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LIÇÃO Nº 2 – ESPERANÇA EM MEIO À ADVERSIDADE

Paulo é um exemplo para todos os cristãos, pois não perdeu sua esperança mesmo em meio às adversidades desta vida.

INTRODUÇÃO

– Na continuidade do estudo da carta de Paulo aos filipenses, veremos hoje o estado de espírito do apóstolo – alguém que, mesmo em meio às adversidades da peregrinação terrena, não perdeu a esperança da vida eterna.

– Assim como Paulo, teremos de manter a esperança da vida eterna, mesmo em meio às aflições do tempo presente.

I – PAULO ENTENDIA O “LADO BOM” DE SUA PRISÃO

– Na continuidade do estudo da carta de Paulo aos filipenses, estudaremos hoje a segunda metade do primeiro capítulo, em que o apóstolo, após ter se identificado como “servo do Senhor” e aos seus destinatários como “santos em cristo Jesus”, bem como o relacionamento de “entranhável afeto de Jesus Cristo” que existia entre ele e aquela igreja, passa a descrever o seu estado de espírito aos crentes de Filipos enquanto se encontrava preso em Roma.

– Conforme já vimos na lição anterior, o apóstolo Paulo escreve esta carta porque teve informações, muito provavelmente por meio de Epafrodito, que havia sido mandado pelos filipenses para levar uma ajuda financeira a Paulo na prisão (Fp.2:25), que os crentes de Filipos estavam muito preocupados com a situação do apóstolo e, talvez, mesmo abalados na fé por causa desta situação do apóstolo, que já perdurava algum tempo.

– O móvel da escrita da epístola, portanto, como se verifica, era o fato de o apóstolo ter percebido que os filipenses poderiam ter algum prejuízo espiritual em virtude da sua prolongada prisão, pois tendo sido preso em Jerusalém, mandado em seguida para Cesareia, onde ficou mais de dois anos (At.24:27), sendo, só então, mandado para Roma, onde ficou mais dois anos (At.28:30,31), sendo neste período de dois anos que escreveu aos filipenses.

– Os filipenses sabiam que Paulo havia sido chamado pelo Senhor para evangelizar, para pregar o Evangelho entre os gentios e, dentro desta compreensão do chamado do apóstolo, contribuíam, não só com orações mas até financeiramente, neste ministério que, no entanto, parecia estar paralisado por um longo período, de quase quatro anos. Não teria o apóstolo perdido a direção divina? Como o Senhor Jesus poderia permitir ao apóstolo que ficasse preso por tanto tempo? Teria o apóstolo pecado?

– Estes questionamentos eram naturais e poderiam gerar um desânimo e, até mesmo, o início de uma incredulidade entre os filipenses. Os filipenses estavam acostumados a prisões e adversidades do apóstolo. Seu ministério era uma sequência de perseguições e de prisões, a começar do que ocorreu na própria Filipos, mas o fato é que jamais o apóstolo havia ficado preso tanto tempo como estava a ocorrer. Não podemos nos esquecer do que disse o proverbista, qual seja, que a “esperança demorada enfraquece o coração, mas o desejo chegado é árvore da vida” (Pv.13:12).

– Diante desta demora, natural que os filipenses começassem a enfraquecer o seu coração, não só por verem o apóstolo, a quem tanto amavam, sofrendo terrivelmente, mas também por não entenderem como o Senhor permitia que aquele homem que havia escolhido para evangelizar os gentios se mantivesse preso, sem poder pregar o Evangelho por tanto tempo.

– Não é de se estranhar esta atitude dos filipenses, pois, muitas vezes, temos o mesmo comportamento, notadamente nos dias tão difíceis em que estamos a viver. As aflições aumentam, assim como as perseguições contra os que servem fiel e sinceramente ao Senhor e, diante de tantos sofrimentos, de tantas adversidades, muitas vezes de prolongado período (e, às vezes, nem tão prolongado assim, mas que, em meio ao imediatismo característico de nossos dias, sempre parece uma eternidade), chegamos, mesmo, a ter nossa fé e confiança em Deus abaladas.

– Mas, depois de ter demonstrado que desejava que os crentes de Filipos tivessem um crescimento espiritual cada vez mais abundante, o apóstolo Paulo começou a tratar deste assunto que era o móvel desta epístola, ou seja, queria mostrar aos filipenses que todo aquele sofrimento, toda aquela adversidade não tinha tido o condão de abalar a sua fé e não poderia, por isso mesmo, abalar a fé dos filipenses.

– Por primeiro, o apóstolo Paulo diz que tudo quanto ocorrera com ele tinha sido para maior proveito do Evangelho (Fp.1:12). Neste ponto, temos duas preciosas lições que devem ser aprendidas por nós para suportar as aflições deste mundo.

– A primeira lição que a expressão do apóstolo nos dá é que, antes de tudo, não podemos nos iludir. Paulo não nega que estava a passar por adversidades. Ele é bem claro ao afirmar que “as coisas que me aconteceram”. O apóstolo não podia fugir da realidade, dos fatos, dos acontecimentos.

– Nos dias em que vivemos, onde se chega mesmo a duvidar da existência de uma realidade, é comum que algumas pessoas tentem fugir das adversidades, vendo-as como uma “ilusão”, como algo inexistente. Não existe pior coisa do que tentar escamotear a dificuldade, do que tentar negar que se está em dificuldade, que se está em situação adversa.

