Lição 11- NÃO DARÁS FALSO TESTEMUNHO
Devemos sempre falar a verdade e jamais difamar o próximo.
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INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo sobre os dez mandamentos, hoje analisaremos o nono mandamento não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
– Devemos sempre falar a verdade e jamais difamar o próximo.
I – QUAL É O NONO MANDAMENTO
– Na sequência do estudo sobre os dez mandamentos, hoje analisaremos o nono mandamento – não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
– Consoante já temos visto ao longo deste trimestre letivo, este é o nono mandamento para os cristãos protestantes, com exceção dos luteranos, e para os cristãos ortodoxos, assim como para os judeus.
A Igreja Romana e os luteranos, ao seguirem a fórmula catequética de Agostinho, que omite o segundo mandamento (“não farás para ti imagens de escultura”), consideram ser este o oitavo mandamento.
OBS: Flávio Josefo, em seu livro Antiguidades Judaicas, ao mencionar o significado dos dez mandamentos, afirma que o nono mandamento tem como sentido “não se deve dar falso testemunho” (Antiguidades Judaicas III, 4. In: História dos hebreus. Trad de Vicente Pedroso, v.1, p.69).
– O nono mandamento encontra-se em Ex.20:16 e em Dt.5:20, com a mesma redação, a saber: “não dirás falso testemunho contra o teu próximo”.
– Para os que entendem que cada tábua da lei possui cinco mandamentos e, portanto, há uma correspondência entre os mandamentos da primeira tábua e os da segunda tábua, este nono mandamento faz correspondência com o quarto mandamento, ou seja, o que determina a guarda do sábado.
– “… “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar” forma par com “Não dirás falso testemunho”. O indivíduo que não reserva um espaço para Deus, um tempo para buscar o alimento espiritual, vive só do que é material. Sem alimento espiritual o espírito morre, a carne passa a prevalecer sobre o espírito.
E a mentira, o falso testemunho é uma das obras da carne. Somente buscando a Deus é que podemos nos firmar na verdade.
A verdade é a palavra de Deus. Assim o homem tem que reservar um tempo para buscar a Deus e ler, estudar e meditar na Sua palavra.…” (Os mandamentos, ordenanças e estatutos. 12 ago. 2014. Disponível em: http://www.rudecruz.com/estudos-biblicos/antigo-testamento/exodo/os-10-mandamentos- exodo-20.php Acesso em 26 dez. 2014).
– Este mandamento é nitidamente um mandamento da segunda tábua da lei, visto que, no seu próprio teor, está a demonstrar que se trata de um “preceito horizontal”, ou seja, de uma conduta que se deve ter em relação ao próximo.
– Como afirma Tomás de Aquino: “… Já tinha proibido o Senhor que ninguém ofendesse ao seu próximo por obras; agora preceitua que tampouco se lhe ofenda por palavras, ou seja, ‘Não dirás falso testemunho contra o teu próximo’.…” (Os dez mandamentos. Trad. de Salvador Abascal. Cit. Ex.20:12-17. n.173.
Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 26 dez. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Verificamos, portanto, que o nono mandamento, na escala hierárquica de valores estabelecida pelo Senhor, está abaixo das ofensas por obras ao próximo. Depois de o Senhor ter proibido que se matasse alguém, atingindo a própria vida do próximo; que se adulterasse, atingindo a fidelidade para com a pessoa mais próxima de nós sobre a face da Terra, que é o nosso cônjuge e que proibisse que se furtasse, exigindo o respeito ao patrimônio material do próximo, agora proíbe que se diga falso testemunho contra o próximo, ou seja, impede que o próximo seja também ofendido por palavra.
Tem-se, portanto, uma exigência divina para um bom relacionamento com o próximo, relacionamento este que chega agora ao nível das palavras e que irá ainda adiante como veremos na análise do décimo e último mandamento.
– Já no oitavo mandamento, o Senhor havia mostrado que é necessário que tenhamos um bom comportamento em nossas palavras.
Com efeito, um dos aspectos do mandamento “não furtarás” é que tenhamos a verdade como parâmetro em nosso relacionamento com o próximo. Em o nono mandamento, esta necessidade de nos conduzirmos pela verdade é reforçada, pois a verdade não é exigível apenas em nosso relacionamento com o próximo, mas também em nossa própria referência ao próximo diante de outras pessoas.
– O texto original hebraico usa as palavras “’anah” (ענה) cujo significado é “responder, replicar, contestar; testemunhar” “vereakha” (ברעךך), cujo significado é “prejudicial”, “ruim”, mas também usa a palavra “shequer”(שקר), cujo significado é “mentira, falsidade”.
Temos, portanto, que o mandamento proíbe que se diga algo de mentiroso, de falso contra o próximo, algo intrinsecamente mau, que tenha o propósito de prejudicar alguém.
– Este preceito diz respeito ao nosso falar, ao cuidado que temos de ter com a nossa língua. Como bem diz o Catecismo Romano: “…O quanto é útil e até necessário explicar bem este Preceito e insistir na observância de suas obrigações, mostra-nos a palavra autorizada de Santiago:
“Quem não comete falta no falar, é um homem perfeito” (Tg.3:2). E mais adiante: “A língua é um membro pequenino, mas pode gloriar-se de grandes proezas. Reparai como um fogo insignificante põe a arder uma grande floresta” (Tg.3:5). E assim vai o Apóstolo discorrendo sobre o mesmo assunto. Duas coisas quer ele lembrar-nos. Primeiro, que o vício da má língua é muito espalhado. E o Profeta no-lo confirma com palavra: “Todo homem é mentiroso” (Sl.116:11). Parece ser o único pecado que se encontra em todos os homens.…” (MARTINS, Leopoldo Pires. Catecismo Romano. III, 9, § 1º, p.486).
