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LIÇÃO Nº 1 – O VALOR DOS BONS CONSELHOS

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Chegamos ao final de mais um ano letivo da Escola Bíblica Dominical, agradecendo a Deus pela oportunidade que nos concedeu de poder, em relativa liberdade, estudar a Palavra de Deus e, assim, crescermos na graça e no conhecimento de Cristo Jesus.

É, sem dúvida, num período de intenso aumento da perseguição contra a Igreja, inclusive em nosso país, um grande privilégio podermos nos dedicar diariamente ao estudo das Escrituras Sagradas, alimentando-nos do pão espiritual (Mt.4:4) e tendo condições de sobreviver em nossa jornada rumo ao céu.

Neste último trimestre letivo, estudaremos temas constantes de dois livros do Antigo Testamento, tendo, pois, o que denominamos de “trimestre bíblico”.

Pela instrumentalidade do pastor José Gonçalves, presidente das Assembleias de Deus em Água Branca/PI, que tem comentado as lições bíblicas há alguns anos, estaremos a estudar o tema “Sabedoria de Deus para uma vida vitoriosa”, oportunidade em que teremos estudos baseados nos livros de Provérbios e de Eclesiastes, dois dos chamados “livros sapienciais” da Bíblia Sagrada.

Provérbios e Eclesiastes são dois livros do chamado grupo dos “livros poéticos”, assim denominados porque são livros escritos em poesia, ou seja, dentro de uma perspectiva do ponto-de-vista do autor, que partem do interior do homem, de seus sentimentos e raciocínio, para nos trazer verdades espirituais.

Os livros poéticos são divididos em dois grupos, a saber: Jó, Provérbios e Eclesiastes, de um lado e Cantares de Salomão e Salmos, de outro. Os três primeiros livros poéticos diferenciam-se dos outros dois, porquanto são livros que foram escritos para nos trazer orientações e reflexões a respeito de nossa vida sobre a face da Terra. São livros que foram redigidos para nos indicar a “sabedoria divina”, para nos ensinar como “fazer a coisa certa, na hora certa, do jeito certo” enquanto estivermos a conviver com os demais seres humanos neste mundo.

Por isso, são chamados de “livros sapienciais”, ou seja, “livros de sabedoria”, livros que nos mostram como devemos nos conduzir em nossa peregrinação terrena.

Enquanto que o livro de Jó nos traz ensinamentos a respeito de um exemplo concreto de provação de um homem de Deus, Provérbios e Eclesiastes são ensinamentos gerais, desprendidos de um caso concreto, verdadeiros guias de como se deve conduzir um homem de Deus sobre a face da Terra.

Ambos os livros são de autoria do rei Salomão, o homem que, salvo Jesus, teve a maior sabedoria sobre a face da Terra (I Rs.3:12; 4:29-34; Lc.11:31). Tal sabedoria, como se vê, foi dada por Deus a Salomão com um propósito: o de fazer com que, através da instrumentalidade daquele homem, inspirado pelo Espírito Santo, todo e qualquer servo de Deus soubesse como deveria se conduzir em sua peregrinação terrena. Aleluia!

As próprias Escrituras informam-nos que Salomão, com a sabedoria que lhe deu o Senhor, produziu três mil provérbios, muitos dos quais foram compilados e deram origem ao livro de Provérbios, livro este que foi definitivamente concluído no tempo do rei Ezequias (Pv.25:1), com a inclusão de provérbios de outros sábios como Agur e Lemuel (Pv.30:1 e 31:1).

Segundo Finnis Jennings Dake (1902-1987), o livro de Provérbios tem 31 capítulos, 915 versículos, 49 perguntas, 27 versículos de profecias não cumpridas, 67 pecados, 66 coisas a respeito de tolos, 28 coisas a respeito de preguiçosos, 22 coisas a respeito de reis, 25 abominações, 215 ordens, 120 promessas, 27 bênçãos, 24 segredos da vida, 17 coisas “melhores” e 560 provérbios.

O livro de Provérbios é uma obra que pretende orientar os homens a viverem neste mundo de forma a agradar a Deus. Seu objetivo está explicitado em Pv.1:2-4. O livro tem a finalidade de fazer com que seus leitores “conheçam a sabedoria e a instrução; entendam as palavras da prudência; recebam a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a eqüidade; entendam provérbios e sua interpretação, bem como as palavras dos sábios e suas adivinhações “(Pv.1:2,3 e 6). É também objetivo do livro “dar aos simples prudência e aos jovens, conhecimento e bom siso; fazer o sábio crescer em sabedoria e o entendido adquirir sábios conselhos” (Pv.1:4,5). Vemos, portanto, que o escritor tem em vista todos os segmentos da sociedade e quer que todos saibam viver nesta terra agradando a Deus.

Como ensinava o saudoso pastor Severino Pedro da Silva (1946-2013), enquanto o livro de Salmos nos mostra a relação do homem para com Deus, o livro de Provérbios nos mostra como devemos nos relacionar com os demais seres humanos.

O livro de Provérbios, que tem 31 capítulos, pode ser dividido em quatro partes, a saber:
a) 1ª parte – primeira coletânea de provérbios de Salomão – Pv.1-9

b) 2ª parte – segunda coletânea de provérbios de Salomão – Pv.10-24

c) 3ª parte – terceira coletânea de provérbios de Salomão – Pv.25-29

d) 4ª parte – provérbios de Agur, Lemuel e o ensino da mulher virtuosa – Pv.30-31

No livro de Provérbios, temos a apresentação da sabedoria como uma demonstração da excelência de Deus. Particularmente, em Pv.8:22-36, vemos a sabedoria como sendo o símbolo de Jesus.

