LIÇÃO Nº 5 – CAIM ERA DO MALIGNO
Com Caim e Abel vemos as duas diferentes opções que o homem tem diante do chamado divino para a salvação.
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INTRODUÇÃO
– Na sequência do estudo sobre o livro de Gênesis, estudaremos hoje a primeira parte do capítulo 4, que nos fala a respeito da história de Caim e de Abel.
– Com Caim e Abel, vemos as duas diferentes opções que o homem tem diante do chamado divino para a salvação.
I – OS FILHOS DE ADÃO E EVA
– Expulsos do jardim do Éden, o primeiro casal começou a cumprir a ordem divina para lavrar a terra como determinado pelo Senhor (Gn.4:23). Isto nos mostra claramente que Deus está no controle de todas as coisas, pois, apesar da entrada do homem no pecado e do aparente triunfo de Satanás, nada pôde impedir que se fizesse exatamente o que Deus havia determinado: o homem não teve mais acesso ao jardim do Éden e foi aguardar a sua morte física.
– A narrativa bíblica prossegue dizendo que Adão conheceu Eva e ela concebeu, tendo a Caim, tendo a mulher dito ter alcançado de Deus um varão (Gn.4:1).
– Este texto traz importantes lições. A primeira é de que o primeiro casal, embora tenha pecado, iniciou uma busca da comunhão com Deus. Disto podemos ter certeza por duas razões. Por primeiro, porque eles cumpriram a ordem de Deus para a procriação. Mesmo expulsos do jardim do Éden, não se rebelaram contra o Senhor, mas resolveram se multiplicar.
– Apesar da vergonha que passaram a ter entre si, em virtude do pecado, não deixaram de querer a procriação. Muito se discute se o primeiro casal teve filhos antes da queda, máxime diante da circunstância de que devem ter vivido milhares, quiçá milhões de anos, no estado de inocência.
Se, expulsos do jardim, mantiveram a ordem de procriação, por que imaginar que não o tenham feito quando estavam em plena comunhão com o Senhor? Ademais, o texto bíblico não diz que Caim tenha sido o primogênito do primeiro casal. Todavia, como o texto sagrado não é claro a respeito, devemos manter uma posição de respeito com todas as ideias a respeito, ou seja, de que tanto podem Adão e Eva ter tido filhos antes da queda como só depois da queda.
A única coisa que não podemos admitir é a ideia de que o sexo seja pecado, pois foi determinado pelo Senhor como modo de cumprir o propósito divino de procriação.
– Muitos perguntam, então, o que ocorreu com os eventuais descendentes do primeiro casal quando este casal pecou? Teriam eles permanecido no jardim do Éden? Teriam sido expulsos juntamente com o primeiro casal? Trata-se de questão que não é explicitada pelo texto sagrado, sendo qualquer solução que se dê mera conjectura, devendo nós calar onde a Bíblia também se cala.
– A segunda razão pela qual podemos dizer que o primeiro casal buscava a presença de Deus é que Eva agradeceu a Deus quando deu à luz Caim, dizendo ter alcançado de Deus um varão, prova de que via no nascimento de seu filho um sinal da misericórdia divina, de que estava em pé a promessa de que viria a “semente da mulher” prometida no jardim do Éden para a redenção da humanidade.
O primeiro casal foram os primeiros a crer na promessa recebida de Deus, fé esta que é a responsável pela salvação de todos quantos viveram sobre a face da Terra até a vinda do Senhor Jesus, como, aliás, bem diz o escritor aos hebreus ao nos trazer a galeria dos heróis da fé no capítulo 11 daquela carta.
– A segunda lição que aprendemos é de que devemos cumprir o propósito divino da procriação e, assim, ter filhos, reconhecendo-os como bênção do Senhor para nós.
– “Caim” significa “aquisição”. O primeiro casal, a começar de Eva, era grato a Deus por Sua misericórdia, reconheciam que Deus não os havia abandonado e que por isso tinham adquirido uma bênção, que era o filho, que, muito provavelmente, entendiam ser aquele que restabeleceria a comunhão com o Senhor, como prometido. Os filhos devem sempre ser considerados como uma bênção, pois são “herança do Senhor” (Sl.127:3).
– Nos dias em que vivemos, entretanto, muitos, inclusive que cristãos se dizem ser, não veem mais os filhos como bênção mas, sim, como maldição, tanto que não querem ter filhos, numa mentalidade que revela toda a rebeldia contra a Palavra de Deus, que mandou que o homem se reproduzisse. Planejamento familiar não é pecado, mas não desejar filhos é, sim, desobediência à ordem divina que nos mandou procriar.
