o exemplo de Roma e não retornaram a igreja do início. Durante a reforma, o problema da igreja não foi solucionado. Lutero não reformou a igreja. O próprio Lutero disse que não deveríamos achar que “justificação pela fé” fosse suficiente; há muito mais coisas a serem mudadas. Contudo, as pessoas nas igrejas protestantes pararam exatamente aqui. Lutero não parou, mas eles pararam e disseram que estava suficientemente bom. Embora tivessem voltado à fé do inicio, a própria igreja permaneceu sem mudanças. Outrora era igreja internacional de Roma; agora ela mudou para igreja estatal da Inglaterra, ou igreja estatal da Alemanha – isso é tudo.…” (NEE, Watchman. A ortodoxia da Igreja. 5.ed., pp.24-5. Disponível em: http://ebooksgospel.blogspot.comAcesso em 08 mar. 2012).

– O próprio desenvolvimento das igrejas reformadas que surgiram mostram que, apesar da vida espiritual propalada e vivida durante algum tempo, logo se introduziram práticas que levaram à morte espiritual, em especial a busca de criação de “igrejas estatais”, que ficaram à mercê da vontade dos soberanos europeus que aderiram, muitas vezes por conveniências políticas, à Reforma. Em pouco tempo, as igrejas nascidas da Reforma estavam igualmente sem vida espiritual, tanto quanto a Igreja Romana que, sacudida pelo movimento iniciado por Lutero, tinha se mantido em seus erros doutrinários, que foram reafirmados no Concílio de Trento (1545-1563).

– “…Reis e governantes que se beneficiaram do espírito da Reforma, atribuíram vida nova para os reformistas, eles se engrandeceram e, envaidecidos, pensaram ter conseguido agradar ao Senhor, mas Aquele que tem a totalidade do Espírito fez uma análise mais profunda e viu que o mais importante ficou por fazer, isto é, levar a igreja a um reavivamento espiritual.…” (SILVA, Osmar José da. Reflexões filosóficas de eternidade a eternidade, v.7, p.48).

– Esta insuficiência foi percebida, entre outros, pelo teólogo luterano Philip Jakob Spener (1635-1705), cujos escritos iriam influenciar o chamado “pietismo alemão”, movimento que daria origem ao chamado “avivamento morávio”, que seria uma das correntes que daria origem a uma nova fase na história da Igreja. Spener “…Achava o Cristianismo de sua época muito decadente, pois os pastores e membros de suas igrejas eram muito acomodados e frios com relação à vida espiritual.…”(Philip Jakob Spener. In: WIKIPÉDIA. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Philip_Jacob_SpenerAcesso em 03 abr. 2012). Para Spener, de nada adiantava dizerem que a verdade se encontra na Bíblia, se os crentes não se reuniam para debater e estudar as Escrituras, nem tampouco para orar ao Senhor, coisas que passou a fazer através dos “collegia pietatis” (“grupos da piedade”).

III – O EXAME DAS QUALIDADES DA IGREJA DE SARDES PELO SENHOR JESUS

– Depois que havia feito a análise dos defeitos do pastor de Sardes e da maioria dos crentes daquela igreja local, o Senhor Jesus passa a analisar as qualidades que encontrou naquela igreja. Como já dissemos, nada disse de bom para o pastor de Sardes, porque ele estava espiritualmente morto e, na morte, nada há de bom. Entretanto, como a carta era extensiva à igreja, o Senhor passa a louvar o remanescente fiel, “algumas pessoas que não contaminaram seus vestidos” (Ap.3:4).

– O Senhor Jesus é o Justo Juiz e, portanto, não faz generalizações, nem trata todos como “massa”, como uma multidão informe. Esta é uma grande lição que aprendemos nesta passagem bíblica. Nos dias de hoje, onde as relações são massificadas, é comum generalizar, tratar a todos com “estereótipos”, tratar a todos como “farinha do mesmo saco”. No entanto, não é assim que deve agir um servo do Senhor, um homem de Deus, uma mulher de Deus. Devemos seguir o exemplo de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo que, mesmo diante de uma igreja morta, cuja morte começava no próprio pastor, fez questão de ressaltar que ainda havia “algumas pessoas que não contaminaram seus vestidos” (Ap.3:4).

