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LIÇÃO Nº 6 – A LEI, A CARNE E O ESPÍRITO

Lição 6 - A lei, a carne e o espírito imagem

O homem, no pecado, é incapaz de se salvar, servindo a lei apenas para lhe apontar o pecado, não o podendo resgatar.

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INTRODUÇÃO

– Na sequência do estudo da carta de Paulo aos Romanos, analisaremos o capítulo 7, onde Paulo descreve a condição pecaminosa do homem.

– O homem no pecado é incapaz de se salvar, servindo a lei apenas para lhe apontar o pecado, não o podendo resgatar.

I – A LEI

– Após ter mostrado a graça que foi trazida pelo Senhor Jesus, o apóstolo Paulo fará a apresentação da condição pecaminosa do homem, mostrando que o homem, no pecado, está irremediavelmente perdido, ainda que se tenha a lei de Moisés.

O apóstolo está aqui a mostrar aos crentes judeus de Roma que a lei é incapaz de salvar.

– Já ao apresentar a graça de Deus, o apóstolo Paulo indicara que o homem debaixo da lei era alguém dominado pelo pecado (Rm.6:14,15), algo que vai esclarecer no capítulo 7, mostrando que a lei não muda a situação pecaminosa do homem.

– O homem debaixo da lei está sob o domínio do pecado e, para demonstrar isto, Paulo lembra os crentes de Roma que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive, como também que a mulher está sujeita ao marido enquanto ele viver, mas, morto o marido, está livre da lei do marido.

– Com dois exemplos tirados da própria lei mosaica, o apóstolo Paulo mostra que o domínio da lei somente ocorre enquanto há vida. Sobrevindo a morte, o homem não está mais obrigado a observar a lei de Moisés, como também, morto o marido, não está a mulher sujeita ao marido, podendo, inclusive, casar-se novamente, pois a morte põe fim ao vínculo matrimonial.

– Ora, o apóstolo havia dito que, quando entramos na graça de Deus pela fé em Cristo Jesus, morremos para o pecado e, portanto, em virtude de ter havido a morte, não estamos mais sob o domínio do pecado, estamos livres da lei do pecado, motivo pelo qual o “novo homem”, a “nova criatura” surgida com a justificação pela fé em Cristo, a chamada “regeneração”, o “novo nascimento” mencionado pelo Senhor Jesus no Seu diálogo a Nicodemos, está livre do pecado.

– O salvo em Cristo Jesus, diz o apóstolo, está morto para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejamos do Senhor e, deste modo, possamos dar fruto para Deus (Rm.7:4).

– A vida em Cristo é uma ruptura que se estabelece no ser humano. Ele morre para o pecado, ou seja, ele é separado do pecado, o que se denomina de “santificação posicional”.

Como o salmista Davi fala no Salmo 40, o salvo é tirado de um lago horrível, de um charco de lodo e tem seus pés postos sobre uma rocha, tem firmado seus passos (Sl.40:2).

– Sem que haja esta ruptura, sem que seja gerada esta “nova criatura”, não há como se ter a salvação em Cristo Jesus. Não é possível que haja a convivência com o pecado para aquele que é salvo pelo Senhor.

É absolutamente necessário que nos separemos do pecado, que nos separemos do mundo para que venhamos a ressuscitar, nascer e viver para Deus.

– Isto é importante, porque muitos que se dizem salvos, em nossos dias, não tiveram esta ruptura, continuam a viver pecando, a ter a mesma maneira de viver que tinham antes de sua suposta “conversão”.

Ora, se não mudaram de vida, se continuam a fazer as mesmas coisas que faziam antes, é porque não morreram para o pecado, permanecem sob o domínio dele, não nasceram de novo e, portanto, simplesmente não estão salvos.

Salvação nada tem que ver com a adoção de uma nova religião, mas, sim, com esta morte para o pecado e uma nova vida para Deus.

– Paulo mostra claramente que uma vida onde há as paixões do pecado é a vida de alguém que está na carne, cujos membros operam para que sejam produzidos frutos para a morte.

 O “velho homem”, isto é, a natureza pecaminosa do homem, a “carne”, somente prevalece naqueles que ainda não nasceram de novo.

Quando alguém é salvo, este “velho homem” é crucificado (Rm.6:6) e, portanto, já não pode ditar o comportamento, a conduta daquele que recebeu a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador.

O salvo agora vive para Deus, faz a vontade de Deus, está livre do pecado, pode dizer “não” ao pecado, porque agora é uma “nova criatura”, criatura esta que não “vive pecando”, que não foi gerada para pecar (I Jo.3:5-10).

– Este “novo homem”, nascido de Deus, nascido do Espírito, não peca, pois foi gerado pelo Espírito Santo, sendo, pois, em tudo semelhante a Cristo, com que, aliás, forma uma unidade (Jo.17:20,21), cuja missão é produzir frutos de justiça (Fp.1:11), já que pertence à videira verdadeira (Jo.15:1), sendo vara desta videira (Jo.15:1-5).

– Este “novo homem” integra o “corpo de Cristo”, é membro em particular deste corpo (I Co.12:27), corpo este que não tem pecado, pois Jesus nunca pecou, tendo sido gerado por obra e graça do Espírito Santo.

Este “novo homem”, portanto, não tem pecado e, como diz o apóstolo, passamos a ser de Cristo, d’Aquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de darmos fruto para Deus (Rm.7:4).

– Fazer parte do “corpo de Cristo”, portanto, é estar livre do pecado, é ter morrido para o pecado, de modo que pode dizer “não” ao pecado, e, como resultado disto, pode servir em novidade de espírito e não na velhice da letra (Rm.7:6).

– Este “novo homem” está debaixo da graça, trocou o pecado pela graça e, portanto, agora também está livre da lei.

Mas seria, então, a lei pecado, uma vez que o homem no pecado está debaixo da lei e o homem na graça livre do pecado e da lei?

– Paulo, a fim de evitar esta ilação, logo esclarece que a lei não é de modo nenhum pecado, pois a lei foi dada por Deus ao homem e, como tal, é um mandamento santo, justo e bom.

– No entanto, a lei faz com que o homem tenha conhecimento do pecado, saiba o que é pecar, pois, como afirma o apóstolo, eu não saberia que cobiçar é pecado se não houve o mandamento “não cobiçarás” (Rm.7:7).

– A lei, portanto, revela ao homem o que é o pecado e, deste modo, o homem, ao pecar, pois tem a natureza pecaminosa, acaba cometendo o pecado sabendo que está a transgredir a lei de Deus, sabendo que está a desobedecer ao Senhor, que está a contrariar a vontade de Deus.

– A lei, como já vimos em lições anteriores, surgiu desde a criação do homem, quando o Senhor ordenou ao homem, no Éden, que Lhe fosse obediente, a fim de que se mantivesse em comunhão com Ele.

A condição de não comer da árvore da ciência do bem e do mal era uma condição de obediência, um teste que se punha ao homem que fora dotado de livre-arbítrio, que poderia escolher entre o bem e o mal.

– Lamentavelmente, o primeiro casal resolveu desobedecer ao Senhor, escolheu o mal e, com isto, o pecado entrou no mundo, promovendo a separação entre Deus e os homens (Is.59:2), gerando a morte, que é, precisamente, esta separação.

– Mesmo diante do pecado, Deus continuou a Se revelar ao homem, seja pela natureza, seja pela consciência, esta “voz divina” que é posta em todo ser humano, dando noção do que é certo ou errado, a tornar, pois, o homem inescusável, sem desculpa diante de Deus (Rm.1:20).

– Entretanto, esta consciência não impediu de o homem se rebelar contra Deus, fazendo de suas imaginações algo continuamente mau (Gn.6:5), de tal sorte que não restou ao Senhor senão desfazer a humanidade que havia criado (Gn.6:6,7), tendo, porém, dentro de Sua graça, preservado Noé e sua família, uma vez que Noé havia crido na mensagem divina trazida por intermédio de Enoque (Jd.14), pessoa a quem Noé não conheceu pessoalmente, mas cujo filho, Metuselá, era um sinal de sua pregação, já que o significado de seu nome era “quando isso vier, ele morrerá”.

– Após o dilúvio, Deus renova a Sua lei a Noé (Gn.9), estabelecendo o que os doutores da lei denominaram de “os sete preceitos dos descendentes de Noé”, que era a renovação da ordem divina dada no Éden com o acréscimo da permissão de comer carne bem assim a ordem para governar a Terra, retendo o Senhor, na administração da justiça, a decisão concernente à vida.

– Ao conferir o governo e a administração da justiça ao homem, o Senhor dá, ainda mais, noção ao homem do que é certo ou errado, dos limites que deveria o homem observar, mas o resultado, uma vez mais, foi a rebeldia, a transgressão, tendo o homem querido viver independentemente de Deus, como bem revela o episódio da torre de Babel, de tal modo que não houve outra alternativa ao Senhor senão confundir as línguas e destruir a comunidade pós-diluviana, manifestando, uma vez mais, a Sua graça, a fim de que pudesse se cumprir a promessa da redenção.

– O Senhor, então, a partir de Abrão, forma um novo povo, que seria Sua propriedade peculiar dentre os povos.

 Abraão, Isaque e Jacó creem na promessa divina e passam a viver pela fé, alcançando a justificação na esperança d’Aquele que havia de vir para redimir a humanidade, a “posteridade” de Abrão em que seriam benditas todas as famílias da Terra.

Abraão, conforme já vimos em lição anterior, foi justificado pela fé ao crer na promessa divina (Gn.15:6) e esta mesma fé justificadora também se manifestou nos patriarcas Isaque e Jacó (Hb.11:9,13,20,21), bem como por José (Hb.11:22), cujo gesto manteve viva a esperança entre seus irmãos e os descendentes.

– Moisés, também, foi animado por esta fé, quando percebeu que tinha o chamado para libertar Israel, ocasião em que recusou a ser chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes ser maltratado com o povo de Deus do que, por um pouco de tempo, ter o gozo do pecado (Hb.11:25), ainda que tivesse se precipitado neste intento de libertação, vez que ainda deveria ser devidamente preparado no deserto para esta missão.

– Quando Moisés retorna ao Egito, devidamente convocado pelo Senhor, enfrenta a incredulidade do povo de Israel (Ex.5:20-23), tendo, então, o Senhor demonstrado todo o Seu poder não só a Faraó e ao Egito, mas ao próprio Israel, libertando-o com mão forte da escravidão.

– No entanto, após a libertação, o povo israelita foi submetido a sete testes de fé enquanto caminhava para se encontrar com Deus no monte Sinai, tendo falhado em todos eles. Senão vejamos.

– Logo após a saída do Egito, o povo foi levado até a beira do Mar Vermelho e lá viu a aproximação de Faraó e seu exército.

Em vez de crerem em Deus, murmuraram (Ex.14:10-12), falhando, assim, em crer no Senhor.

– Após a travessia do Mar Vermelho, os israelitas mais uma vez falharam na fé, pois, na primeira murmuração, Moisés lhes havia dito que nunca mais veriam os egípcios (Ex.14:13), tendo eles, porém, ido até a praia para se certificar se os egípcios haviam mesmo perecido no mar (Ex.14:30), para só então crer em Deus e em Moisés (Ex.14:31).

– O Senhor lhes submeteu, então, ao terceiro teste de fé, no deserto, quando eles sentiram sede e, encontrando depois de três dias, águas amargas em Mara, uma vez mais, falharam eles em confiar no Senhor, voltando a murmurar (Ex.15:23,24).

 O Senhor torna as águas amargas em doces, mas Israel fracassa mais uma vez.

– Poucos dias depois, ao saírem de Elim, um oásis, Israel é novamente provado pelo Senhor e fracassa pela quarta vez. No deserto de Sim, no dia quinze do mês segundo, ou seja, um mês depois de terem deixado o Egito, voltaram a murmurar porque sentiram fome (Ex.16:2,3).

– Em resposta a esta murmuração, o Senhor avisa que faria chover pão dos céus durante seis dias, e que eles deveriam recolher a porção diária, sendo que, no sexto dia, deveriam recolher porção dobrada, já que não haveria “chuva de pão” no sétimo dia.

– Israel, então, testado mais duas vezes com o “pão do céu”, que era o maná, falha em ambas as vezes, porquanto recolhe maná e o deixa para o dia seguinte (Ex.16:19,20), como também procura colher maná no sábado (Ex.16:27-29).

– Nesta oportunidade, aliás, o Senhor mostra como Israel recusava a guardar os Seus mandamentos e as Suas leis.

O povo formado por Deus tinha conhecimento do que era certo ou errado, do que era mandado pelo Senhor, mas, simplesmente, não obedecia e isto se devia porque a lei não podia retirar o pecado que estava nos corações dos israelitas, já que eles não criam naquilo que Deus lhes estava a falar.

– Pouco antes de chegar ao monte Sinai, o povo é testado mais uma vez na sede, agora em Massá e Meribá, e ali, mais do que nas outras vezes, não só murmura mas tenta ao próprio Deus, desafiando-O, questionando a Sua própria presença no meio do povo (Ex.17:1-7).

– Ao chegar ao monte Sinai, o Senhor faz a proposta de pacto a Israel, para que este fosse Sua propriedade peculiar entre os povos (Ex.19:5,6), que é aparentemente aceita pelo povo (Ex.19:8), tendo, então, o Senhor determinado que eles se santificassem por três dias e que, no terceiro dia, ante a manifestação de Deus no monte, aguardassem o longo sonido da buzina para subirem ao monte e entrarem em comunhão com Ele (Ex.19:13).

– No entanto, no dia aprazado, após a manifestação divina, o povo, em vez de aguardar o sonido longo da buzina, ausentou-se do monte, distanciou-se de Deus, mandando que Moisés fosse sozinho ao encontro do Senhor (Ex.20:18-21).

– A lei, portanto, não entrou no coração dos israelitas. Assim como as ordenanças já dadas ao longo da jornada para o Sinai, o povo não creu em Deus e, portanto, não poderia ser justificado como foram seus patriarcas, de sorte que a lei apenas serviu para apontar o pecado, mas era incapaz de retirar a natureza pecaminosa do homem.

– É esta realidade de que fala o apóstolo Paulo. A lei dá apenas consciência do pecado, mas o homem não deixa de pecar por causa desta consciência, pelo contrário, traz a convicção ao homem de que ele está errado, torna-o inescusável diante de Deus quando peca.

– Foi o que ocorreu com o povo de Israel que, quarenta dias após a promulgação da lei, de uma só vez, quebrou os dois primeiros mandamentos do Decálogo, ao adorar o bezerro de ouro.

– É por isso que o apóstolo diz que, após viver, algum tempo, sem lei (que é o período da inocência, em que o ser humano não sabe o que é certo e o que é errado), o homem toma conhecimento do certo e do errado e, em virtude de sua natureza pecaminosa, que é intocada pela lei, acaba por pecar inevitavelmente, fazendo o que sabe que é errado, que é contrário à vontade de Deus, o que Paulo afirma que é a ocasião tomada pelo pecado, que, aproveitando-se do conhecimento da lei, faz despertar no homem a concupiscência (Rm.7:8,9).

Por isso, o mandamento que foi dado para que o homem tivesse vida, acaba servindo para que ele morra, uma vez que a lei não toca a natureza pecaminosa do homem (Rm.7:10,11). Como diz Tomás de Aquino:

“ São Paulo expõe o que pertence à lei, a saber, dar o conhecimento do pecado sem poder destruí-lo” (Sobre Romanos. n. 32. Cit. Rm.7:7-16. Disponível em: http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/pt/index.htm Acesso em 18 fev. 2016) (tradução nossa de texto em francês).

– A lei é boa; o mandamento, justo, santo e bom. No entanto, o homem está com uma natureza decaída, depravada, não tem condição alguma de obedecer a Deus, de modo que, mesmo tendo ciência do que diz a lei, simplesmente a descumpre, ficando separado de Deus.

– A lei é espiritual, visto que proveniente de Deus, que é Espírito (Jo.4:24), mas o homem, dotado de uma natureza pecaminosa, é “carnal”, ou seja, nele domina a “carne”, que é esta natureza pecaminosa. Por isso, diz o apóstolo, que o ser humano é “carnal, vendido sob o pecado” (Rm.7:14).

II – A CARNE

– É neste ponto que temos de adentrar ao estudo do que é a “carne”, esta natureza pecaminosa que impede o homem de escolher o bem e rejeitar o mal, tornando-o escravo do pecado assim que adquire a consciência.

– Entende Jacó Armínio que o homem, ao ser criado, teve qualidades naturais e sobrenaturais que o faziam imagem e semelhança de Deus.

Diz o grande teólogo: “…chamo de naturais as qualidades que dizem respeito à natureza do homem, sem as quais o homem não pode ser homem, e que têm sua origem nos princípios da natureza, e são preparadas, pela sua própria natureza, para a felicidade natural, como seu objetivo e limite; elas são o corpo, a alma e a união de ambos(…).

Chamo de sobrenaturais as qualidades que não fazem parte do homem, e não se originam de princípios naturais, mas são adicionados aos princípios naturais, para aperfeiçoamento da natureza, destinados à felicidade sobrenatural, e para uma comunhão sobrenatural com Deus, o nosso Criador, de que consiste a felicidade.(…)

Afirmo que a imagem de Deus no homem abrange todas aquelas coisas que representam, no homem, algo da natureza divina, que é parcialmente essencial (…)1.

 Chamo essencial a alma, e nela, o intelecto, e a vontade, e a liberdade de vontade, e outros sentimentos, ações e paixões, que, necessariamente, resultam deles. 1.

Chamo acidentais tanto as virtudes morais como o conhecimento de Deus, a justiça e a verdadeira santidade, e quaisquer outros atributos da Divindade que existam, a serem considerados n’Ele, como essenciais à sua própria natureza, mas no homem, como uma imagem expressa…” (A Um debate amistoso entre Jacó Armínio e Francis Junis a respeito da predestinação, realizado por meio de cartas. Réplica de Armínio à resposta à décima proposição. In: ARMÍNIO, Jacó. Obras de Armínio. Trad. de Degmar Ribas Júnior, v.3, pp.117-9).

– Com o pecado, as “qualidades sobrenaturais” foram perdidas, de sorte que o homem se viu sem as suas virtudes morais, o conhecimento de Deus, a justiça e a santidade, de sorte que, embora tendo o intelecto, que lhe permitia saber o que Deus queria, não pôde mais realizá-lo.

Esta natureza sem as qualidades naturais é o que se denomina de “carne” ou “natureza pecaminosa” do homem, que faz com que o homem, despido destas qualidades, venha inevitavelmente a pecar, ainda que saiba que o que está a fazer é errado.

– É esta a terrível situação descrita pelo apóstolo Paulo. O pecado opera no homem a morte (Rm.7:13), de tal maneira que aquilo que o homem faz, ele não aprova, mas aquilo que ele sabe que é errado e que aborrece, é precisamente o que ele faz, já que não pode impedir, com suas próprias forças, que o pecado seja praticado (Rm.7:15).

– O mesmo Jacó Armínio, discutindo este capítulo 7 de Romanos, afirma que estamos diante de um homem não regenerado, de alguém que está escravizado pelo pecado e que não tem condição alguma de impedir o pecado em seu ser, ainda que tenha conhecimento de que o que faz é errado.

– Quando o homem entende que o que é errado, consente com a lei, pois admite que a lei é boa, mas, mesmo assim, a transgride, de sorte que se torna culpado, pois, conscientemente, desobedece à lei, lei que simplesmente lhe aponta o pecado e, portanto, o torna inescusável diante de Deus.

– Por isso, a lei serve como instrumento de condenação, porquanto, quando o homem que peca admite que está transgredindo a lei, que está a fazer algo que sabe que é errado, está se condenando a si próprio, vez que admite estar transgredindo a lei.

– Como afirma Armínio: “…Aqui o apóstolo apresenta dois senhores, que são completamente contrários entre si e diretamente opostos: Deus e o pecado — o primeiro deles, o legítimo Senhor; o segundo, um tirano que, por meios violentos, usurpa o domínio sobre o homem, por falha, na realidade, do próprio homem, e pelo justo juízo de Deus.

Ambos impõem ao homem uma lei. Deus impõe a Sua, de modo que o homem possa obedecer a Ele naqueles coisas que a lei prescreve; e o pecado impõe a sua lei, de modo que o homem pode obedecer a ela, nas ‘suas paixões’, que são propostas por uma lei própria.

 A primeira é chamada “a Lei de Deus”, e a segunda, “a lei do pecado”. Com a primeira, Deus Se esforça para guiar o homem, que está debaixo da lei, fazendo com que ele seja obediente ao Senhor.

Com a segunda, o pecado procura e tenta, com todos os tipos de violência, impelir os homens a obedecer a ele. Com a Sua lei, Deus prescreve aquelas coisas que são ‘santas, justas e boas’; com a sua lei, o pecado propõe aquelas coisas que são úteis, prazerosas e agradáveis à carne.

No entanto, ambos, Deus e o pecado, têm, neste homem, que está debaixo da lei, algo que favorece suas várias causas e propósitos, e que concorda com cada uma das leis.

 Deus tem o entendimento, ou a ‘lei do entendimento’; o pecado tem a carne, ou a lei da carne, ou ‘dos membros’.

O entendimento, que consente com a Lei de Deus, que é ‘santa, justa e boa’; a carne, que concorda com a lei do pecado, que é útil, prazerosa e agradável; a ‘lei do entendimento, que é o conhecimento da lei divina, e um consentimento com ela; a ‘lei dos membros, que é uma inclinação e propensão àquelas coisas que são úteis, prazerosas e agradáveis à carne, isto é, a esses objetos mundanos, terrenos e visíveis…”

(Uma dissertação sobre o verdadeiro e genuíno sentido do sétimo capítulo da Epístola de Paulo aos Romanos, por aquele famoso religioso, o reverendo Jacó Armínio, D.D., nativo de Oudewater, Holanda. In: ARMÍNIO, Jacó. Obras de Armínio. Trad de Degmar Ribas Júnior, v.2, p.285).

– Por isso, não pode a lei ser considerada um critério para a salvação, como faziam os judaizantes na igreja primitiva (como deveria ser o caso dos crentes judeus de Roma), e continuam a fazer alguns segmentos religiosos da atualidade, com destaque para os sabatistas.

– Adotar a lei como critério de salvação é verdadeiro suicídio espiritual, pois a lei apenas consegue apontar o pecado, dar consciência ao homem do que é pecado, mas não tem condição alguma de impedir a prática do pecado, porquanto a lei não consegue tirar o pecado, mas tão somente mostra-lo, torná-lo claro e indesculpável.

– Por isso, o apóstolo considera que o homem “debaixo da lei” é, precisamente, o homem que, sem a graça de Deus, é impotente diante da carne, pecando inevitavelmente.

 A lei, portanto, traz ao homem somente uma maldição, a certeza da condenação, a consciência de que se é um condenado, nada contribuindo para a salvação.

– É o que Paulo diz na carta aos gálatas, quando afirma: “Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição, porque escrito está: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las.

E é evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé” (Gl.3:10,11).

– Qualquer doutrina, portanto, que defenda a observância da lei, a utilização da lei como critério da salvação, não passa de um ardil de Satanás, que quer manter o homem no pecado e condenado à perdição eterna.

– O fato é que, o homem, separado de Deus por causa do pecado, sucumbe ao pecado em virtude da sua “carne”, que reina soberana em sua vida, apesar de ele ter consciência de que está a pecar, a transgredir a vontade divina.

Sua natureza é totalmente depravada, nela não habita bem algum (Rm.7:18), o mal está com ele e, portanto, ele não tem condição alguma de se libertar desta natureza pecaminosa, desta carne, que o apóstolo chama de “corpo desta morte” (Rm.7:24).

– Daí porque o homem carnal, sem condições de se libertar deste tenebroso poder que existe em seus membros, exclama: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm.7:24).

– O que a lei faz, portanto, é apenas dar consciência ao homem do que é certo ou errado, sem que o homem possa, diante deste entendimento, praticar o bem, pois sua natureza pecaminosa não o permite.

– Torna-se, portanto, indispensável que venha a graça de Deus para que o homem, pela fé em Cristo, fé esta que lhe advém pela Palavra (Rm.10:17), possa se arrepender de seus pecados, tê-los retirados e, diante da justificação, nascer de novo, surgindo uma “nova criatura”, que não detém a natureza pecaminosa, mas, sim, que passa a ter tanto as qualidades naturais quanto as sobrenaturais, que o faça imagem e semelhança de Deus.

– A justificação implica na regeneração e, portanto, esta “nova criatura” não tem a natureza pecaminosa, não é guiada pela carne, e, sim, pelo Espírito Santo, como haveremos de estudar na próxima lição.

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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