– Também bem explica o Catecismo da Igreja Romana quando aborda a respeito deste mandamento que, como sabemos, para os romanistas é o oitavo mandamento, “in verbis”: “O oitavo mandamento proíbe falsear a verdade nas relações com os outros.
Essa prescrição moral decorre da vocação do povo santo a ser testemunha do; seu Deus, que é e quer a verdade. As ofensas à verdade exprimem, por palavras ou atos, uma recusa de abraçar a retidão moral: são infidelidades fundamentais a Deus e, neste sentido, minam as bases da Aliança” (§ 2464 CIC).
– Por fim, ao analisar este mandamento, assim se expressa João Calvino: “…Seu propósito: visto que Deus, que é a verdade, abomina a mentira, entre nós se deve cultivar a verdade sem dissimulação.
Portanto, a suma é esta: que não prejudiquemos o nome de alguém ou com calúnias e incriminações falsas, ou mentindo façamos dano a seu patrimônio; enfim, não façamos mal a quem quer que seja, pelo desenfreamento da maledicência e da mordacidade.
A esta proibição está ligada a injunção a que prestemos a cada um, até onde for viável, fiel assistência na afirmação da verdade, para que se proteja a integridade tanto de seu nome, quanto de suas coisas.…(As Institutas ou Tratado da Religião Cristã, v.2, p. 169) (destaques originais).
– Não é, pois, por outro motivo, que o Catecismo Maior de Westminster, ao falar sobre os deveres envolvidos com o nono mandamento, afirma que os principais deles são “…conservar e promover a verdade entre os homens e a boa reputação de nosso próximo, assim como a nossa; evidenciar e manter a verdade, e de coração, sincera, livre, clara e plenamente falar a verdade, somente a verdade, em questões de julgamento e justiça e em todas as mais coisas, quaisquer que sejam…” (resposta à pergunta 144. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm Acesso em 26 dez. 2014).
II – O NONO MANDAMENTO
– O mandamento é, como já salientamos: “não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Ex.20:16; Dt.5:20).
– Temos, pois, de pronto, uma cláusula proibitiva, que é a de não dizermos falso testemunho, que é, como bem sintetiza o Catecismo Romano, “…toda afirmação categórica que se faça em abono ou desabono de outrem. quer em juízo. quer noutra circunstância.…”(MARTINS, Leopoldo Pires. op.cit., III, 9, § 3º, p.487).
– Não podemos dizer inverdades, mentiras a respeito do próximo, seja quando somos chamados para ser testemunhas num processo judicial, seja em qualquer outra circunstância em que formos chamados para emitir um juízo a respeito de alguém. “…Deus é a fonte de toda a verdade. Sua Palavra é verdade. Sua lei é verdade. “Sua fidelidade continua de geração em geração” (Sl 119,90). Uma vez que Deus é “veraz” (Rm 3,4), os membros de Seu Povo são chamados a viver na verdade” (§ 2465 CIC).
– Deus é a verdade (Jr.10:10). Jesus é a Verdade (Jo.14:6). Desta maneira, não há como o povo de Deus viver apartado da verdade, não falar a verdade. Se temos comunhão com o Senhor, devemos sempre viver na verdade, andar na verdade.
Esta era, aliás, a maior alegria do apóstolo João: saber que as pessoas que havia ganhado para Cristo andavam na verdade (III Jo.3).
– Se Deus é a verdade, vemos que a verdade precisa ser revelada ao homem. E foi precisamente o que ocorreu. Deus Se revelou ao homem através de Sua Palavra que, por isso mesmo, é a verdade (Jo.17:17). É por meio da Palavra de Deus, da revelação que Deus fez de Si mesmo ao homem que descobrimos o que é a verdade e que nos permite viver e andar na verdade.
– Por isso, não há a menor possibilidade de termos comunhão com Deus ou de fazermos o que Deus quer de nós se sairmos da verdade, se andarmos pela senda da mentira. A mentira nasceu com Satanás, que o Senhor Jesus denomina de “pai da mentira” (Jo.8:44), “…nenhum mentira vem da verdade” (I Jo.2:21).
– A mentira está ligada ao caráter do adversário de nossas almas, de nosso inimigo, tanto que é algo que é próprio dele, como nos diz o Senhor Jesus (Jo.8:44). Destarte, como Satanás nada tem em Jesus (Jo.14:30), temos que não existe a menor possibilidade de qualquer mentira ser admitida ou tolerada por Deus.
– Isto é importante afirmar, pois, lamentavelmente, há sedizentes cristãos defendendo a existência de “mentiras santas”, de “mentiras toleradas por Deus”, dentro de uma suposta “ética do amor”, esquecendo tais pessoas que não há como se falar em amor a não ser na verdade.
Como bem afirmou o ex-chefe da Igreja Romana, Bento XVI: “…A caridade na verdade, que Jesus Cristo testemunhou com a Sua vida terrena e sobretudo com a Sua morte e ressurreição, é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira.
O amor – «caritas» – é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta.
Cada um encontra o bem próprio, aderindo ao projeto que Deus tem para ele a fim de o realizar plenamente: com efeito, é em tal projeto que encontra a verdade sobre si mesmo e, aderindo a ela, torna-se livre (cf. Jo 8, 22).
Por isso, defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhá-la na vida são formas exigentes e imprescindíveis de caridade. Esta, de fato, «rejubila com a verdade» (1 Cor 13, 6). Todos os homens sentem o impulso interior para amar de maneira autêntica: amor e verdade nunca desaparecem de todo neles, porque são a vocação colocada por Deus no coração e na mente de cada homem. Jesus Cristo purifica e liberta das nossas carências humanas a busca do amor e da verdade e desvenda-nos, em plenitude, a iniciativa de amor e o projeto de vida verdadeira que Deus preparou para nós.
