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Lição 4 – Não farás imagens de esculturas

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O segundo mandamento proíbe qualquer uso de bens materiais para adoração.

Leitura diária – 1º Trim. 2015 – Lição 4: Não farás imagens de esculturas

Comentada por:

Profº Humberto Bezerra

 

INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo dos dez mandamentos, analisaremos o segundo mandamento, que proíbe fazer imagens de escultura.

– O segundo mandamento proíbe qualquer uso de bens materiais para adoração.

I – QUAL É O SEGUNDO MANDAMENTO

– Na sequência do estudo dos dez mandamentos, analisaremos o segundo mandamento, que proíbe fazer imagens de escultura.

– Consoante vimos na lição anterior, a divisão dos dez mandamentos é feita diferentemente entre os estudiosos das Escrituras Sagradas. Os mestres judeus costumam considerar como primeiro mandamento o que é, na verdade, o prefácio dos mandamentos, a apresentação de Deus como sendo o único Deus e Aquele que havia tirado o povo de Israel da escravidão do Egito (Ex.20:2; Dt.5:6), algo que não é adequado, já que se tem aqui qualquer preceito, mas uma introdução.

– Vimos, também, que Agostinho apresentou, em alguns de seus escritos, uma “fórmula catequética” em que considera como primeiro mandamento  “adorar a Deus e amá-l’O sobre todas as coisas”, fórmula que foi seguida pela Igreja Romana, sendo adotada tanto no Catecismo Romano, elaborado após o Concílio de Trento (1545-1563) em 1566, que foi convocado precisamente para combater a Reforma Protestante, como no atual Catecismo da Igreja Católica, que data de 1992, fórmula esta bastante conveniente para os propósitos do Romanismo, uma vez que reúne no primeiro mandamento o conteúdo de Ex.20:3-5 e Dt.5:7-9, “ocultando”, então, a proibição do uso de imagens de escultura, algo que é praticado por aquele segmento da Cristandade.

– Embora os judeus considerem que o segundo mandamento seja o que o texto bíblico propriamente considera como sendo o primeiro mandamento, é interessante observar que Flávio Josefo, que era um sacerdote e, portanto, conhecedor da lei segundo as interpretações de seu tempo, afirma, em seu livro “Antiguidades Judaicas” que o segundo mandamento é “Não se deve adorar imagem de animal algum” (Antiguidades Judaicas III, 4. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.69), fazendo com que não haja a “omissão” convenientemente existente, para os fins romanistas, da proibição de fabricação e uso de imagens de esculturas na adoração a Deus, o que, de pronto, afasta qualquer tentativa de se dizer que a divisão romanista dos mandamentos obedeceria a uma “tradição” proveniente de Israel.

– A Igreja Ortodoxa, também, não seguiu a divisão romanista dos mandamentos, considerando que houve uma indevida omissão do segundo mandamento na forma adotada pelos romanistas, como se pode verificar desta explicação da doutrina daquele outro segmento da Cristandade: “…A Santa Igreja Católica Apostólica Ortodoxa conservou os dez mandamentos da Lei de Deus na sua forma original, sem a menor alteração.

O mesmo não sucedeu com o texto adoptado pela Igreja Católica Apostólica Romana, no qual os dez mandamentos foram arbitrariamente alterados, tendo sido totalmente eliminado o segundo mandamento e o último dividido em duas partes, formando dois mandamentos distintos. Esta alteração da Verdade constitui um dos maiores erros teológicos desde que a Igreja Romana cindiu a união da Santa Igreja Ortodoxa no século XI.

Esta modificação nos dez mandamentos, introduzidos pelos papas romanos, foi motivada pelo Renascimento das artes. Os célebres escultores daquela época tiveram um amplo leque de actividades artísticas, originando obras de grande valor.

Não obstante, as esculturas representando Deus, a Santíssima Virgem Maria, os santos e os anjos estavam em completo desacordo com o segundo mandamento de Deus. Havia, pois, duas alternativas, ou impedir a criação de estátuas ou suprimir o segundo mandamento. Os papas escolheram esta última solução, caindo em grave erro.…” (A Ortodoxia. Disponível em: http://www.fatheralexander.org/booklets/portuguese/a_ortodoxia.htm Acesso em 19 nov. 2014).

– No texto bíblico, entretanto, fica bem claro que, após a apresentação de Deus ao povo antes do pronunciamento das “dez palavras”, o primeiro mandamento é “Não terás outros deuses diante de Mim” e o segundo mandamento, a “segunda palavra” é “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo da terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas, nem as servirás; porque Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que Me aborrecem” (Ex.20:2,3 e Dt.5:8,9).

– Assim, como mostra bem o título da nossa lição, o segundo mandamento, sem sombra de dúvida, é a proibição de se fazer imagens de escultura e de se encurvar a elas na adoração a Deus. OBS: Assim dispõe o Catecismo Maior de Westminster: “…107.

Qual é o segundo mandamento? O segundo mandamento é: “Não farás para tí imagem de escultura, nem figura alguma de tudo o que há em cima no céu, e do que há embaixo na terra; nem de coisas que haja debaixo da terra. Não as adorarás nem lhe dará culto, porque eu sou o Senhor teu Deus, o Deus forte e zeloso, que vinga a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e que usa de misericórdia até mil gerações com aqueles que me amam e que guardam os meus preceitos.” Exo. 20:4-6…” (Catecismo Maior de Westminster. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm Acesso em 22 nov. 2014).

– Nem se diga que este segundo mandamento é mera continuação do primeiro. Com efeito, temos aqui coisas distintas, ainda que correlacionadas. Bem explica isto João Calvino, cujo ensino reproduzimos: “…Enquanto isso, já que este degradante embrutecimento se apossou de todo o orbe, de tal modo que os homens buscassem representações visíveis de Deus, e por isso forjassem deuses da madeira, da pedra, do ouro, da prata, ou de outro qualquer material inanimado e corruptível, a este princípio temos de apegar-nos: sempre que é lhe atribuída qualquer representação, a glória de Deus é corrompida por ímpio engano.

E assim na lei, após haver arrogado unicamente para si a glória da Deidade, quando visa a ensinar que gênero de adoração aprova, ou repudia, Deus acrescenta de imediato: ‘Não farás para ti imagem esculpida, nem qualquer semelhança” [Ex 20.4], palavras com as quais nos coíbe o desenfreamento, para que não tentemos representá-lo por meio de qualquer figura visível.

E enumera, de maneira sucinta, todas as formas mediante as quais, já desde outrora, a superstição começara a converter sua verdade em mentira.…” (Institutas ou Tratado da Religião Cristã, v.1, Livro I, cap. IX, p.105. Disponível em: http://protestantismo.ieadcg.com.br/institutas/joao_calvino_institutas1.pdf  Acesso em 18 dez. 2013).

– Da mesma maneira, é o ensino do o príncipe dos pregadores britânicos, Charles Haddon Spurgeon, a respeito deste segundo mandamento: “…O primeiro mandamento nos proíbe de adorar um outro deus. O segundo estritamente nos proíbe de adorar qualquer coisa que nossos olhos possam ver, sob o pretexto de que nós estamos por meio disso adorando a Deus.

Esta é uma outra ofensa e muito mais comum que a primeira — e isto é frequentemente alegado  – ‘Oh, nós não adoramos estas coisas1 Nós adoramos a Deus, que elas representam!’. Mas aqui está estritamente proibido representar Deus sob qualquer forma ou substância seja ela qual for e  fazer disto um objeto de adoração…” (SPURGEON, Charles. Exposição de Ex.20:1-7 em seguida ao sermão Conversão fingida, p.7. Disponível em: http://www.spurgeongems.org/vols49-51/chs2928.pdf Acesso em 18 dez. 2013) (tradução nossa de texto em inglês).

– Temos bem demonstrado, portanto, que, se, no primeiro mandamento, somos levados a observar que temos somente um único Deus, que deve ser adorado com exclusividade, no segundo mandamento, é-nos dito de que modo, de que forma, de que maneira deve este Deus ser adorado, o que são coisas absolutamente distintas. Deus não somente deve ser adorado, como também sua adoração deve ser feita sem o uso de quaisquer representações visíveis.

II – O SEGUNDO MANDAMENTO

– O segundo mandamento diz respeito à confecção de imagens de escultura para representação do que houvesse nos céus ou na terra. O Senhor havia aparecido a Israel no monte, mas não foi visto, apenas ouvido. Desta forma, não poderiam os israelitas representá-lo por coisa alguma, pois isto seria um aviltamento da Sua majestade, o que seria um grave pecado (Rm.1:23).