– Há aqueles, como os Seicho-no-ie, que defendem a tese de que todo sofrimento é inexistente, é algo puramente mental e ilusório e que, portanto, qualquer “pensamento positivo” seria suficiente para afastar toda dor, todo mal. Há mesmo alguns que cristãos se dizem ser que defendem este escamoteamento do sofrimento, como se bastasse eu incutir em minha mente que não estou mais sofrendo para que o mal acabe.
– Nada mais falso, porém. O apóstolo Paulo ensina-nos que devemos entender que há, sim, momentos difíceis, adversos em nossas vidas. Não podemos fingir que estamos bem quando não o estamos. Não podemos criar ilusões para nós próprios, produzir um autoengano.

– Existe uma grande diferença entre este autoengano e a confiança em Deus. Confiar em Deus não significa negar a realidade. Confiar em Deus é saber que, apesar de toda a adversidade, de todo o mal que nos acomete, Deus está no controle de todas as coisas e, se amamos ao Senhor e somos chamados pelo Seu decreto, tudo quanto acontece será para o nosso bem (Rm.8:28).

– Paulo não negava todo o seu sofrimento, toda a angústia de sua prisão, toda a pressão dos judeus para matá- lo enquanto esteve em Cesareia, que o obrigou apelar para César, e toda a ansiedade decorrente de enfrentar, em Roma, o tribunal do imperador, imperador, aliás, que era nada mais, nada menos que o cruel e nefando Nero.

– No entanto, o apóstolo mostrou aos filipenses que toda esta situação não o abalara em sua fé, em sua confiança em Deus, pois tudo o que estava acontecendo era para maior proveito do Evangelho.

– Temos, então, a segunda lição que o apóstolo nos dá, a saber, a da consciência de sua vocação. Além de não fugirmos da realidade dos fatos, precisamos ter consciência da nossa vocação, ou seja, para o que fomos chamados pelo Senhor neste peregrinação terrena.

– Precisamos ter consciência do chamado que Deus nos deu. Cada servo do Senhor é chamado para uma determinada tarefa, para uma determinada função no corpo de Cristo que é a Sua igreja (II Tm.1:9). O próprio apóstolo nos ensina que todos nós somos membros em particular do corpo de Cristo (I Co.12:27) e a própria figura da Igreja como corpo mostra que cada membro tem uma função específica para o funcionamento de todo o organismo.

– Paulo, mais de uma vez, mostra que cada cristão deve ter esta consciência da sua vocação, devendo vê-la (I Co.1:26), permanecer nela (I Co.7:20), andar dignamente segundo ela (Ef.4:1) e, conforme esta vocação, andar em direção ao céu (Fp.3:14).

– O apóstolo tinha consciência, desde o tempo de sua conversão, que ele havia sido chamado por Cristo para pregar o Evangelho aos gentios (At.9:15; 26:16-20; I Co.1:17) e, ao perceber que, apesar de sua prolongada prisão, isto não tinha impedido de ele pregar a Palavra, pregação esta que agora estava sendo feita junto à guarda pretoriana, a própria guarda pessoal do imperador romano, pôde compreender que tudo estava de acordo com o propósito divino que o levara a Roma, propósito que lhe havia sido revelado pelo Senhor quando ainda tinha sido preso em Jerusalém, ou seja, no início de todo aquele prolongado período de encarceramento (At.23:11).

– Deste modo, ao perceber que o fato de ter sido preso e continuar preso estava contribuindo para a evangelização dos soldados da guarda pessoal do imperador em Roma, o que somente poderia ocorrer diante de sua prisão, o apóstolo pôde entender que todo aquele sofrimento era apenas um meio pelo qual estava a cumprir a sua vocação.

– Quando temos noção da vocação em que somos chamados por Deus, compreendemos melhor as adversidades e podemos continuar a confiar em Deus, sabendo que tudo que está a se passar conosco é fruto dos desígnios divinos para que cumpramos a Sua vontade. Tal consciência fortalece-nos espiritualmente e nos permite passar por todas as agruras, sem negá-las, sabendo que, apesar delas, estamos a fazer a vontade do Senhor e quem faz a Sua vontade permanece para sempre (I Jo.2:17).

– A partir da prisão, o apóstolo Paulo estava a evangelizar não só a guarda pretoriana, mas também outros lugares em Roma (Fp.1:13), visto que, ao ganhar almas para o reino de Deus entre os soldados de César, a mensagem do evangelho estava a penetrar na elite romana, em lugares que jamais seriam alcançados pelo apóstolo se liberto estivesse ele.

– O Senhor Jesus havia dito a Paulo que importava que a Sua Palavra fosse pregada em Roma assim como havia sido pregada em Jerusalém (At.23:11) e isto implicava em levar a mensagem do Evangelho também aos órgãos dirigentes, como havia ocorrido em Jerusalém e, somente através da prisão de Paulo, isto seria possível. Paulo, então, pôde entender o desígnio divino na sua prisão e isto serviu para que ele suportasse todo aquele sofrimento, sabendo que isto era apenas um meio para que a vontade de Deus se cumprisse em sua vida.

– Devemos nós ter, portanto, esta consciência da vocação divina para nós para que, apesar das aflições, não venhamos a desfalecer, mas observar que, apesar de tudo, estamos a cumprir a vontade de Deus e isto é uma confirmação de que estamos corretamente caminhando para o céu, que é o nosso propósito, visto que aqui somos apenas peregrinos.

– Assim agindo, Paulo via o “lado bom” de suas agruras, de seus sofrimentos e, ante o gozo que lhe estava proposto, tinha condições de suportar toda a afronta, toda a adversidade, seguindo, neste passo, o exemplo de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que, para chegar à direita do Pai, teve de passar pelo Calvário (Hb.12:1-3). Somos imitadores do Senhor?

– Vivemos num mundo onde a mentalidade hedonista é predominante, ou seja, onde existe a ideia de que se deve buscar o prazer a todo custo, de que se deve fugir da dor e da aflição e, dentro desta mentalidade, que somente a ausência do sofrimento justificaria uma vida cristã, uma vida com Deus. Nada mais falso e ilusório. O que devemos buscar é cumprir a vontade de Deus em nossas vidas, ainda que isto se faça por meio dolorido e sofredor.

II – O IMPULSO DA EVANGELIZAÇÃO POR CAUSA DA PRISÃO DE PAULO

– Paulo, mantendo-se firme na vocação em que foi chamado, pôde suportar tudo quanto estava a sofrer e sua atitude acabou por contagiar outros que, verificando a “fibra” do apóstolo, também se animaram com a prisão do apóstolo e passaram, eles também, a pregar o Evangelho com ousadia e destemor (Fp.1:14).

– Vemos, portanto, como é importante a postura do homem de Deus, daquele que tem uma proeminência no meio do corpo de Cristo. O apóstolo, diante de sua postura, contagiou os irmãos em Cristo a evangelizarem, a pregarem o Evangelho. Mesmo estando preso, não desfaleceu e mostrou aos seus irmãos que isto era propósito divino, que não se deveria esmorecer na obra de Deus, e o resultado, a consequência foi a de que todos passaram a querer pregar a Palavra e a evangelização em Roma tomou um rumo até então nunca alcançado.

– O apóstolo Paulo era um homem zeloso, ou seja, tinha todo o cuidado para cumprir a vocação em que havia sido chamado e este zelo é contagiante. Como afirmou o pastor não-conformista inglês John Angell James (1785-1859): “…Onde podemos encontrar uma grande congregação, uma igreja próspera e compacta em sua união? — ali há um homem zeloso. Onde, em que país ou em que denominação, esse homem trabalha sem considerável sucesso? Onde o pregador fiel, devotado e energético de verdade, tomando emprestadas e, usando, em um sentido figurado, as palavras do precursor do Senhor, tem a dizer: ‘Eu sou a voz do que clama no deserto?’ Onde encontramos pequenas, congregações, igrejas insatisfeitas ou decadentes, e capelas vazias? Onde pranteiam os caminhos de Sião, e suas portas estão desoladas, porque não há quem venha à reunião solene? Certamente, não onde os ministros são como chamas de fogo.

Não importa onde, ou sob quais circunstâncias desencorajadoras esse homem, que é uma dessas chamas sagradas, possa começar seus esforços; ele logo reunirá ao seu redor uma congregação profundamente interessada e atenta.…” (A grandeza do pastorado. Trad. de Degmar Ribas Júnior e Michael Ribas, p.218).
– Quando somos zelosos pela vocação em que fomos chamados, até mesmo as aflições e dificuldades que enfrentamos não só nos faz com que cumpramos a vontade de Deus, como, ainda, faz com que nos tornemos agentes multiplicadores, levando outras pessoas a fazer a vontade do Senhor. Assim fazendo, não só abençoaremos os outros, como nos tornaremos uma bênção, precisamente o patamar que o Senhor prometeu dar a Abraão quando de sua chamada (Gn.12:2).

– O apóstolo, entretanto, como não fugia da realidade, sabia que algumas pessoas estavam pregando o Evangelho não por força do seu exemplo ou pelo contágio de seu zelo, mas por interesses menos nobres, como a inveja e a porfia (Fp.1:15).

– Neste ponto, vemos como o apóstolo não fugia da realidade que nos cerca enquanto estamos nesta peregrinação terrena. Enquanto estamos neste mundo, teremos de conviver com o pecado e, mais do que isto, com pessoas que, se dizendo irmãs em Cristo, são falsos irmãos (II Co.11:26; Gl.2:4), não servindo sinceramente ao Senhor e estando no meio da igreja como intrometidos, como joio no meio do trigo (Mt.13:25).

– Paulo, dentro do seu discernimento espiritual, sabia que muitos dos que diziam cristãos ser, invejavam-no e queriam o seu mal. Por isso, ao verificarem que o Evangelho estava sendo pregado mesmo diante da prisão de Paulo, começaram a também pregar a Palavra de Deus, esperando que, com isto, as autoridades romanas poderiam se voltar contra o apóstolo, prejudicando a sua situação, precisamente no momento em que se aguardava o seu julgamento diante do tribunal de César.

– Em nossos dias, não é diferente. Muitos servos de Deus, ao serem engrandecidos pelo Senhor no seu zelo pela obra, ao terem seus trabalhos abençoados por Deus, encontram alguns “ajudadores” que, na verdade, estão a realizar o trabalho não para glória e louvor do Senhor, mas para prejudicar aquele que está se sobressaindo por seu zelo, pela sua dedicação.

– Não podemos julgar os outros (Tg.4:11), visto que não temos acesso ao coração dos homens, algo que somente está reservado a Deus (I Sm.16:7). Por isso, não nos cabe avaliar se alguém que está nos auxiliando em nossa tarefa na obra do Senhor, em nossa atividade em prol do reino de Deus, o faz de boa mente ou, pelo contrário, por inveja ou porfia. Este é um assunto que está afeto ao Senhor e mesmo que Deus no-lo revele (como parece ter ocorrido com o apóstolo), isto não nos deve desanimar em nosso serviço, tampouco nos impelir a tomar alguma atitude para interromper tal “ajuda”.

– Paulo, diante de sua situação de prisioneiro, não podia fazer coisa alguma com relação a estes “evangelistas por inveja ou porfia”, que estavam a pregar a Palavra junto à elite e à casa de César, em locais que o apóstolo não podia estar. No entanto, não foi só por isso que o apóstolo deixou de tomar alguma atitude, pois poderia, ao menos, ter feito alguma repreensão ou procurado aqueles crentes sinceros para que, de alguma forma, impedissem o trabalho destes pseudo-evangelistas.

– O apóstolo nada fez, porque, mesmo tendo sabido a má intenção de alguns daqueles evangelistas, tinha algo em mente muito superior do que seu próprio bem-estar ou seus interesses. Ele era servo de Cristo e, como tal, queria tão somente agradar ao Senhor (Gl.1:10).

– Consciente de sua vocação, o apóstolo sabia que, mesmo aqueles pseudo-evangelistas, ao anunciarem o Evangelho, ao divulgarem a Palavra de Deus, estavam contribuindo para que a vontade de Deus se fizesse. Paulo havia sido levado preso para Roma para ali pregar o Evangelho e, ante a sua postura, havia levado outras pessoas a também evangelizarem a capital do Império. Se algumas destas pessoas o faziam por inveja ou porfia, com o intuito de complicar a situação do apóstolo diante das autoridades romanas, isto nada significava diante do fato de que a Palavra de Deus estava sendo cada vez mais anunciada, como era o desejo do Senhor.

– Este desapego à sua própria situação, este serviço desinteressado do apóstolo, que se contentava em ver a Palavra de Deus sendo pregada, ainda que isto pudesse resultar em uma complicação da sua situação perante as autoridades, é uma característica que não se encontrava apenas em Paulo ou que fosse exigível somente ao Apóstolo dos Gentios.

– Na verdade, esta situação é a que o Senhor Jesus exige de cada um de nós. Cristo foi bem claro ao dizer que quem quiser ganhar a sua vida, perdê-la-á, mas quem a perder por amor d’Ele, ganhá-la-á (Mt.10:39; 16:25; Mc.8:35; Lc.9:24; 17:33). O primeiro requisito para seguirmos a Cristo é o de renunciarmos a nós mesmos, de negarmos a nós mesmos (Mt.16:24; Mc.8:34; Lc.9:23).

– Reside aqui um dos principais motivos pelos quais há, em nossos dias, tantos “falsos irmãos”, inclusive na atividade em prol do reino de Deus. A diferença que havia entre Paulo e aqueles pseudo-evangelistas estava na motivação. Paulo abrira mão de tudo para servir a Cristo Jesus. Nada fazia por interesse próprio,não buscava a sua vontade nem satisfação, mas visava tão somente agradar a Cristo. Já estes pseudo-
evangelistas estavam a pregar o Evangelho porque tinham um interesse: ver o mal de Paulo, assistir à ruína do apóstolo, à sua condenação à morte. Eram movidos pelo seu ego, pela sua própria vontade.

– Para Paulo, a pregação do Evangelho era o seu fim, a razão de ser da sua vida, o seu único e exclusivo objetivo, motivo pelo qual ele o fazia de boa mente (I Co.9:16,17). Para os pseudo-evangelistas, a pregação do Evangelho era apenas um meio pelo qual queriam atingir o seu objetivo, que outro não era senão o mal de Paulo, que era o que procuravam.

– Qual tem sido o nosso objetivo, amados irmãos? Para que e por que estamos a exercer atividades em nossa igreja local? Será para que atinjamos uma determinada posição na igreja? Será por dinheiro? Será para obtermos o mal de alguém de que não gostamos, de que temos inveja? Deus o sabe, assim como aqueles homens sinceros, como o apóstolo Paulo, a quem Deus tem revelado as nossas intenções. Pensemos nisto!

– Enquanto havia aqueles que evangelizavam querendo o mal do apóstolo, havia outros que, de boa mente e por amor, empenhavam-se para que a prisão do Paulo servisse para o engrandecimento do Evangelho e, por conseguinte, para que a vocação do apóstolo fosse concretizada mais e mais.

– Como é bom sermos membros em particular do corpo de Cristo e, desta maneira, contribuirmos para que o ministério dos nossos irmãos seja cada vez mais engrandecido e agradável ao Senhor. Quantos evangelizados pelo apóstolo, sabendo da sua vocação, da obediência à “visão celestial” que recebera de Cristo, não passavam a pregar a Palavra de Deus e a ganhar almas para Cristo em Roma?

– Temos sido colaboradores daqueles que foram chamados para a evangelização de forma integral a ponto de também falarmos de Cristo para aqueles que estão à nossa volta?

– O ambiente existente em Roma por parte daqueles servos que amavam a Deus e a Paulo era totalmente diverso do que vemos em nossos dias nas igrejas locais. Ali não havia o entendimento, infelizmente presente em nosso meio na atualidade, de que é missão do obreiro, do ministro do Evangelho a pregação da Palavra de Deus, o ganhar almas para Cristo, ainda mais quando este obreiro é assalariado pela igreja.

– Esta é uma tarefa de todo e qualquer cristão. Temos a obrigação, como integrantes do corpo de Cristo, de pregar o Evangelho a toda a criatura. A evangelização não ficou a cargo dos ministros, que devem, sim, pregar a Palavra, ensiná-la ao corpo de Cristo, mas isto não nos isenta de fazê-lo.

– Um dos motivos pelos quais o número de membros tem diminuído nas igrejas locais é, precisamente, o fato de que não há mais este empenho por parte da membresia em evangelizar, em levar pessoas para ouvirem a Palavra de Deus nos cultos. Temos observado, com tristeza, que, em muitos lugares, não há mais qualquer enfoque evangelístico nas reuniões, bem como que são pouquíssimos os membros que convidam pessoas descrentes para os cultos.

– Tal entendimento não existia em Roma. Muitos servos do Senhor, apesar de saberem que Paulo estava para ser levado ao julgamento de César e que o Império Romano poderia entender que a pregação do Evangelho fosse uma ameaça ao governo e, diante disto, se desse início a uma perseguição aos cristãos, diante da prisão do apóstolo e sabendo do seu zelo e de sua dedicação na pregação da Palavra, passaram eles mesmos a anunciar o Evangelho e a ganhar almas para o Senhor Jesus.

– Como justificar, então, amados irmãos, que, num país onde ainda a liberdade de culto e de crença é ampla (ainda que esteja sendo cada vez mais combatida e restringida pelo projeto anticristão que está a nos governar), sejamos tão negligentes em pregar a Palavra, em contribuir com aqueles que o Senhor tem levado ao ministério em nossas igrejas locais para ganhar almas a Ele? Pensemos nisto!

– A existência destes irmãos que, por amor, estavam a evangelizar certamente alegrava o apóstolo Paulo e era o principal bálsamo para as dores e temores de que, como ser humano, estava acometido na sua situação de aguardo do pronunciamento do tribunal de César, que, inclusive, poderia custar-lhe a vida.

– Neste gesto de desprendimento e de amor, nesta evangelização, o apóstolo via o cumprimento da vontade de Deus na sua prisão e o próprio cumprimento de seu ministério, o que o deixava tranquilo, pois, sabia ele, que o objetivo de sua existência, a razão de ser de sua vida estava se cumprindo, apesar de estar ele com sua locomoção prejudicada em virtude da prisão. Roma estava sendo cheia da doutrina de Cristo, assim como ocorrera com Jerusalém (At.5:28), algo de que Paulo fora testemunha e mesmo antes de ter se convertido ao Senhor (At.8:1-3).

– Muitos de nós, na atualidade, queixam-se de uma falta de ânimo e de dedicação por parte de alguns ministros e oficiais, chegam mesmo a acusá-los diante de autoridades eclesiásticas e de outros membros, criando climas adversos e muito sofrimento por parte de obreiros que são tachado de negligentes, lenientes e preguiçosos. No entanto, indagamos, temos agido de modo a contribuir com eles, a fim de animá-los, apesar das dificuldades e adversidades pessoais que estão a passar em suas vidas e que bem podem ter motivado esta desaceleração e eventual desinteresse no desempenho de seu ministério?

– Muitos são céleres em apontar a deficiência no zelo de alguns ministros, mas eles próprios, por se sentirem desobrigados de fazer qualquer coisa em prol da evangelização, nada fazem, nada contribuem para que almas sejam alcançadas pelo Senhor Jesus. Aqueles romanos, pelo contrário, “puseram mãos à obra” e começaram a pregar a Palavra, o que muito alegou o coração de Paulo e serviu de grande fator para a manutenção de sua fortaleza espiritual, mesmo diante da delicada situação por ele vivida.

– O resultado de toda esta evangelização, inclusive a realizada pelos pseudo-evangelistas, foi alegria espiritual do apóstolo. Paulo afirma aos filipenses que, ao contrário do que eles poderiam pensar, não estava ele abatido com a prolongada prisão, pois o fato era que as cadeias não o tinham impedido de evangelizar e de ver a evangelização crescendo em Roma: “Mas que importa? Contanto que Cristo seja anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou com verdade, nisto me regozijo e me regozijarei ainda” (Fp.1:18).

– Paulo mostrava aos filipenses, em primeiro lugar, que o que devia preocupá-los não era tanto a sua pessoa, mas, sim, o cumprimento do seu ministério. Como servo de Deus, o apóstolo não poderia preocupar-se consigo, com a sua própria vida, mas em fazer a vontade de Deus. O apóstolo era agradecido pelos cuidados que os filipenses tinham com sua pessoa, mas mais importante do que a sua pessoa era a vocação que Deus lhe dera.

– Em segundo lugar, o apóstolo quis deixar os filipenses conscientes de que a sua prisão deveria alegrá- los e não abatê-los. Ao saber que Roma estava sendo evangelizada e que, portanto, o ministério de Paulo estava sendo cumprido, os crentes de Filipos deveriam glorificar a Deus e perceber que o Senhor mantinha o pleno controle da situação e que tinha valido a pena aqueles quatro anos, no mínimo, de prisão. Com esta experiência, os filipenses deveriam continuar a entender que, assim como em Filipos, a prisão do apóstolo fora motivo para a glorificação do nome do Senhor e da consolidação daquela igreja local, agora, a prisão de Paulo, ainda que muito longa, estava servindo aos propósitos divinos de crescimento do Evangelho no coração do Império Romano.