Em Cristo, a caridade na verdade torna-se o Rosto da Sua Pessoa, uma vocação a nós dirigida para amarmos os nossos irmãos na verdade do Seu projeto. De fato, Ele mesmo é a Verdade (cf. Jo 14, 6).…” (Carta encíclica Caritas in veritate. N.1. Disponível em: http://www.portal.ecclesia.pt/instituicao/ktml2/files/61/Caritas%20in%20veritate%20pdf.pdf Acesso em 26 dez. 2014).
– Por isso, não é surpresa que na boca de Jesus jamais se tenha achado engano (Is.53:9; I Pe.2:22), pois, sendo Ele a verdade, não poderia, mesmo, em momento algum, usar da mentira ou tolerá-la, devendo ser o exemplo a seguir em nossa caminhada para o céu nesta peregrinação terrena.
– O mandamento proíbe, portanto, que se diga qualquer mentira a respeito do próximo. Mas, quem é o próximo?
Conquanto seja este já o quarto mandamento relativo ao próximo, somente aqui, neste mandamento, é que é, pela primeira vez, mencionada a palavra “próximo”, a exigir, portanto, que saibamos de quem se trata.
Esta questão, aliás, foi apresentada ao Senhor Jesus por um doutor da lei, que queria, com isso, justificar-se (Lc.10:29). Em resposta a esta indagação, o Senhor Jesus contou a parábola do bom samaritano (Lc.10:30-37), onde mostrou que qualquer outro ser humano é nosso próximo.
OBS: “…Consoante a doutrina de Cristo Nosso Senhor (Lc.10:29 e ss), próximo é todo aquele que carece de nosso auxílio, seja parente ou estranho, patrício ou forasteiro, amigo ou inimigo. E’ um erro julgar que seja licito proferir algum falso testemunho contra inimigos, porquanto o preceito de Deus Nosso Senhor nos obriga a amá-los (Mt.5:43 e ss).…” (MARTINS, Leopoldo Pires. op.cit., III, 9, § 4º, p.487).
– Não podemos, portanto, mentir, em hipótese alguma, e, muito menos, com a mentira, obter o prejuízo de qualquer outro ser humano.
Nada nos autoriza a cometer tal atitude. Não nos esqueçamos de que Deus abomina tanto a mentira que não somente os que a praticam, mas também os que amam tal prática são excluídos da convivência eterna com o Senhor (Ap.22:15).
– Nem se venha a dizer que o preceito estaria apenas a proibir o uso da mentira para prejudicar alguém e, portanto, uma mentira para “favorecer” ou “fazer o bem” a alguém seria tolerada pelo mandamento.
A mentira é intrinsecamente má, não tem origem em Deus e, portanto, não há qualquer “bem” que possa ser feito com base em uma mentira. “…A mentira faz parte dos falsos testemunhos, ainda quando se profira em pretenso louvor de alguém…” (MARTINS, Leopoldo Pires. op.cit., III, 9, § 5º, p.488).
– Como diz Tomás de Aquino: “…O que é intrínseca e naturalmente mau, não há modo possível de que seja nem bom, nem lícito, porque, para que uma coisa seja boa se requer que tudo nela o seja, pois, como diz Dionísio no capítulo 4 [de seu seu livro] Dos Nomes Divinos.16, ‘o bem requer o concurso de todas suas causas, para o mal, no entanto, basta um defeito qualquer’.
Ora: a mentira é má por natureza, por ser um ato que recai sobre matéria indevida, pois sendo as palavras signos naturais das ideias, é antinatural e indevido significar com palavras o que não se pensa.
Por isso diz o Filósofo [Aristóteles – observação nossa] no livro quarto da Ética [livro de Aristóteles – observação nossa], n. 17, que ‘a mentira é por si mesma má e vil; a verdade, ao contrário, é boa e louvável’. Portanto, toda mentira é pecado, como afirma também Agostinho em seu livro ‘Contra mendacium’ 18 h.…” (Suma Teológica II-II, q.110, a.3) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Não há como achar que a mentira possa ajudar alguém. “Os homens não poderiam viver juntos se não tivessem confiança recíproca, quer dizer, se não manifestassem a verdade uns aos outros.” A virtude da verdade devolve ao outro o que lhe é devido.
A veracidade observa um justo meio entre aquilo que deve ser expresso e o segredo que deve ser guardado; implica a honestidade e a discrição. Por justiça, “um homem deve honestamente a outro a manifestação da verdade”.
O discípulo de Cristo aceita “viver na verdade”, isto é, na simplicidade de uma vida conforme o exemplo do Senhor permanecendo em sua verdade. “Se dissermos que estamos em comunhão com Ele e andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade” (1 Jo 1,6)” (§§ 2469-2470 CIC).
– “…É como se o Senhor quisesse expressar o sentido de seu mandamento nestas palavras: “Não darás guarida a palavra mentirosa, nem unirás tua mão para que, com o ímpio, pronuncies falso testemunho” [Ex 23.1].
De igual modo: “Distanciar-te-ás da falsidade” [Ex 23]. Em outro lugar, também, nos adverte contra a mentira não só neste aspecto, dizendo que não sejamos detratores e difamadores no meio do povo [Lv 19.16], mas nem mesmo engane alguém a seu irmão [Lv 19.11], pois acautela contra um e outro em mandamentos específicos.
Com efeito, não há dúvida de que, como nos mandamentos precedentes Deus reprimiu a maldade, a impudência, a avareza, assim aqui reprime a falsidade, da qual são duas as facetas, as quais já assinalamos anteriormente.
Pois, ou ofendemos a reputação do próximo pela malignidade e pela perversidade de difamar, ou, mentindo, às vezes até injuriando, o privamos dos proventos.…” (CALVINO, João. op.cit., v.2, p.169).
– Ao lado desta cláusula proibitiva, o mandamento também possui um preceito positivo, qual seja, o que “…nos manda medir nossas palavras e ações pela simples verdade, pondo de parte qualquer simulação e artificio.…” (MARTINS, Leopoldo Pires. op.cit. III, 9, § 2º, p.486).