OBS: Assim dispõe o Catecismo Maior de Westminster: “…108. Quais são os deveres exigidos no segundo mandamento? Os deveres exigidos no segundo mandamento são – o receber, observar e guardar, puros e inalterados, todo o culto e todas as ordenanças religiosas que Deus instituiu na sua Palavra, especialmente a oração e ações de graças em nome de Cristo; a leitura, a prédica, e o ouvir da Palavra; a administração e a recepção dos sacramentos; o governo e a disciplina da igreja; o ministério e a sua manutenção; o jejum religioso, o jurar em nome de Deus e o fazer os votos a Ele; bem como o desaprovar, detestar e opor-nos a todo o culto falso, e, segundo a posição e vocação de um, o remover tal culto e todos os símbolos de idolatria. Deut. 32:43; Mat 28:20; I Tim. 6:13-14; Fil. 4:6; Ef. 5:20; Deut. 17:18-19; At. 15:21; II Tim. 4:2; At 10:33; Mat. 28:19 e 16:18 e 18:15-17; I Co 12:28; Ef. 4:11-12; Tim. 5-17-18; Joel 2:12; I Co 7:5; Deut. 6:13; Sal. 76:11; At. 17:16-17; Sal 16:4; Deut. 7:5; Isa. 30:22.…” (end.cit.).

– A introdução do uso de imagens de escultura para adoração remonta a Babilônia, mais propriamente a Ninrode, o primeiro imperador mundial (Gn.10:8,9). Como explica o pastor Abraão de Almeida, em seu clássico livro “Babilônia ontem e hoje”:  “…Foi em Babilônia, após o dilúvio, que a mesma atitude de negação de Deus se manifestou, particularmente através de Ninrode e Semíramis.

Era o mistério da injustiça, referido pelo apóstolo Paulo, mais uma vez operando desde a expulsão de Adão e Eva do Éden. O objetivo era a organização de uma igreja falsa, estruturada dentro de um sistema religioso no qual fosse adorada uma falsa trindade. Dentro dessa organização o próprio Satanás estava (e está) preparando o mundo para a sua manifestação futura, quando reinará por um pouco de tempo sob a forma do Anticristo.

O princípio é a glorificação do ser humano, divinizador de reis e imperadores, o culto à personalidade. Somente dentro de tal sistema compreende-se a deificação dos césares e dos grandes homens, aos quais se erigiam templos e em sua honra se ofereciam sacrifícios e libações…” (p.16).

– Tem-se, portanto, que o uso de imagens de escultura está umbilicalmente ligado à idolatria, à admissão de outros deuses além ou a despeito do único e verdadeiro Deus. Nem poderia ser diferente. Senão vejamos.

– O apóstolo Paulo, quando descreve a corrupção geral da humanidade por causa do pecado, faz questão de ressaltar que a impiedade e a injustiça dos homens  resulta no fato de suprimirem a verdade pela injustiça (Rm.1:18 NVI). Como se dá esta supressão?

Paulo explica: pela recusa da glorificação do nome de Deus, pois, podendo ser Deus conhecido através das coisas criadas, que nos revelam o Seu eterno poder e a Sua divindade, os homens preferem, ao revés, rejeitarem tal soberania, preferindo mudar a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagens de homem corruptível, de aves, quadrúpedes e de répteis (Rm.1:18-23).

– O homem, obscurecido pelo pecado e crendo na mentira satânica de que pode “ser igual a Deus” (Gn.3:5), mesmo após o juízo divino do dilúvio, preferiu reduzir a Divindade às coisas criadas, preferiu glorificar-se em vez de dar glória a Deus, criando uma série de “deuses”, que se confundiram com as coisas criadas e, portanto, visíveis, querendo, com isto, na verdade, se autogloriar.

– Como afirma, ainda, o pastor Abraão de Almeida: “…Um poema babilônico escrito provavelmente no oitavo século antes de Cristo, mas referindo-se a uma época muito anterior, cujas pranchetas foram desenterradas por arqueólogos, dão uma ideia da origem e evolução da religião pagã. Segundo o documento, no princípio existia um caos aquoso, de onde surgiram os deuses, representando a ordem que dimana do caos.

Um desentendimento entre esses deuses leva Marduque, deus babilônico por excelência, a consentir em travar batalha, com a condição de ser elevado acima de todos os outros. Ele se arma para a luta, colocando um relâmpago sobre a face e vestindo-se de uma chama ardente. Tece uma rede para com ela aprisionar o monstro Tiamat, e toma os quatro ventos para que nada lhe escape.

Transportado por um furacão, aproxima-se de Tiamat, lança-lhe uma tempestade e depois atravessa o com uma lança. Com a metade do corpo do monstro Marduque cobre o céu e, para lá manter as águas aprisionadas, coloca um ferrolho e um guarda. Seria este o firmamento das águas superiores. Em seguida coloca no céu as estrelas, os planetas, a lua e o sol.

E com a outra metade do corpo de Tiamat forma a terra, que recobre o mundo subterrâneo. Finalmente, o vitorioso deus babilônico forma os homens com sangue, talvez mesmo com o seu próprio sangue. A finalidade precípua desse poema, que hoje soa de maneira tão primária e tola aos nossos ouvidos, é colocar Marduque acima de todas as outras divindades, criando assim a Hegemonia universal em proveito de Babilônia.

E de fato esse falso deus recebeu um culto especial em todo o mundo antigo, na qualidade de dono e senhor, como aliás é o significado do seu nome mais popular: Baal. Vários autores de obras de demonografia designaram-no como potência infernal e general-chefe das hostes malignas.

Babilônios e Caldeus o adoraram como deus supremo e a ele chegaram a oferecer sacrifícios humanos, particularmente de crianças. Frequentemente os seus adoradores da Ásia faziam dele representação mítica do sol. Era também considerado como o deus fertilizador da terra por meio de suas fontes e possuía imagens em cada região cultivada.

A ele pagavam-se tributo, como dono divino. Em Israel, o Baal introduzido por Acabe, nos dias do profeta Elias, foi o Melkart, da cidade fenícia de Tiro. Marduque, Melkart, Kemosh (deus de Moabe) seriam apenas algumas das várias representações pagãs de Ninrode. Afirma-se que o centauro, deus grego – um cavalo com uma cabeça de homem e com uma arca na mão – era adorado em memória de Ninrode, que foi o primeiro caçador e o primeiro homem a usar o cavalo para a caça e a guerra…” (op.cit., pp.20-1).

– Notamos, portanto, que, ao mesmo tempo em que se introduziu o culto de outros deuses, com o fim precípuo de glorificar o próprio homem em detrimento de Deus, um traço da rebeldia construída em Babel, também se adotou a prática de representar, por imagens, estes “deuses” que, afinal de contas, eram “coisas criadas”, portanto visíveis, a fim de que, através destas representações, fossem devidamente adorados.

– Por isso, a adoção de imagens para a representação dos deuses constituía na “mudança da incorruptibilidade divina em corruptibilidade”, uma profunda indignidade, já que se reduzia o Criador a uma mera criatura.

– Esta prática efetuada na comunidade única pós-diluviana foi mantida pelas nações resultantes da divisão efetuada pelo juízo da confusão das línguas, inclusive na região da Mesopotâmia, onde parte da população se manteve após o espalhar das nações.

– É interessante observar que a proibição da idolatria já se encontrava nos chamados “sete preceitos dos descendentes de Noé”, como chamam os rabinos judeus aos mandamentos que seriam obrigatórios para toda a humanidade, seja porque estatuídos por Deus ao primeiro casal em Gn.2:16,17 seja porque reafirmados após a saída de Noé da arca, no chamado “pacto noaico”, constante de Gn.9.

– Com efeito, em Gn.2:16,17, o Senhor afirma toda a Sua soberania sobre o homem ao “ordenar” ao primeiro casal que ele poderia comer de toda a árvore do jardim do Éden, com exceção da árvore do ciência do bem e do mal. Neste “comando”, encontra-se implícita a proibição de adoração a qualquer outro ser senão ao próprio Deus, já que Ele é o Senhor.

Outros entendem que a proibição de idolatria não se encontra na expressão “ordenou”, mas, sim, na expressão “Deus”, já que a idolatria é, precisamente, “não ter outros deuses além do Senhor”.