– A terceira lição que aprendemos neste texto é a de que o fato de estarmos num estado de depravação por causa do pecado não nos impede de reconhecer de que Deus está no controle de todas as coisas e de que é participante de Sua criação.
O primeiro casal agradeceu a Deus o nascimento de seu filho Caim, prova de que a pecaminosidade do homem não o impede de ter conhecimento de que Deus existe e de atribuir ao Senhor tudo quanto ocorre em suas vidas.
– O apóstolo Paulo bem nos mostra isto ao dizer que a própria criação revela Deus aos homens, de modo que eles não podem se desculpar por não terem escolhido servi-l’O (Rm.1:18-20), circunstância, aliás, que nos mostra que Deus dá real oportunidade de salvação a todos os homens, não havendo, assim, uma predestinação incondicional, como defendem os calvinistas.
– O texto sagrado, também, mostra-nos que Caim teve um irmão, que recebeu o nome de “Abel”, cujo significado é “sopro”, “vapor”. É importante destacar que o texto sagrado não diz que eram apenas estes os dois filhos do primeiro casal.
Sem levar em conta se havia filhos antes da queda, devemos observar que, em Gn.5:4, é dito que teve o primeiro casal filhos e filhas, de modo que foram muitos os filhos que Adão teve, mesmo se considerarmos que os teve apenas depois da queda, durante os 930 anos em que viveu após a queda, e dentro de um propósito divino de que a terra se enchesse, não tendo porque não acharmos que o primeiro casal foi extremamente fértil durante toda a sua existência terrena.
– O texto sagrado diz que Caim se dedicou a lavrar a terra e Abel, a criar animais, prova de que o primeiro casal e seus filhos logo aprenderam a dominar os animais, domesticando-os.
– Em data não mencionada pelo texto sagrado, que se contenta em dizer ter sido “ao cabo de dias”, quando Caim e Abel já eram muito provavelmente adultos, embora não tivessem ainda se casado, estes dois filhos do primeiro casal resolveram adorar a Deus, trazendo um sacrifício ao Senhor, tendo Caim trazido uma oferta ao Senhor e Abel, dos primogênitos das suas ovelhas e da sua gordura.
– Temos aqui mais uma demonstração de que o primeiro casal vivia em busca do Senhor depois que expulsos do jardim do Éden. Seus dois filhos certamente aprenderam com seus pais a necessidade de se invocar o nome do Senhor, de tentar se relacionar com Ele, o que deveria ser feito mediante uma adoração, o reconhecimento da soberania e do senhorio de Deus.
– Sem sacrifício não seria possível chegar-se a Deus. Este ensino o primeiro casal deu a seus filhos e eles, tendo aprendido isto, vão à presença do Senhor, ofertando-lhe aquilo que tinham, demonstrando toda a sua gratidão e reconhecimento do senhorio de Deus sobre todas as coisas, inclusive as suas vidas.
– Tanto Abel quanto Caim se apresentaram diante de Deus, mas, numa demonstração de que Deus é o Senhor e que nós somos servos, a Bíblia diz que Deus atentou para o sacrifício de Abel, mas, não, para o de Caim.
O homem deve se apresentar diante de Deus, mas deve fazê-lo dentro dos parâmetros divinos, não segundo o bel prazer do ser humano.
– Se a adoração é o reconhecimento da soberania divina, de Seu senhorio, tem-se que somente podemos adorar ao Senhor do modo e da forma determinados pelo próprio Deus.
A adoração é uma necessidade do homem, uma comprovação da misericórdia divina e do desejo de Deus de ter comunhão com o ser humano, não um favor que o homem possa fazer a Deus.
Isto é fundamental, pois muitos, em nossos dias, agem como se seu culto a Deus fosse uma necessidade para Deus e não para o homem, como se estivéssemos fazendo um favor a Deus e não o contrário, isto é, que a aceitação de nosso culto pelo Senhor é um favor imerecido da Sua parte, uma manifestação da graça divina para com o ser humano.
– Deus somente aceitou a oferta de Abel e por que o fez? Defendem alguns que Deus não aceitou a oferta de Caim porque Caim trouxe como oferta da terra e seria necessário derramamento de sangue para que houvesse aceitação por parte do Senhor, o que teria sido ensinado pelo próprio Deus ao primeiro casal quando o Senhor matou o animal e derramou sangue para fazer as túnicas de peles com que vestiu o primeiro casal após a queda (Gn.3:21).