– Não só somos proibidos de mentir, como também somos obrigados a falar a verdade. É o que deixa bem claro o apóstolo Paulo: ”Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros” (Ef.4:25). Não basta que não mintamos, é imperioso que também falemos a verdade.
– Como afirmou o Catecismo Maior de Westminster, na resposta à pergunta 144, temos o dever de conservar e promover a verdade entre os homens e a boa reputação de nosso próximo, como também evidenciar e manter a verdade e, de coração, sincera, livre, clara e plenamente falar a verdade, somente a verdade.
Nosso compromisso é com a verdade.” A verdade como retidão do agir e da palavra humana tem o nome de veracidade, sinceridade ou franqueza. A verdade ou a veracidade é a virtude que consiste em mostrar-se verdadeiro no agir e no falar, guardando-se da duplicidade, da simulação e da hipocrisia” (§ 2468 CIC).
III – DO DESCUMPRIMENTO DO NONO MANDAMENTO
– Visto do que se trata o nono mandamento, impõe-se agora verificar que atitudes ou situações importam em seu descumprimento, em sua violação.
– A primeira forma de descumprir o nono mandamento é a afirmação categórica que não corresponde à realidade perante um juiz, que é a primeira ideia que nos vem quando se fala em falso testemunho, até porque existe, desde o início da civilização, o crime de falso testemunho, que, no Brasil, se encontra capitulado no artigo 342 do Código Penal, que consiste em “fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha (…) em processo judicial ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral”.
– Esta é a primeira forma de descumprimento deste mandamento e se constitui em violação mesmo quando a intenção é beneficiar o próximo, pois, como bem diz o Catecismo Romano, “…com muita frequência,
(…) o falso testemunho em favor de uma pessoa vem a prejudicar outra. Certamente, faz o juiz errar na causa. Levado, às vezes, por falsas testemunhas, decide contra o direito em favor da injustiça, e vê-se até obrigado a sentenciar dessa maneira.…” (MARTINS, Leopoldo Pires. III, 9, § 6º, p.488).
– É especialmente grave a prática do falso testemunho perante autoridades, pois é por intermédio de testemunhos que se procura chegar à verdade de fatos e a inverdade traz seríssimas consequências.
– No entanto, não é apenas perante o juiz ou qualquer outra autoridade que se tem o descumprimento deste mandamento. “…Deus proíbe todo [falso] testemunho que possa acarretar incômodo ou detrimento a terceiros, quer seja proferido em juízo, quer fora dele. No Levítico, onde novamente se inculcam estas determinações, está expresso:
“Não furtareis, não mentireis, e ninguém se ponha a enganar o seu próximo” (Lv.19:11). Assim, ninguém pode duvidar de que Deus, por este Preceito, proíbe e condena toda espécie de mentira. David também o atesta com a maior evidência: “Deitarás a perder todos aqueles que falam mentira”(Sl.5:6)…” (MARTINS, Leopoldo Pires. op. cit., III, 9, § 7º, p.489).
– Na passagem de Lv.19:11, temos, novamente, a ideia de proibição de toda espécie de engano, tanto que se condena ali tanto o furto, que, como vimos, ao analisar o oitavo mandamento, tem um aspecto de engano, como a mentira, que é também um modo de enganar, ainda que com a palavra e não por obra, como se dá no caso do furto.
Os que proferem a mentira, diz o salmista Davi, serão destruídos pelo Senhor.
– Assim toda e qualquer mentira que se diga em relação ao próximo é a segunda forma de descumprimento do nono mandamento. Como diz o Catecismo Maior de Westminster, é pecado proibido por este mandamento, “…tudo quanto prejudica a verdade e a boa reputação de nosso próximo…” (resposta à pergunta 144. end.cit.).
– Terceira forma de descumprimento deste mandamento é a maledicência, ou seja, o falar mal do próximo. A Bíblia Sagrada, em diversas passagens, condena o vício de se falar mal do outro, de aproveitar- se da ausência de alguém para se referir a ela de maneira maldosa e prejudicial.
– Davi, em Sl.101:5, diz que o Senhor destruirá aqueles que difamam o seu próximo, a demonstrar que se trata de um comportamento que desagrada a Deus e que leva à perdição.
– Tiago também é claro ao dizer aos irmãos que não devemos falar mal uns dos outros (Tg.4:11,12), pois esta atitude faz com que pretendamos assumir o lugar de Deus, fazendo-nos juiz e legislador, posição que cabe tão somente ao Senhor, que criou todas as coisas e as sustenta pelo poder de Sua Palavra.
– O apóstolo Paulo diz que não podemos ter qualquer comunhão com o maldizente (I Co.5:11), o que nos faz aqui lembrar o que diz o salmista, no Salmo 1, quando afirma que bem-aventurado é aquele que não se assenta na roda dos escarnecedores (Sl.1:1), a nos indicar que devemos ficar longe das famosas “rodinhas” em que o assunto é sempre o falar mal da vida alheia.
– O maldizente, como diz Salomão, é um fator de desagregação, de intrigas e de retirada de paz. O proverbista diz que assim como o fogo é para a lenha, assim é o maldizente para a contenda (Pv.26:20), de sorte que a maledicência é uma fonte de intrigas e de divisões, características que acompanham ambientes impregnados de malignidade e de inspiração satânica (Cf. Tg.3:14-16).
Afinal de contas, toda contenda, ira, peleja, dissensão, porfia e inimizade nada mais é senão obra da carne e, como tal, é ação praticada por quem não há de herdar o reino de Deus (Gl.5:19-21). O homem nascido de novo despoja-se da maledicência (Cl.3:8), pois, quem é maldizente não herda o reino de Deus (I Co.6:10). Maldizer é uma triste forma de darmos ocasião ao inimigo, de darmos lugar ao diabo (I Tm.5:14).
