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LIÇÃO Nº 3 – IGREJA, AGÊNCIA EVANGELIZADORA

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A igreja existe para pregar o Evangelho até a volta de Jesus.

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INTRODUÇÃO

– A Igreja existe para pregar o Evangelho até a volta de Jesus.

– A principal tarefa da Igreja é a evangelização, ou seja, a pregação do Evangelho a judeus e a gentios, o anúncio de que Jesus veio salvar o homem, perdoando os nossos pecados e restabelecendo a comunhão entre Deus e a humanidade.

A igreja existe para dizer ao mundo que “Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e brevemente voltará”. Será que temos cumprido com esta tarefa?

I – A EVANGELIZAÇÃO É O OBJETIVO PRINCIPAL DA EDIFICAÇÃO DA IGREJA POR JESUS

– Orlando Boyer(1893-1978), um dos missionários responsáveis pela obra pentecostal no Brasil, no prefácio de seu livro “Esforça-te para ganhar almas”, faz uma indagação muito adequada para iniciarmos o presente estudo:

“…Lembramo-nos de que como indivíduos somos a Igreja de Cristo? Para que existe no mundo a Igreja Cristã?

Ela não é uma grande arca, em que podem flutuar os favoritos, felizes, e sem cuidado algum, por sobre o mar da vida até chegar à praia áurea. Ela não é uma companhia de seguros, à qual se podem pagar prêmios e se ficar inteiramente livre do fogo do inferno!

A Igreja não é um clube social, cujos membros se reúnem ocasionalmente para gozar a companhia uns dos outros, se divertirem e trocarem ideias!

Não é uma casa de saúde em que os deformados espirituais e os moralmente anêmicos tratam de seus males hereditários. Não.

A Igreja de Cristo é uma instituição ganhadora de almas, a proclamar, a tempo e fora de tempo, que Jesus Cristo salva a todos os homens que O aceitarem.…” (op.cit., p.8).

– Ao revelar o grande mistério que esteve oculto desde antes da fundação do mundo (Ef.3:9), a Sua Igreja, Jesus, logo ao fazê-lo, afirmou que ela seria edificada sobre Ele e “…as portas do inferno não prevaleceriam contra ela” (Mt.16:18).

Vemos, portanto, claramente, que, desde o anúncio da existência da Igreja, o Senhor Jesus já deixou claro que a Igreja travaria um incessante combate contra as forças do mal, as autoridades espirituais da maldade (a palavra “portas” significa aqui “autoridades”, “forças proeminentes”), ou seja, estaria a agir no sentido contrário ao trabalho efetuado pelo adversário e pelos seus agentes.

– Jesus, certa feita, bem esclareceu qual era o trabalho do diabo e de seus anjos: “roubar, matar e destruir” (Jo.10:10).

O Senhor, ao contrário, tendo vindo para desfazer as obras do diabo (I Jo.3:8), veio trazer vida e vida com abundância (Jo.10:10).

 Ora, se a Igreja é o corpo de Cristo (I Co.12:27), tem como missão, portanto, a de trazer vida e trazer vida nada mais é que levar o próprio Jesus aos homens, que é caminho, verdade e vida (Jo.14:6), que é o pão da vida (Jo.6:48), vemos, já nesta revelação da igreja por Cristo, que a missão principal da Igreja seria a de levar Jesus aos homens.

– Mas, para que não houvesse qualquer dúvida a respeito de qual seria o papel da Igreja, ainda mesmo de seu estabelecimento na Terra, Jesus bem mostrou aos Seus discípulos qual era o papel destinado aos Seus seguidores.

Ainda cumprindo o desiderato divino de anunciar a salvação ao povo judeu (Jo.1:11a), Jesus, a fim de atingir a todas as aldeias e povoados da nação israelita na Palestina, destacou setenta discípulos, de dois em dois, para pregar o evangelho (Lc.10:1-24), mostrando, assim, que a tarefa primordial daqueles que O serviam era o de levar a mensagem das boas-novas de salvação, que era o que denominou de “a obra do Senhor” (Lc.10:1,2).

– Depois de ter consumado a obra da redenção do homem no Calvário (Jo.19:30), sacrifício aceito pelo Pai como nos prova a ressurreição (At.3:25,26; 13:29,20), Jesus, após ter passado quarenta dias dando prova da Sua ressurreição aos discípulos e falado a respeito do reino de Deus (At.1:3), explicitamente determinou qual seria a tarefa principal da Igreja.

 Mandou que o evangelho fosse pregado por todo o mundo a toda a criatura (Mc.16:15), uma ordem que estabeleceu um verdadeiro dever a todo cristão, a ponto de o apóstolo Paulo ter exclamado:

“Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho!”(II Co.9:16).

– Esta ordem de Jesus, registrada por Marcos, foi proferida quando Jesus apareceu aos onze, depois de ter lançado a incredulidade de Tomé, oito dias depois da ressurreição (Mc.16:15 c.c. Jo.20:26-29), sendo, portanto, um dos assuntos referentes ao “reino de Deus” (cfr. At.1:3).

– No registro feito por Mateus, a ordem de Cristo é dada em um monte na Galileia, para onde o Senhor havia determinado que os onze discípulos fossem (Mt.28:16), tendo, então, a ordem de Cristo sido até mais ampla que a registrada por Marcos, envolvendo além da pregação do Evangelho, o batismo nas águas e o ensino da Palavra (Mt.28:19,20).

– Não foi uma ordem circunscrita apenas aos onze apóstolos, como defendem alguns, dizendo, portanto, que não é obrigação senão dos ministros a pregação do Evangelho, uma vez que Jesus também repetiu esta determinação quando, no dia da ascensão, apresentou-Se a mais de quinhentos irmãos, ou seja, a totalidade da nascente Igreja (cfr. I Co.15:6), no monte das Oliveiras (At.1:12).

Ali, o Senhor determinou que todos eles fossem Suas testemunhas, em todas as partes do mundo, o que, aliás, foi efetivamente cumprido pelos cristãos, depois que foram dispersos de Jerusalém (At.8:1-4), atitude que agradou ao Senhor (At.11:20,21), numa comprovação de que era o que estava de acordo com a Sua ordem proferida antes de subir aos céus.

– A ordem de Cristo, conhecida pelos estudiosos da Bíblia como a “Grande Comissão”, pois “comissão” significa “ato de cometer, encarregar, incumbir”, é, em primeiro lugar, uma ordem.

O verbo, em Mc.16:15, está no modo imperativo, ou seja, trata-se de uma ordem, não de uma recomendação ou de um conselho que venha da parte do Senhor. “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”.

