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LIÇÃO Nº 7 – HONRARÁS PAI E MÃE

lição 07

O quinto mandamento é o primeiro mandamento com promessa.   

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INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo dos dez mandamentos, estudaremos o quinto mandamento, que manda honrar pai e mãe.

– O quinto mandamento é o primeiro mandamento com promessa.

I – QUAL É O QUINTO MANDAMENTO  

– Na sequência do estudo dos dez mandamentos, estudaremos o quinto mandamento, que manda honrar pai e mãe.

– Como já temos estudado ao longo deste trimestre, há controvérsia qual seja o quinto mandamento, diante da “fórmula catequética” de Agostinho que foi adotada pela Igreja Romana e pelos luteranos, que considera “honrar pai e mãe” como “quarto mandamento”. Com exceção dos romanistas e dos luteranos, porém, tanto os judeus quanto os demais segmentos da Cristandade consideram que este é o quinto mandamento.

 OBS: Flávio Josefo, ao dar o “significado das dez palavras”, em suas Antiguidades Judaicas, diz que o quinto mandamento tem o significado seguinte: “ Deve-se honrar pai e mãe” (Antiguidades Judaicas III, 4; In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.69).

– Além da discussão de qual é o “quinto mandamento”, temos, também, a discussão relativa a em que tábua da lei este mandamento se encontra. Segundo alguns, cada tábua da lei continha cinco mandamentos e, neste caso, este quinto mandamento se encontraria na primeira tábua. Outros, no entanto, entendem que a primeira tábua continha apenas quatro mandamentos, de modo que este mandamento seria o primeiro da segunda tábua.

– A discussão diz respeito à natureza deste mandamento. O mandamento de honrar pai e mãe é um preceito vertical, ou seja, diz respeito ao relacionamento entre Deus e o homem e, assim, pertenceria à primeira tábua, ou é um mandamento horizontal, que se refere ao relacionamento entre os homens?

– Os rabinos judeus, os doutores da lei sempre consideraram que este mandamento é um preceito vertical, que diz respeito ao relacionamento entre Deus e os homens, alcançando apenas indiretamente o relacionamento entre os homens.

– Para estes mestres judeus: “…A Torá nos diz: ‘Honra teu pai e mãe’ e nos diz ‘Honra teu D’us’ – implicando que honrar os pais é equivalente a honrar a D’us.…” (Honrar pai e mãe: uma mitzvá dos dez mandamentos. Disponível em: http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1127655/jewish/Honrar-Pai- e-Me.htm Acesso em 08 dez. 2014).

 “…O Talmud ensina que há três parceiros na formação de uma pessoa: o pai, a mãe e D´us. Se somos gratos aos pais por terem nos dado o presente da vida, então seremos muito gratos a D´us por criar e sustentar o mundo todo, por nos dar o ar que respiramos, as flores e o solo em que andamos.…” (SIMMONS, Shraga. O ABC da honra aos pais. Disponível em: http://shaareibina.com/128abc.html Acesso em 08 dez. 2014).

“…E se observarmos bem, veremos que o mandamento “Honra a teu pai e a tua mãe” estão incluídos na coluna de Leis que regulam o relacionamento do homem para com Deus.

Não deveria este mandamento estar localizado na segunda coluna, que rege as relações entre nós, humanos? Incluindo “Honra a teu pai e a tua mãe”, entre os primeiros cinco mandamentos, Deus está declarando que nossos pais o representam neste mundo. Quando honramos nosso pai e nossa mãe, estamos honrando ao próprio Deus.…” (Os dez mandamentos, ordenanças e os estatutos. Disponível em: http://www.rudecruz.com/estudos-biblicos/antigo-testamento/exodo/os-10- mandamentos-exodo-20.php Acesso em 08 dez. 2014).

– Há ainda, entre os judeus o pensamento de que há uma correlação entre cada mandamento de cada tábua. Assim, por exemplo, “…Há uma ligação clara entre o segundo e o sétimo mandamentos, pois cometer idolatria é, essencialmente, um ato de adultério, isto é, de traição a D’us.…” (COHEN, Avraham. Shavuot: os dez mandamentos. Morashá, edição 64, abr. 2009. Disponível em: http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=793&p=0 Acesso em 08 dez. 2014).

– Sendo assim, vemos que o quinto mandamento estaria na primeira tábua, correspondendo ao décimo mandamento, que consta da segunda. Como afirma o rabino Avraham Cohen: “…Há, finalmente, uma relação muito curiosa entre o quinto e o décimo mandamentos.

É raro ver alguém cobiçar os pais de outros, pois isso é um fato imutável na vida do ser humano. Da mesma forma, não se deve cobiçar nada que não é seu. Assim como cada pessoa tem seus próprios pais que a trouxeram ao mundo, todo ser humano tem seu quinhão e sua missão na vida. Não se deve, portanto, cobiçar o que pertence a outrem.…(end.cit.).

OBS: “… “Honra a teu pai e a tua mãe” forma par com “Não cobiçarás a casa do teu próximo”. Uma criança que não honra seus pais, cresce sem limites, torna-se uma pessoa invejosa e percorre todo o caminho para começar a desejar o que é dos outros.…” (Os dez mandamentos, ordenanças e estatutos. Disponível em: http://www.rudecruz.com/estudos-biblicos/antigo-testamento/exodo/os-10-mandamentos- exodo-20.php Acesso em 08 dez. 2014).

– Já outros entendem que o mandamento é o primeiro da segunda tábua. É, por exemplo, a posição do Catecismo da Igreja Romana, que transcrevemos: “…O quarto mandamento encabeça a segunda tábua. Indica ordem da caridade.

Deus quis que, depois dele mesmo, honrássemos nossos pais, a quem devemos a vida e que nos transmitiram o conhecimento de Deus. Devemos honrar e respeitar todos aqueles que Deus, para o nosso bem, revestiu de sua autoridade (§ 2197 CIC) (lembrando que, na enumeração romanista, “honrar pai e mãe” é o quarto mandamento).

 É também a posição de Calvino, “in verbis”: “…Outros enumeram conosco quatro artigos na primeira tábua, mas em lugar do primeiro mandamento colocam a promessa, sem o preceito. Eu, porém, porque, a não ser que seja convencido por razão evidente, tomo as “dez palavras” em Moisés como os Dez Mandamentos, e a mim me parece vê-los dispostos precisamente na mais excelente ordem, permitida a eles sua opinião, seguirei o que a mim mais se recomenda, a saber, que o que esses tomam como sendo o primeiro mandamento, tem o lugar de prefácio à lei como um todo. Seguem, então, os mandamentos: quatro da primeira, seis da segunda tábua, ordem em que serão considerados.…” (As Institutas ou Tratado da Religião Cristã, v.2, p.139).