– Outros, porém, não entendem que tenha sido este o motivo pelo qual Deus não atentou para a oferta de Caim, pois ele era lavrador e a prática da agricultura era algo que havia sido determinado pelo próprio Deus (Gn.4:23), de modo que o simples fato de ter trazido frutos da terra não significaria, por si só, motivo para a rejeição da parte de Deus, até porque, na lei de Moisés, o Senhor previu a hipótese de sacrifícios com a utilização de vegetais e frutos da terra (Lv.2:1;6:14,15), a indicar, portanto, que a oferta de frutos da terra objetivamente não é algo que Deus não aceite.
– O que verificamos aqui é que a adoração deve ser feita pela totalidade do ser humano, tanto exteriormente, por meio do corpo e da matéria, como também interiormente, com a alma e o espírito. O que se percebe é que Caim apenas adorou a Deus exteriormente, de modo formalista, como um simples ritual.
Preparou o altar e apresentou “uma oferta ao Senhor” e o uso do artigo indefinido “uma” traz uma importante conotação, qual seja, a de que, embora exteriormente, Caim estivesse a reconhecer a soberania divina, na verdade, intimamente, não estava a dar o Seu devido valor, a Sua devida reverência, o Seu verdadeiro senhorio.
– Caim apresentou-se a Deus de modo displicente, sem levar em conta a soberania divina, de modo meramente formal, não tendo trazido o melhor que tinha, mas, simplesmente, procurado cumprir algo que havia aprendido de seus pais, sem cuidado, sem considerar que Deus é o Ser Supremo e que devemos buscá-l’O em primeiro lugar, com prioridade.
– A adoração a Deus deve envolver a integralidade do ser humano, que foi criado corpo, alma e espírito e que, portanto, deve estar totalmente vinculado ao Senhor.
É a ausência de uma adoração interior que torna toda e qualquer oferta ou sacrifício abomináveis ao Senhor, conforme podemos observar na mensagem que Deus deu a Judá nos dias do profeta Isaías, em que o Senhor condena veementemente aqueles que vinham à Sua presença apenas exteriormente, sem que seus corações (coração aqui é o homem interior, isto é, alma e espírito) estivessem efetivamente servindo ao Senhor (Is.1:10-18).
– Bem ao contrário, Abel trouxe o melhor que tinha para apresentar a Deus. A narrativa diz que trouxe “os primogênitos de suas ovelhas” para apresentar ao Senhor, ou seja, o que tinha de melhor. Abel mostrava, assim, que dava a Deus a prioridade em sua vida, que dava o devido valor, a devida consideração, o devido respeito ao Senhor. Abel mostrava que temia a Deus, que se submetia a Ele, reconhecendo Sua dependência de Deus e que sem Ele nada poderia fazer.
– Como ensina o evangelista Luiz Henrique de Almeida Silva, pioneiro das videoaulas na internet e que congrega nas Assembleias de Deus em Imperatriz/MA, ao derramar o sangue dos animais, Abel todo entrega a Deus, considera que a própria vida deve ser entregue ao Senhor e que, assim, ele próprio considerava que merecia a morte e que toda a sua vida deveria ser dedicada ao Senhor.
– Abel serviu a Deus integralmente, reconheceu sua condição pecaminosa e sua necessidade de entregar-se ao próprio Senhor, dizendo-se servo e à disposição d’Ele. É por isso que Abel é chamado de “justo” (Mt.23:35), porque é alguém que reconhece a justiça divina e a nossa injustiça, bem como a nossa umbilical necessidade que temos de obedecer ao Senhor para que alcancemos a salvação, que nos é imerecida.
– O verdadeiro adorador reconhece que Deus é o Senhor e que, portanto, devemos adorá-l’O do modo determinado pelo Senhor, bem como nos engarmos totalmente a Ele, estando dispostos a viver única e exclusivamente para Ele.
É por isso que o salvo em Cristo Jesus, a exemplo de Abel, vive pela fé e vive única e exclusivamente para Deus (Gl.2:20).
– Caim percebeu que Deus não atentou para a sua oferta. Como isto se deu? Através da consciência, esta “voz divina” que o Senhor implantou em cada ser humano, Caim soube que não agradara a Deus, que sua oferta fora rejeitada. É por isso que este período de tempo da história humana é chamada de dispensação da consciência, pois foi através dela, com exclusividade, que Deus Se comunicou com o homem e com ele tratou (Rm.2:14-16).