Trata-se de uma ordem, de uma determinação, de alguém que se apresenta como Senhor e, portanto, com autoridade de mando, a quem se apresenta como servo, ou seja, como alguém disposto a obedecer.

Tanto assim é que o evangelho segundo Marcos termina com a afirmação de que, em cumprimento à ordem, os discípulos foram e pregaram por todas as partes (Mc.16:20).

– É importante verificarmos que se trata de uma ordem, pois, como se está diante de um mandamento, de uma determinação de Cristo, somente provaremos que O amamos, se a fizermos (Jo.15:14).

 Uma pessoa que se diga serva de Cristo e que não cumpre com este dever não é um verdadeiro e autêntico servo do Senhor.

Quem não evangeliza, quem não prega o Evangelho não é um verdadeiro e autêntico servo do Senhor. E a estes, aliás, que o Senhor Jesus Se refere ao afirmar que “qualquer que Me confessar diante dos homens, Eu o confessarei diante de Meu Pai, que está nos céus.

 Mas qualquer que Me negar diante dos homens, Eu o negarei também diante de Meu Pai, que está nos céus”(Mt.10:32,33). Não evangelizar é desobedecer ao Senhor e sabemos todos que nenhum desobediente ingressará na Jerusalém celestial.

– A ordem do Senhor é que devemos ir por todo o mundo. Esta é a primeira parte da Grande Comissão. Ir ao encontro do mundo, ir ao encontro dos pecadores, levar-lhes a mensagem da salvação em Cristo Jesus.

 O homem não tem condições de salvar-se a si próprio e, mais, o deus deste século lhe cegou o entendimento para que não tenha condições de ver a luz do evangelho da glória de Cristo (II Co.4:4).

Portanto, é tarefa da Igreja ir ao encontro de judeus e de gentios para lhes anunciar as boas-novas da salvação.

– Por isso, no pensamento do saudoso pastor Orlando Boyer, é dito que a Igreja não é uma grande arca que está acima do mar da vida, mas, pelo contrário, é formada por “pescadores de homens” (Mt.4:19; Mc.1:17), pessoas que, no mar da vida, vão ao alcance dos “peixes”, a fim de trazê-los para a rede do Evangelho (Mt.13:47).

Em toda a Bíblia, vemos que é tarefa da Igreja ir ao encontro dos perdidos, dos pecadores, como, aliás, já fazia o Senhor Jesus que, deixando a Sua glória (Fp.2:7), Se fez carne e habitou entre os homens (Jo.1:14), indo ao encontro dos que eram espiritualmente enfermos (Mt.9:10-12).

– A ordem do Senhor de ir por todo o mundo lembra-nos de que a evangelização é feita sem qualquer discriminação, sem qualquer parcialidade ou preferência deste ou daquele lugar, desta ou daquela nacionalidade.

É evidente que, como veremos infra, cada igreja local, por ser um grupo social, receberá do Senhor uma incumbência especial para cumprir o seu dever de evangelização, mas a evangelização é totalizante, ou seja, o corpo de Cristo, a igreja universal, deve evangelizar em todos os lugares.

O dever da Igreja é de ir a todos os lugares e é por isso que vemos, com tristeza, igrejas que se definem como sendo exclusivas de uma certa nacionalidade, de uma certa raça, de um certo local, sem se falar naquelas que, menos explícitas, se negam a trabalhar em “lugares não apropriados” ou “locais perigosos”.

Não é, por isso, surpresa vermos quanto se carece de evangelização nos antros de pobreza e miséria nas grandes metrópoles, os presídios, os reformatórios e, mesmo, os hospitais.

 São locais onde, na atualidade, imperam as obras assistencialistas, muitas delas vinculadas a doutrinas filosófico-religiosas que defendem a salvação pelas obras, sem que haja a presença maciça de servos do Senhor que, quando presentes, são verdadeiros heróis da fé que, sem apoio algum de quem quer que seja, fazem um trabalho digno de nota mas absolutamente insuficiente para reversão do quadro tétrico em que se encontram as pessoas necessitadas.

Jesus ia ao encontro dos publicanos e das meretrizes, a escória da sociedade de seu tempo, e nós, o que estamos a fazer?

– A ordem do Senhor é para que se pregue o Evangelho. Mas o que é pregar? A palavra grega é “ekeryxthen” (έκηρυχθην), cujo significado é “anunciar”, “proclamar”, “publicar”, “tornar público”.

É interessante verificar que a própria palavra portuguesa “pregar” vem de “praedico”, em latim, que significa “dizer antes, antecipadamente, em primeira mão” e é por isso que a própria palavra “anunciar” tem também esta conotação de “dar a notícia antes”.

A palavra “arauto”, que também tem este significado de “anunciador solene”, era o “comandante das forças armadas”, ou seja, aquele que trazia a “boa nova” da vitória do exército no campo de batalha ao povo que havia ficado em seus lares.

– “Pregar o evangelho”, portanto, não é apenas fazer um sermão, uma exposição da Palavra de Deus a um grupo de ouvintes, com eloquência, com unção do Espírito Santo.

 Isto também é pregar, mas não é esta a única forma que se tem para pregar o Evangelho, nem a só a isto que Jesus Se refere na “Grande Comissão”. C

omo sabemos, a tarefa do “ministério da Palavra” era, na igreja primitiva, dos apóstolos (At.6:4), mas, como vimos também, não foi só a eles que o Senhor determinou que se pregasse o Evangelho.

– “Pregar o evangelho” é, antes de mais nada, mostrar antecipadamente o Cristo, de forma adiantada, antes que se exponham os meandros da doutrina bíblica, antes que se mostre quem é Jesus nas Escrituras, que d’Ele testificam (Jo.5:39).

Mas como podemos mostrar Jesus antes que O mostremos na Bíblia Sagrada? Através de nossas próprias vidas!

O povo de Antioquia, ao ouvir a mensagem do Evangelho, começou a chamar os discípulos de cristãos, porque, ao compararem o modo de vida de cada crente com o que era mostrado nas Escrituras, descobriram que os crentes daquela igreja eram “parecidos com Cristo”, ou seja, eram “cristãos”.

– A melhor e mais impressionante forma de pregarmos o Evangelho é vivermos de acordo com o Evangelho, é termos uma vida sincera e irrepreensível diante de Deus e dos homens.

Paulo dizia que confessava ser cristão, mas podia fazê-lo porque procurava ter uma consciência sem ofensa diante de Deus e dos homens (At.24:16), repetindo, assim, a mesma conduta de seu Senhor (Lc.2:52; Jo.8:46a).