OBS: “…Rabi Johanan respondeu: O escrito diz: ‘E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás, porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás’ [Gn.2:16,17] E [Ele] ordenou refere-se às leis sociais e, por isso, está escrito: ‘Porque Eu o tenho conhecido, que ele há de ordenar a seus filhos e a sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para obrarem com justiça e juízo [Gn.18:19](…)

Deus é [uma injunção] contra a idolatria, pois está escrito: ‘Não terás outros deuses diante de Mim’ [Ex.20:3] (…) Quando veio o Rabi Isaac, ele trouxe uma interpretação contrária. E ele ordenou – refere-se à idolatria. Deus [Elohim] para as leis sociais. Agora ‘Deus’ pode corretamente se referir às leis sociais, como está escrito: ‘…o dono da casa será levado diante dos juízes… (elohim) [Ex.22:8]…” (TALMUDE da Babilônia. Tratado Sanhedrin 56b. Disponível em: http://www.come-and-hear.com/sanhedrin/sanhedrin_56.html Acesso em 19 nov. 2014) (tradução nossa de texto em inglês) (destaques originais)

– Esta circunstância é bem demonstrada pela ação de Noé quando sai da arca. Sua primeira atitude foi edificar um altar ao Senhor e tomar de todo animal limpo e de toda ave limpa para oferecer em holocausto ao Senhor (Gn.8:19,20), atitude que foi extremamente agradável a Deus e levou o Senhor a decidir não mais amaldiçoar a terra por causa da má imaginação do coração do homem (Gn.8:21), um mesmo padrão que já era observado desde os tempos de Caim e de Abel (Gn.4:3,4).

– Nota-se, portanto, que, na gênese do pacto estabelecido entre o Senhor e Noé, estava a adoração a Deus e uma adoração que não envolvia qualquer representação visível de Deus, um verdadeiro “culto espiritual”.

É precisamente isto que irá indicar o segundo mandamento, pois, como afirma João Calvino: “…Como no mandamento precedente, o Senhor se proclamou ser o Deus único, além do qual nenhum outro deus se deve imaginar ou ter, assim, neste mandamento declara ainda mais explicitamente agora de que natureza é, e com que modalidade de culto deve ser ele honrado, para que não ousemos atribuir-lhe algo sensório.

Portanto, a finalidade deste mandamento é que Deus não quer que seu legítimo culto seja profanado mediante ritos supersticiosos. Por isso, em síntese, ele nos dissuade e afasta totalmente das observâncias materiais insignificantes que nossa mente bronca, em razão de sua crassitude, costuma inventar quando concebe a Deus.

E daí nos instrui em relação a seu legítimo culto, isto é, ao culto espiritual e estabelecido por ele mesmo. Assinala, ademais, o que é o mais grosseiro defeito nesta transgressão: a idolatria exterior.…” (Institutas ou Tratado da Religião Cristã, v.2, pp.143-4).

– Diz a tradição judaica, que é recolhida por Maomé no Alcorão, que Abraão foi o primeiro a se insurgir contra a idolatria então reinante, em Ur dos caldeus, então a maior metrópole do mundo.

– Segundo registros constantes de escritos judaicos como o Midrash Genesis Rabbah (comentário do livro do Gênesis) e do próprio Talmude da Babilônia (considerado o segundo livro sagrado do judaísmo), tradição também reconhecida por autores como Jerônimo (347-420), Abraão teria se rebelado contra a idolatria existente em Ur dos caldeus.

As histórias diferenciam-se entre si, mas, na essência, Abraão teria notado que Deus não poderia ser representado por imagens nem tampouco pelas coisas criadas, visto que seria maior do que tudo o que foi criado e, por esta razão, teria sido condenado à morte pelos governantes de Ur dos caldeus e teria sido este o motivo pelo qual ele e seu pai Terá teriam saído de Ur com destino a Harã.

– O Midrash Genesis Rabah diz que Abraão teria se negado a adorar o fogo e, por isso mesmo, teria sido lançado no fogo, de onde foi milagrosamente salvo pelo próprio Deus, o que é repetido pelo Talmude da Babilônia que diz que este gesto teria sido uma desobediência a uma ordem do próprio Ninrode (não a figura do próprio Ninrode em si, mas, muito provavelmente, da ordem estatuída por Ninrode).

OBS: “…Outros mantêm que foi Gabriel que disse: ‘E a verdade do Senhor durará para sempre’. [Pois] quando o malvado Ninrode lançou nosso pai Abraão na fornalha de fogo, Gabriel disse para o Santíssimo, abençoado seja Ele: ‘Soberano do Universo! Deixe-me descer e esfriá-la e livrar aquele justo homem da fornalha de fogo’.

Disse o Santíssimo, abençoado seja Ele, para ele: ‘Eu sou único em Meu mundo e ele é único em seu mundo; é próprio para Aquele que é único livrar aquele que é único. Mas, porque o Santíssimo, bendito seja Ele, não recusa a [merecida] recompensa de qualquer criatura, disse para ele; ‘Você terá o privilégio de livrar três de seus descendentes’ [Hananias, Misael e Azarias – observação nossa]…” (TALMUDE DA BABILÔNIA. Pesahim 118-a. Disponível em: http://halakhah.com/pdf/moed/Pesachim.pdf Acesso em 19 nov. 2014) (tradução nossa de texto em inglês).              “…As nações então dirão: Soberano do Universo, Israel, que aceitou a Torá, a observou?

O Santíssimo, abençoado seja Ele, responder- lhes-á: Eu lhes darei provas de que eles observaram a lei. (…) Então o Santíssimo abençoado seja Ele, responder-lhes-á: ‘Alguns de vocês mesmos testificarão que Israel observou a lei inteira. Deixe Ninrode vir e testificar que Abraão não consentiu em adorar ídolos…” (TALMUDE DA BABILÔNIA. Avodah Zarah 3-a. Disponível em: http://halakhah.com/pdf/nezikin/Avodah_Zarah.pdf Acesso em 19 nov. 2014) (tradução nossa de texto em inglês).

– No Alcorão, é dito que Abraão teria questionado os moradores de Ur sobre a adoração a ídolos, tendo eles dito que assim o faziam porque o haviam aprendido de seus pais, tendo, então, o patriarca dito que o Criador era o Senhor dos céus e da terra, tendo, então, destruído os ídolos e mostrado aos seus concidadãos que os ídolos não falavam, tendo, então, sido lançado no fogo, de onde o Senhor o teria livrado e, depois de tal salvamento, o levado fora de Ur.

OBS: “…Anteriormente concedemos a Abraão a sua integridade, porque o sabíamos digno disso. Ao perguntar ao seu pai e ao seu povo: Que significam esses ídolos, aos quais vos devotais? Responderam: Encontramos nossos pais a adorá-los.

Disse-lhes (Abraão): Sem dúvida que vós e os vossos pais estais em evidente erro. Inquiriram-no: Trouxeste-nos a verdade, ou tu és um dos tantos trocistas? Respondeu-lhes: Não! Vosso Senhor é o Senhor dos céus e da terra, os quais criou, e eu sou um dos testemunhadores disso. Por Deus que tenho um plano para os vossos ídolos, logo que tiverdes partido…

E os reduziu a fragmentos, menos o maior deles, para que, quando voltassem, se recordassem dele. Perguntaram, então: Quem fez isto com os nossos deuses? Ele deve ser um dos iníquos. Disseram: Temos conhecimento de um jovem que falava deles. É chamado Abraão. Disseram: Trazei-o à presença do povo, para que testemunhem.

Perguntaram: Foste tu, ó Abraão, quem assim fez com os nossos deuses? Respondeu: Não! Foi o maior deles. Interrogai-os, pois, se é que podem falar inteligivelmente. E confabularam, dizendo entre si: Em verdade, vós sois os injustos. Logo voltaram a cair em confusão e disseram: Tu bem sabes que eles não falam. Então, (Abraão) lhes disse:

Porventura, adorareis, em vez de Deus, quem não pode beneficiar-vos ou prejudicar-vos em nada? Que vergonha para vós e para os que adorais, em vez de Deus! Não raciocinais? Disseram: Queimai-o e protegei os vossos deuses, se os puderdes (de algum modo)! Porém, ordenamos: Ó fogo,) sê frescor e poupa Abraão! Intentaram conspirar contra ele, porém, fizemo-los perdedores. E o salvamos, juntamente com Lot, conduzindo-os à terra que abençoamos para a humanidade.…” (21:51-71) (Tradução de Samir El Hayek).

– De qualquer modo, temos a informação, pela tradição, de que Abraão, discrepando dos seus contemporâneos, adotou o monoteísmo, não só passando a adorar o único e verdadeiro Deus, como também rejeitando o uso de qualquer representação visível de Deus.

– Tal conduta vemos ao longo de toda a vida de Abraão, que, a todo o lugar que chegava, edificava um altar ao Senhor, sempre O adorando sem qualquer representação visível, sempre invocando o nome do Senhor, ou seja, chamando o Senhor para que viesse ao seu encontro, nunca O simbolizando ou O representando por qualquer imagem ou objeto (Gn.12:8; 13:4, 18), como, aliás, fizera Sete (Gn.4:26), o pai dos “filhos de Deus” (Gn.6:2), o primeiro povo de Deus sobre a face da Terra.