– Caim bem soube qual o motivo pelo qual sua oferta não foi aceita, ou, se não o soube, poderia ter buscado saber diante de Deus a razão pela qual isto teria acontecido, mas, ao revés, diz o texto sagrado que se irou fortemente, descaindo o seu semblante.
– Neste gesto de Caim, vemos que ele não dava mesmo o devido valor ao Senhor, não Lhe prestava a devida reverência, não estava interessado em agradar-Lhe. Sua ira reflete sua indignação, sua soberba, pois, em vez de reconhecer seu erro ou procurar descobrir porque não havia agradado a Deus, achou que Deus fosse obrigado a aceitar tudo quanto Lhe fosse oferecido, a revelar que, no íntimo, Caim achava estar prestando um favor a Deus quando buscou adorá-l’O.
– Caim agia como alguém que não considerava que Deus fosse o Senhor, mas tão somente um ser como os demais, alguém que deveria Se agradar com tudo quanto o homem fizesse.
Caim considerava, em sua prática, ser igual a Deus, d’Ele não depender e, por isso, teve esta reação, reação extremamente coerente com a própria adoração oferecida.
– Quem não teme a Deus, quem não tem a Deus como Senhor e quem não se dispõe a ter sua vida totalmente entregue a Ele, age como Caim. Acha que Deus é obrigado a aceitar tudo quanto Lhe é oferecido, que é ele quem determina as coisas e não o Criador de todo o Universo. É precisamente, aliás, o que estão a pregar os falsos mestres da teologia da confissão positiva, de onde vemos, uma vez mais, quão maligna e deletéria tal corrente de pensamento tão em voga em nossos dias é.
– Além de irar-se fortemente, é dito também que Caim “descaiu o seu semblante”, expressão que a Nova Versão Internacional traduz por “transtornou o seu rosto” e a Nova Tradução na Linguagem de Hoje por “fechou a cara”.
Na verdade, estamos aqui diante de uma expressão que significa a queda da própria vida espiritual de Caim, a sua morte espiritual. “Face” significa pessoa figuradamente e “descair” pode significar a morte, a queda, a prostração. Caim como que desistiu de buscar a Deus, decidiu não mais cultuá-lo, eliminá-lo de sua existência.
– Mesmo diante de uma atitude desta natureza, o Senhor vai ao encontro de Caim, para mostrar-lhe que não havia rejeitado Caim, mas, sim, a sua oferta. O Senhor, numa demonstração de Sua infinita graça e misericórdia, dirige-Se a Caim e lhe pergunta porque havia se irado, porque havia descaído o seu semblante.
Vemos, assim, nesta iniciativa divina, mais uma prova de que Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4) e, por ser justo, dá real oportunidade de salvação a todos os seres humanos.
– Deus indaga a Caim porque ele havia se irado e descaído o seu semblante e mostra que não tinha sido ele rejeitado pelo Senhor, mas, sim, que se ele fizesse bem, também haveria aceitação para ele. Deus não havia aceitado Abel e rejeitado Caim, mas havia aceito a oferta de Abel porque este O adorara integralmente, reconhecera a soberania divina, o que não ocorrera com Caim, mas, se este se dispusesse a fazer do mesmo modo que seu irmão, certamente seria aceito, pois o Senhor, de maneira alguma, lança fora aqueles que vão à Sua presença segundo os parâmetros por Ele estabelecidos (Jo.6:37).
– O Senhor, então, revela a Caim uma importantíssima verdade espiritual. Se ele não fizesse bem, se não pusesse o Senhor como sua razão de viver, se não vivesse para Deus, o pecado o dominaria.
Não há meio termo na vida espiritual: ou nos submetemos ao Senhor, reconhecemos Seu senhorio e entregamos nossa vida a Ele e, aí, faremos bem e Lhe agradaremos, tornando-nos justos, como Abel, ou, então, seremos dominados pelo maligno, seremos escravos do pecado, pois o pecado jaz à porta, está na espreita, na tocaia, e não poderemos controlar a nós mesmos, dando vazão à natureza pecaminosa que há em nós, herdada de nossos primeiros pais, pecando e nunca conseguindo deixar de pecar, pois quem comete pecado se torna escravo do pecado (Jo.8:34).
– O Senhor mostra a Caim os dois caminhos que existem para o ser humano: o caminho da salvação, que depende da entrega de nossa vida ao Senhor e o caminho da perdição, pelo qual nos recusamos a entregar nossa vida a Deus e passamos a ser guiados pela carne, isto é, pela nossa natureza pecaminosa, ficando separados de Deus em nossos delitos e pecados (Cf. Ef.2:1-3).
– O homem é, portanto, em virtude do pecado, um ser depravado, que possui uma natureza pecaminosa, que se manifestará inevitavelmente e nos levará para o pecado, natureza esta herdada de nossos pais, a chamada “natureza adâmica”, o chamado “pecado original” (Cf. Sl.51:5).
No entanto, todo ser humano é chamado por Deus a um verdadeiro arrependimento, a uma verdadeira conversão e a prova disto é que Deus foi ao encontro de Caim para mostrar-lhe esta realidade espiritual e convidá-lo a “fazer bem”, a seguir os passos de seu irmão Abel.
II – A TRÁGICA ESCOLHA DE CAIM E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS
– Deus foi ao encontro de Caim e mostrou, assim, que não havia previamente rejeitado a este e escolhido “a priori” Abel para a salvação, mas, mesmo diante da reação nefasta de Caim, desde a apresentação de sua oferta, o que se confirmou com sua forte ira e o descair de seu semblante, não deixou de mostrar Seu desejo de que Caim também fosse aceito, bastando, para tanto, que seguisse o exemplo de seu irmão e “bem fizesse”.
– No entanto, Caim, em vez de aceitar esta proposta divina, fazendo uso de seu livre-arbítrio, deliberou não seguir os passos de seu irmão, mas, sim, eliminá-lo, fazê-lo desaparecer da face da Terra, crendo que, não havendo outra alternativa, o Senhor obrigado seria a aceitar a sua oferta, já que Abel não o poderia mais fazer, uma vez morto.
– Caim se recusava a se submeter ao Senhor, Caim prosseguia pensando a partir de si mesmo e não reconhecia a Deus como o Senhor de todas as coisas, como aquele que deveria ser obedecido.
Bem ao contrário, Caim queria continuar fazendo a sua própria vontade, vivendo do modo que havia escolhido, achando que Deus era obrigado a aceitá-lo como ele era, “sem tirar nem pôr”.
– É por isso que as Escrituras dizem que Caim era do maligno, que é o título de nossa lição (I Jo.3:12), porque fez a opção por desobedecer a Deus, por fazer a sua própria vontade, o que, na verdade, representa fazer a vontade da carne, ser escravo do pecado, não fazer o que é correto e indicado assim por Deus na consciência, mas o que é mau, o que é contrário à vontade do Senhor (Cf. Rm.7:14-24).
– Caim manteve a sua forte ira e, em vez de procurar agradar a Deus, procurou agradar a si próprio. Esta forte ira, uma revolta contra Deus, voltou-se contra o próximo, que é imagem e semelhança de Deus, contra o seu irmão Abel, que fora seu companheiro na adoração.
Caim, deixando que o mal o dominasse, arquiteta matar seu irmão e o chama para o campo, num lugar ermo, onde o matou. Caim fez tudo premeditadamente, de “caso pensado”, entendendo assim poder livrar-se daquele que foi tido como o motivo da sua reprovação diante de Deus.
– As pessoas malignas são desta natureza. Não só são insubmissas a Deus como também, por se considerarem o centro do universo, tanto que não levam em conta nem mesmo o Senhor, também não dão valor algum ao próximo, odiando-o e, se possível, eliminando-o.
– Caim usou de astúcia para conseguir levar seu irmão ao lugar onde o matou, como também se tornou um homicida.O homem, quando escravo do pecado, acaba por assumir as características do diabo, que é o “príncipe deste século”, aquele que domina o mundo, entendido este não como o mundo físico, mas, sim, como o mundo espiritual surgido da entrada do pecado, mundo que está imerso no maligno (I Jo.5:19), mundo que não possui coisa alguma da parte de Deus.
O diabo é astuto (Gn.3:1) e homicida (Jo.8:44). Caim, como verdadeiro filho do diabo (I Jo.3:8,10), apresentava as mesmas características de seu pai.
– Caim fez tudo de forma planejada, achando que ninguém descobriria que havia matado seu irmão. No entanto, Deus tudo viu e, em mais um gesto de misericórdia, perguntou a Caim onde estava seu irmão Abel. Com esta pergunta, o Senhor mostra, mais uma vez, que sempre dá o direito de defesa ao homem, querendo, com isto, oportunizar a confissão e o arrependimento, a fim de que se possa alcançar a misericórdia (Pv.28:13).
– Caim, no entanto, não aproveitou mais esta oportunidade de arrependimento que lhe foi feita, mas, ao contrário, mentiu a Deus, dizendo não saber onde estava Abel e ainda indagando ao Senhor se, porventura, era ele “guardador de seu irmão” (Gn.4:10).
– Caim revela-se como um verdadeiro homem do maligno. Refletindo mais uma característica de um verdadeiro “filho do diabo”, mente para o Senhor. O diabo é pai da mentira e todos quantos amam e cometem a mentira se fazem filhos do diabo, confirmam estar escravizados pelo pecado.
Astuto, homicida e mentiroso, assim se apresenta Caim, a confirmar que ele era do maligno, que havia escolhido o caminho da perdição.
– No entanto, ao dizer que não era guardador do seu irmão, Caim revela, também, toda a sua egocentricidade, todo o seu egoísmo, toda a sua soberba, todo o seu individualismo. Caim vivia em função de si mesmo, a ponto de, inclusive, desconsiderar a própria soberania divina e, por isso, achava, do fundo de seu coração, que não tinha qualquer obrigação diante do próximo.
Caim vivia não só como se Deus não existisse, como também vivia como se o próximo não existisse, pois quem não ama a Deus, jamais amará o próximo e vice-versa (Cf. I Jo.3:10; 4:20).
– Todo ser humano deve lembrar que não pode viver sozinho, que tem de conviver e, por isso mesmo, tem de saber que todo ser humano é seu companheiro, é alguém que deve ser levado em conta, considerado, pois é tão imagem e semelhança de Deus quanto ele próprio e que necessitamos uns dos outros para que possamos chegar até a eterna convivência com Deus.
Se somos incapazes de conviver prazerosa e saudavelmente com os demais homens, que são imagem e semelhança de Deus, como haveremos de pretender conviver para sempre deste mesmo modo com o próprio Deus?
OBS: “…O Guarda de Teu Irmão (Kol Israel Chaverim). Todos em Israel são companheiros. Assim dizem os credos da solidariedade judaica de grupo que foram enunciados com convicção profunda pelo povo judeu durante dois mil anos. Daí advém a obrigação fundamental de cada irmão proteger e cuidar do bem-estar do outro.
Insistia Maimônides [filósofo judeu da Idade Média, grande comentarista da lei – observação nossa]; ‘Um homem deve falar elogiando seu vizinho e cuidar das posses dele como cuida das suas próprias e almeja a sua própria honra’. Contrariamente, acrescentava ele: ’Quem quer que se deleite com a vergonha de seu semelhante não terá sua parte no Mundo-do-Além’…” (AUSUBEL, Nathan. Valores éticos judaicos. In: A JUDAICA, v.6, p.899)
– Caim não demonstrou qualquer arrependimento, não confessou a sua prática e, ainda mais, considerou que obrigação alguma tinha com relação ao seu irmão, como se fosse o centro do mundo, o centro do universo, como se tudo girasse em torno dele.
– Este comportamento individualista é a tônica dos nossos dias. Paulo já afirmara a Timóteo que, nos últimos dias, nos tempos trabalhosos, uma marca da humanidade seria o individualismo, o amor de si mesmo (II Tm.3:1-4).
Este egoísmo faz com que os homens não levem em conta o outro em suas vidas e, quando chegam a considerar a existência do outro, fazem-no apenas para que este sirva de instrumento para a satisfação de seus próprios interesses.
– Diante desta atitude soberba e individualista de Caim, o Senhor, então, revela que tudo sabia e que o crime cometido por Caim não ficara encoberto. O Senhor diz que o sangue de Abel clamava ao Senhor desde a Terra, a clamar por justiça (Gn.4:10), circunstância que é repetida pelo Senhor Jesus em Lc.11:49-51).
– Esta afirmação divina permite-nos, por primeiro, observar que a justiça cabe, em última análise, a Deus. Deus é o vingador, a vingança pertence a Deus e com exclusividade (Dt.32:35; Sl.94:1; Rm.12:19; Hb.10:30).
Neste período da história da humanidade, ainda não havia sequer sido dada a oportunidade de o homem exercer qualquer administração da justiça, de modo que, com muito maior razão, está o Senhor a dizer que o sangue de Abel clamava por vingança desde a Terra.
– Por isso, devemos observar que, em matéria de homicídio, desde a sua primeira ocorrência na história da humanidade, não podemos querer matar o criminoso com um novo homicídio.
A vida pertence a Deus, pois foi Ele quem a deu (I Sm.1:6), de sorte que não podemos querer nos pôr no lugar de Deus e, deste modo, ceifar a vida do homicida, pois estaríamos nos nivelando a ele.
– Por segundo, vemos que nada ficará impune sobre a face da Terra. O sangue de Abel clamou por vingança desde a Terra e o Senhor, que tem o absoluto controle da situação, o fará.
Não pensemos, pois, que Deus não está a contemplar todas as injustiças da Terra nem tampouco permitamos que a existência da iniquidade venha a nos fazer perder a fé em Deus ou a duvidar de que Ele seja participante da criação e não um Deus que abandonou a criação à própria sorte.
Deus há de julgar tudo quanto de errado aconteceu e, por ocasião do juízo final (Ap.20:11-15), teremos a oportunidade de observar como Deus o fez, obra que será consumada naquela ocasião. Tenhamos, assim, a mesma fé que teve Abraão, que via em Deus o juiz de toda a Terra (Gn.18:25).
– Por terceiro, podemos observar que quem está em comunhão com Deus nesta terra, com era o caso de Abel, não cessa de ter tal comunhão mesmo depois da morte física.
O sangue de Abel clamou por vingança, a vida de Abel exigia de Deus uma reparação diante da injustiça cometida, porque Abel agradara a Deus, vivera pela fé, tinha um testemunho que, interrompido drasticamente pelo seu assassinato, não deixou de vindicar, diante do Senhor, a justiça, o que, segundo as Escrituras Sagradas, não se deixou apenas com Abel, mas se dá com todos os justos que forem martirizados por causa da sua fé em Deus, como nos deixa claro não somente o que nos disse o Senhor Jesus (Lc.11:49-51) mas no próprio juízo que o Senhor lançará sobre a humanidade por ocasião da Grande Tribulação, a segunda taça da ira de Deus (Ap.16:3-6).
– Deus, então, lança sobre Caim uma maldição, desde a terra, que havia aberto a sua boca para receber o sangue de Abel. Segundo esta maldição, a terra já não daria mais a sua força quando ele lavrasse a terra e vagabundo seria na terra (Gn.4:11,12).
– Que seria esta maldição imposta a Caim? Qual o seu verdadeiro sentido? É mais uma questão em que se debruçam os estudiosos das Escrituras Sagradas, havendo várias interpretações a respeito.
– O Senhor, com esta maldição, anulava a condição de agricultor de Caim. Ele que havia querido ofertar do fruto da terra e como que obrigando a Deus aceitar qualquer oferta, nem sequer poderia mais lavrar a terra, pois o Senhor não mais abençoaria o cultivo, que seria sempre um fracasso.
Caim passaria, então, a ser um nômade, alguém que não teria, como todo agricultor, um lar certo e determinado, mas que seria um andarilho sobre a face da Terra.
– Aquilo de que Caim se orgulhava em fazer, que o fazia pensar ser senhor de si mesmo, foi retirado pelo Senhor, para mostrar a ele que tudo devemos a Deus e que sem Ele, nada podemos fazer (Cf. Jo.15:5).
Pouco importa se o que Caim fazia era uma determinação divina aos primeiros pais (Cf. Gn.4:13), pois, se não somos obedientes ao Senhor, não devemos achar que estamos “de algum modo” agradando a Deus.
– Caim deixou de ter rumo certo, de ter um norte na sua vida terrena. É exatamente esta a situação daqueles que não atendem ao chamado divino para a salvação.
Passou a viver errantes sobre a face da Terra, sem direção, sem qualquer guia. Nada mais são que joguetes na mão do inimigo de nossas almas, andando segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que opera nos filhos da desobediência, nos desejos da carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos, sendo, por natureza, filhos da ira (Cf. Ef.2:2,3).
– Quando, porém, nos voltamos para Deus crendo em Cristo Jesus como nosso único e suficiente Senhor e Salvador, passamos a ter uma direção, a ter um norte, pois recebemos o Espírito Santo, que nos passa a guiar em toda a verdade (Jo.14:16,17; 16:13,14).