– Quarta forma de descumprimento deste mandamento é o mexerico ou fofoca. A lei de Moisés é bem clara com relação a isto: “Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; não te porás contra o sangue do teu próximo. Eu sou o Senhor” (Lv.19:16).
– A palavra hebraica é “rakhil” (רכל), cujo significado é “…um fofoqueiro (como viajante);— caluniar, espalhar calúnia, murmurar, caluniadores, mexeriqueiro, que anda praguejando, maldizendo, tagarelando)…” (BÍBLIA DE ESTUDO PALAVRA-CHAVE. Dicionário do Antigo Testamento, n.7400, p.1928). A etimologia da palavra indica que se trata de alguém que “faz a palavra, a notícia viajar”.
– Trata-se, portanto, daquele que divulga notícias, espalha boatos e informações a seu bel prazer, sem sequer se preocupar em saber se o que foi dito e é por ele propalado corresponde, ou não, à verdade. É um comportamento deplorável e que, como assinala o versículo já mencionado, compromete a própria vida do próximo.
– Neste ponto, aliás, devemos aqui lembrar o ensino do grande filósofo grego Sócrates (469-399 a.C.), conhecido como as “três peneiras”, segundo o qual cada um deve apenas divulgar o que se lhe foi dito se a notícia a ser divulgada passar pelas “peneiras” da verdade, da bondade e da necessidade.
Somente devemos falar aquilo que sabemos ser verdadeiro, contribuir para o bem das pessoas implicadas no que vai ser dito e, por fim, se há, realmente, necessidade que isto seja falado. Caso contrário, não devemos “passar adiante” o que nos foi dito, ainda que seja verdadeiro.
OBS: “…Um homem, procurou um sábio e disse-lhe: – Preciso contar-lhe algo sobre alguém! Você não imagina o que me contaram a respeito de… Nem chegou a terminar a frase, quando Sócrates ergueu os olhos do livro que lia e perguntou:
– Espere um pouco. O que vai me contar já passou pelo crivo das três peneiras?
– Peneiras? Que peneiras? – Sim.
A primeira é a da verdade. Você tem certeza de que o que vai me contar é absolutamente verdadeiro?
– Não. Como posso saber?
O que sei foi o que me contaram!
– Então suas palavras já vazaram a primeira peneira.
Vamos então para a segunda peneira: a bondade.
O que vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?
– Não! Absolutamente, não!
– Então suas palavras vazaram, também, a segunda peneira.
Vamos agora para a terceira peneira: a necessidade.
Você acha mesmo necessário contar-me esse fato, ou mesmo passá-lo adiante?
Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Melhora alguma coisa?
– Não… Passando pelo crivo das três peneiras, compreendi que nada me resta do que iria contar. E o sábio sorrindo concluiu:
– Se passar pelas três peneiras, conte! Tanto eu, quanto você e os outros iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo.
Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos. Devemos ser sempre a estação terminal de qualquer comentário infeliz!
Da próxima vez que ouvir algo, antes de ceder ao impulso de passá-lo adiante, submeta-o ao crivo das três peneiras porque:
Pessoas sábias falam sobre ideias; Pessoas comuns falam sobre coisas; Pessoas medíocres falam sobre pessoas.…” (As três peneiras. Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/ODU5NTM1/ Acesso em 26 dez. 2014).
– Neste ponto, a propósito, devemos ter muito cuidado com as notícias veiculadas nos meios de comunicação social, os chamados “mass media”.
Embora estes veículos estejam, também, debaixo deste mandamento e devam investigar antes de propalar notícias e informações, é mais do que sabido que a mídia é extremamente parcial e se encontra a serviço de interesses de manipulação, máxime nestes dias em que estamos na iminência da manifestação do Anticristo, cujo espírito já opera, e de forma avassaladora, sobre os meios de comunicação.
Como servos de Deus devemos sempre investigar toda e qualquer informação recebida por estes meios, inclusive pedindo o necessário e indispensável discernimento espiritual para análise daquilo que se nos apresenta como “verdade”.
OBS: A propósito, transcrevemos o que fala a respeito o Catecismo da Igreja Romana: ”Na sociedade moderna, os meios de comunicação social exercem um papel primordial na informação, na promoção cultural e na formação.
O papel cresce em razão dos avanços técnicos, com a amplitude e a diversidade das notícias transmitidas, com a influência exercida sobre a opinião pública. A informação dos meios de comunicação social está a serviço do bem comum.
A sociedade tem direito a uma informação fundada sobre a verdade, a liberdade, a justiça e a solidariedade: O correto exercício desse direito exige que a comunicação seja, quanto ao objeto, sempre verídica e completa, dentro do respeito às exigências da justiça e da caridade; que ela seja, quanto ao modo, honesta e conveniente, quer dizer, que na aquisição e difusão das notícias observe absolutamente as leis morais, os direitos e a dignidade do homem” (§§ 2493-2494 CIC).
– O nono mandamento não nos obriga apenas a falar a verdade, mas, também, a zelar pela boa reputação de nosso próximo. Assim, ainda que seja verdadeiro algo que venhamos a falar, caso este algo comprometa a imagem do próximo, a sua boa reputação, o seu bom nome, não há porque passarmos isto adiante, quando não houver necessidade que isto seja dito. Agir desta maneira, espontaneamente contribuindo para que o bom nome do próximo fique comprometido, é agir como mexeriqueiro, algo que é abominável aos olhos de Deus, uma espécie que Deus não quer no meio do Seu povo.
Não é por outro motivo, aliás, que o apóstolo Paulo diz temer que houvesse mexericos no meio da igreja em Corinto (II Co.12:20).
– Costumamos dizer que, lamentavelmente, este é um dos “dons” que existe na igreja embora não tenha sido posto ali pelo Espírito Santo ou por Cristo.