– Era uma minoria que, talvez, aos olhos daquela igreja se constituía numa insignificância, um grupo que, quiçá, nem sequer era contado ou considerado por aquele pastor, mas que, apesar de seu pequeno número, tinha muito apreço por parte do Senhor, que considerou este grupo “digno de andar com Ele” (Ap.3:4).

– Este grupo era, por primeiro, caracterizado como “algumas pessoas”. Não nos iludamos, amados irmãos: o remanescente fiel é formado por pequenas pessoas. No dia do arrebatamento, a parcela dos crentes que se encontrarão com o Senhor nos ares é diminuta, bem pequena em relação aos que cristãos se dizem ser.

– As estatísticas indicam que, no mundo, atualmente, haveria cerca de 2,180 bilhões de cristãos, ou seja, um terço da população mundial (UM terço da população mundial é cristã, aponta novo estudo. 20  dez. 2011. Disponível em: http://noticias.gospelprime.com.br/um-terco-da-populacao-mundial-e-crista-aponta-novo-estudo/Acesso em 03 abr. 2012), mas não pensemos que, caso Jesus viesse buscar a Igreja neste momento, toda esta multidão se encontraria com Ele nos ares. O número dos que serão arrebatados será muito, mas muito menor do que as estatísticas apontam, pois a grande, esmagadora maioria se compõe de “cristãos nominais”, que têm nome de que vivem, mas que estão espiritualmente mortos. Somente um número bem menor, “algumas pessoas”, mantém-se separado do pecado, não contaminou as suas vestes.

– Por isso, o Senhor Jesus afirmou, em Seu sermão escatológico, que “por se multiplicar a iniquidade, o amor de quase todos se esfriará” (Mt.24:12 ARA). A apostasia, ou seja, o desvio espiritual atingirá “quase todos” os que cristãos se dizem ser. Que Deus nos guarde, amados irmãos, para que façamos parte destas “algumas pessoas” mencionadas e elogiadas pelo Senhor Jesus nesta carta à igreja de Sardes!

– Este grupo era, por segundo, caracterizado como pessoas “que não contaminaram seus vestidos”. Isto nos mostra, com clareza, que se a falta de vigilância tinha sido a porta de entrada para a morte espiritual ocorrida em Sardes, ela somente se consumou com a prática do pecado, pois “o salário do pecado é a morte” (Rm.6:23a), “…o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg.1:15b).

– Aquele grupo, apesar do mau exemplo dado pelo seu líder, que foi seguida pela imensa e esmagadora maioria dos crentes de Sardes, tinha se mantido separado do pecado, tinha se mantido em santidade. A santidade é condição “sine qua non” para que possamos entrar nos céus. Sem a santificação, ninguém verá o Senhor (Hb.12:14). Se quisermos chegar à Jerusalém celestial, temos de sempre lembrar que, como diz a poetisa sacra, a missionária Ingrid Anderson Franson, “no céu não entra pecado” (primeira parte da primeira estrofe do hino 422 da Harpa Cristã).

– Temos de ser santos assim como é santo Aquele que nos chamou (I Pe.1:15), santidade a se verificar em toda a nossa maneira de viver. Aquele pequeno grupo, provavelmente insignificante aos olhos dos demais crentes daquela igreja, havia se comprometido a não se misturar com o pecado, a se manter com as suas vestes sem contaminação e o resultado de tal decisão foi glorioso, pois foram achados dignos de andar com o Senhor Jesus. Somos um dos tais?

– Este grupo, por terceiro, tinha as suas vestes brancas. O Senhor Jesus disse que andariam com Ele “de branco”, ou seja, possuíam vestes brancas, as mesmas vestes que trajava o Senhor Jesus quando visto pelo apóstolo João. Alguém pode dizer que, na descrição feita do Cristo Glorificado, não se menciona a cor dos trajes do Senhor, mas, como o Senhor Se apresentou como sacerdote, sabemos que tais vestes eram brancas, pois as vestes sacerdotais eram desta cor, já que de linho (Ex.39:27).