– O quinto mandamento é um verdadeiro mandamento de transição, visto que se refere tanto ao relacionamento de Deus com o homem, como também com o relacionamento entre os homens. É o mandamento de honra aos pais, que encerra em si dois aspectos.

OBS: “…Uma alusão implícita ao significado mais profundo da ordem ‘honra teu pai e tua mãe’ é detectada no próprio contexto no qual esta ordem aparece. É um dos Dez Mandamentos. Além disso, dentro do Decálogo em si é parte da primeira das duas Tábuas.

Isso é bastante significativo. Pois embora todo o Decálogo seja de origem Divina (como é a Torá inteira), os preceitos na primeira tábua tratam de assuntos religiosos típicos do relacionamento entre o homem e D’us.

As mitsvot [mandamentos – observação nossa] na segunda Tábua lidam com os aspectos que dizem respeito aos relacionamentos entre seres humanos. Poderíamos esperar que o quinto mandamento fosse agrupado junto com os últimos cinco pois ele também lida com um tema de preocupação social. Na verdade, porém, é agrupado aos primeiros quatro que são de natureza puramente religiosa.

Os comentaristas clássicos já notaram isto e oferecem várias interpretações [cf. Hadar Zekenim; Ramban; Abarbanel e outros]. Alguns sugerem que isso chama atenção ao papel dos pais como aqueles que proporcionam aos filhos a orientação adequada no que diz respeito às obrigações religiosas.

Porém há ainda uma alusão mais profunda que é independente do envolvimento paterno pós-natal e se concentra somente na capacidade criativa dos pais. O relacionamento entre pai e filho é análogo, e intrincadamente ligado, ao relacionamento entre D’us e o homem. Isso ocorre porque ao trazer um filho a este mundo, os pais estão numa parceria com D’us: a substância material é derivada dos pais, porém D’us concede espírito e alma, a forma vital do homem [Veja Kidushin 30b; Nidah 31a.] [tratados do Talmude – observação nossa].

O quinto dos Dez Mandamentos sugere implicitamente a consciência da própria origem, o reconhecimento da razão de ser, e o grato reconhecimento dos próprios recursos. A conscientização sobre o papel dos pais como agentes criadores leva à contemplação e reconhecimento do supremo Criador e Provedor de tudo: D’us.

O reconhecimento e a gratidão em seguida se estenderão da tangibilidade imediata e visual àquela que somente se reconhece após alguma meditação. Por este motivo D’us credita a honra aos pais como se fossem mostradas a Ele próprio; e de modo contrário, a negligência em honrar os pais é considerada como um insulto a D’us [Mechilta sobre Shemot 20:12; Sifra sobre Vayicrá 19:3][Mechilta sobre Shemot – comentário rabínico do livro de Êxodo, em hebraico, ‘Shemot’; Sifra sobre Vayicrá – comentário rabínico do livro de Levítico, “Vayicrá” em hebraico – observações nossas]

 É por isto que esse mandamento aparece na metade do Decálogo: está mediando entre os primeiros quatro e os últimos cinco preceitos porque está relacionado a ambos os grupos. É tanto um princípio religioso quanto social.…” (SCHOCHET, Jacob Immanuel. Honrar os pais. Disponível em: http://www.chabad.org.br/mitsvot/Kibud/home.htm Acesso em 08 dez. 2014).

– O primeiro aspecto é um aspecto relativo ao relacionamento com Deus, pois a honra aos pais traz, como consequência, uma ação direta de Deus, qual seja, o prolongamento da vida, uma promessa, como indica o apóstolo Paulo (Ef.6:2), a nos mostrar a gravidade deste dever de honra e como ele traz impacto direto no relacionamento da pessoa com Deus.

OBS: “… Nossos Rabis ensinaram: ‘Há três sócios em um homem, o Santíssimo, abençoado seja Ele, o pai e a mãe. Quando um homem honra seu pai e sua mãe, o Santíssimo, abençoado seja Ele, diz: ‘Eu inscrevo [mérito] para eles como se Eu tivesse habitado entre eles e eles tivessem Me honrado…” (TALMUDE DA BABILÔNIA, Kiddushin 30b) (tradução nossa de texto em inglês) (Disponível em: http://halakhah.com/pdf/nashim/Kiddushin.pdf Acesso em 08 dez. 2014).

– A posição dos pais, portanto, não é uma posição qualquer. Trata-se de um múnus dado pelo próprio Deus, que os faz copartícipes não só da criação de uma vida (o que já é uma circunstância de altíssimo valor, quase que um compartilhamento de glória), como também da tarefa de ensino e instrução. Os pais assumem, deste modo, uma tarefa de participação em a natureza divina, que os habilita a serem honrados, respeitados, obedecidos e portadores de bênçãos aos filhos.

 OBS: Oportuna a transcrição de trecho elucidativo a respeito do Catecismo Romano, que, embora considere que o quinto mandamento se refere ao relacionamento entre os homens, assim afirma: “…Pois, se amamos nossos pais, se obedecemos aos superiores, se respeitamos as autoridades, fazemo-lo, antes de tudo, porque Deus é quem os criou e quis prepô-los a outros, para governar e defender os demais pelo seu ministério.

Ora, sendo Ele mesmo que nos manda honrar tais pessoas, é de nossa obrigação fazê-lo, por isso mesmo que Deus as distinguiu com essa dignidade. Em consequência, a honra que prestamos aos pais parece referir-se antes a Deus, do que aos homens. Assim o lemos em São Mateus, quando fala do acatamento devido aos superiores: “Quem vos recebe, a Mim recebe”(Mt.10:40)

E na epístola aos Efésios, instruindo os escravos, diz o Ap6stolo: “Servos, obedecei aos vossos senhores temporais, com temor e tremor, de coração sincero, como se fosse a Cristo, não servindo s6 quando sois vistos, como para agradar aos homens, mas fazei-o corno servidores de Cristo”.…” (Ef.6:5; I Pe.2:18)…” (MARTINS, Leopoldo Frei. Catecismo Romano, III Parte, V. § 4º, pp.446-7).

– O segundo aspecto é salientado por Tomás de Aquino: “…As relações com os próximos são especiais e gerais. Especiais com aqueles de quem somos devedores e a quem estamos obrigados a devolver-lhes o que lhe devemos. A isto diz respeito o preceito de honra aos pais.…” (Suma Teológica I, II, 100, a.5. Citação de Ex.20:7,8. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 17 dez. 2013) (tradução nossa de texto em espanhol).

– Assim, o quinto mandamento é também um mandamento que se refere ao relacionamento entre os homens, um mandamento que traz um relacionamento especial que se deve ter entre pais e filhos, que criam aquele ambiente especialíssimo de manifestação de Deus entre os homens que é a família.

– Daí porque alguns considerarem que se trata de um mandamento em relação a Deus e, desta forma, estar na primeira tábua da lei e outros, por sua vez, um mandamento relacionado com o próximo e, por isso, estar na segunda tábua.