É o “dom da fofoca”, que tanto mal tem causado nos relacionamentos entre os irmãos nas igrejas locais.
Trata-se de uma erva daninha terrível, que deve ser extirpada, a fim de se evitar que, através dela, o inimigo de nossas almas tenha espaço entre os irmãos para realizar a sua obra de matar, roubar e destruir as vidas. Tomemos cuidado, amados irmãos!
– A divulgação espontânea e desnecessária de um fato que compromete o bom nome de alguém é denominada de “detração”.
Os detratores são pessoas ímpias, pecadoras, como bem demonstra o apóstolo Paulo em Rm.1:30. A propósito, a palavra grega original deste versículo, “katalalos”(κατάλαλος) mostra bem a intenção do “detrator”, a saber: falar contra alguém.
A detração não está preocupada com a verdade, como aparenta ocorrer, mas, sim, está preocupada em causar mal ao próximo, daí ser uma atitude que contraria a vontade do Senhor. Tanto assim é que, quase sempre, vem acompanhada de algum exagero ou exacerbação, de algum acréscimo mentiroso à verdade dita.
– O Catecismo Maior de Westminster considera como pecado proibido pelo nono mandamento, “…falar a verdade inoportunamente, ou com malícia, para um fim errôneo…” (resposta à pergunta 145. end.cit.).
– Quinta forma de descumprimento deste mandamento é a heresia ou o ensino de falsas doutrinas, que nada mais é que a distorção da verdade, que é a Palavra de Deus. Quando as Escrituras são distorcidas, temos um “falso testemunho” a respeito de Cristo, que se constitui em violação do nono mandamento, em pecado.
Como bem afirma o Catecismo Romano: “…de acordo com os ensinamentos do Apóstolo, diz Santo Agostinho, na “Epístola a Crescêncio sobre a mentira”, que a mentira faz parte dos “falsos testemunhos, ainda quando se profira em pretenso louvor de alguém.
E ao comentar a passagem: “Aparecemos como falsas testemunhas de Deus, porque contra Deus demos testemunho de que Ele ressuscitou a Cristo, quando de fato não O ressuscitou, se é verdade que os mortos não ressuscitam”(I Co.15:15) – diz ele: “O Apóstolo chama de falso testemunho, se alguém declara uma mentira a respeito de Cristo, ainda que esta pareça reverter em Seu louvor”. (De mendacio, 12 e ss)…” (MARTINS, Leopoldo Pires. op.cit., III, 9, § 7º, p.488).
– A heresia é uma “escolha”, como indica a própria raiz da palavra grega original, ou seja, alguém “escolhe” a verdade que mais lhe convém, deixando de lado aquela que foi revelada por Deus em Sua Palavra.
É, portanto, um falso testemunho, pois a Bíblia Sagrada é quem testifica de Cristo (Jo.5:39). Quando distorcemos as Escrituras, proferimos falsos ensinos estamos a violar o nono mandamento. Como disse o apóstolo Pedro, quem age desta maneira está semeando a própria perdição (II Pe.3:16).
– É com grande preocupação que temos visto, nos últimos anos, dezenas e dezenas de pessoas que, para chamarem atenção, para terem seguidores, estão, mesmo em nossos púlpitos, a distorcer o conteúdo das Escrituras, alterando textos, criando pretextos na medida em que tiram textos bíblicos de seu contexto, única e exclusivamente com interesses mercantis e de vaidade.
Estes falsos pregadores e mestres estão a violar o nono mandamento e a dar “falso testemunho” de Cristo, enveredando por um caminho extremamente perigoso e que os levará para a perdição eterna. Tomemos cuidado, amados irmãos, principalmente aqueles que estão encarregados de convidar pregadores para os nossos púlpitos, pois são tão culpados os que fazem como os que consentem que isto seja feito (Rm.1:32).
– Neste consentimento, aliás, estão aqueles que dão ouvidos aos mexeriqueiros, pois não haveria mexeriqueiros se não houvesse quem lhes escutasse.
O Catecismo Maior de Westminster considera pecado contra o nono mandamento “…suprimir a verdade e silenciar indevidamente em uma causa justa; manter- nos tranquilos quando a iniquidade reclama a repreensão de nossa parte …” (resposta à pergunta 145. end.cit.). Assim sendo, devemos impedir que se nos conte algum mexerico, repreendendo o mexeriqueiro, para que ele cesse nesta sua atividade deletéria.
OBS: Assim diz o Catecismo Romano: “…Pertencem a esta mesma classe [a dos mexeriqueiros – observação nossa] de homens, e participam da mesma culpa, os que dão ouvidos aos detratores e maldizentes, os que não os censuram, os que de bom grado concordam com as suas afirmações.…” (MARTINS, Leopoldo Pires. III, 9, § 10, p.489).
Tomás de Aquino também fala sobre esta classe de pessoas: “…Na conversação ordinária, costumam pecar contra este preceito cinco classes de homens (…) Também o que gostosamente escuta os detratores.(…) Pv.25:28: ‘O vento norte afugenta a chuva, e a face irada a língua fingida’…” (Os dez mandamentos. n.175. Cit. Ex. 20:12-17. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 26 dez. 2014) (tradução nossa de texto em espanhol).
– Sexta forma de descumprimento do mandamento é a semeadura de discórdias entre as pessoas. Muitos são os que se aproveitam de informações obtidas para pôr pessoas contra outras, sendo um verdadeiro semeador de contendas e de discórdias entre os indivíduos. Este tipo de gente é abominável aos olhos do Senhor, como nos deixa claríssimo o texto de Pv.6:16 e 19. É, mesmo, uma forma ainda mais grave de falso testemunho, pelo que se verifica dos dois textos.
– Sétima forma de descumprimento do mandamento é a lisonja, ou seja, o elogio falso e interesseiro, a adulação, a bajulação. “…Afinal, pecam nesta parte contra o Preceito os aduladores e lisonjeiros.