– O fato de este grupo ter suas vestes brancas, tais quais a do Senhor Jesus, revela-nos que, para nos mantermos santos, temos de seguir o exemplo deixado pelo Senhor em Sua passagem terrena. Devemos “seguir as Suas pisadas” (I Pe.2:21). Todas as vezes em que devemos tomar decisões, praticar alguma ação, devemos proceder como o famoso romance escrito pelo pastor norte-americano Charles Monroe Sheldon (1857-1946) e perguntar a nós mesmos: “Em nossos passos, o que faria Jesus?” Quem seguir o exemplo de Cristo, trajando, deste já, as mesmas vestes espirituais do Mestre, certamente será achado digno de andar com Ele para todo o sempre. Temos de ser imitadores de Cristo (I Co.11:1).

– Se quisermos andar com o Senhor, temos de estar de acordo com Ele, pois não é possível que dois andem juntos se de acordo não estiverem (Am.3:3). Se não imitarmos a Cristo, de modo algum poderemos com Ele andar nem aqui na Terra e muito menos nos céus. Por isso, é imprescindível que nos mantenhamos separados do pecado enquanto vivermos aqui. Temos feito isto?

– Nos dias em que vivemos, onde não há mais padrões a ser seguidos, temos de ter a coragem de permanecer imitando a Cristo, seguindo as Suas pisadas. “…Não existem mais o certo e o errado, o bem e o mal, o que é transgressão a Deus ou não, até porque ‘Deus’ é um conceito relativo, ‘depende do referencial religioso’, diriam alguns de nós. Ode crer que é isso que você, eu, nossos filhos e filhas têm visto nas programações televisivas, nas aulas apreendidas na escola, em algumas pseudoigrejas e na teia das relações interpessoais e institucionais, de maneira que o anormal virou normal e o normal virou anormal, isto é, não existe distinção substantiva entre o normal e o patológico, tudo depende de um ponto-de-vista. Essa é a lição que temos aprendido atualmente. Esse é o ideário relativista da condição pós-moderna. Aonde isso vai nos levar? Não tenha dúvida de que é na negação ‘in totum’ da fé cristã: a apostasia. E, aí, definitivamente, já não viveremos sob o fulcro gracioso da Era Cristã, mas na era dos deuses da pós-modernidade, entre esses, o do relativismo.…” (SANTANA, Uziel. Cristianismo versus pós-modernismo: quem nós éramos? Quem nós somos? Quem nós nos estamos tornando? (3). In: Um cristão do Direito num país torto, p.124).

– Vivemos os dias da apostasia, os dias em que, infelizmente, poucos estão zelando para manter as suas vestes incontaminadas. Pelo contrário, são muitos os que defendem uma vida sem necessidade de santificação, confiados numa “compreensão divina”, numa “bondade ilimitada” da parte de Deus, como se isto fosse possível, como se o Senhor Jesus não continuasse a ser o mesmo que enalteceu a santidade daqueles algumas pessoas que se encontravam em Sardes. Não nos deixemos iludir, até porque, no epílogo do Apocalipse, o Senhor deixa clara uma advertência: “quem é santo, santifique-se ainda” (Ap.22:11). Devemos nos santificar AINDA, ou seja, todo momento, todo instante devemos manter as nossas vestes brancas, para que possamos entrar na cidade pelas portas, pois somente o farão quem for lavado e remido no sangue do Cordeiro (Ap.22:14), ou seja, quem for purificado pelo Senhor com o Seu sangue e se mantiver com as vestes brancas até o dia do arrebatamento (Is.1:18; Ap.7:14).

– Na perspectiva história que se dá às cartas na igreja da Ásia Menor, temos que estas “algumas pessoas que não contaminaram seus vestidos”, foram aqueles que, durante a Reforma Protestante, conseguiram se desvencilhar não só do romanismo, mas também das práticas que impediram maior avanço da própria Reforma.

– Com efeito, ao longo do desenvolvimento do movimento reformador, surgiram grupos diminutos que tiveram a exata compreensão de que o rompimento com as práticas romanistas era apenas o ponto de partida para que se tivesse efetiva comunhão com o Senhor e a retomada do que existia na igreja primitiva.