O livro de Eclesiastes é outro livro sapiencial atribuído a Salomão, que se segue ao livro de Provérbios, exatamente porque se entende que este livro é o livro da velhice de Salomão, a sua última obra, onde teria mostrado o seu desencanto com as coisas desta vida, teria percebido a “vaidade” da vida “debaixo do sol”.

O nome hebraico do livro é “Qohelet” ou “Cohelet”, que significa “pregador” ou “orador da assembleia”, título retirado das primeiras palavras do texto (Ec.1:1: “Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém”). Na Septuaginta, o título dado foi a tradução grega da palavra “pregador”, ou seja, “ekkesiastes”, que foi o nome adotado na Vulgata e na nossa língua.

Segundo Finnis Jennings Dake, o livro possui 12 capítulos, 222 versículos, 33 perguntas, 34 ordens, nenhuma profecia, 1 promessa e nenhuma mensagem de Deus.

O livro de Eclesiastes, que tem 12 capítulos, pode ser dividido em três partes, a saber:

a) 1ª parte – introdução – a vaidade de todas as coisas – Ec.1-3

b) 2ª parte – desenvolvimento – a demonstração da vaidade de todas as coisas mediante a análise do prazer, das riquezas, dos males e tribulações, seguida de vários conselhos práticos – Ec.4-11

c) 3ª parte – conclusão – temor a Deus é o dever de todo o homem – Ec.12

No livro de Eclesiastes, observamos que tudo que é estabelecido como meta para a vida pelo homem (o que o pregador chama de “vida debaixo do sol”) é vazio de sentido, é algo que não leva a lugar algum.

A vida humana sem a dimensão da eternidade é vazio e a qualidade de ser vazio é a vaidade. Por isso, várias vezes o pregador afirma, neste livro, que “tudo é vaidade”. A vida só tem sentido se tiver uma dimensão da eternidade. É esta a explícita conclusão a que chega o sábio: “De tudo que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo o homem. Porque Deus há de trazer a juízo toda a obra e até tudo que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” (Ec.12:13).

A dureza desta verdade explica o motivo de o livro de Eclesiastes incomodar tanto e de ser tão antipático a muitos. Neste livro, ao apresentar a vida com base no homem como vaidade, anuncia-se, “a contrario sensu’, Jesus como o único sentido da vida.

A capa da revista deste trimestre apresenta um farol, ou seja, “construção junto ao mar, geralmente em forma de torre, dotada de um foco luminoso na parte superior para orientar navios e aviões durante a noite”.

Como se pode verificar, o farol apresenta uma luz, que vem do alto, para orientar aqueles que estão passando por ali, a fim de que, em meio às trevas, não venham a perder a direção do destino a que estão indo.

Isto nos faz lembrar, logicamente, do que escreveu o salmista no Sl.119:105, ou seja, de que “Lâmpada para os meus pés é Tua palavra e luz, para o meu caminho”. Como afirmou o poeta sacro Emílio Conde, as Escrituras Sagradas são “um farol que sempre resplandeceu e que mostra o porto da salvação” (primeira parte da terceira estrofe do hino 306 da Harpa Cristã).

Neste mundo tenebroso (Jo.3:19), por causa da presença do pecado e do domínio do mal, somente podemos caminhar rumo ao céu através da Palavra de Deus, esta “luz que guia pela senda da paz e que alumia os que em trevas estão, lâmpada que nos faz ver os ardis de Satanás e que brilha mesmo na escuridão” (segunda estrofe do hino 306 da Harpa Cristã).

É este o objetivo dos livros de Provérbios e de Eclesiastes, ser um guia, um farol para cada homem que quer vencer este mundo e chegar à presença de Deus na eternidade, um guia de orientação para que saibamos tanto conviver com os outros homens enquanto estivermos neste mundo, como também ter o exato sentido desta vida debaixo do sol.

O trimestre é composto de dois blocos. O primeiro bloco, composto das lições 1 a 8, trará alguns estudos com base no livro de Provérbios. Assim, estudaremos o valor dos bons conselhos (lição 1), as advertências contra o adultério (lição 2), o trabalho e a prosperidade (lição 3), a correta forma de se lidar com o dinheiro (lição 4), o cuidado com aquilo que falamos (lição 5), o exemplo pessoal na educação dos filhos (lição 6), a contraposição entre a arrogância e a humildade (lição 7) e, por fim, um estudo sobre a mulher virtuosa (lição 8).

O segundo bloco, composto das lições 9 a 13, trar-nos-á estudos de pontos do livro de Eclesiastes, a saber: o tempo para todas as coisas (lição 9), o cumprimento das obrigações diante de Deus (lição 10), a ilusória prosperidade dos ímpios (lição 11), a questão do lançamento do pão sobre as águas (lição 12) e, por fim, o temor a Deus em todo o tempo (lição 13).

Que, ao término do trimestre, possamos todos, devidamente iluminados por esta “sabedoria de Deus para uma vida vitoriosa”, sabermos bem levar a nossa pequenina embarcação ao seu destino, que outro não é senão a cidade celeste de onde esperamos o Senhor e Salvador Jesus Cristo. Amém!

Seguir o que nos ensina a sabedoria divina é saber viver sobre a face da Terra.

INTRODUÇÃO

– Ao iniciarmos o estudo dos livros de Provérbios e de Eclesiastes, estudaremos o grande valor que tem a sabedoria no viver diário sobre a face da Terra.
– Salomão, o homem mais sábio que existiu sobre a Terra, faz questão de mostrar o grande valor que tem a sabedoria na vida debaixo do sol.