II – O QUINTO MANDAMENTO

– O quinto mandamento apresenta-se de forma ligeiramente distinta nas duas relações em que estão as “dez palavras” no texto sagrado. Em Ex.20:12, assim vemos o mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá”. Em Dt.5:16, temos o seguinte texto: “Honra a teu pai e a tua mãe, como o Senhor teu Deus te ordenou, para que se prolonguem os teus dias, e para que te vá bem na terra que te dá o Senhor teu Deus”.

– Ao contrário do que ocorre com o mandamento do sábado, a diferença de redação aqui não implica em características diversas. Na repetição que Moisés faz das palavras proferidas pelo Senhor no monte Sinai, há, apenas, a indicação de que “o Senhor teu Deus te ordenou” e da expressão “para que te vá bem”, que não constam do preceito em Ex.20, algo bem distinto do que ocorre com o sábado, quando há, inclusive, alteração do verbo núcleo da ação pretendida e, mais, diferente conotação do mandamento.

– O quinto mandamento consiste em “honrar” os pais. Ora, a palavra “honra”, no original hebraico, é “kabad” ou “kabed” (כבד), cujo significado é “honrar, glorificar, dar o devido peso, a devida consideração”.

– “…O termo glorifica, no hebraico ‘kabed’ significando etimologicamente, reconhecer o peso de uma pessoa, e sua autoridade. O contrário também acontece. Vejamos: Quando o sacerdote Eli deixou de corrigir seus filhos, que eram sacerdotes também, porém, desobedientes. O Eterno matou Eli e seus dois filhos Hofní e Fineias.

A Bíblia nos ensina que a mulher de Fineias estava grávida e próxima ao parto. Quando ela soube que seu sogro e seu marido haviam morrido, ela encurvou-se e deu a luz. (Cf I Sm 4:19) Ela chamou o menino de ‘Icabode’ significando que: a glória se foi, a honra se foi. Podemos entender que ninguém mais reconheceria o peso e autoridade da casa de Eli, pois, o nome da criança já dizia isto, a honra lhe foi tirada.…” (OLIVEIRA, Sandra Mara. Honra. Disponível em: http://www.netivyah.org.br/index.php?cod_secao=estudo_09 Acesso em 08 dez. 2014).

– Como se pode perceber, portanto, “honrar” significa dar o devido respeito, a devida consideração, reconhecer o “peso” e a “autoridade” dos pais, dentro da perspectiva de que os pais são aqueles que foram os colaboradores com Deus para que nós viéssemos à existência, as pessoas que Deus escolheu para serem a nossa origem, serem os corresponsáveis pelo bem mais precioso que temos que é a vida.

– Como afirma o Catecismo Romano: “…São João diz; “Quem não ama seu irmão, a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê?” (I Jo.4:20).  Analogamente, se não amamos e respeitamos nossos pais, a quem devemos amar segundo a vontade de Deus, apesar de estarem quase sempre diante de nossos olhos; que estima e veneração tributaremos a Deus, Pai supremo e boníssimo “(Ml.1:6), a quem não vemos de maneira alguma? Por aí se patenteia a consonância que existe entre ambos os Mandamentos.…” (MARTINS, Leopoldo Frei. Catecismo Romano, III Parte, V.§ 1º, p.445).

– O mandamento consiste, portanto, em dar aos pais, reconhecendo-os como verdadeiros representantes de Deus, a devida honra, respeito e consideração. Naturalmente que esta honra e respeito devem ser devidamente contextualizados, ou seja, jamais pode superar à própria honra devida a Deus. Ainda citando o Catecismo Romano, por sua biblicidade: “…Não há dúvida, devemos extremar-nos no amor e respeito a nossos pais.

 Mas, para que nisso haja piedade filial, é preciso, antes de tudo, prestar-se a principal honra e veneração a Deus, que é o Pai e Criador de todos os homens (Dt.32:6; Is.63:16; Jr 31:9…).Por conseguinte, devemos amar nossos pais, de molde que toda a veemência desse amor se refira ao Pai Celeste e Sempiterno.

Se alguma vez os ordens dadas pelos pais contrariarem os Preceitos de Deus, é evidente que os filhos devem antepor a vontade de Deus aos maus intentos dos pais, lembrando-se daquela advertência: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens” (At.5:29)…” (op.cit., pp.447-8).

– É este o sentido, aliás, que devemos dar à afirmação de Jesus que tem sido muito mal compreendida, a saber: “Se alguém vier a Mim e não aborrecer seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo” (Lc.14:26). Não se trata de uma ordem para odiar os familiares, deixa-los, abandoná-los, mas, sim, de que devem ser menos amados do que Deus, ou seja, num conflito entre os familiares e Deus, devemos fazer a vontade de Deus.

– Neste ponto, portanto, não há qualquer respaldo bíblico para se entender que a honra devida aos pais deva chegar ao extremo do “culto dos antepassados”, tão comum nas religiões orientais. Tal “culto” não se constitui em honra devida aos pais mas em verdadeira idolatria, que é vedada pelo primeiro mandamento.

– Este mandamento contém um preceito positivo, que é “honrar”. Como vimos, honrar é dar o devido respeito, a devida consideração. Ainda citando o Catecismo Romano: “…Acompanham essa honra os sentimentos de amor, respeito, obediência e veneração.

De caso pensado, empregou-se na lei o termo “honra”, e não “amor” ou “temor’, apesar do muito que devemos amar e temer nossos pais. Quem ama, nem sempre respeita e venera; quem teme, nem sempre ama. Mas quem honra de coração, também ama e teme.…” (op.cit., p.448).

– A primeira forma de honra devida é o chamado “amor filial” ou “piedade filial”, que consiste na demonstração de um coração cheio de amor e carinho para com os pais. Devemos, de coração, respeitar e considerar os nossos pais, não apenas como uma obrigação ou uma necessidade, mas com a consciência de que devemos a eles a nossa própria existência, como verdadeira expressão de gratidão por esta dádiva que é a vida.

OBS: Neste ponto, aliás, é interessante aqui trazermos um “midrash”, ou seja, uma ilustração rabínica que vem revela o sentido desta honra devida aos pais: “…Dois irmãos moravam numa cidade. O mais velho era rico, enquanto o mais novo vivia na pobreza, tirando seu sustento de um moinho de farinha.

O pai certa vez foi visitar o filho mais velho. Este preparou um banquete, servindo-lhe o melhor que tinha em casa. Em seguida aprontou o quarto mais confortável, com uma cama limpa, para o pai descansar. Mas durante toda a visita não demonstrou nenhum amor ou paciência ao pai. Não lhe perguntou como estava, na verdade, mal falou com ele.