– Assim, logo começaram a surgir aqueles que viam a necessidade de uma vida de santificação, de uma real conversão a Deus, o que se dá somente mediante o arrependimento dos pecados. Foi esta percepção que fez surgir os “anabatistas”, grupo que percebeu que a ideia do “batismo infantil” não tinha qualquer respaldo bíblico e que somente poderia se batizar quem, tendo consciência de seus pecados, deles pedisse perdão e os confessasse publicamente. Este grupo foi a principal corrente do que acabou sendo chamado de “Reforma Radical”, visto que eles procuravam “retornar às raízes do Evangelho”, tendo como alguns expoentes Georg Blaurock (1491-1529), Conrad Grebel (1498-1526) e Felix Manz (1498-1527).

– Além dos “anabatistas”, tiveram destaque, neste período, os “quakers” que, rompendo com a Igreja Anglicana e seus desvios doutrinários, resolveram pôr-se sob “a inspiração direta do Espírito Santo”, sob o comando de George Fox (1624-1691), como também os
“batistas”, capitaneados pelos ingleses John Smyth (1570-1612) e Thomas Helwys (1550-1616) que, influenciados pelos anabatistas, abandonaram o batismo infantil e adotaram o batismo por imersão, grupo que daria origem à “igreja batista”. A este grupo pertenceu o famoso pregador e escritor John Bunyan (1628-1688), autor de “O Peregrino”, o segundo livro mais vendido no mundo, que perde apenas para a Bíblia Sagrada.

– Por fim, também faz parte deste grupo minoritário mas que manteve a vida espiritual na Igreja o grupo denominado “congregacionalista”, capitaneado por Robert Browne (1540-1630), que defendeu que “…a verdadeira Igreja como o ajuntamento local de cristãos, unidos a Cristo e uns aos outros por pacto voluntário. Assim, cada Igreja local tem Cristo como cabeça imediata, cada uma se autogoverna (submetidas a Cristo), escolhe seus oficiais e cada membro é responsável pelo bem-estar do todo. Nenhuma Igreja tem autoridade sobre outra, mas todas devem se ajudar fraternalmente.…” (Robert Browne. In: WIKIPÉDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_BrowneAcesso em 03 abr. 2012).

– São estes remanescentes os responsáveis diretos pela manutenção do avanço iniciado com a Reforma Protestante e que redundaria no retorno às raízes bíblicas da Igreja em todo o seu esplendor.

IV – AS PROMESSAS DE VITÓRIA FEITAS À IGREJA DE SARDES

– A estrutura da carta endereçada à igreja de Sardes é um tanto quanto diferente das que lhe antecederam. Como vimos, ao contrário das outras cartas, as críticas precedem aos elogios. Além disso, não há uma parte destinada a advertências em separado às críticas e aos louvores, havendo um entrelaçamento entre estas duas partes, que não permite uma distinção. Por isso, ao contrário das demais cartas, não temos uma seção exclusiva de advertências, pois estas foram feitas juntamente com as críticas ao pastor de Sardes, o que também se explica pela morte espiritual daquele, a indicar a urgência para que fosse atendida esta “última chance” que se abria àquela igreja.

– Mas, nesta carta, a exemplo das demais, o Senhor faz sua promessa aos vitoriosos: “O que vencer será vestido de vestes brancas e, de maneira nenhuma, riscarei o seu nome do livro da vida, e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos Seus anjos” (Ap.3:5).

– A primeira promessa aos vitoriosos é de que seriam vestidos com vestes brancas. Na verdade, como já vimos supra, aqueles que não contaminam suas vestes já estão vestidos com vestes brancas, as “vestes de salvação” (Is.61:10) que recebemos como Noiva do Cordeiro. Tais vestes, porém, são apenas interiores, visto que abraçam apenas nossa alma e espírito, “o homem encoberto no coração, no incorrupto trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus” (I Pe.3:4).

– No entanto, a promessa que recebemos aqui do Senhor Jesus é de que este estado parcial e transitório se tornará total e permanente. As vestes brancas atingirão o corpo, que será o corpo glorificado como o do Senhor (Fp.3:21; I Jo.3:2), vestes não mais de uma noiva, mas de uma esposa, vestes de linho puro e resplandecente (Ap.19:7,8).