 Por isso, não é exato dizer que todo cristão foi dotado da eloquência para pregar em um púlpito para uma multidão ou, mesmo, para tomar a iniciativa de pregar a uma pessoa a ser por ele abordada na sua casa, no local de trabalho ou na escola.

Mas todo cristão precisa, em sua vida, antecipadamente dizer a toda criatura quem é Jesus e qual é a transformação que Ele faz em todos quantos O aceitam como único Senhor e Salvador.

É necessário que cada um de nós, com nossas vidas, “pregue o Evangelho”, que cada um de nós seja “…uma carta de Cristo e escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração, conhecida e lida de todos os homens” (cf. II Co.3:2,3).

– O que é “evangelho”? São as boas-novas, é a boa notícia, é a boa mensagem. Que mensagem?

A mesma mensagem que Jesus pregou, ou seja, de que o tempo está cumprido e que o reino de Deus chegou, ou seja, que Jesus salva o homem e o liberta do pecado, pondo-o, novamente, em comunhão com Deus e lhe assegurando a vida eterna.

 Evangelização é o anúncio do Evangelho, é o anúncio de que Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e brevemente voltará.

Era esta a mensagem que era pregada pelos apóstolos, aqueles que receberam diretamente a “Grande Comissão” (At.2:22-36; 3:13-26; 5:40-42; 6:14; 8:5,35; 9:20; 10:37,38; 11:20; 13:26-41).

– A Igreja deve pregar o Evangelho, deve pregar a Cristo. O seu assunto é a salvação do homem na pessoa de Jesus Cristo.

É para isto que existe a Igreja, isto é que é evangelização. Não devemos nos perder em discussões inúteis e que não trazem proveito algum (I Tm.1:4-7; 6:3,5), mas não perdermos o foco, o alvo da Igreja que é o de pregar a Cristo Jesus.

O Senhor nos mandou pregar o Evangelho e não ficar discutindo filigranas doutrinário-teológicas ou nos perdendo em interpretações de aspectos absolutamente secundários das Escrituras, quando não de questões relacionadas com a cultura.

 “Pregai o Evangelho”, diz o Senhor, é esta a função da Igreja, nada mais, nada menos que isto.

– Nos dias em que vivemos, até mesmo nos cultos das igrejas locais, o Evangelho não tem mais sido pregado! Perdem-se horas em eventos, em ensaios, em apresentações, em efemérides sociais, em discussões relativas a usos e costumes, e se esquece de dizer que Jesus salva, cura, batiza com o Espírito Santo e brevemente voltará.

 Há, mesmo, milhares de cultos diariamente em que nem sequer é feito o convite ao pecador para aceitar a Cristo! Como estamos distantes do objetivo fixado pelo Senhor, pela cabeça da Igreja: a pregação do Evangelho…

– A pregação do Evangelho, como é a pregação de Cristo, deve ser feita com simplicidade, pois Jesus é simples, como o provou durante Seu ministério terreno, a começar pelo nascimento na manjedoura.

Ele mesmo disse ser “manso e humilde de coração” (Mt.11:29) e ter Se revelado aos pequeninos e não aos sábios e instruídos (Mt.11:25), bem como esperar que Seus servos sejam símplices como as pombas (Mt.10:16).

Não podemos nos apartar da simplicidade que há em Cristo Jesus (II Co.11:3) e, em nosso temor a Deus, devemos mostrar simplicidade de coração (Cl.3:22).

– Mas o que é simplicidade? Simplicidade é ausência de maldade. Como diz o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, é “qualidade, caráter daquele que é sincero; franqueza, pureza, candura”.

No texto original grego, a palavra é “aplótes” (άπλότης), cujo significado é, precisamente, o de “singeleza, sinceridade, franqueza, devoção sincera”, tanto que, na Nova Versão Internacional, a palavra é traduzida por “sincera e pura devoção a Cristo” em II Co.11:3 e por “sinceridade de coração” em Cl.3:22.

Também não é diferente o significado da palavra hebraica correspondente a “simplicidade” no Antigo Testamento, “tom” (םמ ) , que também quer dizer “integridade, inocência, sinceridade”.

– Pregar o Evangelho com simplicidade, portanto, nada mais é que ter uma vida piedosa e sincera diante de Deus, como acima já exposto, o que Paulo denomina de “testemunho da nossa consciência” (II Co.1:12).

Esta simplicidade tem se perdido em muitas igrejas locais e, como consequência disto, parte-se para o formalismo, para o ritualismo, para o excesso de liturgia, para as inovações e para o misticismo, tudo para tentar esconder a falta da graça de Deus, graça esta que está apenas onde há simplicidade, como diz o próprio Paulo no texto há pouco referenciado.

– Mas, além de a pregação do Evangelho tem de ser feita com simplicidade, é mister que ela seja realizada com fé.

A palavra da pregação só tem proveito quando vem misturada com fé (Hb.4:2). Sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11:6 “in initio”) e, portanto, quando pregamos o Evangelho, devemos mostrar, a começar de nossas vidas, que cremos naquilo em que pregamos.

 Ora, somente podemos provar que cremos naquilo em que pregamos, se vivermos da mesma maneira que anunciamos.

Nisto repousa a autoridade da exposição da Palavra por parte do crente (Mt.7:28,29). Esta é a grande diferença entre a pregação do crente e a do hipócrita, do meramente religioso (Mt.23:2,3).

O verdadeiro discípulo de Cristo precisa exceder em justiça aos religiosos (Mt.5:20).

– Quando a pregação do Evangelho é feita dentro destes requisitos, o Senhor confirma a Palavra com sinais (Mc.16:20).

A pregação do Evangelho precisa vir acompanhada de sinais e maravilhas, pois tem de ser demonstração do poder do Espírito e não somente palavras persuasivas (I Co.2:4).

 O êxito do movimento pentecostal que, nestes últimos cem anos, tem conseguido evangelizar praticamente todo o mundo, numa escalada que só encontra comparação com a igreja primitiva, está, precisamente, no fato de que, por ter havido fé suficiente, sinceridade e santidade, o Senhor confirmou com sinais e maravilhas a pregação da Palavra, assim como fez nos tempos apostólicos.

– No entanto, à medida que o tempo passa, vemos que o “fervor” tem diminuído e, por causa disso, assim também a presença de sinais e maravilhas no meio do povo de Deus.

Ao mesmo tempo, o misticismo reinante no mundo da atualidade faz com que muitos se iludam ao tentar apresentar uma pregação do Evangelho “mística” e “sobrenatural”, mas se abeberando em fontes outras que não o da pregação do Evangelho com santidade, fé e sinceridade de vida.