Com blandícias e fingidos louvores, procuram insinuar-se nos ouvidos e no coração de pessoas influentes das quais esperam proteção. dinheiro e honras. Como observa o Profeta, eles “ao que é mal chamam bem, e ao que é bem chamam mal” (Is.5:20). David nos exorta a arredar tais pessoas de nosso trato e convivência.
São suas as palavras seguintes: “Pode o justo, por caridade, corrigir-me e exprobrar-me; mas o ó1eo do pecador não há de ungir a minha cabeça” (Sl.141:5)…” (MARTINS, Leopoldo Pires. op.cit., III, 9, § 11, p. 490).
– Lamentavelmente, em nossas igrejas locais, há um sem-número de casos de lisonjas nestes dias imediatamente anteriores ao arrebatamento da Igreja, precisamente porque muitos líderes não estão a escutar o sábio e inspirado conselho de Davi, preferindo estar cercados de aduladores do que de pessoas que falam a verdade.
Tal prática tem comprometido seriamente o desenvolvimento da Igreja e, o que é mais grave, aberto não brechas, mas verdadeiras crateras para que o adversário aja contra o povo de Deus e cause grande número de mortes espirituais.
OBS: “Deve-se proscrever qualquer palavra ou atitude que, por bajulação, adulação ou complacência, encoraje e confirme o outro na malícia de seus atos e na perversidade de sua conduta.
A adulação é uma falta grave quando cúmplice de vícios ou de pecados graves. O desejo de prestar serviço ou a amizade não justificam uma duplicidade da linguagem.…” (§ 2480 CIC). “…145. Quais são os pecados proibidos no nono mandamento? …adular e vangloriar; elogiar ou depreciar demasiadamente a nós mesmos ou a outros, em pensamento ou palavra;…” (Catecismo Maior de Westminster. end.cit.).
– Oitava forma de descumprimento do mandamento é o fingimento ou dissimulação, entendidos estes como sendo a hipocrisia, ou seja, a atitude de aparência, que esconde o que há no coração, a insinceridade.
Tal comportamento é abominável aos olhos do Senhor, tanto que não foi à toa que Cristo tenha proferido o Seu mais duro discurso em Seu ministério terreno precisamente para combater a hipocrisia dos fariseus (Mt.23).
IV – O CUMPRIMENTO DO NONO MANDAMENTO
– Tendo visto as principais atitudes que se constituem em violação do nono mandamento, vejamos como podemos cumpri-lo.
– A primeira forma de cumprirmos este mandamento é conservando e promovendo a verdade entre os homens e a boa reputação do nosso próximo, assim como a nossa.
Se falarmos sempre a verdade e a promovermos, estaremos contribuindo para a paz entre as pessoas e demonstrando amor para com o próximo, pois o amor de Deus que é derramado em nossos corações é um comportamento que folga com a verdade (I Co.13:6).
– A segunda forma de cumprirmos este mandamento é evidenciando e mantendo a verdade, e de coração, sincera, livre, clara e plenamente falando a verdade, somente a verdade, em questões de julgamento e justiça e em todas as mais coisas, quaisquer que sejam (Catecismo Maior de Westminster, resposta à pergunta 144).
Devemos, portanto, sempre dizer a verdade, principalmente quando formos instados a declará-la em juízo ou perante qualquer outra autoridade. Não podemos agir como Pilatos que, diante de Cristo, perguntou o que era a verdade, dando as costas para Aquele que era a própria verdade (Jo.18:38), atitude que levou o presidente da Judeia a cometer o mais injusto julgamento de toda a história.
– Nos dias em que vivemos, muitos têm se comportado desta maneira, procurando fugir da verdade, escondendo-se atrás de um conceito segundo o qual a verdade não existe, é inatingível.
Esta descrença na verdade tem sido um dos principais fatores do chamado “relativismo moral” que vivemos hoje e que tanto prejuízo tem causado à humanidade. Não devemos ter medo de sermos tachados de “fundamentalistas” precisamente porque cremos na verdade e a buscamos. Por não crerem na verdade, os homens serão levados a crer na mentira e serão enganados pelo Anticristo e pelo diabo na Grande Tribulação (II Ts.2:7-12).
Tomemos cuidado, amados irmãos, pois não é esta a parte reservada aos verdadeiros discípulos de Cristo.
– A terceira forma de cumprirmos este mandamento é considerando caridosamente os nossos semelhantes; amando, desejando e tendo regozijo pela sua boa reputação; entristecendo-nos pelas suas fraquezas e encobri-las, e mostrando franco reconhecimento dos seus dons e graças; defendendo sua inocência; recebendo prontamente boas informações a seu respeito e rejeitando as que são maldizentes, lisonjeadoras e caluniadoras (Catecismo Maior de Westminster, resposta à pergunta 144).
– A consideração caridosa dos nossos semelhantes obriga-nos a evitar um juízo temerário, ou seja, não acreditarmos simplesmente no que nos é dito, sem antes averiguarmos a sua veracidade. Aliás, antes mesmo deste estágio, devemos usar das “três peneiras” socráticas, evitando que aquilo que não tem base venha aos nossos ouvidos.
Mas, mesmo havendo se passado no teste das “três peneiras”, é fundamental que investiguemos a veracidade daquilo que nos foi dito, pois é próprio dos ímpios não investigar (Sl.10:4).
– Bem diz a respeito o Catecismo da Igreja Romana: “Para evitar o juízo temerário, todos hão de cuidar de interpretar de modo favorável tanto quanto possível os pensamentos, as palavras e as ações do próximo.
Todo bom cristão deve estar mais inclinado a desculpar as palavras do próximo do que a condená-las. Se não é possível desculpá-las, deve-se perguntar-lhe como as entende; e se ele as entende mal, que seja corrigido com amor; e, se isso não bastar, que se procurem todos os meios apropriados para que, compreendendo-as corretamente, se salve” (§ 2478 CIC).