Todos os seus atos se destinavam apenas a cumprir sua obrigações de respeito. O pai deixou a casa do filho mais velho e seguiu para a do mais novo. Como encontrou o filho labutando na pedra do moinho, o pai arregaçou as mangas e começou a ajudar.

Antes do anoitecer os dois tinham acabado o serviço. Retornaram juntos à casa do filho mais novo, conversando ao longo do caminho. O filho perguntou sobre a saúde do pai com amor e preocupação. Nenhum banquete real os esperava em casa, mas o pouco que havia foi servido diante do pai com grande respeito.

Anos depois, quando os dois filhos morreram, o mais moço, o filho pobre que quase nada tivera para oferecer ao pai além de temor e bondade, foi admitido no Paraíso e recebeu um lugar perto dos justos. Sobre isso foi dito: “Um filho pode dar ao pai gansos gordos para comer e não ganhar o Mundo Vindouro, enquanto outro filho pode fazer o pai trabalhar na pedra do moinho e ainda assim conquistar a vida eterna.”…” (O Quinto Mandamento: honrar pai e mãe. Disponível em: http://chabad.org.br/tora/leitura/yitro/parte9.html Acesso em 08 dez. 2014).

– Assim fez José quando, ao se encontrar com seu pai Jacó, deu-lhe todas as honras, apesar de ser o governador do Egito (Gn.46:29) e Salomão, que, mesmo sendo rei, fez questão de pôr sua mãe Bateseba num trono, à sua direita, criando, inclusive, a figura da “rainha-mãe”, que seria uma constante no reino de Judá (I Rs.2:19).

– Este “amor filial” mostra, claramente, que o dever de honrar os pais não decorre apenas de uma retribuição pelo que os pais fizeram ou fazem por nós. Muito pelo contrário, é algo que provém da própria consciência, pelo simples fato de serem eles coparticipantes de nossa criação.

 Tanto assim é que, lembram os rabinos judeus, que foi mandado aos israelitas que honrassem seus pais e mães num instante em que os pais e mães não eram responsáveis pelo sustento dos filhos, já que, no deserto, os israelitas eram providos diretamente por Deus.

 OBS: “…Muitas pessoas pensam que honrar os pais é como se fosse um pagamento pelo que fizeram pela gente, como trocar as fraldas e pagar a escola. Atualmente, esta mitzvá foi dada a geração que passou 40 anos no deserto, onde D´us provia todas as necessidades do Povo. Os pais não alimentavam seus filhos, pois tinham o maná para comer.

Os pais não precisavam comprar roupa, pois cresciam com elas e também não havia necessidade de lavar roupas. Entretanto, esta foi a geração que esteve no Monte Sinai e ouviu D´us dizer: “Honre seu pai e sua mãe”. Aprendemos daí uma grande lição: que não honramos nossos pais pelos que nos deram ou porque foram bons pais. Muito além disso, honramos os pais por terem nos dado o presente da vida. …” (SIMMONS, Shraga. end.cit.).

– Outra demonstração de honra que damos aos pais é quando intercedemos por eles, quando clamamos a Deus em seu favor. Não podemos nos esquecer que Deus é, também, o Deus de nossos pais e que, como o Senhor quis fazer de nossos pais copartícipes de nossa criação, devemos sempre pedir a Deus em seu favor.

Quando o Senhor Se apresentou a Moisés, fez questão, antes de dizer que Ele era o Deus dos seus antepassados, dos patriarcas (Abraão, Isaque e Jacó), que Ele era o Deus do seu pai Anrão (Ex.3:6). Quando pedimos a Deus em favor de nossos pais, estamos como que pedindo que se perpetue a nossa própria razão de ser, pois queremos que se perpetue aquela aliança existente entre Deus e nossos pais que resultou na nossa própria vinda à existência.

– Outra forma de honrarmos nossos pais é lhes obedecendo, dando-lhes ouvidos. Quando se fala neste mandamento, imediatamente vem à nossa mente a necessidade de obedecermos aos nossos pais. Não resta dúvida de que este é um dos principais núcleos do mandamento, mas não se esgota nisto.

De qualquer maneira, somente podemos honrar nossos pais se lhes obedecermos, isto é, regular nossos planos por seu juízo e vontade.  Como diz Salomão, quando atentamos às advertências de nossos pais, isto se constitui em “diadema de graça para a cabeça e colares para o pescoço” (Pv.1:8,9).

– Nunca devemos nos esquecer de que os pais são pessoas que nos querem bem gratuitamente, sem quaisquer interesses escusos, são, como “representantes de Deus”, pessoas que estão dispostas a se sacrificar por nós, que querem tão somente o nosso bem, num amor incondicional e gratuito, muito similar ao amor de Deus. Não é à toa, aliás, que Deus Se identifica como Pai no relacionamento com o homem. Por isso, atender-lhes os conselhos e as orientações é extremamente benéfico para todos nós.

– A obediência devida aos pais, aliás, traz uma importante finalidade deste mandamento, que é a de fazer nascer em nós uma postura de submissão. Segundo Calvino, aliás, é este o próprio fim do mandamento, “in verbis”: “…A finalidade deste mandamento é: uma vez que ao Senhor Deus apraz a manutenção do que dispôs, importa que nos sejam invioláveis os graus de eminência por ele ordenados.

A síntese, portanto, será: que usemos de deferência para com aqueles que o Senhor nos fez superiores e os tenhamos em honra, em obediência e em grato reconhecimento. Donde se segue a proibição: que não denigremos nada de sua dignidade, quer por desdém, quer por contumácia, ou por ingratidão.

(…) este mandamento referente a nossa sujeição aos superiores se põe fortemente em conflito com a depravação do espírito humano, que por isso é ele intumescido do anseio de exaltação, a contragosto se deixa sujeitar, foi proposta por exemplo essa forma de superioridade a qual, por natureza, é mais para estimar-se e menos para invejar-se, porque assim podia mais facilmente abrandar e dobrar nosso ânimoao hábito de submissão.

Logo, o Senhor gradualmente nos acostuma a toda legítima sujeição mediante essa forma que é a mais fácil de tolerar-se, uma vez que, de todas, a razão é a mesma.…” (op.cit., p.159) (destaques originais).

– Através deste mandamento, portanto, somos treinados a nos submeter, temos uma experiência, desde o berço, da necessidade que temos de compreender que há superiores em relação a nós, que não somos o “centro do universo”, mas criados para servir a Deus. Por meio deste mandamento, aprendemos a servir, aprendemos a dar a devida honra a quem está “acima de nós”, pois, fazendo isto com quem vemos, poderemos assim nos comportar em relação a Deus, a quem não vemos.

– Outra forma de honrar os pais é zelar pela sua imagem social evitando que os pais sejam alvo de calúnias, injúrias e difamações na sociedade onde vivemos. Lamentavelmente, vemos que, nos nossos dias, há um grande incentivo para que os filhos critiquem e denigram a imagem de seus pais na sociedade.