O resultado é a absorção, em “vestimentas evangélicas” do esoterismo, da feitiçaria e do paganismo, que nada produz a não ser heresia e confusão.

Não precisamos de “magos” como Janes e Jambres no nosso meio (II Tm.3:8), mas, sim, de homens fiéis, santos e sinceramente devotos, pois, se assim procederem, Deus, que não muda e é fiel, confirmará com sinais e maravilhas a pregação que se fizer a respeito da salvação que há em Seu Filho Jesus.

– A ordem do Senhor foi para que se pregasse o Evangelho “a toda criatura”. O Evangelho, diz o apóstolo Paulo, é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16).

É por isso muito preocupante o que temos visto, nos últimos tempos, campanhas de evangelização que, ao contrário do mandamento de Cristo, priorizam este ou aquele segmento, esta ou aquela camada social, trabalhos que, certamente, estão a servir a outros interesses ou outros deuses (em especial a Mamom) do que ao “ide” de Jesus.

OBS: É certo que cremos em pessoas e grupos chamados pelo Senhor para evangelizar certas camadas da população.

 Assim, sabemos que há pessoas vocacionadas pelo Senhor para pregar a quimiodependentes, a homossexuais, a prostitutas, a empresários.

Não concordamos, porém, que, em determinadas igrejas locais e em algumas denominações, haja a proliferação de “evangelização de empresários”, “evangelização de executivos”.

Coincidentemente, estas “vocações” que impulsionam toda uma igreja local só visa a setores privilegiados da sociedade e nunca aos miseráveis e marginalizados, assim como tem havido uma “intensa vocação missionária transcultural” para países do Primeiro Mundo (Estados Unidos e União Europeia) e não para as nações famélicas do Terceiro Mundo, em especial, do continente africano…

– Percebamos que o Senhor Jesus fala que o receptor da pregação, da mensagem do Evangelho é “toda criatura”, ou seja, não se trata de pregarmos apenas aos crentes, que são criaturas de Deus, mas também foram feitos filhos de Deus (Jo.1:12), que precisam continuar ouvindo sempre a Palavra de Deus, pois dependem dela para a sua santificação progressiva (Jo.17:17).

Também não se trata apenas de pregar o Evangelho para aqueles que, envolvidos já pela mensagem do Evangelho, seja porque são familiares de crentes (notadamente os filhos dos crentes), seja porque são pessoas que têm sido despertas pela mensagem evangélica ou pelo seu próprio modo de vida, pessoas estas que “não estão longe do reino de Deus” (Mc.12:34).

– A ordem do Senhor é para que se pregue a toda criatura, mesmo aquelas que, pela sua conduta, pela sua forma de proceder, são repugnantes, são alvo de todo ódio, de todo asco, de todo o desprezo da sociedade e do mundo.

Devia-se pregar a toda a criatura, mesmo que seja a pior pessoa que exista sobre a face da Terra. Não cabe à Igreja julgar os homens e dizer a quem deve, ou não, ser pregada a Palavra.

O Senhor foi enfático em dizer que toda criatura deve ouvir a mensagem do Evangelho, seja esta pessoa quem for.

É interessante observarmos que, nos dias do profeta Jonas, o Senhor mandou que fosse feita a pregação a todos os ninivitas, sem exceção alguma, ainda que eles fossem os homens mais cruéis que existiam no mundo naquele tempo.

Jonas teve de pregar para todos, sem exceção, ainda que muitos, pela sua extrema crueldade e maldade, fossem, na verdade, verdadeiras “bestas-feras”, verdadeiros “animais” (Jn.3:8), que, mesmo sendo o que eram, foram alcançados pela misericórdia divina.

OBS: Alguns estudiosos da Bíblia têm defendido que os animais mencionados em Jn.3:8 são seres humanos e não animais literalmente, pois não haveria como se promover a conversão de animais, como dito no texto.

Alguns não concordam, dizendo que a expressão é do rei de Nínive e, portanto, dentro de conceitos da religião dos assírios.

Sem querermos adentrar a esta discussão, servimo-nos da primeira interpretação para mostrarmos a abrangência e universalidade da pregação do Evangelho, pois, nos dias difíceis em que vivemos, bem sabemos que há verdadeiras “bestas-feras” que estão travestidas em pele humana. Mas a estes, também, devemos pregar o Evangelho.

– Muitos, entretanto, hoje em dia, não aceitam pregar a toda a criatura. Fazem, antes, uma seleção.

Chegam mesmo a teorizar esta discriminação, criando a figura do “alvo personalizado”, ou seja, a prefixação para a igreja local daquele que tem de ser atingido.

A exemplo do “marketing”, a evangelização passa a ser uma mensagem voltada para um determinado tipo de “consumidor”, para uma pessoa específica.

Nada mais distante daquilo que o Senhor nos ensinou: pregar o evangelho a toda criatura. Esta é a tarefa imposta à Igreja, foi assim que a Igreja se constituiu e chegou até aqui.

OBS: Não resta dúvida de que, em cada igreja local, o conhecimento do perfil das pessoas que moram na região a ser atingida pela igreja local deva ser uma prioridade para o bom andamento da obra do Senhor. Entretanto, isto não pode servir de pretexto para a invalidação do caráter totalizante da evangelização.

II – COMO CUMPRIR O DEVER DA EVANGELIZAÇÃO INDIVIDUALMENTE

– Quando os cristãos têm consciência que a tarefa primordial da Igreja é a evangelização, passam a entender que sua existência gira em torno desta missão dada a cada crente, que é membro do corpo de Cristo em particular (I Co.12:27).

Assim, tudo quanto fizermos nesta vida, em qualquer setor ou aspecto, deve levar em consideração, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça (Mt.6:33).

 Todas as nossas ações, todo o nosso cotidiano deve ser criado e executado diante da perspectiva de que somos testemunhas de Cristo Jesus (At.1:8) e que devemos, portanto, testificar do Senhor, mostrar ao mundo, através de nossas boas obras, que Deus é nosso Pai, que somos filhos de Deus e, por meio deste comportamento, levar os homens a glorificar o nosso Pai que está nos céus (Mt.5:16).

– Assim, ao contrário do que muitos pensam, ou seja, de que evangelizar é entregar folhetos, bater de porta em porta, levar alguém até uma igreja ou subir em um púlpito ou pregar ao ar livre, evangelizar é tudo isto e muito mais: é viver de acordo com a Palavra de Deus, é desfrutar de uma comunhão sincera e perfeita com o Senhor, a ponto de sermos vasos de honra em todos os lugares em que estivermos ou vivermos (II Tm.2:20,21).