– Como se isto fosse pouco, o Senhor fez passar um fogo no sacrifício que havia Abraão fazer, estabelecendo com ele uma aliança, a demonstrar, pois, que o Senhor era invisível e impossível de ser representado por qualquer criatura (Gn.15:17).

– Notamos, portanto, que todos aqueles que acharam graça diante de Deus (Noé – Gn.6:8) ou se constituíram em amigos de Deus ( Abraão – Is.41:8) não só não adoram senão a Deus, mas o fizeram sem qualquer representação visível de Deus, considerando-O como Ele efetivamente é, ou seja, Espírito (Jo.4:24).

– Não só assim procedeu Abraão, como também Isaque e Jacó, tanto que o escritor aos hebreus é claro ao dizer que eles não aguardavam uma pátria terrestre, mas, sim, uma pátria celestial (Hb.11:13-16), bem compreendendo que Deus transcende a tudo quanto foi criado, que Deus é superior à Sua criação e que, portanto, não poderia ser representado por qualquer criatura.

– Por isso mesmo, não se constituiu em novidade alguma a determinação divina do segundo mandamento, segundo o qual não se poderia, de forma alguma, fazer imagem do que houvesse no céu ou na terra nem tampouco se encurvar diante dela, pois isto seria uma indevida redução da dignidade divina, um aviltamento de Deus, que é o Criador, ao nível de alguma de Suas criaturas, a consideração do que é incorruptível, ou seja, eterno, em algo que é corruptível, ou seja, passageiro e que, um dia, se extinguirá.

– Esta atitude do homem de reduzir Deus Criador a uma criatura para ser adorado é o que o apóstolo Paulo denomina de insensatez de coração que leva a um total obscurecimento da mente humana (Rm.1:21), o que é muito bem descrito pelo profeta Isaías na clássica passagem em que trata da idolatria exterior, ou seja, da idolatria através da fabricação de imagens, que, como vimos, na lição anterior, não é toda idolatria que existe, embora seja a sua face mais conhecida e a de que nós nos lembramos sempre que tratamos deste tema, passagem esta que se encontra em Is.44:9-20.

– Ali, o profeta Isaías mostra como é realmente insensata a adoração de imagens, que nada mais são que resultado do trabalho do próprio homem que, ao fabricar uma imagem, não se dão conta de que eles mesmos formam o “deus” que é, depois, adorado, como se fosse algo superior, quando, na verdade, é uma criação do próprio homem que o adora, o que somente se explica pela cegueira espiritual, pela sua recusa em se submeter ao único e verdadeiro Deus, que os tornam presa fácil do maligno, que lhes causa esta falta de visão espiritual (II Co.4:4).

– Este mandamento tem duas proibições, como nos ensina João Calvino. “…Na verdade, são duas as partes deste mandamento. A primeira nos coíbe a imoderação, para que não ousemos sujeitar nossos sentidos, ou representar a Deus com qualquer forma que paire além da compreensão…” (op.cit., p.144).

– Embora Deus seja Espírito e não O possamos representar por qualquer objeto material, embora Deus seja incompreensível aos homens, jamais podemos permitir que nosso culto ao Senhor seja irracional, seja tomado por um “misticismo”, por uma “aura de mistério”, que faça com que levemos a adoração ao Senhor à irracionalidade, ao puro emocionalismo, a práticas “sobrenaturais” incompreensíveis, a um frenesi que nos leve a repetir as práticas típicas do paganismo.

– O culto a Deus é espiritual, não pode ser materializado em objetos, mas, ao mesmo tempo, não pode ser reduzido ao irracionalismo. O apóstolo Paulo foi bem claro ao dizer que o nosso culto é racional, pois é a apresentação de nossos corpos um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm.12:1).

– Vivemos dias em que, lamentavelmente, muitos estão a confundir a adoração a Deus com um predomínio dos sentimentos e das emoções, com a própria perda da consciência do adorador, com uso de técnicas e de procedimentos que reduzem o ser humano, coroa da criação terrena, a situações de irracionalidade, como se fosse um animal qualquer.

Tais condutas representam, sim, violação ao segundo mandamento, visto que não dá a Deus a dignidade que lhe é devida, ou seja, que seja efetivamente adorado, reconhecido, com toda a nossa consciência, como Ser Supremo.

– Assim como é indignidade reduzir Deus a uma criatura, também o é o de submeter a Deus uma adoração irracional, onde o homem se despe da sua racionalidade, de seu aspecto distintivo, como se fosse um animal qualquer. Daí porque tais atitudes configurarem violação ao segundo mandamento.

– A segunda proibição é a mais evidente. Ainda se utilizando das palavras de Calvino: “…a segunda veda que adoremos qualquer imagem com o pretexto de religião. Com efeito, enumera, em poucas palavras, todas as formas com que costumava ser representado pelas pessoas profanas e supersticiosas. Por aquelas coisas que estão no céu compreende o sol, a lua e os outros astros, e talvez as aves, da mesma forma que em Deuteronômio [4.17, 19], expressando seu intento, menciona tanto as aves quanto as estrelas..…” (op.cit., p.141).

– O mandamento proíbe que se fabrique imagem de qualquer semelhança do que há tanto nos céus quanto na terra, ou seja, que se reproduza qualquer criatura para que tal imagem seja adorada ou haja o curvar-se diante dela.

III – O DESCUMPRIMENTO DO SEGUNDO MANDAMENTO

– O descumprimento do segundo mandamento é a chamada “idolatria exterior”, ou seja, a prática da idolatria através da adoração ou do curvar-se diante de imagens de escultura, o que comumente se considera ser idolatria, o que não é toda a idolatria, visto que há ídolos que não são imagens de escultura, como tivemos ocasião de estudar na lição anterior.

– As Escrituras estão repletas de disposições em que o Senhor mostra abominar a prática de adoração por imagens de escultura. ”… O que diz a Bíblia diz sobre as imagens?

  1. a) ‘… ajoelhar-me-ia eu diante de um pedaço de árvore?.…’ (Is. 44.19b)
  2. b) Obras de mãos de homens (Sl 115, 4b).
  3. c) São condenados por deus quem faz e confia. (sl 115, 1-8).
  4. d)  São abomináveis ao Senhor. (dt25).
  5. e)  Deus odeia. (Dt22).
  6. f) Deus proíbe a fabricação de imagens. (Ex4; Dt 5.8; Lv 19.4; 26.1).
  7. g) A lei de Deus proibia tal prática (Ex 3-4; 34.17; Is 44.10-18; Lv 19.4; 26.1).
  8. h) Os profetas condenaram tal prática. (Is22; 42.17; 45.20; Os 13.2).
  9. i) Maldito o homem que faz. (Dt 15).
  10. j) Proibição de imagens em forma de homens e mulheres(Dt 15-19).
  11. k) Deus não divide Sua glória com imagens de escultura. (Is8).
  12. l)  É mudar a glória de Deus por semelhança humana. (Rm23).
  13. m) É mudar a verdade de Deus em mentira. (Rm25; Sl 115 4-8).
  14. n) É amar mais as criaturas do que o Criador. (Rm25; Sl 115 4-8).
  15. o) O ídolo é mentira. (Jr 10.14).
  16. p) A imagem é destituída de proveito. (Jz 10:14; Is 46:7).
  17. q) Vaidade, obra ridícula. (Jr 10.14).  

O que elas causam para os que as fazem, obtêm, confiam e cultuam?

  1. a) São maldições em nossas casas (Dt25,26).
  2. b) Elas atraem maldições em nossas vidas. (Dt25,26).  
  3. c) São malditos aqueles que as fazem. (Dt15).  
  4. d) São malditos aqueles que as escondem. (dt15).
  5. e) Provoca a ira de Deus. (jr6-7).
  6. f) Serão confundidos os que servem e se gloriam das imagens. (Sl7).
  7. g) Serão abatidos, humilhados e não serão perdoados. (Is8,9).
  8. h) Serão afastados da misericórdia divina. (Jn8).  
  9. i) Ficam fora de si, sem compreensão e conhecimento. (Is19).
  10. j) Estupidez desprovida do saber. (Jr 10.14).
  11. k) No tempo do seu castigo virão a perecer. (Jr 10.14).
  12. l) Serão confundidos e envergonhados. (Is17).   

O que devemos fazer com as imagens?

  1. a) Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. (I Jo21).
  2. b) Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos. (II Co16).
  3. c) “… Se abstenha da contaminação de ídolos.” (At. 15.20).
  4. d) Detestá-las e abominá-las, pois são amaldiçoadas (Dt. 7.25).  
  5. e) Queimá-las, não cobiçá-las nem tomá-las para si. (Dt26).
  6. f)  Lançá-las fora como coisa imunda e dirás: fora daqui! (Is22).
  7. g)  Derrubar, quebrar e cortar. (Ex13). …” (OSVALDO, Pr. Sidney. O culto às imagens. Disponível em: http://www.evangelizadora.com.br/estudo_b.php?estudo=culto Acesso em 20 nov. 2014).