– Assim como o corpo do Senhor Jesus foi envolvido de um lençol fino e limpo por José de Arimateia (Mt.27:59), lençol branco mas que foi deixado três dias depois no sepulcro (Jo.20:6,7), assim também a Igreja, o corpo místico de Cristo, deixará estas vestes brancas parciais que traja na sua peregrinação terrena para passar a vestir trajes gloriosos para todo o sempre.

– A segunda promessa aos vitoriosos é a de que jamais terão seus nomes riscados do livro da vida. Esta promessa do Senhor Jesus mostra, uma vez mais, que é perfeitamente possível alguém ter seu nome riscado do livro da vida durante a peregrinação terrena. A salvação é uma bênção que pode ser perdida ao longo de nossa existência. “…Nenhum morto tem o seu nome escrito no livro da vida. A doutrina de uma vez salvo, salvo para sempre não condiz com a doutrina bíblica…” (OLIVEIRA, José Serafim de. op.cit., p.24). O Senhor já dissera a Moisés que “…aquele que pecar contra Mim, a este riscarei eu do Meu livro…” (Ex.32:33), numa prova de que é perfeitamente possível que alguém, tendo sido salvo, volte à vida de pecados e, com isso, perca a sua salvação.

– No entanto, uma vez ocorrida a glorificação, último estágio do processo da salvação (Rm.8:30), isto não mais será possível. Aos vencedores está prometida a imutabilidade do estado de salvação, visto que adentraremos na dimensão eterna, sendo como os anjos (Mt.22:30; Mc.12:25), ou seja, jamais podendo perder a comunhão com o Senhor, estando para sempre com o Senhor (I Ts.4:17). Por isso, amados irmãos, vale a pena perseverar até o fim!

– A terceira promessa feita pelo Senhor Jesus aos vencedores diz respeito à confissão do nome de cada vencedor diante do Pai e dos anjos. Quem confessar a Jesus nesta vida, quem permanecer fiel ao Senhor, também terá seu nome confessado diante do Pai e dos anjos pelo Senhor Jesus. Ante a confissão d’Aquele que venceu a morte e o pecado e que tem todo o poder no céu e na terra, seremos admitidos na glória celeste para todo o sempre. Ouviremos o Senhor Jesus dizer ao Pai: “Eis-Me aqui a Mim e aos filhos que Deus Me deu” (Hb.2:13b). “…A presente passagem lembra o que disse Jesus a Seus discípulos: ‘Portanto, qualquer que Me confessar diante dos homens, Eu o confessarei diante de Meu Pai, que está nos céus’ (Mt.10:32)…” (SILVA, Severino Pedro da. op.cit., p.53). Com esta confissão, os vencedores assumirão, de direito, um lugar no céu, passarão a pertencer aos exércitos celestiais. Aleluia!

– A carta termina com a extensão do conteúdo da carta a todas as igrejas, prova de que a necessidade de ser vigilante a fim de se evitar a morte espiritual não era algo restrito a Sardes, nem tampouco algo que falava apenas do período histórico conhecido como “igreja moderna”, mas a todos os crentes: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap.3:6). Como estão os nossos ouvidos espirituais, amados irmãos?

– Como bem diz o pastor Osmar José da Silva (presidente das Assembleias de Deus – Ministério do Belém em Sorocaba/SP): “…Se alguém deixa de praticar o mundanismo, adere a uma igreja, mas fica inerte, sem fazer coisa alguma pela sua santificação, pode estar pensando que está vivo e está morto. Esta igreja de Sardes vivia da aparência, como vivem muitos crentes na atualidade, vida religiosa aparente, mas vida espiritual morta. Mas sempre houve, em todos os tempos, na igreja, um grupo de cristãos sinceros, espirituais, que aguardam a vinda do Senhor. Estes vivem vestidos de vestes brancas, isto é, não se contaminam com a carnalidade, nem vivem inertes, antes têm vida espiritual ativa e obedecem à Palavra de Deus…” (op.cit., pp.48-9). Que sejamos sensíveis à voz do Espírito Santo e passemos a ser um dos tais, sem o que não teremos a vida eterna.

COLABORAÇÃO PARA O PORTAL ESCOLA DOMINICAL – EV. CARAMURU AFONSO FRANCISCO

 

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