– O primeiro ponto para evangelizarmos é termos uma vida piedosa, uma vida de santidade, uma vida de separação do pecado.

 É por este motivo que a evangelização tem decrescido em muitas igrejas locais, porque muitos não têm um testemunho que possa levá-los a falar do Evangelho e da salvação na pessoa de Jesus Cristo. Como afirma o apóstolo Paulo: “qualquer que profere o nome de Cristo, aparte-se da iniquidade” (II Tm.2:19 “in fine”).

– Daí porque o adversário de nossas almas procura, sem cessar, “enlamear” o crente, convencê-lo a pecar, pois sabe que, além de retirar uma vida do caminho do Senhor, conseguirá, também, calar uma testemunha do Senhor Jesus, impedindo, assim, outros de alcançarem a salvação.

– Quando temos um testemunho sincero e autêntico do Senhor, quase que automaticamente teremos abertas oportunidades para falar ao próximo a respeito do amor de Deus e da salvação na pessoa de Jesus Cristo.

 O nosso porte digno diante de Deus e dos homens, pela misericórdia do Senhor, a nossa comunhão estreita e íntima com o Espírito Santo, sempre nos levará a compreender e discernir os momentos propícios e adequados para falarmos do amor de Deus ao homem e da obra redentora de Cristo.

Sem violar as normas dos locais onde estivermos, sem fazer “proselitismo” que, quase sempre, é proibido e vedado em ambientes de trabalho e escolares, teremos chance de mostrarmos quem é Jesus e de levarmos muitas almas aos pés do Senhor.

– Naturalmente que, como somos soldados preparados e envolvidos na luta contra o mal, é interessante que, além da vida piedosa, tenhamos sempre à mão a Bíblia Sagrada e material de evangelização, a fim de que, assim que nos oferecer oportunidade, possamos nos chegar àquela alma sedenta e carente de salvação e não só falar-lhe do Evangelho, mas deixar-lhe uma mensagem que ela possa ler e refletir depois do contacto conosco, bem assim possa se certificar, nas Escrituras, que isto se dá da maneira como estamos a dizer.

– A evangelização não se confunde, também, com o mero anúncio das boas-novas da salvação. Evangelizar não é apenas dar conhecimento da notícia de que Jesus salva o homem e o leva para o céu, mas é um anúncio acompanhado de uma persuasão para a decisão pela fé em Cristo e, após esta decisão, o acompanhamento nos primeiros, delicados e difíceis passos no caminho apertado e na porta estreita que se escolheu seguir (Mt.7:14).

Muitos entendem ter “terminado” seu trabalho de evangelização quando a pessoa se decide por Cristo e, em uma oração, confessa seus pecados e aceita a Jesus como seu único e suficiente Senhor e Salvador.

Entretanto, a verdade bíblica é bem outra: a evangelização envolve o acompanhamento dos primeiros passos do novo convertido, pelo menos até que tenhamos a certeza de que já há alguém incumbido, na igreja local, de discipulá-lo.

– Como vivemos para evangelizar, cada crente deve estar consciente de que as oportunidades que se lhe abrirem são portas abertas pelo próprio Senhor e, portanto, temos de estar compromissados com aquelas vidas que o Senhor põe em nosso caminho para lhes mostrarmos o amor de Deus e a salvação em Cristo Jesus.

 A responsabilidade é nossa, porque foi a nós que o Senhor escolheu para evangelizarmos uma pessoa ou um determinado grupo de pessoas.

Evidentemente que, ante as dificuldades e as características que se apresentarem, não só podemos como devemos nos socorrer de outros irmãos em Cristo, que tenham talentos e habilidades especiais para lidar com esta ou aquela questão, mas jamais devemos nos esquecer de que foi a nós que o Senhor confiou a tarefa de levar aquelas vidas aos pés do Senhor.

Por isso, ainda que, por força das circunstâncias, venhamos a tomar uma posição secundária no cuidado com uma determinada pessoa evangelizada por nós, enquanto ela não estiver em condições de, ao menos, ter um discipulado efetivo com alguém, não podemos deixá-la à mercê do adversário de nossas almas que vive a buscar quem possa tragar e, sem dúvida alguma, um novo convertido desamparado é a presa mais fácil do inimigo (I Pe.5:8).

– A evangelização não pode, portanto, ser um instrumento de escândalo nem tampouco uma demonstração de imprudência e de ignorância.

As Escrituras revelam que o servo de Deus é sábio, prudente e conhecedor dos desígnios divinos (Pv.1:7; 2:6; 5:1).

Se temos o Espírito Santo, visto que somos salvos (Rm.8:9), não há como nos portarmos de modo a dar escândalo aos homens (I Co.10:32), nem dizermos que estamos a fazer a vontade de Deus contrariando os próprios ensinos do Senhor (Mt.18:7).

Por isso, toda e qualquer “evangelização” que escandalize as pessoas, inclusive e mui especialmente a própria igreja, que cause contendas, divisões, tumultos, mau testemunho e tantas outras coisas mais não são evangelização, mas tão somente uma sutil e ardilosa operação do maligno, feita, precisamente, para escandalizar o nome do Senhor (Mt.16:23).

Estamos vigilantes, para que não venhamos a ser enganados pelo inimigo, pois não podemos ignorar os seus ardis (II Co.2:11).

III – COMO CUMPRIR O DEVER DE EVANGELIZAÇÃO NA IGREJA LOCAL

– Mas, não é apenas enquanto membros do corpo de Cristo em particular que devemos evangelizar, e a todo tempo (II Tm.4:2), mas também enquanto igreja local, temos de promover a evangelização. Com efeito, na igreja local, entre os dons ministeriais constituídos pelo Senhor há o de evangelista (Ef.4:11).

– Cada crente, por si só, deve evangelizar, mas, enquanto membro de uma igreja local, de um grupo de pessoas que está, coletivamente, servindo a Deus e, nesta necessária e indispensável convivência, crescendo espiritualmente, tem-se a necessidade de se pregar o Evangelho, de se anunciar a boa-nova da salvação em Cristo Jesus.

– As igrejas locais só existem porque é necessário se pregar o Evangelho a toda a criatura. A igreja existe para evangelizar, assim como o hospital existe para cuidar de doente e a escola, para que professores ensinem os alunos.

Sem a evangelização, como disse o saudoso pastor Orlando Boyer, em citação no início deste estudo, as igrejas não passarão de clubes sociais, e, diremos, de qualidade muito inferior a muitos outros que, pelo menos, têm alguma relevância social, o que, via de regra, não ocorre com as igrejas locais que se esqueceram da evangelização.