– Apesar da clareza deste mandamento ao longo de toda a Bíblia Sagrada, tanto no Antigo como em o Novo Testamento, surgiu a discussão, no meio da Cristandade, se tal proibição abarcava, ou não, a proibição da fabricação de imagens de Cristo, de anjos e de cristãos considerados santos.

– É oportuno verificar que, em vários escritos dos chamados “Pais da Igreja”, o uso de imagens na adoração é repudiado: “…a) Na época antenicena, os escritores eclesiásticos, de fato, não estavam dispostos a aceitar o uso e menos ainda o culto das imagens, mesmo se, na maioria das vezes, se expressassem indiretamente; tomam posição na luta contra a idolatria pagã e se fundamentam nos textos antifigurativos do AT.

A verdadeira imagem de Deus é Cristo, depois o homem e a virtude que nele existe: o templo dos cristãos é o corpo do homem, santuário da imagem, ou então o universo. Às vezes sua rejeição da idolatria os leva a combater aquelas mesmas provas que mais tarde serão adotadas pelos defensores do culto das imagem. Será preciso citar: Tertuliano (“De idolatria” 4,1; “Adv. Hermogenem” I,2) que também afirma (“De spectaculis” 23,5) que Deus, sendo a Verdade, não pode aceitar aquilo que é falso; Clemente de Alexandria (“Potr.” IV, 62, 1-2) que afirma (“Strom.” VII, V, 28-29) que Deus não pode ser circunscrito; Orígenes (“C. Cels.” VII, 62-67), Minúcio Félix (“Octavius” 32), Lactâncio (“Inst. Div.” II, 2).

O concílio de Elvira, no início do séc. IV, proíbe no cân. 36 pôr pinturas nas igrejas. Um dos principais motivos é, portanto, constituído pelas proibições do AT, especialmente – já que o Decálogo é sempre válido na nova Aliança – por causa da proibição de fazer imagens que se encontra, como segundo mandamento, em Ex. 20,4-5 ou Dt. 5,8-9.

De fato, a maior parte dos Padres anteriores a Agostinho segue a subdivisão dos judeus atestada por Fílon (“Quis rerum divinarum heres sit” 15, “De Decalogo” 23), que distingue os 4 mandamentos concernentes a Deus, o do amor aos pais (o V), depois 5 relativos ao próximo, reagrupando no X todos os pecados de desejo. Esta repartição é atestada por Teófilo de Antioquia (“Ad Autol.”, II, 35), Clemente de Alexandria (“Strom.” VI, XVI, 146,1), Orígenes (“Fragm. Eph.” XXXI; “Com. Mt.” XI, 9).

Na Hom. Ex. XVII, 2, este último refere que para alguns este segundo mandamento é uma coisa só com o primeiro, mas é possível seja um esclarecimento do tradutor Rufino, contemporâneo de Agostinho.(…) b) Nos sécs. IV e V.

Dois casos isolados no séc. IV mostram decidida oposição às imagens. Eusébio de Cesareia testemunha (HE VII, 18,2-4) ter visto em Paneas um monumento erigido pela hemorroíssa a Cristo, que a havia curado, monumento que a representava junto a Jesus – alguns pensam tratar-se realmente de Asclépio – bem como imagens pintadas de Pedro, de Paulo, de Jesus; não reprova com muita dureza os autores, atribuindo tais coisas aos usos pagãos.

Contudo, quando a imperatriz Constância, irmã de Constantino e viúva de Licínio, quis obter dele uma imagem de Cristo, Eusébio recusou terminantemente, dizendo que agora a forma humana de Cristo está completamente divinizada e, portanto, não pode ser mais representada (PG 20, 1545-1550).

Em uma carta a João de Jerusalém, traduzida para o latim por Jerônimo (51 na correspondência deste), Epifânio refere haver encontrado na Palestina, na igreja de uma aldeia, uma cortina em que estava pintada “a imagem Cristo ou de outro santo”.

Fiel à Escritura, rasga a cortina e pede a João que ponham fim a tais práticas, que são “contra a nossa religião”.…” (Os Pais da Igreja e as imagens. “Dicionário Patrístico e de Antigüidades Cristãs”, Ed. Vozes e Ed. Paulus, 2002, pág. 707/708. Disponível em: http://www.e-cristianismo.com.br/pt/apostolicos/122-os-pais-da-igreja-e-o-culto-as-imagens Acesso em 20 nov. 2014).

– Segundo os estudiosos, por volta do ano 310 foi introduzida a oração aos mortos e o sinal da cruz, práticas que deram início aos desvios doutrinários no seio da Igreja e que levariam à construção do Romanismo.

Logo em seguida a este primeiro desvio doutrinário, tivemos a introdução tanto do uso de velas (por volta do ano 320), como também a chamada “veneração” de anjos e de “santos falecidos” (por volta do ano 375). No Concílio de Éfeso, em 431, quando Maria foi proclamada “Mãe de Deus”, deu-se o início da mariolatria, ou seja, da adoração a Maria.

– O certo é que, em virtude da permissão do culto cristão no seio do Império Romano e a política de cooptação dos cristãos levada a efeito pelo imperador Constantino, muitos súditos do Império “fizeram-se” cristãos e passaram a introduzir, dentro da Cristandade, práticas e condutas próprias do paganismo, entre as quais a idolatria, através da adoração de imagens de escultura, que passaram a ser consideradas como “veneração”, ou seja, um culto apenas de “respeito”, “honra” e “reverência”.

– Esta prática, sem qualquer respaldo bíblico, acabou sendo alvo de contestação por volta do ano de 730, quando o imperador bizantino Leão III, o Isáurio, proibiu a veneração de ícones, ou seja, tanto de imagens de escultura quanto de pinturas, dando início ao movimento conhecido como “iconoclastia” (“quebra de imagens”). No Concílio de Hieria, que se deu em 754, o movimento foi aprovado e reconhecido como legítimo, não tendo, porém, a participação da Igreja Ocidental, que o reprovou.

– No entanto, no Segundo Concílio de Niceia, ocorrido em 787, pela imperatriz Irene, viúva do imperador Leão IV, o Cazar, houve a proclamação do dogma da veneração dos ícones, bem como a permissão da adoração da cruz e das relíquias dos santos falecidos.

– Houve uma tentativa de reação por parte dos iconoclastas, por intermédio do imperador bizantino Leão V, o Armênio, em 813, mas, durante a regência da imperatriz Teodora, o patriarca de Constantinopla, João VII, que era iconoclasta, foi deposto e substituído por Metódio I, que era favorável à veneração de ícones, quando, então, ocorreu um novo Concílio, em 843, que renovou o dogma da veneração dos ícones, excomungando os iconoclastas.

– Bem se vê, portanto, que a orientação doutrinária seguida pela cúpula da Igreja, tanto a Romana quanto a Ortodoxa, foi no sentido de considerar legítimo o uso de ícones, embora a Igreja Ortodoxa, como visto acima, tenha permitido apenas a veneração de pinturas ou gravuras, não permitindo o uso de imagens de escultura, que foi, porém, permitido pela Igreja Romana.

– Os “iconófilos”, ou seja, os que admitem a veneração de imagens, baseiam-se em argumentos que não se sustentam, Senão vejamos.

– O primeiro deles é que as imagens não são “adoradas”, mas somente “veneradas”, ou seja, eles adoram apenas a Deus, mas “respeitam” as imagens. Tal argumento não se sustenta por uma simples razão: a Bíblia não só manda adorar somente a Deus, como também manda que não se façam imagens de escultura, nem se represente qualquer criatura por meio de imagens.

É precisamente por isso que os romanistas “escondem” o segundo mandamento em sua “fórmula catequética”, precisamente porque não têm como justificar o uso de imagens.

– Ainda que fosse verdadeiro o argumento de que não há “adoração”, mas apenas “veneração”, o fato é que as Escrituras proíbem que se façam imagens, seja para serem adoradas, seja para serem “veneradas”, de modo que a prática viola a Bíblia Sagrada e não pode ser admitido.

– Cumpre observar que o segundo mandamento não só proíbe que se façam imagens de escultura mas, também, que as pessoas “se encurvem” diante delas. Segundo a Bíblia de Estudo Palavra-Chave, a palavra original hebraica para “encurvar-se” é “sohadh” (שחר), cujo significado é “…curvar(-se), agachar-se, cair (prostrado), suplicar humildemente, inclinar-se, prestar reverência, abater, deixar-se abatido, adorar(…).