– Ante esta sentença divina, Caim, então, entende que a sua maldade era maior que a que poderia ser perdoada (Gn.4:13), reafirmando, assim, o seu sentimento manifestado pelo “descair de seu semblante”, ou seja, a sua total perda de esperança com relação a Deus ou ao estabelecimento de um relacionamento com Deus, uma eliminação da figura de Deus em sua mente.
– Diante da sentença divina, Caim verifica que também seria morto, antevendo a própria justiça divina, dizendo que, como estaria a vaguear pela Terra desde então, sendo fugitivo e vagabundo, quem o achasse, haveria de mata-lo (Gn.4:14). Era a mente desesperada que não via qualquer outra coisa senão a manifestação da vingança divina.
– Por isso, não podemos jamais nos guiar pela lógica humana, pois, apesar de o Senhor nos ter feito seres inteligentes e pensantes, não temos condição alguma de conhecer os desígnios divinos, não podemos racionalizar e reduzir aos parâmetros humanos o que Deus pensa e o que Deus há de fazer. Os caminhos de Deus são muito mais altos que os caminhos do homem, como também os Seus pensamentos (Is.55:9).
– Todavia, o Senhor mostra como a Sua graça é maior do que qualquer pecado e como não podemos jamais perder a esperança de alcançar o perdão divino. Contrariando as expectativas de Caim, Deus diz que estava a amaldiçoar sete vezes mais quem matasse Caim e pôs em Caim um sinal, para que ninguém o ferisse quando o achasse (Gn.4:15).
– Duas coisas aprendemos com este texto. Por primeiro, que Deus, mesmo diante do horrendo crime de Caim, continuou a mostrar que o amava e que havia ainda chance para ele.
Com efeito, ao dizer que quem matasse Caim seria sete vezes mais maldito que o próprio Caim, o Senhor estava a dizer a Caim que ainda o amava e o considerava e queria a sua salvação, apesar de ser ele do maligno. O mesmo repúdio que causara a morte de Abel também se manifestaria em eventual assassinato de Caim.
Deus não faz acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34) e não tem prazer algum na morte do ímpio (Ez.33:11), desejando antes a sua conversão (Ez.18:23). Tem sido este o nosso desejo, amados irmãos? Se somos filhos de Deus, não podemos ter outro sentimento senão este!
– Por segundo, vemos que o sinal dado por Deus a Caim o impedia de ser morto, dando-lhe, assim, mais uma oportunidade para que se arrependesse.
Deus garantia a Caim uma sobrevida sobre a face da Terra, sobrevida que se tornava uma chance a mais para que se arrependesse dos seus pecados e pedisse perdão ao Senhor, Senhor que já havia lhe mostrado Seu vívido interesse em perdoá-lo e construir com ele um relacionamento assim como tinha ocorrido com Abel.
– Muito se discute sobre qual seria este “sinal de Caim”. Ao contrário da maldição, este sinal é algo benigno, é a manifestação da graça e da misericórdia do Senhor para com o primeiro homicida. Não podemos especular o que seja, pois, mais uma vez dizemos, onde a Bíblia se cala, calados devemos também nos manter.
– O que é certo é que este “sinal de Caim” continua sendo posto sobre todos os pecadores, dando-lhes um real oportunidade para que, enquanto peregrinam por esta terra, se arrependam de seus pecados, confessem-nos e alcancem a misericórdia divina.
É a marca da “paciência de Deus” (Rm.3:25; 9:22), que, se aproveitada, trar-nos-á o perdão dos nossos pecados e, deste modo, nos permitirá viver com Deus para todo o sempre.
A propósito, por Deus ser paciente, devemos também sê-lo, embora este seja um outro assunto que não o da presente aula. Por guardarmos a palavra da paciência divina é que escaparemos do juízo da Grande Tribulação (Ap.3:10).
– Após mais esta demonstração de amor de Deus para com Caim, este homem, provando que era do maligno, rejeitou, ainda esta vez, a oferta divina.
Diz-nos o texto que Caim “saiu de diante da face do Senhor”, indo habitar na terra de Node (Gn.4:16). Não se trata aqui apenas de uma afirmação a ser interpretada fisicamente, como um deslocamento de Caim, mas algo muito mais profundo:
Caim não mais quis ter contato com Deus, não mais O buscou, não se interessou na oferta de amor apresentada pelo Senhor. Iniciava-se, assim, uma civilização totalmente alheia a Deus, uma vida deliberada de total desconsideração a Deus, uma vida terrena como se Deus não existisse, civilização esta que haveremos de estudar amiúde na própria lição.
Caramuru Afonso Francisco
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