– Por primeiro, cumpre observar que é um grave equívoco, que se tem alastrado em quase todas as igrejas locais da atualidade, o da concepção de que a tarefa da evangelização, na igreja local, deva estar cometida a um segmento que é denominado de “departamento de evangelismo” ou “secretaria de evangelismo”, muitas vezes também acompanhada de um “departamento de missões” ou “secretaria de missões”, para tratar do evangelismo transnacional ou transcultural.

– Não somos contra a existência de um departamento ou secretaria desta natureza nas igrejas locais, desde que este segmento tenha a função de supervisionar, coordenar e compatibilizar as atividades da igreja local com vistas à evangelização.

Um departamento de evangelismo tem a tarefa de coordenar todos os segmentos da igreja, com o objetivo de impedir que haja conflito entre os trabalhos de cada segmento da igreja, bem como para que cada setor, ao seu modo, contribua para que sejam alcançadas as metas do planejamento da igreja em termos de evangelização num determinado período.

O departamento, portanto, funciona como um cérebro, como um coletor e verificador de dados de cada setor da igreja, para que a evangelização seja eficiente e eficaz.

 É o principal auxílio do dirigente da igreja local para a execução daquilo que foi planejado segundo a orientação e direção do Espírito Santo.

– No entanto, o que se tem percebido é que os departamentos de evangelismo não exercem esta função, mas são, nada mais, nada menos, que o grupo das pessoas que se dispõem a evangelizar em nome da igreja local.

Os departamentos e secretarias de evangelismo são apresentados como o segmento da igreja local incumbido de pregar o Evangelho, de ganhar almas para o Senhor.

 “Quem tem chamada para evangelista, venha para o departamento de evangelismo e ganhe almas para Jesus”, é um convite que, muito frequentemente, ouvimos nas igrejas locais, algo estarrecedor, mas, mais estarrecedor do que isto é vermos que tal afirmação é aceita como uma verdade nua e crua, quando está completamente contra o que nos diz a Bíblia, que é a verdade (Jo.17:17), a respeito do assunto.

– Não é o departamento de evangelismo que deve evangelizar, mas, sim, toda a igreja local. Não pode existir atividade na igreja local cujo objetivo não seja a evangelização. Toda e qualquer segmento da igreja local deve ter sua razão de ser no ganhar almas para o Senhor Jesus.

 Quando uma determinada atividade não tem este alvo, não tem este foco, a igreja está perdendo a sua própria razão de ser, passa a ser uma inutilidade e é com tristeza que temos visto muitas igrejas completamente inúteis…

– Num passado não muito distante, as igrejas locais tinham esta consciência. Os músicos sabiam que tocavam seus instrumentos com o objetivo de, no louvor, os pecadores serem atingidos pelo Espírito Santo.

Os conjuntos corais preparavam-se para louvar ao Senhor com o objetivo de almas se renderem aos pés do Senhor.

Os ministros e oficiais tinham o cuidado de ir às reuniões devidamente preparados para pregar e expor a Palavra de modo a que os pecadores se rendessem a Cristo.

 Os crentes procuravam levar o maior número de ouvintes para os cultos, fossem que cultos fossem, a fim de que as pessoas, ao ouvir a Palavra, aceitassem a Cristo como Senhor e Salvador de suas vidas.

 Os diáconos e porteiros preparavam-se com o objetivo de fazer com que os ouvintes da Palavra se sentissem bem e não deixassem as reuniões sem antes ouvir a Palavra e se decidissem por Cristo, sem falar na abordagem respeitosa e na direção do Espírito Santo que se fazia a todos quantos trafegassem em frente ao templo na hora das reuniões.

– Hoje em dia, como tudo está diferente!

Os conjuntos musicais (instrumentais ou vocais) perdem-se em ensaios, ensaios e ensaios, para atingir um virtuosismo técnico, que possa ser aplaudido pelos profissionais, que são o alvo predileto das cantatas e eventos, quase sempre dirigidos apenas aos crentes, que, por sinal, alheios à programação, não são sequer convidados a trazer pecadores, nas proximidades da data, para o evento que, pelo seu tecnicismo, muitas vezes não é um louvor, mas tão somente um belíssimo concerto.

Antigamente, tais conjuntos ajudavam na evangelização, participavam de cultos ao ar livre, de atividades evangelísticas generalizadas, mas, hoje em dia, enquanto o “departamento de evangelismo vai fazer o seu trabalho de evangelizar”, os ensaios ocupam horas e horas, para alegria do adversário das nossas almas…

– Os ministros e oficiais, então, estão muito ocupados com o “carreirismo” em que se tornou o que, antes, nas Escrituras, era a vocação estabelecida pelo Senhor a cada um.

 Precisam ser notados pela “cúpula”, estão muito envolvidos em intrigas e competições por lugar e poder e, por isso, buscam ter sempre mensagens que agradem ao povo e aos dirigentes, sem se importar muito com a evangelização, mesmo que se esteja diante de “cultos públicos”, tradicionalmente evangelísticos.

Não faz muito tempo, aliás, que, para espanto nosso, um dirigente de igreja local disse a um pregador que já fazia algum tempo que, no culto noturno de domingo, os pregadores tinham deixado de falar que Jesus salva… A propósito, não são poucos os cultos que, na atualidade, já baniram o “apelo” de sua “liturgia”.

– Os diáconos e porteiros, então, nem sequer sabem quem são os ouvintes da Palavra que ainda não alcançaram a salvação, até porque eles estão cada vez mais raros nas reuniões (a falta de companheirismo e de vida comunitária, nas igrejas locais, é tanta que nem mesmo os membros se conhecem uns aos outros, máxime nos megatemplos que não param de aparecer aqui e ali…).

Quase sempre, ficam circunscritos às quatro paredes do templo, incapazes sequer de cumprimentar os irmãos que chegam à reunião, que dirá abordar os transeuntes.

Quando adentra à igreja alguém que não esteja devidamente vestido, que se revele um excluído da sociedade, então, não são poucos aqueles que procedem no sentido exatamente contrário ao que nos ensina Tiago (Tg.2:1-13).

– Os membros, então, vêm à igreja para participar de uma reunião social, comparecem por hábito, por costume, por tradição.

Querem sentir um alívio, um lenitivo espiritual, mesmo que seja puramente emocional e causado não pelo poder do Espírito Santo mas pela eloquência retórica de alguém ou, mesmo, por técnicas de neurolinguística.

Não se preocupam em saber quem está a seu lado, nem se, durante a semana, poderiam ter convidado alguém para ouvir a Palavra de Deus.

Esqueceram-se da razão de ser da igreja, não mais se lembram que a igreja local existe para ganhar almas para o reino de Deus.

Não percebem que, se nada fizeram para que este objetivo fosse alcançado naquela reunião, são uma completa inutilidade na obra de Deus e que os servos inúteis correm sério risco de serem lançados nas trevas exteriores (Mt.25:30). Mas estão completamente anestesiados e inebriados pelas coisas desta vida.

– Sabemos que a descrição que estamos a fazer não pode ser tida senão como uma generalização. Ainda há igrejas locais em que isto não acontece, mas, e aí está a nossa preocupação, são exceções, quando deveriam ser a regra.

 As estatísticas comprovam que, dia após dia, o número de conversões tem declinado.

Os números que alguns apresentam são enganosos, pois se costuma dizer que o número de “evangélicos” está aumentando, mas quando vemos que tipo de “evangélicos” tem aparecido e que vida estes “novos crentes” têm vivido, temos de verificar que tudo não passa de “marketing” e de uma “nova religiosidade”, algo muito, mas muito diferente do que a Bíblia chama de “novo nascimento”, de uma “consciência sem ofensa tanto para com como para com os homens” (At.24:16).

– Nem poderia ser diferente. As igrejas locais têm gastado seu tempo, seus recursos materiais e humanos naquilo que não é a sua tarefa primordial.

Uma meia dúzia de crentes denodados, muitas vezes mais por insistência do que por incentivo, sem qualquer apoio do restante da igreja, têm levado a mensagem do Evangelho, aos trancos e barrancos, às pessoas, enquanto multidões têm preferido outras atividades.

Ensaios, confraternizações, congressos, encontros, louvorzões, acampamentos, retiros, peças e tantas outras atividades que, se pelo menos visassem ganhar almas para Cristo, teriam alguma razão de ser, mas que esgotam os recursos das igrejas locais que, exauridas, não têm mais tempo nem condição de evangelizar.

– Diante deste quadro, alguns procuram se cercar de métodos e de estratégias para aumentar a eficiência e a eficácia da evangelização.

Nas últimas décadas, surgiram mais métodos de evangelização e técnicas de crescimento de igrejas do que em toda a história da Igreja.

É o “crescimento por células”, “crescimento por grupos pequenos”, “evangelismo explosivo”, “crescimento por propósitos”, enfim, um sem-número de fórmulas e modelos que procuram recuperar o tempo perdido e fazer com que as igrejas retomem a evangelização como prioridade.

Muitos destes métodos foram testados e, aqui ou ali, tiveram algum resultado (além de, vez por outra, enriquecer os seus idealizadores…), mas nada, absolutamente coisa alguma pode substituir o modelo bíblico, que é o do comprometimento de toda a igreja local, o amor real de cada crente pelas almas perdidas.

Sem este compromisso, que não é gerado por método algum, mas tão somente pelo amor de Deus derramado pelo Espírito Santo em cada coração (Rm.5:5), pode fazer com que cada crente na sua igreja local se esforce para que as almas sejam salvas.

Como diz o apóstolo Judas, somente se nos conservarmos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna, teremos piedade de alguns, que estão duvidosos, como também nos empenharemos para salvar alguns arrebatando-os do fogo (Jd.21-23).

– A igreja local não deve se preocupar em crescimento quantitativo, numérico.

Por estarem a correr atrás de números, de quantidade, muitas igrejas locais assumiram uma postura totalmente irresponsável no evangelismo (ação organizada e ativada pelos membros para informar, persuadir e integrar o ouvinte da Palavra à igreja), onde o que importa é a presença regular de cada vez maior número de pessoas ao templo, quando o que se tem de buscar é a salvação das almas por Jesus Cristo, o novo nascimento.

Devemos lutar para que vidas sejam transformadas, para que haja verdadeiras e genuínas conversões. Quando se toma este rumo, sabemos que o número pode não impressionar, mas não estamos atrás de número, pois sabemos que o mundo inteiro não vale sequer uma alma que alcança a redenção (Sl.49:8).

IV – COMO CUMPRIR O DEVER DE EVANGELIZAÇÃO ALÉM DA IGREJA LOCAL

– Mas, não devemos ser apenas testemunhas de Jesus em Jerusalém, ou seja, no lugar onde servimos a Deus, seja individualmente, como também enquanto igreja local.

 É preciso, também, que sejamos Suas testemunhas na Judéia, na Samaria e até os confins da Terra (At.1:8).

– A igreja local deve ter consciência que, enquanto grupo social, tem uma tarefa inadiável e que deve ser coletivamente exercida, como vimos supra, de pregar o Evangelho a todos quantos convivem conosco.

Entretanto, não pode se esquecer de que é uma partícula da Igreja universal, do corpo de Cristo e que, portanto, também tem sobre si o dever de levar o Evangelho a toda criatura, até os confins da Terra.

 A meta de Cristo, que é a cabeça da Igreja, é bem clara e explícita: “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim.” (Mt.24:14).

– Assim, seja enquanto indivíduos, seja enquanto igrejas locais, precisamos nos empenhar para que o Evangelho chegue a todos os confins da Terra. Esta é a evangelização que estamos a denominar de “evangelização além da igreja local”.

– A consciência relativa a esta exigência de evangelização de todo o mundo até que tem crescido nos últimos anos.

 Paradoxalmente, enquanto as igrejas locais têm “relaxado” no tocante à evangelização dos seus meios de convivência, muitos têm se envolvido no trabalho de suporte e apoio a missionários que estão em outros países ou em regiões difíceis e longínquas de nosso país, ainda que ainda haja uma grande defasagem, em especial nos países da chamada “janela 10-40”, ou seja, os países que se encontram entre os paralelos 10º Norte e 40º Sul, que tem mais da metade da população mundial e cuja evangelização é mínima.

OBS: Quem quiser ter maiores informações sobre a janela 10-40, recomendamos uma visita ao endereço da Secretaria Nacional de Missões (SENAMI) da Convenção Geral das Assembleias de Deus (CGADB), a saber, http://www.senami.com.br/conhecendo/janela1040.htm.