Este verbo é usado para designar o curvar-se perante um monarca ou um superior, prestando-lhe reverência (Gn.43:28) (…). Este vocábulo emprega-se na história de José, quando ele descreveu os molhos de seus irmãos e pais inclinados perante o seu que ficara em pé num sonho que ele tivera (Gn.37:7)…” (BÍBLIA DE ESTUDO PALAVRA CHAVE. Dicionário do Antigo Testamento, n.7812, p.1956).

– Ora, vê-se, claramente, portanto, que, quando se faz uma imagem para ser “venerada”, esta “veneração” nada mais é que o “curvar-se” que é proibido no segundo mandamento, de modo que a distinção romanista entre “veneração’ e “adoração” não faz diferença alguma no tocante a este mandamento que, repetimos, por isso foi convenientemente “omitido” na “fórmula catequética” romanista.

– Neste aspecto, aliás, é interessante notar que não só os romanistas violam tal mandamento, mas os muçulmanos também o fazem, apesar de serem tão críticos quanto à idolatria, isto porque, na sua peregrinação obrigatória a Meca (a chamada “Hajj”), um dos fundamentos do Islamismo, os islâmicos têm de comparecer perante a Caaba, local onde está a “Pedra Preta”, a qual, após sete voltas em torno da Caaba (a chamada “tawaf”), é permitido ao muçulmano que consegue se aproximar que a toque e a beije, momento que considerado como o mais sagrado na vida de um islâmico, pois o referido toque, creem os islâmicos, proporciona a expiação dos pecados.

Caso não consiga se aproximar, o muçulmano deve apontar para ela toda vez que por ela passa em uma de suas sete voltas. Vemos, pois, que há, aqui, uma “veneração”, um gesto de adoração de um objeto material, que consubstancia violação ao segundo mandamento.

 OBS: “Tocá-los ambos (a Pedra Preta e a parede da Kaaba) é uma expiação para os pecados” (ibn Isa at-Tirmidhi, Muhammad. Jami` at- Tirmidhi: Book of Hajj. 2nd, Hadith 959. apud Black Stone. In: WIKIPEDIA. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Black_Stone#cite_note-30 Acesso em 20 nov. 2014) (tradução nossade texto em inglês).

– Outro argumento apresentado é que as “imagens” são “objetos que apenas lembram algo que estão fora dele” enquanto que os ídolos seriam “os seres em si mesmo”.  Dizem, portanto, que as “imagens” servem apenas para lembrar aqueles que são por elas representados.

– No entanto, o segundo mandamento é bem claro que não devemos reproduzir coisa alguma que exista nos céus ou na terra através de imagens. Não há a mínima necessidade de fazermos esta reprodução. A lembrança do próprio Deus não há de se fazer mediante a reprodução por imagens, pois isto é uma indignidade à Pessoa Divina.

– Além do mais, a prática romanista não distingue entre a imagem e aquilo que ela lembra, pois é notório que há a consideração das imagens como algo em si mesmas, notadamente no que se refere às imagens de Maria, que acabam se tornando “seres em si mesmo” como vemos nas diversas “devoções marianas” (Nossa Senhora de Fátima é Maria ou a imagem dela? Assim, também, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, ou simplesmente, Nossa Senhora Aparecida, é a Maria ou a imagem dela? E assim por diante).

OBS: Diz o professor de teologia católico Felipe Aquino, ao defender o uso de imagens: “…É importante entender que Deus proibiu aos israelitas apenas a confecção de imagens e estátuas, de ídolos, porque na antiguidade facilmente se atribuía a esses objetos um caráter religioso; eram considerados pelos pagãos como símbolos em que a Divindade estava presente, ou como a Divindade mesma.(…).

O motivo pelo qual os antigos adoravam imagens era de ordem mágica; eles achavam que a imagem articipava da essência do indivíduo representado; como se a imagem tivesse a mesma substância do indivíduo, como se fosse o próprio indivíduo. Assim, acreditavam que se conseguissem fazer a imagem de um deus, capturava esse deus ou exercia poder e domínio sobre ele; e prendia a força da divindade dentro da imagem; e assim poderiam dispor da ação poderosa da divindade.

Daí o motivo pelo qual encontramos uma abundância de imagens e estátuas entre os povos antigos já citados.…” (As imagens dos Santos. Disponível em: http://cleofas.com.br/as-imagens-dos-santos/ Acesso em 20 nov. 2014). Porventura, não é exatamente o que ocorre com os católicos romanos ao fazer uso das imagens?

– Com relação à lembrança de “pessoas exemplares”, os ditos “santos”, não tem ela qualquer sentido, já que não há comunicação entre vivos e mortos, sendo, portanto, impossível que nos comuniquemos com eles a fim de obtermos alguma intercessão por parte deles junto a Cristo.

Mas, admitindo que tais “santos” se encontram no céu, junto ao Senhor Jesus, ainda que sem condição de interceder por nós, igualmente a reprodução de suas imagens é proibida, pois não se pode reproduzir coisa alguma que está nos céus, consoante o segundo mandamento e isto, inclusive, envolve também os anjos, que lá estão.

– Surge, também, a questão relativa a imagens de Cristo. Ora, Jesus é Aquele que subiu ao céu, após ter descido céu e Se encontra no céu (Jo.3:13). Deste modo, como não se pode reproduzir semelhança alguma do que está no céu, como diz o segundo mandamento, tem-se que é totalmente vedado fazer-se imagem de Cristo.

A propósito, cumpre aqui observar o que disse Eusébio de Cesareia à imperatriz Constância, irmã de Constantino, quando esta lhe pediu que lhe dada uma imagem de Cristo, ocasião em que o grande historiador eclesiástico disse que a forma humana de Cristo estava agora “divinizada” e, portanto, não poderia, jamais, ser representada por alguma imagem.

– Tomás de Aquino, ao defender a adoração da imagem de Cristo, argumenta que, como Deus Se fez homem, então poderia ser adorado por uma imagem corpórea, o que era impossível no Antigo Testamento, já que Deus era incorpóreo até então, tendo, também, defendido a adoração da cruz, uma vez que, “de algum modo”, ela ficou ligada ao corpo de Cristo, inclusive em virtude do contato que teve com ele e da representação, já que foi nela que Cristo venceu o pecado e a morte (Suma Teológica III, q.25, a.3,4. Cit. Ex.20:4-6. n. 503. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 20 nov. 2014).

Sem razão, porém, o Doutor Angélico, porquanto o segundo mandamento é claríssimo ao negar que se reproduza qualquer semelhança do que há no céu e na terra, entre os quais, está o Senhor Jesus, até porque é o próprio Cristo que diz que o Pai está a procurar adoradores que o adorem em espírito e em verdade, algo que ocorre a partir daquele instante em que Cristo fala a mulher samaritana, ou seja, a partir da encarnação do Verbo (Jo.4:23), o que, evidentemente, rechaça a adoração da cruz.

– Outro argumento que se apresenta é que Deus permitiu que se fizessem imagens de querubins quando da construção do tabernáculo, como também foram feitas imagens de bois, no templo de Salomão, sobre os quais estava o altar de sacrifícios e, deste modo, permitido estava o uso de imagens no culto a Deus.

Sem razão, porém, quem assim pensa, pois, por primeiro, estas imagens não foram feitas para ser veneradas, mas apenas como um símbolo da glória de Deus, no caso dos querubins, tanto que tais imagens ficavam sobre a arca, em local que não era sequer visto pelo povo de Israel, no santo dos santos. Com relação aos bois, havia ali um símbolo a indicar que no altar deveriam ser sacrificados os animais, não sendo tais imagens também objeto de qualquer veneração.

– Além do mais, não podemos nos esquecer que tais imagens foram feitas para o culto durante a dispensação da lei, onde se tinham “sombras dos bens futuros” (Hb.10:1) e que o nível da adoração se alterou com a vinda de Cristo, como o Senhor deixa bem claro em Seu diálogo com a mulher samaritana, tanto que não qualquer menção a uso de imagens entre os cristãos em o Novo Testamento, mas, pelo contrário, a consideração das imagens como algo supersticioso, como falará Paulo em seu discurso no Areópago (At.17:22), ocasião em que o apóstolo diz que os atenienses “honravam”, ou seja, respeitavam, eram reverentes para com o chamado Deus Desconhecido (palavra grega “eusebeo” – εύσεβέω), a mostrar, uma vez mais, que não há diferenciação bíblica entre “adoração” e “veneração”, como pretendem os romanistas.

– É preciso, aliás, que se diga que a proibição do segundo mandamento diz respeito à fabricação de imagens de escultura ou de pinturas com o propósito de adoração ou qualquer forma de veneração (observemos que o texto fala em “encurvar-se” diante delas), não sendo, por óbvio, qualquer proibição da atividade artística.