I – A SABEDORIA COMO GUIA DE ORIENTAÇÃO NA VIDA SOBRE A FACE DA TERRA

– Estamos a iniciar o estudo dos livros de Provérbios e de Eclesiastes, dois livros “sapienciais”, ou seja, “livros de sabedoria”, obras que o Senhor inspirou Salomão a escrever a fim de nos dar verdadeiros “guias de orientação”, “faróis” a nos ensinar como devemos passar por esta Terra rumo ao céu.

– Não é, portanto, coincidência que o primeiro tema do livro de Provérbios tenha sido precisamente o tema da sabedoria, a sua necessidade e importância. Seu autor, Salomão, o mais sábio homem que existiu sobre a face da Terra, com a exceção de Jesus, foi inspirado por Deus para nos deixar escritos não só que nos ensinem a viver sabiamente, mas que mostrassem a grande importância da própria sabedoria como elemento a ser possuído por todo aquele que deseja ter uma vida vitoriosa neste mundo.

– O livro de Provérbios começa indicando quem é o autor do livro, a saber, Salomão, filho de Davi, rei de Israel (Pv.1:1), ainda que, na verdade, os dois últimos capítulos do livro não tenham sido escritos por ele, mas, sim, por Agur (Pv.30) e por Lemuel (Pv.31), muito provavelmente sábios que conviveram com o rei Salomão.

– Após a indicação do autor, o livro, demonstrando ser, efetivamente, um livro de sabedoria, já aponta quais os objetivos de sua escrita, quais os objetivos da própria sabedoria: “Para se conhecer a sabedoria e a instrução, para se entenderem as palavras da prudência, para se receber a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade; para dar aos simples prudência e aos jovens, conhecimento e bom siso; para o sábio ouvir e crescer em sabedoria e o entendido adquirir sábios conselhos; para entender provérbios e sua interpretação, como também as palavras dos sábios e suas adivinhações, o temor do Senhor é o princípio da ciência; os loucos desprezam a sabedoria e a instrução” (Pv.1:2-7).

– Notamos, portanto, que Salomão, logo de início, indica que a verdadeira sabedoria, a instrução e a ciência têm como ponto de partida “o temor do Senhor”. Não há que se falar em se ter sabedoria, ciência ou instrução sem que haja “o temor do Senhor”.

– Esta expressão de Salomão é extremamente atual, porquanto a humanidade tem sido dominada por um sentimento de autossuficiência tal que se arvora sendo capaz de ter e adquirir conhecimentos de toda ordem à margem de Deus. Na verdade, um grande “ensino” de nossos dias é de que alguém, para se achar um profundo conhecedor, um grande entendido, por primeiro, precisa eliminar a própria hipótese da existência de Deus.

– Nada mais falso, porém, pois, como nos diz Davi, nos salmos 14 e 53, o primeiro sinal de ignorância é, precisamente, a afirmação da inexistência de Deus (Sl.14:1; 53:1). Quando alguém afirma que Deus não existe, está apenas revelando a sua suprema ignorância e o resultado desta negação de Deus, desta alienação de Deus outro não é senão a completa corrupção de valores e de costumes, o império da maldade e do aviltamento da pessoa humana (Sl.14:1-3; 53:1-3), coisa facilmente constatável nos dias difíceis em que estamos a viver.

– O “temor do Senhor”, ou seja, a reverência a Deus, o respeito aos Seus mandamentos, a submissão à Sua autoridade, é, realmente, o “princípio” da ciência, da sabedoria e da instrução. É tanto o “princípio”, no sentido de “começo, início”, pois não há como se conhecer algo, de se adquirir ciência e se aprender a conduzir-se neste mundo sem que, antes, estejamos prontos a seguir a orientação vinda da parte de Deus, como também é o “princípio” no sentido de “fundamento, base, alicerce”, pois tudo que o homem venha a conhecer, toda a verdade que venha a descobrir tem de partir da consciência de que Deus mesmo é a verdade (Jr.10:10), de que tudo provém d’Ele, a fonte de todo conhecimento.

– O proverbista fala-nos, logo de pronto, de que o temor do Senhor é necessário para “se conhecer a sabedoria e a instrução, para se entenderem as palavras da prudência” (Pv.1:2). Aqui, como ao longo do livro de Provérbios, devemos sempre atentar, para uma boa compreensão do texto, para o chamado “paralelismo hebraico”, uma forma de redação muito própria da poesia israelita, que consiste em repetir a mesma ideia com palavras diferentes. Assim, sempre as afirmações são feitas em duas frases, duas sentenças “paralelas”, ou seja, há a repetição da mesma ideia mas com palavras diferentes.

– Por isso, quando se diz “conhecer a sabedoria e a instrução” e “entender as palavras da prudência”, estamos a falar da mesma ideia, que é repetida com palavras diferentes.

– “Sabedoria”, portanto, não se confunde, como alguns pensam, com “erudição”, ou seja, com o resultado de um estudo intelectual exaustivo. “Sabedoria” é, antes, “…a arte de ser bem sucedido, de formar o plano correto para alcançar os resultados desejados” (HUBBARD, D.A. Sabedoria. In: DOUGLAS, J.D. (org.). O novo dicionário da Bíblia, v.II, p.1423). É algo prático e não teórico, ou seja, a sabedoria se demonstra nas atitudes tomadas, não no conhecimento acumulado no cérebro. É saber fazer a coisa certa no momento certo da maneira certa.