– Mas, além da evangelização de outros povos, uma grande necessidade e para a qual temos convicção de que o Brasil tem um chamado especial da parte do Senhor a desempenhar (pois é um país com um grande número de crentes, que desfruta de uma incomum, para não dizer singular, situação no cenário internacional, que é o de uma plena liberdade religiosa num ambiente democrático estável e de um baixíssimo índice de rejeição nos demais países, o que, em termos de missões transculturais, é uma combinação mais do que adequada), temos, também, aqui, a necessidade de conscientização para a evangelização de grupos que não podem ser alcançados, por diversos fatores, diretamente pela igreja local, como a população carcerária, os doentes que se encontram impedidos de conviver com a sociedade, os setores amplamente marginalizados da sociedade, cujo convívio é, no mínimo, embaraçoso e difícil.

– As igrejas locais devem, dentro de suas peculiaridades, ter segmentos especializados na evangelização deste ou daquele segmento ou, então, contribuir para o suporte e apoio em todas as áreas, inclusive a financeira, para a manutenção de entidades paraeclesiásticas que se disponham a realizar estes trabalhos, com pessoas especialmente treinadas para isto.

É muito triste vermos, na atualidade, muitos irmãos em Cristo decepcionados, exauridos e sem condições de levar adiante ou a contento seus ministérios de evangelização porque não têm tido o apoio das igrejas locais que, insensíveis a estes trabalhos, preferem destinar recursos materiais e humanos para inutilidades a ajudar a evangelização destes setores da sociedade que as igrejas locais não têm condição de atingir diretamente.

OBS: Quantos irmãos dedicados, à frente de casas de recuperação de quimiodependentes, estão sofrendo amargamente, enquanto igrejas locais gastam em “lembrancinhas” para um número cada vez maior de eventos.

Quanta ajuda não precisam os que realizam os serviços de capelania hospitalar, carcerária, mas que são completamente esquecidos das igrejas locais, para não falar daqueles que têm se esforçado para ganhar para Jesus os mendigos e demais moradores de rua.

 Todos estes, a propósito, além de não ter apoio algum dos seus irmãos em Cristo, ainda sofrem a “concorrência desleal” de outros segmentos religiosos, em especial dos kardecistas e dos romanistas.

– As igrejas locais precisam, nesta “evangelização além da igreja local”, pedir a direção e orientação do Espírito Santo, como também entender a sua vocação e, dentro disto, esforçar-se por atingir aqueles que estão longe, porque a estes também o Senhor quer que levemos a mensagem da salvação (At.2:39; 22:21).

O empenho deve ser de todos, pois se tem aqui um chamado coletivo. Não podemos endurecer os nossos corações quando ouvimos a voz do Espírito (Hb.4:7).

OBS: Muitas vezes precisamos estar atentos ao Espírito Santo. Nossa igreja local, a igreja-sede da AD do Belenzinho, em São Paulo/SP, logo percebeu que não era por acaso que teve de mudar seu templo, por causa de uma desapropriação, para um lugar onde se instalou o maior complexo da FEBEM, o órgão paulista destinado aos menores infratores, hoje em fase adiantada de desativação. Imediatamente, organizou-se um trabalho de evangelização daqueles menores, que muitos frutos produziram para o reino de Deus durante as décadas em que ele ali funcionou. Nada é por acaso na obra do Senhor…

– Como disse o Senhor, devemos rogar ao dono da seara que mande obreiros para ela, porque é muito grande e poucos são os ceifeiros (Mt.9:37,38; Lc.10:2).

 No entanto, tem faltado, nestes últimos dias, à igreja a própria visão da seara. Precisamos, com urgência, atender ao chamado de Cristo e levantar os nossos olhos e verificar que as terras estão brancas para a ceifa (Jo.4:35,36).

Sem esta visão e sem ter o discernimento para a tarefa que temos a realizar, seja semear, seja ceifar, seja plantar, seja regar (I Co.3:7,8), podermos perder a própria vida eterna. Cuidado!

– Por fim, cabe-nos apenas dizer que uma boa evangelização carece, como em tudo o que faz o homem, de um planejamento.

Pelo que estivemos a escrever neste estudo, pode ter transparecido que sejamos contrários ao planejamento ou à definição de metas ou objetivos para o crescimento da igreja em períodos certos e determinados.

 No entanto, tal impressão não corresponde à realidade, uma vez que, como servos de Deus, jamais poderíamos ser contrários a qualquer planejamento, pois o maior planejador é o próprio Deus, que planejou a nossa salvação ainda antes da fundação do mundo.

– É evidente que devemos, na igreja local e em nossas vidas, traçar e estabelecer metas e objetivos a alcançar, após a devida direção e orientação do Espírito Santo.

A falta de planejamento, a falta de fixação de objetivos e propósitos nas igrejas locais, algo tão próprio e comum entre brasileiros (cujo mau exemplo vem dos próprios governantes…), é uma das principais razões pelo lamentável estado de coisas que descrevemos supra e que leva a sub-evangelização praticada na atualidade.

Quando vemos como o apóstolo Paulo planejava todas as suas atividades, bem compreendemos porque, em pouco mais de três décadas, realizou a sua grande obra missionária. Assim, sob este aspecto, não temos como deixar de concordar com pessoas como Rick Warren, cuja contribuição para a igreja universal é indiscutível.

– Contudo, voltamos a insistir, este planejamento deve ter três pontos sem o que de nada adiantará a sua formalização nem mesmo sua implementação, a saber:

a) deve ser uma atitude consequente à direção e orientação do Espírito Santo, pois a obra é de Deus, não do homem;

b) deve levar em consideração o chamado peculiar de cada igreja local. Muito se tem falado sobre “alvos personalizados”, mas se tem esquecido que cada igreja é, também, uma “igreja particular”, que tem características que, antes de mais nada, é resultado da própria edificação da cabeça da Igreja, do Senhor Jesus;

c) nunca pode discordar do modelo bíblico para a igreja, ou seja, deve manter a universalidade da pregação do Evangelho e o envolvimento de toda a igreja local.

– Temos cumprido com o nosso dever de evangelização? Temos refletido devidamente no que representa chegar diante do Senhor com as mãos vazias?

“Posso tendo as mãos vazias, com Jesus eu me encontrar? Nada fiz, e vão-se os dias, que Lhe posso apresentar? Posso tendo as mãos vazias, com Jesus eu me encontrar? Quantas almas poderia ao Senhor apresentar? (…) No celeste lar entrando, como irei ao Salvador? Quantas almas irei levando, para meu fiel Senhor? Posso tendo as mãos vazias, com Jesus eu me encontrar? Quantas almas poderia ao Senhor apresentar?” (1ª e 3ª estrofes, com refrão, do hino 16 da Harpa Cristã). Qual é, então, a nossa situação?

Ev. Dr. Caramuru Afonso Francisco

Site: http://www.portalebd.org.br

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