– Lembremos, ademais, que, no episódio do bezerro de ouro (Ex.32), tem-se que o que os israelitas procuraram fazer foi uma representação do próprio Deus, a fim de que, através da imagem de Deus, ante o aparente desaparecimento de Moisés, pudessem eles seguir viagem a Canaã, devidamente “protegidos” e “acompanhados por Deus”.

O gesto representou, portanto, a um só tempo, a violação dos dois primeiros mandamentos, inclusive do segundo, que impedia a reprodução da imagem divina na forma de alguma criatura, “in casu”, o bezerro de ouro.

A reprovação divina no episódio mostra, claramente, que é totalmente contrária à vontade de Deus a reprodução de Deus por qualquer imagem de escultura.

OBS: Assim dispõe o Catecismo Maior de Westminster: “…109. Quais são os pecados proibidos no segundo mandamento? Os pecados proibidos no segundo mandamento são – o estabelecer, aconselhar, mandar, usar e aprovar de qualquer maneira qualquer culto religioso não instituído por Deus; o fazer qualquer imagem de Deus, de todas e qualquer das três pessoas, quer interiormente no espírito, quer exteriormente em qualquer forma de imagem ou semelhança de criatura alguma; toda a adoração dela, ou de Deus nela ou por meio dela.

O fazer qualquer imagem de deuses imaginários e todo o culto ou serviço a eles pertencentes; todas as invenções supersticiosas, corrompendo oculto de Deus, acrescentando ou tirando dele, quer sejam inventadas e adotadas por nós, quer recebidas por tradição de outros, embora sob o título de antiguidade, de costume, de devoção, de boa intenção, ou por qualquer outro pretexto; a simonia, o sacrilégio; toda a negligência, desprezo, impedimento e oposição ao culto e ordenanças que Deus instituiu. Num. 15:39; Deut. 13:6-8; Oze. 5:11; Miq. 6:16; I Reis 11:33 e 12:23; Deut. 12:30-32 e 4:15-16; At. 17:29; Rom. 1:21-23,25; Gal. 4:8; Exo. 32:5,8; I Reis 18:26-28; At. 17:22; Col. 2 :21-23; Mal. 1:7-8,14; Deut. 4:2; Sal. 104:39; Mat. 15:9; I Ped. 1:8; Jer. 44:17; Isa. 55:3-5; Gal. 1:13-14; I Sam. 13:12 e 15:21; At. 8:18-19; Rom. 2:22; Mal. 3:8 e 1:7,13; Mat. 22:5 e 23:13; At. 13:45.…” (end.cit.).

– Devemos, ademais, lembrar que as imagens nada são e, portanto, qualquer invocação que se faça por meio delas é verdadeira invocação a demônios, pois, por detrás de qualquer imagem, feita contra expressa determinação divina, está a presença demoníaca, como deixa claro o apóstolo Paulo em I Co.10:20.

Ante o vazio que há nas imagens, havendo uma invocação, estar-se-á dando lugar ao diabo, o que jamais devemos fazer (Ef.4:27) e não podemos ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios (I Co.10:21).

OBS: É oportuno aqui verificar que um dos argumentos que o Catecismo Romano faz para defender o culto aos santos e o uso de imagem (lembrando que este Catecismo foi elaborado após o Concílio de Trento, convocado para combater a Reforma Protestante) é o fato de este culto ter levado à realização de “milagres” e “sinais”, que podem, muito bem, ter sido obra demoníaca, pois as hostes espirituais da maldade também produzem sinais e prodígios de mentira (Mt.24:24: II Ts.2:9).

Eis o texto aludido do Catecismo Romano: “…Uma confirmação categórica de que não desagradam a Deus nossos cultos e orações a Seus santos são os estupendos prodígios feitos em seus sepulcros. Com efeito, presenciamos constantemente milagres feitos por sua intercessão: cegos, mancos e paralíticos que recobram a saúde de seus membros enfermos, mortos que voltam à vida, possessos que se veem livres do demônio etc.…” (CATECISMO ROMANO. Cit. Ex.20:4-6. n. 3100. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 20 nov. 2014).

– Por isso, a violação ao segundo mandamento produz uma terrível reação por parte do Senhor. Como afirma João Calvino: “…É muito comum a Deus assumir em relação a nós a figura de um marido.(…).

Portanto, como um marido, quanto mais santo é e casto, tanto mais gravemente se incende se vê o coração da esposa a inclinar-se para com um rival, assim o Senhor, que verdadeiramente nos desposou para si, evidencia ser muito ardente sua inconformidade, sempre que é desdenhada a pureza de seu santo matrimônio, somos conspurcados de celerados apetites.

Mas, então isto sente especialmente o Senhor, quando oferecemos a outro o culto de sua divina majestade, que conviera ser absolutamente ilibado, ou o corrompemos com alguma superstição, uma vez que, deste modo, não só violamos o compromisso feito no casamento, mas ainda, acenando aos amantes, maculamos o próprio leito conjugal.…” ( op.cit.,p.142) (destaques originais). OBS: Ainda reproduzindo aqui o Catecismo Maior de Westminster, um grande documento oriundo da Reforma Protestante: “…110.

Quais são as razões anexas ao segundo mandamento para lhe dar maior força? As razões anexas para o segundo mandamento, para lhe dar maior força, contidas nestas palavras: “Porque eu sou o Senhor teu Deus, o Deus forte e zeloso, que vinga a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem e que usa de misericórdia até mil gerações com aqueles que me amam e que guardam os meus preceitos”, são, além da soberania de Deus sobre nós e o seu direito de propriedade em nós, o seu zelo fervoroso pelo seu culto e indignação vingadora contra todo o culto falso, considerando-o uma apostasia religiosa, tendo por inimigos os violadores desse mandamento e ameaçando puni-los até diversas gerações e tendo por amigos os que guardam os seus mandamentos, prometendo-lhes a misericórdia até muitas gerações. Exo. 20:5-6; Sal. 14:11; Apoc. 15:3-4; Exo. 34:13-14; I Co. 10-20-22; Oze 2:2-4; Deut. 5:29.…” (end.cit.).

– Assim como o uso de imagens de escultura por parte de Israel levou, por fim, ao cativeiro e à perda da Terra Prometida, de igual maneira, se fizermos uso de imagens, estaremos selando nossa posição fora da cidade celestial. Que Deus nos guarde, amados irmãos! 

– Não é diferente, ainda, a questão referente à “materialização da fé sobrenatural”, segundo a qual, para adorarmos a Deus precisamos “materializar a nossa fé” através dos “dízimos e ofertas”.  Aqui se tem mais uma violação do culto espiritual que é ordenado pelo segundo mandamento, como se os bens materiais que entreguemos ao Senhor seja algo assaz relevante e preponderante em nossa adoração.

Não resta dúvida de que a adoração também envolve as ofertas e os dízimos, mas nossa fé não se materializa nisto, sendo um evidente absurdo assim pensar. Fujamos disto, amados irmãos! OBS: Reproduzimos aqui esta “tolice”( para não dizer “blasfêmia”:…): “…Deus é Espírito. A criatura humana é matéria.

Como existir comunicação entre a matéria e o Espírito?Por meio da fé sobrenatural. Como materializar a fé em Deus?Como relacionar-se com Ele de forma prática? Seguindo Seus pensamentos, praticando Sua justiça (Leis e Mandamentos), sujeitando-se a Sua disciplina, enfim, obedecendo a Sua Palavra.(…). Em outras palavras, Deus não condiciona a volta de Seu povo à prática de orações, jejuns, guarda dos sábados, da frequência na igreja, vida religiosa, caridade, nada…Quem quiser andar ou materializar sua fé nEle tem de começar devolvendo os dízimos e ofertas.…”(MACEDO, Edir. Materialização da fé sobrenatural. Disponível em: http://www.bispomacedo.com.br/2012/10/12/materializacao-da- fe-sobrenatural/ 12 out. 2012 Acesso em 20 nov. 2014).

– Como bem disse o pastor Luís Eduardo C. de Queiroz, da Assembleia de Deus Ministério Monte Horebe: “…A Fé não pode ser enquadrada em objetos ou coisas, ela é um poder sobrenatural que nós alcança através da graça de Deus e por meio dela cremos no Deus Trino, por ela descobrimos a justiça de Deus (Rm 1.17), enfim, entendemos que a fé é algo espiritual Os nossos olhos devem estar arregalados para alguns charlatanismos que  acontecem em nosso meio em relação a fé  e acredito piamente que a fé não pode ser transformada em coisas materiais.

Um dos mandamentos do Decálogo diz: Não fará para ti imagem esculpida nem figura alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra nem nas águas debaixo da terra. (Êxodo 20.4). A idolatria foi condenada pelo Eterno, adoração deve ser somente voltada a Ele, porém caímos muitas vezes nos erros em que condenamos nos seguidores de outras religiões.