– Por isso, a sabedoria é algo que não se circunscreve a um campo do conhecimento ou a um aspecto da vida, mas ela é algo indivisível, algo que abarca todos os quadrantes da vida. “…A sabedoria bíblica é ao mesmo tempo religiosa e prática. Originando-se no temor do Senhor (Jó 28:28; Sl.111:10; PB.1:7; 9:10), ramifica-se até abarcar todos os qaudrantes da vida conforme é indicado no extenso comentário sobre a sabedoria no livro de Provérbios. A sabedoria adquire discernimentos respigados dos conhecimentos sobre os caminhos de Deus e aplicação à vida diária…” (HUBBARD, D.A.op.cit., pp.1423/4). É uma combinação de discernimento e de obediência.

– É bem por isso que se diz que “conhecer a sabedoria e a instrução” é “entender as palavras da prudência”. A sabedoria é o entendimento das palavras que nos fazem agir corretamente, agir com cautela, com cuidado, superando todos os obstáculos e impedimentos que exsurgem em nossa peregrinação terrena, de modo a não nos desviarmos da rota que nos levará a encontrar com o Senhor nos ares.

– Quando o proverbista fala em “instrução”, está a nos indicar que a sabedoria não é algo que possa ser elaborado ou criado pelo próprio homem. Ele, por si só, não conseguirá ter a verdadeira sabedoria, pois esta tem de ser “aprendida”, “adquirida”, prova de que não se trata de algo que já exista no ser humano.

– Neste ponto, aliás, diferençamos bem “sabedoria” de “inteligência”, A inteligência nasce, sim, com o homem, pois Deus fez o ser humano um animal racional, um ser dotado de razão, como nos mostra claramente a Bíblia Sagrada quando nos revela que Deus mandou a Adão que desse nome aos animais, prova de que a inteligência já se encontrava no homem quando de sua criação (Gn.2:19,20).

– No entanto, a sabedoria depende de uma “instrução”, de um aprendizado, pois a sabedoria é o próprio Deus e somente d’Ele poderemos adquiri-la. Por isso é dito que a sabedoria existia no “princípio dos caminhos de

Deus”, i.e., desde a eternidade (Pv.8:22-30). Esta expressão enigmática do proverbista seria desvelada pelo apóstolo Paulo, que iria identificar esta sabedoria com o próprio Jesus Cristo, o Verbo (I Co.1:24,30).

– A sabedoria consiste, portanto, em “entender as palavras da prudência”, ou seja, conhecer tudo quanto o Senhor quer revelar ao Seu povo, ter a capacidade de receber a instrução divina para o nosso viver. Trata-se de aprender o que é a “justiça, o juízo e a equidade” (Pv.1:3). Por isso mesmo, o Senhor Jesus dirá que Seus discípulos precisam exceder em justiça os escribas e fariseus (Mt.5:20), precisamente porque aprenderam d’Ele, que é a sabedoria e, por aprenderem de Cristo, serão praticantes da justiça, do juízo e da equidade.

– Aquele que não aprende a sabedoria, que não a recebe é chamado, no livro de Provérbios, de “simples” (Pv.1:4), “louco”(Pv.1:7) e “tolo” (Pv.10:10). São pessoas que rejeitam o ensino do Senhor e preferem seguir sua vida sobre a face da Terra segundo os seus próprios conceitos e valores, o que os levará à perdição, pois, num mundo de trevas como o que vivemos, sem a luz não há como se chegar à verdade, se chegar a Deus.

– Por isso, é dito que o temor do Senhor é o princípio pelo qual se pode dar ao simples, prudência, ou seja, é a única maneira pela qual alguém deixará de ser “simples”, de ser um “ingênuo” (na linguagem utilizada pela Bíblia de Jerusalém), sabendo discernir entre o bem e o mal, sabendo seguir as orientações divinas que lhe concederão vida eterna.

– A sabedoria, também, é absolutamente necessária para que os jovens tenham “conhecimento e bom siso”, ou seja, para que os jovens adquiram uma real maturidade, crescendo não só em estatura, mas, também, a exemplo do Senhor Jesus, em sabedoria e graça para com Deus e os homens (Lc.1:52).

– Aliás, um dos sérios problemas que temos tido em nossos dias é a falta de maturidade, tanto espiritual quanto psicológica, de nossa juventude, fator que começou a preponderar e predominar com maior intensidade a partir da segunda metade do século XX, precisamente quando se extirpou toda e qualquer referência religiosa no sistema educacional do Ocidente. Nossos jovens, na atualidade, embora dominem a tecnologia de ponta, são incapazes, em sua esmagadora maioria (incluindo, infelizmente, os que cristãos se dizem ser), de discernirem o certo do errado, de saber se conduzirem conforme a vontade de Deus neste nosso dia-a-dia debaixo do sol. Que é isto? Falta de sabedoria!

– Mas, e ninguém mais do que Salomão poderia dizer isto, o temor do Senhor não é necessário apenas para quem quer adquirir a sabedoria não a tendo, como é o caso do “simples” ou do “jovem”, mas também é fundamental para aquele que já sabe, ou seja, para o sábio.

– O temor do Senhor é necessário “para o sábio ouvir e crescer em sabedoria”, “para o entendido adquirir sábios conselhos”. A sabedoria, sendo algo proveniente de Deus, é infinita, ilimitada e, por isso mesmo, jamais alguém “saberá tudo”. Pelo contrário, quando mais a pessoa crescer em sabedoria, mais reconhecerá que nada sabe.

– Entre os gregos, o conceito de “sabedoria” era um tanto quanto diverso. Tanto para Platão quanto para Aristóteles, os mais proeminentes filósofos gregos, a sabedoria era o conhecimento do todo e a capacidade para aplicação deste conhecimento de forma correta e justa. Se para Platão a sabedoria vinha do “mundo das ideias”, deste mundo sobrenatural; para Aristóteles, a sabedoria era resultado de um correto aprendizado, de um uso apropriado do raciocínio. No entanto, e vem daí a própria palavra “filosofia”, cujo significado é “amigo da sabedoria”, o verdadeiro sábio era aquele que reconhecia que nada sabia. É a célebre frase do filósofo grego Sócrates, que foi o mestre de Platão: “só sei que nada sei”.

– Neste ponto, portanto, há uma confluência do pensamento bíblico com o pensamento grego. O verdadeiro sábio é aquele que reconhece que precisa cada vez mais crescer em sabedoria, que o que sabe nada significa, tendo em vista que a sabedoria é infinita, vez que proveniente de Deus, ser ilimitado.

– O verdadeiro sábio é aquele que se mantém pronto a cada vez mais aprender do Senhor, que reconhece que a sabedoria é infinita e que, portanto, devemos estar prontos a aprender de Deus a cada momento, a cada instante. Que bom seria se todos os que cristãos se dizem ser, principalmente os que já são maduros, assim se portassem…

– O “entendido” precisa “adquirir bons conselhos”, o que é, conforme o paralelismo bíblico, o mesmo que “ouvir e crescer em sabedoria”. Temos aqui, então, o significado da expressão “bons conselhos”, que é o título da nossa lição, que outra coisa não é senão a própria “sabedoria”.

– Vemos, portanto, que, quando alguém teme a Deus, não só é ouvido pelo Senhor (Jo.9:31), como também ouve o que o Senhor tem a lhe ensinar. Aquele que teme a Deus é capaz de compreender o significado das Escrituras, “entendendo provérbios e a sua interpretação”, entendendo “as palavras do sábio”, porquanto tudo quanto foi escrito, foi escrito por inspiração do Espírito Santo (II Pe.1:20,21), bem assim os seus “enigmas”, que é como a Versão Almeida Revista e Atualizada traduz a palavra hebraica “chiydah” (חידה ), que tem o significado de um “dizer obscuro”, um “dito de difícil entendimento”, ou seja, algo que necessite ser interpretado, uma melhor tradução que o de “adivinhações” que se encontra na Versão Almeida Revista e Corrigida.

– Por isso, o texto bíblico só pode ser entendido espiritualmente. Não é através de uma erudição intelectual que se poderá chegar à verdade das Escrituras, mas única e exclusivamente pelo Espírito Santo. Isto não significa que não devamos estudar o texto, procurá-lo entender intelectualmente, mas o discernimento é fruto do “temor do Senhor”, é aquisição de sabedoria.

– Os “loucos”, porém, desprezam a sabedoria e a instrução, querem ter conhecimento à margem de Deus e o resultado é que permanecem na maior ignorância, pois não têm acesso à verdade. Como consequência, mantêm-se escravizados pelo pecado e pelo maligno, sendo incapazes de praticar o verdadeiro bem enquanto estiverem neste mundo, habilitando-se, pois, à perdição.

II – A SABEDORIA NOS AFASTA DO MAL

– Após ter demonstrado qual o objetivo de seu livro e como se inicia no caminho da sabedoria, Salomão faz um apelo a todos os seus leitores: “Filho meu, ouve a instrução de teu pai e não deixes a doutrina de tua mãe” (Pv.1:8).

– É interessante verificar que Salomão aqui está, na verdade, a profetizar. Trata-se de uma palavra vinda diretamente da parte de Deus, um apelo para que o povo de Israel não abandonasse a doutrina que o Senhor havia dado ao Seu povo e que deveria ser transmitida geração após geração pelos pais (Dt.6:6).

– “A instrução de teu pai e doutrina de tua mãe” aqui nada mais é que a revelação que Deus havia dado a Moisés para ser ensinada a Israel, a “doutrina” que deveria ser gotejada como a chuva, o dito que deveria ser destilado como o orvalho, como chuvisco sobre a erva e como gotas d´água sobre a relva (Dt.32:2). Em suma: a Palavra de Deus.

– Deus, como um Pai que sempre dá o melhor para os Seus filhos (Mt.7:11), faz um contundente apelo para que estes jamais deixassem de ouvir o Seu ensino, a sua instrução. Pois tais ensinamentos, que concedem sabedoria a seus ouvintes, são “diadema de graça para a tua cabeça”, “colares para o teu pescoço” (Pv.1:9).

– A Palavra de Deus é como uma “coroa”, um “sinal de autoridade” para aquele que a ouve. Somente se seguirmos a Palavra de Deus, poderemos ter autoridade espiritual, poderemos ser verdadeiramente o “sacerdócio real” que o Senhor quer que sejamos, poderemos ter condições de sermos verdadeiros filhos de Deus sobre a face da Terra. Temos tal autoridade, amados irmãos?

– Precisamos ter esta autoridade espiritual neste mundo, porque, apesar de seguirmos a Deus, os pecadores virão tentar nos desencaminhar. Salomão é bem claro ao dizer que os pecadores virão ao nosso encontro com “blandícias”, ou, na versão da Bíblia de Jerusalém, “sedução”.

– Um dos grandes perigos que temos em nossa jornada rumo ao céu é precisamente a “sedução” do pecado, a atração que o mundo exerce sobre cada um de nós, buscando nos fazer ver, através de uma mentalidade humana, que não há sentido nem base para vivermos de acordo com a vontade de Deus.

– O mundo, que está no maligno (I Jo.1:19), vive como se Deus não existisse e, portanto, raciocina e tira suas conclusões a partir de premissas pelas quais Deus é um ser irrelevante, que não é levado em consideração. Portanto, seus valores, seus pensamentos, sua forma de agir não considera a pessoa divina.

– Diante disto, quando os pecadores de nós se aproximam, para questionar nossa maneira de viver, nossos valores, os nossos pensamentos, os nossos conceitos, somos tentados por eles a partir de suas premissas e, assim, tentar explicar, dentro de uma mentalidade mundana, porque e para que estamos a viver deste jeito.

– Quando assim fazemos, entramos em um caminho extremamente perigoso, porque seremos levados a concordar com as conclusões trazidas por eles, que serão, certamente, sedutoras, mas baseadas numa mentira, já que alheias à Verdade, que é o Senhor. Por acaso, não foi isto que ocorreu com o primeiro casal no Éden? A partir de uma premissa totalmente falsa, o primeiro casal creu na serpente em vez de se manter na Palavra de Deus.

– Por isso, o proverbista, já no limiar de seu livro, alerta para que não nos deixemos iludir com as “blandícias”, com as “seduções” deste mundo. Tomemos cuidado, amados irmãos, porque, assim como no Éden, o fruto proibido continua “bom para se comer, agradável aos olhos e desejável para dar entendimento”, mas seu fim é a perda da comunhão com Deus.

– Não podemos “consentir” com os pecadores. Ora, o que é “consentir”? É “sentir com”, ou seja, compartilhar os sentimentos dos pecadores, ter a sua mesma mentalidade, aceitar as suas mesmas regras, os seus mesmos princípios, os seus mesmos valores. Hoje há uma tendência, nesta chamada pós-modernidade, de se aceitarem como válidos todos e quaisquer comportamentos, todos e quaisquer pensamentos. Não, não e não! Somente podemos aceitar a verdade, que é a Palavra de Deus (Jo.17:17)!

– A sabedoria é absolutamente essencial, porque é ela que nos faz ver o que é de Deus e o que não no é. É a sabedoria que permite fazermos distinguir entre o que agrada a Deus, está conforme a Sua vontade e aquilo que, por mais engenhoso e criativo que seja, por mais aparentemente inócuo que seja, é contrário ao Senhor e não tem a Sua aprovação. Somente podemos consentir com aquilo que vem de Deus e jamais consentir com aquilo que não é da vontade do Senhor. Temos feito isto?

– A sabedoria tem o condão de impedir que sejamos envolvidos com o pecado. Vivemos neste mundo e é importante percebermos que, em momento algum, o proverbista nos manda sair do convívio com os pecadores, pois isto seria impossível. Ele apenas nos manda que não consintamos com as suas seduções. Vivemos entre eles, mas não podemos ter o mesmo sentimento deles. Que Deus nos ajude a sempre vivermos assim durante esta nossa peregrinação terrena!

– Salomão logo retrata uma das formas de atuação dos pecadores, que é a do convite para que façamos mal ao próximo, para que demos prioridade às riquezas do que ao ser humano (Pv.1:11,12).

– Temos nesta expressão do proverbista um fator de identificação entre o que é de Deus e o que não no é, a saber, o que se costuma denominar, na atualidade, de “dignidade da pessoa humana”.

– O convite do pecador é o de fazer mal, de derramar o sangue dos inocentes, a fim de possuir os seus bens, a fim de obter o enriquecimento, mesmo à custa da injustiça. Isto revela a própria mentalidade mundana e pecaminosa, que é o da prevalência das coisas sobre as pessoas, o de considerar as pessoas como meros instrumentos para a prevalência do “eu”, do desejo de poder, do egoísmo, do individualismo.

– Temos aqui, aliás, a mesma mentalidade de Caim, que, perguntado por Deus sobre o paradeiro de Abel, tão somente respondeu: “sou eu guardador do meu irmão?” (Gn.4:9 “in fine”).

– A mentalidade mundana e pecaminosa não considera o outro, não vê no ser humano a imagem e semelhança de Deus, um semelhante, alguém que merece ser reconhecido como “coroa da criação terrena” (Sl.8:5), mas meramente alguém que pode servir de meio para a sua própria prevalência, para o seu próprio engrandecimento.

– A mentalidade mundana e pecaminosa também é míope, na medida em que nada enxerga a não ser o que está diante de seus olhos, este mundo, não tem qualquer visão para além da realidade material. Por isso, opta sempre pela obtenção de riquezas, de poder, de fama, de prestígio neste mundo, não vê nada além do que aqui está. Elimina, portanto, tudo o que é transcendente, tudo que é sobrenatural, tudo que se refere à eternidade.

– Por isso, os pecadores não se preocupam em derramar sangue inocente, desde que isto signifique “achar toda a sorte de fazenda preciosa, encher as casas de despojos”. Querem que todos participem de “uma só bolsa” (Pv.1:13,14).

– Não é precisamente isto que estão a nos ofertar nos dias hodiernos? Muitos têm deixado o caminho do Senhor atrás das “fazendas preciosas”, muitos têm sujado suas mãos com sangue inocente para participarem da “única bolsa” com os pecadores, entrando em comunhão com eles. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– É muito triste vermos hoje muita gente, em especial jovens e adolescentes, deixarem os caminhos do Senhor em prol das “fazendas preciosas”, em prol da posse de riquezas, que quase nunca são atingidas. Mas mesmo os que as atingem, ao trocarem a sabedoria divina pelo consentimento com os pecadores, enveredam por um caminho que os levará à perdição eterna. Tomemos cuidado, amados irmãos!

– O proverbista, profetizando em nome do Senhor, que é o Pai de todos, diz para que não nos ponhamos a caminho com os pecadores, que desviemos nossos pés das veredas deles. O caminho de um filho de Deus jamais é o mesmo caminho dos pecadores. Temos um caminho diferente, um caminho que nos leva à salvação (Mt.7:13,14).

– A bem-aventurança está em não andar segundo o conselho dos ímpios, nem se deter no caminho dos pecadores, muito menos em se assentar na roda dos escarnecedores (Sl.1:1). Nos dias em que vivemos, muitos têm aceitado caminhar nas veredas destes homens sanguinários, que não são apenas os homens que literalmente derramam sangue inocente (e já muitos têm seguido tais veredas), mas todos aqueles que desprezam o próximo, que não o consideram, pois os tais, como ensinou o Senhor Jesus, são também homicidas (Mt.5:21,22). Temos derramado sangue inocente através do desprezo, da injúria e da desconsideração do próximo? Pensemos nisto!

– O Senhor, inclusive, mostra, através deste texto, que os que enveredam pelo caminho da perdição armam ciladas para si mesmos. Os pés dos pecadores correm para o mal e se apressam a derramar sangue, uma vez que desconsideram o outro, não veem a dignidade que cada ser humano tem de ter sido feito à imagem e semelhança de Deus, não amando o próximo e buscando a prevalência do “eu”.

– Entretanto, ao se conduzirem desta maneira, diz o proverbista que eles armam ciladas contra o seu próprio sangue, porque, assim como desprezam os outros e procuram o mal dos outros, também serão desprezados e sofrerão o mal da parte dos outros. Temos aqui o que o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) denominou de “guerra de todos contra todos”, circunstância decorrente do que ele também chamava de ser “o homem ser o lobo do homem”.

– O Senhor, quando firmou o Seu pacto com Noé, já havia sido incisivo ao dizer que requereria de cada homem o sangue que ele derramasse (Gn.9:5), sentença que o Senhor aplica diariamente. Por isso, neste mundo, “os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados” (II Tm.3:13).

– Por isso, todo aquele que cobiça coisas alheias, que dá vazão à concupiscência, acaba sendo preso por ela mesma, tendo a sua própria alma presa não só às coisas desta vida, mas ao pecado, caminhando para a perdição eterna (Pv.1:19).

– A falta de sabedoria faz com que percamos a vida, deixemo-la que ela se prenda ao mundo e ao pecado, recebendo a morte como prêmio, como recompensa (Rm.6:23). Como, podemos, então, deixar de ouvir os ensinamentos do Senhor?

– A suprema sabedoria, diz o proverbista, “altissonantemente clama de fora”, “pelas ruas clama a sua voz”, ou seja, há um desejo divino para que sejamos instruídos por Ele. O Senhor vem ao nosso encontro com este propósito de nos levar para uma vida de comunhão com Ele, para que vençamos o pecado e o mal. Por isso, vem clamar para deixemos a nossa ignorância espiritual, a nossa “simplicidade”, a nossa “loucura” (Pv.1:22) e mudemos a direção dos nossos caminhos, convertendo-nos pela repreensão divina, a fim de que, recebendo o derramamento do Espírito, possamos entender as Suas palavras (Pv.1:23).

– Neste trecho, o proverbista mostra, com absoluta clareza, que o desejo de Deus é que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade (I Tm.2:4) e, para tanto, vai ao encontro do homem para apresentar-lhe o convite de conversão, indo a todas as partes a fim de que o homem escute a Sua voz.

– No entanto, infelizmente, grande parte dos homens preferirá não dar ouvidos ao Senhor, recusando o clamor divino, não dando atenção à mão estendida do Senhor (Pv.1:24), rejeitando o conselho e não querendo a repreensão do Senhor (Pv.1:25).

– O resultado desta recusa será a perdição, o tormento, o aperto e a angústia, da qual não poderão os homens escapar, mesmo que clamem a Deus, pois aí será tarde demais (Pv.1:26-32). Temos aqui a realidade da eternidade: quem não atentar para o convite do Senhor à conversão, estará irremediavelmente perdido, perdição esta que é tormento, aperto e angústia.

– Salomão deixa-nos bem claro que a perdição não é um aniquilamento, nem tampouco que está reservado um tempo em que todos irão alcançar a salvação, como ensinam algumas falsas doutrinas. Chegará um tempo em que Deus não mais ouvirá aqueles que O recusaram, como também esta perdição representará tormento, aperto e angústia eternos. Que, amados irmãos, não sejamos destes que se recusam a ouvir a voz do Senhor, mas que, se hoje ouvirmos a Sua voz, não endureçamos os nossos corações (Sl.95:7,8; Hb.4:7-11), pois quem ouve a voz da sabedoria habitará seguramente e estará descansado do temor do mal (Pv.1:33).

III – A EXCELÊNCIA DA SABEDORIA

– Mas Salomão não indica apenas o que acontecerá com aquele que recusar a sabedoria divina. Também nos mostra o que acontece com aquele que, ouvindo o Senhor, aceitar as Suas palavras e esconder com ele os Seus mandamentos (Pv.2:1).
– Aquele que estiver atento à sabedoria, que inclinar seu coração ao entendimento, que clamar por entendimento, se buscar com prioridade a sabedoria, este entenderá o temor do Senhor e achará o conhecimento de Deus (Pv.2:2-5).

– O proverbista deixa-nos bem claro que aquele que busca a Deus, encontrá-l’O-á (cfr. Mt.7:7,8). Deus é tão bondoso e misericordioso que não só vai ao encontro do homem, como também não Se nega a encontrar-se com ele quando há desejo ardente e sincero de encontrá-l’O.

– A verdadeira sabedoria é reservada para os retos, para aqueles que caminham na sinceridade (Pv.2:7), ou seja, para aqueles que buscam a presença de Deus e passam a obedecer-Lhe. Por isso, quanto mais buscarmos ao Senhor, mais sábios seremos, pois o encontro com Deus faz com que entendamos a justiça, o juízo, a equidade e todas as boas veredas (Pv.2:9).

– A sabedoria não é algo que vá para o intelecto, mas, sim, para o coração e que trará um conhecimento que será suave à alma (Pv.2:10). Este conhecimento, além do mais, fará com que aumentemos nossos dias sobre a face da Terra, aumento este que não é apenas quantitativo, mas, também, qualitativo, pois serão anos de vida e de paz (Pv.3:2).-

Muito se pergunta, em nossos dias, sobre a necessidade de se ter “qualidade de vida”, que não basta ter uma boa situação econômico-financeira, mas é preciso que, ao lado deste bem-estar material, haja uma vida que faça bem à saúde física e mental, algo cada vez mais difícil e raro em nossos dias. Basta ver, entre os “famosos” e “bilionários”, quantos não estão a ter uma vida miserável, por causa das drogas e de tantas outras dependências.

– Pois bem, a “qualidade de vida” se obtém pela sabedoria divina. É isto que Salomão nos deixa bem claro ao falar sobre a excelência da sabedoria. Aquele que encontra a sabedoria, tem “aumento e dias na sua mão direita; na sua esquerda, riquezas e honra” (Pv.3:16), “os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas, paz” (Pv.3:17). Eis o que significa “qualidade de vida”!

– A sabedoria também facilita a nossa convivência sobre a face da Terra, pois o proverbista nos afirma que, por causa dela, teremos atados aos nossos pescoços a benignidade e a fidelidade, que estarão em nosso coração, de forma que acharemos graça e bom entendimento aos olhos de Deus e dos homens (Pv.3:3,4).

– Salomão afirma categoricamente que quem acha a sabedoria é bem-aventurado (Pv.3:13), tendo melhor situação do que aquele que tenha riquezas, ouro e prata (Pv.3:14,15) e, amados, lembremos que quem disse isto foi o homem a quem Deus deu mais riquezas em toda a face da Terra, alguém que poderia muito bem dizer o que disse.

– O proverbista mostra porque a sabedoria é mais excelente do que as riquezas, do que qualquer bem que se possa ter no mundo. Foi a sabedoria divina quem tudo fez, quem tudo criou e, portanto, ela é superior a tudo o que foi criado, a tudo que existe na criação (Pv.3:19,20).

– A sabedoria, porém, não apenas nos faz ter o conhecimento de Deus e as bênçãos disto decorrentes, como também nos livra do mau caminho e do homem que diz coisas perversas (Pv.2:12).

– A sabedoria é importantíssima para que o servo de Deus possa exercer a sua indispensável vigilância, esta atitude que nos permite desviar do mal e, assim, agradar a Deus e conservar a nossa salvação até o dia do arrebatamento da Igreja.
– A sabedoria nos livra, inclusive, daqueles que deixam as veredas da retidão para andarem pelos caminhos das trevas (Pv.2:13), ou seja, é a sabedoria que nos impede de seguir o caminho daqueles que apostatam da fé, que é o mais vemos em nossos dias turbulentos e imediatamente anteriores à vinda do Senhor. Por vivermos dias de apostasia (cfr. I Tm.4:1), precisamos, como nunca, de ter a sabedoria que vem do alto.

– A sabedoria, para ser adquirida, porém, necessita de uma atitude de confiança em Deus. A fé é a entrada na graça de Deus (cfr. Rm.5:1,2), pois sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6). Somente quando confiamos em Deus, podemos encontrar a sabedoria, pois, ao confiarmos em Deus de todo o nosso coração, não nos estribamos em nosso próprio entendimento, reconhecemos que nada sabemos e que precisamos aprender com o Senhor.

– Através deste reconhecimento de nossa nulidade e que deveremos reconhecer ao Senhor em todos os nossos caminhos, Deus endireitará as nossas veredas, promoverá a nossa conversão e, assim, deixaremos o caminho do pecado e do mundo para ingressar no caminho da salvação, no caminho direito, onde, guiados e orientados pelo Senhor, chegaremos até a cidade celestial. Aleluia!

– Quando não nos consideramos sábios aos nossos próprios olhos, quando admitimos que Deus é o Senhor e que devemos obedecer-Lhe em tudo, sem questioná-l’O e aceitando a nossa total insignificância, temeremos verdadeiramente o Senhor e nos apartaremos do mal (Pv.3:5-7). Tal atitude será “remédio para o nosso umbigo e medula para os nossos ossos”, ou seja, será a estrutura e base de nossa vida cristã, de nossa vida espiritual.

– Diante de tudo isto, amados irmãos, busquemos a sabedoria, procuremo-la com afinco, para que, assim, saibamos andar neste mundo e chegar ao céu. Amém!

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br/files/4T2013_L1_caramuru.pdf

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