Aliás, dentro da filosofia mundana hoje reinante, é imperioso que o jovem ou o adolescente xinguem, difamem e desprezem seus pais perante os seus amigos e companheiros de grupo. Isto tudo contraria o que ensina a Palavra do Senhor.

– Constitui também modo de honrar os pais o socorro a eles a fim de que possam se manter na sociedade. Com efeito, assim se diz no Talmude, o segundo livro sagrado do judaísmo: “…Nossos Rabis ensinaram: ‘O que é ‘temor’ e o que é ‘honra’? ‘Temor’ significa que ele [o filho] nunca deve sentar no seu lugar [do pai] , nem contradizer suas palavras, nem dar palpite nos julgamentos contra ele. ‘Honra’ significa que ele lhe deve dar comida e bebida, vestimenta e cobertura para ele, leva-lo para dentro e para fora.…” (TALMUDE DA BABILÔNIA. Kiddushin 31b) (tradução nossa de texto em inglês) (Disponível em: http://halakhah.com/pdf/nashim/Kiddushin.pdf Acesso em 08 dez. 2014).

– A honra, propriamente dita, portanto, consiste em prover os pais do necessário para a sua sobrevivência, quando eles estiverem impossibilitados de fazê-lo.  Assim como nossos pais se dedicaram para a nossa manutenção, devemos, também, quando eles estiverem impossibilitados de fazê-lo, dar condições para que eles tenham as mínimas condições de sobrevivência.

 OBS: “…A maneira fundamental de honrar os pais é cuidar de suas necessidades, o que inclui, especificamente: dar comida e bebida a eles, ajudar na preparação da comida e a fazer as compras; ajudá-los a pagar as contas bancárias, ir ao banco etc.; levá-los para onde precisarem ir, inclusive ao médico. Se possível, é preferível morar próximo dos pais, para melhor atender suas necessidades. Realmente, não há limites para esta mitzvá [mandamento – observação nossa], o Talmud conta que Rabi Tarfon se inclinava para que sua mãe subisse e descesse da cama.

 Devemos ligar e visitar nossos pais frequentemente, de acordo com suas necessidades e o horário que possuímos. Em geral, devemos ter consideração para entender o fato de que os pais têm uma preocupação natural pelos filhos.

Tente mandar um e-mail ou telefonar, nem que seja por um minuto, a cada um ou dois dias. E, especialmente quando estiver viajando, avise-os quando retornar, para que saibam que voltou bem para casa.

Se seus pais estão idosos e enfermos, o filho deve cuidar e organizar tudo para o seu devido cuidado, e, se os pais não podem pagar, o filho deve fazê-lo. E, é claro, não devemos deixar que os pais pensem que são um peso na sua vida, ou que o fato de ajudá-los seja uma obrigação para você. …” (SIMMONS, Shraga. end.cit.).

– Foi, por isso, que o Senhor Jesus criticou com veemência a chamada “tradição dos anciãos”, como se vê em Mt.15:3-6. Jesus critica a posição então existente na interpretação da lei pelos judeus, segundo a qual se alguém havia prometido dar uma oferta ao Senhor, não poderia, caso seus pais lhe viessem pedir uma ajuda, “desviar” os recursos prometidos a Deus para ajudar seus pais. O Senhor disse que este entendimento contrariava o mandamento de honra aos pais, pois era necessário sempre ajudar os pais, a fim de que pudessem se manter.

– Trata-se de uma demonstração de gratidão e reconhecimento para com os pais o de suprir-lhes as necessidades quando, impossibilitados de conseguir o seu pão de cada dia. É um dever, aliás, que se encontra prescrito na Constituição brasileira, em seu artigo 229, “in verbis”: “…os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. De igual maneira, o Estatuto do Idoso (lei 10.741/2003) diz que é dever precípuo da família o atendimento do idoso.

OBS: “ Art. 3o É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. (…) V – priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência;…”

– Com o aumento da expectativa de vida na atualidade, temos uma verdadeira crise da Previdência Social em todo o mundo, porquanto não está mais o Estado a dar conta da manutenção dos mais idosos que, não tendo mais condições de trabalhar, dependem dos recursos advindos do Poder Público para a sua manutenção.

Esta crise estaria, de certo modo, atenuada se as pessoas cumprissem o mandamento de honra de pais e mães e não, dentro de um individualismo, achassem que somente o Estado deve arcar com o sustento dos mais idosos, que não têm mais condições de trabalhar.

– Este socorro, entretanto, não é meramente material, mas, também, espiritual. É fundamental que sempre estejamos prontos a fazer companhia a nossos pais, para que não se sintam abandonados e desprezados.

Faz-se mister, também, que busquemos, sempre, fazer com que pessoas boas e piedosas também façam visitas e sejam companheiras de nossos pais, dando-lhes o necessário aconselhamento e consolo, especialmente para que não fraquejem na fé e tenham sempre a esperança da vida eterna.

– Mas, além dos pais propriamente ditos, este mandamento, também, é uma ordem para que sejamos obedientes e honremos todos quantos são postos em posições de eminência na sociedade, como as autoridades, os patrões e, mesmo, as pessoas mais velhas, a começar de nossos familiares (tios, avós etc.).

– João Calvino é bem claro a este respeito: “…o Senhor aqui estatui uma regra universal, isto é, conforme tomamos conhecimento de que, por sua ordenação, alguém nos foi posto como superior, que o honremos com reverência, obediência e reconhecimento, e com quantas formas de servi-lo pudermos.

 Nem vem ao caso se aqueles a quem esta honra se defere são dignos ou indignos, porquanto, não importa o que sejam, afinal não alcançaram esta posição, entretanto, sem a providência de Deus, em função da qual o próprio Legislador quis que fossem honrados.…” (op.cit., p.160)  (destaques originais).

– O Catecismo da Igreja Romana também traz este ensinamento, “in verbis”: “O quarto mandamento dirige- se expressamente aos filhos em suas relações com seu pai e sua mãe, porque esta relação é a mais universal.

Diz respeito também as relações de parentesco com Os membros do grupo familiar. Manda prestar honra, afeição e reconhecimento aos avós e aos antepassados. Estende-se, enfim, aos deveres dos alunos para com seu professor, dos empregados para com seus patrões, dos subordinados para com seus chefes, dos cidadãos para com sua pátria e para com os que a administram ou a governam.

 Este mandamento implica e subentende os deveres dos pais, tutores, professores, chefes, magistrados, governantes, de todos os que exercem uma autoridade sobre outros ou sobre uma comunidade” (§ 2199 CIC).