Falamos tanto sobre a tal da idolatria e temos seguido este caminho dentro de nossos cultos e igrejas, campanhas como essas que visam despertar a fé do publico usando objetos deve ser considerada heresia, nossos cultos estão cheios de simbolismos e idolatria  e a inércia tem tomado conta de alguns(…) (Devo materializar minha fé? Disponível em: http://pensandobiblicamente.blogspot.com.br/2013/09/devo-materializar-minha-fe.html 01 set. 2013. Acesso em 20 nov. 2014).

– Outra violação deste segundo mandamento, consoante ensino de João Calvino, é o chamado “culto imoderado”, que também podemos denominar de “culto irracional”, ou seja, a prática de condutas, atitudes e comportamentos que de forma irracional, com base em puro sensacionalismo, emocionalismo e frenesis, se diz cultuar a Deus, como se a adoração não exigisse uma consciência, uma atitude racional, porquanto Deus quer ser adorado voluntariamente, com reverência e respeito e não de modo tresloucado e sem qualquer sentido.

– Quando os homens resolvem cultuar a Deus como seres totalmente irracionais, sem fazer uso da razão e do entendimento, estão a tornar indigno o ser adorado, estão sendo irreverentes e desrespeitosos, o que consubstancia violação ao segundo mandamento.

– Não é outro o caso da chamada “adoração extravagante”, que tanto se tem propalado ultimamente. Como bem ensina o pastor Ciro Sanches Zibordi: “…Há ‘adoradores’ que insistem em defender e propagar um jugo desigual, a ‘adoração extravagante’.

À luz da Bíblia, adoração só pode ser casada com reverência, prostração, inclinação, humilhação, quebrantamento etc. Jamais pode ser associada a extravagância, termo que designa excentricidade, estroinice, esquisitice, falta de bom senso, dissipação, malversação, etc.

Etimologicamente, o termo vem do latim extravagari e significa “andar errante” (Houaiss). Jesus afirmou que os verdadeiros adoradores adoram o Pai ‘em espírito e em verdade’ (Jo 4.23,24). E é evidente que adorar em espírito e em verdade não denota adorar a Deus com uma ‘adoração extravagante’, irreverente, sem limites…”(Até o Diabo sabe que não existe ‘adoração extravagante’. 11 set. 2012. Disponível em: http://cirozibordi.blogspot.com.br/2012/09/ate-o-diabo-sabe-que-nao-existe.html   Acesso em 20 nov. 2014).

– Ainda no ensino do pastor Ciro Sanches Zibordi: “…Procure, no Antigo Testamento, pelo menos um versículo que associe a adoração a Deus à extravagância. Não há um sequer. Mas há inúmeras referências pelas quais se comprova que a adoração ao Senhor deve ser, sempre, reverente. Veja isso no Pentateuco (Gn 24.26; Êx 12.27; 34.8,9), nos Livros Históricos (2 Cr 20.18; 29.29; Ne 8.6) e nos Livros Poéticos (Jó 1.20; Sl 95.6).

Alguém poderá argumentar: ‘O Antigo Testamento não deve ser considerado. O que vale para a igreja de hoje é o Novo Testamento’. Veja que incongruência! Os propagadores da dança extravagante (funk, axé, samba etc.), para defenderem as suas invencionices gospel, se apegam a quê? Ao Antigo Testamento!

Isso porque citam, fora de contexto, as danças patrióticas de Miriã e Davi, além dos Salmos 149 e 150. Entretanto, ignoram o fato de Davi e Asafe jamais terem chamado dançarinos e coreógrafos para o louvor do Senhor, bem como fingem que não veem os vários textos veterotestamentários que associam a adoração à reverência.…”( end. cit.).

– Em o Novo Testamento, não é diferente, porquanto, como bem aduz o pastor Ciro Sanches Zibordi, não só os magos do Oriente adoraram Jesus reverentemente (Mt.2:11), como também o apóstolo Paulo é bem claro ao dizer que a adoração a Deus deve ser feita com ordem e decência, sem causar qualquer escândalo aos incrédulos (I Co.14:25,40).

– Por fim, devemos observar que a adoração no céu é absolutamente reverente e consciente, como se verifica da passagem de Ap.4:9,11 e 5:9,14, onde não há qualquer demonstração de frenesi, irracionalidade ou emocionalismo, mas uma profunda reverência consciente.

Ora, se esta é a adoração que se encontra no céu, e num momento em que a Igreja ali se encontra juntamente com o Senhor Jesus, como poderemos querer ir para lá com “adoração extravagante”?

 OBS: Ainda citando o pastor Ciro Sanches Zibordi: “…O que eu acho bastante curioso é que muitos ‘adoradores extravagantes’ afirmam que estão ensaiando na terra para adorar no céu… Meu Deus, tem misericórdia dos que não sabem o que dizem!

Quer saber como será a adoração no céu? Leia com atenção o livro de Apocalipse. Veja, especialmente, os capítulos 4, 5, 7 e 19. Em todos eles vemos que não haverá espaço para a famigerada “adoração extravagante” na presença do Senhor!

A ‘adoração extravagante’ pode satisfazer a carne, alegrar a geração gospel, encher igrejas lideradas por propagadores do evangelho-show etc. Mas no céu ela não terá lugar!…” (end. cit.).

IV – A ALCANCE DADO PELO SENHOR JESUS A ESTE MANDAMENTO

– Com relação ao segundo mandamento, vemos o pronunciamento do Senhor Jesus no Seu diálogo com a mulher samaritana, que foi registrado por João no capítulo 4 de seu evangelho.

– Quando a mulher samaritana perguntou ao Senhor Jesus a respeito do correto lugar de adoração, se no monte Gerizim, onde se travava o diálogo e onde os samaritanos haviam erguido um templo rival ao de Jerusalém, ou em Jerusalém, o Senhor lhe disse que nem num lugar nem noutro, pois havia chegado o momento em que os verdadeiros adoradores adorariam ao Pai em espírito e em verdade (Jo.4:22,23).

OBS: Conforme Flávio Josefo, o templo no monte Gerizim foi construído durante a operação militar que Alexandre, o Grande empreendia na Palestina, quando o governador de Samaria, Senabalate, conseguiu autorização do rei grego para a sua construção, tendo sido posto como sumo sacerdote Manassés, ex-sumo sacerdote judeu, que havia sido deposto por ter se casado com uma samaritana, filha do governador samaritano (Antiguidades Judaicas XI, 8. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.248).

– O Senhor Jesus, então, explicou àquela mulher que a adoração em espírito e em verdade é exigida porque Deus é Espírito e importa que assim seja adorado (Jo.4:24).

– O Senhor Jesus, então, mostra-nos que a genuína adoração tem de ser “em espírito”, ou seja, devemos prestar a Deus um culto espiritual, despido de qualquer elemento material que nos leve a Deus. Assim como Sete, Noé e Abraão, devemos adorar a Deus sem recurso a qualquer objeto material, na dignidade da Pessoa Divina, que é Espírito e que, portanto, deve ser adorada espiritualmente, sem recurso a qualquer bem material.

– O Senhor Jesus diz que não podemos adorar a Deus senão a partir de nosso espírito, que é o elemento que nos faz ligação com o Senhor, passando pela nossa alma e chegando até o nosso corpo. Nossa adoração não pode ser, de modo algum, mediada por qualquer obra de mãos dos homens, que é uma criatura ainda inferior ao do próprio adorador.

– Mas o Senhor, também, mandou que a adoração se fizesse “em verdade”, expressão que nos indica duas principais circunstâncias. A primeira é que a adoração deve ser feita de acordo com a Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17), ou seja, consoante os textos bíblicos que exigem que a adoração jamais se faça mediante imagens de escultura ou qualquer outra espécie de imagem, já que Deus é Espírito, não podendo, assim, ser representado por qualquer coisa visível, inclusive pinturas ou gravuras, como admite a Igreja Ortodoxa.

– A segunda circunstância é que a adoração “em verdade” é uma adoração sincera, que brota do interior do adorador e vai até manifestações externas, fruto de um coração que está em verdadeira comunhão com o Senhor, uma atitude racional e consciente, que faz com que sejam recusadas as adorações meramente exteriores, que não são resultado de uma verdadeira comunhão (como foi o caso da adoração de Caim, que, por isso mesmo foi rejeitada pelo Senhor), como as adorações irracionais, fruto de um emocionalismo e sensacionalismo que não reproduzem a realidade anímica do adorador (o “culto imoderado” mencionado por Calvino).

– Só é verdadeiro adorador aquele que adora a Deus em espírito e em verdade, não fazendo uso de qualquer objeto material, não fazendo uso de qualquer irracionalidade. Temos cumprido este mandamento?

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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