– Temos aqui a “segunda alegria” da epístola de Paulo aos filipenses, como dito pelo pastor José Barbosa de Sena Neto, a “alegria no fato de Cristo ser pregado”, “in verbis”: … Os longos anos de prisão de Paulo, longe ser de atraso para o progresso do Evangelho, antes contribuíra para o seu progresso. Paulo está confinado dentro de quatro paredes, mas na sua imaginação, segundo a linguagem que ele emprega, está na vanguarda daqueles que pregam o Evangelho, indo na frente e abrindo picada para que os demais passem com relativa facilidade (1.12). Ao menos duas cousas positivas resultaram da prisão de Paulo: a ‘guarda pretoriana’, a elite do exército romano, estava sendo evangelizada; e, os irmãos em Roma proclamavam o Evangelho com mais desassombro. Até os inimigos gratuitos do apóstolo estavam pregando a Cristo! E Paulo se regozijava!…” (Carta aos filipenses, a epístola da alegria! Disponível em: http://www.cpr.org.br/bn-filipenses.htm Acesso em 15 maio 2013).

– Temos também esta alegria, alegria, aliás, que é uma das qualidades do fruto do Espírito (Gl.5:22)? Podemos ter alegria mesmo quando estamos passando por sofrimento e adversidades? Temos alegria quando vemos almas serem salvas? Temos alegria quando vemos a obra de Deus progredir?

– Esta alegria de que Paulo desfrutava era uma alegria espiritual. Suas condições físicas, sociais e jurídicas não eram das melhores, eram extremamente preocupantes. Todavia, não era isto que estava na razão de vida do apóstolo, que não mais vivia para si, mas que vivia para Cristo (Gl.2:20). Assim, como Cristo estava sendo pregado e muitas almas, salvas, ele se alegrava, pois o seu viver era Cristo.

– Quando não nos alegramos pela salvação de almas, quando não nos alegramos pelo crescimento da obra de Deus, isto é um fator que revela onde está o nosso coração, onde está a nossa vida. Se somos fiéis e sinceros servos do Senhor, se somos filhos de Deus, nossa reação pela salvação das almas tem de ser a mesma dos anjos fiéis, dos santos anjos. E qual é a reação dos anjos? A alegria! Basta lermos o que se encontra em Lc.15:10: “…há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.”

OBS: Lembramos aqui a letra do hino 274 do Cantor Cristão, denominado “Coro Santo”, de autoria de Cushing, que nos descreve esta alegria pela salvação das almas nos céus, cujo refrão assim diz: “Glória, glória os anjos cantam lá! Glória, glória, as harpas tocam já! É o santo coro dando glória a Deus, por mais um remido entrar nos céus.” Diz o hinista americano Ira David Sankey que o autor, ao redigir este hino, após um dia de intensa meditação sobre a alegria que havia nos céus pela salvação de uma alma (SANTOS, Robert. História do hino 274 do Cantor Cristão. Disponível em: http://crentebatista.wordpress.com/2010/05/27/historia-do-hino-274-%E2%80%93-coro-santo/ Acesso em 15 maio 2013).

– Se, entretanto, ficamos a desejar mal àquele que levou a alma aos pés de Cristo, se nossa intenção é que “tudo dê errado” para que alguém perca seu cargo ou função na igreja local, de preferência para nós ou para alguém de nossa estima, estamos, sem dúvida, na situação daqueles que pregavam por inveja ou porfia, por contenção, não puramente, o que está sendo conhecido não só do Senhor, mas, muito provavelmente, pelo Seu servo que é alvo desta inveja. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– Outro ponto importante que aprendemos com esta expressão de Paulo é de que a motivação daquele que faz a obra de Deus é irrelevante para o alcance dos propósitos divinos. O fato de pessoas estarem a pregar o Evangelho por contenção, inveja ou porfia não impedia que Cristo fosse anunciado e que a Palavra promovesse a salvação das almas.

– Este é um ponto importante que, por vezes, é incompreendido por alguns. O Evangelho é o poder de Deus para a salvação que todo aquele que crê (Rm.1:16). Deste modo, não será a má intenção de um pobre mortal, a hipocrisia de um falso cristão que impedirá a Palavra de Deus de levar fé ao pecador e deste, então, ser convencido pelo Espírito Santo e alcançar a salvação da sua alma (Rm.10:17; Jo.16:7-11).

– Como ensinava o saudoso pastor Daniel Beltrão, que, durante muitos anos, congregou na Assembleia de Deus – Ministério do Belém – São Paulo/SP, a Palavra de Deus é a semente e ela dará fruto bom ainda que seja semeada por mãos leprosas. Aqueles pseudo-evangelistas, movidos por inveja, porfia e contenção, eram carnais, pois a sua pregação era resultado de obras da carne (Gl.5:20,21) e, desta maneira, as suas próprias pregações são fatos que os levam à condenação eterna, mas, por intermédio destas pregações, muitos foram salvos e terão a vida eterna. Tais pessoas estavam a ganhar o mundo, mas a perder as suas almas (Mt.16:26)!

– Esta é a situação de muita gente em nossos dias. Ganharão muitos para Cristo com sua pregação movida por interesses escusos, por sua carnalidade, mas eles próprios padecerão no fogo do inferno! Que Deus nos guarde!

– Mas, além de gerar alegria espiritual em Paulo, esta disposição dos romanos em pregar o Evangelho, mesmo por parte dos pseudo-evangelistas, trouxe ao apóstolo uma convicção, qual seja, a de que não era ainda este o momento do término do seu ministério.

III – O DESTEMOR DO APÓSTOLO DIANTE DA MORTE E A CONVICÇÃO DA CONTINUIDADE DO SEU MINISTÉRIO

– Paulo anuncia aos filipenses de que este empenho dos romanos na pregação da Palavra era uma demonstração de que seu tempo ainda não havia findado. Ao contrário do que se vê na segunda carta do apóstolo a Timóteo, a sua última carta, escrita após a sua segunda prisão em Roma, aqui Paulo mostra certeza de que aquela evangelização era um sinal divino de que o apóstolo ainda teria prosseguimento em seu ministério, de que seria absolvido e solto em seu processo.

– Quando Paulo tencionou ir para Roma, sentiu este desejo, naturalmente impelido pelo Espírito Santo, que sempre o dirigia em seu ministério, o apóstolo, que se encontrava, na ocasião, em Cencreia, porto próximo a Corinto, escreveu a epístola aos romanos, onde revelava sua intenção de ir a Roma e de lá ser enviado, pelos crentes daquela igreja, para a Espanha (Rm.15:23-28), abrindo, assim, uma nova frente de evangelização, no extremo ocidental do Império Romano, até então não evangelizado.

– Quando foi preso em Jerusalém, o Senhor lhe apareceu e disse que convinha que ele pregasse o Evangelho em Roma assim como havia sido pregado o Evangelho em Jerusalém (At.23:11). Em Roma, mesmo preso, o apóstolo percebeu que sua prisão não o impedia de evangelizar, tendo, como em todos os lugares em que havia pregado, iniciado tal evangelização pelos judeus (At.28:17-28).

– Agora, diante deste impulso de evangelização promovido pelos evangelizados, o apóstolo teve a consciência de que a igreja em Roma havia sido incentivada e estimulada a pregar a Palavra, havia obtido um ímpeto missionário e, deste modo, pôde Paulo entender que seu intento de ir a Espanha por meio da igreja em Roma se concretizaria e, em sendo assim, sua prisão não permaneceria, mas seria ele absolvido, único meio pelo qual adquiriria a liberdade necessária para ir para a Espanha e iniciar esta nova frente de evangelização.

– Percebemos, pois, que o apóstolo, em nítida comunhão com o Espírito Santo, tendo conhecimento pleno dos “sinais dos tempos”, diante da convicção que tinha de sua vocação, podia afirmar aos filipenses, com absoluta confiança, que seu fim ainda não viria desta feita, mas que ele seria liberto a fim de prosseguir o seu ministério.

– Assim como ocorreu com Paulo, isto ainda acontece com os servos de Deus que, mantendo uma vida sincera diante de Deus, bem como tendo consciência e disposição de cumprir a vocação em que foi chamado, são também devidamente orientados pelo Espírito Santo a respeito da continuidade, ou não, de suas vidas. Não nos esqueçamos de que o nosso Deus sempre revela os Seus segredos aos profetas (Am.3:7).

– O apóstolo tem esta certeza porque havia sido socorrido pelo Espírito Santo, que lhe revelara esta verdade, como também fortalecido pelas orações dos irmãos, em especial, dos crentes de Filipos (Fp.1:19). Vemos aqui uma demonstração fática do poder da oração intercessória – o Espírito Santo não só revelou a Paulo que ele não morreria, que seria absolvido, como também que isto se devia, em parte, pelas orações intercessórias dos irmãos, mui especialmente pelos crentes filipenses.

– Como diz Tiago, “…a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos”(Tg.5:16b). A oração feita pelos crentes de Filipos em prol do apóstolo, que estava encarcerado, produziu grandes efeitos, pois, não só o Senhor estimulou e incentivou pessoas a fazerem a pregação do Evangelho, para alegrar o coração do apóstolo, como também lhe revelou que ele seria absolvido para prosseguir o seu ministério. Temos orado pelos que estão pregando a Palavra de Deus? Temos intercedido em favor daqueles que dedicaram suas vidas à salvação das almas, à obra de Deus?

– Esta intercessão foi um fator importante, mas não foi o único. O próprio apóstolo revela que tinha uma intensa expectação e esperança, que não permitia a sua confusão, mas que gerava uma confiança em Cristo, sendo, pois, diante disto, indiferente para ele a morte ou a vida.

– Por ser um sincero e autêntico servo do Senhor, o apóstolo Paulo gozava de esperança, esta que é uma das três “virtudes teologais” (I Co.13:13; Rm.5:4), ou seja, disposições que são concedidas a cada cristão pelo Espírito Santo como consequência da salvação.

– A esperança, chamada de “âncora da alma” (Hb.6:18,19), é a disposição que nos faz esperar a realização das promessas de Deus, que nos faz caminhar neste mundo aguardando a redenção do nosso corpo, a nossa ida para a eternidade na companhia do Senhor no dia da Sua gloriosa vinda.

– Paulo tinha esta esperança, prosseguia sua vida tendo como alvo chegar à cidade celestial, de onde esperava o Senhor Jesus, que transformará o nosso corpo abatido para ser conforme o Seu corpo glorioso, segundo o Seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas (Fp.3:14,20,21).

– Nós, também, precisamos ter esta esperança e vivermos em função dela. É muito importante que tenhamos a oração intercessória dos nossos irmãos, mas é fundamental que nós mesmos retenhamos a esperança que nos foi proposta. A esperança não vem de imediato ao crente, mas é fruto da sua experiência com Deus (Rm.5:4), experiência esta que, por sua vez, resulta da paciência, paciência esta que é fruto das tribulações que passamos nesta vida (Rm.5:3,4).

– Paulo tinha uma experiência tremenda com o Senhor, tendo passado por muitas tribulações (II Co.11:23-28), que lhe haviam gerado tanto paciência quanto experiência, que resultara em “intensa expectação e esperança”. Esta esperança era fortalecida pela consolação do Espírito Santo, o socorro de que Paulo fala aos filipenses, socorro este que trazia a necessária consolação ao apóstolo (II Co.1:3-5).

– Para o apóstolo, em virtude desta esperança, era indiferente se ele haveria de morrer ou viver. O que importava ao apóstolo era cumprir a vontade de Deus. Por isso, disse ele que para ele, o viver era Cristo e o morrer era ganho (Fp.1:21). O apóstolo era um verdadeiro cristão que, no ato do batismo nas águas, mostra que morreu para o mundo, inclusive para si mesmo, e vive agora tão somente para Deus (Rm.6:11).
– Este sentimento tem faltado a muitos de nós. Será que realmente somos cristãos? Temos morrido para o mundo e para o pecado e vivido tão somente para Deus? Temos renunciado a nós mesmos e perdido nossas vidas para ganhá-las? Como vimos supra, é esta a exigência do Senhor Jesus para os Seus seguidores e, por agir deste modo, é que o apóstolo pouco se importava com o seu destino naquele processo a que respondia, pois seu intuito era tão somente agradar a Deus, fazer-Lhe a vontade.

– É precisamente por isso que o apóstolo revela aos filipenses que seu desejo era passar para a eternidade, ver atingido o alvo que esperava, obter a glorificação, última etapa do processo da salvação (Rm.8:29,30). Por isso tinha desejo de partir e estar com Cristo, pois isto é muito melhor do que ficar neste mundo (Fp.1:23).

– Este desejo de Paulo, no entanto, não pode ser, em absoluto, confundido com o desejo de morte decorrente da depressão, como os manifestados por Jó (Jó 3) ou por Elias (I Rs.19:4), onde se tem uma desilusão, uma decepção e, diante desta contrariedade do ego, chega-se a Deus com um ultimato para que cesse a existência terrena, o que caracteriza tal situação como uma completa incredulidade no poder de Deus.

– Muito pelo contrário, o desejo de Paulo era um assentimento da vontade divina, um reconhecimento de que devemos sempre fazer a vontade de Deus e que, diante de seu encarceramento e da impossibilidade de pregar a Palavra, talvez o seu ministério tivesse chegado ao fim e que, assim, nada mais restava fazer senão partir para a eternidade, por vontade de Deus e com a consciência de que o Senhor tinha feito tudo o que tinha querido fazer.

– É este o desejo que deve ter todo cristão. Completamente desprendido das coisas materiais e das coisas deste mundo, o servo de Deus deve saber que somente viverá aqui enquanto tiver algo para fazer para Deus, enquanto for útil para os desígnios divinos. Temos aqui, aliás, mais uma prova de que é totalmente sem respaldo bíblico aquela afirmação, que já virou mais um dos infelizes jargões de nosso tempo, segundo o qual “quem tem promessa de Deus não morre”. Paulo não estava preso à vida e sabia que devia tão somente fazer a vontade do Senhor e que, tendo ou não promessa, sua vida estava nas mãos de Deus, a quem única e exclusivamente cabe dizer quando terminará a nossa existência terrena.

– Temos aqui o que o pastor José Barbosa de Sena Neto chama de a terceira alegria desta carta, qual seja, “a alegria na fé”, “in verbis”: “…Paulo enfrentava a vida com realismo. Bem sabia que poderia ser condenado à morte, mas para ele vida ou morte lhe era indiferente. O seu interesse era o bem-estar dos filipenses, e para eles seria mais interessante que Paulo continuasse a viver. Seria para a alegria da fé deles. A alegria da fé resultante da comunhão dos santos.…” (Carta aos filipenses: a epístola da alegria. Disponível em: http://www.cpr.org.br/bn-filipenses.htm Acesso em 16 maio 2013).

– No entanto, diante do que o Espírito Santo lhe havia revelado, o apóstolo compreendeu que, apesar de ser muito melhor para ele partir com Cristo, era-lhe mais necessário ficar na carne, prosseguir ainda sobre a face da Terra, por amor dos crentes filipenses e não somente deles mas de todos os irmãos em Cristo (Fp.1:24-26).

– Paulo não somente tem a revelação de que permaneceria ainda na terra, mas também que voltaria a Filipos, pois isto se faria para proveito daqueles crentes e para o gozo da fé daqueles crentes, a fim de que a glória deles abundasse em Cristo Jesus (Fp.1:24-26).

– Notamos aqui que a partida de Paulo não era possível também por um motivo: os crentes de Filipos, já preocupados e abatidos com a prisão do apóstolo, não resistiriam à sua morte, desfaleceriam na fé. Não era ainda o tempo para a partida de Paulo e o apóstolo bem compreendeu isto.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://portalebd.org.br/files/3T2013_L2_caramuru.pdf

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