– Devemos sempre procurar ver “o lado bom” das coisas, jamais considerarmos previamente uma pessoa como culpada, sem antes investigarmos as razões e circunstâncias que levaram alguém a cometer este ou aquele ato que nos foi informado. Devemos lembrar que há o princípio da presunção de inocência, ou seja, ninguém pode ser considerado previamente culpado.
– Devemos sempre prezar pela boa reputação das pessoas. Não pode ser de nosso interesse que a reputação de alguém seja destruída.
Não podemos, pois, de forma alguma, gratuitamente, pelo simples prazer de prejudicar, desfazer o bom nome de alguém diante dos outros. Mesmo em sabendo de fatos desabonadores da conduta de alguém, não devemos, desnecessariamente, divulgar tais fatos, pois somente devemos tomar a iniciativa de trazer conhecimento aos outros de coisas que edificam.
Devemos nos ocupar do que é amável, de tudo o que é honesto, justo, puro, amável, de boa fama e onde haja alguma virtude e algum louvor (Fp.4:8).
– Também devemos rejeitar toda e qualquer adulação ou lisonja, sabendo que tal comportamento não é agradável a Deus, inclusive no que diz respeito à nossa pessoa. Devemos nos manter separados de gente que age deste modo, pois tal relacionamento não é verdadeiro nem sadio. Lembremos de que Jesus sempre Se afastou daqueles que queriam “paparicá-l’O” (Jo.6:15).
V – O ALCANCE DADO PELO SENHOR JESUS A ESTE MANDAMENTO
– O Senhor Jesus tratou deste mandamento no sermão do monte ao nos ensinar que devemos amar o próximo, mesmo quando este próximo for o nosso inimigo (Mt.5:43-48), mostrando que não somente não podemos agir contra o nosso inimigo, como também sequer podemos falar contra ele, sendo imperioso que o saudemos quando o encontrarmos (Mt.5:47).
– Ao assim ensinar, o Senhor Jesus mostrou que não podemos assumir a posição de juízes do próximo, nem procurarmos o seu prejuízo, ainda que ele tenha querido nos prejudicar, pois Deus, que é onisciente e o único juiz e legislador, faz que o sol se levante tanto sobre maus como sobre bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.
– Destarte, não podemos ter um coração que queira o mal do próximo, pois o coração é a fonte do falar (Mt.12:34), sendo a raiz do falso testemunho ( Mt.15:19).
– O falar, ensina-nos Nosso Senhor, é resultado daquilo que há em nosso homem interior e só uma forma de cumprirmos o nono mandamento: tendo a verdade em nosso coração, ou seja, tendo o próprio Cristo em nosso interior, entregando-nos a Jesus e, deste modo, não mais vivendo, mas permitindo que Cristo viva em nós (Gl.2:20).
– Quando falava sobre o novo nascimento com o mestre Nicodemos, o Senhor Jesus mostrou que o nascido de novo é aquele que pratica a verdade e, por isso, vem para a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus, algo que não ocorre com aquele que faz o mal (Jo.3:19,20).
– O Senhor, então, mostra-nos que não há outro meio pelo qual possamos cumprir o nono mandamento, a não ser entregando nossas vidas a Ele que, sendo a verdade, fará com que pratiquemos a verdade e tenhamos as nossas obras manifestas, porque feitas em Deus.
– Em diversos dos seus ensinos, o Senhor Jesus fez questão de mostrar que tudo quanto dizia, fazia-o na verdade. Daí a sua conhecida expressão, tantas vezes repetida nos Evangelhos: “Em verdade, em verdade vos digo”.
Tudo quanto Jesus fazia ou dizia era na verdade, deixando-nos o exemplo que deve ser seguido por todos quantos queiram ser genuínos e autênticos discípulos de Cristo Jesus.
– “…Com relação à crítica o Salvador declarou categoricamente: “Não julgueis e não sereis julgados” (Mat. 7:1). O próximo não se corrige através da crítica ou ridicularização, e sim, através do amor, indulgência e bons conselhos.…” (ALEXANDER (Mileant). Trad. de Olga Dandolo e Matuhska Claúdia Oliveira.
Os mandamentos de Deus: fundamentos morais da vida. Disponível em: http://www.fatheralexander.org/booklets/portuguese/commandments_p.htm Acesso em 26 dez. 2014).
– Como se isto fosse pouco, vemos, ainda, que na boca do Senhor Jesus jamais se achou engano (Is.53:9; I Pe.2:22). O Senhor Jesus deu-nos o exemplo de como devemos agir em nosso falar, jamais falando mal das pessoas, nem tampouco divulgando más notícias ou usando da palavra para angariar interesses escusos.
O Senhor Jesus mostra-nos, com absoluta clareza, qual deve ser o comportamento daquele que ama o próximo: procurar sempre conservar a boa reputação das pessoas, não as denegrir e somente falar o que é desagradável quando instado a isto. O comportamento do Senhor Jesus em Seu julgamento é um exemplo a ser seguido por todos nós.
– A língua tem de ser dominada pelo Espírito Santo. Tiago bem o demonstra, ao mostrar que o homem, por si só, não tem como controlar o falar. Não é à toa que, como ensina o evangelista Luiz Henrique de Almeida Silva, da Assembleia de Deus em Imperatriz/MA, o pioneiro das videoaulas da EBD na internet, que a língua é tão difícil de ser dominada que o envolvimento completo do cristão pelo Espírito de Deus é demonstrado precisamente pelo falar em línguas, o sinal do revestimento de poder, a apontar que é o último membro a se submeter ao pleno senhorio divino na vida de um cristão.
– Que Deus nos guarde e que, totalmente dominados pelo Espírito Santo, possamos ter o controle absoluto de Deus sobre o nosso falar e, deste modo, possamos cumprir o nono mandamento. Amém!
Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco