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LIÇÃO Nº 3 – NÃO TERÁS OUTROS DEUSES

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Leitura diária – 1º Trim. 2015 – Lição 3: Não terás outros deuses

comentada por: Pr. Marcos Alexandre Ferreira

 O primeiro mandamento manda-nos dar exclusividade na adoração ao Senhor.

INTRODUÇÃO 

– Na sequência do estudo dos dez mandamentos, analisaremos hoje o primeiro mandamento.

– O primeiro mandamento manda-nos dar exclusividade na adoração ao Senhor.

I – QUAL É O PRIMEIRO MANDAMENTO 

– Após duas lições introdutórias, quando estudamos não só as circunstâncias em que foram dados os dez mandamentos, ou “dez palavras” (Decáologo) pelo Senhor a Israel, como também o próprio significado da “lei moral”, inclusive no alcance que se lhes deu o Senhor Jesus, passaremos a analisar um por um os mandamentos dados por Deus nas tábuas de pedra no monte Sinai.

– Antes, porém, de analisarmos os mandamentos, devemos aqui observar que, ao longo da história da Igreja, os mandamentos, tal como se encontram tanto em Ex.20, quando foram dados por Deus a Moisés, como em Dt.5, quando Moisés, em um de seus discursos de despedida os repete ao povo de Israel dalém do Jordão, no deserto, na planície defronte do Mar de Sufe, entre Parã e Tofel, e Labã, e Hazerote, e Di-Zaabe (Dt.1:1), foram como que “sintetizados” em relações que são chamadas de “fórmulas catequéticas”.

– Agostinho, ao estudar os dez mandamentos, acabou por trazer uma enumeração diversa daquela que temos no texto sagrado, enumeração esta que é seguida pela Igreja Romana, que a denomina de “fórmula catequética”, por lhe ter sido muito conveniente, vez que “suprime” o mandamento de proibição de imagens de escultura, inserindo-o no primeiro mandamento, repartindo o décimo mandamento em dois.

OBS: Esta fórmula catequética tornou-se tão tradicional que até mesmo o missionário sueco Nils Kastberg (1876-1978) a adotou nas lições 6 e 7 das Lições Bíblicas do primeiro trimestre de 1938, como se pode verificar nas pp.642-47 do v.1 da Coleção Lições Bíblicas.

– É interessante, porém, observar que o próprio Agostinho não segue a sua fórmula catequética em outros escritos, como nos indica João Calvino, que transcrevemos: “…Orígenes (Homilia sobre o Êxodo VIII,2) transmitiu esta divisão sem controvérsia, exatamente como fora recebida indistintamente em seu tempo.

Sufraga-a também Agostinho (Contra Duas Cartas dos Pelagianos, livro III, capítulo IV) escrevendo a Bonifácio, o qual conserva esta ordem na enumeração: que se sirva ao Deus único com a obediência da religião, que não se adore um ídolo, que não se tome em vão o nome do Senhor, quando antes falara separadamente acerca do mandamento figurativo do Sábado.

Em outro lugar, é verdade, lhe sorri aquela primeira divisão, todavia por uma razão demasiadamente trivial, a saber, que no número ternário (se a primeira tábua se compõe de três mandamentos) tranluz ainda mais o mistério da Trindade. Contudo, nem ali disfarça que, em outros aspectos, que a nossa lhe agrada mais. Além desses, conosco está o autor da obra inacabada acerca de Mateus.(Pseudo-Crisóstomo. Homilia XXXIII) …” (As Institutas ou Tratado da Religião Cristã, v.2, p.139).

– No entanto, quando analisamos os dois textos bíblicos que contêm os dez mandamentos, logo observamos que esta “fórmula catequética” de Agostinho não pode ser seguida.

– Por primeiro, observamos que há uma espécie de “prefácio”, de “apresentação” do Senhor ao Seu povo. O Senhor disse aos israelitas: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex.20:2; Dt.5:6).

– Esta apresentação, entretanto, é considerada pelos judeus como sendo o primeiro mandamento, sendo que Flávio Josefo, no resumo que faz dos mandamentos, pois entendia que eles não poderiam ser proferidos textualmente, indica que o primeiro mandamento é uma mescla desta apresentação com o que consideramos como sendo o primeiro mandamento, assim o enunciando: “Há um só Deus e somente Ele deve ser adorado” (Antiguidades Judaicas III, 4. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.69).

– Não se mostra, porém adequada esta divisão, pois, como diz João Calvino: “…Outros enumeram conosco quatro artigos na primeira tábua, mas em lugar do primeiro mandamento colocam a promessa, sem o preceito.

Eu, porém, porque, a não ser que seja convencido por razão evidente, tomo as ‘dez palavras’ em Moisés como os Dez Mandamentos, e a mim me parece vê-los dispostos precisamente na mais excelente ordem, permitida a eles sua opinião, seguirei o que a mim mais se recomenda, a saber, que o que esses tomam como sendo o  primeiro mandamento, tem o lugar de prefácio à lei como um todo.

Seguem, então, os mandamentos: quatro da primeira, seis da segunda tábua, ordem em que serão considerados.…” (As Institutas ou Tratado da Religião Cristã, v.2, p.139).

– Na apresentação, o Senhor Se identifica ao povo como sendo Yahweh (יחוח), o Deus Autoexistente, Aquele que é o que é (Ex.3:14). Como afirma Russell Shedd: “Antes de Deus nos dar os Dez Mandamentos, nos faz lembrar Quem Ele é, e o que faz por nós” (BÍBLIA SHEDD, nota Ex.20.2, p.102).

É o mesmo pensamento que nos dá Josefo, na sua síntese, que evoca o chamado “Shema”: ‘Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt.6:4), “…a declaração ardente da Unidade ou Unicidade de Deus (…) a oração judaica mais frequentemente pronunciada, a afirmação mais insistente que os devotos fazem desde a infância até a morte…” (AUSUBEL, Nathan. Shema. In: A JUDAICA, v.6, p.783).

– Antes do primeiro mandamento, pois, o Senhor faz questão de mostrar que só Ele é, que só Ele existe por Si mesmo e que, portanto, não se pode ter outros deuses além d’Ele. Deus não só Se apresenta como o único Deus, o único Autoexistente, como também faz questão de mostrar que não Se trata de um Deus ausente, mas, muito pelo contrário, um Deus presente, que quer Se relacionar com o homem e que intervém no curso da história.

OBS: “…101. Qual é o prefácio dos dez mandamentos? O prefácio dos dez mandamentos é: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”.

 Nestas palavras Deus manifesta a sua soberania como JEOVA (Senhor), o eterno, imutável e todo-poderoso Deus, existindo em si e por si, cumprindo todas as suas palavras e obras, manifestando que é um Deus em pacto, com todo o seu povo e com o Israel antigo; que assim como tirou a estes da servidão do Egito, assim nos libertou do cativeiro espiritual, e que, portanto, é nosso dever aceitar a Ele só por nosso Deus e guardar todos os seus mandamentos. Exo. 20:2; Isa. 44:6; Exo. 3:14 e 6:13; At. 17:24, 28; Gen. 17:7; Rom. 3:29; Luc. 1:74- 75 1 Pedro 1:15-18.…” (CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER. Disponível em:  http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm Acesso em 17 nov. 2014).

– Temos aqui, portanto, de pronto, já na apresentação do Senhor antes de propriamente proferir os mandamentos que Deus não só é único como também é um ser que quer Se relacionar com o homem, o que afasta o politeísmo, ou seja, a crença de que há vários deuses, mas também o deísmo, isto é, a crença de que Deus existe mas é ausente, não interfere na história humana nem tampouco na criação, dois conceitos que têm sido adotados por milhões e milhões de seres humanos ao longo da história.

OBS: O Catecismo Romano afirma que “…estas palavras [o prefácio dos dez mandamentos – observação nossa] recordam-nos que o Legislador dos homens é o nosso mesmo Criador, o que nos deu o ser,  de quem essencialmente nós dependemos.

 Com toda verdade e direito podemos repetir as palavras do salmista: ‘Porque Ele é o nosso Deus, e nós, povo do Seu pasto e ovelhas de Sua mão’ (Sl.95:7). Sua assídua e sentida repetição bastará para engendrar em nossos corações um profundo respeito à lei e uma pronta e generosa renúncia ao pecado…” (Catecismo Romano, n. 3000. Cit. Ex.20:1-3. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 17 nov. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).

 – Deus apresenta-Se para o povo como Aquele que tirou Israel da servidão. Deus não só intervém no curso da história humana, como também Aquele que tem por objetivo tirar o povo da servidão. Ainda que o Senhor esteja Se referindo ao episódio da libertação de Israel do Egito, podemos aplicar esta afirmação

divina para toda a humanidade, pois a meta de Deus é livrar o homem da escravidão do pecado, como, aliás, disse o Senhor Jesus, ao afirmar que somente Ele pode nos livrar de tal escravidão (Jo.8:34-36).

OBS: “…Esta segunda expressão literalmente se refere só aos judeus, resgatados da escravidão do Egito, mas, espiritualmente, tem uma realização muito mais verdadeira em todos os remidos, que fomos libertados por Deus não de uma escravidão terrena, mas, sim, do jugo do pecado, do poder das trevas e trasladados para o reino do Filho do Seu amor (Cl.1:13).

Com espírito profético, exaltou Jeremias  grandeza desta libertação espiritual: Portanto, eis que dias vêm, diz o Senhor, em que nunca mais se dirá: Vive o Senhor, que fez subir o filhos de Israel da terra do Egito; mas: vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do norte, e de todas as terras para onde os tinha lançado; porque Eu os farei voltar à sua terra, que dei a seus pais.

 Eis que mandarei muitos pecadores, diz o Senhor (Jr.16:14-16). O Pai nos reuniu em um, por meio de Seu Filho,  a todos os filhos de Deus que estavam dispersos (Jo.11:52), para que não sejamos escravos do pecado, mas, sim, servos da justiça (Rm.6:17), para que  O sirvamos  em santidade ou justiça em Sua presença em nossos dias (Lc.1:74,75) …”(Catecismo Romano, n.3000. Cit. Ex.20:1-3. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 17 nov. 2014).

            “…Nós, porém, para que não pensemos que isso nada tem a ver conosco, nos convém considerar ser a servidão de Israel no Egito um tipo do cativeiro espiritual em que todos nos vemos retidos, até que, libertados pelo poder de seu braço, o celeste vingador nos traslada para o reino da liberdade.

Portanto, da mesma forma que, como quisesse recongregar ao culto de seu nome os israelitas outrora transviados, os livrou da intolerável dominação de faraó, pela qual eram oprimidos, assim àqueles a quem hoje professa ser ele o seu Deus, a todos esses já o livra do mortal poder do Diabo, o que foi tipificado naquela servidão corporal.…( CALVINO, João. op.cit., p.141).

– Não é por outro motivo, aliás, que os mestres judeus entendem que a verdadeira libertação de Israel se deu precisamente no monte Sinai, quando Israel recebeu a lei, “in verbis”:

“…Os Sábios Rabínicos, desejos de imprimir uma significação religiosa mais elevada a esse feriado ligado à colheita, concluíram que a saída dos israelitas do cativeiro no Egito representara, na realidade, apenas um prelúdio para a sua libertação e não a libertação em si, pois os antigos escravos não podiam ser considerados realmente livres, diziam os Rabis num espantoso paradoxo, até que tivessem resolvido a adotar voluntariamente o ‘jugo da Torah’, que os conduziria à plena libertação.

Foi a aceitação jubilosa desses verdadeiros ‘grilhões da liberdade’ em Shavuot [a “festa das semanas” – observação nossa], diziam eles, que transformou aquele dia santo em data comemorativa da libertação de Israel da escravidão da mente e do espírito…” (AUSUBEL, Nathan. Shavuot. In: A JUDAICA, v.6, p.777) (destaques originais).

– Logo no limiar das “dez palavras”, o Senhor faz questão de mostrar que a lei que era dada não representava uma tirania, uma opressão, mas, bem ao contrário, era a própria consagração da liberdade, pois o homem somente é livre quando faz a vontade de Deus, quando abandona a mentira satânica da “autonomia” em relação a Deus e resolve se submeter ao Senhor, cumprir aquilo que Deus, como o Senhor de todas as coisas, determina, algo que somente Cristo poderia implantar nos corações dos homens, o que ocorreria tão somente com o novo concerto que foi profetizado por Jeremias (Jr.31:31-33).

 É por isso que, quando recebemos o Senhor Jesus em nossos corações, automaticamente passamos a cumprir os mandamentos, e no seu legítimo e devido alcance, porque fomos resgatados da escravidão do pecado. Aleluia!

– O Senhor Jesus, no Seu diálogo com o mancebo de qualidade, também, antes de perguntar àquele jovem se ele cumpria os mandamentos, fez questão de lembrá-lo de que só Deus é bom (Mt.19:17), como a indicar que os preceitos divinos são resultado da bondade divina, do propósito que Deus tem de sempre querer o bem do ser humano, ainda que este esteja d’Ele separado pelo pecado (Is.59:2). É o “querer bem” de Deus, a Sua benignidade que se sobressai neste prefácio, nesta apresentação do Senhor ao Seu povo antes da enunciação dos dez mandamentos.

OBS: “…Deus se faz conhecer recordando sua ação todo-poderosa, benigna e libertadora na história daquele a quem se dirige: “Eu te fiz sair da terra do Egito, da casa da escravidão” (Dt 6,13-14). A primeira palavra contém o primeiro mandamento da lei: “Adorarás o Senhor, teu Deus, e o servirás. (…) Não seguireis outros deuses” (Dt 6,13-14). O primeiro apelo e a exigência justa de Deus é que o homem o acolha e o adore.…” (§ 2084 CIC).

– Os mandamentos foram dados a Israel, dentro da benignidade divina, como um aio, como um caminho para que eles pudessem aguardar o Messias (Gl.3:23,24), que haveria de encrustar estes mandamentos nos corações dos israelitas, uma vez que o povo de Israel não se encontrava ainda em condições de receber a promessa dada a Abraão, algo que os próprios israelitas admitiram no instante em que se recusaram a subir o monte Sinai, como havia sido determinado, como diz o próprio Moisés ao repetir o Decálogo no livro de Deuteronômio:

 “…Naquele tempo eu estava em pé entre o Senhor e vós, para vos notificar a palavra do Senhor; porque temestes o fogo, e não subistes ao monte…” (Dt.5:5).

– Nós, que recebemos a Cristo como nosso Senhor e Salvador (Jo.1:14,13), temos este privilégio de ser derramado, em nossos corações, o amor de Deus pelo Espírito Santo (Rm.5:5) e, por isso, podemos cumprir os mandamentos, que revelam a extrema benignidade e bondade de Deus para conosco, cumprindo-os em todo o seu alcance, razão pela qual nossa justiça supera a dos escribas e fariseus (Mt.5:20).

– A consciência de quem é Deus e de quais são os propósitos d’Ele em relação ao ser humano é indispensável para que compreendamos os dez mandamentos e a sua correta extensão e alcance, pois.

II – O PRIMEIRO MANDAMENTO 

– Ora, diante do que já falamos, temos que o primeiro mandamento é, portanto, aquele que se encontra em Ex.20:2 e Dt.5:7, a saber: “Não terás outros deuses diante de Mim”.

– O primeiro mandamento diz respeito à adoração única e exclusiva ao Senhor. Não podemos ter outros deuses. Nosso único Senhor é Deus. Somente a Ele podemos servir. Israel aprendera que o único e verdadeiro Deus era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, como puderam verificar durante as pragas no Egito, quando todos os deuses egípcios foram mostrados como vaidades, como ilusões.

 O Senhor Jesus reafirmou este mandamento quando, tentado pelo diabo, afirmou que somente a Deus podemos adorar e dar culto (Mt.4:10), como também, no sermão do monte, mandou-nos buscar primeiramente o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33).

OBS: “A adoração é o primeiro ato da virtude da religião. Adorar a Deus é reconhecê-l’O como Deus, como o Criador e o Salvador, o Senhor e o Dono de tudo o que existe, o Amor infinito e misericordioso. “Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a Ele prestarás culto” (Lc 4,8), diz Jesus, citando o Deuteronômio (6,13).” (§ 2096 CIC).

– “…O fim deste mandamento é que Deus quer ser o único a ter a preeminência em seu povo e nele exercer seu direito em plena medida. Para que isso aconteça, ordena que estejam longe de nós a impiedade e toda e qualquer superstição, em virtude da qual ou se diminui ou se obscurece a glória de sua divindade.

 E, pela mesma razão, prescreve que o cultuemos e o adoremos com o verdadeiro zelo da piedade. E a própria simplicidade das palavras soa quase que isto, porquanto não podemos ter Deus sem que, ao mesmo tempo, abracemos as coisas que lhe são próprias. Portanto, o fato de proibir que tenhamos deuses estranhos, com isto significa que não devemos transferir para outrem o que lhe é exclusivo.…” (CALVINO, João. op.cit., p.142).

– Como afirma o Catecismo Romano, “…as palavras do primeiro mandamento contêm um preceito duplo: um positivo, pois Deus, ao proibir ao homem criar outros deuses, positivamente manda que seja dado a honra e o respeito devidos a Ele, o único Deus verdadeiro; e outro negativo, contido na expressão mesma: Não terás outros deuses senão a Mim…” (n.3100. Cit. Ex.20:1-3. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 17 nov, 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Assim, temos que este mandamento, em primeiro lugar, lembra o povo de Israel que há apenas um Deus, o único e verdadeiro Deus, que é este Deus que livrou Israel da servidão do Egito e que mostrou, com absoluta clareza, quando das dez pragas, que os deuses criados pela imaginação humana são ilusões, simplesmente não existem. Deste modo, só Ele pode ser adorado, só Ele merece a nossa reverência, honra e obediência.

– Foi precisamente isto a que o Senhor Se referiu, quando, tentado pelo diabo, disse que somente podemos adorar ao Senhor e Lhe servir (Mt.4:10; Lc.4:8). Devemos reconhecer que o Senhor é o único Ser autoexistente e que, portanto, só a Ele podemos dignamente dar honra, louvor e obediência.

– O que se depreende do primeiro mandamento, portanto, é que nós devemos adorar exclusivamente ao Senhor e adorar, como bem sabemos, significa reconhecer a soberania e o senhorio de Deus, reconhecer que somos Seus servos e que só nos cabe cumprir a Sua vontade. Adoração é reconhecimento de autoridade, de senhorio e de soberania.

OBS: “Adorar a Deus é, no respeito e na submissão absoluta, reconhecer “o nada da criatura”, que não existe a não ser por Deus. Adorar a Deus é, como Maria no Magnificat, louvá-l’O, exaltá-l’O e humilhar-se a si mesmo, confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas e que Seu nome é santo. A adoração do Deus único liberta o homem de se fechar em si mesmo, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo” (§ 2097 CIC).

– Para adorar a Deus, devemos, pois, pôr em prática, em nossas vidas, as chamadas “três virtudes teologais”, ou seja, aqueles hábitos que são introduzidos em nós pelo Espírito Santo, a saber: a fé, a esperança e o amor (I Co.13:13).

 “…Em realidade, se reconhecemos  a Deus como é, quer dizer, eterno, imutável, sempre igual a Si mesmo, afirmamos com isso Sua infinita veracidade e, por conseguinte, a obrigação de aceitar Suas palavras e aderimos a Seus preceitos com plena fé e reconhecimento de Sua autoridade. Se reconhecemos, ademais, a Sua onipotência, Sua bondade, Seus benefícios, como não colocar n’Ele nossa ilimitada confiança e esperança?

 E se Ele é a infinita bondade e o infinito amor derramado sobre nós, como não oferecer-Lhe todo nosso amor?…” (Catecismo Romano, n. 3100. Cit. Ex.20:1-3. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 17 nov. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).

– ‘…Mas, ainda que sejam inúmeras as coisas que devemos a Deus, contudo a quatro tópicos se podem muito bem mencionar: Adoração, a que se anexa como um apêndice a obediência espiritual da consciência, confiança, invocação e ação de graças. Chamo adoração a veneração e o culto que qualquer um de nós lhe rende, quando se lhe submete à grandeza.

 Por isso, não improcedentemente, incluo à adoração a submissão de nossa consciência à sua lei. Confiança é a segurança de nele descansar, em virtude do reconhecimento de seus predicados, quando, atribuindo-lhe toda sabedoria, justiça, poder, verdade, bondade, reconhecemos que somos bem-aventurados somente em sua comunhão.

Invocação é o recurso de nossa mente à sua fidelidade e assistência, como ao sustentáculo único, sempre que alguma necessidade insiste. Ação de graças é a gratidão com que se lhe atribui o louvor de todo bem.… (CALVINO, João. op.cit., p.142) (destaques originais).

– “…A segunda parte do mandamento: ‘não terás outros deuses diante de Mim’, expressa uma mesma obrigação moral, já claramente contida no preceito positivo de adorá-l’O como o único Deus verdadeiro; Deus não pode ser mais do que um.

Porém, fez-se necessária a explícita proibição pela ignorância religiosa de muitos povos antigos que, adorando o verdadeiro Deus, pretendiam, ao mesmo tempo, manter o culto de outras muitas falsas divindades. Os próprios hebreus caíram facilmente na idolatria, tendo que intervir energicamente os profetas para defender a pureza monoteísta do culto israelita.

 Elias os lançará em rosto  asperamente seu ‘coxear entre dois pensamentos’ (I Rs.18:21). Mais tarde, os samaritanos adorariam simultaneamente ao Deus de Israel e aos deuses do paganismo…” (Catecismo Romano, n. 3100. Cit. Ex.20:1-3. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 17 nov. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Assim, o preceito dito negativo deste mandamento visava, sobretudo, proibir a “monolatria”, ou seja, a adoração a Deus mas mediante o reconhecimento da existência de outros deuses, prática que não é desconhecida em nossos dias, porquanto, ainda que muitos admitam a existência do único e verdadeiro Deus, também querem reconhecer a existência de outros deuses, fruto da imaginação humana, ou, o que é pior, chegam a servir a outros deuses, embora digam haver apenas um Deus.

– Como diz João Calvino: “…Como o Senhor não pode consentir que nenhuma destas coisas seja atribuída a alguém além dele, assim ordena que tudo seja aplicado inteiramente a ele. Ora, nem será suficiente abster-te de um deus estranho, a não ser que te refreies exatamente do que certos desprezadores nefários costumam fazer, a quem o máximo proveito é ter em zombaria todas as religiões.

Com efeito, importa que se anteponha a verdadeira piedade, em virtude da qual as mentes se volvam para o Deus vivo, imbuídas de cujo conhecimento, aspirem a contemplar, a temer, a adorar-lhe a majestade, a abraçar a comunicação de suas bênçãos, a buscar-lhe em tudo a assistência, a reconhecer e celebrar com a confissão do louvor a magnificência de suas obras, como o escopo único em todas as ações da vida.

Então, precavenha-se a superstição da impiedade pela qual as mentes alienadas do Deus verdadeiro são arrastadas, para cá e para lá, em busca de deuses vários. Daí, se estamos contentes com o Deus único, recordemos o que foi dito antes que devem ser alijados para bem longe todos os deuses fictícios, nem se deve cindir o culto que ele reivindica para si com exclusividade, pois que nem é seguro detrair-lhe da glória, mesmo que seja uma mínima porção, quando nele devem permanecer todas e quaisquer coisas que lhe são exclusivas.…”(op.cit., pp.142-3).

– Este mandamento não se encontra no primeiro lugar por acaso. Ele é fundamental para todo relacionamento entre Deus e o homem. Se não reconhecermos a soberania divina, jamais poderemos ter o correto relacionamento com o Senhor. Se não admitirmos que d’Ele dependemos integralmente e que só Ele é e que devemos, por isso, adorá-l’O, jamais poderemos ser Seus filhos, jamais poderemos conviver com Ele eternamente.

– Tomás de Aquino assim justifica este mandamento como primeiro: “…É próprio da lei fazer bons aos homens. E, por isso é conveniente que os preceitos da lei se ordenem segundo a ordem de geração, pela qual o homem se vai fazendo bom.

E na ordem de geração há que ter em conta dois aspectos: primeiro, que se forme em primeiro lugar a parte principal, como na geração do animal o primeiro que se forma é o coração e, ao edificar uma casa, o primeiro são os alicerces. E, na bondade da alma, a parte principal é a bondade da vontade, por que o homem usa bem de qualquer outra bondade.

 Ora: a bondade da vontade se mede por seu objeto, que é o fim. Por isso, foi necessário pôr, em primeiro lugar, no homem, que pela lei será formado na virtude, como uma espécie de fundamento da religião, pela qual se ordena devidamente a Deus, que é o fim último da vontade humana.

 Um segundo aspecto que há de ter-se em conta na ordem de geração é que há de se eliminar primeiro os obstáculos e impedimentos: assim como  o lavrador que limpa antes o campo e depois espalha a semente, segundo lemos em Jr.4:3: Lavrai para vós o campo de lavoura e não semeeis entre espinhos.

 Por isso, a primeira instrução que o homem devia receber em matéria religiosa tinha que ser sobre o modo de evitar os obstáculos da verdadeira religião E o principal obstáculo da religião é adorar a um deus falso, segundo expressão de Mt.6:24: Não podeis servir a Deus y às riquezas. Por isso mesmo, no primeiro preceito da lei se proíbe o culto dos deuses falsos.…” (Suma Teológica II-II q.122 a.2. n. 2442. Cit. Ex.20:1- 3. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 17 nov. 2014). (tradução nossa de texto em espanhol).

– Não é à toa que o apóstolo Paulo vai estabelecer como ponto de partida de toda a impiedade e injustiça dos homens o desconhecimento de Deus, que nada mais é que o desprezo da soberania divina, a recusa em Lhe dar a devida honra e glória, razão pela qual a humanidade se permite mudar a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem do homem corruptível, ou seja, cria outros deuses, a quem passa a adorar, embora sejam criações da sua própria imaginação (Rm.1:18-23).

OBS: “…Nossa vida moral encontra sua fonte na fé em Deus, que nos revela seu amor. S.Paulo fala da “obediência da fé” como da primeira obrigação. Ele vê no “desconhecimento de Deus” o princípio e a explicação de todos os desvios morais. Nosso dever em relação a Deus consiste em crer n’Ele e em dar testemunho d’Ele.” (§ 2087 CIC).

III – O DESCUMPRIMENTO DO PRIMEIRO MANDAMENTO

– Soa intuitivo que o descumprimento do primeiro mandamento configura o que denominamos de “idolatria”, que nada mais é que, na célebre definição de Agostinho:  “qualquer elemento que ocupa o lugar que pertence a Deus”.

– O “ídolo” nada mais é que qualquer coisa que é colocada no lugar devido única e exclusivamente ao Senhor. Só há um Deus e só Ele pode ser adorado, de modo que tudo que nós pusermos no lugar de Deus, será um deus que será gerado por nós mesmos, o que representará a violação do primeiro mandamento.

– Entendemos, então, porque o apóstolo Paulo, ao falar da idolatria aos coríntios, diz o seguinte: “…o ídolo nada é no mundo, e que não há outro Deus, senão um só. Porque, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu, quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por ele.” (I Co.4-6).

– Se somente Deus existe por Si mesmo, tudo quanto for considerado pelo homem como um deus é algo que não existe, é pura ilusão, sem qualquer existência e é precisamente aí que reside a gravidade da idolatria: o homem se submete a uma ilusão, a um nada em vez de se submeter ao Senhor de todas as coisas, ao Autoxistente.

Recusa-se a adorar a Deus para servir a obra de sua imaginação. Trata-se, portanto, de um inadmissível aviltamento do Ser Supremo, de uma grande indignidade. É a redução de Deus a nada, algo que viola totalmente a ordem natural das coisas, estabelecida pelo próprio Senhor.

– Como afirmou o romancista norte-americano David Foster Wallace (1962-2006), citado pelo pastor presbiteriano Ricardo Agreste em uma série de palestras sobre os dez mandamentos: “…Pois aqui está outra coisa que é verdadeira. Nas ‘trincheiras’  do dia a dia da vida adulta,  não existe tal coisa como o ateísmo.  Não existe tal coisa como a não adoração.

Todo mundo adora algo. A única alternativa que temos é o que adorar.…” (Os 10 Mandamentos – as palavras da liberdade. Arquivos – 1ª Palavra Slide 18. Disponível em: http://www.chacaraprimavera.org.br/serie-de-palestras/os-10-mandamentos-palavras-de-liberdade/os-10- mandamentos-palavras-de-liberdade-dp1 Acesso em 17 nov. 2014).

– O homem tem de adorar algo e, se não for o único e verdadeiro Deus, será algum ídolo, algo que ocupe o lugar de Deus na sua vida. E, ao fazê-lo, estará, indubitavelmente, quebrando o primeiro mandamento.

– Foi o que fez Israel quarenta dias depois de ter recebido na lei no monte Sinai, ao fabricar o bezerro de ouro e dizer solenemente que aquela imagem era o Deus que o havia tirado do Egito (Ex.32:8), motivo por que o Senhor sempre indaga o Seu povo desde então: “Oferecestes-Me vós sacrifícios e oblações no deserto por quarenta anos, ó casa de Israel?” (Am.5:25; At.7:42 “in fine”).

– A idolatria apresenta-se, portanto, como a violação do primeiro mandamento, que é o ocupar o lugar de Deus com qualquer outra coisa. Assim, não estamos aqui a falar de uso de imagens, algo que diz respeito ao segundo mandamento, que será estudado na próxima lição, mas algo muito mais profundo, qual seja, o de ocuparmos o lugar de Deus com outras coisas, que são nada, já que Deus é o único Autoexistente.

– Neste aspecto, o primeiro ídolo que exsurge é o próprio “eu”, ou seja, nós mesmos. Foi a este ídolo que Satanás levou o primeiro casal a adorar: “Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.

E, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela” (Gn.3:4-6).

– O homem pôs-se no lugar de Deus, quis ser igual a Deus e, por isso, pecou. Tornou-se um ególatra, ou seja, um adorador de si mesmo. Este ídolo é o mais difícil de ser combatido, pois ele sempre está conosco, não se trata de uma imagem que pode ser simplesmente descartada.

É este o principal ídolo de toda a humanidade perdida e que, como nunca, nestes dias finais da dispensação da graça, manifesta-se, como nos dá conta o apóstolo Paulo, “in verbis”: “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos…” (II Tm.3:1,2).

– Outro ídolo que, nestes nossos dias, tem sido alvo de intensa adoração são as riquezas, o dinheiro, chamado pelo Senhor Jesus de Mamom (Mt.6:24; Lc.16:13). Aliás, o Senhor foi bem explícito ao dizer: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom”.

O apóstolo Paulo, também, foi claro ao afirmar: “Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (I Tm.6:10).

– As riquezas sempre alvo de adoração pelos homens ao longo da história, mas, nestes dias em que vivemos, isto sem se intensificado grandemente. O materialismo predominante faz com que a adoração a Mamom aumente a cada dia mais, inclusive entre os que cristãos dizem ser, tanto que a teologia da prosperidade tem angariado milhões e milhões de adeptos, não sendo tal falsa doutrina senão a adoração às riquezas, adoração esta que chega ao cúmulo de colocar o Senhor Jesus como mero instrumento de obtenção de Mamom.

– Esta tão triste situação foi prenunciada pelo Senhor Jesus que, ao mandar João escrever uma carta à igreja de Laodiceia, figura da igreja apóstata, da igreja que será deixada na Terra no dia do arrebatamento da Igreja, bem demonstrou que esta sensação de autossuficiência decorrente da adoração das riquezas é a primeira característica da apostasia espiritual dos últimos dias da presença da Igreja sobre a face da Terra. Com efeito, a expressão primeira daquele pastor e de sua igreja é: “Rico sou e de nada tenho falta” (Ap.3:17).

– Mas há um outro ídolo que tem sido tenazmente adorado em nossos dias: o prazer. Vivemos dias em que prevalece o “hedonismo”, que nada mais é que “…uma teoria ou doutrina filosófico-moral que afirma ser o prazer o supremo bem da vida humana…” (Hedonismo. In: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hedonismo Acesso em 17 nov. 2014). As pessoas, hoje em dia, buscam o prazer a todo custo. Não se importam senão em satisfazer os seus desejos, sem se importar se eles correspondem, ou não, à vontade de Deus.

– Isto se reflete, inclusive, entre os que cristãos se dizem ser. Quantos não estão querendo, em seus supostos cultos a Deus, terem “prazer espiritual”? Quantos não estão em busca de emoções, de frenesis, de um “bem- estar” puramente emocional e, por causa disto, correm de um lado para outro para “se sentirem bem” na sua adoração a Deus? Na verdade, não estão a adorar a Deus, mas, sim, ao prazer. Quantos não dizem que, simplesmente, querem ser “felizes”, pouco importando se tal “felicidade” corresponde à vontade do Senhor?

– Outro terrível ídolo que tem sido adorado em nossos dias tem sido a “beleza física”, o próprio corpo. Quantos não têm passado a adorar a forma física, um certo modelo de corpo (os “corpos sarados”, os “corpos malhados” etc.) e, para tanto, se tornado escravos de padrões impostos pela mídia, pelo mundo da moda, desprezando, por completo, a interioridade das pessoas, para se firmar apenas na aparência física?

 Quantos não têm se tornado escravos destes modelos e padrões impostos à sociedade? Quantos não têm comprometido as suas próprias vidas em busca deste ideal estético?

– Outro ídolo que se tem levantado é o “sucesso”, a “fama”. Muitos têm buscado se tornar “celebridades”, querendo eles próprios se tornar “ídolos” das pessoas. Aliás, assim são chamadas tais pessoas pela sociedade. Como é triste vermos que, entre cristãos que se dizem ser, há muitos “cantores” e “pregadores”, que são verdadeiros “ídolos”, tendo, inclusive, “fãs-clubes”.

Estes próprios “ídolos”, porém, são, eles próprios, idólatras, na medida em que têm a “fama” e o “sucesso” como seu principal e primordial objetivo na vida, não sendo, pois, surpresa que muitos deles acabem tendo finais de vida trágicos, a revelar o grande vazio que têm em suas vidas, já que procuram ocupar com a “fama” e o “sucesso” o lugar que somente pode ser preenchido por Deus.

– Por fim, um ídolo igualmente perigoso e muito adorado é o “poder”, seja ele o poder político, o poder econômico-financeiro ou o poder social. O homem, no seu afã de ser igual a Deus, almeja ter poder e domínio sobre outras pessoas e este domínio passa a ser um ídolo, passa a ser algo que é contínua e ininterruptamente buscado.

Na sua vaidade e ganância, não entende o homem que todo o poder é constituído por Deus e que somente o Senhor tem o controle absoluto sobre todas as coisas. A dura experiência de Nabucodonosor (Dn.4) precisa ser entendida por todos quantos têm posição de domínio nas sociedades humanas.

– Todas estas atitudes, tão corriqueiras e comuns em nossos dias, inclusive entre os que cristãos se dizem ser, constituem-se em nítido descumprimento do primeiro mandamento. Nenhum idólatra herdará o reino de Deus (I Co.6:10). O destino reservado aos idólatras é o lago de fogo e enxofre (Ap.21:8), é ficar do lado de fora da cidade celestial (Ap.22:15). Será que temos cumprido o primeiro mandamento? Pensemos nisto! 

– Mas, além da idolatria, temos, também, como manifestação de descumprimento do primeiro mandamento o ocultismo, que foi muito bem definido pelo professor de teologia católico romano Felipe Aquino como “… uma vontade de poder sobre o tempo, sobre a história e, finalmente, sobre os homens, ao mesmo tempo que um desejo de ganhar para si os poderes ocultos…” (Primeiro Mandamento: ‘Amarás a Deus sobre todas as coisas’. Disponível em: http://cleofas.com.br/primeiro-mandamento-amar-a-deus-sobre- todas-as-coisas/ Acesso em 17 nov. 2014).

– Sempre que alguém recorre a “poderes ocultos” para ter conhecimento sobre o futuro ou sobre coisas sobrenaturais, está buscando outros deuses, está aceitando a ideia de que existem outros poderes além de Deus que podem lhe trazer “poder”, “conhecimento oculto”. Destarte, insere-se na violação do primeiro mandamento condutas como a superstição, a magia, o espiritismo, o recurso a Satanás ou aos demônios para consultar o futuro, consulta a horóscopos ou videntes.

– “…A superstição é o desvio do sentimento religioso. É acreditar por exemplo em sorte dada por uma ferradura colocada na porta, sal grosso para espantar maus espíritos, etc.…” (AQUINO, Felipe. end.cit.). Vemos, pois, amados irmãos, que as práticas levadas a efeito, na atualidade, por denominações neopentecostais (infelizmente, seguidos por muitos em nossa própria denominação na atualidade…), como a de usar “amuletos” para “materialização da fé”, nada mais são que práticas que representam descumprimento do primeiro mandamento.

– Também se constitui em prática que configura o descumprimento do primeiro mandamento a feitiçaria, igualmente bem definida pelo professor Felipe Aquino como sendo a prática em que “…a pessoa pretende domesticar os poderes ocultos, para colocá-los a seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo – mesmo que seja para proporcionar a este a saúde…” (end.cit.).

– Como bem diz o mesmo professor romanista: “…O grande pecado é colocar Deus em segundo lugar, trocar o amor do Criador pelo das criaturas. Quem ama a Deus, obedece seus mandamentos e cumpre a sua santa vontade.” (end.cit.). Será que temos cometido esta falta? Pensemos nisto!

IV – O ALCANCE DADO PELO SENHOR JESUS A ESTE MANDAMENTO 

– Em resposta a um doutor da lei, o Senhor Jesus disse: “…Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento” (Mt.22:37,38).

– Vemos, portanto, que, ao analisar o primeiro mandamento, o Senhor Jesus lhe deu o seu correto alcance, a sua devida extensão, qual seja, a do “amor a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu pensamento”.

– Ao assim afirmar, o Senhor Jesus mostrou que somente podemos cumprir o primeiro mandamento se realmente amarmos a Deus. Ora, nosso amor a Deus é a reação que temos pelo Seu amor por nós. Como diz o apóstolo João: “nós O amamos porque Ele nos amou primeiro” (I Jo.4:19).

– Portanto, somente podemos amar a Deus se reconhecermos o amor que Deus demonstrou por nós, ou seja, se crermos em Cristo Jesus como nosso Senhor e Salvador, como Aquele que morreu por nós na cruz do Calvário para nos resgatar, pois esta é a prova do amor de Deus para conosco (Rm.5:8).

– O amor a Deus deve começar por um amor “de todo o coração”, pois é o coração quem crê que Deus ressuscitou Cristo Jesus dos mortos, crença esta decorrente do acolhimento da Palavra de Deus em nosso coração (Rm.10:8,9). É por isto que a entrada na graça de Deus se dá pela fé (Rm.5:2), que é a primeira virtude teologal. Por isso, o escritor aos hebreus é bem claro ao afirmar que sem fé é impossível agradarmos a Deus (Hb.11:6).

– Mas o amor a Deus não se esgota na crença do coração, no “amar a Deus de todo o coração”. Torna-se, também, necessário que se “ame a Deus de toda a alma” e isto nada mais é que o “negar-se a si mesmo” de que fala o Senhor Jesus como requisito para que nós O sigamos (Mc.8:34; Lc.9:23).

– Somente quando nos negamos a nós mesmos, renunciamos ao nosso “eu”, que, como vimos, é o mais terrível de todos os ídolos, podemos nos unir ao Senhor e, deste modo, amá-l’O de toda a alma, pois nos tornaremos um com Deus, que é o objetivo de toda a missão salvífica do Senhor Jesus (Jo.17:20-23).

– Para sermos um com o Senhor, devemos nos negar a nós mesmos, assim como o Senhor Jesus Se negou a Si mesmo para ser um com o Pai, fazendo-Lhe a vontade (Jo.4:34; 17:4; Fp.2:5-8). O verdadeiro adorador do Senhor é aquele que faz a vontade de Deus e, por isso mesmo, permanece para sempre, i.e., tem a vida eterna (I Jo.2:17).

Não é por outro motivo, aliás, que o Senhor Jesus disse que a vida eterna nada mais é que conhecer ao Pai como único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, que por Ele foi enviado (Jo.17:3), ou seja, ter cumprido o primeiro mandamento.

– Mas não se esgota aí o amor devido a Deus e que se constitui no alcance do primeiro mandamento. Faz-se mister que se ame a Deus “de todo o pensamento”, ou seja, que o homem passe a ter a “mente de Cristo”, passe não a agir segundo a sua razão, a lógica humana, mas, bem ao revés, a agir com um intelecto totalmente dependente de Deus, mesmo que isto pareça loucura aos padrões humanos.

 – O amar a Deus de todo o pensamento significa colocar-se como cativo do Senhor, levar tudo à obediência de Deus, mesmo que isto nos seja incompreensível e, por vezes até, irracional. Quando abandonamos as nossas próprias razões, os nossos próprios pensamentos e passamos a agir segundo a direção e a orientação divinas, estaremos a amar a Deus completamente, sendo, deste modo, verdadeiros e genuínos adoradores.

– Nos dias em que a razão humana se quer sobrepor ao próprio Deus, nos dias em que o homem acha poder tudo entender e compreender, temos que o primeiro e grande mandamento é exatamente reconhecer que a mente humana é demasiadamente limitada e não pode querer dar conta de todas as coisas.

Deus jamais poderá ser compreendido, mas, como disse, certa feita, Agostinho, Deus não é para ser compreendido, mas, sim, adorado e, para tanto, mister se faz que nós O amemos de todo o nosso pensamento.

– Amar a Deus é, portanto, muito mais que um simples sentimento, mas uma conduta, um comportamento segundo o qual nós cremos que Deus nos salva mediante o sacrifício vicário de Cristo, que temos de nos negar a nós mesmos para segui-l’O e que não temos de compreendê-l’O, mas, sim, seguir-Lhe a vontade em todos os aspectos de nossa vida.

– É este o verdadeiro alcance do primeiro mandamento. É isto que o Senhor Jesus exige de nós. Estamos dispostos a obedecer-Lhe?

 Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/1T2015_L3_caramuru.pdf

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