– É o mesmo pensamento trazido pelo Catecismo Maior de Westminster: “Que significam as palavras ‘pai’ e ‘mãe’, no quinto mandamento? As palavras ‘pai’ e ‘mãe’, no quinto mandamento, abrangem não somente os próprios pais, mas também todos os superiores em idade e dons, especialmente todos aqueles que, pela ordenação de Deus, estão colocados sobre nós em autoridade, quer na Família, quer na Igreja, quer no Estado. Gn 4:20,21;45:8; II Rs 2:12;5:13; Is 49:23; Pv 23:22,25; I Tm 5:1,2; Gl 4:19. 125.

Por que são os superiores chamados ‘pai’ e ‘mãe’? Os superiores são chamados ‘pai’ e ‘mãe’ para lhes ensinar que, em todos os deveres para com os seus inferiores, devem eles, como verdadeiros pais, mostrar amor e ternura para com aqueles, conforme as suas diversas relações; e para levar os inferiores a cumprirem os seus deveres para com os seus superiores, pronta e alegremente, como se estes fossem seus pais. Ef 6:4; I Ts 2.7,8,11,12; I Co 4:14-16” (Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm Acesso em 08 dez. 2014).

– Assim, neste mandamento está inserida a necessária obediência e honra que devemos devotar a todos os superiores a nós, assim estabelecidos na ordenação social, lembrando que são, eles também, “representantes” de Deus, tanto que o apóstolo Paulo diz que as autoridades são “ministros de Deus” (Rm.13:4) e que devemos servir aos senhores sabendo que, em verdade, estamos servindo a Deus (Ef.6:5-7).

Assim também, mandou que sempre orássemos em favor dos que estão em eminência e dos reis, porque isto é bom e agradável ao Senhor (I Tm.2:1-3).

III – O DESCUMPRIMENTO DO QUINTO MANDAMENTO

– O descumprimento deste mandamento é a desonra aos pais, ou seja, a desconsideração, o desrespeito para com eles. João Calvino não mede palavras ao dizer o que pensa daqueles que não cumpre tal preceito: “…[ o Senhor] preceituou expressamente acerca da reverência de nossos pais, que nos trouxeram a esta vida, com o que nos deve ensinar, de certa maneira, a própria natureza.

 Pois são monstros, não seres humanos, os que infringirem o poder paterno por desrespeito ou insubordinação! Por isso, o Senhor ordena que sejam mortos todos os insubmissos aos pais, como indignos do benefício da luz, já que não reconhecem àqueles por cuja obra a têm alcançado.…” (op.cit., p.160).

– O mesmo Calvino assim expõe a questão do descumprimento: “…E, de fato, de variadas complementações da lei se evidencia ser verdadeiro o que acabamos de assinalar, ou, seja: que há três expressões da honra de que aqui se fala, a saber: reverência, obediência e reconhecimento.

A primeira dessas, a reverência, o Senhor a sanciona quando preceitua que seja entregue à morte aquele que maldisser ao pai ou à mãe [Ex 21.17; Lv 20.9; Pv 20.20], uma vez que aí castiga o menosprezo e a insolência. A segunda, a obediência, sanciona-a quando decreta a pena de morte contra os filhos contumazes e rebeldes [Dt 21.18-21].

Diz respeito à terceira a gratidão ou reconhecimento, o que Cristo diz: que é do mandamento de Deus que façamos o bem a nossos pais [Mt 15.4-6]. E quantas vezes Paulo faz menção deste mandamento, entende que nele se requerer obediência [Ef 6.1-3; Cl 3.20].…” (op.cit., p.160).

– Na lei de Moisés, era apenado com a morte aquele que maldissesse ao pai ou à mãe. Maldizer pai e mãe, algo tão corriqueiro e comum em nossos dias lamentavelmente, era punido com a própria morte, pois se trata, na verdade, de verdadeiro maldizer a Deus, de verdadeira blasfêmia contra Deus.

– É importante verificar que, ao contrário do que dizem alguns inimigos da Palavra de Deus, a lei mosaica não era cruel neste aspecto. Por primeiro, enquanto os gentios davam aos pais “direito de vida e morte” sobre os filhos, em Israel, era absolutamente necessário que os filhos fossem julgados para serem condenados e somente o seriam à morte se maldissessem seus pais, numa clara demonstração que os filhos, na lei de Deus, são considerados seres humanos e não “coisas” como nos sistemas jurídicos gentílicos, inclusive o romano, considerado o mais evoluído da Antiguidade.

– Na lei de Moisés, também, era apenado com a morte o filho “contumaz e rebelde”, ou seja, aquele que, insistente e deliberadamente, desonrasse seus pais, a ponto de não restar aos pais outra alternativa senão leva-lo até os juízes para que fosse feito o julgamento.

 É interessante observar que, na lei, os pais não podiam apedrejar seus filhos, mas isto era feito pela comunidade, em mais uma prova de que se negava aos pais o “direito de vida e de morte” sobre seus filhos.

– Nos dias hodiernos, logicamente, não podemos nos utilizar daqueles preceitos civis relativos à punição dos filhos contumazes e rebeldes ou que amaldiçoam seus pais, mas é claro que o que se preceituava na lei de Moisés representa uma figura da gravidade de tal conduta diante de Deus.

– A desonra e desobediência aos pais representa rebeldia, rebelião, pecado grave que as Escrituras dizem ser correspondente ao pecado de feitiçaria (I Sm.15:23). Portanto, quem deliberadamente desonra e desobedece a seus pais corre o risco de ser rejeitado por Deus e ter um triste fim.

Foi o que ocorreu com Absalão que, tendo desonrado e se rebelado contra seu pai Davi, mesmo tendo, transitoriamente, conquistado o trono, teve um triste fim, sendo não só derrotado militarmente e perdido o reino, mas vindo a ser assassinado contra expressa ordem de seu pai (II Sm.18:9-15), sem falar que até mesmo o seu grande conselheiro Aquitofel teve transtornado seu conselho por Husai (II Sm.16:15-17:14), numa clara evidência de quem entra por este caminho é totalmente desamparado pelo Senhor, cujo intento será sempre o de trazer mal a quem assim procede.

– Neste transtorno do conselho de Aquitofel pelo de Husai vemos, também, a figura do que ocorre com uma sociedade quando se deixa de lado o mandamento da honra aos pais. Como afirma o Catecismo da Igreja Romana: “…O respeito a esse mandamento alcança, juntamente com os frutos espirituais, frutos temporais de paz e de prosperidade. Ao contrário, a não observância desse mandamento acarreta grandes danos para as comunidades e para as pessoas” (§ 2200 CIC).

– É o que ensina Calvino: “…Ademais, enquanto o Senhor promete a bênção da presente vida aos filhos que tenham honrado aos pais com a consideração que convém, ao mesmo tempo acena que mui certa maldição defronta a todos os filhos contumazes e desobedientes.

 Para que isto não careça de execução, mediante sua lei pronuncia-os passíveis à sentença de morte e a respeito deles manda que se exerça punição. Se escapam ao juízo, ele próprio lhes provê o castigo, de qualquer modo que seja.

Pois vemos quão grande número desta espécie de homens perece ou em combates ou em rixas; outros, porém, são afligidos de maneiras insólitas; quase todos são por prova de que esta ameaça não é vã. Se bem que há os que escapam até extrema velhice.

Uma vez que, privados da bênção de Deus, nesta vida vegetam nada menos que miseravelmente e se reservam para maiores castigos no futuro, mui longe está de que se façam participantes da bênção prometida aos filhos piedosos.…” (op.cit., p. 161).

– A desconsideração e a desonra para com os que são superiores traz o comprometimento do tecido social. Quando a ideia de autoridade se desfaz, quando não há mais o respeito e a consideração por qualquer superior, temos uma situação de anarquia, de falta de estabilidade dos relacionamentos sociais, de ausência de limites, que leva a uma crise de autoridade que compromete a própria organização social, a própria vida em sociedade.

– É o que temos presenciado em nossos dias, dias em que há um excessivo individualismo e egoísmo reinantes, dias que, por isso mesmo, são trabalhosos, já que as pessoas são “desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural…” (II Tm.3:2).

Tal comportamento leva à desestruturação familiar e, como a família é a “célula mater” da sociedade, leva ao próprio desmanche da sociedade, tornando a vida insuportável e cada vez mais difícil de ser vivida.

– Infelizmente, a mentalidade reinante em nossos dias é esta “mentalidade revolucionária”, forjada por pessoas que querem “destruir” ou, na sua linguagem, “desconstruir” os valores judaico-cristãos que forjaram a sociedade, criando assim o clima propício para o estabelecimento de um caos, de uma desordem generalizada, que permitirá o surgimento de uma “nova ordem” esta, sim, totalitária e que não leve em conta a dignidade da pessoa humana.

– Esta mentalidade é uma das ações mais intensas do “espírito do anticristo”, que já se encontra entre nós (I Jo.4:3) e que tem se mostrado através de um dos mais eloquentes sinais da proximidade da volta do Senhor para arrebatar a Sua Igreja que é que se levantariam pais contra filhos e filhos contra pais (Lc.12:53; 21:16).

– Jamais os rebeldes e revolucionários tiveram o apoio do Senhor. Muito pelo contrário, quem resiste às autoridades, resiste a Deus e, dizem as Escrituras, trará sobre si mesmo a condenação (Rm.13:2). Sigamos o exemplo do Senhor Jesus que, mesmo sendo injustiçado pelas autoridades judaicas, não foi desrespeitoso nem desonroso com elas romanas (Mt.26:57-68; 27:11-14), como também o de Davi, que sempre deu a devida honra ao rei Saul, conquanto fosse ele um ímpio, injusto e cruel perseguidor (I Sm.24 e 26).

– Isto não significa, à evidência, que devamos concordar e apoiar todas as iniciativas das autoridades, pois nosso limite de obediência e honra é a Palavra de Deus. Como bem diz o Catecismo da Igreja Romana: “O cidadão é obrigado em consciência a não seguir as prescrições das autoridades civis quando estes preceitos são contrários às exigências da ordem moral, aos direitos fundamentais das pessoas ou aos ensinamentos do Evangelho.

 A recusa de obediência às autoridades civis, quando suas exigências são contrárias às da reta consciência, funda-se na distinção entre o serviço a Deus e o serviço à comunidade política, “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21).

“É preciso obedecer antes a Deus que aos homens” (At 5,29): Se a autoridade pública, exorbitando de sua competência, oprimir os cidadãos, estes não recusem o que é objetivamente exigido pelo bem comum; contudo, é lícito defenderem os seus direitos e os de seus concidadãos contra os abusos do poder, guardados os limites traçados pela lei natural e pela lei evangélica” (§ 2242 CIC).

OBS: “…Nossa veneração, naturalmente, não se reporta à malícia e perversão humana, se tal houver nos detentores do poder, mas à autoridade divina de que são revestidos. Por mais estranho que pareça, nunca poderá haver uma razão suficiente para lhes negarmos o devido respeito, ainda que eles nos persigam com todo o rancor e hostilidade.

Assim ê que David levava por diante suas grandes atenções para com Saul, embora este lhe mostrasse os piores sentimentos. David no-lo dá a entender nas seguintes palavras: “Eu era pacato com os que odiavam a paz·’ (Sl.120:7). …” (MARTINS, Leopoldo Frei. Catecismo Romano. III Parte, V.§ 16, p.452).

– Por isso, por exemplo, não é violação deste mandamento a tomada de ações para se pregar o Evangelho quando há uma proibição proveniente da autoridade civil neste sentido, como ocorre nos países comunistas ou muçulmanos. Lembramos, a propósito, a bela iniciativa da Missão Portas Abertas, que tem sempre ajudado a Igreja nestes países em que há grande perseguição.

IV – A PROMESSA ANEXA A ESTE MANDAMENTO

– Como diz o apóstolo Paulo em Ef.6:2, o quinto mandamento é “o primeiro mandamento com promessa”. Com efeito, nos mandamentos anteriores, os complementos ou eram explicações ou verdadeiras sanções aos preceitos.

 Com relação ao quinto mandamento, entretanto, Deus, mostrando todo o Seu agrado para com o seu cumprimento, diz que, quem cumprisse tal mandamento, teria prolongamento de vida sobre a Terra que o Senhor Deus dava ao povo de Israel, prolongamento este que não seria apenas quantitativo, mas, também, qualitativo, pelo que vemos do que consta na repetição do mandamento em Deuteronômio.

– Como diz João Calvino: “…esta promessa deve ser assim entendida: o Senhor estava falando privativamente aos israelitas a respeito da terra que lhes havia prometido em herança. Portanto, se a posse da terra era um penhor da benignidade divina, não nos admiremos se o Senhor quisesse atestar sua graça em prometendo longevidade de vida, mediante a qual acontecia que se colhesse o fruto diário de seu benefício.

 Logo, o sentido é: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que, pela longa extensão da vida, te seja concedido fruir duradouramente desta posse da terra que te haverá de ser por testemunho de minha graça.” Ademais, porque a terra toda foi abençoada para os fiéis, com razão contamos a presente vida entre as bênçãos de Deus.

 Por isso, esta promessa diz respeito, de igual modo, a nós, isto é, na medida em que a duração da presente vida nos é um atestado da divina benevolência. Pois, não é ela prometida a nós, ou foi prometida aos judeus, como se em si contivesse bem-aventurança, mas porque aos piedosos é costumeiramente um sinal da divina complacência.

Isto posto, se acontece, o que não é raro, que um filho obediente aos pais é arrebatado à vida antes da idade madura, a despeito disso está o Senhor a perseverar persistentemente no cumprimento de sua promessa, não menos que se contemplasse com cem geiras de terra aquele a quem havia prometido apenas uma.

 Tudo nisto se situa: que reflitamos ser prometida vida longa até onde ela é uma bênção de Deus, que é, de fato, uma bênção até onde é evidência da graça divina, que ele atesta a seus servos, e deveras o demonstra, infinitamente mais copiosa e substancialmente, pela morte.…” (op.cit., pp.160-1).

– No mesmo sentido, o Catecismo Romano, “in verbis”: “…Deus prodigaliza tais bens aos homens, cuja piedade filial Ele quer remunerar. Aliás, a divina promessa não deixa de ser menos segura e cans,taote, ainda que por vezes seja mais curta a vida daqueles que tiveram grande amor filial a seus pais. Isto acontece, ou porque é melhor para eles deixar o mundo, antes que abandonem a prática da virtude e do dever: são, pois, arrebatados, para que sua malícia não lhes perverta o entendimento, ‘e a hipocrisia não lhes seduza o coração” (Sab.4:11 [o livro apócrifo da Sabedoria – observação nossa]; ou, então são separados de seus corpos, na iminência de males e flagelos públicos, para escaparem das provações dos tempos que correm. “O justo, diz o Profeta, é arrebatado, em vista da malícia reinante” (Is.57:1).

 Assim acontece, para que não venha a perigar sua virtude e salvação, quando Deus castiga os pecados dos homens; ou para que, em tempos de suma tristeza tenham de chorar, amargamente, a desgraça de parentes e amigos.…” (op.cit., III Parte, V.§ 19, p. 454).

– Vemos, portanto, que a promessa não é de apenas uma vida longa, em temos de duração temporal, mas de uma vida abençoada, ainda que não seja tão duradoura. O prolongamento não deve ser entendido como um compromisso para se viver muito, mas como uma receita de uma vida agradável ao Senhor e que, enquanto dure sobre a face da Terra, sirva para a glorificação do nome do Senhor.

– Como diz o Catecismo Maior de Westminster: “…’para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá”, é uma promessa de longa vida e prosperidade, tanto quanto sirva para a glória de Deus e para o bem de todos quantos guardem este mandamento. Ex 20.12; Dt 5:16; I Rs 8:25; Ef 6:2,3” (pergunta 133, end.cit.).

– Esta promessa também diz respeito à própria perpetuação da sociedade, pois, em havendo obediência e honra por parte dos superiores, reina a ordem e, com ela, a paz e a estabilidade na sociedade que, por isso mesmo, progride e dura ao longo da história. Assim, o cumprimento deste mandamento traz também longevidade e prosperidade à própria sociedade, à própria vida em sociedade.

V – O ALCANCE DADO AO SENHOR JESUS A ESTE MANDAMENTO  

– O Senhor Jesus reafirmou este mandamento quando foi interpelado pelos escribas e fariseus de Jerusalém a respeito da tradição dos anciãos (Mt.15:1-20), oportunidade em que mostrou que a referida tradição transgredia o quinto mandamento, já que liberava os filhos de ajudar os pais com aquilo que haviam prometido entregar ao Senhor no templo (Mt.15:4-6).

– Com efeito, ante a interpretação de que qualquer promessa ou voto feito ao Senhor era uma promessa e voto feitos na presença do beneficiário, já que Deus é onipresente, os escribas e fariseus entendiam que, tendo alguém prometido dar algo ao Senhor, não poderia, mesmo se seu pai ou mãe viesse pedir que se lhe desse aquilo que fora prometido a Deus, em virtude de necessidade, o promitente deixar de cumprir a promessa ou voto para atender ao pedido de seus pais.

– O Senhor mostrou que tal circunstância representava violação do quinto mandamento, pois a honra exigida é a de prover as necessidades dos pais, pouco importando se havia sido prometido dar aquilo que os pais necessitavam ao Senhor. Ao assim afirmar, o Senhor Jesus confirma o entendimento que a honra aos pais é, em verdade, honra a Deus e que os pais devem ser honrados por serem “representantes” de Deus na terra. Em outras palavras, o Senhor reitera aqui o que havia sido dito pelo profeta Samuel ao rei Saul: “obedecer é melhor do que sacrificar” (I Sm.15:22).

– O Senhor Jesus, portanto, dá a este preceito a qualidade de preceito moral, que é um desdobramento do próprio mandamento de obediência a Deus, como que um teste de que realmente obedecemos ao Senhor, pois, se não obedecemos a nossos pais, que vemos e que nos trouxeram a vida, como podemos dizer que haveremos de obedecer a Deus?

– É importante verificar que o evangelista Lucas faz questão de deixar consignada esta sujeição do Senhor Jesus a Seus pais depois de ter narrado o episódio em que o Senhor foi encontrado por José e Maria no templo, interrogando os doutores da lei, logo após o Senhor ter dito a Sua mãe de que importava que Ele tratasse dos negócios de Seu Pai (Lc.2:49).

 O evangelista, inspirado pelo Espírito Santo, quis deixar bem claro que a consciência de que Jesus já tinha de que era o Filho de Deus e que tinha uma obra a realizar não O isentava do cumprimento do quinto mandamento.

– A propósito, temos outro exemplo do grande valor que o Senhor deu a este mandamento no instante mesmo em que o Senhor entrega Sua vida para a salvação da humanidade. Como que numa suspensão de sua obra vicária na cruz do Calvário, o Senhor não deixa de entregar Sua mãe aos cuidados do apóstolo João, impedindo, assim, que Maria ficasse desamparada, desassistida, já que o Senhor Jesus era seu primogênito e arrimo de família (Jo.19:26,27).

– Se Jesus, na Sua obra singular de salvar a humanidade, como que faz uma pausa neste importantíssimo trabalho, para cumprir o quinto mandamento, como nós, Seus discípulos, podemos querer justificar o abandono ou o desleixo para com nossos pais por causa da obra de Deus? Pensemos nisso!

– O apóstolo Paulo complementa este novo alcance do quinto mandamento dado pelo Senhor Jesus, ao dizer que devemos, indubitavelmente, não obedecer a nossos pais, por ser o primeiro mandamento com promessa, mas, também, a o fazermos com consciência, a partir do nosso interior, sabendo que ao fazermos isto estaremos, na verdade, servindo a Deus (Ef.6:1-8).

 Não é por medo ou conveniência que devemos honrar os nossos superiores, mas, sim, pela consciência de que Deus é o Senhor e que os superiores aí estão por terem sido postos pelo próprio Senhor.

– Como diz o apóstolo Pedro: “Sujeitai-vos, pois, a toda ordenação humana por amor do Senhor, quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores e para louvor dos que fazem o bem. Porque assim é a vontade de Deus que, fazendo o bem, tapeis a boca à ignorância dos homens loucos; como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus. Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai o rei” (I Pe.2:13-17).

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco 

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